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Artigo apresentado a Universidade Potiguar – UnP, Campus Mossoró/RN, da Rede Ânima de Educação como
requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito, no ano de 2022.
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Acadêmicos do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. E-mails:
paulosilva.academico@hotmail.com; eliabe_silva010@hotmail.com.
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Graduado em direito pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Pós-graduado lato sensu em
Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC) e em Direito Constitucional e
Tributário pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Mestre em Direito pela Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Professor de graduação e Pós-graduação em direito na Universidade
Potiguar (UNP). Professor Substituto de Direito da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
Procurador Adjunto da Prefeitura Municipal de Jardim de Piranhas/RN. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5034126769536504.
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1 INTRODUÇÃO
O primeiro contato que se teve com a previdência no Brasil, veio através da Lei Elóy
Chaves em 1923, através do Decreto Legislativo nº 4.682/1923, onde foram criadas “Caixas de
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Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários”, podemos ver tal direito nos arts. 9º e 10º da citada
Lei, vejamos:
Art. 9º Os empregados ferro-viarios, a que se refere o art. 2º desta lei, que tenham
contribuido para os fundos da caixa com os descontos referidos no art. 3º, letra a, terão
direito:
1º, a soccorros medicos em casos de doença em sua pessôa ou pessôa de sua familia,
que habite sob o mesmo tecto e sob a mesma economia;
2º, a medicamentos obtidos por preço especial determinado pelo Conselho de
Administração;
3º, aposentadoria:
4º, a pensão para seus herdeiros em caso de morte.
Art. 10. A aposentadoria será ordinaria ou por invalidez. (BRASIL, 1923)
Assim surgiu o que mais se aproximava de uma previdência social no Brasil. Nesse
contexto, a Previdência Social como conhecemos hoje, foi criada juntamente com promulgação
da Constituição Federal de 1988, com o intuito de garantir uma subsistência e melhor qualidade
de vida para os segurados em sua velhice ou enfermidade, com isso surgiu a aposentadoria e os
benefícios previdenciários. Vejamos:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei,
a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(Revogado)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998) (BRASIL, 1988)
Com isso, podemos notar direitos e garantias constitucionais trazidos pela Constituição
Federal de 1988 para os segurados da previdência social.
Dessa maneira, os segurados filiados à previdência precisavam basicamente contribuir com o
valor mensal durante toda sua vida de labor, para posteriormente se aposentar ou ter direito aos
citados benefícios previdenciários.
Assim, a previdência social foi evoluindo e foram surgindo regras e regimentos que
derivaram do texto constitucional para regular os segurados, então advieram as modalidades de
aposentadoria que são: aposentadoria especial, aposentadoria por tempo de contribuição,
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Durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que governou entre
2003 e 2011, houveram duas Emendas Constitucionais promulgadas que modificaram as regras
do seguro social, a primeira delas a E.C. nº 41/03 que concentrou em seu conteúdo as mudanças
no setor público.
São destaques da reforma: a) cálculo das aposentadorias e pensões de servidores
públicos com base na média de todas as remunerações; b) cobrança de 11% de contribuição
previdenciária dos servidores já aposentados; c) criação de teto e subteto salarial nas esferas
federais, estaduais e municipais. (MIGALHAS, 2018)
Ademais, nesta emenda em específico, é importante destacar o seu artigo 6º, regra de
transição vantajosa cuja redação segue:
Percebe-se então que o artigo supra traz grande força na relevância da E.C destacada,
sendo este de notória importância no que diz respeito à regra de transição para a aposentadoria
do servidor público, garantido que ao cumprir com todos os requisitos impostos, os direitos à
integralidade (se aposentar com base na sua última remuneração) e à paridade (ter os mesmos
reajustes na remuneração que os servidores em atividade na sua carreira) sejam efetivados.
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As últimas alterações ocorreram por força da E.C. nº 70/12 e da E.C. nº 88/15, ambas
breves em seus conteúdos e promulgadas durante o governo da Ex-presidente Dilma, que
ocorreu entre 01 de janeiro de 2011 e 31 de agosto de 2016.
A E.C. nº 70/12 em seu teor tratava sobre a aposentadoria por invalidez direcionada
aos servidores públicos. Esta acrescentou o artigo 6º-A a Emenda Constitucional nº 41/2003,
qual seja:
Art. 6º-A. O servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a
data de publicação desta Emenda Constitucional e que tenha se aposentado ou venha
a se aposentar por invalidez permanente, com fundamento no inciso I do § 1º do art.
40 da Constituição Federal, tem direito a proventos de aposentadoria calculados com
base na remuneração do cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei,
não sendo aplicáveis as disposições constantes dos §§ 3º, 8º e 17 do art. 40 da
Constituição Federal.
Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias concedidas com
base no caput o disposto no art. 7º desta Emenda Constitucional, observando-se igual
critério de revisão às pensões derivadas dos proventos desses servidores.
(BRASIL, 2012)
Dessa forma, com a inserção do artigo supra, ficou garantido o direito à integralidade,
para todos os servidores aposentados por invalidez permanente que se enquadrarem no disposto.
No tocante ao seu parágrafo único este aborda a respeito da paridade dos proventos,
ou seja, os proventos dos aposentados por invalidez terão a mesma revisão na mesma proporção
dos servidores em atividade.
Por fim, trata-se da E.C. nº 88/15, esta que modifica o inciso II do Art. 40 da
Constituição Federal passando o mesmo a vigorar com a seguinte redação: II -
Compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar.
(BRASIL, 2015)
Dessa forma, subtrai-se que a aposentadoria compulsória passaria a acontecer aos 75
anos de idade e não mais aos 70 anos, obrigatoriamente, desde que regulamentado por meio de
lei complementar.
Ademais, o Art. 02 da E.C. nº 88/15, possibilita que os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União, aposentem-se
compulsoriamente aos 75 anos de idade, uma vez que acrescentou o artigo 100 ao Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, o qual possui a seguinte redação:
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Art. 100 – ADCT/88. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso
II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão,
compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da
Constituição Federal. (BRASIL, 2015)
Sendo assim, com a promulgação da E.C. nº 88/15, os únicos servidores até então
atingidos pela mudança, seriam os Ministros dos Tribunais Superiores, em decorrência do
disposto no art. 02 desta emenda, com isso, para os demais servidores públicos, até que fosse
estabelecido em lei complementar, continuariam seguindo a imposição dos 70 anos para a
ocorrência da aposentadoria compulsória.
Finalizado o estudo de todas as emendas constitucionais que antecederam a E.C. nº
103/2019, percebe-se que ao longo da história e dos mandatos presidenciais que se sucederam
no Brasil, muitas mudanças aconteceram no que se refere ao sistema previdenciário, tanto no
âmbito privado como público, inclusive, fato este que é objeto de diversas críticas, no sentido
que a Constituição Federal de 1988 possui apenas 34 anos de vigência, e já sofreu 7 alterações
provenientes de Emendas Constitucionais no que se refere à previdência social.
Como iremos ver adiante, a reforma da previdência trouxe diversas alterações nas
modalidades de aposentadoria, ocasionando inúmeras inovações no que diz respeito a forma de
cálculo do benefício, bem como o tempo de contribuição e idade mínima para adquirir o direito
de se aposentar.
Nesse aspecto, passaremos a expor cada uma das alterações trazidas pela Emenda
Constitucional 103/2019 em cada modalidade de aposentadoria.
Nesse passo, o art. 44 da Lei nº 8.213/1991, previa que a RMI do segurado que se
aposentasse por essa modalidade, corresponderia a 100% do salário de benefício, ou seja, não
ocorreria qualquer desconto na RMI do segurado. (LAZZARI, 2019)
Noutro passo, a EC 103/2019 estabeleceu que a RMI da aposentadoria por invalidez
seria correspondente a 60% do salário de benefício, com acréscimo de 2% a cada ano que
exceder 15 anos de contribuição, no caso das mulheres, e 20 anos de tempo de contribuição no
caso dos homens. (LAZZARI, p. 96)
A única exceção a essa forma de cálculo é no caso das modalidades de aposentadoria
por incapacidade permanente decorrente de acidente de trabalho, de doença profissional e de
doença do trabalho, que nesses casos o coeficiente continua sendo de 100%. (LAZZARI, 2019)
É válido deixar explícito, que RMI significa, Renda Mensal Inicial, e Salário de
Benefício, é a média aritmética de todas as contribuições do segurado, dividido pelo número de
contribuições, ou seja, se o segurado passou toda a sua vida de labor, contribuindo para a
previdência sob 2 (dois) salários mínimos, o seu salário de benefício será de 2 (dois) salários
mínimos, o que não significa dizer que a RMI do segurado será dos mesmos 2 (dois) salários
mínimos.
Portanto, é nítido o prejuízo sofrido pelos segurados nessa modalidade de
aposentadoria, que antes contavam com o coeficiente de 100%, em qualquer forma de
aposentadoria por invalidez, e agora suportam uma redução de 40%, se não adquirirem a doença
ou acidente no seu local de labor.
exigia idade mínima para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, foi retirada
do texto Constitucional na época. (LAZZARI, 2019)
Ocorre que, após a retificação do texto base da EC 20/1998 que excluiu a idade mínima
para essa modalidade de aposentadoria, posteriormente foi aprovado pela Lei 9.876/1999 o
Fator Previdenciário, que só veio a ser abolido definitivamente pela atual Emenda
Constitucional, conforme veremos a frente. (LAZZARI, 2019)
Assim, em 12 de novembro de 2019, foi promulgada a Emenda Constitucional
103/2019, que exige do segurado que pretenda se aposentar por tempo de contribuição, uma
idade mínima sendo essa a principal alteração nessa modalidade de aposentadoria, que agora
requer do segurado do sexo masculino além dos 35 anos de tempo de contribuição e da carência
de 180 meses, o mínimo de 65 anos de idade para se aposentar, e no caso das mulheres, requer
além dos 30 anos de tempo de contribuição e da carência de 180 meses, o mínimo de 62 anos
de idade. (LAZZARI, 2019)
É válido salientar que, a Emenda Constitucional 103/2019, aboliu definitivamente o
fator previdenciário aprovado pela Lei 9.876/1999, o que modifica a fórmula de cálculo da RMI
dos segurados, seguindo os moldes da forma de cálculo da aposentadoria por invalidez
anteriormente citada.
Portanto, as principais mudanças trazidas pela Emenda Constitucional 103/2019, para
a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, foi a implementação do requisito da
idade mínima para os segurados, além da exclusão do fator previdenciário de forma definitiva,
o que na prática obriga o segurado a trabalhar por mais tempo para conseguir uma RMI
semelhante aos seus proventos quando na ativa.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei,
a:
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da
lei, obedecidas as seguintes condições:
II – Sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher,
reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para
os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o
produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (incluído dada pela Emenda
Constitucional nº 20 de 1998). (BRASIL, 1988)
Além do requisito da idade acima descrito, o tempo mínimo de contribuição que era
necessário tanto para homem, quanto para mulher, era de 180 meses, nas duas formas de
aposentadoria, seja a rural ou a urbana, conforme descrito no art. 25 da Lei 8.213/1991, ou seja,
era necessário, 15 anos de contribuição para que ambos os sexos conseguissem o direito de
pleitear a aposentadoria. (LAZZARI, 2019)
Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional 103/2019, os requisitos para atingir
o direito de se aposentar por idade, foram alterados, tanto o requisito etário como o requisito de
tempo de contribuição.
Nesse passo, a Emenda Constitucional 103/2019, alterou o texto Constitucional
descrito no art. 201 da CF, que antes estabelecia a idade mínima de 65 anos de idade se homem,
e 60 anos de idade se mulher, na forma urbana, o novo texto Constitucional descreve que:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei,
a:
Dessa forma, podemos notar que houve alteração no requisito etário na aposentadoria
por idade urbana do segurado do sexo feminino, que antes necessitaria de 60 anos de idade para
se aposentar e agora necessita de 62 anos de idade, não havendo mudança para o segurado do
sexo masculino neste quesito.
Ocorre que, como mencionado anteriormente o tempo de contribuição necessário para
se aposentar em ambas as formas de aposentadoria por idade, era de 180 meses de carência, ou
seja, 15 anos de tempo de contribuição para ambos os sexos, tanto na forma rural, como na
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forma urbana, porém esse requisito também foi alterado, e agora exige do segurado do sexo
masculino para a forma de aposentadoria por idade urbana, o mínimo de 20 anos de tempo de
contribuição. (LAZZARI, 2019)
É válido que se destaque a fala de João Batista Lazzari: “Cabe destacar que o tempo
mínimo de contribuição da aposentadoria por idade não faz parte das regras permanentes da
Constituição e pode ser alterado a qualquer momento por lei ordinária ou até por medida
provisória”. (LAZZARI, 2019, p. 112)
Noutro lastro, na aposentadoria por idade rural, o que se tem de mais destaque na
Emenda Constitucional 103/2019, é apenas o reforço que a Emenda trouxe sobre o descrito na
Lei 13. 846/2019, em relação a identificação dos segurados especiais para fins de concessão da
aposentadoria, vejamos: (LAZZARI, 2019)
Art. 25 § 1º da Emenda Constitucional 103/2019: Para fins de comprovação de
atividade rural exercida até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, o prazo
de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 38-B da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, será prorrogado
até a data em que o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) atingir a cobertura
mínima de 50% (cinquenta por cento) dos trabalhadores de que trata o § 8º do art. 195 da
Constituição Federal, apurada conforme quantitativo da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad).
No tocante ao valor da RMI dos segurados, também houve uma mudança drástica,
agora o valor é calculado da seguinte forma: soma-se 100% dos salários de contribuição do
segurado, corrigidos monetariamente a partir de julho de 1994, e divide-se pelo número de
contribuições do segurado, após o cálculo dessa média aritmética, o valor da RMI do segurado
será fixado de acordo com o tempo de contribuição do mesmo, a iniciar por 60% da média
aritmética, com o acréscimo de 2 pontos percentuais, para cada ano que exceder 20 anos de
tempo de contribuição no caso dos homens, e 15 anos de tempo de contribuição no caso das
mulheres. (LAZZARI, 2019)
Portanto, essas foram as principais mudanças na modalidade de aposentadoria por
idade urbana e rural, o que pode trazer diversos impactos na vida dos segurados tanto no sexo
masculino como no sexo feminino, que não tiveram qualquer benefício nessa modalidade de
aposentadoria, apenas foram prejudicados no sentido de ter que trabalhar durante mais tempo
para atingir os requisitos necessários para se aposentar ou até mesmo para obter uma RMI
condizente com as suas contribuições durante sua vida de labor.
Como bem ilustrado pelo autor, o segurado que trabalha nessas condições, não tem
como esperar tanto tempo para se aposentar, vez que para se readequar no mercado e procurar
outra função para exercer, é algo muito difícil em nosso país, e sem que haja outra alternativa
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de receber remuneração, restará obrigado a permanecer em uma atividade que poderá lhe custar
a vida.
Noutro passo, outra modificação trazida pela Emenda Constitucional 103/2019, foi a
vedação da conversão de tempo especial em comum desde a data de 12/11/2019(data da
promulgação da EC 103/2019), ocorre que, os segurados que trabalharam durante um certo
tempo em atividade especial e foram readequados de função, tinham a possibilidade de
converter o tempo especial em comum, para que pudessem atingir mais rápido o tempo de
contribuição necessário para se aposentar por tempo de contribuição, ocorre que a reforma
aboliu esse método de conversão, e agora o tempo especial só poderá ser contado para a
aposentadoria especial. (LAZZARI, 2019)
Outra alteração foi na forma de cálculo da RMI, a exemplo das outras modalidades de
aposentadoria, o cálculo da RMI também foi modificado, onde antes da reforma era de 100%
do salário de benefício para todas as formas de aposentadoria especial. (art. 57 § 1º, da Lei
8.213/1991)
Com a alteração, para a aposentadoria especial de 15 anos de contribuição e 55 anos
de idade, o valor da RMI parte de 60% do salário de benefício, chegando a 100% apenas aos
35 anos de tempo de contribuição.
Para a aposentadoria especial de 20 anos de contribuição e 58 anos de idade, o
percentual também começa em 60%.
E por fim para a aposentadoria especial de 25 anos de contribuição e 60 anos de idade,
o percentual começa em 70%, sendo que nas duas últimas formas de aposentaria especial, o
segurado vai atingir os 100% do salário de benefício apenas quando atingir 40 anos de tempo
de contribuição.
É válido informar, que o tempo comum também pode ser contado no cálculo da RMI.
Portanto, notamos mais uma vez o imenso prejuízo suportado pelos segurados,
principalmente nessa modalidade de aposentadoria, que é justamente para os segurados que
laboram durante toda sua jornada de trabalho em condições comprovadamente inadequadas, e
mesmo assim, tiveram o direito de se aposentar mais cedo afetado pela EC 103/2019, que agora
exige idade mínima para se aposentar, e ainda diminuiu o valor da RMI dos segurados, que para
atingir o valor máximo do salário de benefício, precisa laborar praticamente o dobro do tempo
necessário antes da reforma entrar em vigor.
Desse modo, o segurado do sexo masculino só alcançaria uma RMI de 100% do seu
salário de benefício, se completasse 40 anos de contribuição, enquanto que a segurada do sexo
feminino, só alcançaria os mesmos benefícios com 35 anos de contribuição. (LAZZARI, 2019)
As consequências trazidas pela Emenda Constitucional 103/2019, na vida dos
aposentados dessa classe é imensurável, tendo em vista que os mesmos, já tem o desgaste
natural da profissão, que cada vez mais é malvista, e como citamos um pouco do lapso temporal,
podemos observar que poucos são os benefícios alcançados pelos professores ao longo do
tempo, onde a cada reforma da previdência, os mesmos vêm perdendo direitos e adquirindo
obrigações.
e princípios constitucionais que haviam nas regras anteriores a vigência da atual reforma da
previdência. (FAGNANI, 2019)
A Emenda Constitucional 103/2019 foi sancionada, sob a argumentação de que havia
um déficit na previdência, que só poderia ser preenchido se fosse criada uma reforma na
previdência social.
Porém o impacto trazido pela reforma na vida dos segurados é imenso, tendo em vista
que em nenhum momento o legislador da Emenda Constitucional 103/2019, lembrou de para
que foi criada a previdência, como também deixou de observar e valorar os direitos e garantias
fundamentais adquiridos durante anos pelos segurados, que após esta reforma, terão sua
expectativa de vida reduzida, tendo em vista o estresse do trabalho durante mais tempo de labor,
e ainda o valor reduzido do salário quando finalmente conseguirem se aposentar, modificações
trazidas pela injusta Emenda Constitucional 103/2019.
Para quantificar o tamanho do prejuízo suportado pelos segurados aposentados do
RGPS, podemos citar como exemplos a forma de cálculo da RMI e o tempo necessário de labor
para se aposentar, especificado no capítulo anterior.
Dessa forma, nos dois exemplos citados acima, percebemos o tamanho do impacto
suportado pelos segurados, que precisarão basicamente laborar durante mais tempo para ter um
salário igual ou talvez inferior ao que receberiam na regra anteriormente vigente.
Ante o exposto, ao analisarmos algumas das mudanças trazidas pela reforma da
previdência, notamos a desnecessidade dessa reforma, tendo em vista a injustiça trazida por ela,
tanto na forma de remuneração das aposentadorias, quanto no tempo que os segurados precisam
laborar para conseguir pleitear o benefício, então não resta dúvidas que antiga lei vigente
abrangia de maneira categórica o direito dos segurados, como também estava revestida dos
princípios norteadores do direito.
Razão pela qual, fica límpido que a reforma da previdência não deveria sequer ter
ocorrido, pois haviam diversos outros métodos para resolução do suposto déficit na previdência.
Uma das resoluções mais rentáveis para garantir vida longa e saúde financeira para a
previdência social, seria o cumprimento em sua integralidade do disposto nos arts. 194 e 195
da Constituição Federal de 1988, que segundo Eduardo Fagnani, desde 1989 nunca ocorreu,
com isso a arrecadação de contribuições seria demasiadamente maior, do que se tinha antes da
Emenda Constitucional 103/2019 entrar em vigor.
Noutro passo, segundo José Luís Oreiro apud FAGNANI, relata:
de R$ 90 bilhões com relação a previsão para o ano de 2019, o que representa 64% do
déficit primário estimado (R$ 139 bilhões) pelo Ministério da Economia para o
corrente ano. (FAGNANI, 2019, p.186)
Com isso, mais uma vez segundo FAGNANI (2019): “em dez anos, o efeito fiscal seria
de mais de R$ 900 bilhões, valor de economia quase igual ao almejado pelo governo com a
reforma da previdência.”
Outro meio viável de se economizar e arrecadar contribuições na previdência social
do RGPS, seria a possibilidade de se fazer políticas públicas que incentivem os trabalhadores
com mais de 65 anos de idade a permanecer na atividade laboral, além do mais, há também a
possibilidade (a exemplo do que já acontece no RPPS desde 2003), de se arrecadar
contribuições menos onerosas dos segurados já aposentados, o que acarretaria em uma grande
injeção econômica nos cofres da previdência do RGPS. (FAGNANI, 2019)
Posto isso, notamos que haviam diversas outras maneiras de se equilibrar o déficit, e
que não havia necessidade naquele momento de ser fazer uma reforma na previdência.
Com lastro em tudo acima descrito podemos notar que os segurados, estão sofrendo as
consequências de diversos anos de má administração do dinheiro público da previdência social,
onde economias poderiam ter ocorrido gradativamente, e não impondo tanta onerosidade aos
segurados que cumprem em sua integralidade com suas obrigações como cidadão, a carga de
suportar mais uma reforma, que apenas retira direitos e garantias que foram adquiridos com
muita luta pelos trabalhadores.
Portanto, percebemos que a Emenda Constitucional 103/2019, foi muito injusta para
os segurados do RGPS, tendo em vista que de maneira geral todo o peso da suposta crise
econômica que acometia a previdência foi suportada pelos segurados, que passarão toda uma
vida de labor, contribuindo com a previdência social, para ao final de sua jornada de trabalho
não conseguir sequer manter o padrão de vida que construiu ao longo de toda uma vida de
trabalho, desconstituindo assim a verdadeira essência da previdência social e o motivo pelo qual
a mesma foi criada, além de ferir diversos princípios norteadores do direito que regem nossa
sociedade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, o presente estudo buscou mostrar ao leitor que a EC 103/2019, acabou levando
os segurados a permanecerem por mais tempo laborando, visto que, praticamente todas as
modalidades de aposentadoria agora detém o requisito etário para sua concessão, além do mais,
mostrou que para se obter uma RMI condizente com o salário da ativa, os segurados do RGPS
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além do requisito etário, também terão o tempo de labor prolongado, obrigando assim, os
segurados a permanecerem contribuindo com o sistema por mais tempo, mesmo que para isso,
sejam violados Princípios Constitucionais e Garantias Fundamentais.
Ao findar o trabalho e após toda a pesquisa e fundamentação trazidas no presente estudo,
percebemos que cada vez mais os cidadãos/segurados são atingidos e suportam as
consequências dos governos que regem a sociedade a cada tempo, seja o governo de direita, de
esquerda ou de qualquer outra nomenclatura, ao fim de cada reforma da previdência, mais
direitos fundamentais são violados, e cada vez menos direitos são adicionados, trazendo toda a
onerosidade dos erros cometidos por cada um dos atores políticos que formam o governo, aos
segurados, que constituem o corpo da previdência social e que fazem o país continuar de pé.
Portanto, mesmo diante de tanta injustiça, desigualdade e muitas vezes deslealdade, são
os segurados que mantém a previdência social ativa, e fazem com que as gerações futuras de
segurados tenham direito a algum tipo de benefício concedido pelo Regime Geral da
Previdência Social.
6 REFERÊNCIAS
FAGNANI, Eduardo Fagnani. Previdência: o debate desonesto: subsídios para a ação social
e parlamentar: pontos inaceitáveis da Reforma de Bolsonaro. Editora Contracorrente, 1
agosto de 2019.