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DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSTILA 1: SEGURIDADE SOCIAL
Prof. ELISON NASCIMENTO DA SILVA
2022
Sumário
1. Seguridade Social.........................................................................................................................................3
2. Saúde, previdência e assistência social: distinções e disciplina constitucional..............................................5
2.1 Saúde.........................................................................................................................................................5
2.2 Assistência Social.......................................................................................................................................6
2.3 Previdência Social.......................................................................................................................................7
3. Financiamento da Seguridade Social............................................................................................................8
4. Princípios fundamentais da seguridade social............................................................................................11
4.1. Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento...................................................................11
4.2. Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.......12
4.3 Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.................................13
4.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios...................................................................................................13
4.5 Princípio da equidade na forma de participação no custeio.....................................................................14
4.6 Princípio da diversidade da base de financiamento..................................................................................15
4.7 Princípio da gestão quadripartite.............................................................................................................16
4.8 Princípio da solidariedade........................................................................................................................16
4.9 Princípio da precedência da fonte de custeio...........................................................................................19
4.10 Princípio do orçamento diferenciado......................................................................................................20
5. Natureza e fontes do direito da seguridade social......................................................................................21
5.1 Natureza e fontes do direito previdenciário. Interpretação, aplicação, integração e eficácia das normas 22
6. Direito adquirido e expectativa de direito em matéria previdenciária.......................................................24
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...............................................................................................................................26
SEGURIDADE SOCIAL
1. Seguridade Social
A Constituição Federal de 1988 aduz que a seguridade social “compreende um conjunto integrado de
ações dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social”, na forma do artigo 194. Isso significa que a seguridade social:
a) é composta tanto pelos Poderes Públicos, como pela sociedade (na forma de pessoas físicas ou
jurídicas);
DIREITO CONSTITUCIONAL: A seguridade social é considerada como um direito positivo, já que impõe ao
Estado uma obrigação de fazer, de segunda e terceira geração. De segunda geração, já que se trata de um
direito social, cuja previsão do artigo 6º, CF/88 contempla a saúde, a previdência social, proteção à
maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados. De terceira geração porque são direitos
coletivos.
A CF/88 foi a primeira constituição brasileira a prever a seguridade social como um sistema que
engloba os três segmentos mencionados, dispondo de uma peça orçamentária própria.
Por outro lado, o sistema não-contributivo é composto pela saúde e assistência social, as quais são
custeadas pelos tributos em geral, especialmente das contribuições destinadas especificamente à seguridade
social. Logo, a saúde e a assistência social são disponíveis à todas as pessoas que necessitarem, sem a
exigibilidade de contraprestação.
A competência para legislar sobre a seguridade social é, como regra geral, privativa da União.
Entretanto, a competência é concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar
sobre previdência social, proteção e defesa da saúde, portadores de deficiência, infância e juventude.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
Importante! Após a Emenda 103/2019, que alterou o inciso XXI do artigo 22 da CF, a competência para
legislar sobre regras gerais de inatividade remunerada de policiais militares e bombeiros dos Estados e
Distrito Federal passou a ser privativa da União. Sobre o tema, buscou-se uniformizar, por lei federal, as
normas gerais, deixando aos Estados somente a suplementação de acordo com as peculiaridades locais.
Ao longo desta apostila iremos estudar cada um dos ramos da seguridade social com a devida
profundidade, então, por ora, basta apenas termos em mente os conceitos básicos e as distinções principais
no que tange aos beneficiários e contributividade.
2.1 Saúde
SAÚDE
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A saúde é direito de todos e Sistema não-contributivo.
dever do Estado, garantido Todas as pessoas que A saúde é custeada pelos
mediante políticas sociais e necessitarem, inclusive tributos, em especial as
econômicas que visem à estrangeiros em território contribuições para a
redução do risco de doença nacional. seguridade, como veremos
e de outros agravos e ao mais adiante na parte de
acesso universal e igualitário custeio do sistema de
às ações e serviços para sua seguridade social.
promoção, proteção e
recuperação.
Jurisprudência:
O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema Único
de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado para o
ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de saúde. [STF. RE
666.094, rel. min. Ricardo Roberto Barroso, j. 30-9-2021, P, DJE de 4-2-2022, Tema 1.033.]
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável aos procedimentos
médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a 4.6.1998, assegurados o
contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os marcos jurídicos.
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços do SUS, o
Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com essas despesas. Assim, o
chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma obrigação legal das operadoras de planos
privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente
e que esteja coberta por esses planos. STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
7/2/2018 (repercussão geral) (Info 890).
O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. A ausência de registro na ANVISA
impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. É possível, excepcionalmente,
a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em
apreciar o pedido de registro (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos:
(i) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para
doenças raras e ultrarraras);
(ii) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e
(iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser
propostas em face da União. [STF. RE 657.718, red. do ac. min. Roberto Barroso, j. 22-5-2019, P, DJE de 9-11-
2020, Tema 500.]
ASSISTÊNCIA SOCIAL
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A assistência social será Sistema não-contributivo.
prestada a quem dela A assistência é custeada
necessitar, pelos tributos, em especial
independentemente de Todas as pessoas que as contribuições para a
contribuição à seguridade necessitarem, seguridade, como veremos
social, e tem por objetivos: principalmente os mais adiante na parte de
I - a proteção à família, à miseráveis. custeio do sistema de
maternidade, à infância, à seguridade social.
adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e
adolescentes carentes;
III - a promoção da
integração ao mercado de
trabalho;
IV - a habilitação e
reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração
à vida comunitária;
V - a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal
à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir
meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la
provida por sua família,
conforme dispuser a lei.
JURISPRUDÊNCIA: Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art.
203, V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. STF. Plenário. RE
587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).
PREVIDÊNCIA SOCIAL
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A previdência social será Apenas aqueles que forem Sistema contributivo.
organizada sob a forma do filiados e/ou inscritos no Significa dizer que a
Regime Geral de Previdência Regime Geral de Previdência previdência social é
Social, de caráter Social ou, ainda, em Regime custeada, dentre outras
contributivo e de filiação Próprio de Previdência formas, pela contribuição
obrigatória, observados Social, bem como seus dos beneficiários.
critérios que preservem o dependentes.
equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na
forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de
incapacidade temporária ou
permanente para o trabalho
e idade avançada;
II - proteção à maternidade,
especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador
em situação de desemprego
involuntário;
IV - salário-família e auxílio-
reclusão para os
dependentes dos segurados
de baixa renda;
V - pensão por morte do
segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou
companheiro e
dependentes, observado o
disposto no § 2º.
O financiamento da seguridade social será realizado por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
e das contribuições sociais (art. 195 da Constituição Federal).
CF/88:
Art. 195. A SEGURIDADE SOCIAL SERÁ FINANCIADA por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II - Do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas ALÍQUOTAS
PROGRESSIVAS de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo RGPS; (EC 103/2019) #NÃO CONFUNDIR COM O RPPS!
III - Sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - Do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
§ 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos
respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. (...)
§ 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá
contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social,
obedecido o disposto no art. 154, I.
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos 90 dias da data
da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III,
"b".
§ 7º São ISENTAS de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências estabelecidas em lei. (...)
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter ALÍQUOTAS
DIFERENCIADAS em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de
cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do caput. (...)
§ 11. São VEDADOS A MORATÓRIA E O PARCELAMENTO EM PRAZO SUPERIOR A 60 (SESSENTA) MESES e, na
forma de lei complementar, A REMISSÃO E A ANISTIA DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput. (EC 103/2019)
Ademais, ficou também permitida a instituição de contribuições sociais sobre a receita de concursos
de prognósticos e do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
Essas contribuições arrecadadas com base no art. 195 da CF/88 ingressam diretamente no
orçamento da Seguridade Social, conforme previsto no art. 165, § 5º, III. Portanto, não constituem receita do
Tesouro Nacional. Além disso, nos termos do art. 167, XI, a utilização dos recursos provenientes das
contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, (cota patronal) e II (contribuição dos trabalhadores), para a
realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que
trata o art. 201 está expressamente vedada. Por isso, a doutrina afirma que essas contribuições sociais são
vinculadas.
Além das fontes de custeio da seguridade social previstas no dispositivo constitucional acima
mencionado, o art. 154, I, da CF, permite a criação de outras fontes, mediante lei complementar, tanto para
financiar novos benefícios ou serviços, como para manter os atualmente já existentes. O que não se permite é
criar, majorar ou estender serviço ou benefício da seguridade social sem a correspondente fonte de custeio
(art. 195, § 5º).
A criação de outras fontes de custeio da seguridade social, não previstas na CF, deve ser por meio de
lei complementar (art. 154, I). Entretanto, as previstas no art. 195 da CF podem ser instituídas por lei
ordinária!
Constituem ainda outras receitas da Seguridade Social as multas, a atualização monetária e os juros
moratórios; a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a
terceiros; as receitas provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou arrendamento de
bens; as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras; as doações, legados, subvenções e outras
receitas eventuais; metade dos valores obtidos com a desapropriação confiscatória prevista no art. 243 da CF;
40% (quarenta por cento) do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelo Departamento da Receita
Federal; além de outras receitas previstas em legislação específica (art. 27 da Lei nº 8.212/91).
Atenção:
As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, destinadas à seguridade social constarão
dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.
Resta assegurada a ISENÇÃO de contribuição para a seguridade social às entidades beneficentes de
assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social não poderá contratar com o Poder
Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
Em termos de contribuições sociais, vige o Princípio da Anterioridade Nonagesimal, de acordo com o
qual as contribuições sociais só poderão ser exigidas depois de decorridos 90 dias da data da publicação
da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando a anterioridade prevista no art. 150,
III, “b” da CF. Logo, as contribuições sociais podem ser exigidas no mesmo exercício financeiro, desde
que respeitada a anterioridade dos 90 dias.
CF/88:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos
e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos
seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada
área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o
caráter contributivo da previdência social; (parte sublinhada acrescentada pela EC 103/2019),
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com
participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.
Teoria da reserva do possível – sabemos que o dinheiro público não é inesgotável e, desta forma, estudamos
em direito administrativo e constitucional a teoria da reserva do possível (alô, pessoal das procuradorias!). A
reserva do possível consiste no limite fático e jurídico que impede o Estado de custear o tratamento de alto
custo de um cidadão portador de enfermidade grave, por exemplo, de forma que é muito utilizada pelos entes
públicos para argumentar a inaplicabilidade do princípio da universalidade do atendimento em sua extensão
máxima.
No entanto, a reserva do possível não pode ser utilizada indistintamente pela Administração, apenas sendo
possível alegá-la quando houver prova de que recursos públicos foram aplicados na seguridade social e que,
de fato, não há orçamento disponível para custear o direito em questão. Aliás, de acordo com o entendimento
do STF, no RE 356.479, o Estado não pode alegar a reserva do possível para descumprir o mínimo existencial
dos direitos.
4.2. Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais
Este princípio deriva do princípio constitucional da isonomia, de maneira que ele proíbe a
discriminação negativa entre populações urbanas e rurais para o acesso aos benefícios e serviços prestados
pelo sistema da seguridade.
É o tão famoso princípio da igualdade material, o qual permite discriminações razoáveis para igualar
os desiguais.
Logo, podem existir diferenciações no tratamento entre tais populações, como no caso do §8º do
artigo 195. Contudo, essas diferenciações não podem ter um viés discriminatório, não podem isolar ou
prejudicar a população rural.
CF/88:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os
respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado
da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.
ATENÇÃO: Benefícios correspondem à obrigação de pagar quantia certa, enquanto os serviços correspondem
à obrigação de fazer dentro do sistema da seguridade.
O Estado não tem condições financeiras de cobrir todos os riscos sociais que porventura ocorram, de
maneira que devem ser selecionados para a cobertura de benefícios e serviços àqueles mais relevantes. Nesse
sentido, são, inclusive, impostos requisitos para a concessão das benesses.
Além disso, é através do princípio da seletividade que o legislador tem autorização para escolher
quais pessoas podem ser contempladas pelos benefícios e serviços.
Logo, é muito evidente que a seletividade atua como limitação ao princípio da universalidade da
seguridade social.
Já a distributividade atua como elemento concretizador da justiça social, uma vez que desconcentra a
riqueza, contemplando os mais necessitados. Veja que no caso da assistência social, apenas os mais miseráveis
fazem jus aos benefícios e serviços, muito embora o financiamento seja proveniente de tributos pagos por
todos os contribuintes.
Este princípio decorre da segurança jurídica, de modo que impede o retrocesso securitário.
A tabela acima1 nos mostra que no tocante à saúde e à assistência social, a irredutibilidade ocorre
apenas pelo valor nominal, enquanto na previdência social a irredutibilidade acontece pelo valor nominal e
real, sendo reajustada pelo INPC. Isso ocorre porque a previdência é contributiva.
Art. 201, CF. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real,
conforme critérios definidos em lei.
Art. 41-A, Lei 8.213/1991. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma
data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último
reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
JURISPRUDÊNCIA:
Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor nominal do
salário mínimo. [STF. RE 968.414, rel. min. Marco Aurélio, j. 15-5-2020, P, DJE de 3-6-2020, Tema 996.]
Cumpre primeiramente relembrar que equidade NÃO É a mesma coisa de igualdade ; equidade
significa justiça no caso concreto. Assim, através do princípio ora em estudo é preciso considerar a capacidade
de cada contribuinte, o que de forma simplista poderia ser traduzido por “quem ganha mais, paga mais”.
Deste modo, por exemplo, existem trabalhadores que devem recolher alíquotas de 7,5%, 9%, 12% ou
14% sobre a remuneração (valores atualizados pelo artigo 28 da EC 103/2019 e adotados desde março de
2020), bem como as bases de cálculo e alíquotas das empresas também podem variar de acordo com a
atividade econômica desenvolvida.
1
Retirada da obra de Frederico Amado. AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopse para Concursos.
Salvador: Editora Juspodivum. 9ª Edição. 2018. Pág. 30.
Art. 195, § 9º, CF/88. As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter
alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte
da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de
bases de cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do caput. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
O Professor Ivan Kertzman nota que o princípio da equidade na forma de participação no custeio está
intimamente relacionado com o princípio da capacidade contributiva do direito tributário, bem como com o
princípio da distributividade na prestação dos benefícios e serviços de que tratamos agora há pouco, no
sentido de que “as contribuições devem ser arrecadadas de quem tenha maior capacidade contributiva para
ser distribuída para quem mais necessita”.
A seguridade é, pois, custeada através da sociedade, de forma direta e indireta, além dos recursos
oriundos dos entes federativos. Ademais, uma das fontes de financiamento são as contribuições sociais:
a) do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada ;
b) do trabalhador e dos demais segurados da previdência social;
c) da receita de concursos de prognósticos, o que significa a receita oriunda de apostas;
d) do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar .
No entanto, vale ressaltar que é permitida a criação de novas fontes de custeio, através de lei
complementar, conforme o §4º do artigo 195.
RESUMINDO: A doutrina aduz então que no Brasil adotamos a TRÍPLICE forma de CUSTEIO: Poder Público,
empresas e trabalhadores.
A Constituição Federal, em seu artigo 10, assegura a participação dos trabalhadores e empregadores
nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
discussão e deliberação.
Desta forma, o artigo 194, parágrafo único, inciso VII, informa que a gestão do sistema de seguridade
envolve:
a) trabalhadores;
b) empregadores;
c) aposentados;
d) poder público.
Isso garante a democracia e a descentralização no sistema de seguridade social, o que se aplica, por
conseguinte, nos conselhos existentes em cada uma das searas da saúde, assistência e previdência.
Art. 3º, Lei 8.213/91. Fica instituído o Conselho Nacional de Previdência Social–CNPS, órgão superior de
deliberação colegiada, que terá como membros:
I - seis representantes do Governo Federal;
II - nove representantes da sociedade civil, sendo:
a) três representantes dos aposentados e pensionistas;
b) três representantes dos trabalhadores em atividade;
c) três representantes dos empregadores.
No âmbito da previdência social, o princípio da solidariedade é a razão pela qual o segurado que
começou a contribuir há pouco tempo poder se aposentar por invalidez, em virtude de um acidente de
trabalho, por exemplo.
Dimensões do princípio da solidariedade na seguridade social, substancialmente na seara
previdenciária:
(a) Horizontal – pacto intra-geracional: redistribuição de renda entre as populações.
(b) Vertical – pacto intergeracional: a geração presente trabalha para pagar os benefícios das gerações
passadas.
Além disso, o princípio da solidariedade foi utilizado para embasar decisão do STF em negar o novo
cálculo de aposentadoria a quem, já aposentado, permanece trabalhando e contribuindo para o sistema.
JURISPRUDÊNCIA:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à desaposentação, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/03/2019 (recurso repetitivo)
(Info 649).
Por fim, vale comentar que no caso dos regimes próprios de previdência social, o princípio da
solidariedade é expresso.
Art. 40, CF/88. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos,
de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
Esse princípio também pode surgir com o nome de regra constitucional de contrapartida, pelo qual
nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.
Assim, a criação, majoração ou extensão somente poderá ser realizada mediante indicação da
dotação orçamentária.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.
EXCEÇÃO:
a) O STF tem posicionamento no sentido de que este princípio NÃO se aplica à previdência privada (RE 583687
AgR, 29.03.2011, 2ª Turma).
b) Para o STF, se o benefício ou serviço for instituído pela própria Constituição, não terá aplicação o princípio
da precedência da fonte de custeio (RE 385397 AgR, 29.06.2007).
JURISPRUDÊNCIA: Pensão por morte do servidor público. Aplicação do artigo 40, § 5º, da Constituição Federal.
2. Esta Corte já firmou entendimento segundo o qual esse dispositivo, que é autoaplicável, determina a fixação
da pensão por morte do servidor público no valor correspondente à totalidade dos vencimentos ou proventos
que ele percebia. Precedentes. 3. Inexigibilidade, por outro lado, da observância do artigo 195, § 5º, da
Constituição Federal, quando o benefício é criado diretamente pela Constituição. 4. Recurso extraordinário
conhecido e provido. (RE 220742, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Segunda Turma, julgado em 03/03/1998,
DJ 04-09-1998 PP-00018 EMENT VOL-01921-07 PP-01331)
Os recursos do orçamento da seguridade são afetados ao custeio do sistema, ou seja, não podem,
como regra, serem aplicados para outras despesas da União. No caso de exceções, é necessária a autorização
legislativa.
RESUMO:
Cobertura – riscos
SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE
Selecionar os serviços
EQUIDADE NO CUSTEIO
GESTÃO QUADRIPARTITE
SOLIDARIEDADE
O benefício não pode ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de
custeio.
ORÇAMENTO DIFERENCIADO.
Recursos afetados
Além disso, é claro que na tradicional divisão entre o direito público e o direito privado, a Seguridade
Social pertence ao Direito Público, já que regula um vínculo jurídico entre o Estado e a sociedade.
Fonte do direito é todo fato social gerador de normas jurídicas. Neste aspecto, a fonte do direito
pode ser material (fatores sociais, econômicos e políticos) ou formal (manifestações formadoras do conjunto
de regras e princípios).
No caso da seguridade social, existe todo um histórico da luta da sociedade por estes direitos como
fonte material.
Já quanto às fontes formais, oportuno observar que a Constituição de 1988 foi a primeira
constituição brasileira a incluir a seguridade social como um sistema, englobando saúde, assistência e
previdência social.
Além disso, existem diversas outras leis, hierarquicamente inferiores que a CF, as quais atuam como
fonte formal do sistema da seguridade social, tal como a Lei 8.212/1991 (dispõe sobre a seguridade social e o
custeio); Lei 8.213/1991 (dispõe sobre o plano de benefícios da previdência) e a Lei 8.742/1993 (dispõe sobre a
organização da assistência social.)
5.1 Natureza e fontes do direito previdenciário. Interpretação, aplicação, integração e eficácia das normas
Embora este primeiro capítulo da nossa FUC seja dedicado ao estudo do sistema da seguridade
social, não podemos olvidar que o ponto central do nosso estudo é o Direito Previdenciário, razão pela qual
julgo importante este tópico.
Para fins didáticos, seguindo a doutrina tradicional, podemos afirmar que o Direito Previdenciário
pertence ao ramo do Direito Público. No entanto, a doutrina mais moderna rechaça esse entendimento,
considerando o direito previdenciário como parte do Direito Social, que também abarcaria o Direito do
Trabalho.
Podemos dividir as fontes formais do Direito Previdenciário em fontes não estatais, tal como a
doutrina e o costume, e em fontes formais estatais, que correspondem às legislações positivadas.
Uma vez que a norma existe positivada no nosso ordenamento jurídico é preciso, pois, interpretá-la
para poder aplica-la da melhor forma possível, isto é, correspondendo à sua verdadeira intenção (ratio legis).
Nesse sentido, a hermenêutica, inclusive para o ramo previdenciário, utiliza as seguintes formas de
intepretação da lei:
a) interpretação gramatical: é aquela através da qual o sentido da norma é extraído pela simples
leitura do texto legislativo.
b) interpretação teleológica ou finalística: é aquela que buscar a intenção realmente almejada pela
lei.
c) interpretação restritiva: é aquela utilizada quando o texto da lei é mais amplo do que a intenção
da lei, devendo ser restringido pelo intérprete.
d) interpretação extensiva: é aquela utilizada quando o texto da lei é mais restritivo do que a
intenção da lei, devendo ser ampliado pelo intérprete.
e) interpretação sistemática: é aquela que analisa todo o ordenamento jurídico para buscar
entender o real sentido da lei.
f) interpretação histórica: é aquela que analisa o contexto histórico no qual a lei foi aprovada, com o
intuito de descobrir a ratio legis.
g) interpretação autêntica: é aquela feita pelo próprio legislador, como no caso da exposição de
motivos de uma lei.
h) jurisprudencial: é aquela realizada pelo magistrado, quando da aplicação na norma ao caso
concreto.
i) doutrinária: é aquela realizada pelos cientistas do direito, pelos especialistas que escrevem obras
literárias.
É bem de ver que interpretação e integração das normas são técnicas diferentes. A interpretação,
como vimos, busca alcançar o real sentido da lei, enquanto a integração é utilizada pelo aplicador quando
houver uma lacuna na lei. Podemos mencionar as seguintes formas de integração:
Art. 5º. XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Nas palavras de Flávio Tartuce o direito adquirido “é o direito material ou imaterial incorporado no
patrimônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado”. Como exemplo, em se tratando de
matéria previdenciária, o segurado que possuía direito à aposentadoria antes da vigência da Lei 9.876/1999,
tem direito de, a qualquer tempo, requerer o benefício com as regras antigas do cálculo, ou seja, sem a
incidência do fator previdenciário.
É válido ressaltar, todavia, que a doutrina mais moderna, bem como a jurisprudência consideram que
o direito adquirido não é absoluto, sob pena de engessar o sistema jurídico, sendo necessária a ponderação de
valores, como já positivado no artigo 489, §2º, do Código de Processo Civil.
Além disso, a doutrina e a jurisprudência concordam ao afirmar que não existe direito adquirido a
regime jurídico. Isso significa que se determinado segurado ingressa em um regime jurídico previdenciário,
enquanto não sobrevier todas as condições para usufruir de um benefício ou serviço, ele não terá direito às
regras daquele regime, ele tem mera expectativa.
Desta forma, a expectativa de direito nada mais é do que “uma permissão da norma jurídica para
adquirir outra permissão, também dada pela norma jurídica diante de um evento futuro e esperado”2.
Oportuno ressaltar que o nosso ordenamento jurídico, como regra, não protege a expectativa do
direito, salvo nos casos da aplicação da teoria da perda de uma chance, que vocês estudarão em Direito Civil.
2
TELLES, Goffredo Junior. Iniciação na Ciência do Direito. Saraiva, 2001, Pg. 334.
Dito isso, encerramos por aqui nosso primeiro capítulo no estudo do Direito Previdenciário e eu
espero que o estudo de vocês seja muito proveitoso para que, em breve, possam colher frutos dessa jornada!
Súmula 340-STJ. A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do
óbito do segurado.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopse para Concursos. Salvador: Editora JusPodivum. 9ª
Edição. 2018.
AMADO, Frederico. Curso de direito e processo previdenciário. 13 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora
JusPodivm, 2020.
KERTZMAN, Ivan. Curso Prático de Direito Previdenciário. Salvador: Editora Juspodivum. 17ª Edição. 2019.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <
https://www.buscadordizerodireito.com.br>.