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FACULDADES ASSOCIADAS DE ARIQUEMES – FAAR

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSTILA 1: SEGURIDADE SOCIAL
Prof. ELISON NASCIMENTO DA SILVA

2022
Sumário
1. Seguridade Social.........................................................................................................................................3
2. Saúde, previdência e assistência social: distinções e disciplina constitucional..............................................5
2.1 Saúde.........................................................................................................................................................5
2.2 Assistência Social.......................................................................................................................................6
2.3 Previdência Social.......................................................................................................................................7
3. Financiamento da Seguridade Social............................................................................................................8
4. Princípios fundamentais da seguridade social............................................................................................11
4.1. Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento...................................................................11
4.2. Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.......12
4.3 Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.................................13
4.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios...................................................................................................13
4.5 Princípio da equidade na forma de participação no custeio.....................................................................14
4.6 Princípio da diversidade da base de financiamento..................................................................................15
4.7 Princípio da gestão quadripartite.............................................................................................................16
4.8 Princípio da solidariedade........................................................................................................................16
4.9 Princípio da precedência da fonte de custeio...........................................................................................19
4.10 Princípio do orçamento diferenciado......................................................................................................20
5. Natureza e fontes do direito da seguridade social......................................................................................21
5.1 Natureza e fontes do direito previdenciário. Interpretação, aplicação, integração e eficácia das normas 22
6. Direito adquirido e expectativa de direito em matéria previdenciária.......................................................24
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...............................................................................................................................26
SEGURIDADE SOCIAL

1. Seguridade Social

A Constituição Federal de 1988 aduz que a seguridade social “compreende um conjunto integrado de
ações dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social”, na forma do artigo 194. Isso significa que a seguridade social:

a) é composta tanto pelos Poderes Públicos, como pela sociedade (na forma de pessoas físicas ou
jurídicas);

b) abarca três ramos: saúde, previdência e assistência social.

DIREITO CONSTITUCIONAL: A seguridade social é considerada como um direito positivo, já que impõe ao
Estado uma obrigação de fazer, de segunda e terceira geração. De segunda geração, já que se trata de um
direito social, cuja previsão do artigo 6º, CF/88 contempla a saúde, a previdência social, proteção à
maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados. De terceira geração porque são direitos
coletivos.

A CF/88 foi a primeira constituição brasileira a prever a seguridade social como um sistema que
engloba os três segmentos mencionados, dispondo de uma peça orçamentária própria.

Este sistema da seguridade social se subdivide em um sistema contributivo e um sistema não


contributivo – e isso é muito importante! Integra o sistema contributivo apenas a previdência social, a qual
exige o pagamento (real ou presumido) de contribuições previdenciárias pelos segurados para a sua cobertura
e dos seus dependentes.

Por outro lado, o sistema não-contributivo é composto pela saúde e assistência social, as quais são
custeadas pelos tributos em geral, especialmente das contribuições destinadas especificamente à seguridade
social. Logo, a saúde e a assistência social são disponíveis à todas as pessoas que necessitarem, sem a
exigibilidade de contraprestação.
A competência para legislar sobre a seguridade social é, como regra geral, privativa da União.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


XXIII - seguridade social;

Entretanto, a competência é concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar
sobre previdência social, proteção e defesa da saúde, portadores de deficiência, infância e juventude.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;

Importante! Após a Emenda 103/2019, que alterou o inciso XXI do artigo 22 da CF, a competência para
legislar sobre regras gerais de inatividade remunerada de policiais militares e bombeiros dos Estados e
Distrito Federal passou a ser privativa da União. Sobre o tema, buscou-se uniformizar, por lei federal, as
normas gerais, deixando aos Estados somente a suplementação de acordo com as peculiaridades locais.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização,
inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019).
2. Saúde, previdência e assistência social: distinções e disciplina constitucional

Ao longo desta apostila iremos estudar cada um dos ramos da seguridade social com a devida
profundidade, então, por ora, basta apenas termos em mente os conceitos básicos e as distinções principais
no que tange aos beneficiários e contributividade.

2.1 Saúde

SAÚDE
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A saúde é direito de todos e Sistema não-contributivo.
dever do Estado, garantido Todas as pessoas que A saúde é custeada pelos
mediante políticas sociais e necessitarem, inclusive tributos, em especial as
econômicas que visem à estrangeiros em território contribuições para a
redução do risco de doença nacional. seguridade, como veremos
e de outros agravos e ao mais adiante na parte de
acesso universal e igualitário custeio do sistema de
às ações e serviços para sua seguridade social.
promoção, proteção e
recuperação.

Jurisprudência:
O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema Único
de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado para o
ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de saúde. [STF. RE
666.094, rel. min. Ricardo Roberto Barroso, j. 30-9-2021, P, DJE de 4-2-2022, Tema 1.033.]

É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável aos procedimentos
médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a 4.6.1998, assegurados o
contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os marcos jurídicos.
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços do SUS, o
Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com essas despesas. Assim, o
chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma obrigação legal das operadoras de planos
privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente
e que esteja coberta por esses planos. STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
7/2/2018 (repercussão geral) (Info 890).

O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. A ausência de registro na ANVISA
impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. É possível, excepcionalmente,
a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em
apreciar o pedido de registro (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos:
(i) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para
doenças raras e ultrarraras);
(ii) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e
(iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser
propostas em face da União. [STF. RE 657.718, red. do ac. min. Roberto Barroso, j. 22-5-2019, P, DJE de 9-11-
2020, Tema 500.]

2.2 Assistência Social

ASSISTÊNCIA SOCIAL
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A assistência social será Sistema não-contributivo.
prestada a quem dela A assistência é custeada
necessitar, pelos tributos, em especial
independentemente de Todas as pessoas que as contribuições para a
contribuição à seguridade necessitarem, seguridade, como veremos
social, e tem por objetivos: principalmente os mais adiante na parte de
I - a proteção à família, à miseráveis. custeio do sistema de
maternidade, à infância, à seguridade social.
adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e
adolescentes carentes;
III - a promoção da
integração ao mercado de
trabalho;
IV - a habilitação e
reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração
à vida comunitária;
V - a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal
à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir
meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la
provida por sua família,
conforme dispuser a lei.

JURISPRUDÊNCIA: Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art.
203, V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. STF. Plenário. RE
587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

2.3 Previdência Social

PREVIDÊNCIA SOCIAL
DEFINIÇÃO BENEFICIÁRIOS CONTRIBUTIVIDADE
A previdência social será Apenas aqueles que forem Sistema contributivo.
organizada sob a forma do filiados e/ou inscritos no Significa dizer que a
Regime Geral de Previdência Regime Geral de Previdência previdência social é
Social, de caráter Social ou, ainda, em Regime custeada, dentre outras
contributivo e de filiação Próprio de Previdência formas, pela contribuição
obrigatória, observados Social, bem como seus dos beneficiários.
critérios que preservem o dependentes.
equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na
forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de
incapacidade temporária ou
permanente para o trabalho
e idade avançada;
II - proteção à maternidade,
especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador
em situação de desemprego
involuntário;
IV - salário-família e auxílio-
reclusão para os
dependentes dos segurados
de baixa renda;
V - pensão por morte do
segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou
companheiro e
dependentes, observado o
disposto no § 2º.

3. Financiamento da Seguridade Social

O financiamento da seguridade social será realizado por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
e das contribuições sociais (art. 195 da Constituição Federal).

Portanto, percebe-se que o modelo de financiamento baseia-se no sistema contributivo, em que o


custeio direto é marcado pelas contribuições sociais, enquanto o custeio indireto ocorre por meio de recursos
orçamentários dos entes políticos, provenientes de impostos.

CF/88:
Art. 195. A SEGURIDADE SOCIAL SERÁ FINANCIADA por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II - Do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas ALÍQUOTAS
PROGRESSIVAS de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo RGPS; (EC 103/2019) #NÃO CONFUNDIR COM O RPPS!
III - Sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - Do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
§ 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos
respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. (...)
§ 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá
contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social,
obedecido o disposto no art. 154, I.
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos 90 dias da data
da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III,
"b".
§ 7º São ISENTAS de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências estabelecidas em lei. (...)
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter ALÍQUOTAS
DIFERENCIADAS em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de
cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do caput. (...)
§ 11. São VEDADOS A MORATÓRIA E O PARCELAMENTO EM PRAZO SUPERIOR A 60 (SESSENTA) MESES e, na
forma de lei complementar, A REMISSÃO E A ANISTIA DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS de que tratam a alínea
"a" do inciso I e o inciso II do caput. (EC 103/2019)

É permitida a instituição de contribuições sociais do empregador, da empresa e da entidade a ela


equiparada, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o
faturamento; c) o lucro.

Também é permitida a instituição de contribuição social do trabalhador e dos demais segurados da


previdência social, desde que essa contribuição não incida sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal.

Ademais, ficou também permitida a instituição de contribuições sociais sobre a receita de concursos
de prognósticos e do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Essas contribuições arrecadadas com base no art. 195 da CF/88 ingressam diretamente no
orçamento da Seguridade Social, conforme previsto no art. 165, § 5º, III. Portanto, não constituem receita do
Tesouro Nacional. Além disso, nos termos do art. 167, XI, a utilização dos recursos provenientes das
contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, (cota patronal) e II (contribuição dos trabalhadores), para a
realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que
trata o art. 201 está expressamente vedada. Por isso, a doutrina afirma que essas contribuições sociais são
vinculadas.

Além das fontes de custeio da seguridade social previstas no dispositivo constitucional acima
mencionado, o art. 154, I, da CF, permite a criação de outras fontes, mediante lei complementar, tanto para
financiar novos benefícios ou serviços, como para manter os atualmente já existentes. O que não se permite é
criar, majorar ou estender serviço ou benefício da seguridade social sem a correspondente fonte de custeio
(art. 195, § 5º).

A criação de outras fontes de custeio da seguridade social, não previstas na CF, deve ser por meio de
lei complementar (art. 154, I). Entretanto, as previstas no art. 195 da CF podem ser instituídas por lei
ordinária!

Constituem ainda outras receitas da Seguridade Social as multas, a atualização monetária e os juros
moratórios; a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a
terceiros; as receitas provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou arrendamento de
bens; as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras; as doações, legados, subvenções e outras
receitas eventuais; metade dos valores obtidos com a desapropriação confiscatória prevista no art. 243 da CF;
40% (quarenta por cento) do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelo Departamento da Receita
Federal; além de outras receitas previstas em legislação específica (art. 27 da Lei nº 8.212/91).

Atenção:

 As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, destinadas à seguridade social constarão
dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.
 Resta assegurada a ISENÇÃO de contribuição para a seguridade social às entidades beneficentes de
assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
 A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social não poderá contratar com o Poder
Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
 Em termos de contribuições sociais, vige o Princípio da Anterioridade Nonagesimal, de acordo com o
qual as contribuições sociais só poderão ser exigidas depois de decorridos 90 dias da data da publicação
da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando a anterioridade prevista no art. 150,
III, “b” da CF. Logo, as contribuições sociais podem ser exigidas no mesmo exercício financeiro, desde
que respeitada a anterioridade dos 90 dias.

MUDANÇAS ADVINDAS COM A EC 103/2019 NA SEGURIDADE SOCIAL:


 Passou a ser prevista a progressividade da alíquota contributiva incidente sobre a folha de salários do
trabalhador e dos demais segurados da previdência social, conforme nova redação do art. 195, II da
Constituição Federal.
 Foi reafirmado que as contribuições sociais do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada
(cota patronal) poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização
intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.
 Restou autorizado no texto constitucional a adoção de bases de cálculo diferenciadas APENAS nos casos
de contribuições sociais sobre a receita ou o faturamento e sobre o lucro (art. 195, § 9º, CF/88).
 Foi mantida a vedação de remissão e anistia, na forma de lei complementar, das contribuições sociais
incidentes sobre a folha de salários e dos trabalhadores/segurados em geral, entretanto houve expressa
previsão de que a moratória e o parcelamento não poderiam ter prazo superior a 60 meses (art. 195, §
11, CF/88).
4. Princípios fundamentais da seguridade social
O constituinte de 1988 estipulou um rol de princípios fundamentais da seguridade no artigo 194,
nominando-os como objetivos.

CF/88:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos
e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos
seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada
área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o
caráter contributivo da previdência social; (parte sublinhada acrescentada pela EC 103/2019),
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com
participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

4.1. Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento

Este princípio possui duas vertentes:

a) princípio da universalidade da cobertura: a seguridade social busca atender o maior número de


contingências sociais possíveis, como doença, invalidez, maternidade, morte e etc. Sob esse aspecto também
pode ser reconhecido pelo nome de universalidade objetiva, já que trata do objeto da seguridade social.

b) princípio da universalidade do atendimento : a seguridade social busca atender a todos, inclusive


os ESTRANGEIROS, residentes ou não residentes no país, conforme o caso. No entanto, é bom lembrar que
enquanto a saúde e assistência social não são contributivas, a previdência social apenas acoberta os filiados.
Neste sentido, foi com base neste princípio que foi instituída a possibilidade de filiação dos segurados
facultativos e também, por exemplo, das donas-de-casa de baixa renda contribuírem com alíquota reduzida,
visando abarcar na previdência o maior número possível de pessoas. Destarte, trata-se da universalidade
subjetiva, pois relaciona-se com o sujeito da seguridade social.

Teoria da reserva do possível – sabemos que o dinheiro público não é inesgotável e, desta forma, estudamos
em direito administrativo e constitucional a teoria da reserva do possível (alô, pessoal das procuradorias!). A
reserva do possível consiste no limite fático e jurídico que impede o Estado de custear o tratamento de alto
custo de um cidadão portador de enfermidade grave, por exemplo, de forma que é muito utilizada pelos entes
públicos para argumentar a inaplicabilidade do princípio da universalidade do atendimento em sua extensão
máxima.
No entanto, a reserva do possível não pode ser utilizada indistintamente pela Administração, apenas sendo
possível alegá-la quando houver prova de que recursos públicos foram aplicados na seguridade social e que,
de fato, não há orçamento disponível para custear o direito em questão. Aliás, de acordo com o entendimento
do STF, no RE 356.479, o Estado não pode alegar a reserva do possível para descumprir o mínimo existencial
dos direitos.

4.2. Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais

Este princípio deriva do princípio constitucional da isonomia, de maneira que ele proíbe a
discriminação negativa entre populações urbanas e rurais para o acesso aos benefícios e serviços prestados
pelo sistema da seguridade.

É o tão famoso princípio da igualdade material, o qual permite discriminações razoáveis para igualar
os desiguais.

Logo, podem existir diferenciações no tratamento entre tais populações, como no caso do §8º do
artigo 195. Contudo, essas diferenciações não podem ter um viés discriminatório, não podem isolar ou
prejudicar a população rural.

Então vamos ao exemplo de uma diferenciação permitida:

CF/88:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:  
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os
respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado
da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. 

ATENÇÃO: Benefícios correspondem à obrigação de pagar quantia certa, enquanto os serviços correspondem
à obrigação de fazer dentro do sistema da seguridade.

4.3 Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços

O Estado não tem condições financeiras de cobrir todos os riscos sociais que porventura ocorram, de
maneira que devem ser selecionados para a cobertura de benefícios e serviços àqueles mais relevantes. Nesse
sentido, são, inclusive, impostos requisitos para a concessão das benesses.

Além disso, é através do princípio da seletividade que o legislador tem autorização para escolher
quais pessoas podem ser contempladas pelos benefícios e serviços.

Logo, é muito evidente que a seletividade atua como limitação ao princípio da universalidade da
seguridade social.

Já a distributividade atua como elemento concretizador da justiça social, uma vez que desconcentra a
riqueza, contemplando os mais necessitados. Veja que no caso da assistência social, apenas os mais miseráveis
fazem jus aos benefícios e serviços, muito embora o financiamento seja proveniente de tributos pagos por
todos os contribuintes.

4.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios

Este princípio decorre da segurança jurídica, de modo que impede o retrocesso securitário.

IRREDUTIBILIDADE PELO VALOR NOMINAL Saúde pública e assistência social


IRREDUTIBILIDADE PELO VALOR NOMINAL E Previdência Social
REAL

A tabela acima1 nos mostra que no tocante à saúde e à assistência social, a irredutibilidade ocorre
apenas pelo valor nominal, enquanto na previdência social a irredutibilidade acontece pelo valor nominal e
real, sendo reajustada pelo INPC. Isso ocorre porque a previdência é contributiva.

 Art. 201, CF. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: 
§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real,
conforme critérios definidos em lei.  

Art. 41-A, Lei 8.213/1991. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma
data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último
reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

JURISPRUDÊNCIA:
Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor nominal do
salário mínimo. [STF. RE 968.414, rel. min. Marco Aurélio, j. 15-5-2020, P, DJE de 3-6-2020, Tema 996.]

4.5 Princípio da equidade na forma de participação no custeio

Cumpre primeiramente relembrar que equidade NÃO É a mesma coisa de igualdade ; equidade
significa justiça no caso concreto. Assim, através do princípio ora em estudo é preciso considerar a capacidade
de cada contribuinte, o que de forma simplista poderia ser traduzido por “quem ganha mais, paga mais”.

Deste modo, por exemplo, existem trabalhadores que devem recolher alíquotas de 7,5%, 9%, 12% ou
14% sobre a remuneração (valores atualizados pelo artigo 28 da EC 103/2019 e adotados desde março de
2020), bem como as bases de cálculo e alíquotas das empresas também podem variar de acordo com a
atividade econômica desenvolvida.

1
Retirada da obra de Frederico Amado. AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopse para Concursos.
Salvador: Editora Juspodivum. 9ª Edição. 2018. Pág. 30.
Art. 195, § 9º, CF/88. As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter
alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte
da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de
bases de cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do caput. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

O Professor Ivan Kertzman nota que o princípio da equidade na forma de participação no custeio está
intimamente relacionado com o princípio da capacidade contributiva do direito tributário, bem como com o
princípio da distributividade na prestação dos benefícios e serviços de que tratamos agora há pouco, no
sentido de que “as contribuições devem ser arrecadadas de quem tenha maior capacidade contributiva para
ser distribuída para quem mais necessita”.

4.6 Princípio da diversidade da base de financiamento


O sistema da seguridade social precisa ter múltiplas fontes de financiamento, a fim de garantir a
solvabilidade. Assim, se uma das fontes de financiamento quebrar, a seguridade não permanece com a
arrecadação completamente comprometida.
A redação do inciso referente a este princípio sofreu alteração pela EC 103/2019:
Art. 194, VI - Diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para
cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social,
preservado o caráter contributivo da previdência social; (EC 103/2019 – parte acrescentada em negrito)

O texto constitucional destaca também a necessidade de se identificar, em rubricas contábeis


específicas para cada área, as receitas e despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social,
preservando o caráter contributivo da previdência social. Em outras palavras, deve haver a especificação em
cada receita ou despesa da seguridade social da área para a qual ela está sendo destinada.

A seguridade é, pois, custeada através da sociedade, de forma direta e indireta, além dos recursos
oriundos dos entes federativos. Ademais, uma das fontes de financiamento são as contribuições sociais:
a) do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada ;
b) do trabalhador e dos demais segurados da previdência social;
c) da receita de concursos de prognósticos, o que significa a receita oriunda de apostas;
d) do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar .
No entanto, vale ressaltar que é permitida a criação de novas fontes de custeio, através de lei
complementar, conforme o §4º do artigo 195.

RESUMINDO: A doutrina aduz então que no Brasil adotamos a TRÍPLICE forma de CUSTEIO: Poder Público,
empresas e trabalhadores.

4.7 Princípio da gestão quadripartite

A Constituição Federal, em seu artigo 10, assegura a participação dos trabalhadores e empregadores
nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
discussão e deliberação.

Desta forma, o artigo 194, parágrafo único, inciso VII, informa que a gestão do sistema de seguridade
envolve:
a) trabalhadores;
b) empregadores;
c) aposentados;
d) poder público.

Isso garante a democracia e a descentralização no sistema de seguridade social, o que se aplica, por
conseguinte, nos conselhos existentes em cada uma das searas da saúde, assistência e previdência.

Art. 3º, Lei 8.213/91. Fica instituído o Conselho Nacional de Previdência Social–CNPS, órgão superior de
deliberação colegiada, que terá como membros:
I - seis representantes do Governo Federal;
II - nove representantes da sociedade civil, sendo:
a) três representantes dos aposentados e pensionistas;
b) três representantes dos trabalhadores em atividade;
c) três representantes dos empregadores.  

4.8 Princípio da solidariedade


A solidariedade é, em verdade, um dos objetivos da República Federativa do Brasil, conforme a
previsão do artigo 3º, inciso I, da CF. No caso do nosso estudo, a solidariedade fundamenta a socialização dos
riscos, ou seja, o sistema da seguridade é financiado por aqueles que pagam tributos e podem não gozar dos
benefícios e serviços no presente, mas no futuro serão contemplados.

No âmbito da previdência social, o princípio da solidariedade é a razão pela qual o segurado que
começou a contribuir há pouco tempo poder se aposentar por invalidez, em virtude de um acidente de
trabalho, por exemplo.
Dimensões do princípio da solidariedade na seguridade social, substancialmente na seara
previdenciária:
(a) Horizontal – pacto intra-geracional: redistribuição de renda entre as populações.
(b) Vertical – pacto intergeracional: a geração presente trabalha para pagar os benefícios das gerações
passadas.

Além disso, o princípio da solidariedade foi utilizado para embasar decisão do STF em negar o novo
cálculo de aposentadoria a quem, já aposentado, permanece trabalhando e contribuindo para o sistema.

JURISPRUDÊNCIA:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à desaposentação, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/03/2019 (recurso repetitivo)
(Info 649).

Princípio da solidariedade e contribuição dos aposentados


Assim, os aposentados que voltam a trabalhar pagam contribuição previdenciária não porque esses recursos
serão utilizados em seu favor, mas sim para ajudar na concessão de benefícios previdenciários que serão
concedidos a outras pessoas que eles nem conhecem. Essa "ajuda" ocorre em nome do princípio da
solidariedade. É o que explica Frederico Amado:
“Essa norma principiológica fundamenta a criação de um fundo único de previdência social, socializando-se os
riscos, com contribuições compulsórias, mesmo daquele que já se aposentou, mas persiste trabalhando,
embora este egoisticamente normalmente faça queixas da previdência por continuar pagando as
contribuições.” (AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. Salvador: Juspodivm, 2015, p.
37).
Dizer o Direito:
Nesse sentido, votou o Min. Teori Zavascki: “essas contribuições efetuadas pelos aposentados destinam-se ao
custeio atual do sistema de seguridade, e não ao incremento de um benefício para o segurado ou seus
dependentes”.
Desse modo, para o STF, não é inconstitucional o aposentado pagar contribuições para a Previdência Social e
não usufruir uma melhora por causa disso. Não é inconstitucional porque tal contribuição está amparada pelo
princípio da solidariedade (art. 3º, I, da CF/88).

DESAPOSENTAÇÃO (soma os períodos) REAPOSENTAÇÃO (despreza o período anterior)


O segurado, mesmo depois de se aposentar, O segurado, mesmo depois de se aposentar,
continua trabalhando e pagando contribuições continua trabalhando e pagando contribuições
previdenciárias. Depois de algum tempo nessa previdenciárias. Depois de algum tempo nessa
situação, ele renuncia à aposentadoria que recebe e situação, ele renuncia à aposentadoria que recebe
pede para somar o tempo que contribuiu antes e e pede para que seja concedida uma nova
depois da aposentadoria com o objetivo de requerer aposentadoria utilizando unicamente o tempo de
uma nova aposentadoria, desta vez mais vantajosa. contribuição posterior à primeira aposentadoria.
O segurado quer aproveitar o tempo anterior e o O segurado quer aproveitar unicamente o tempo
tempo posterior à primeira aposentadoria. posterior à primeira aposentadoria. Ele não quer
nada do tempo anterior.
Ex: João, depois de 30 anos de contribuição, Ex: Pedro aposentou-se no RGPS. Contudo, como
aposentou-se no RGPS. Contudo, ele continuou se aposentou cedo, ele continuou trabalhando,
trabalhando e, portanto, pagando contribuições agora em atividades especiais, e ganhando bem
previdenciárias. Essa situação durou mais 5 anos. Foi mais do que recebia na profissão anterior da
aí que João, já cansado, resolveu parar de trabalhar. aposentadoria. Após 15 anos, ele completou os
Ele requereu, então, a desaposentação, ou seja, requisitos para a aposentadoria especial. Diante
pediu para renunciar a aposentadoria que está disso, pediu para renunciar à aposentadoria que
recebendo e que seja concedida a ele uma nova está recebendo para que a ele seja concedido um
aposentadoria, desta vez com 35 anos de tempo de novo benefício, qual seja, a aposentadoria especial,
contribuição (30 anos laborados antes da primeira que será mais alta. Repare que Pedro não quer
aposentadoria + 5 anos depois). Este tempo de aproveitar para nada do período anterior à
contribuição após a primeira aposentadoria, se primeira aposentadoria.
computado, gera um provento maior, o que justifica
a renúncia ao benefício que a pessoa está recebendo
para que possa formular novo pedido de
aposentação.

Por fim, vale comentar que no caso dos regimes próprios de previdência social, o princípio da
solidariedade é expresso.

 Art. 40, CF/88. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos,
de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.  

4.9 Princípio da precedência da fonte de custeio

Esse princípio também pode surgir com o nome de regra constitucional de contrapartida, pelo qual
nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.

Assim, a criação, majoração ou extensão somente poderá ser realizada mediante indicação da
dotação orçamentária.

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:  
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.

EXCEÇÃO:
a) O STF tem posicionamento no sentido de que este princípio NÃO se aplica à previdência privada (RE 583687
AgR, 29.03.2011, 2ª Turma).
b) Para o STF, se o benefício ou serviço for instituído pela própria Constituição, não terá aplicação o princípio
da precedência da fonte de custeio (RE 385397 AgR, 29.06.2007).

JURISPRUDÊNCIA: Pensão por morte do servidor público. Aplicação do artigo 40, § 5º, da Constituição Federal.
2. Esta Corte já firmou entendimento segundo o qual esse dispositivo, que é autoaplicável, determina a fixação
da pensão por morte do servidor público no valor correspondente à totalidade dos vencimentos ou proventos
que ele percebia. Precedentes. 3. Inexigibilidade, por outro lado, da observância do artigo 195, § 5º, da
Constituição Federal, quando o benefício é criado diretamente pela Constituição. 4. Recurso extraordinário
conhecido e provido. (RE 220742, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Segunda Turma, julgado em 03/03/1998,
DJ 04-09-1998 PP-00018 EMENT VOL-01921-07 PP-01331)

4.10 Princípio do orçamento diferenciado

Os recursos do orçamento da seguridade são afetados ao custeio do sistema, ou seja, não podem,
como regra, serem aplicados para outras despesas da União. No caso de exceções, é necessária a autorização
legislativa.

RESUMO:

PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO

Cobertura – riscos

Atendimento – maior número de pessoas

UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS


E RURAIS

Princípio da igualdade material – podem haver diferenciações não discriminatórias.

SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE

Selecionar os serviços

Distribuir para quem precisa

IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS

Irredutibilidade nominal para assistência social e saúde

Irredutibilidade real e nominal para previdência

EQUIDADE NO CUSTEIO

Princípio da capacidade contributiva aplicado à seguridade social

DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO


Tríplice fonte de custeio: Poder Público, empresas e trabalhadores.

GESTÃO QUADRIPARTITE

Poder Público, empregadores, trabalhadores e aposentados.

SOLIDARIEDADE

Contribuir agora para usufruir no futuro

PRECEDÊNCIA DA FONTE DE CUSTEIO

O benefício não pode ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de
custeio.

ORÇAMENTO DIFERENCIADO.

Peça orçamentária própria para a seguridade social

Recursos afetados

5. Natureza e fontes do direito da seguridade social

Natureza jurídica é a definição de determinado ramo jurídico em um dado ordenamento jurídico .


Quanto ao Sistema da Seguridade Social, já vimos que se trata de um direito de segunda e terceira
dimensões, porquanto é direito social e também coletivo.

Além disso, é claro que na tradicional divisão entre o direito público e o direito privado, a Seguridade
Social pertence ao Direito Público, já que regula um vínculo jurídico entre o Estado e a sociedade.

Fonte do direito é todo fato social gerador de normas jurídicas. Neste aspecto, a fonte do direito
pode ser material (fatores sociais, econômicos e políticos) ou formal (manifestações formadoras do conjunto
de regras e princípios).

No caso da seguridade social, existe todo um histórico da luta da sociedade por estes direitos como
fonte material.
Já quanto às fontes formais, oportuno observar que a Constituição de 1988 foi a primeira
constituição brasileira a incluir a seguridade social como um sistema, englobando saúde, assistência e
previdência social.

Além disso, existem diversas outras leis, hierarquicamente inferiores que a CF, as quais atuam como
fonte formal do sistema da seguridade social, tal como a Lei 8.212/1991 (dispõe sobre a seguridade social e o
custeio); Lei 8.213/1991 (dispõe sobre o plano de benefícios da previdência) e a Lei 8.742/1993 (dispõe sobre a
organização da assistência social.)

5.1 Natureza e fontes do direito previdenciário. Interpretação, aplicação, integração e eficácia das normas

Embora este primeiro capítulo da nossa FUC seja dedicado ao estudo do sistema da seguridade
social, não podemos olvidar que o ponto central do nosso estudo é o Direito Previdenciário, razão pela qual
julgo importante este tópico.

Para fins didáticos, seguindo a doutrina tradicional, podemos afirmar que o Direito Previdenciário
pertence ao ramo do Direito Público. No entanto, a doutrina mais moderna rechaça esse entendimento,
considerando o direito previdenciário como parte do Direito Social, que também abarcaria o Direito do
Trabalho.

Frederico Amado ensina que o Direito Previdenciário é um ramo autêntico do direito:


“composto por regras e princípios que disciplinam os planos básicos e complementares de previdência social no
Brasil, assim como a atuação dos órgãos e entidades da Administração Pública e as pessoas jurídicas privadas
que exerçam atividades previdenciárias”.

Podemos dividir as fontes formais do Direito Previdenciário em fontes não estatais, tal como a
doutrina e o costume, e em fontes formais estatais, que correspondem às legislações positivadas.

Assim, já em ordem de hierarquia, são fontes do Direito Previdenciário:

1º. Normas constitucionais;


2º. Leis complementares, ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos,
resoluções do Senado;

3º Decretos regulamentares, instruções ministeriais, circulares, portarias e ordem de serviço ;

4º Normas individuais (como contratos e sentenças).

Uma vez que a norma existe positivada no nosso ordenamento jurídico é preciso, pois, interpretá-la
para poder aplica-la da melhor forma possível, isto é, correspondendo à sua verdadeira intenção (ratio legis).

Nesse sentido, a hermenêutica, inclusive para o ramo previdenciário, utiliza as seguintes formas de
intepretação da lei:

a) interpretação gramatical: é aquela através da qual o sentido da norma é extraído pela simples
leitura do texto legislativo.

b) interpretação teleológica ou finalística: é aquela que buscar a intenção realmente almejada pela
lei.

c) interpretação restritiva: é aquela utilizada quando o texto da lei é mais amplo do que a intenção
da lei, devendo ser restringido pelo intérprete.

d) interpretação extensiva: é aquela utilizada quando o texto da lei é mais restritivo do que a
intenção da lei, devendo ser ampliado pelo intérprete.

e) interpretação sistemática: é aquela que analisa todo o ordenamento jurídico para buscar
entender o real sentido da lei.

f) interpretação histórica: é aquela que analisa o contexto histórico no qual a lei foi aprovada, com o
intuito de descobrir a ratio legis.

g) interpretação autêntica: é aquela feita pelo próprio legislador, como no caso da exposição de
motivos de uma lei.
h) jurisprudencial: é aquela realizada pelo magistrado, quando da aplicação na norma ao caso
concreto.

i) doutrinária: é aquela realizada pelos cientistas do direito, pelos especialistas que escrevem obras
literárias.

É bem de ver que interpretação e integração das normas são técnicas diferentes. A interpretação,
como vimos, busca alcançar o real sentido da lei, enquanto a integração é utilizada pelo aplicador quando
houver uma lacuna na lei. Podemos mencionar as seguintes formas de integração:

FORMAS DE INTEGRAÇÃO – QUANDO HOUVER LACUNA NA LEI

Aplicação de uma norma similar ao caso


Analogia
concreto para suprir a lacuna da lei.

Prática reiterada que se consolida como


Costume
necessária ao ordenamento jurídico.

São os princípios básicos do ordenamento


jurídico, que orientam todo o ramo do
Princípios Gerais do Direito
direito, como o venire contra factum
proprium.

Decisões reiteradas do poder judiciário que


Jurisprudência
se consolidam de maneira uniforme.

Equidade Justiça aplicada ao caso concreto.

6. Direito adquirido e expectativa de direito em matéria previdenciária

A Constituição Federal de 1988, no bojo do artigo 5º, dispõe o seguinte:

Art. 5º. XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

A LINDB também insculpe uma norma parecida:


Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem.

Nas palavras de Flávio Tartuce o direito adquirido “é o direito material ou imaterial incorporado no
patrimônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado”. Como exemplo, em se tratando de
matéria previdenciária, o segurado que possuía direito à aposentadoria antes da vigência da Lei 9.876/1999,
tem direito de, a qualquer tempo, requerer o benefício com as regras antigas do cálculo, ou seja, sem a
incidência do fator previdenciário.

É válido ressaltar, todavia, que a doutrina mais moderna, bem como a jurisprudência consideram que
o direito adquirido não é absoluto, sob pena de engessar o sistema jurídico, sendo necessária a ponderação de
valores, como já positivado no artigo 489, §2º, do Código de Processo Civil.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


§ 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que
fundamentam a conclusão.

Além disso, a doutrina e a jurisprudência concordam ao afirmar que não existe direito adquirido a
regime jurídico. Isso significa que se determinado segurado ingressa em um regime jurídico previdenciário,
enquanto não sobrevier todas as condições para usufruir de um benefício ou serviço, ele não terá direito às
regras daquele regime, ele tem mera expectativa.

Desta forma, a expectativa de direito nada mais é do que “uma permissão da norma jurídica para
adquirir outra permissão, também dada pela norma jurídica diante de um evento futuro e esperado”2.

Oportuno ressaltar que o nosso ordenamento jurídico, como regra, não protege a expectativa do
direito, salvo nos casos da aplicação da teoria da perda de uma chance, que vocês estudarão em Direito Civil.

2
TELLES, Goffredo Junior. Iniciação na Ciência do Direito. Saraiva, 2001, Pg. 334.
Dito isso, encerramos por aqui nosso primeiro capítulo no estudo do Direito Previdenciário e eu
espero que o estudo de vocês seja muito proveitoso para que, em breve, possam colher frutos dessa jornada!

Súmula 340-STJ. A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do
óbito do segurado.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopse para Concursos. Salvador: Editora JusPodivum. 9ª
Edição. 2018.

AMADO, Frederico. Curso de direito e processo previdenciário. 13 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora
JusPodivm, 2020.

KERTZMAN, Ivan. Curso Prático de Direito Previdenciário. Salvador: Editora Juspodivum. 17ª Edição. 2019.

TELLES, Goffredo Junior. Iniciação na Ciência do Direito. Saraiva, 2001.

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <
https://www.buscadordizerodireito.com.br>.

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