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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresentará um estudo sobre a concessão dos benefícios


previdenciários por incapacidade e efetuará uma análise das carências do instituto
previdenciário que causam prejuízos ao segurado por conta da emissão de
pareceres superficiais de suas condições patológicas sem analisar as condições
sociais.

Prefacialmente, no capítulo que inicia o presente trabalho, será abordado a


evolução histórica da Previdência Social no Brasil e no Mundo com análise dos
avanços dos direitos sociais, da legislação e das constituições federais. Apresentará
a conceituação de Seguridade Social, Previdência Social, Assistência Social e
Saúde.

No segundo capítulo será abordado a Fonte de Custeio que irão financiar o


pagamento dos benefícios garantidos pela Assistência Social e pela Previdência
Social, bem como àquela que financiará o Sistema Único de Saúde.

Em seguida, no terceiro capítulo, analisar-se-á os benefícios por incapacidade


concedidos pela Previdência Social e pela Assistência Social concedidos pela
existência da incapacidade laboral do cidadão, destacando as particularidades de
cada um deles, o período de carência, os requisitos para a concessão dos
benefícios, entre outros fatores primordiais para cada modalidade de benefício.

Por fim, no quarto e último capítulo será abordado o conceito e procedimento


pericial nas duas vertentes, a atual com viés exclusivamente médico e, a perícia
biopsicossocial com abrangência das condições sociais e laborais, comparando-as,
e serão analisadas as situações que serão consideradas para a emissão do laudo
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pericial, com destaque para as condições de trabalho e sociais conforme o caso


concreto.

Outrossim, a partir desse estudo pretende-se demonstrar porque o modelo


pericial atual se tornou ineficaz, apontando quais as lacunas deixadas por ele, e
porque a perícia biopsicossocial se apresenta como melhor alternativa para suprir as
carências deixadas em razão disso.

Considerando o aumento da insatisfação coletiva em relação à prestação de


serviço pericial, tanto no âmbito administrativo quanto no âmbito judiciário, cuja
análise da condição do segurado se limita a avaliação da patologia e sem observar
as demais áreas que envolvem a condição social e laboral, bem como na emissão
de laudos superficiais, motivou a realização da pesquisa científica do presente
trabalho.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e


por meio eletrônico, analisando os posicionamentos jurisprudenciais e a legislação
vigente, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento
no estudo dos benefícios previdenciários e a importância de uma análise mais
abrangente da condição do segurado, alcançando suas condições sociais e laborais,
através da perícia biopsicossocial.

No presente trabalho será utilizado o método dedutivo e indutivo de pesquisa


bibliográfica, jurisprudencial, legislação e constituição, bem como o método
comparativo do procedimento pericial atual e o proposto pelo presente trabalho.
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1 A SEGURIDADE SOCIAL E SEUS INSTITUTOS

A Previdência Social é uma Instituição Pública que tem como objetivo


reconhecer e conceder direitos, como um seguro social, aos cidadãos que
contribuem ao instituto, denominados como segurados.

As pessoas inseridas na sociedade se relacionam uma com as outras,


integradas ao mercado, por meio da força de trabalho e de contribuição social. Nesta
relação de troca, podem ocorrer riscos que acarretem situações que venham
interromper a continuidade da capacidade laborativa. Na ocorrência de uma dessas
situações, que impeça ou limita a capacidade de trabalho do empregado, caberá ao
Estado garantir a dignidade e a subsistência dessas pessoas, considerando que o
Estado Democrático e Social de Direito deve prover e garantir as condições de
proteção necessárias dessas pessoas.

Tanto no território nacional quanto no âmbito mundial, o seguro social passou


por diversas mudanças, conceitos e estruturas, no tocante ao grau de cobertura, as
espécies de benefícios aos segurados, bem como a forma do financiamento do
sistema.

Durante os anos, a Seguridade Social apresentou progresso ao longo de sua


existência, como será demonstrado seguir.
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1.1 Conceito de Seguridade Social

Inicialmente, é importante destacar os direitos que estruturam a Seguridade


Social; são os denominados direitos fundamentais sociais, de segunda geração ou
dimensão, uma vez que o Estado passa a ter responsabilidade para a concretização
de um ideal de vida digno na sociedade.

Dentre os direitos fundamentais sociais há o direito à educação, à saúde, ao


trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção a
maternidade e infância, além de assistência aos desamparados, os quais para
serem garantidos, há a necessidade da intervenção do Estado, uma vez que dispõe
do poder pecuniário para criar e executar as ações governamentais fundamentadas
nos direitos sociais, vez que sem poder monetário não há como efetivar tais ações.

Os Direitos Sociais, segundo José Afonso da Silva em sua Obra Direito


Constitucional Positivo (1998. p.289) são descritos como:

Prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,


enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de
vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações
sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade.

Desta forma, conclui-se que os Direitos Fundamentais Sociais são espécies


de serviços que devem ser prestados pelo Estado, com o objetivo de oferecer
melhores condições de vida aos cidadãos e proporcionar condições igualitárias.

Conforme está disposto no artigo 194, da Constituição Federal do Brasil de


1988, a Seguridade Social é integrada pelos Direitos relativos à Saúde, Previdência
e Assistência Social:
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Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

1.2 Conceito de Previdência Social

O Estado Democrático e Social de Direito, por meio da Previdência Social,


assegura a proteção dos Direitos Fundamentais Sociais através de Benefícios de
caráter financeiro, de modo que todas as prestações fundamentais estejam à
disposição dos cidadãos. Contudo, a Previdência Social difere do Instituto da
Assistência Social, vez que a proteção dada somente é concedida mediante
contribuição, conforme disposto no artigo 201, da Constituição Federal do Brasil de
1988.

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro atuarial, e atenderá, nos termos da lei.

A Previdência Social consiste em “uma espécie de poupança forçada, imposta


por lei, para que o cidadão contribuinte possa ter condições financeiras de usufruir
da vida em sociedade quando não tiver mais possibilidades de trabalhar”
(NOLASCO, S.d), a fim de amparar o cidadão a eventos como idade avançada ou
incapacidade temporária ou permanente para o trabalho, ou se preenchido os
requisitos para a concessão de outros benefícios à mulher após o parto, ao recluso,
e aposentadoria, bem como garantir pensão ao cônjuge ou filhos menores de 21
anos do segurado e, assim garantir estabilidade financeira.

Assim, a Previdência social protege necessidades decorrentes de riscos


sociais expressamente previsto na Constituição Federal e na Legislação
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infraconstitucional, somente ao cidadão que realizou contribuição à Previdência


Social, ou seja, que seja segurado da Previdência Social.

Neste sentido, André Santos Novaes conceitua Previdência Social em sua


Obra “Temas Atuais de Previdência Social” (2003. p. 169).

A Previdência Social protege necessidades decorrentes de contingências


expressamente previstas na Constituição e na legislação infraconstitucional,
mediante o pagamento de contribuições. Somente aquele que contribui tem direito
subjetivo à prestação na hipótese de a ocorrência da contingência prevista em lei
gerar a necessidade juridicamente protegida.

O Estado, por meio do sistema ou mecanismo da Previdência Social, deve


resguardar os direitos e as condições de cada contribuinte e de seus dependentes
nas situações que comprometam ou limitam a força de trabalho.

Marcus Orione Gonçalves Correia e Érica Paula Barcha Correia entendem


que a Previdência Social é um Instrumento do Estado para garantir os Direitos
Fundamentais Sociais aos contribuintes (CORREIA; CORREIA. 2007. p. 17).

[...] um instrumento estatal, específico de proteção das necessidades sociais,


individuais e coletivas, sejam elas preventivas, reparadoras e recuperadoras, na
medida e nas condições dispostas pelas normas e nos limites de sua capacidade
financeira.

Dessa forma, a Previdência Social, de caráter obrigatório, destinada a todos


os cidadãos que exercem atividade remunerada e contribuam com o sistema
previdenciário, denominados segurados, exceto àqueles submetidos à disciplina
legal dos servidores públicos civis e militares, constitui um regime público
denominado Regime Geral da Previdência Social, por meio de garantia
constitucional.
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Jediael Galvão Miranda conceitua Previdência Social como:

Sistema de proteção social, de caráter contributivo e em regra de filiação


obrigatória, constituído por um conjunto de normas principiológicas, regras,
instituições e medidas destinadas à cobertura de contingências ou riscos sociais
previstos em lei, proporcionando ao segurado e aos seus dependentes benefícios
e serviços que lhes garantam subsistência e bem-estar. (MIRANDA, 2007, p. 9)

A filiação ao Sistema de Previdência por meio do Regime Geral da


Previdência Social é obrigatória, em virtude da vontade do Estado manifestada pelo
Poder Legislativo ao determinar por meio de leis, a condição para que todos possam
usufruir do direito à cobertura previdenciária mediante contribuição de todos para o
custeio. Assim, a cobertura previdenciária tende a garantir proteção ao segurado
sem onerar o Estado de arcar com os custos de atendimento àqueles
impossibilitados de trabalhar em razão da ocorrência de risco social.

O Regime Geral da Previdência Social está regulado na Lei nº 8.212/91


(Plano de Custeio da Seguridade Social - PCSS) e na Lei nº 8.213/91 (Plano de
Benefícios da Previdência Social – PBPS), ambas de 24/07/1991, regulamentadas
pelo Decreto n. 3.048, de 06.05.1999 (Regulamento da Previdência Social — RPS).

1.3 A previdência Social no Mundo

É necessário conhecer a evolução histórica da Seguridade Social e da


Previdência Social, no Brasil e no mundo, para compreender a função dela na
sociedade atual. Assim, será possível compreender o instituo da Previdência Social
que vigora atualmente e as bases e medidas a serem adotadas para o futuro.
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Na obra do Procurador Federal, Rodrigo Guimarães Jardim, “Antecedentes


históricos da Seguridade Social no mundo e no Brasil” (2013) “a Seguridade Social
não surgiu abruptamente, seja no mundo, seja no Brasil. Ela originou-se na
necessidade social de se estabelecer métodos de proteção contra os variados riscos
ao ser humano”. Assim, a Seguridade Social não fora elaborada num único ato, mas
decorrente de diversos fatores que visavam a proteção e segurança da sociedade,
de modo a garantir vida digna aos cidadãos e protege-los contra adversidades.

Inicialmente, a proteção à vida era realizada pelos membros do grupo familiar;


na Roma Antiga instituiu um conceito muito mais amplo, vez que, além dos parentes
consanguíneos em linha reta, abrangia também os consanguíneos colaterais (tios,
sobrinhos, etc.). Porém, aqueles que não tinham família, por muitas vezes, ficavam
desamparados a qualquer situação do destino que pudesse causar impossibilidade
de prover seu sustento, não haveria quem o amparasse, conforme Fábio Zambitte
Ibrahim em sua obra “Curso de direito previdenciário” (2010, p.1.)

No século XVI, com a evolução da sociedade, houve a criação das confrarias,


grupos religiosos, econômicos, profissionais, por exemplo, de interesses comuns,
com contribuição anual e, em caso de velhice, doença ou pobreza, poderiam ser
utilizados, sendo esses um dos primeiros modelos de seguridade social.

Há registro de que, a Previdência Social, de caráter Contributivo, tenha


originado na Inglaterra em 1.601, onde foi produzido o primeiro documento legal,
que regulamentou a instituição de auxílios e socorros públicos aos necessitados
através da criação de uma contribuição obrigatória arrecadada da sociedade pelo
Estado, o “Poor Relief Act”.

Na França, em 1.673, houve A Declaração dos direitos do homem e do


cidadão, acrescentada pela Convenção Nacional Francesa, e a instituição do plano
de aposentadoria por meio de um sistema estatal exclusivo aos Membros da
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Marinha Real, e somente depois de dois séculos se estenderia para os demais


funcionários públicos.

Na Alemanha, em 1.883, houve a criação da Lei do Seguro Social.

Na Inglaterra, outros documentos importantes foram feitos para o processo de


evolução das garantias dos Direitos Fundamentais Sociais pelo Estado, mediante
contribuição obrigatória, portanto, garantidos através do sistema da Previdência
Social. Segundo Nolasco, em sua Obra “Evolução histórica da Previdência Social no
Brasil e no Mundo” (2012. s/p).

“Workmen’s Compensation Act”, de 1897, o qual criou o seguro obrigatório contra


acidentes de trabalho. Tal documento criou, para o empregador, uma
responsabilidade civil de cunho objetiva, ou seja, independente de culpa.

[...] em 1908 [...] o “Old Age Pensions Act”, o qual teve o condão de conceder
pensões aos maiores de 70 anos, independente de custeio.

[...] o “National Insurance Act”, de 1911, o qual criou um sistema 2compulsório de


contribuições sociais, as quais ficavam a cargo do empregador, do empregado e
do Estado.

Esses documentos marcaram o surgimento e a evolução do Instituto da


Previdência Social no mundo e, assim como a França e a Inglaterra, outros países
elevaram ao status constitucional de normas e direitos sociais, como o México,
Alemanha, Estados Unidos e Brasil.

No México, em 1.917, com a promulgação da Constituição do México, houve


a previsão constitucional da seguridade social, e com isso fora criado leis que
previam direitos sociais de caráter programáticos, estabelecendo diretrizes ao
Estado. Após o México outros países incluíram no texto constitucional a previsão da
seguridade social.
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O ápice da seguridade social em âmbito mundial se deu no ano de 1942, na


Inglaterra, através do Relatório Beveridge. Em 1941, foi criada a comissão
interministerial de seguro social responsável pela elaboração do relatório, com o
escopo de estabelecer alternativas para reconstrução da sociedade pós-guerra
(JARDIM. 2013. sd).

O plano previa uma ação estatal concreta para garantir o bem-estar social, o
seguro social e responsabilizar o Estado também na área da saúde e assistência
social.

Ainda no que se refere ao Relatório de Beveridge:

É considerado um marco da evolução securitária porque se trata de um estudo


amplo e minucioso de todo o universo do seguro social e serviços conexos, tendo
questionado a proteção somente aos empregados, enquanto todos os
trabalhadores estão sujeitos aos riscos sociais (IBRAHIM apud JARDIM, 2013).

O Plano Beveridge, de amplitude universal, tinha cinco pilares: necessidade;


doença; ignorância; carência (desamparo); desemprego. Assim, amparava não só o
trabalhador, mas todos aqueles que de alguma forma necessitavam do Estado para
que tivessem o mínimo de dignidade. O governo inglês apresentou uma proposta de
reforma da Previdência Social, implantando-o no ano de 1946, constituindo-se,
portanto em um marco internacional de proteção social.

No Brasil, não fora diferente, a seguridade social e a previdência social foi


constituindo-se de forma gradual, a qual será objeto do próximo tópico.
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1.4 A previdência Social no Brasil

No Brasil, ainda no período Imperial, ocorreu a primeira previsão legal a tratar


sobre a Previdência Social, na Constituição Federal de 1.824, em seu artigo 179,
inciso XXXI, oportunizou a referida manifestação, dando aos cidadãos o direto aos
então intitulados “socorros públicos”.

Na vigência da Constituição Imperial, ainda, merecem destaque: a) o Código


Comercial (1850), que previa o direito de manutenção do salário por três meses na
hipótese de acidente imprevisto e inculpado; b) o Regulamento nº 737 (1850), que
igualmente garantia aos empregados acidentados os salários por até três meses;
c) o Decreto nº 2.711 (1860), que regulamentava o custeio dos montepios e das
sociedades de socorros mútuos; d) o Decreto nº 9.912-A (1888) e nº 9.212 (1889),
que, respectivamente, concedeu aos empregados dos Correios o direito à
aposentadoria, ao conjugarem 60 (sessenta) anos de idade e 30 (trinta) anos de
serviço e criou o montepio obrigatório para os seus empregados dos Correios; e) o
Decreto nº 221 (1890), que instituiu o direito à aposentadoria para os empregados
da Estrada de Ferro Central do Brasil. (MARTINS apud JARDDIM, 2013).

Os socorros públicos, na prática, não surtiu o efeito previsto no ordenamento


jurídico, em virtude dos cidadãos não possuírem meios para exigir o efetivo
cumprimento da lei. Contudo, há o valor histórico da introdução dos direitos sociais
no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1.824.

Com a queda do Império e a instituição da República no Brasil, em 1889,


ensejou diversas alterações políticas e sociais, as quais influenciaram na
promulgação de uma nova Constituição Federal em 1891. Nesta Constituição fora
inserido o termo “aposentadoria”, no artigo 75, ainda que restrita aos funcionários
públicos, em caso de invalidez decorrentes de serviço à Nação.

Art 75 - A aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de


invalidez no serviço da Nação.
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Na Constituição Federal de 1891 não havia previsão da contribuição dos


segurados, cujos benefícios eram pagos exclusivamente pelo Estado.

O Deputado Federal paulista, Eloy Chaves articulou junto às companhias


ferroviárias a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP) para
ferroviários de cada uma das empresas do ramo na época, pois seus sindicatos
eram bem mais organizados e possuíam maior poder de pressão política. O objetivo
inicial era o de apoiar esses trabalhadores durante o período de inatividade. Então,
em 24 de janeiro de 1.923, é promulgado o Decreto nº 4.682/23, conhecida como Lei
Eloy Chaves, em homenagem ao autor do projeto
(pensefuturo.com.br/noticia/conhece-a-historia-da-previdencia-social-no-brasil).

A Lei Eloy Chaves é considerada o marco inicial da história da previdência


brasileira. O governo era responsável pela criação das caixas de aposentadoria e
pensões para os empregados ferroviários de nível nacional, além de prever
aposentadoria por invalidez ordinária, pensão por morte e assistência médica, e pela
regulação do seu funcionamento, mas a gestão desses fundos foi delegada à
iniciativa privada, com administração composta pela parceria entre um conselho
composto por representantes da empresa e dos empregados, que também seriam
os responsáveis por financiá-las.

O modelo que serviu de base para a implantação da Lei Eloy Chaves no


Brasil foi trazido da Argentina e adaptada para realidade do nosso país. O custeio
era realizado pelos ferroviários, com valor da prestação no montante de 3%, e pelos
usuários que recolhiam 1,5%.

Ao longo do tempo, os benefícios previstos na Lei Eloy Chaves foram


estendidos aos empregados das empresas portuárias, de serviço telegráfico, de
água, de energia, transporte aéreo, gás, mineração, entre outras hipóteses, através
de Caixas de Aposentadoria e Pensões que eram organizadas por empresas de
natureza privada, sob regulamentação do Estado.
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Na Era Vargas, ocorrem muitas mudanças no contexto do trabalho brasileiro.


Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que passou a
cuidar das questões relacionadas à previdência. O sistema CAPs foi abolido e
substituído pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), centralizando sua
atuação no governo federal e passando a funcionar em nível nacional, uma vez que
passou a contemplar categorias profissionais.

Nesse sistema, o Estado indicava os presidentes dos institutos, o que dava ao


governo um grau de controle elevado sobre as relações de trabalho, mas a
administração continuava na mão de representantes dos empregadores e
empregados.

Foi em razão da Revolução Constitucionalista de 1932 quando tropas de São


Paulo, incluindo voluntários, militares do Exército e a Força Pública, lutaram contra
as forças do Exército Brasileiro, que as questões do regime político vieram à tona,
forçando o então presidente Getúlio Vargas a convocação de Assembleia Nacional
Constituinte, a qual, após eleita, aprovou em maio de 1933 a nova Constituição.

Segundo o próprio preambulo constitucional, a Constituição de 1934 fora


regida "para organizar um regime democrático, que assegure à Nação, a unidade, a
liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico".

O Estado assume compromissos quanto à organização da sociedade e


ampara as pessoas sem condições de garantir o próprio sustento, garantindo-lhes
dignidade, nos termos do artigo 115 da Constituição de 1934.

Art 115 - A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da


Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos
existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econômica.
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Ela empregou o termo “previdência” dissociado do termo “social”, sendo a


primeira a estabelecer a forma tripartida de custeio, mediante contribuições do
empregado, empregador e do Estado.

Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do


trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador
e os interesses econômicos do País.

§ 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros


que colimem melhorar as condições do trabalhador:

[...]

h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta


descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e
instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e
do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de
acidentes de trabalho ou de morte;

A competência para legislar sobre assistência era privativamente da União, e


indicou que seria competência concorrente da União e dos Estados cuidar da saúde
e assistência pública e fiscalizar a aplicação das leis sociais.

A Constituição de 1934 também estabeleceu mudanças no sistema de


arrecadação implantando o custeio tríplice, onde a contribuição para os fundos de
pensão era dividida entre empregador, empregado e estado.

É importante notar que, apesar de uma grande acumulação de recursos


durante esse regime, diversas áreas do setor público – em especial a saúde – ainda
recebiam pouco retorno. A Constituição de 1934 buscou alterar um pouco essa
realidade, mudando o conceito de previdência em relação a assistência e passando
a incorporar características do seguro social, que então evoluiria para a Previdência
Social na Constituição de 1946.

Em 1937, o Exército Brasileiro tomou o poder do Estado através do Golpe


Militar movido por Getúlio Vargas, formando um Estado autoritário. Houve a
promulgação de uma nova constituição, em 10 de novembro de 1937, e no artigo
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137, “m” previu a cobertura ao evento idade avançada, invalidez e acidente do


trabalho. Entretanto, não houve avanços aos direitos sociais, instituiu seguros em
decorrência de acidente de trabalho, sendo eles seguros de vida, invalidez e velhice.

Art 137 - A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes


preceitos:

[...]

m) a instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de


acidentes do trabalho;

Quanto à assistência, era garantido aos pais miseráveis o direito de invocar o


auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole.

Art 127 - A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias


especiais por parte do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a
assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso
desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral, intelectual ou físico da
infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e
educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados
indispensáveis à preservação física e moral.

Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado


para a subsistência e educação da sua prole.

Com o objetivo de proteger a criança e o adolescente, promovendo um novo


discurso, no qual, no lugar de punição e internação para crianças desassistidas,
órfãs ou infratores, visava prevenir a família. O Estado passou a garantir bens
materiais quando o sustento das famílias carentes.

Em 1945, um movimento oposicionista conseguiu retirar Getúlio Vargas da


Presidência. Então, em seu lugar, assume o General Eurico Gaspar Dutra, o qual
imediatamente convocou Assembleia Nacional Constituinte, com a participação de
comunistas entre os colaboradores.
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Na Constituição de 1946, surge pela primeira vez a expressão “previdência


social” no Brasil, desaparecendo a nomenclatura de “seguro social”, e assim dilatou
a inclusão dos dispositivos sobre a família, a educação, a cultura, as forças armadas
e os funcionários públicos.

Conforme estabelecido no art. 5º, inciso XV, a competência para legislar


sobre a Previdência Social permanecia da União, mas autorizou os Estados a
legislarem de forma suplementar, mas sem grandes alterações no tocante a
previdência social.

Com a promulgação da Constituição de 1946, ocorreu a unificação dos


dispositivos infraconstitucionais relativos à Previdência Social e, consequentemente
padronizou o sistema, ampliou os benefícios, elevou o teto salarial e disciplinou as
normas da previdência social, através da lei orgânica nº 3.807/1960 (LOPS – Lei
Orgânica da Previdência Social).

De acordo com a obra “A Evolução Histórica da Seguridade Social - Aspectos


Históricos da Previdência Social no Brasil” de Mario Antônio Meirelles (2009. s/n):

A LOPS promoveu a eliminação legislativa das diferenças históricas de tratamento


entre os trabalhadores; igualdade no sistema de custeio com unificação das
alíquotas de contribuição incidentes sobre a remuneração do trabalhador (entre
6% e 8%).

O Brasil foi considerado, nessa época, o pais de maior proteção previdenciária, na


medida em que havia 17 (dezessete) benefícios de caráter obrigatório e estendeu
a área de assistência social a outras categorias profissionais.

No ano de 1964 houve a unificação e universalização da Previdência Social,


por meio do Decreto nº 72, de 21 de novembro 1.966, no qual determinou a
centralização da organização previdenciária no INPS (Instituto Nacional de
Previdência Social).
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Nesta época, o Brasil fora considerado o país com maior proteção


previdenciária, uma vez que além de disponibilizar 17 benefícios de caráter
obrigatório abrangia todas as categorias profissionais.

Ainda em 1.964, ocorreu o Golpe Militar e, em 1.967 outorgou a Constituição


Federal de 1.967, porém não houve inovações no âmbito da Previdência Social.

A maior inovação trazida pela Constituição Federal de 1967, no que diz respeito à
Previdência Social, foi a instituição do seguro desemprego. Ademais, importante
salientar também que foi neste texto constitucional que ocorreu a inclusão do
salário família, que antes só havia recebido tratamento infraconstitucional.
(NOLASCO. S.d)

Em 1.969, fora implantado o Decreto-Lei nº 564/1969, o qual estendeu a


Previdência Social também ao trabalhador rural, e em 1.971 entrou em vigor a a Lei
Complementar nº 11/1971, que instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador
Rural (Prorural) e a fez incorporação no sistema previdenciário do empregado
doméstico e do trabalhador autônomo, que até então estavam excluídos.

Em 17 de outubro de 1969, ocorreu a Emenda Constitucional nº 01, outorgada


pela junta militar, que alterou a Constituição Brasileira de 1.967. Contudo, a referida
emenda não apresentou alterações em matérias previdenciárias em relação às
Constituições anteriores.

A maior inovação trazida pela Constituição Federal de 1967, no que diz respeito à
Previdência Social, foi a instituição do seguro desemprego. Ademais, importante
salientar também que foi neste texto constitucional que ocorreu a inclusão do salário
família, que antes só havia recebido tratamento infraconstitucional (NOLASCO, S.d).

Ainda na vigência da Constituição Federal de 1.967, entrou em vigor a Lei n.


5.859, de 11 de dezembro de 1972, responsável pela inclusão dos empregados
domésticos na Previdência Social.
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Em 1.988, houve a Promulgação da Constituição Federal de 1.988,


considerada como o marco do retorno do Estado Democrático de Direito.
Responsável pelas alterações econômicas, políticas e sociais com avanços
significativos do Estado, do Poder, da Sociedade e da Economia, contemplando
vários Direitos e Garantias Fundamentais aos cidadãos.

É neste contexto em que, com relação aos direitos fundamentais sociais, também
chamados de direitos fundamentais de segunda dimensão (dentre os quais se
inclui os direitos relativos à Previdência Social) surge a discussão a respeito da
eficácia de tais direitos, ou seja, se é possível se exigir do Estado prestações de
cunho positivo a fim de que os direitos fundamentais sociais sejam efetivamente
garantidos. (NOLASCO, S.d)

A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de


Direito e tem como um de seus fundamentos A Dignidade da Pessoa Humana,
conforme estabelece a Constituição de 1.988, no artigo 1º. O atual Superior Tribunal
de Justiça, vem demonstrando o entendimento que o Estado deve garantir o mínimo
de dignidade a todos os cidadãos, de forma que toda sociedade possa usufruir dos
seus Direitos Fundamentais.

ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. REVERSÃO.


NETO INVÁLIDO QUE ESTAVA SOB GUARDA DA AVÓ PENSIONISTA.
EQUIPARAÇÃO A FILHO PREVISTA EM LEI ESTADUAL. INTERPRETAÇÃO
COMPATÍVEL COM ADIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E COM O PRINCÍPIO
DE PROTEÇÃO INTEGRAL DO MENOR. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. A
dignidade da pessoa humana, alçada a princípio fundamental do nosso
ordenamento jurídico, é vetor para a consecução material dos direitos
fundamentais e apenas estará assegurada quando for possível ao homem uma
existência compatível com uma vida digna, na qual estão presentes, no mínimo,
saúde, educação e segurança. 2. Esse princípio, tido como valor constitucional
supremo, é o próprio núcleo axiológico da Constituição, em torno do qual
gravitamos direitos fundamentais, auxiliando na interpretação e aplicação de
outras normas. 3. Não é dado ao intérprete atribuir à norma jurídica conteúdo que
atente contra a dignidade da pessoa humana e, consequentemente, contra o
princípio de proteção integral e preferencial a crianças e adolescentes, já que
esses postulados são a base do Estado Democrático de Direito e devem orientar a
interpretação de todo o ordenamento jurídico. (STJ – RMS: 33.620 MG
2011/0012823-2, Relator Ministro Castro Meira, Julgado em 06/12/2011, Segunda
Turma, Publicado em 19/12/2011). (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2011)
26

No capítulo II da Constituição Federal de 1.988, nos artigos 194 a 204, está


disposto que a Seguridade Social divide-se em assistência social, previdência social
e saúde. E compete ao Estado organizar a Seguridade Social tendo como objetivos
da seguridade social, quais sejam: a universalidade da cobertura e do atendimento;
uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
irredutibilidade no valor dos benefícios; equidade na forma de participação e no
custeio; diversidade da base de financiamento; caráter democrático e
descentralizado da gestão administrativa, mediante gestão quadripartite, com
participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo
nos órgãos colegiados.

Com a promulgação da Constituição de 1988, houve a criação de um sistema


nacional de seguridade social com o objetivo de promover e facilitar o alcance do
cidadão aos direitos, considerados como direitos da terceira geração consagrados
ainda na revolução francesa, fraternidade e solidariedade; que demonstra a
evolução constitucional na perspectiva da seguridade social no Brasil.

Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira


geração tendem a cristalizar-se neste fim de século enquanto direitos que não se
destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um
grupo, ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero
humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo
em termos de existencialidade concreta. Os publicistas e juristas já o enumeram
com familiaridade, assinalando-lhe o caráter fascinante de coroamento de uma
evolução de trezentos anos na esteira da concretização dos direitos fundamentais.
Emergiram eles da reflexão sobre temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao
meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade.
(BONAVIDES, 2006)

Contudo, a primeira menção à políticas sociais se deu no ano de 1824, ou


seja, menos de dois séculos atrás, o que há na atualidade é uma grande gama de
benefícios e politicas assistências previstos nos textos normativos vigentes em
nosso país, podendo considerar o Brasil como um dos países mais evoluídos no que
diz a esse respeito.
27

O Sistema da Seguridade Social determinado pelo Poder Constituinte


abrange a atuação do Estado na Saúde, na Assistência Social e na Previdência
Social. A Previdência Social mantem seu aspecto de arrecadação entre
empregadores e empregados, há a contribuição de autônomos, mas compete ao
Estado a função de organizar e distribuir os recursos.

Em 1991, durante o governo do Presidente Fernando Collor de Melo, houve a


necessidade de aplicar correção monetária sobre os benefícios, em virtude da
situação econômica do Brasil decorrente da inflação. Foi criado o Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS, por meio do Decreto n° 99.350, a partir da fusão do
Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social – IAPAS
com o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, como autarquia vinculada ao
Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, atual Ministério da
Previdência Social – MPS.

Posteriormente, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, as


mudanças mais relevantes ocorreram na nomenclatura do nome do benefício, de
aposentadoria por tempo de serviço para aposentadoria por tempo de contribuição,
com a definição de 30 anos para as mulheres e de 35 anos para os homens, bem
como houve a implantação do fator previdenciário, fator esse utilizado no cálculo
para definir o valor do benefício.

No Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as alterações ocorreram


na imposição de um teto para os servidores públicos federais, institui a cobrança da
contribuição para pensionistas e inativos, e altera o valor do benefício, que antes era
sempre integral.
28

Muitas vezes, os agravos de enfermidade não eram e não são caracterizados


pelas empresas/empregadoras como acidente do trabalho, nem mesmo pelo INSS,
deixando na grande maioria das vezes, o trabalhador desamparado. Para corrigir e
tentar sanar as injustiças, o NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico foi criado e
regulamentado pela Lei nº 11.430/06, através do Decreto nº 6.042/07, que é o
vínculo da Classificação Internacional de Doenças (CID), obtida a partir da perícia
médica, com a atividade desempenhada pelo segurado como o objetivo de estimular
o investimento em saúde ocupacional.

Em 2015, na Presidência de Dilma Rousseff, buscou alterar a idade para o


acesso à aposentadoria integral, por meio da regra denominada 85/95, resultado da
soma da idade e do tempo de contribuição, para mulheres e para homens,
respectivamente; e atingido o resultado 85/95 teriam o direito a receber o benefício
integralmente, sem a incidência do fator previdenciário no cálculo da aposentadoria
por tempo de contribuição.

Desde o Governo Temer uma reforma da Previdência mais radical tenta ser
aprovada. Na época, a conjuntura nacional dificultou a tramitação da proposta na
Câmara. Por outro lado, houve a reforma trabalhista que atingiu indiretamente os
cidadãos ao direito de obterem os benefícios assegurados pela Previdência Social.
Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro tornou prioridade levar a frente a Reforma da
Previdência, que resultou na Emenda Constitucional nº 103.

As últimas mudanças decorrentes das reformas previdenciárias alteraram até


o texto constitucional, que resultou na penalização apenas dos trabalhadores,
principalmente os trabalhadores com baixa renda, e vem gerando uma desigualdade
que afeta os princípios de solidariedade da Seguridade Social, portanto, longe de ser
constitucional.

[...] inconstitucionalidade na própria lógica que afronta o sistema de seguridade


social. As mudanças propostas penalizam apenas os trabalhadores, portanto,
atacam a ideia de solidariedade, que é um dos princípios do sistema, e
especialmente os trabalhadores com rendas menores, então gera uma
29
desigualdade que não pode ser vista como constitucional. [...] A reforma já foi o
maior ataque aos direitos sociais promovido desde a instalação do Estado
democrático de direito do país, com a Constituição. E, aliás, uma coisa está ligada
a outra, porque a gente percebe, passado um ano e meio, que só aumentaram as
colocações de modo informal, houve aumento do desemprego, achatamento dos
salários, ao mesmo tempo em que é exigido que as pessoas trabalhem mais
tempo e contribuam mais. Será uma conta que não vai fechar.

As duas reformas são a principal expressão de um cenário de desmonte do


Estado Democrático de Direito, que é a ideia de que não será possível a ninguém,
a nenhum trabalhador comum ter as condições para se aposentar e receber os
benefícios sócias. É muito grave.(LAURA BRENDA. 2019).

Com a promulgação da Constituição Federal de 1.988 assegurou


satisfatoriamente os direitos fundamentais sociais aos cidadãos. Entretanto, com as
alterações legislativas e constitucionais distanciaram os cidadãos a obterem o direito
a ter um benefício digno correspondente ao risco social experimentado, considerado
o custeio realizado pelo segurado durante a vida laboral.

Ademais, a legislação precisa ter eficácia prática para garantir os direitos


sociais nela contidos aos cidadãos. Entretanto, há vários benefícios que abarcam
grande parte da população, que devido a ineficácia processual, tanto no âmbito
administrativo como judicial, acarreta em uma análise e decisão prejudicial ao
cidadão, que terá restringido seus direitos, conforme abordagem a seguir.

1.5 Conceito de Assistência Social

A Assistência Social será prestada a quem dela precisar independentemente


de contribuição à seguridade social pelo beneficiário, conforme disposto no artigo
203, da Constituição Federal de 1.988.
30

O texto constitucional, no artigo 203, também prevê as espécies de benefícios


pagos como: a proteção à família, à maternidade, à adolescência e à velhice; o
amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado
de trabalho; a habilitação e a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária; a garantia de um salário mínimo mensal à
pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

As prestações de assistência social devem promover a integração e a


inclusão do assistido na vida comunitária, fazer com que, a partir do recebimento
das prestações assistenciais, seja “menos desigual” e possa exercer atividades que
lhe garantam a subsistência.

O artigo 203 da Constituição foi regulamentado pela Lei nº 8.742/93 - Lei


Orgânica da Assistência Social – LOAS, que foi alterada pela Lei nº 12.435/11 e com
isso alterou a definição da Assistência Social como: Política de Seguridade Social
não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada por meio de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas.

Com a alteração na legislação, a responsabilidade do amparo pelo Estado


aos mais necessitados esta compartilhada com a sociedade, com equivocada
ideologia de detenção de poder pecuniário pela sociedade, assim como o Estado,
para provimentos dos mínimos sociais.

Antes da alteração legislativa, o Estado, por meio da verdadeira ideologia de


Estado Democrático de Direito, promovia a integração e a inclusão do assistido na
vida comunitária, por meio do fornecimento das prestações assistenciais, com o
objetivo de diminuir a desigualdade social, e assim, proporcionar ao cidadão
condições de exercer atividades que lhe garantiam a subsistência.
31

A proteção social é efetivada por meio das ações do Sistema Único de


Assistência Social – SUAS, conforme disposto no artigo 6º, §1º, da Lei nº 8.742/93

1.6 Conceito de Saúde

O direito à saúde está garantido nos artigos 196 a 200 da Constituição


Federal de 1.988.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

A Saúde, assim como a Seguridade Social e a Previdência Social, é direito


que atende ao Princípio da Universalidade, vez que a cobertura e o atendimento é
estendido a todos de modo igualitário para todos que vivem no território nacional,
independentemente de filiação e de contribuição para o financiamento da seguridade
social.

A Saúde, como Direito Fundamental do ser humano, é dever do Estado


prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, por meio de formulação
e execução de políticas econômicas e sociais que visam a reduzir os riscos de
doenças, conforme disposto no artigo 2º, da Lei nº 8.080/90.

As ações do Estado também visam garantir às pessoas e à coletividade


condições de bem estar físico, mental e social.
32

As políticas econômicas e sociais de proteção à saúde não se limitam


somente sob o crivo da medicina, mas a todos os fatores condicionantes e
determinantes da saúde, como a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais, conforme está disposto no artigo 3º da Lei nº 8.080/90.

O serviço de assistência à saúde tem caráter de serviço público,


independentemente se prestado diretamente pelo Estado ou pela iniciativa privada,
e na falta ou deficiência na prestação do serviço que acarrete dano ao usuário,
ensejará na responsabilidade objetiva do Estado e, consequentemente, no dever de
indenizar.

A relação jurídica entre o cidadão e o Estado consiste na obrigação deste em


garantir apenas prestação de serviços para a garantia da saúde, uma vez que não
há até o momento a previsão legal de pagamento de benefícios.
33

2 FONTE DE CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

O custeio para a Seguridade Social o artigo 195 da Constituição Federal,


assegurou que o sistema deve ser financiado de maneira direta ou indireta pela
sociedade, utilizando-se de expedientes financeiros oriundos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios.

Na relação de custeio da Seguridade Social, aplica-se o princípio de que


todos que compõem a sociedade devem colaborar para a cobertura dos riscos
provenientes da perda ou redução da capacidade de trabalho ou dos meios de
subsistência; por ser uma relação jurídica estatutária, é compulsória aqueles que a
lei impõe, não sendo facultado ao contribuinte optar por não cumprir a obrigação de
prestar a sua contribuição social; há possibilidades em que a lei permite a isenção
ou contribuição com valor maior ou com menor, mantendo-se a obrigação.

Há dois modelos básicos de financiamento da Seguridade; no primeiro, o


custeio é suportado apenas pelo repasse de recursos orçamentários; no outro,
através de contribuições pagas pelos participantes. O custeio da Seguridade
brasileira é misto, pois abrange as formas indireta e direta.

Dessa forma, o financiamento para a Seguridade Social garante o custeio dos


institutos da Saúde, da Assistência Social e da Previdência Social.
34

2.1 Fonte de Custeio para a garantia do benefício da Saúde

No artigo 198 da Constituição Federal está disposto que as ações e serviços


de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, que constituem um
sistema único.

Desta forma, o Legislador instituiu no artigo 4º, da Lei nº 8.080/90 a definição


do Sistema Único de Saúde – SUS como: o conjunto de ações e serviços de saúde
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. No §
1º há a inclusão ao SUS das instituições públicas federais, estaduais e municipais de
controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de
sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.

O texto constitucional prevê que o sistema único de saúde será financiado,


com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além de outras fontes.

O financiamento da União à Saúde não poderá ser inferior a 15% (quinze por
cento) da receita corrente líquida para o exercício financeiro.

O Distrito Federal e os Estados Membros financiam a Saúde com valor


correspondente ao produto da arrecadação do Imposto de Transmissão Causa
Morte – ITCMD, do Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços – ICMS,
Imposto de Propriedade de Veículo Automotor – IPVA, deduzidas as parcelas
transferidas aos respectivos Municípios e 21,5% do produto da arrecadação do
35

Imposto sobre Renda – IR e, sobre Produtos Industrializados - IPI, limitado a 10% do


valor das exportações desses produtos.

O Distrito Federal e os Municípios contribuem com o financiamento do SUS


por meio da arrecadação do Imposto de Propriedade Predial Territorial Urbana –
IPTU; Imposto de Transmissão de Bens Imóveis – ITBI; Imposto sobre Serviços –
ISS; o produto da arrecadação do imposto de Renda incidente na fonte, sobre
rendimentos pagos, a qualquer título, pelos Municípios, suas autarquias e pelas
fundações que instituírem e mantiverem; 50% (cinquenta por cento) do produto da
arrecadação do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural, relativos aos imóveis
neles situados, 50% (cinquenta por cento) do produto da arrecadação do IPVA; 25%
(vinte e cinco por cento) do produto da arrecadação do ICMS; 22,5% do produto da
arrecadação do IR e do IPI.

2.2 Fonte de Custeio para a garantia do benefício da Assistência Social

O Decreto nº 91.970, de 22/11/1985, instituiu o Fundo Nacional de Ação


Comunitária – FUNAC. Posteriormente, com a Lei nº 8.742/93, o FUNAC foi
transformado em FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social, financiado pela
União, conforme a realização de receita, conforme disposto nos artigos 28 e 29,
ambos da Lei nº 8.742/93.

O financiamento da Assistência Social provém de recursos do orçamento da


Seguridade Social, oriundos das contribuições da União, do Distrito Federal, dos
Estados Membros e dos Municípios, observadas as diretrizes de descentralização
político-administrativa, cujas normas gerais e coordenação competem à União, a
execução e a coordenação dos programas assistenciais e a coordenação e
36

execução dos respectivos programas competem aos Estados e Municípios e


também por entidades beneficentes e da assistência social. Há diretrizes que
garantem a possibilidade da participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação e controle de políticas assistenciais, conforme
estabelecem os artigos 195 e 204, ambos da Constituição Federal.

O Sistema Único de Assistência Social é financiado pela União, Distrito


Federal, Estados e Municípios, cujos recursos são destinados para a
operacionalização, prestação e aprimoramento dos serviços, programas, projetos e
benefícios assistenciais.

Por meio da Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003, foi acrescentado o


parágrafo único ao artigo 204 da Constituição Federal, o qual estabelece a faculdade
aos Estados Membros e ao Distrito Federal a possibilidade de vincular até 0,5%
(cinco décimo por cento) de sua receita tributária líquida a programas de apoio à
inclusão e promoção social.

Entretanto, é vedado que tais recursos sejam utilizados no pagamento com


despesas de pessoal e encargos sociais, bem como com qualquer outra despesa
corrente não vinculada diretamente aos investimentos e ações apoiados.

2.3 Fonte de Custeio para a garantia dos benefícios da Previdência Social

A seguridade social, direta ou indiretamente, é financiada pela sociedade,


União, Estados Membros, Municípios e Distrito Federal, conforme previsão no artigo
195, da Constituição Federal.
37

O financiamento de forma direta ocorre por meio do pagamento das


contribuições sociais das empresas, dos trabalhadores e demais segurados da
Previdência Social, sobre a receita de concursos de prognósticos e do importador de
bens e serviços do exterior.

O financiamento indireto é feito por meio dos recursos orçamentários da


União, Estados Membros, Municípios e Distrito Federal, devendo constar no
orçamento dos entes federativos, com exceção União.

Tais recursos são destinados à Saúde, à Assistência Social e à Previdência


Social. Para a Previdência Social há também o recolhimento das contribuições
sociais pelo Segurado, os quais contribuem para gozar dos benefícios da
previdência. No entanto, caso o orçamento da Previdência Social se mostre
insuficiente para o pagamento dos benefícios previdenciários, a União é responsável
por estes, conforme disposto no artigo 16, da Lei nº 8.212/91.
38

3 OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE GARANTIDOS PELA


SEGURIDADE SOCIAL

Os benefícios concedidos em razão da incapacidade laboral dos segurados


são os mais requisitados atualmente, tanto nas vias administrativas quanto na esfera
jurídica.

Estando o cidadão, que contribui ao Regime Geral da Previdência Social,


portanto mantêm a qualidade de segurado, for acometido de doença que o
incapacite de exercer seu labor diário por mais de 15 dias, deverá ser concedido
algum dos benefícios previstos na legislação, aquele que mais beneficiar ao
segurado.

Entretanto, não é simples como demonstrar ser, em virtude da incapacidade


ser considerada como um requisito subjetivo, vez que muitas vezes uma doença que
possa incapacitar totalmente e definitivamente uma pessoa de exercer suas
atividades de trabalho não influenciaria nas atividades de outra em decorrência da
natureza do serviço que presta, entre outras perspectivas relevantes.

É nesse viés imposto pela subjetividade dos casos concretos dos


requerimentos de benefícios concedidos em razão da incapacidade laboral que a
perícia biopsicossocial apresenta uma evolução na análise e processamento dos
benefícios por incapacidade, uma vez que proporciona à pessoa que realizará a
análise processual e emitira a decisão uma perspectiva de amplitude muito maior do
que a perícia médica comum poderia propiciar, temática que será trabalhada no
presente capítulo.
39

A Lei nº 8.213 de 1991 dispõe os planos de benefícios da previdência social,


visando garantir meios indispensáveis a manutenção dos seus beneficiários,
também prevê que sejam concedidos benefícios por incapacidade quando o
segurado da previdência social ficar impossibilitado, física ou mentalmente, de
trabalhar.

Compete ao INSS, autarquia federal responsável, o sistema de seguro social


dos trabalhadores a organização e pagamento dos benefícios previdenciários e
assistenciais de forma geral no Brasil.

Os benefícios assistenciais abrangem uma parcela da população muito


limitada, uma vez que são pagos àqueles que não contribuem ao sistema
previdenciário, devendo, ainda, ser idoso, com idade igual ou superior a 65 ao
portador de deficiência física, também considerado incapaz ao labor pelo menos
durante 2 anos.

Assim, a Lei nº 8.742/93, que dispõe sobre a organização da Assistência


Social e outras previdências, no artigo determina a garantia do benefício de
prestação continuada ao idoso e ao portador de deficiência, considerados
hipossuficientes:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo


mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou
mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de
tê-la provida por sua família.

Já os benefícios previdenciários são pagos para quem de algum modo


financia o RGPS, beneficiando ainda os dependentes desses segurados. Sendo
assim, para que se tenha direito aos benefícios previdenciários, é exigido do cidadão
uma contraprestação, conforme art. 1º da lei 8.213 de 1991:
40
Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos
seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de
incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço,
encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam
economicamente.

Outrossim, para que possamos compreender melhor a importância da perícia


biopsicossocial à concessão dos benefícios por incapacidade, se faz necessário
tratar sobre cada benefício.

3.1 Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência


Social

O denominado BPC/LOAS – Benefício de Prestação Continuada é um


benefício no valor de um salário mínimo concedido pela Seguridade Social,
conforme disposto no artigo 20, §14, da Lei nº 8.742/93.

O BPC é gênero e possui duas espécies: o Benefício Assistencial ao Idoso e


ao Portador de Deficiência. Por ser benefício de caráter assistencial não exige que o
requerente tenha contribuído à Previdência Social e, por isso, é concedido a uma
parcela da sociedade que vivem em situação de miserabilidade.

O referido benefício será concedido às pessoas com mais de 65 anos de


idade ou cidadão, de qualquer idade, com deficiência física, mental, intelectual ou
sensorial de longo prazo, que o impossibilite de participar de forma plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, que não
possuam meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família.
41

O benefício de prestação continuada está previsto no art. 20 da Lei nº


8.742/93, a Lei Orgânica da Assistência Social, in verbis:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo


mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou
mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de
tê-la provida por sua família.

Vale ressaltar que, o BPC não gera pensão aos dependentes do segurado,
por se tratar de benefício assistencial, considerando aspectos de hipossuficiência da
pessoa e da família.

Considerando as mudanças socioeconômicas das famílias ao curso do


tempo, o benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada dois anos, no
intuito de evitar fraude dos beneficiários que conseguirem uma melhor condição
financeira ou por terceiros que possam receber eventuais valores após o óbito do
beneficiário.

Ainda que, inicialmente, a LOAS no artigo 20, §3º, impunha como requisito
básico para concessão do benefício a renda per capita máxima de um quarto do
salário mínimo vigente, a jurisprudência tem entendido que tal requisito não é
absoluto, uma vez que, considerado o caráter assistencial do benefício, o que se
deve analisar é se o grupo familiar possui condições dignas de sobrevivência ou se
está sobrevivendo em condições de miserabilidade, vejamos:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA.


BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA
SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE PODE SER AFERIDA
POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício
assistencial – deficiente proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente
mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a ausência de miserabilidade pois
42
a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo. 3. Incidente de Uniformização
de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14, § 2º,
da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de
origem, mas a sua remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela
parte autora. 4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da
jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial
instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente demonstrada entre o acórdão e
os paradigmas. 6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou
não superior a ¼ do salário mínimo, é entendimento esposado por esta Turma
Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça que, no caso
concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da
miserabilidade da parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BENEFÍCIO DE
PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS
MEIOS LEGÍTIMOS. VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ. INCIDÊNCIA. 1. Este Superior Tribunal
de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado
como um mínimo, não excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso
concreto, lançar mão de outros elementos probatórios que afirmem a condição de
miserabilidade da parte e de sua família. 2. "A limitação do valor da renda per
capita familiar não deve ser considerada a única forma de se comprovar que a
pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a
necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando
comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo." (REsp
1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO,
DJe 20/11/2009). ............. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2011/0010708-7/ Relator (a) Ministro OG FERNANDES (1139)/ T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe
09/05/2012 ) 7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário
mínimo, previsto pelo art. 20, § 3º, da Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional
pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR,
rel. Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes,
18.4.2013 (Fonte: Informativo de Jurisprudência nº 702 – Brasília 15 a 19 de abril
de 2013). 8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da
questão: “Apesar da conclusão do perito (a) judicial, verifico que o genitor da
parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma remuneração
mensal superior a R$ 700,00 (anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela
parte autora, seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é
superior ao limite exigido em lei, o que afasta a alegação de hipossuficiência.” 9.
Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos
membros familiares, chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e
setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼ do salário mínimo hoje equivale
a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos). Diferença
ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é
absoluto, podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios. 10. Incidente
conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo
da miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto –
tendo inclusive sua inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o
acórdão recorrido e devolver os autos ao Juizado Especial de origem, para que
examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada ao
entendimento uniformizado. (BRASIL, TNU – Turma Nacional de uniformização,
2013)
43

Então, o legislador trouxe um requisito renda per capita para a concessão do


referido benefício, além dos requisitos supracitados. O requisito renda familiar sofreu
algumas mudanças desde a implantação, inicialmente exigia-se a renda per capita
inferior ou igual a ¼ do salário mínimo, em seguida o referido dispositivo fora julgado
inconstitucional, aumentando-se a renda per capita para ½ salário mínimo.

Dessa forma para a concessão do Benefício de Prestação Continuada ao


idoso é necessário o preenchimento dos requisitos: idade e hipossuficiência. Sendo
crucial a realização de perícia social para a constatação do requisito hipossuficiência
social.

Quanto ao Benefício de Prestação Continuada à Pessoa Portadora de


Deficiência, a perícia Biopsicossocial se torna um instrumento de grande
importância, uma vez que, através do estudo das condições patológicas, sociais e,
em alguns casos, laborais, realizadas por médico perito e por assistente social,
podem auferir com maior precisão se de fato o requerente e seu grupo familiar se
encontram em situação de miserabilidade, ainda que com renda superior a um
quarto do salário mínimo, ou se possuem condições de prover o próprio sustento e
manutenção do lar.

3.2 Benefícios da Previdência Social

A Lei nº 8.213/91, lei que dispõe sobre os Planos de Benefícios da


Previdência Social, enumera no artigo 1º as contingências cobertas pelo plano de
benefícios: incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de
serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam
economicamente.
44

Essas contingências têm cobertura pelas prestações enumeradas no artigo


18. Algumas têm como sujeito ativo o segurado; outras o dependente e outras o
segurado e o dependente. São devidas ao segurado, inclusive em razão de acidente
do trabalho, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição,
aposentadoria especial, auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, salário-família,
salário maternidade e auxílio-acidente. Aos dependentes são devidos pensão por
morte e auxílio-reclusão.

Os segurados e os dependentes têm direito a serviço social e reabilitação


profissional.

Há a necessidade de verificar os requisitos legais para a concessão dos


benefícios previdenciários, mormente os benefícios por incapacidade, que serão
assuntos das próximas seções.

3.2.1 Requisitos Legais para Concessão

A concessão dos benefícios por incapacidade garantidos pela Previdência


Social, além do requisito incapacidade, há a necessidade do preenchimento de
outros dois requisitos: a qualidade de segurado e a carência.

A exigência dos requisitos, qualidade de segurado e carência são diferenciais


da natureza do benefício garantido pela Previdência Social em relação ao Benefício
de Prestação Continuada ao portador de deficiência garantido pela Assistência
45

Social, sendo que este agregado à avaliação da incapacidade há a avaliação


socioeconômica.

A partir das diferenças nos requisitos concessórios dos Benefícios por


incapacidade garantidos pela Seguridade Social, há de se verificar os requisitos dos
benefícios garantidos exclusivamente pela Previdência Social.

3.2.1.1 Qualidade de Segurado

A atual Constituição Federal – CF/88 prevê a necessidade do preenchimento


de dois requisitos para a concessão de qualquer benefício que sejam garantidos
pela Previdência Social, a necessidade de filiação e de contribuição ao Regime
Geral da Previdência Social – RGPS, conforme artigo 201.

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da
lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

Com a filiação por meio do primeiro recolhimento da contribuição ao RGPS


inicia a qualidade de segurado e, via de regra, essa cobertura garantida pelo seguro
social se estenderá enquanto ocorrer os recolhimentos previdenciários, ou seja, a
qualidade de segurado para gozar dos benefícios previdenciários.

As contribuições exigidas para a manutenção da qualidade de segurado são


oriundas da fonte direta de custeio à Seguridade Social, ou seja, àquelas custeada
46

pelos cidadãos. Estes que recolhem as contribuições sociais à Previdência Social


são denominados segurados.

Segundo José Ricardo C. Costa, (2014, Perícia Biopsicossocial –


Perspectivas de um Novo Modelo Pericial) os requisitos para concessão do
referido benefício são:

a) a qualidade de segurado, requisito exigido a todos os benefícios de prestação


continuada em se tratando de seguro social. É de origem contributiva, sendo
necessário que o segurado esteja vinculado ao sistema quando requerer o
benefício. Por esta razão é que a lei veda que os segurados que se filiaram após a
doença tenham direito a este benefício. Exceto quando, mesmo sendo pré-
existente, houver o agravamento da doença (conforme art. 42 da LBPS);

Da regra acerca de manutenção da qualidade de segurado enquanto há os


recolhimentos das contribuições sociais à Previdência Social, há a exceção
denominada período de graça. O período de graça consiste na manutenção da
qualidade de segurado sem que haja o recolhimento à Previdência Social, nas
hipóteses trazidas pela Lei nº 8.213/91, no artigo 15.

Há variação no período de graça conforme a situação do segurado perante à


Previdência Social. O segurado poderá manter a qualidade de segurado por doze
meses após cessados os recolhimentos previdenciários para os segurados que
tenham vertido até cento e vinte contribuições; para os segurados com mais de
cento e vinte contribuições o período de graças se estende para vinte e quatro
meses.

Enquanto o segurado estiver em gozo de benefício previdenciário manterá a


qualidade de segurado, exceto o auxílio-acidente. A exceção do auxílio-acidente fora
inserida pela Lei nº 13.846/19.
47

Cessado o benefício previdenciário, como: salário maternidade, auxílio-


reclusão e benefício por incapacidade, há a necessidade do segurado retornar a
realizar as contribuições sociais à Previdência Social antes do término do período de
graça. Por exemplo: o início da contagem do período de graça se dá com a
cessação do benefício por incapacidade e, decorrido o período de graça sem
contribuição cessa a cobertura previdenciária.

O segurado Facultativo possui prazo diferenciado para o período de graça,


que independentemente da quantidade de contribuições realizadas ao RGPS, será
de seis meses.

O segurado desempregado, desde que comprovada essa situação no órgão


próprio do Ministério do Trabalho e Emprego (art. 15, § 2º, do PBPS e art. 13, § 2º,
do RPS), e o segurado que se desvincular de regime próprio de previdência (art. 13,
§ 4º, do RPS) possuem período de graça de vinte e quatro meses e, àqueles que
tenham realizado mais de 120 contribuições mensais sem interrupção que acarrete a
perda da qualidade de segurado, possuem período de graça de trinta e seis meses.

No caso da perda da qualidade de segurado não haverá cobertura


previdenciária, ou seja, não haverá pagamento de benefício previdenciário na
ocorrência de eventos como morte, reclusão, maternidade e incapacidade. Contudo
poderá realizar nova filiação ao RGPS por meio de novo recolhimento da
contribuição social à Previdência Social.

A perda da qualidade de segurado, precisamente, ocorre no dia seguinte ao


do vencimento para o recolhimento da contribuição referente ao mês de
competência posterior ao término dos prazos fixados no artigo 15, da Lei nº
8.213/91.
48

No caso específico das aposentadorias por tempo de contribuição, especial e


por idade, o segurado terá direito à concessão dos benefícios mesmo diante da
perda da qualidade de segurado e consequentemente a perca da cobertura
previdenciária para a ocorrência de eventos não programáveis.

Com a nova filiação o segurado terá direito à nova cobertura previdenciária


para eventos futuros, ocorridos durante a vigência da nova cobertura previdenciária.
No caso específico dos benefícios por incapacidade, o segurado ao filiar-se ao
RGPS portando doença ou lesão não terá direito à cobertura previdenciária, salvo se
após à nova filiação ocorrer agravamento da doença ou lesão; o mesmo ocorre ao
segurado que ao filiar-se RGPS já incapacitado não terá direito à cobertura
previdenciária para o evento incapacidade especifico da doença incapacitante,
porém se ocorrer nova incapacidade oriunda de outra doença ou lesão terá direito
ao benefício por incapacidade.

3.2.1.2 Carência

A Carência é um dos requisitos para a concessão da grande maioria dos


benefícios previdenciários, portanto para o segurado obter a concessão de um
determinado benefício se faz necessário a realização de um número mínimo de
contribuições mensais para à Previdência Social, consideradas a partir do primeiro
dia do mês de competência relativo ao recolhimento previdenciário. Por exemplo: o
segurado realiza o recolhimento previdenciário para a competência do mês de
janeiro no início de fevereiro, o início da contagem da carência se deu no dia 1º de
janeiro.
49

O segurado poderá contribuir para a Previdência Social, mas se ainda não


atingiu a quantidade mínima de carência para a concessão de determinado
benefício, não possui direito à cobertura previdenciária para o pagamento deste
benefício.

Como o sistema previdenciário é de caráter contributivo, é plausível a


exigência do cumprimento da carência para a concessão de um determinado
benefício, em virtude da manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema.
Por outro lado, há benefícios que dispensam a necessidade do cumprimento da
carência para a concessão.

No artigo 25, da Lei nº 8.213/91 há previsão dos períodos de carência para


cada benefício previdenciário e, no artigo 26, os benefícios que dispensam o
cumprimento da carência.

Para a concessão dos benefícios por incapacidade, como: auxílio-doença e


aposentadoria por invalidez é necessário a realização de pelo menos doze
contribuições mensais.

Vale ressaltar que, o segurado que pleitear os benefícios supracitados deverá


observar o cumprimento dos requisitos qualidade de segurado e carência no início
da incapacidade laborativa. Assim, caso o segurado perca a possibilidade de realizar
os recolhimentos à Previdência Social terá ainda o período de graça para retomar os
recolhimentos previdenciários sem perder a qualidade de segurado ou caso ocorra o
evento incapacidade, terá cobertura previdenciária para a concessão do benefício de
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez.

O cumprimento da carência é dispensado para a concessão de pensão por


morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente. No caso da concessão de
auxílio-doença e aposentadoria por invalidez será dispensada o cumprimento da
50

carência somente se decorrente de acidente de qualquer natureza ou causa e de


doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após
filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas
em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a
cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação,
deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam
tratamento particularizado.

No artigo 151, da Lei nº 8.213/91, há lista de doenças ou afecções que


dispensam a exigência da carência, tais como: tuberculose ativa, hanseníase,
alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), AIDS,
contaminação por radiação e Hepatite C. Lista de doenças lista utilizada até que seja
realizada a lista pelo órgão da Administração Pública competente pertencente ao
Poder Executivo.

Portanto, para o segurado ter direito ao benefício por incapacidade, não


poderá ter decorrido o período de graça entre o último recolhimento previdenciário e
o evento incapacitante. Há a exigência ao segurado de recolher no mínimo 12
contribuições mensais, obrigatoriamente, com valor de salário de contribuição entre
salário mínimo e teto previdenciário, para todos os segurados, e a partir da primeira
contribuição sem atraso para os segurados contribuinte individual e facultativo.

No caso do segurado especial, não haverá a necessidade de cumprir a


carência de 12 contribuições mensais, basta comprovar o exercício de atividade
rural nos 12 meses imediatamente anteriores ao mês do requerimento administrativo
do benefício.
51

Decorrido o período de graça ocorrerá a perda da qualidade de segurado; as


contribuições previdenciárias vertidas ao RGSP antes da perda da qualidade de
segurado serão computadas para efeito de carência, após o recolhimento de uma
quantidade de contribuições mensais a partir da nova filiação para pagamento de
determinados benefícios.

A quantidade de contribuições a partir da nova filiação para recuperação da


carência tem variado ao longo dos anos de acordo com o entendimento do
legislador, bem como fatores políticos e econômicos. Ao longo dos anos, para a
recuperação da carência já foi exigido 1/3 (um terço) e metade da carência do
benefício pleiteado e, atualmente há a necessidade de cumprir com nova carência.

Somente não será exigido o cumprimento de carência após a nova filiação ao


RGPS para a concessão de aposentadoria por idade e por tempo de contribuição
comum e especial.

3.2.1.3 Incapacidade Laborativa

A incapacidade laborativa é o requisito legal e constitucional para a


concessão dos benefícios por incapacidade que exige uma análise minuciosa das
condições da doença, da pessoa e da atividade profissional.

Nesse aspecto, impera a subjetividade do avaliador na apuração do grau de


incapacidade que acomete o segurado, que poderá conceder ou não o benefício
pleiteado pelo segurado junto à Previdência Social.
52

3.2.2 Espécies de Benefícios Previdenciários por Incapacidade

No âmbito da Previdência Social há três benefícios por incapacidade à


disposição do segurado, mediante constatação da incapacidade laborativa e do
preenchimento dos demais requisitos, como: qualidade de segurado e carência,
quando for o caso.

O fator predominante para a concessão de um benefício por incapacidade em


detrimento de outro reside nos quesitos tempo e grau da incapacidade.

Assim, usualmente para os casos de incapacidade parcial e permanente


concede-se o auxílio-acidente; para a incapacidade total e temporária para o auxílio-
doença e, por fim para os casos de segurados com incapacidade total e permanente
deve ser concedida a aposentadoria por invalidez.

3.2.2.1 Auxílio-Doença

O auxílio-doença previdenciário está previsto no art. 59 da lei 8.213/91 e, é


devido aos trabalhadores que estejam devidamente segurados, ou seja, que sejam
filiados ao Regime Geral da Previdência Social e que não tenha decorrido o período
de graça e, tenham preenchido a carência correspondente ao recolhimento
previdenciário durante o período de 12 meses, e que sejam acometidos de qualquer
patologia que lhes incapacite de exercer suas atividades de trabalho por mais de 15
dias no período dos 12 meses mencionados ou durante o período de graça.
53

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido,


quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para
o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias
consecutivos.

O valor do benefício será calculado na média aritmética simples dos maiores


salários-de-contribuição correspondente a 80% de todo o período contributivo,
conforme estabelecido no artigo 29, II, da Lei nº 8.213/91, o referido valor resulta no
valor da Remuneração Média Inicial do benefício – RMI. O valor do Salário de
Benefício equivale a 91% da RMI, em virtude da natureza temporária do benefício. O
legislador determinou a retenção de 9% sobre o valor do benefício, a qual possui
caráter de remuneração ao RGPS.

É o primeiro grande benefício por incapacidade do Regime Geral da


Previdência Social e, talvez o que mais necessite da perícia biopsicossocial. O
auxílio-doença certamente é o benefício mais procurado em todo sistema
previdenciário, sendo o benefício mais complexo e problemático, especialmente em
decorrência da perícia biomédica que hoje é realizada.

Uma breve análise dos requisitos exigidos para concessão do benefício de


auxílio-doença nota-se a complexidade e a necessidade de uma perícia mais
abrangente, no intuito de diminuir as injustiças e as possibilidades do segurado ser
prejudicado.

Isso pois, na maioria das vezes a proteção deste benefício se torna ineficaz,
em virtude da burocracia administrativa, especialmente no que respeita aos serviços
periciais mantidos pelo INSS.

Como é notório, o setor pericial não consegue dar conta de tanta complexidade
com que se apresentam os pedidos formulados pelos segurados, principalmente
54
quando a significativa diversidade de doenças exige uma gama correspondente de
profissionais que, geralmente, a Autarquia Securatária não dispõe. (COSTA, 2014,
p. 66)

Além disso, quando a autarquia previdenciária concede este benefício ainda


institui a denominada alta programada, mecanismo que, quando o segurado efetua o
requerimento administrativo já supõe, antes de qualquer tratamento ou processo de
reabilitação, que as enfermidades que acometeram o segurado possuem data certa
para sararem.

Em razão disso, vem ocorrendo mudanças na jurisprudência para priorizar a


realização da Perícia Biopsicossocial, sendo concedido o auxílio-doença ainda que
na perícia médica tenha concluído que a parte autora tenha condições para o
exercício de outro labor.

3.2.2.2 Auxílio Acidente

O auxílio-acidente é um benefício definitivo, concedido quando formada a


convicção de que a lesão sofrida pelo segurado é irreversível e irá lhe causar
prejuízo definitivo, representando perda funcional significativa que reduz a
capacidade para o exercício da atividade habitual.

Este benefício não está sujeito à carência, sendo concedido em caso de


simples reconhecimento de invalidez parcial do trabalhador para as atividades
habituais que exercia antes do evento infortunístico, conforme art. 86 da lei 8.213/91:
55
Art. 86 – O auxílio-acidente será concedido, como indenização ao segurado
quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer
natureza, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o
trabalho que habitualmente exercia.

Esse benefício pode ser concedido ao mesmo grupo de segurados


obrigatórios que fazem jus ao auxílio-doença de natureza acidentária, quais sejam:
celetistas, trabalhador avulso e segurado especial.

O benefício de auxílio-acidente é concedido a partir da alta do benefício


provisório (auxílio-doença), com renda mensal inicial de 50% salário-benefício.

Vale ressaltar que, o benefício em tela possui caráter indenizatório e não


possui o condão de substituir a renda do trabalhador, mas sim de complementar,
podendo, por isso, ser cumulado com remuneração paga pelo empregador ao tempo
de retorno do obreiro ao mercado de trabalho.

Em síntese, o benefício de auxílio-acidente é uma espécie de indenização do


sistema previdenciário pelo fato do trabalhador acidentado, com incapacidade
parcial para o trabalho, não ter condições de obter o mesmo
rendimento/produtividade que teria, caso sua capacidade de trabalho estivesse
plena.

Importante ressalvar que, de acordo com o art. 104 do Decreto nº 3.048/99,


§4º, inciso II, o benefício de auxílio-acidente não será devido caso o obreiro seja
readaptado pela empresa em função diversa daquela que exercia e que seja
compatível com a limitação imposta pela consolidação das lesões.

Por ser o liame que separa os benefícios comuns dos acidentários é muito
tênue, uma vez que a avaliação na maioria das vezes é subjetiva, seja no que refere
56

ao rol das doenças profissionais ou do trabalho, seja na configuração do próprio


sinistro laboral é que o entendimento doutrinário vem entendendo que a perícia
social pode constatar justamente os aspectos que o perito médico não consegue
auferir.

É comum ocorrer problemas nas demandas acidentárias como a ausência de


laudo conclusivo do perito judicial acerca das condições do segurado à época do
requerimento indeferido pelo INSS, alegando o perito não poder se manifestar sobre
o estado de saúde do segurado em período pretérito ao da perícia.

Contudo, a função da prova pericial é justamente esta, a de buscar, com base


nos elementos existentes (atestados, exames, prontuário médico do segurado,
processo administrativo junto ao INSS), concluir se a situação, à época do
requerimento administrativo, era de efetiva incapacidade laboral ou não.

Perícia que não responde a esse quesito – fundamental – e inconclusiva, ou


seja, inservível ao fim colimado, devendo ser refeita. (CASTRO, LAZZARI, 2013, p.
761)

Por outro lado, no que se refere ao tempo de duração do pagamento do


benefício de auxílio acidente, a legislação prevê que o mesmo perdurará até o
momento em que o empregado venha a perceber sua aposentadoria previdenciária
pelo Regime Geral da Previdência Social ou até que venha a óbito.
57

3.2.2.3 Aposentadoria por Invalidez

A aposentadoria por invalidez, benefício de caráter previdenciário, portanto,


exige-se a filiação ao – RGPS, mediante a condição de segurado obrigatório ou
facultativo, por meio de recolhimento das contribuições previdenciárias, cujo valor do
salário de contribuição deverá ser entre o salário mínimo e o teto previdenciário.

Possui a característica de proteção social e constitucional, destinados aos


segurados do RGPS e os protegem do estado de vulnerabilidade e fragilidade, que
sofrem perda da sua capacidade laborativa, situações de risco, aspectos
relacionados à saúde, idade e condições sociais, previsto no artigo 201º da
Constituição Federal de 1988, que diz o seguinte:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral
de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e
atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)

I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o


trabalho e idade avançada; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)

É um benefício devido ao segurado que esteja incapacitado


permanentemente para o trabalho ou que, estando ou não em gozo de auxílio-
doença, for considerado incapaz para o trabalho e insusceptível de reabilitação para
o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, sendo o benefício pago
enquanto permanecer nessa condição.
58

Então, para concessão desse benefício, é preciso que seja verificada, em


regra, a incapacidade total e permanente para o exercício de uma atividade
profissional, conforme o artigo 42º e §1 da Lei n° 8.213 de 1991, dispõe abaixo:

Art. 42º - A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o
caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em
gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insuscetível de
reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e
ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

§1. A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação


da condição de incapacidade mediante exame medico pericial, a cargo da
previdência social, podendo o segurado, ás suas expensas, fazer-se
acompanhar de médico de sua confiança.

Neste sentido, o setor médico da previdência será o responsável por analisar


que o segurado está ou não inválido, como assevera Hugo Goes:

Concluindo a perícia médica pela existência de incapacidade total e


definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será concedida.
Todavia, havendo prognóstico de recuperação para outra atividade anterior
ou outra, o benefício a ser concedido deve ser o auxílio-doença. (GOES,
2018, p.216).

A aposentadoria por invalidez pode ter como causa acidente ou doença não
relacionados ao trabalho, quando será considerada como invalidez previdenciária;
quando for relacionado a acidente de trabalho ou doença profissional ou
ocupacional, será considerada como invalidez acidentária.

No âmbito Administrativo, para a concessão do benefício da Aposentadoria


por Invalidez, deve ser feita a verificação da condição da incapacidade, a qual
dependerá de avaliação por exame médico pericial a cargo da Previdência Social,
podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico assistente
de sua confiança.
59

Geralmente, o início da aposentadoria por invalidez ocorre após o término do


benefício do auxílio-doença. Contudo tal procedimento, não é tido como regra, tendo
em vista que o médico perito poderá avaliar que a incapacidade seja total e
permanente, neste caso, o segurado terá a concessão do benefício da
aposentadoria por invalidez independentemente da prévia concessão do benefício
do auxílio-doença.

Isso ocorre porque nem sempre a incapacidade que resulta na


insuscetibilidade de reabilitação possa ser constatada de plano, ao menos que as
lesões à integridade física ou mental do indivíduo sejam extremamente graves,
então, normalmente há a concessão do benefício do Auxílio-doença, como
presunção de que a incapacidade seja temporária, porém, posteriormente, poderá
concluir-se que a incapacidade é permanente, mediante a avaliação ter observado a
impossibilidade de retorno à atividade profissional, assim transforma-se o benefício
inicial em aposentadoria por invalidez.

Constatado que a incapacidade do segurado seja total e permanente, o início


do benefício para o segurado empregado ocorrerá a partir do 16º dia de
afastamento, vez que os primeiros 15 dias serão custeados pela empregadora; e
para as demais modalidades de segurados, o início do benefício ocorrerá na data do
início da incapacidade.

Após a concessão do Benefício da Aposentadoria por Invalidez, concedido


tanto pela via administrativa quanto pela via judicial, poderá o segurado com menos
de 60 anos de idade ser convocado para a realização de perícia médica a ser
realizada por médico indicado pela Previdência Social a fim de reavaliar a condição
da incapacidade. Importante ressaltar que, no evento concessão ou reavaliação, a
Previdência Social, por meio de seu médico perito, poderá exigir do segurado a
realização de tratamento médico adequado, porém não poderá exigir ou obrigar o
segurado à realização de intervenção cirúrgica ou transfusão de sangue com fito de
cessar o benefício.
60

Se por ventura, o segurado ao filiar-se ao RGPS já portador de doença ou


lesão, em regra, este não terá direito ao benefício de aposentadoria por invalidez, ao
menos que consiga provar que a incapacidade ou o agravamento do estado de
saúde/quadro clínico ou, ainda, a progressão da doença ou lesão tenham ocorrido
após à filiação ao RGPS.

Considerando o cerne do requisito subjetivo para a concessão do benefício da


aposentadoria por invalidez ser a incapacidade do segurado para o trabalho sem
perspectiva de reabilitação para o exercício de atividade capaz de lhe assegurar a
subsistência.

Considerando a possibilidade da concessão da aposentadoria por invalidez


decorrente ou não da concessão do auxílio-doença, ou seja não há a
obrigatoriedade da concessão do auxílio-doença e, posteriormente a concessão da
aposentadoria por invalidez, são benefícios que embora semelhantes em alguns
requisitos são distintos, vez que poderá haver casos do segurado que recebe o
benefício de auxílio-doença não tê-lo convertido em aposentadoria por invalidez,
bem como haverá casos do segurado ser aposentado por invalidez diretamente,
sem ser afastado em auxílio doença.

O valor do salário da aposentadoria por invalidez consiste na renda mensal


inicial equivalente a cem por cento do salário de benefício, considerando a média
aritmética simples dos oitenta por cento maiores salários de contribuição do período
básico de cálculo, sem incidência do fator previdenciário.

A pessoa aposentada por invalidez faz jus ao recebimento de uma majoração


de 25% do benefício caso precise de um “acompanhante”, ou seja, de uma outra
pessoa que dê suporte para as atividades do dia a dia.
61

Importante salientar que o aumento de 25% do benefício pode chegar a


superar inclusive o teto previdenciário, não havendo limitações para o valor a ser
recebido.

A grande invalidez vem prevista no artigo 45 da lei 8.213/91. In verbis:

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar


da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e
cinco por cento).

Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:

a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo


legal;

b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;

c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da


pensão.

A concessão do supracitado acréscimo depende da demonstração da


necessidade de assistência permanente, aferível somente com a postulação
administrativa ou judicial do segurado, bem como com o consequente exame
médico-pericial do INSS ou judicial.

Vale dizer que o anexo I do Decreto nº 3.048/99 traz um rol exemplificativo de


situações que implicariam na grande invalidez:

1 - Cegueira total.

2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.

3 - Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.

4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for
impossível.

5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível.
62
6 - Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for impossível.

7 - Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgânica e


social.

8 - Doença que exija permanência contínua no leito.

9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

Tal acréscimo representa a necessidade de maiores despesas, pela


assistência de outra pessoa, mas é preciso ressaltar que o dinheiro faz parte do
benefício do segurado, não pertence ao assistente. O valor do acréscimo cessará
com a morte do segurado, não sendo incorporável ao valor da pensão por morte
(CARLOS ALBERTO PEREIRA DE CASTRO E JOÃO BASTITA LAZZARI, 2019, p.
864).
63

4 Perícia Biopsicossocial

A Previdência Social vem acompanhando a evolução constitucional e tem


buscado preencher as situações de lacunas existente, no intuito de garantir a todo
cidadão uma vida digna.

Muito embora e medicina evolua com uma rapidez imensurável e as novas


tecnologias tenham facilitado inúmeras atividades laborais, os benefícios concedidos
por incapacidade talvez sejam os mais procurados de todo o sistema previdenciário.

Atualmente a questão pericial está sendo bastante debatida na seara


previdenciária, tanto no âmbito administrativo como no judiciário. Por acreditarmos
que a perícia médica, tanto no âmbito administrativo quanto na esfera judicial, não
atende a este novo momento histórico, não suficiente para atender a realidade
altamente complexa, portanto deve repensar o modelo pericial.

Para uma análise mais justa, deve-se considerar questões pessoais,


atitudinais, sociais, ambientais, entre outras, em conjunto com a análise médica.

Ademais, o modelo mais adequado para contemplar as carências do atual


modelo pericial é combinar o estudo social à perícia médica, ou seja transformar a
perícia, que antes era somente biológica, em perícia biopsicossocial.
64

4.1 Perícia Médica

A concessão de benefícios por incapacidade está sujeita, em regra, à


comprovação da incapacidade em exame realizado por médico perito da Previdência
Social, uma vez ultrapassado o lapso de quinze dias, cabendo à empresa que
dispuser de serviço médico próprio ou em convênio o exame médico e o abono das
faltas correspondentes aos primeiros quinze dias de afastamento, conforme o artigo
75, § 2º, da Lei n. 8.213/91.

Caso a empresa não possua médico ou convênio médico, ficará a cargo do


médico da Previdência, sindicato ou de entidade pública o fornecimento de atestado.

No caso de segurados obrigatórios que não sejam empregados urbanos ou


rurais, o direito ao benefício decorre da existência de incapacidade para as
atividades habituais, não havendo que se falar em pagamento por empresa nos
primeiros 15 dias.

O artigo 75-A do Decreto n. 3.048/99 vem excepcionar a regra geral acerca


da perícia médica pelo INSS, autorizando que a Autarquia possa conceder o
benefício com base na documentação médica do segurado e pelo período indicado
pelo médico que o assistiu, conforme se verifica do artigo transcrito abaixo:

Art. 75-A. O reconhecimento da incapacidade para concessão ou


prorrogação do auxílio-doença decorre da realização de avaliação pericial
ou da recepção da documentação médica do segurado, hipótese em que o
benefício será concedido com base no período de recuperação indicado
pelo médico assistente. (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de
2016)

§ 1º O reconhecimento da incapacidade pela recepção da documentação


médica do segurado poderá ser admitido, conforme disposto em ato do
INSS: (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)
65
I - nos pedidos de prorrogação do benefício do segurado empregado;
ou (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)

II - nas hipóteses de concessão inicial do benefício quando o segurado,


independentemente de ser obrigatório ou facultativo, estiver internado em
unidade de saúde. (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)

§ 2º Observado o disposto no § 1º, o INSS definirá: (Incluído


pelo Decreto nº 8.691, de 2016)

I - o procedimento pelo qual irá receber, registrar e reconhecer a


documentação médica do segurado, por meio físico ou eletrônico, para fins
de reconhecimento da incapacidade laboral; e (Incluído pelo
Decreto nº 8.691, de 2016)

II - as condições para o reconhecimento do período de recuperação


indicado pelo médico assistente, com base em critérios estabelecidos pela
área técnica do INSS. (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)

§ 3º Para monitoramento e controle do registro e do processamento da


documentação médica recebida do segurado, o INSS deverá aplicar
critérios internos de segurança operacional sobre os parâmetros utilizados
na concessão inicial e na prorrogação dos benefícios. (Incluído pelo
Decreto nº 8.691, de 2016)

§ 4º O disposto neste artigo não afasta a possibilidade de o INSS convocar


o segurado, em qualquer hipótese e a qualquer tempo, para avaliação
pericial.

Importante destacar que a Lei n. 13.457/17 incluiu o § 5º do art. 101 da


Lei de benefícios, trazendo a possibilidade de requerer perícia domiciliar ou
hospitalar para segurados com dificuldade de locomoção, conforme dispositivo
transcrito abaixo:

Art. 101. O segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por


invalidez e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão
do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da Previdência Social,
processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, e
tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de
sangue, que são facultativos. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

(...)
o
§ 5 É assegurado o atendimento domiciliar e hospitalar pela perícia médica
e social do INSS ao segurado com dificuldades de locomoção, quando seu
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de
acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional e indevido, nos termos do
regulamento. (Incluído pela lei nº 13.457, de 2017)
66

Para a caracterização da incapacidade do segurado, tanto na via


administrativa como na judicial, é imprescindível a produção de prova pericial por
médico que tenha domínio sobre a patologia em questão, não sendo possível ao
órgão decisório tomar a decisão sem permitir ao segurado a produção de tal prova.

Realizado o requerimento de benefício pelo segurado ou procurador, seja


pelo telefone, internet ou protocolo de requerimento por escrito, é designada perícia,
informando-se ao interessado a data, hora e local da perícia. Os exames médico-
periciais serão realizados no hospital ou no domicílio nos casos de impossibilidade
de locomoção do segurado, devidamente configurada.

A prova pericial é o meio empregado nos casos em que o esclarecimento do


fato probando depende de conhecimentos técnicos ou científicos específicos ou
ainda habilidade ou experiência diferenciada, as quais, muito provavelmente, o
servidor do Instituto Previdenciário e o Juiz de direito não terão o conhecimento
necessário para analisar.

É aquela pela qual a elucidação do fato se dá com ao auxílio de um perito,


especialista em determinado campo do saber, devidamente nomeado pelo juiz,
que deve registrar sua opinião técnica e científica no chamado laudo pericial – que
poderá ser objeto de discussão pelas partes e seus assistentes técnicos. (DIDIER
JR., 2010, p. 225)

Ou seja, a perícia é o exame, a pesquisa, para mostrar o fato, quando não há


meio de prova documental para tanto, assim, ainda que o magistrado não fique
adstrito ao laudo apresentado pelo perito, a perícia é de suma importância para a
formação da sua convicção e posterior tomada de decisão.

A perícia médica pode ser conceituada como a análise técnica de profissional


médico, preferencialmente especialista no tipo de patologia, que emitirá parecer
sobre as condições de saúde do obreiro e se a patologia impõe algum tipo de
67

limitação a ele. Ou seja, a perícia médica analisa estritamente a questão


biológica/patológica do obreiro, sem levar em consideração as demais condições
sociais, habituais e laborais.

Quando da data da perícia no INSS, deve o segurado levar consigo toda a


documentação médica que possuir relativa à enfermidade que o tornou incapaz,
desde o diagnóstico até os dias atuais, especialmente seu prontuário médico. É que
o prontuário médico é considerado, pelo Conselho Federal de Medicina, como
“decisivo em qualquer diagnóstico” que envolva a análise da saúde do trabalhador
(artigo 2º da Resolução n. 1.488/1998 do CFM).

Muitos problemas surgem na perícia do INSS com a falta de apresentação de


documentos médicos. Isso porque o perito fica sem subsídios para constatar se
existem ou não condições de a pessoa voltar ao trabalho. Se o segurado não leva
nada, o risco de indeferimento ou cessação do benefício por incapacidade é grande.

Importante ressaltar que a concessão judicial de benefícios por incapacidade


não impede a revisão administrativa pelo INSS, mesmo durante o curso da demanda
judicial.

Frise-se ser possível recorrer na via administrativa do Laudo de Perícia


Médica do perito do INSS ou, ainda, judicialmente.

Tratando-se de perícia feita no órgão previdenciário, verifica-se ser quase


impossível exigir que o perito seja um especialista no ramo da Medicina que envolve
a enfermidade. Não obstante, incumbe ao perito identificar de forma precisa o
conjunto de atividades (tarefas, atribuições) desenvolvidas pelo segurado, e não
apenas se limitar a reproduzir o nome da função exercida, pois a conclusão acerca
68

da incapacidade para o trabalho habitual ou sobre o nexo de causalidade não pode


prescindir de tais informações.

O perito médico deve obrigatoriamente fixar a DID (data de início da doença)


e a DII (data de início da incapacidade) nos exames iniciais de concessão de
benefício por incapacidade, já que tais informações são essenciais para análise de
dispensa do período de carência ou em casos de doença com início anterior ao
ingresso no RGPS.

Acerca do resultado da perícia médica, existem quatro possibilidades de


conclusão de seu exame, segundo o Manual de Perícias do INSS:

Tipo 1 Contrária

Tipo 2 Data de Cessação do Benefício (DCB)

Tipo 3 Contrária (gravidez fisiológica)

Tipo 4 Data da Comprovação da Incapacidade (DCI)

A conclusão com DCB nos reexames de segurados aposentados por invalidez


poderá ocorrer nos casos de determinação legal ou quando houver solicitação por
parte do aposentado, visando a verificação da reaquisição da capacidade parcial ou
total para o exercício de sua ou de outra atividade.

Antes de proferir a conclusão médico-pericial é facultado à perícia médica a


requisição de exames complementares e especializados que julgar indispensáveis,
de acordo com as normas técnicas.

Da decisão decorrente do laudo o segurado será comunicado por via postal,


em regra. Se a decisão for favorável, indicará a espécie de benefício deferido e a
69

data de início do benefício (DIB). Se for desfavorável, indicará o motivo do


indeferimento (falta de incapacidade, ausência de qualidade de segurado ou
carência, por exemplo).

No âmbito judicial, o laudo pericial médico tem um grande peso, mas o


magistrado não está necessariamente vinculado ao resultado do exame técnico,
podendo apreciar todas as provas constantes dos autos para formar seu
convencimento, nos termos dos artigos 479 e 371 do CPC/2015:

Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no


art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou
a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o
método utilizado pelo perito.

Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos,


independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na
decisão as razões da formação de seu convencimento.

Neste sentido:

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO


ART. 535 DO CPC. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. INCAPACIDADE
PARCIAL. CONSIDERAÇÃO DOS ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS,
PROFISSIONAIS E CULTURAIS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O
Tribunal de origem deixou claro que, na hipótese dos autos, o autor não
possui condições de competir no mercado de trabalho, tampouco
desempenhar a profissão de operadora de microônibus. 2. necessário
consignar que o juiz não fica adstrito aos fundamentos e à conclusão do
perito oficial, podendo decidir a controvérsia de acordo o princípio da livre
apreciação da prova e do livre convencimento motivado. 3. A concessão da
aposentadoria por invalidez deve considerar, além dos elementos previstos
no art. 42 da Lei n. 8.213/91, os aspectos socioeconômicos, profissionais e
culturais do segurado, ainda que o laudo pericial apenas tenha concluído
pela sua incapacidade parcial para o trabalho. Precedentes das Turmas da
Primeira e Terceira Seção. Incidência da Súmula 83/STJ Agravo regimental
improvido.

(AGARESP - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL - 384337 2013.02.71311-6, HUMBERTO MARTINS, STJ -
SEGUNDA TURMA, julgado em 01/10/2013, DJE DATA:09/10/2013
..DTPB:.)
70

Sendo assim, a aposentadoria por invalidez poderá ser concedida pelo juiz,
ainda que a incapacidade total e permanente não seja constatada pelo médico
perito, cuja concessão se fará por análise de outros fatores.

4.2 Perícia Biopsicossocial

A perícia biopsicossocial é realizada em dois momentos. Além do parecer de


médico perito, que apontará qual a patologia que o obreiro apresenta e quais as
possíveis limitações que ela o impõe, é emitido parecer por assistente social, que
analisará as condições sociais, atitudinais, ambientais e laborais.

Nesse viés, pode-se conceituar a perícia social como:

Processo metodológico de especialidade do assistente social que tem por


finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada
situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional.
(CFESS, 2007, p. 42)

Ou seja, através da perícia biopsicossocial, além das informações prestadas


pelo perito médico, o servidor da previdência social, assim como o juiz de direito,
tem uma análise completa da vida do requerente, podendo realizar uma análise
muito mais ampla e abrangente da situação do obreiro e, se de fato existe a
incapacidade laboral, se é total ou parcial e se é definitiva ou temporária.

Agregado à situação dos benefícios por incapacidade sejam os mais


procurados em todo sistema previdenciário, há também, problemas sociais, tais
como: a precarização das relações de trabalho, a informalidade, a precariedade da
71

assistência à saúde e altos índices de acidentes e doenças relacionadas ao


trabalho.

Esse quadro delineou mudança significativa no conceito jurídico e na contingência


decorrente da incapacidade laborativa. Interessante observar que o fenômeno
abrange e impacta os direitos previdenciário, do trabalho e constitucional, além de
também ser norteado pela medicina do trabalho, o direito assistencial e a
sociologia. (OLIVEIRA, 2013)

Em razão dessas mudanças, exigiu para o direito previdenciário a


necessidade de se buscar um modelo mais justo, e assim, ir ao encontro da perícia
biopsicossocial, de modo a suprir as necessidades impostas pelas metamorfoses
sociais.

A incapacidade é um requisito subjetivo, pois dependerá do avaliador, se a


incapacidade do segurado é para a realização do trabalho habitual ou para qualquer
atividade remunerada ou, a incapacidade ser temporária ou permanente. Ainda sim,
neste aspecto é possível determinar o benefício que será concedido.

A dificuldade reside no conflito dos critérios a serem adotados para avaliar o


requisito incapacidade. Poderá o segurado ser incapacitado para realizar seu
trabalho habitual de modo permanente ou incapacitado de exercer qualquer
atividade remunerada temporariamente, pois com o tratamento poderá capacitar o
segurado a exercer outra atividade remunerada após a reabilitação profissional.

O texto de lei ao exigir a incapacidade do segurado para o exercício de


atividade laborativa, esta incapacidade não se limita apenas a incapacidade de
saúde sob a óptica médica, mas uma incapacidade que o segurado esteja
acometido diante de fatores que o incapacitem de exercer atividade laborativa para a
sua subsistência, podendo ser de caráter psicológico e/ou social, os quais poderão
ter ou não relação com a incapacidade sob o crivo médico.
72

A jurista Lizarb Cilindro Cardoso (S.d, A Perícia Médica Complexa


(biopsicossocial) à Luz do Modelo Integrador de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde, Instituído pela OMS) “a partir da quebra do paradigma da perícia biomédica,
erigiu-se no ordenamento jurídico a consciência de que a PERÍCIA BIOMÉDICA não
mais se apresenta como instrumento suficiente para dizer da incapacidade ou
deficiência de determinado indivíduo, sendo de rigor a avaliação da incapacidade e
da funcionalidade por meio de interação dinâmica entre fatores ambientais e
pessoais de cada indivíduo – PERÍCIA BIOPSICOSOCIAL, instituída pela OMS por
meio da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF),
em complementação à Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde, relativa à décima revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10).”

Assim, considerando o insucesso do modelo pericial vigente, a perícia


biopsicossocial vem sendo utilizada como meio de suprir as carências deixadas pelo
modelo pericial usual complementando as informações relativas à situação social do
segurado em cada caso concreto.

Dessa forma, tornou-se imperativo que a perícia, tanto na via administrativa


quanto na via judicial (que destarte não mais se limitam à análise acerca das
condições de saúde), seja considerada complexa de modo a analisar a condição
biopsicossocial, ou seja de maneira interdisciplinar, conjuntamente com a CID-10,
que fornece um modelo etiológico das condições de saúde.

O modelo pericial atual possui análise que se delimita a condição patológica


do segurado, esquecendo de todos os aspectos individuais e sociais que envolvem o
caso, tornando o parecer que auxiliará para a tomada de decisão um tanto quanto
incompleto.
73

E é justamente para preencher esta lacuna que a perícia biopsicossocial,


complexa se faz necessária, contribuindo para uma análise mais ampla e completa
do caso concreto e, invariavelmente, em decisões com maior embasamento e mais
justas.

4.2.1 A importância da Perícia Biopsicossocial para a Concessão da


Aposentadoria por Invalidez

Há casos que a doença em si não incapacita o indivíduo para o trabalho,


porém, outros aspectos fazem com que o segurado não tenha outra opção, senão se
socorrer da Previdência a fim de garantir a sua própria subsistência.

Segundo José Ricardo Caetano Costa (2014, Perícia Biopsicossocial –


Perspectiva de Um Novo Modelo Pericial), jurista previdenciário, “diante do
sistema pericial vigente e de seus desastrosos resultados, ponto este inquestionável,
parece que podemos partir da premissa de que esse sistema não atende aos fins a
que se propõe”.

A perícia biomédica é aquela que analisa a incapacidade física do segurado,


a perícia psicológica, por sua vez, analisará a incapacidade psicológica do segurado,
independente da primeira perícia. A perícia social, e não menos importante,
analisará as questões sociais que acometem o segurado, seja este incapaz ou não
física e psicologicamente.

Vale ressaltar que, o conceito de incapacidade e de deficiência sofreu uma


significativa alteração, notadamente a partir de 2001 quando a Organização Mundial
74

da Saúde (OMS) emitiu a CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade,


Incapacidade e Saúde.

O fundamento desta classificação, que deve ser vista conjuntamente com a CID-
10, vez que esta fornece um modelo etiológico das condições de saúde, repousa
na fixação dos critérios de avaliação fundados em dois domínios: funções e
estruturas do corpo e, atividades e participação (CIF-CJ, 2011, p.35)

Assim, o perito deveria ter ciência de que a manifestação no laudo médico


pericial não terá sentido se desprezar o universo social e a história de vida da
pessoa examinada, devendo identificar as reais condições que a pessoa tem de
desempenhar uma atividade profissional digna e que não lhe custe o agravamento
de seu quadro clínico.

A avaliação por meio da CIF possibilita agregar outros elementos


relacionados ao estado de saúde, apontando novas diretrizes ao que se denomina
de incapacidade e deficiência, vejamos:

“(1) Funções e estruturas do Corpo e (2) Atividades e participação. Como uma


classificação, a CIF agrupa sistematicamente diferentes domínios de uma pessoa
em uma determinada condição de saúde (e. g., o que uma pessoa com uma
doença ou transtorno faz ou pode fazer). Funcionalidade é um termo que abrange
todas as funções do corpo, atividades e participação; de maneira similar,
incapacidade é um termo que abrange deficiências, limitação de atividades ou
restrição na participação. A CIF também relaciona os fatores ambientais que
interagem com todos estes construtos.” (CIF-201, p. 35).

Nesta linha, através da CIF – 2011, é possível afirmar que duas pessoas com
a mesma doença não equiparem-se em seus níveis de funcionamento, assim como
duas pessoas com o mesmo nível de funcionamento não equiparam-se,
necessariamente, quanto as questões de saúde.
75

A aplicação da CIF no âmbito da Previdência Social, na Saúde e na


formulação de políticas públicas, conforme o próprio documento refere:

A CIF é útil para uma ampla gama de aplicações diferentes, por exemplo,
previdência social, avaliação do gerenciamento da assistência à saúde e estudos
de população em níveis local, nacional e internacional. Oferece uma estrutura
conceitual para as informações aplicáveis à assistência médica individual,
incluindo prevenção, promoção da saúde e melhoria da participação, removendo
ou mitigando os obstáculos sociais e estimulando a provisão de suportes e
facilitadores sociais. Ela também é útil para o estudo dos sistemas de assistência
médica, tanto em termos de avaliação como de formulação de políticas públicas.
(CIF-2011, p. 38)

A realidade dos fatos denuncia que o perito médico não possui condições de
avaliar sozinho uma realidade acerca da capacidade laborativa, que é demais
complexa e interdisciplinar, vez que não se trata somente de conceitos médicos,
mas uma série de outros fatos que o perito não consegue averiguar, é que o sistema
pericial atual está tão defasado.

É por demais presunçoso e arrogante entender que, sozinho, o perito medico


poderá avaliar a complexidade trazida pela falta de saúde do trabalhador. A
questão que está posta em jogo não é somente a patologia que o segurado
possui, a doença que lhe acomente. Esse aspecto o perito médico pode sim
constatar. Não poderá, como tentamos demonstrar, avaliar todas as demais
circunstâncias e aspectos que envolvem o caso concreto daquele segurado,
daquele trabalhador que está buscando um benefício por incapacidade
(temporária ou não), por entender que não possui saúde suficiente para laborar.
(COSTA, 2013, p. 47)

Diante disso, poderia-se afirmar que o modelo de perícia médica vigente


fracassou há muito tempo, considerando os resultados desastrosos e o crescente
ajuizamento de demandas previdenciárias.

O sistema deve avaliar a capacidade laboral dos trabalhadores e dos


segurados que buscam a proteção social, não somente detectando as patologias,
mas avaliando se elas acarretam ou não no comprometimento da capacidade
laboral.
76

O legislador determinou que o segurado deverá estar incapacitado e sem


possibilidade de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a
subsistência. O atual entendimento estrutura-se na visão ultrapassada de avaliar a
incapacidade do segurado somente pela visão médica e da saúde do segurado
limitando-se apenas ao aspecto pessoal do segurado e, a relação segurado/doença
e incapacidade.

Entretanto, deve ser considerado o indivíduo de modo global, ou seja,


considerando aspectos sociais, ambientais, pessoais, profissionais e culturais do
segurado.

Nesta linha, também se posiciona o Superior Tribunal de Justiça, cuja corte


detêm o entendimento acerca da desnecessidade da vinculação do magistrado à
prova pericial na área médica, se existente outros elementos nos autos aptos à
formação do seu convencimento, podendo, inclusive, concluir pela incapacidade
permanente do segurado em exercer qualquer atividade laborativa, não obstante a
perícia médica conclua pela incapacidade parcial.

O STJ também firmou orientação de que para a concessão de aposentadoria


por invalidez, na hipótese do laudo pericial ter concluído pela incapacidade parcial,
devem ser considerados além dos elementos previstos no artigo 42 da Lei nº
8.213/91, os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado.

No âmbito dos Juizados, a Turma Nacional de Uniformização se posicionou


no sentido de que a incapacidade para o trabalho é fenômeno multidimensional e
não pode ser avaliada somente do ponto de vista médico, devendo ser analisados
também os aspectos sociais, ambientais e pessoais, ou seja, há a necessidade de
avaliar a real possibilidade do segurado reingressar ao mercado de trabalho.
77

O entendimento da TNU decorre do posicionamento oriundo da Organização


Internacional do Trabalho e do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Dessa forma, a perícia deve ser complexa, não bastando a perícia médica
para o fim a que se destina, quando tratamos de deferimentos nos benefícios por
incapacidade, em especial, nos benefícios de Aposentadoria por Invalidez.

Será na perícia médica complexa (biopsicossocial) que será possível verificar


a realidade que não pode ser avaliada somente por um único profissional, mesmo
que a patologia esteja dentro de sua especialidade, já que se trata de uma situação
interdisciplinar.

Não restam dúvidas de que a participação do Assistente Social é de suma


importância na concessão dos benefícios previdenciários de forma geral, mas, em
especial, naqueles que são concedidos em razão da incapacidade. Por exemplo:

“Considera-se dois segurados, ambos amputados de um membro inferior e


aposentados por invalidez. O primeiro possui um razoável ambiente familiar, social
e econômico. Não possui problemas de deslocamento, pois seu bairro é servido
de ônibus e não possui dificuldade de acessa-los. Este segurado não tem nenhum
problema de deslocamento, podendo fazê-lo em dificuldade, mas transpõem com
facilidade essa barreira. Com a mesma patologia, o outro reside precariamente na
periferia da cidade, com uma estrutura familiar corroída pelo tempo, cuja
separação de sua esposa e de seus filhos foi inevitável. Não acessa aos
programas sociais de transferência de renda e de inclusão social por falta de
esclarecimento e acompanhamento social, não consegue descolar-se em virtude
de não existir transporte público que sirva seu bairro, entre outros aspectos
circundantes. ” Caetano Costa, José Ricardo (2014, Perícia Biopsicossocial –
Perspectiva de um Novo Modelo Pericial).

É possível concluir que, ambos, com a mesma patologia, aposentados por


invalidez, tendo a mesma renda em seus benefícios, possuem outras características
que diferem suas necessidades; sendo que o primeiro segurado não necessita de
78

auxílio de terceiros para executar as mínimas funções diárias, porém o segundo, se


vê necessitado de acompanhamento sob pena de ingressar em estado de
vulnerabilidade.

É importante ressaltar, que as circunstâncias sociais, atitudinais e ambientais


do caso concreto, em especial no segundo caso, a precariedade do segurado,
conclusão que somente é possível após o estudo realizado pelo perito assistente
social.

No entanto, a perícia biopsicossocial já vem sendo aplicada nos casos de


Benefício Assistencial de Prestação Continuada – BPC/LOAS e se trata de uma
perícia complexa, onde o perito não se limita somente aos problemas de saúde ou
problemas do corpo do segurado/trabalhador, mas também considera seus aspectos
psicológicos e sociais.

Evidente que, tanto na esfera administrativa como na judicial, caso não


tivesse sido demonstrada a realidade social do caso, o segundo segurado,
certamente, seria lesado pela falta de informações prestadas pela perícia,
acarretando no indeferimento do benefício pleiteado.

Assim, o destino da vida do segurado depende dessa decisão. Quando o


servidor da autarquia previdenciária ou, especialmente, o juiz analisa um processo
onde está sendo pleiteado um benefício por incapacidade, muito será decidido,
podendo até mesmo salvar vidas ou causar mortes.

Por tratarmos de questões como a vida, dignidade, cidadania, palavras que


não são meros conceitos, torna-se praticamente impossível manter a perícia
biomédica como suficiente para determinar a incapacidade ou a deficiência de
determinado indivíduo.
79

Até mesmo porque, segundo José Ricardo Caetano Costa (2014, Perícia
Biopsicossocial – Perspectivas de um novo modelo pericial, p. 118), “é possível que
o indivíduo não tenha nenhuma patologia e seja considerado incapaz, haja vista uma
série de barreiras sociais, limites pessoais e familiares, por exemplo, que conduzem
a essa condição”.

Então, constatada a existência da patologia não é pressuposto de


incapacidade ou de invalidez. Sendo necessário o estudo dos aspectos sociais,
pessoais e ambientais.

Desta forma, a perícia biopsicossocial é instrumento indispensável à análise


dos benefícios concedidos em razão da incapacidade do segurado, já que as
circunstâncias decorrentes da vida que ele leva são tão determinantes quanto à
patologia que lhe aflige.

Sendo assim, pode-se afirmar que o Perito Médico não pode afirmar se o
indivíduo está ou não incapaz ou se é ou não deficiente. Ele pode, e deve, dentro da
especialidade que lhe compete e, segundo a qual é credenciado para realizar seu
trabalho, relatar as perdas anatômicas e as reduções dos órgãos do corpo. Nada
mais. Se constatar isso fará a sua parte.

Quanto ao Parecer Social, caberá ao Assistente Social ou outro profissional,


se a especialidade assim o requer (terapeuta ocupacional, psicólogo, etc.), fornecer
os outros dados relacionados ao campo social, pessoal e ambiental.

Entretanto, para que possamos ter uma análise processual mais efetiva, a
mudança cultural e filosófica também deve ser alterada, pois somente com uma
80

postura humanista se tornará possível estabelecer essa nova relação, concepção


ainda pouco presente tanto no âmbito administrativo quanto no judiciário.

Diante do exposto, sem esta mudança a realização da justiça social


continuará comprometida e será mero jogo de palavras. Os números relatam e
continuarão a relatar, tanto abstrata como quantitativamente, que o número de
demandas nos Juizados Especiais é expressivo, encobrindo o desastre destes
quando avaliados na ótica de uma prestação jurisdicional seria, eficaz e eficiente.
81

CONCLUSÃO

Os direitos sociais no Brasil e no Mundo apresentaram grande evolução com


o decorrer dos anos. No território nacional, no que se refere aos direitos sociais,
basta realizar uma análise das mudanças constitucionais e legislativas para
perceber que vivemos em uma sociedade muito mais protetora em relação aos
tempos passados.

Com relação à Previdência Social, houve essa evolução e crescimento à


proteção dos direitos sociais, na implementação de novos benefícios e estendendo
os já existentes para outras categorias de contribuintes.

Ainda que constantemente se busca uma sociedade mais igualitária e com


condições mais dignas de se viver, sempre existirá lacunas a serem preenchidas.

Quanto aos benefícios concedidos por incapacidade, em especial, pleiteados


pelos cidadãos que por algum infortúnio tem sua capacidade laboral reduzida,
limitada ou até mesmo extinta, não é plausível que com tantas mudanças nas
esferas sociais, laborais, tecnológicas e médicas continua-se a analisar, avaliar e
decidir sobre a incapacidade laborativa e, consequentemente, os seus futuros da
mesma forma que ocorria há cinco, dez ou vinte anos atrás.

As atividades das funções laborais do trabalhador já não são mais exercidas


como antigamente, a medicina já possui outros tratamentos e técnicas para
combater as mais diversas enfermidades podendo alcançar até mesmo a cura,
assim como existem outras patologias que afetam somente uma parcela da
sociedade que não era afetada anteriormente, tendo em vista que a desigualdade
82

social continua a aumentar. Então, concluímos que, é notório que análise para a
concessão ou não dos benefícios não pode ser decidida com base no mesmo meio
probatório de outrora.

Ainda que atualmente essa perspectiva seja cada vez mais evidente, o
modelo pericial tem se apresentado ineficiente há muito tempo, principalmente
quando tratamos das pericias médicas realizadas na seara administrativa, já que os
peritos, na maioria das vezes, não são especialistas na patologia apresentada pelo
segurado.

Embora a perícia médica judicial seja realizada de forma mais detalhada,


também não tem contemplado toda a complexidade dos casos de concessão de
benefício por incapacidade na maioria dos casos. Mesmo que judicialmente sejam
nomeados peritos especialistas na patologia apresentada pelo autor da demanda,
conclui-se que o conhecimento médico é insuficiente para determinar de forma
precisa o grau de incapacidade apresentado.

Dessa forma, a perícia médica complexa, também denominada como perícia


biopsicossocial, tem se apresentado como o instrumento necessário para a
complementação do meio probatório, capaz de preencher a lacuna deixada pelo
modelo pericial vigente, e assim, tornou-se a análise para a concessão dos
benefícios previdenciários por incapacidade mais justa.

Ademais, se o processo na esfera administrativa se torna mais eficiente, o


que na verdade deveria ser a regra, certamente reduzirá drasticamente os
ajuizamentos, e assim desafogará a máquina judiciária, a qual por inúmeros motivos
está morosa demais para julgar, principalmente as causas que versem sobre direitos
basilares como são os alimentos.
83

Conclui-se que, com a perícia biopsicossocial, no âmbito administrativo, torna


os processos administrativos mais eficazes, com análise de toda a complexidade
que envolve a situação do segurado, pois além da análise biológica por médico
perito, também é demonstrado as condições sociais por perito assistente social, a
fim de trazer ao conhecimento do servidor analista da previdência social todas as
informações necessárias para a correta análise do processo e solucionar de forma
eficaz os processos de concessão dos benefícios por incapacidade, além de ser um
meio de diminuir a demanda da máquina judiciária, e; no âmbito do Poder Judiciário,
de igual modo traz ao juiz de direito elementos suficientes para a correta análise do
processo e solucionar de forma eficaz os processos de concessão dos benefícios
por incapacidade.
84

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