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Universidade Federal do Maranhão

Centro de Ciências Sociais

Curso de Direito

Gabriel Oliveira Ribeiro

DIREITOS SOCIAIS

Trabalho voltado à complementação de


carga horária da disciplina de Direito
Constitucional III, ministrada pela proª
Maria da Conceição.

São Luís – MA

2017
1. Noções Gerais

O Estado Social de Direito teve como desdobramento alguns direitos consagrados em


Constituições como as de México (1917), Alemanha (1919) e Brasil (1934). Os direitos
sociais estão arrolados no art. 6º da Constituição da República de 1988, na redação dada pelas
Emendas Constitucionais nº 26/2006 e nº 64/2010, delimitados em título próprio, sendo eles:
educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social,
proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Sobre o tema, José Afonso da Silva expõe que os direitos sociais “disciplinam
situações subjetivas pessoais ou grupais de caráter concreto”, completando que “os direitos
econômicos constituirão pressuposto da existência dos direitos sociais, pois sem uma política
econômica orientada para a intervenção e participação estatal na economia não se comporão
as premissas necessárias ao surgimento de um regime democrático de conteúdo tutelar dos
fracos e dos mais numerosos” (p. 1280).

Lenza (2015) coloca em termos

Assim, os direitos sociais, direitos de segunda dimensão,


apresentam-se como prestações positivas a serem
implementadas pelo Estado (Social de Direito) e tendem a
concretizar a perspectiva de uma isonomia substancial e social
na busca melhores e adequadas condições de vida, estando,
ainda consagrados como fundamentos da República Federativa
do Brasil [...]. (LENZA, p.1280)

Por serem direitos fundamentais, os direitos sociais têm aplicação direta e imediata,
observando-se a reserva do possível, e podem ser invocados, no caso de omissão legislativa,
através das técnicas de controle de constitucionalidade, especificamente, o mandado de
injunção ou a ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

Os direitos sociais pertencem à segunda dimensão de Direitos Fundamentais, que


está ligada ao valor da igualdade material. Não são meros poderes de agir, mas, em regra,
poderes de exigir, chamados, também, de direitos de crédito.
Em que pese a responsabilidade pela concretização destes direitos possa ser
partilhada com a família (no caso do direito à educação), é o Estado o responsável pelo
atendimento dos direitos fundamentais de segunda dimensão, ou seja, ele é o sujeito
passivo.

Em didática definição, André Ramos Tavares conceitua direitos sociais como


direitos “que exigem do Poder Público uma atuação positiva, uma forma atuante de Estado
na implementação da igualdade social dos hipossuficientes. São, por esse exato motivo,
conhecidos também como direitos a prestação, ou direitos prestacionais”. Alguns autores
classificam os direitos sociais como sendo liberdades positivas.

Também nesse caminho José Afonso da Silva, para quem os direitos sociais

são prestações positivas proporcionadas pelo Estado


direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais,
que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos,
direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais
desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de
igualdade.

De fato, os direitos sociais exigem a intermediação dos entes estatais para sua
concretização; consideram o homem para além de sua condição individualista, e guardam
íntima relação com o cidadão e a sociedade, porquanto abrangem a pessoa humana na
perspectiva de que ela necessita de condições mínimas de subsistência.

Se, de um lado, os direitos individuais servem ao fim de proporcionar liberdade ao


indivíduo, limitando a atividade coercitiva do Estado, os direitos sociais, de outro, visam
assegurar uma compensação das desigualdades fáticas entre as pessoas, que apesar de
pertencerem a sociedades complexas, “possuam prerrogativas que os façam reconhecer-se
como membros igualitários de uma mesma organização política”.

1. Direitos Sociais em espécie


1.1. Educação – direito de todos e dever do Estado e da família, a educação
deve ser promovida de maneira conjunta com a sociedade, objetivando o pleno
desenvolvimento das pessoas, tanto no âmbito laboral quanto em relação ao exercício
da cidadania.

1.2. Saúde – também é direito de todos e dever do Estado, tendo como


meios de garantia as políticas e econômicas que visem à diminuição do disco de
enfermidades e obstáculos ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação. Cabe ao Poder Público dispor, na forma da lei,
sobre a regulamentação, fiscalização e controle das ações e serviços de saúde, o que
pode ser executado diretamente ou por terceiros, pessoa física ou jurídica. Ressalte-se
a dupla vertente do direito à saúde: negativa, visto que nem o Estado nem particular
podem praticar atos que prejudiquem a saúde alheia; e positiva, pois o Estado deve
prestar os serviços e ações de saúde.

1.3. Alimentação – antes da incorporação ao ordenamento constitucional


brasileiro através da EC nº 64/2010, o direito à alimentação já era assegurado pela Lei
nº 11.346/2006, criando o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(SISAN), que em seu art. 2º já tinha o direito em tela como inerente à dignidade da
pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Carta da
República, assistindo ao Poder Público adotar as políticas e ações necessárias para
promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população.

1.4. Trabalho – a existência digna, a valorização do trabalho humano e a


livre-iniciativa devem ser resguardadas, devendo o Estado fomentar uma política
econômica não recessiva, observando os princípios da ordem econômica como, por
exemplo, a busca do pleno emprego.

1.5. Moradia – apesar de introduzido no ordenamento constitucional


somente através da EC nº26/2000, esse direito já se manifestava através do art. 23, IX,
da CR/88, que dá competência aos entes administrativos têm competência
administrativa para promover programas de construção de moradias e melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico. Levando em consideração a ideia de
dignidade humana, direito à intimidade e à privacidade, e ser a casa asilo inviolável do
homem, indubitavelmente, o direito à moradia visa à consagração o direito à habitação
digna e adequada.
1.6. Lazer – é o direito ao ócio, diferentemente de “recreação”, que é a
entrega ao divertimento. Segundo José Afonso da Silva, “lazer e recreação são funções
urbanísticas, daí por que são manifestações do direito urbanístico”, e sua natureza
decorre do fato de que constituem prestações do Estado que têm influência nas
condições de trabalho e com a qualidade de vida, donde sua relação com o direito ao
meio ambiente sadio e equilibrado. Consta no art. 217, § 3º, CR/88, que cabe ao Poder
Público incentivar o lazer como forma de promoção social.
1.7. Segurança – aparece no caput do art. 5º, nesse caso, referindo-se à
segurança individual, ao que no art. 6º aproxima-se da ideia de segurança pública, que
como dever estatal, aparece como direito e responsabilidade de todos, sendo exercido
nos termos do art. 144, caput, para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e de seu patrimônio.
1.8. Previdência – tomando as lições de José Afonso da Silva, tem-se
Previdência Social como o conjunto de direitos relativos à seguridade social, sendo
manifestação desta, tende a ultrapassar a mera concepção de instituição do Welfare
State, sem, entretanto, assumir características socializantes.
1.9. Proteção à maternidade e à infância – tendo como referência a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), o texto da CR/88 consagrou a
proteção à maternidade como indiscutível direito social, tendo natureza de direito
previdenciário e direito assistencial. A teor do art. 201, II, a proteção à maternidade
deverá ser atendida pela previdência social, sendo um dos objetivos da assistência
social. Ademais, o art. 7º, por exemplo, estabeleceu a licença-maternidade como um
dos direitos dos trabalhadores, assim como a licença-paternidade, além do §3º do art.
39, que também garantiu a licença à gestante à servidora pública (120 dias) e licença-
paternidade ao servidor (5 dias). A licença incide também nos casos de adoção. No
que tange à proteção à infância, pode-se dizer que tem natureza assistencial, havendo
expressa previsão de proteção à criança, ao adolescente e ao jovem nos termos do art.
227, com redação dada pela EC nº 65/2010.
1.10. Assistência aos desamparados – materializado pelo art. 203 ao estatuir
que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social. Ademais, de acordo com o disposto no art. 204, as
ações do governo na área da assistência social serão realizadas com recursos do
orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes.
1.11. Direitos relativos aos trabalhadores – estão relacionados nos arts. 7º
ao 11 da CR/88, dividindo-se em dois tipos, quais sejam direitos sociais individuais
dos trabalhadores e direitos coletivos dos trabalhadores, subdividindo-se estes em
direito de associação profissional ou sindical, direito de greve, direito de substituição
processual, direito de participação, direito de representação classista.

a) Direitos sociais individuais dos trabalhadores: relação de emprego protegida contra


despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, dentre outros direitos; seguro-desemprego, em caso de
desemprego involuntário, fundo de garantia do tempo de serviço; salário mínimo
fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e as de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; piso
salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; irredutibilidade do
salário, salvo disposto em convenção ou acordo coletivo; garantia de salário, nunca
inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; décimo terceiro
salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; remuneração
do trabalho noturno superior à do diurno; proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa; participação nos lucros, ou resultado,
desvinculada da remuneração, e excepcionalmente, participação na gestão da empresa,
conforme definido em lei; salário-família pago em razão do dependente do trabalhador
de baixa renda nos termos da lei; duração do trabalho normal não superior a oito horas
diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução
da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; jornada de seis horas
para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
coletiva; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; remuneração
do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;
gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal; licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de
120 dias; licença-paternidade, nos termos fixados em lei, atualmente de 5 dias, de
acordo com o art. 10, §1º, ADCT; proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos, nos termos da lei; aviso prévio proporcional ao tempo
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; adicional de
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
aposentadoria; assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até
cinco anos de idade de idade em creches e pré-escolas; reconhecimento das
convenções e acordos coletivos de trabalho; proteção em face da automação, na forma
da lei; seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; ação, quanto
aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho; proibição de diferença de salários, de exercício de funções e
de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; proibição de
qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência; proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
intelectual ou entre os profissionais respectivos; proibição de trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; igualdade de
direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso.

São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos
IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX,
XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do
cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de
trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem
como a sua integração à previdência social.

b) Direitos coletivos dos trabalhadores: direito de associação profissional ou sindical;


direito de greve; direito de substituição processual; direito de participação; direito de
representação classista.

b.1) Direito de associação profissional ou sindical – está prevista no art. 8º, caput, esse
direito deve ser exercido observando as seguintes regras: a lei não poderá exigir
autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência na organização sindical; é vedada a
criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores
ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; ao
sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas; a assembleia geral fixará a contribuição
que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do
sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da
contribuição prevista em lei; ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
sindicato; é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; é vedada a
dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção
ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

As disposições postas no aludido artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de


colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

b.2) Direito de greve – é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores


decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
defender (art. 9º). A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, sendo que os abusos cometidos
sujeitam os responsáveis às penas da lei.

b.3) Direito de substituição processual – nos termos do art. 8º, III, ao sindicato cabe a
defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões
judiciais ou administrativas, portanto, segundo o STF os sindicatos têm legitimidade
processual para atuar na defesa de todos e quaisquer direitos subjetivos individuais e
coletivos dos integrantes da categoria por ele representada.

b.4) Direito de participação – é assegurada a participação dos trabalhadores e


empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
previdenciários sejam objeto de discussão (art. 10).

b.5) Direito de representação classista – nas empresas de mais de 200 empregados, é


assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-
lhes o entendimento direto com os empregadores (art.11)

REFERÊNCIAS

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015

PESSOA, Eudes Andre. A Constituição Federal e os Direitos Sociais Básicos ao Cidadão


Brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 89, jun 2011. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9623>. Acesso em jun 2017.

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