Você está na página 1de 5

As dimensões dos direitos fundamentais

Breve introdução aos direitos fundamentais

Os direitos fundamentais são os direitos vigentes em uma ordem jurídica


específica, ou seja, se trata dos direitos do homem jurídico - este conceito é estranho,
seria melhor dizer “pessoa”, amparados objetivamente em determinada ordem jurídica
concreta e institucionalizados. Em suma, os direitos fundamentais são um instrumento
de proteção do indivíduo em face da atuação do estado, sendo o mínimo fundamental
para que o cidadão possa ter uma vida digna. Baseado nisso, é essencial compreender
que esses direitos objetivamente reconhecidos e positivados são espacial e
temporariamente delimitados. Nas palavras do Prof. Uadi Lamêgo Bulos (2017, Pp. 69),
os direitos fundamentais são:
Além de fundamentais, inatos, absolutos, invioláveis, intransferíveis,
irrenunciáveis e imprescritíveis, porque participam de um contexto histórico,
perfeitamente delimitado. Não surgiram à margem da história, porém, em
decorrência dela, ou melhor, em decorrência dos reclamos da igualdade,
fraternidade e liberdade entre os homens. Homens não no sentido de sexo
masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os direitos fundamentais do
homem, nascem, morrem e extinguem-se. Não são obra da natureza, mas das
necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender do influxo
do fato social cambiante.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os direitos e garantias


fundamentais deixam de ser apenas um status privilegiado na ordem jurídicao brasileira,
sendo a primeira vez que uma Constituição entre nós utiliza o termo direitos
fundamentais. Todavia, seu significado caminha muito além da questão terminológica,
pois a migração destes direitos para sua parte inicial, logo depois dos princípios
fundamentais, expressa que a ordem constituinte possui como o seu núcleo essencial os
princípios e direitos fundamentais. (Sarlet, 2012).

Primeira geração

Conforme a observação de Bonavides (2002), o lema da Revolução Francesa


antecipou o desenvolvimento histórico da gradual consolidação dos Direitos
Fundamentais, resultando na sua categorização em três gerações sucessivas: os direitos
de liberdade, igualdade e fraternidade.

1
Os direitos da primeira geração, também conhecidos como direitos de
liberdade clássicos, se referem às liberdades fundamentais que enfatizam o princípio da
liberdade individual, abrangendo os direitos civis e políticos. Eles tiveram sua origem
no final do século XVIII como uma resposta do Estado liberal ao Absolutismo,
desempenhando um papel dominante no século XIX e marcando o início da era
constitucional no Ocidente. Esses direitos surgiram como resultado das revoluções
liberais na França e nos Estados Unidos, quando a classe burguesa demandou o respeito
pelas liberdades individuais e a consequente restrição dos poderes absolutos do Estado.
São direitos que se opõem principalmente ao Estado, caracterizando-se como direitos de
resistência que ressaltam a clara separação entre o Estado e a sociedade. Eles exigem do
aparato estatal, acima de tudo, uma atitude de não interferência, em vez de ações
afirmativas, possuindo, portanto, uma natureza negativa e tendo o indivíduo como seu
detentor.
Segundo Bobbio (1992), são direitos que reservam ao indivíduo uma esfera de
liberdade “em relação ao” Estado. Nesta mesma dimensão, porém no que concerne aos
direitos políticos, Bobbio afirma serem direitos que concedem uma liberdade “no”
Estado, pois permitiram uma participação mais ampla, generalizada e frequente dos
membros da comunidade no poder político.
As palavras de Paulo Bonavides (2002, p. 184), ao mencionar os direitos de
primeira dimensão, ganham destaque quando ele afirma que:

os direitos fundamentais de primeira dimensão representam exatamente os


direitos civis e políticos, que correspondem à fase inicial do
constitucionalismo ocidental, mas que continuam a integrar os catálogos das
Constituições atuais (apesar de contar com alguma variação de conteúdo), o
que demonstra a cumulatividade das dimensões.

Segunda geração

Os direitos de segunda geração abrangem as esferas sociais, culturais e


econômicas, tendo suas raízes no princípio da igualdade. Emergiram em sintonia com o
surgimento do Estado de bem-estar social e são concebidos como direitos que visam o
benefício coletivo. Esses direitos implicam a responsabilidade do Estado em prover
determinados benefícios, levantando ocasionalmente questionamentos sobre sua
aplicação imediata, dado que o aparato estatal nem sempre dispõe de recursos

2
suficientes para cumprir integralmente essas obrigações. Esses direitos costumam ser
denominados como direitos sociais e são considerados como direitos de liberdade
mediantes ou por meio do Estado.
Sabe-se que a Revolução Industrial, a partir do século XIX, é considerado
como o grande marco dos direitos de segunda dimensão, sendo, portanto, um reflexo da
luta do proletariado na busca pelos direitos sociais, bem como é marcado, também, pelo
impacto da Primeira Grande Guerra. É possível observar tal fato a partir de
determinados documentos, conforme destacado de forma notável por Daniel Sarmento
(2006, p. 19):

As Constituições do México (1917) e de Weimar (1919) trazem em


seu bojo novos direitos que demandam uma contundente ação estatal
para sua implementação concreta, a rigor destinados a trazer
consideráveis melhorias nas condições materiais de vida da população
em geral, notadamente da classe trabalhadora. Fala-se em direito à
saúde, à moradia, à alimentação, à educação, à previdência etc. Surge
um novíssimo ramo do Direito, voltado a compensar, no plano
jurídico, o natural desequilíbrio travado, no plano fático, entre o
capital e o trabalho. O Direito do Trabalho, assim, emerge como um
valioso instrumental vocacionado a agregar valores éticos ao
capitalismo, humanizando, dessa forma, as até então tormentosas
relações jus laborais. No cenário jurídico em geral, granjeia destaque a
gestação de normas de ordem pública destinadas a limitar a autonomia
de vontade das partes em prol dos interesses da coletividade.

Assim, os direitos de segunda geração, em vez de restringir a ação do Estado,


demandam que este forneça políticas públicas, caracterizando-se como direitos de
natureza positiva. Eles impõem ao Estado a responsabilidade de tomar medidas ativas,
abarcando direitos como acesso à saúde, educação, emprego, moradia, segurança social
e assistência social, entre outros.
Bonavides (2002, p. 563), ao abordar os direitos de segunda geração, afirmou
que são os direitos sociais, culturais e econômicos, juntamente com os direitos coletivos
ou de coletividades, incorporados no constitucionalismo das diversas modalidades de
Estado social, após terem se desenvolvido sob a influência da ideologia e da reflexão
antiliberal deste século. Eles surgiram em estreita conexão com o princípio da
igualdade, do qual não podem ser dissociados, pois fazê-lo equivaleria a desvinculá-los
de sua justificativa e motivação fundamentais.

3
Terceira geração

Sustentados pela fraternidade, emergem os Direitos Fundamentais de terceira


geração, conhecidos como direitos difusos, destinados à proteção do ser humano em vez
de meramente do indivíduo ou do Estado em representação da coletividade. Nas
palavras de Sarlet (1998, p. 50), “trazem como nota distintiva o fato de se
desprenderem, em princípio, da figura do homem-indivíduo como seu titular,
destinando-se à proteção de grupos humanos.”
A terceira geração de direitos fundamentais tem suas raízes na revolução
tecnocientífica, também conhecida como a terceira revolução industrial, que garantiu o
avanço considerável nos meios de comunicação e dos transportes. É possível mencionar
como direitos de terceira geração: o direito ao desenvolvimento ou progresso, ao meio
ambiente, à autodeterminação dos povos, o direito de comunicação, o direito de
propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito à paz.
Quando aborda os direitos de terceira geração ou dimensão, Ingo Sarlet (2012)
enfatiza que, na realidade, trata-se do desdobramento de novas demandas fundamentais
do ser humano, surgidas em virtude, entre outros fatores, do impacto tecnológico, da
persistente situação de conflito e da sequela do processo de descolonização no período
pós-Segunda Guerra Mundial, com suas significativas implicações que reverberaram
profundamente no âmbito dos direitos fundamentais. Portanto, os direitos de terceira
geração ou dimensão têm como sujeitos ativos uma titularidade difusa ou coletiva, visto
que não visam apenas o indivíduo, mas sim toda a coletividade ou grupo. Após abordar
os direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira geração, podemos constatar que
eles correspondem ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Breve questionamento acerca da quarta e quinta geração de


direitos fundamentais

Atualmente, há acadêmicos que sustentam a existência dos direitos de quarta e


quinta geração ou dimensão, embora ainda persista a falta de unanimidade na doutrina
quanto ao conteúdo específico desses direitos. Em relação aos direitos de quarta
geração, conforme podemos perceber nas palavras do mestre Marcelo Novelino (2008,
p. 229), quando ressalta que “tais direitos foram introduzidos no âmbito jurídico pela

4
globalização política, compreendem o direito à democracia, informação e pluralismo.
Os direitos fundamentais de quarta dimensão compendiam o futuro da cidadania e
correspondem à derradeira fase da institucionalização do Estado social sendo
imprescindíveis para a realização e legitimidade da globalização política.”. De maneira
análoga, Paulo Bonavides (2002, p. 525) compreende que os direitos de quarta geração
são, talvez, o único caminho possível para a legítima e possível “globalização política”.
Posto isso, vale ressaltar a própria aceitação dos direitos de quinta geração
pelo autor Paulo Bonavides (2002), que afirma que a Ppaz seria a base deste direito.
Isso, em razão de acontecimentos como o atentado terrorista de 11 de setembro,
ocorrido em solo americano, que despertou um insistente rumor de guerra que assola a
humanidade. Esse terror é, porém, diferente de qualquer outro já enfrentado pelos seres
humanos, especialmente devido ao novo potencial destrutivo adquirido pelas novas
tecnologias, o que relembra, novamente, a importância da paz.

Referências

II Congresso Latino-Americano de Estudos Constitucionais, 2008, Fortaleza. Esta


referência está inadequada, teria de se especificar qual trabalho apresentado nesse
congresso foi usado.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros,
2002.

BULOS. Constituição Federal Anotada. 12. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017.

NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 2.ed. São Paulo: Método, 2008.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 8. ed. Porto Alegre:
Liv. do Advogado, 2012.

SARLET, Info Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na


Constituição Federal de 1988. 2. ed. Porto Alegre: Liv. Do Advogado, 1998

SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. 2. ed. Rio de


Janeiro: Lumen Juris, 2006.

Você também pode gostar