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10/12/2019 Dimensões dos direitos - Âmbito Jurídico

    

Dimensões dos direitos


30/04/2006

Até os dias atuais,[1] podemos relacionar a existência de quatro dimensões de direitos fundamentais.
Note-se que a grande maioria da dogmática constitucionalista prefere utilizar-se da expressão
“gerações” para designar os vários grupos de direitos trazidos à lume ao longo dos tempos. Todavia,
cremos que a expressão geração traz em seu bojo a idéia de renovação e sucessão, o que não ocorre
com os direitos fundamentais, pois o surgimento de novos direitos não exclui os anteriormente
prestigiados, vindo, ao contrário, somarem-se a eles (TAVARES, André Ramos apud MIRANDA,
Henrique Savonitti, 2005).

Para Márcia Maria dos Santos SOUZA (2005), embora não tenha havido previsão expressa sobre o
reconhecimento do direito ao meio ambiente no documento de 1948, verificamos que em 1972 a
Organização das Nações Unidas manifesta-se sobre a problemática ambiental desencadeada por um
modelo de exploração desenfreada do ecossistema, celebrando a Declaração de Estocolmo. Pois, a
ênfase na preservação e melhoramento do ambiente humano norteou a emissão de vinte e seis
princípios, nos quais se vislumbram a preocupação em não dissociar o desenvolvimento dos países
das políticas ambientais capazes de assegurar o direito ao meio ambiente equilibrado às presentes e às
futuras gerações.

Assim, com a Declaração de Estocolmo de 1972, a questão ambiental ganha proteção internacional,
através de um documento, subscrito por diversos países, dentre eles, o Estado brasileiro.

O direito ao meio ambiente é fruto da evolução dos direitos fundamentais e seu conteúdo o identifica
como um direito da terceira geração. É um produto histórico e complexo, que veio em resposta a
anseios e necessidades do homem contemporâneo[2].

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Para descrever a história constitucional dos Direitos Fundamentais utilizaremos a exposição da


professora Gisela Maria BESTER (1999):

1. Direitos de Primeira Geração (Civis) – surgidos no decorrer do século XVIII, são as liberdades
civis básicas e clássicas, abrangendo direitos ditos negativos, aqueles exercidos contra o Estado. E, a
respeito deles, Claude LEFORT, em sua obra Pensando o Político, de 1991, chegou a afirmar que
constituem a pedra de fundação da democracia moderna, e que, onde sofrerem restrições, todo o
edifício democrático corre o risco de desmoronar. Isto é, onde forem suprimidos, ofendidos,
descaracteriza-se a democracia. Quanto a saber, quais seriam esses direitos, o autor Gilmar BEDIN
diz que aí podem ser incluídos os seguintes direitos, lembrando sempre que a relação é
exemplificativa e não exaustiva: Liberdades físicas, Liberdades de expressão, Liberdades de
consciência, Direitos de propriedade privada, Direitos da pessoa acusada e as Garantias de direitos.

2. Direitos de Segunda Geração (políticos) – são os direitos políticos, conquistados no decorrer do


século XIX e início do século XX. Configuram desdobramentos naturais da primeira geração dos
direitos. São tidos como direitos positivos, já que aqui a liberdade aparece sob forma positiva, como
autonomia e como o desejo de participar no Estado, isto é, na formação da vontade política, do poder
político. Englobam: Direito ao sufrágio universal, Direito a constituir partido político, Direito ao
Plebiscito e ao Referendo e à Iniciativa Popular legislativa.

3. Direitos de Terceira Geração (Econômicos e Sociais) – surgidos no início do presente século, por
influência da Revolução Russa de 1917, da Constituição mexicana, de 1917, e da Alemã (de Weimar)
de 1919, são denominados direitos de crédito, por tornarem os Estados devedores de suas populações,
notadamente dos indivíduos trabalhadores e marginalizados, no tocante à obrigação de realizar ações
concretas para garantir-lhes um mínimo de igualdade e de bem-estar social. Neste sentido, também,
são considerados direitos positivos, por exigirem prestações positivas do Estado, em franca
preocupação com a revitalização do Princípio da Igualdade.

Os Direitos Fundamentais de terceira geração, seguindo divisão proposta por José Afonso da SILVA
(1996) relativos ao homem trabalhador e ao homem consumidor.

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4. Direitos de Quarta Geração (Direitos de Solidariedade) – compreendem os direitos do homem no


âmbito internacional, até porque constituem-se na condição de possibilidade do surgimento das
Declarações, Pactos e Cartas Internacionais. Tem como exemplo: Direito ao desenvolvimento,
Direito ao meio ambiente sadio, Direito à paz, Direito à descolonização. (grifos nosso)

Para o professor Paulo BONAVIDES (2000), os direitos de primeira geração são os direitos de
liberdade, os primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis
e políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do
constitucionalismo do Ocidente. A história comprovadamente tem ajudado mais a enriquecê-lo do
que empobrecê-lo: os direitos da primeira geração já se consolidaram em sua projeção de
universalidade formal, não havendo constituição digna desse nome que não reconheça em toda a
extensão. E, os direitos de primeira geração ou direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, são
oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdade ou atributos da pessoa, enfim, são direitos de
resistência ou de oposição perante o Estado.

Os direitos de segunda geração na visão de BONAVIDES (2000) merecem exame mais amplo.
Dominam o século XX do mesmo modo como os direitos da primeira geração dominaram o século
passado. São os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos coletivos ou de
coletividade, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que
germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste século. Nasceram abraçados ao
princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da
razão de ser que os ampara e estimula.

Conforme VASAK e outros, já se identificaram cinco direitos de fraternidade, ou seja, de terceira


geração: o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de
propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação, isso ocorreu
devido à consciência de um mundo partido entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas ou em fase
de precário desenvolvimento. (grifo nosso)

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E, leciona Paulo BONAVIDES (2000) que são direitos de quarta geração o direito à democracia, o
direito à informação e o direito ao pluralismo. Pois deles depende a concretização da sociedade aberta
do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no
plano de todas as relações de convivência.

Conforme Alexandre de MORAES (2004), modernamente, a doutrina apresenta-nos a classificação


de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira gerações, baseando-se na ordem histórica
cronológica em que passaram a ser constitucionalmente reconhecidos, e destaca a classificação de
Celso de MELLO (1995);

“Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as


liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda
geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas,
reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que
materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais,
consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de
desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores
fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade”.

Reitera MORAES (2004), que os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos e
garantias individuais e políticos clássicos (liberdades públicas), surgidos institucionalmente a partir
da Magna Carta. Já os direitos fundamentais de segunda geração, que são os direitos sociais,
econômicos e culturais, surgidos no início do século, que são os relacionados com o trabalho, o
seguro social, a subsistência, o amparo à doença, à velhice, etc. Por fim, como direitos de terceira
geração os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a um meio
ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, a paz, a autodeterminação dos
povos e a outros direitos difusos, que são, no dizer de José Marcelo VIGLIAR (1997), os interesses
de grupos menos determinados de pessoas, sendo que entre elas não há vínculo jurídico ou fático
muito preciso.

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No mesmo sentido, Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO (1995) conclui – a primeira geração seria
a dos direitos de liberdade, a segunda, dos direitos de igualdade, a terceira, assim, destacaria os
princípios da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Celso LAFER (1988) citado por MORAES (2004) classifica os direitos em quatro gerações, dizendo
que os direitos de terceira e quarta gerações, transcendem a esfera dos indivíduos considerados em
sua expressão singular e recaindo, exclusivamente, nos grupos primários e nas grandes formações
sociais[3].

Notas

[1] Jair Teixeira dos Reis, Auditor Fiscal do Trabalho, Professor de Direito do Trabalho, Direito
Empresarial, Ciência Política e Teoria Geral do Estado, Licitações e Contratos, Doutorando em
Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa, Autor dos Livros: Resumos de Direito Ambiental –
Editora Impetus (no prelo), Direito Empresarial pela Editora RCS (no prelo), Direitos Humanos para
provas e concursos pela Editora Juruá, Manual de Rescisões de Contratos de Trabalho e Manual
Prático de Direito do Trabalho pela Editora Juruá.

[2] Dessa forma, logo se vislumbra o nexo entre Direitos Humanos e Meio Ambiente, posto que este
último sendo previsto expressamente no texto constitucional constitui-se como direito fundamental e
inerente a toda uma coletividade (SOUZA, 2005).

[3] Os Direitos Fundamentais e suas quatro gerações

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Ensina-ns Carlos Alberto M. de QUEIROZ (2004) que os direitos fundamentais da pessoa humana
são aqueles que todas as pessoas devem ter, em todo lugar e a qualquer tempo, e cuja privação
causaria uma grave ofensa à justiça. E, esses direitos apresentam-se como direitos fundamentais de
primeira, segunda, terceira e quarta gerações:

1. Os diretos fundamentais de primeira geração, ou direitos de liberdade, são aqueles que têm por
titulares o individuo. São oponíveis ao Estado, e se traduzem com faculdades ou atributos da pessoa,
ostentando uma subjetividade que é o traço mais característico. São enfim, os direitos de resistência
ou de oposição perante o Estado e que valorizam primeiro o homem singular, o homem das liberdades
abstratas, o homem da sociedade mecanicista, que compõem a sociedade civil, tendo dominado o
século XIX;

2. Os direitos fundamentais de segunda geração são os direitos econômicos, sociais e culturais que
dominaram o século XX. Nasceram juntamente com o princípio da igualdade, dominando, por
completo, as Constituições do segundo pós-guerra;

3. Os direitos fundamentais de terceira geração são os direitos da fraternidade, segundo Karel


VASAK, que os identificou em número de cinco – direito ao desenvolvimento, direito da paz, direito
ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e, finalmente,
o direito de comunicação;

4. Os direitos fundamentais de quarta geração são os direitos de solidariedade, que são o direito à
democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo, sendo que deles dependem a
concretização da sociedade aberta ao futuro.

Em suma, são direitos fundamentais de primeira geração os direitos individuais e políticos, de


segunda geração os direitos sociais, de terceira geração os transindividuais e dos povos e, finalmente,
de quarta geração, os das gerações futuras.

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Informações Sobre o Autor

Jair Teixeira dos Reis

Professor Universitário. Auditor Fiscal do Trabalho. Autor das seguintes obras: Manual de Rescisão
de Contrato de Trabalho. 4 ed. Editora LTr, 2011 e Manual Prático de Direito do Trabalho. 3 ed.
Editora LTr, 2011.

Direito Ambiental Revista 28

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