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A Estrutura Normativa dos Direitos Humanos,

Os Princípios e a Normatização Internacional.


Dworkin menciona que antes mesmo da existência do Direito escrito, os homens possuem
um Direito pré-existentes e que por isso não dependem da legislação positivada para o seu
respeito.
Estes Direitos são reconhecidos como Direitos Naturais, os quais nascem com a sociedade e
merecem o devido atendimento para a vida em um ambiente comum. São Direitos
“inalienáveis e sagrados” que se revelam diante de reivindicações históricas, sobretudo
acerca da liberdade e da dignidade humana.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão do período revolucionário francês foram
profundamente influenciados pela teoria dos Direitos naturais.
Este reconhecimento jurídico não existe desde “sempre”. As teses de que os homens
possuem Direitos naturais se fortaleceram no século XVIII com a Declaração de Virginia
(1.776) e com a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1.789).
A Declaração Francesa, significou que a partir de então que a lei deveria se fundamentar no
homem e não nos mandamentos de Deus e nos costumes históricos.
Foi após a 2ª Guerra Mundial, apesar do ressurgimento dos nacionalismos e de propostas
excludentes, que a humanidade sentiu a necessidade de conceber valores e Direitos das
pessoas como garantias universais (sem distinções). Consequência de todo o sofrimento
sentido pela sociedade após as guerras.
Assim, após a segunda metade do século XX, ressurge o Direito Natural, mediante uma
revalorização dos princípios éticos, que servem para justificar os mandatos legais e a sua
eficácia. Por isso, “a expressão Direitos invioláveis do homem é fruto das Constituições Pós-
Segunda Guerra”.
A expressão ‘Direitos humanos’ aparece pela primeira vez no contexto internacional na
década de 1.920, em escritos relativos a minorias dos Estados europeus que eram antes
impérios” e estavam dissolvidos, como Áustria-Hungria, Alemanha e Rússia.
Os Direitos humanos, instrumento de positivação do ideal dos Direitos Naturais, surgem
em clima cultural ilustrado na Modernidade. Estes assim chamados de Direitos, apesar de
pré-existentes, foram positivados mediante uma formulação de categoria para expressar
exigências atemporais e perpétuas da natureza humana, como um conjunto de faculdades
jurídicas e políticas de todos os homens em todos os tempos.
Assim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) positivada em 1948, objetiva
proteger a pessoa humana, mediante princípios que devem servir para orientar em nível
Internacional os Estados, tais como: dignidade, proteção à vida, liberdade, igualdade dentre
outros importantes Direitos humanos básicos.
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, estes desrespeitados no século XX,
passam a ter uma forma de serem tutelados, mas não conseguem se afirmar de maneira
abrangente. A compreensão aos Direitos humanos tem uma essencial dificuldade em
virtude das inúmeras concepções diferentes de ordem religiosa, social e cultural. “As
constituições nacionais teriam assim um papel fundamental na efetividade dos Direitos, não
havendo um Direito humano…
Discorrer a respeito dos Direitos Humanos jamais poderá obter uma denominação
estanque, fechada, imutável. Na verdade, o que ocorre é que a cada novo cenário, novos
desafios e medos surgem. Assim, os Direitos Humanos se remodelam para sempre proteger
a dignidade da vida humana nas suas mais variadas facetas. Neste sentido, existem
dimensões de Direitos Humanos, relacionados, claramente, com o contexto social, político e
econômico vivido à sua época.
Sendo assim, a primeira dimensão dos Direito Humanos é explicada como um movimento
iniciado ao longo dos séculos XVIII e XIX como “expressão de um cenário histórico marcado
pelo ideário do jusnaturalismo secularizado, do racionalismo iluminista, do contratualismo
societário, do liberalismo individualista e do capitalismo concorrencial”.
Nesta dimensão, os Direitos Humanos surgem em um contexto de: fortalecimento nacional
do Direito, o constitucionalismo, que “sintetiza as teses do Estado Democrático de Direito,
da teoria da tripartição dos poderes, do princípio da soberania popular e da doutrina da
universalidade dos Direitos e garantias individuais”.
Para tanto, eles nascem com uma notória missão de proteção dos Direitos de defesa que
exigem a limitação do poder público na esfera privada. Estes Direitos de primeira dimensão
“protegem a autonomia dos discursos sociais, arte, ciência, religião - contra sua subjugação
pelas tendências totalizadoras da matriz comunicativa”.
Ou seja, são os Direitos civis e políticos, “Direitos individuais vinculados à liberdade, à
igualdade, à propriedade, à segurança e à resistência às diversas formas de opressão de
Direitos inerentes a individualidade, tidos como atributos naturais, inalienáveis e
imprescritíveis”. Por este motivo, os Direitos Humanos de Primeira Dimensão são tidos
como Direitos “negativos”, pois Direitos de defesa contra o Estado. Objetivam assim, limitar
a interferência do poder estatal na vida privada.
Neste mesmo período ainda, as iniciativas em proteção aos Direitos Humanos e o contexto
do desenvolvimento decorrente da Revolução Industrial inspiraram as discussões
internacionais sobre a proteção do meio ambiente humano. A Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972,
atentou à necessidade de um critério e de princípios comuns que oferecessem aos povos do
mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano.
Esta convenção na sua parte inicial proclamou que o homem é ao mesmo tempo obra e
construtor do meio ambiente que o circunda, o qual diante da tortuosa evolução chegou-se
a uma etapa em que a dinamicidade do desenvolvimento tecnológico e científico adquiriu o
poder de transformação sem precedentes. Neste sentido, “os dois aspectos do meio
ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para
o gozo dos Direitos humanos fundamentais, inclusive o Direito à vida mesma”.
O objetivo da Convenção é estender a tônica do meio em que o homem vive, buscando
assegurar os Direitos fundamentais do homem: Direito à vida, à liberdade, à saúde, ao
trabalho, à educação para ter condições mínimas de desenvolvimento. Haja vista que seria
impossível uma abordagem dos Direitos Humanos sem considerar a implicação da qualidade
ambiental da própria vida humana.
Este objetivo está consagrado num mesmo quadro lógico de aplicação dos Direitos
Humanos mediante a proteção do meio ambiental no Artigo 1º da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano:
A Segunda Dimensão dos Direitos Humanos é compreendida pelo exercício do Direito de
participação nos Direitos econômicos, sociais e culturais. Eles ao contrário dos Direitos de
Primeira Geração tidos como Direitos “negativos” exigem uma atuação ativa dos poderes
públicos a fim de garantir a prestação dos serviços públicos.
São, assim, Direitos fundamentados no princípio de igualdade e com alcance positivo, pois
“não são contra o Estado, mas ensejam sua garantia e concessão a todos os indivíduos por
parte do poder público”.
Ou seja, exigem que o Poder Público implemente medidas para a proteção e garantia dos
Direitos tais como ao trabalho, saúde, educação, dentre outros.
Este momento foi marcado pela crescente industrialização e capitalismo na economia,
assim como na política pela crise do Modelo Liberal e desenvolvimento do Estado de Bem-
Estar Social.
Após a fala-se ainda em Direitos Humanos de Terceira, Quarta e Quinta Dimensão.
Os de Terceira Dimensão surgem justamente em razão das novas evoluções da sociedade e
os impasses sofridos com o advento das novas tecnologias. Assim, diante de todos os
acontecimentos desastrosos já experimentados pela humanidade, esta dimensão de
Direitos humanos ressalta a necessidade de proteção do humano, do meio ambiente, dos
consumidores, em âmbito global. Tudo isso, em razão dos novos riscos apresentados pelas
novas tecnologias.
Direitos de Terceira Dimensão estão fundamentados no Direito à paz, aos consumidores, na
biotecnologia em relação a manipulação genética, a qualidade de vida e a liberdade de
informação. Estes novos desafios são denominados como “contaminação das liberdades”,
pois setores sociais estão sendo agredidos pelas novas tecnologias. Ou seja, nesta
dimensão o seu “titular não é mais o homem individual, mas agora dizem respeito a
proteção de categoria ou grupos de pessoas (família, povo, nação), não se enquadra, nem
no público, nem no privado”.
Teubner menciona que os Direitos humanos nesta dimensão são os limites negativos na
comunicação social. Onde a integridade do corpo e da mente dos indivíduos está em perigo
e os Direitos humanos em sentido estrito protegem a integridade da mente e do corpo.
Como tido inicialmente, os Direitos Humanos, mas especialmente os Direitos tidos
transindividuais passaram a ser abordados e a ganhar impulso após a Segunda Guerra
Mundial (1945-1950), diante do bombardeio atômico em Hiroshima e Nagasaki, com o
extermínio de vidas humanas e a destruição ambiental.
Por isso, esta nova faceta dos Direitos Humanos, são também Direitos de solidariedade,
Direitos da tecnologia, Direitos da sociedade global. Haja vista, que englobam os riscos de
danos ambientais, decorrentes do desenvolvimento desmedido e sem precaução dos mais
variados setores industriais e da economia. Estes danos repercutem, por sua vez no habitat
humano e no equilíbrio psicossomático dos indivíduos.
Também estão inseridos nesta dimensão os Direitos de gênero, da criança, do idoso, dos
deficientes físicos e mentais, das minorias (étnicas, religiosas e sexuais) e os Direitos da
personalidade (intimidade, honra e imagem). No Brasil, a Constituição Federal de 1988
(CF/88), (Art.5º), Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), Código de Defesa
do Consumidor (Lei 8.078/1990).
Direitos específicos vinculados a vida humana, tais como a “reprodução assistida, aborto,
eutanásia, cirurgias intrauterinas, transplantes, dentre outros”. Neste sentido, estas novas
tecnologias de importante interferência no ser humana demonstram a existência de um
descompasso entre “os limites da ciência jurídica convencional para regulamentar e
proteger com efetividade esses procedimentos”.
A tecnologia da informação e da comunicação que possibilitam a comunicação em escala
planetária, ou seja, sem limine de espaço, pessoas e em tempo real, projetam efeitos nas
liberdades individuais. Ou seja, muitos controles estão informatizados (notas fiscais, dados
educativos e médicos, registros e aquisições comerciais, cartão de crédito, reserva de
viagens), o q…
Este desafio é compreendido como sendo uma Quinta Dimensão dos Direitos Humanos, em
que o ciberespaço e da realidade virtual demandam novos Direitos. Esta sociedade marca a
passagem do século XX para o novo milênio, reflete a transição da sociedade industrial para
a sociedade da era virtual.
Para tanto, diante da contínua e progressiva evolução da tecnologia de informação e dos
riscos à dignidade (especialmente a proteção do indivíduo), fundamental que se defina uma
legislação para proteger os provedores e os usuários dos meios de comunicação em massa.
Barretto menciona assim que “as novas tecnologias, especialmente aquelas relacionadas ao
ser humano” tem desencadeado uma “insegurança jurídica e existencial à sociedade, seja,
em relação à eficiência do sistema jurídico (segurança jurídica e proteção dignidade
humana), seja em relação à própria existência da espécie humana”
Este trecho justamente remete ao fato já muito discutido na academia sobre a ineficiência
do Direito diante da velocidade do desenvolvimento das novas tecnologias e a n…
Os Direitos Naturais como já mencionado, são os Direitos tidos naturalmente pelos
indivíduos, ou seja, intrínsecos ao ser.
Os Direitos Fundamentais são, por esta via, a forma de positivação Constitucional destes
Direitos, mas, em maior amplitude e pluralidade (Segunda Dimensão).
Assim, “os Direitos fundamentais exigem esta positivização, se quiserem concentrar-se na
resolução de certos pontos específicos da ordem social e deve ser equipado com a maior
precisão possível”.
Os Direitos Naturais tiveram como consequência os denominados Direitos Humanos e foram
positivados como Direito Fundamentais. Dentro de seus preceitos além da proteção da
individualidade e liberdade das pessoas, está o bem-estar da vida, origem da proteção do
meio ambiente.
Os Direitos humanos não se tratam de Direitos eternos, eles são uma construção da
modernidade que tem possibilitado formas concretas de positivação e interpretação de
acordo com o respectivo contexto cultural e social. Desta maneira, “a ideia moderna dos
Direitos humanos apresentam-se como um substituto da noção mais antiga de Direito
natural”.
Os Direitos fundamentais são estabelecidos para garantir a liberdade perante o Estado.
O Estado é - o que sempre é esquecido - pré-condição de toda liberdade; não porque o
Estado garanta parcialmente ou com pré-formas elementares, mas porque, para a
organização estatal, a liberdade torna-se racionalmente regulamentada na forma de
programa de decisão.
O Estado reúne o potencial da ameaça - se espalhou na sociedade de uma forma difusa e
inacessível - da liberdade e com isso a torna decidível - o que no caso pessoal pode significar
ganho ou perda de liberdade.
CARACTERÍSTICAS: atributos vinculados à concepção contemporânea de direitos humanos.
é o reconhecimento que a dignidade e a capacidade para o exercício de direitos são
inerentes a todos que compõem a família humana, sem distinções que possam convergir em
discriminações, limitações, reducionismos ou perseguições por elementos como sexo, raça,
origem nacional, procedência ética, religiosa ou qualquer outra condição
Indivisibilidade e Interdependência
Pressupõe a compreensão integral dos direitos humanos, não podendo dissociar os direitos
civis e políticos, de um lado, dos direitos econômicos, sociais e culturais, de outro. Não se
admite o fracionamento dos direitos humanos.
Em decorrência, há o reconhecimento que os direitos compõem uma unidade indivisível e
interdependente, como se depreende do art. 28 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a saber: “Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em
que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados”.
Historicidade
A historicidade, enquanto característica, reconhece que os direitos humanos não nascem
todos em um determinado momento, mas são fruto de um longo processo histórico de
avanços e retrocessos em seu reconhecimento e proteção. Nas palavras de Norberto
Bobbio, “os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos,
ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas
liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem
de uma vez por todas”.
Assim, falar em direitos humanos é reconhecê-los como direitos construídos historicamente
em conjunto com as transformações políticas, econômicas e sociais da comunidade
humana.
Vedação ao Retrocesso e Proibição de Proteção Deficiente
Efeito cliquet, constitui uma verdadeira blindagem contra retrocessos e flexibilizações na
proteção aos direitos consagrados. Não há que flexibilizar ou retroceder na proteção aos
direitos assegurados para se conformar aos interesses políticos e econômicos de maiorias
pontuais.
reveste-se de princípio nos ordenamentos constitucionais, a partir de discussões oriundas
da Alemanha e de Portugal. Trata-se de garantir em cada país que os direitos sociais não
serão objeto de retrocessos que comprometam a essência dos direitos fundamentais
previstos em suas constituições.
o que se pretende é a proteção contra os retrocessos, flexibilizações in pejus na legislação,
uma verdadeira “blindagem protetiva”,42 além de impedir que a proteção deficiente
comprometa a efetividade dos direitos, em especial os econômicos, sociais e culturais.
Inalienabilidade
Trata-se da impossibilidade de transacionar ou comercializar direitos (humanos,
fundamentais) a outrem, uma vez que não possuem conteúdo econômico. São
indisponíveis. Como observa Uadi Lamego Bulos, “os seus titulares não podem vendê-los,
aliená-los, comercializá-los, pois não têm conteúdo econômico
Irrenunciabilidade
Direitos humanos são irrenunciáveis, não podendo ser abdicados, recusados ou rejeitados e
qualquer manifestação do indivíduo nesse sentido será nula de pleno direito.
Imprescritibilidade
No plano internacional, não há que se falar na incidência do instituto da prescrição para os
direitos humanos. Mesmo com o decurso do tempo, são exigíveis a qualquer momento. O
fato de a pessoa humana não o exercer por um longo período não implica o advento da
prescrição..
Classificação: Resumo
Direitos humanos de primeira geração, os chamados direitos de liberdade (direitos de
defesa), consistentes nos direitos civis e políticos;
Direitos humanos de segunda geração, os direitos de igualdade (direitos de prestação),
compreendidos os direitos econômicos, sociais e culturais.
Direitos humanos de terceira geração, os direitos da solidariedade, como o direito ao meio
ambiente, o direito à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento etc.

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