Você está na página 1de 12

1.

Origens Históricas da Seguridade Social no Mundo

Direito Romano
O conceito de seguridade social nos remonta à Idade Antiga, quando o direito romano previu
uma espécie de aposentadoria aos militares, após seu período de contribuições à sociedade,
na qual eles poderiam reservar parte do soldo para gozarem posteriormente na inatividade.

Junto disso, também havia associações de trabalhadores autônomos que resguardavam


parcela de sua remuneração para o pagamento futuro de seus funerais.

Idade Média
Já na Idade Média, tínhamos corporações de ofício criadas por um indivíduo que exercia uma
determinada profissão de modo exemplar, com o objetivo de ensinar discípulos nessa mesma
seara ocupacional e de prover assistência aos seus associados em casos de velhice,
doenças ou pobreza. Estes eram assistidos a partir de contribuições financeiras prévias.

CONTRATO DE SEGURO MARÍTIMO


No ano de 1.334, para que os mais necessitados não ficassem à espera de caridade, foi
celebrado contrato de seguro marítimo contra incêndios, que objetivava, inicialmente, a
proteção de bens materiais.

À época, as profissões que se lançavam ao alto-mar corriam altos riscos à sua vida nas
embarcações, seja por intempéries naturais ou antrópicas, seja por saqueios e ataques de
piratas. A celebração dessa espécie de contrato, portanto, assegurava aos trabalhadores
marítimos que seus entes queridos, como esposa, filhos e demais familiares, teriam
seguridade para manutenção de seu próprio sustento.

O doutrinador Sergio Pinto Martins considerou esses contratos de seguro marítimo como
sendo o embrião da seguridade social.

Conceito de seguridade à luz dos elementos históricos


Enfim, Balera (1998, p. 15) nos traz uma reflexão, à luz desses elementos históricos, para o que
vem a constituir um conceito de seguridade:

[...] termo “seguridade”, que traduz a ideia de tranquilidade, sobretudo no futuro, que a sociedade deve garantir
aos seus membros. A extensão em que esse objetivo é alcançado varia muito, no espaço e no tempo, em
fundação de fatores os mais diversos. A ideia essencial, no entanto, é essa: tranquilidade, segurança, no
presente e no futuro.
Fontes legais e históricas da seguridade social
LEI DE AMPARO AOS POBRES
Um dos institutos jurídicos pioneiros no mundo para a seguridade social foi a Lei de Amparo
aos Pobres (Poor Relief Act), estabelecida em 1601 na Inglaterra pela Rainha Elizabete,
constituindo a primeira legislação assistencial de que se tem registro. Com a Revolução
Industrial e o fluxo migratório do campo para as cidades, decorreu-se um processo de êxodo
rural e, subsequentemente, de aumento da população urbana: o crescimento desenfreado
da massa populacional gerou instabilidade, dada a incapacidade das cidades de a receber.

A Lei de Amparo, portanto, surge como resposta a esse quadro de não absorção total
da mão de obra que buscava inclusão laboral no meio urbano e de aumento do número
de pessoas vivendo em situação de miséria e/ou extrema pobreza. Segundo o dispositivo,
as populações paroquianas tinham o dever de auxiliar pessoas idosas e em condição de
vulnerabilidade, familiarizar crianças desprotegidas/desacompanhadas do ambiente
industrial e prover emprego para capacitados a tal que estivesse sem seu sustento
usual.

CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1793


Outro dispositivo interessante para pensarmos a seguridade social em contexto histórico foi a
Constituição Francesa de 1793. Também conhecida como um dos marcos temporais para
a consagração positivista dos direitos fundamentais e cidadãos e para os entendimentos
modernos acerca da concepção dos direitos humanos, o documento foi a primeira Carta
Magna a estabelecer a assistência social como “dívida sagrada”, uma terminologia que
passou a ter seu âmago (sem essas palavras) repetido nas futuras Constituições da França.

WORKMEN’S COMPENSATION ACT


Na sequência, a incorporação de elementos trabalhistas aos ordenamentos jurídicos vinha se
tornando uma realidade ao final do século XIX, uma movimentação que viria a ser sucessora
das legislações abolicionistas à escravidão e predecessora da consolidação da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. Nesse sentido, é necessário também resgatarmos o
Workmen’s Compensation Act, de 1897, celebrado na Inglaterra. É a primeira regra que
estipula a obrigatoriedade de seguro contra acidente de trabalho.

Anteriormente à sua aprovação, o empregado poderia processar seu empregador e obter


indenização caso provasse a culpa deste pelo dano eventualmente causado. Com o ato
legislativo de 1897, o empregado passa a ter de demonstrar somente que o prejuízo
ocorreu em decorrência de algum tipo de acidente no seu trabalho. Diminuiu, pois, o
ônus da prova e o conjunto probatório reunidos pelo empregado para buscar judicialmente a
indenização.
OLD MEN PENSIONS ACT
Por fim, o Old Men Pensions Act, de 1908, também promulgado na Inglaterra criou pensões
de caráter não contributivo para indivíduos com setenta (70) anos ou mais – o que não o
tornava uma legislação tão avançada e proeminente nessa seara, dado que a expectativa
de vida à época era muito menor. Isso traz embrionariamente outro conceito assistencialista
para as noções contemporâneas de seguridade social: o de pacto de gerações.

Código do Seguro Social Alemão


Na transição do século XIX para o XX, surge na Alemanha o primeiro sistema previdenciário
de que se tem notícia: o Sistema Bismarkiano, criado por Oto Von Bismark, implementado
gradativamente desde 1883 até 1911, quando se cria o Código do Seguro Social Alemão.

Esse Código possuía três tipos de seguro de proteções contra (i) velhice e invalidez, (ii)
acidente do trabalho e (iii) doenças, este último categorizando uma novidade no que tange
a modelos embrionários de seguridade social que vimos até então.

À época, que antecedia o surgimento dos regimes nazifascistas em Alemanha, Itália e Japão,
temia-se a eclosão de insurgências e revoluções de cunho socialista e/ou comunista – como
foi o caso de Cuba e ex-União Soviética –, dada a candência desse contexto histórico de
fortalecimento de redes marxistas tanto no campo intelectual quanto nas associações
operárias de base. O Sistema Bismarkiano, pois, é implementado para conter essas
movimentações, de modo que o Estado prestasse assistência, conforme essa codificação
de normas de seguridade social.

Além disso, outra novidade é de que não mais somente o empregado contribuiria para os
fundos previdenciários, como ocorria outrora nas corporações de ofício e no direito romano.
Agora, segundo o Código Alemão (1911), o financiamento contributivo advinha de Estado,
empregados e empregadores.

A título de curiosidade, esse modelo tripartite na seara de trabalho e seguridade social serviu
de molde para a composição das delegações que conduzem negociações multilaterais no
seio da futura Organização Internacional do Trabalho (1919): são tripartites e compostas por
Estado, sindicatos e empresas.

Evolução histórica dos direitos humanos: dimensões de


afirmação
Nesse contexto, tratamos essencialmente do que acadêmicos e doutrinadores conhecem
como duas dimensões de afirmação histórica e internacionalização dos direitos
humanos.

A primeira geração é a de direitos individuais, civis e políticos, assegurados por dispositivos


como a Constituição dos EUA (1787) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão na
França (1789), que preconizaram as liberdades individuais no seio de direitos fundamentais.
Já no início do século XX, conforme observamos nos tópicos anteriores, há um movimento
global de incluir nos ordenamentos jurídicos códigos que positivem os direitos sociais,
econômicos e culturais, prevendo questões como seguridade, assistência e normas
trabalhistas. Falamos, então, da segunda geração de direitos humanos, marcada pelo
Constitucionalismo Social, conforme estipulado por mecanismos como as Constituições
do México (1917), da ex-União Soviética (1918) e de Weimar (1919).

A importância do Constitucionalismo Social dialoga com o conceito de hierarquia de normas


de Hans Kelsen, visto que se toma a Constituição como o código de maior força jurídica.

Organização Internacional do Trabalho (OIT)


Fundada em 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma instância de
representação de governos, organizações de empregadores e de trabalhadores, com o
objetivo de promover a justiça social e o trabalho decente e produtivo, com condições de
equidade, superação da pobreza e redução das desigualdades sociais.

Nesse sentido, a OIT tem um papel basilar, desde a sua criação, no tocante a evidenciar a
necessidade de implementação de programas de previdência social ao redor do globo,
com o objetivo de prestar seguridade aos trabalhadores. Exemplos disso são algumas
das Convenções que versam sobre as interconexões entre assistência social, seguridade,
previdência e trabalho:

• Convenção nº 12 (1921): acidente do trabalho na agricultura;


• Convenção nº 17 (1925): indenização por acidente do trabalho.

Pós Guerra - Plano Beveridge


Saindo do contexto do pós-I Guerra Mundial (de criação da OIT, em 1919), os impactos negativos
da II Guerra Mundial foram incomparavelmente maiores. Alastrando horrores genocidas,
racistas e de desestabilização humanitária, a II Guerra vulnerabilizou muitas sociedades e
economias europeias.

Dentre as inúmeras tratativas de recuperação socioeconômica a esse contexto, temos o


Plano Beveridge (1942), na Inglaterra, tido como o primeiro plano de seguridade social
– saúde, assistência e previdência –, consolidando o Estado de Bem-Estar Social (Welfare
State), característico das democracias modernas.

O Relatório Beveridge previa uma ação estatal concreta como garantidora do bem-estar social,
estabelecendo responsabilidades do Estado britânico nas áreas de seguro social, saúde e
assistência social como ferramenta de reconstrução da sociedade e de complementariedade
às lacunas da previdência social. Suas características eram:
• Caráter contributivo e compulsório;
• Tríplice fonte de custeio (trabalhador, empregador e governo);
• Incentivo à permanência (benefícios maiores);
• Ampliação da proteção social (“do berço ao túmulo”, segundo o Lorde Beveridge).
2. Origens da Seguridade Social no Brasil
Pinçamos as origens históricas da seguridade social no mundo para entendermos que elas
têm conexão direta com as práticas adotadas no direito brasileiro, assim como grande parte
de outras questões do ordenamento jurídico doméstico que bebeu de fontes internacionais.
Não obstante, no Brasil a proteção social evoluiu analogamente ao plano internacional.

De início, foi privada e voluntária, passou para a formação dos primeiros planos mutualistas e,
a posteriori, voltou-se à intervenção cada vez maior por parte do Estado.

Carta Imperial de 1824


Um dos primeiros institutos de relevância para o estudo da seguridade social no Brasil é a Carta
Imperial de 1824, a nossa primeira Carta Constitucional. O dispositivo consagrou a figura dos
socorros públicos aos indivíduos vulneráveis que necessitavam de assistencialismo de
saúde pública, socorros estes considerados os embriões das Santas Casas de Misericórdia.
Devido ao seu caráter assistencial, a Carta Imperial é vista, em muitos concursos públicos,
como o embrião da seguridade social no Brasil.

Outras fontes legais importantes


Além disso, no seio da Constituição Imperial, merecem destaque outros seis institutos:
1. Código Comercial (1850): direito de manutenção do salário durante três meses em
hipótese de acidente imprevisto e inculpado.
2. Regulamento 737 (1850): garantia do salário por até três meses de empregados
vítimas de acidentes de trabalho.
3. Decreto 2.711 (1860): custeio dos montepios (a serem estudados a seguir) e das
sociedades de socorros mútuos.
4. Decreto 9.912-A (1888): concessão aos empregados dos Correios o direito à apo-
sentadoria, quando completassem 60 anos de idade e 30 anos de serviço.
5. Decreto 9.212 (1889): criação do montepio obrigatório para os empregados dos
Correios.
6. Decreto 221 (1890): instituição do direito à aposentadoria para os empregados da
Estrada de Ferro Central do Brasil.

Plano de Benefícios dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da


Marinha
Outro instituto interessante, anterior à Carta Imperial, era o Plano de Benefícios dos Órfãos e
Viúvas dos Oficiais da Marinha, de 1795.

Esse mecanismo detinha um funcionamento similar ao dos contratos de seguro marítimo


que estudamos anteriormente, bem como ao do dispositivo atual que conhecemos como
pensão por morte no Brasil. Quando os oficiais morriam em serviço, eles teriam a segurança
de que seus entes familiares – viúva e órfãos – seriam assistidos pelo Estado e manteriam
seu sustento assegurado.

Montepios
Na sequência, os montepios eram outro instituto histórico da seguridade social no Brasil,
associaçõescriadascomoobjetivodeassegurartutelasecuritáriaparaumadeterminada
categoria. Dentre os diversos elementos oriundos da vinda da Coroa Portuguesa ao Brasil
em 1808, a importação de itens da legislação portuguesa ao ordenamento brasileiro deu
origem ao instituto do montepio da guarda, criado para a guarda pessoal de D. Pedro VI.

Esse montepio previa que, ao se aposentarem por desgaste físico ou tempo de contribuição,
os guardas pessoais de D. Pedro VI seriam assistidos por uma aposentadoria.

A partir da década de 1830, começou a expansão dos montepios para abarcar a proteção
de outras categorias, de modo orgânico, por organização própria, em face de muita luta e
reivindicação populacional clamando por maior seguridade social e mais direitos sociais. Os
trabalhadores, independentemente, organizavam o recolhimento de valores para, a posteriori,
gozaram de certa segurança. O mais comum, nesses casos, era a busca da concessão de
pensão por morte para o sustento dos dependentes do falecido trabalhador.

MONTEPIO GERAL DE ECONOMIA DOS SERVIDORES DO ESTADO (MONGERAL)


No ano de 1835, foi criado o MONGERAL – Montepio Geral de Economia dos Servidores
do Estado, conhecido como o marco do surgimento da previdência complementar
brasileira, oferecendo planos contributivos com características de facultatividade e
mutualismo. O MONGERAL foi o maior montepio de que se tinha conhecimento, voltado aos
servidores públicos do Estado – isto é, todos os seus funcionários, dado que à época não havia
regulamentação nem legislação que estipulassem de facto quem era um servidor efetivo.

Constituição da República de 1891


Com a Constituição da República de 1891, temos a primeira Carta Magna que consagra
o vocábulo aposentadoria. O dispositivo assegurou a aposentadoria por invalidez aos
funcionários públicos, gerando, consequentemente, grande distinção entre estes e outros
trabalhadores. Isso, somado à criação do MONGERAL, demonstrava a já latente capacidade
de organização e o evidente poder de barganha dos servidores públicos.

Decreto Legislativo n. 3.724/1919


Por fim, outra figura interessante foi o Decreto Legislativo n. 3.724/19 (1919), conhecido,
hoje, como a primeira legislação sobre acidente do trabalho. O dispositivo previa uma
indenização, a qual estava a cargo do empregador, nos casos em que houvesse acidente de
trabalho, e que era devida ao empregado ou à sua família (se o acidente provocasse morte).
Lei Eloy Chaves
Um dos institutos de maior relevância para o histórico da seguridade social no Brasil é a Lei
Eloy Chaves, de 1923, isto é, o Decreto Legislativo 4.862/23. O Decreto leva o nome de Eloy
Chaves devido à atuação do Deputado Eloy Marcondes de Miranda Chaves, que redigiu o
decreto em resposta aos anseios da categoria de ferroviários, vítima constante de acidentes
e de desgastes físicos.

Considerada a base da previdência social brasileira, a Lei Eloy Chaves consolidou a base
do sistema previdenciário brasileiro, a partir da criação da Caixa de Aposentadorias e
Pensões para os empregados das empresas ferroviárias, que os concedia ajuda médica,
aposentadoria, pensões para dependentes e auxílio funerário. O dia de sua promulgação, 24
de janeiro, tornou-se o dia nacional da previdência social.

Benefícios:

• Aposentadoria ordinária (por tempo de serviço);


• Aposentadoria por invalidez;
• Pensão por morte;
• Indenização por acidente de trabalho;
• Assistência médica de responsabilidade das empresas.

Custeio: formatação bipartite, efetuada pelos próprios trabalhadores e pelas empresas das
estradas de ferro; não havia, pois, contribuição do Estado.

Gestão: Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) organizadas por empresa, cada qual
possuindo a sua própria CAP.

Extensão da Lei Eloy Chaves - CAPs


Ao longo dos anos 20, houve extensão orgânica, não formal, do sistema previdenciário a
outras categorias. Sem estipulação legislativa para tal, as categorias desamparadas pela Lei
Eloy Chaves reivindicaram extensão da proteção assegurada pelo sistema de CAPs. Ocorreu,
assim, um processo de criação desordenada de novas CAPs por empresas. No ano de
1926, por exemplo, os benefícios do Decreto 4.862/23, que antes só abarcavam trabalhadores
ferroviários, estendem-se aos empregados das empresas portuárias e marítimas.

Lei de Férias e Lei de Regulamentação do Trabalho de Menores


Ainda na segunda metade dessa década, foram introduzidas outras duas leis interessantes
para a legislação social e o aprimoramento das questões trabalhistas e previdenciárias:

Lei de Férias (1925)


Obrigava os empresários a concederem 15 dias de férias a seus empregados, sem prejuízo do
ordenado.

Lei de Regulamentação do Trabalho de Menores (1926/27)

O Código do Menor estipulava a maioridade a partir dos 18 anos, limitava a idade de trabalho
a partir dos 14 anos e propunha uma jornada de trabalho de 6 horas.

Institutos de Aposentadora e Pensões (IAPs)


A tutela da organização previdenciária, conforme visto anteriormente, iniciou-se com os
CAPs, destinados aos empregados ferroviários, depois se expandindo para outras categorias.

Já em 1930, foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), responsáveis


por unificar e sistematizar a organização previdenciária por categorias profissionais,
e não mais por empresas. Isso representa uma mudança de paradigma na legislação social.
Além disso, institui-se, agora, a tríplice fonte de custeio, incluindo Estado, empregadores e
empregados, em substituição à formatação bipartite.

Constituições da República de 1934 e de 1937 - Era Vargas


O Governo Vargas foi um importante marco histórico e jurídico para o Direito do Trabalho e a
Seguridade Social. A Constituição Getúlio Vargas, de 1934, primeira Carta Magna brasileira
do constitucionalismo social, institui, segundo a hierarquia de normas, a obrigatoriedade de
respeito, proteção e promoção dos direitos sociais previstos constitucionalmente, bem
como consolida a tríplice fonte de custeio.

Na sequência, a Constituição de 1937 (Polaca), outorgada por Getúlio Vargas no Estado Novo,
embora não tenha trazido mudanças substanciais em matéria previdenciária, foi fundamental
ao positivar a expressão seguro social em suas disposições terminológicas.

Constituição da República de 1946


Por fim, a Constituição Democrática, de 1946, inaugura um dos princípios da seguridade
social, o de pré-existência do custeio. Esse princípio visa a manter o equilíbrio da
seguridade social, impedindo que benefícios ou serviços desta sejam criados ou majorados
sem que, anteriormente, estejam estabelecidas as correspondentes fontes de custeio e/ou
financiamento das prestações de assistência, saúde, previdência etc.

Leis Infraconstitucionais relevantes para a seguridade social


LEI ORGÂNICA DA PREVIDÊNCIA - 1960
Após pinçarmos as Constituições de relevância para o desenvolvimento da seguridade
social no século XX, devemos citar a Lei Orgânica da Previdência, Lei n. 3.807/1960, de
caráter infraconstitucional, criada com o objetivo de unificar as legislações irregulares ao
redor do território brasileiro sobre organização previdenciária, visto que ficavam a cargo das
categorias profissionais. Essa legislação nos traz, portanto, um processo de uniformização
da legislação previdenciária, antes sujeita às normas elaboradas por cada IAPs.

DECRETO N. 72/1966 - INSTITUTO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


Com o Decreto n. 72/1966, cria-se o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS),
órgão resultante da fusão de:

(a) institutos de aposentadoria e pensões do setor privado então existentes – marítimos


(IAPM), comerciários (IAPC), bancários (IAPB), industriários (IAPI), empregados em transportes
e cargas (IAPETEC) e ferroviários e empregados em serviços públicos (IAPFESP) – e

(b) serviços integrados e comuns a esses institutos, tais como o Serviço de Assistência
Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU) e o Serviço de Alimentação da Previdência Social.

O INPS, portanto, integrava o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social


(Sinpas) e concedia e/ou mantinha benefícios a empregados e empregadores urbanos e
rurais e a seus dependentes, que consistiam em: aposentadorias (invalidez, velhice ou tempo
de serviço); pensões; auxílios (natalidade, doença, funeral etc.); abonos, pecúlios, salários-
família; salários-maternidade; e seguros por acidente de trabalho.

Nesse sentido, a substituição dos IAPs pelo INPS complementou a Lei Orgânica, passando a
cuidar dos benefícios da seguridade social e gerando a uniformização institucional, dado que,
agora, todas as categorias profissionais seriam assistidas pelo INPS.

ESTATUTO DO TRABALHADOR RURAL - 1963


Por outro lado, a seguridade nem sempre foi unificada em se tratando de trabalhadores
urbanos e rurais. Em 1963, por exemplo, havia o Estatuto do Trabalhador Rural, o
FUNRURAL, correspondente à Lei n. 4.214/63, que assegurava, além de normativa própria
para o trabalhador rural, um fundo próprio para seus benefícios (menores do que os direitos
dos trabalhadores urbanos). Hoje, há unificação legislativa em torno dessas dissonâncias,
corrigindo tais falhas e preconizando distinções positivas em matéria previdenciária, como
o menor tempo de contribuição do trabalhador rural, em decorrência de seu maior desgaste
físico no labor.

LEI N. 6.036/1974 - MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA EASSISTÊNCIA SOCIAL - 1974


Por fim, a Lei n. 6.036/1974 criou o Ministério da Previdência e Assistência Social,
desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social (que incorporava as agendas de
indústria, trabalho e comércio). A instituição ficou responsável por administrar os direitos ao
seguro social do contribuinte – hoje estabelecidos no art. 6º da CF/88 – e transferir a renda
da previdência social. Em outubro de 2015, a pasta foi fundida novamente com Trabalho e
Emprego, formando o Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). Hoje, suas
atribuições estão a cargo dos Ministérios da Cidadania e da Economia.
Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
A Lei n. 6.439/77 institui o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas),
o primeiro sistema de seguridade social no Brasil, que consolidou a ideia da seguridade
composta por três esferas: saúde, assistência e previdência. Sob sua égide, foram criadas
instituições públicas, bem como redistribuídas funções entre órgãos já existentes:

• Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS): saúde;


• Legião Brasileira de Assistência (LBA): assistência social;
• Instituto Nacional de Previdência Social (INPS): agora somente previdência;
• Instituto de Administração Patrimonial da Previdência Social (IAPAS): custeio da seguridade
social, inclusive a competência que antes cabia ao INPS;
• Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (DATAPREV): empresa de pro-
cessamento de dados da previdência social, que ainda existe, anteriormente vinculada ao Ministério
da Fazenda, e agora ao Ministério da Economia;
• Central de Medicamentos (CEME): fornecimento de medicamentos;
• Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM): incorporação do Serviço de Assistên-
cia a Menores, cuidando de jovens no sistema socioeducativo.

Seguridade Social contemporaneamente


INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS)
O conceito de seguridade social e seu sistema como concebemos hoje, um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social, estão previstos nos arts. 194
a 204 da Constituição Federal de 1988. Com o Decreto n. 99.350/1990, cria-se o Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), oriundo da fusão entre INPS e IAPAS; e, em 1995, com a
extinção do LBA, suas funções se dirigem ao INSS.

SISTEMA ÚNICA DE SAÚDE (SUS)


Também em 1990, institui-se o Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Lei n. 8.080/90,
e em funcionamento a partir de 1993, após a extinção do INAMPS.

SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


Por fim, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é instituído pela Lei n. 8.742/93,
também conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social.

OUTROS ELEMENTOS NORMATIVOS RELEVANTES


Podemos listar, ainda, outros elementos mais contemporâneos interessantes nessa seara:

• Lei n. 8.212/1991: custeio da seguridade social;


• Lei n. 8.213/1991: benefícios da previdência social;
• Decreto n. 3.048/1999: Regulamento da Previdência Social;
• Emendas Constitucionais nº 20 de 1998, 41 de 2003 e 47 de 2005: alteração de dispositivos
constitucionais referentes ao sistema de previdência social;
• Medida Provisória n. 258/2005: criação da Super Receita, que institui que o custeio seja retirado
do INSS e destina a competência à Secretaria da Receita Federal (SRF);
• Leis n. 13.134 e 13.135/2015: modificações nas leis de custeio e benefícios da previdência (8.212
e 8.213), conhecidas como Mini Reformas da Previdência;
• Emenda Constitucional 103/2019: Reforma da Previdência.

Você também pode gostar