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FACULDADE SANTA HELENA

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS


PROJETO INTEGRADOR

O IMPACTO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA CONTABILIDADE E NA


SOCIEDADE

RECIFE
2019
FACULDADE SANTA HELENA
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
PROJETO INTEGRADOR

ARYANA
DOUGLAS
ERIKA CASSIA
FERNANDO MIRANDA
IVAN BARBOSA
KAROLAYNE
LINDACÍ LIMA
LUCAS JOSÉ ALVES PIMENTEL
LUCAS STª CLARA
LUCAS SILVA
MAYARA

O IMPACTO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA CONTABILIDADE E NA


SOCIEDADE

Projeto apresentado às disciplinas do 1º período do curso de Ciências Contábeis


2019.1 da Faculdade Santa Helena como forma de composição da nota do semestre.

RECIFE
2019
INTRODUÇÃO

A pesquisa a seguir foi elaborada com vistas a obtenção de nota complementar das
disciplinas do 1º período do curso de Ciências Contábeis. Trata-se de um trabalho integrado, o
qual buscou abarcar todas as disciplinas no tema proposto, que é a Reforma da Previdência e
os impactos na atuação profissional do Contador.

A relevância da discussão se coloca na contemporaneidade do tema e na magnitude da


proposta da Reforma, que irá atingir direta e/ou indiretamente a todos os cidadãos brasileiros,
em especial àqueles que possuem vínculos formais de trabalho e às empresas.

O trabalho é composto por quatro partes, dentre elas: abordagem histórica global do
surgimento da Previdência Social; aspectos históricos nacionais sobre o surgimento da
Previdência Social; proposta da nova reforma brasileira; e impactos na atuação profissional do
profissional da Contabilidade.
1. A Concepção de Previdência Social no Brasil e no Mundo

Em declaração histórica o chanceler da Alemanha Otto Von Bismarck, afirma que.


Poderíamos ter uma satisfação muito mais completa, e que todas as obras do governo seriam
possíveis com ajuda visível de Deus, se pudéssemos ter a certeza de herdar a pátria, isso seria
uma garantia nova e durável, que assegure paz interna e desse aos que sofrem a assistência a
que têm direito.

O mesmo ainda retrata que nesse sentido está sendo preparado um projeto de lei sobre
os seguros dos operários contra os acidentes de trabalho. Segundo Bismarck esse projeto seria
completo por outro e que a finalidade seria organizar de modo uniforme. Ele ainda cita que
nesse projeto estaria incluso, caixa de socorro para casos de moléstia. Porém, também aqueles
que a idade, a invalidez tornam incapaz de prover ganhos cotidianos, além disso têm direito a
maior solicitude do que as que lhe tem.

Houve modelos antecessores de fundos e assistências, pois o foco da origem da


previdência tal como conhecemos hoje era uma preocupação com a mudança demográfica e
das relações de trabalho. Antes a “previdência” era como herança de família: investir no
patrimônio e nos filhos para colher os frutos através de seus descendentes. Ou seja, trabalhar e
reproduzir para poder, no final da velhice, quando finalmente o corpo estiver cansado demais
para plantar, colher, trabalhar exaustivamente numa mina, ou numa fábrica, depender dos
filhos. Por isso um herdeiro era tão necessário.

Outras formas peculiares e mais “legais” de previdência existiam no Direito da Roma


antiga. Tal como qualquer sociedade predominantemente agrária havia a obrigação do Patter
Familis com seus servos e a previdência do soldado romano sustentado com uma parte de seu
salário, e mais as terras para plantar na velhice.

A situação não mudou muito na idade média e permaneceu-se assim por muito tempo,
só que predominando os costumes sobre as leis. Porém, em 1601, houve a Poor Relief Act,
não como uma previdência, mas como assistência aos pobres e desamparados. A Igreja era
encarregada dessa assistência, mas a mesma era auditada por juízes.

1.1 Previdência Como Sistema e a Primeira Fase Evolutiva

Com o surgimento da Revolução Industrial e o advento da maquinofatura houve


profunda mudança social e demográfica. Além disso houve êxodo rural inédito nos milhares
de anos de história da humanidade, quando milhares de pessoas migraram do campo para
cidades e locais onde tivessem fábricas. Com o aumento da produção – a chamada produção
em massa ou em larga escala–, principalmente nas minas de carvão e nas fábricas de tecido, o
trabalho ficou mais maçante nas segundas e exaustivo e perigoso nas primeiras.

No final século XIX são criadas diversas leis em países em processo de


industrialização para proteger trabalhadores de exageros, tais como a lei das minas na
Inglaterra, que limitava o tempo de trabalho de crianças e mulheres. É a partir da preocupação
com o trabalho assalariado e, paralelamente, com as tensões sociais que já ocorriam desde o
século XVIII após a revolução francesa, começa uma preocupação com seguro social e
assistência.

Monarquias e impérios, como a Alemanha liderada pelo já citado Chanceler Otto Von
Bismarck, para segurar o tecido social, estabeleceu medidas, seguros e assistências em
comum conjunto com o trabalhador, empregador e Estado. Ao instituir uma espécie de
seguridade social obrigatória para proteger os trabalhadores em situações graves no que diz
respeito a problemas de saúde, acidentes de trabalho, invalidez e envelhecimento, a Alemanha
estabeleceu seguros em série tais como: seguro doença em 1883; seguro contra acidente de
trabalho em 1884; e, em 1889, Seguro por invalidez e a velhice.

O custo era pago com uma contribuição conjunta entre empregados, empregadores e o
Estado às seguradoras e entidades de socorro mútuo e os trabalhadores deveriam se filiar a
essas instituições. Aliado ao contexto das tensões sociais e políticas das revoluções e da
industrialização, o Papa Leão XIII cria a encíclica Rerum Novarum que explicita o endosso da
Igreja Católica, aliada aos estados, com a situação dos pobres e trabalhadores: é a doutrina
social da Igreja.

Essa fase se consolida com a Inglaterra, em 1897, que passa a seguir o exemplo da
Alemanha e promulga o Workman’s Conpensation Act no qual determina a responsabilidade
do empregador nos acidentes de trabalho. Em 1908, a Old Age Pensions, estabelece pensões
concedidas pelo Estado para maiores de 70 anos – o que era pouco, pois a expectativa de vida,
apesar de ter crescido bastante, ainda era baixa para essa idade.

Essa é a primeira fase evolutiva da previdência no mundo que vai de 1883, após
intensa expansão da industrialização na Europa, até o fim da 1ª guerra mundial, em 1918 –
com a queda desses impérios que sustentavam essas seguridades sociais. Mas, apesar do custo
social com o trabalho, a revolução industrial proporcionou ampla e crescente qualidade de
vida que só fez aumentar com a produção de alimentos. Indústrias brotaram pelo mundo e a
qualidade de vida, expectativa de vida, crescimento demográfico, entre outras melhorias,
modificaram as demandas sociais. Tratados internacionais para desincentivo às guerras, ao
estimular a paz e incentivar o pensamento no social, passaram a surgir dos novos estadistas:
os republicanos que surgiram dos escombros das monarquias e impérios.

1.2 Tradado de Versalhes e a Segunda Fase Evolutiva da Previdência

O Tratado de Versalhes foi um desses tratados internacionais que consolidaram os


direitos sociais, mas antes o terreno precisou ser preparado. Em 1917 o México inaugura o
Constitucionalismo Social, que começa a tratar de direitos sociais e tratados econômicos e
isso inclui o direito previdenciário. Em 1918 a nascente URSS começa a tratar também seu
direito previdenciário. Nos EUA, no contexto da política do New Deal, após a crise de 1929,
o congresso aprova o Social Security Act no intuito de amparar os idosos e instituir o auxílio-
desemprego.

É dentro desse contexto que no Tratado de Versalhes se estabelece a importância dos


Direitos Humanos como marco na história e, entre esses direitos, o direito previdenciário.
Após uma guerra mundial, a preparação para o futuro também e tornou mundial e cada vez
mais globalizado. E é no Tratado de Versalhes que surge a OIT – Organização Internacional
do Trabalho e, em meio a segunda grande guerra há o período de consolidação da Previdência
Social mais próxima do que conhecemos hoje: a Inglaterra cria a Beveridge que amplia o
conceito e a legislação da seguridade social não tratando apenas da previdência, mas também
nas áreas da saúde e da assistência social.

Após a segunda grande guerra, a demanda por acordos internacionais entre países
devastados pela guerra se intensifica. É dentro desse contexto que em 1948 há a Declaração
Universal dos Direitos Humanos – direitos caros até os dias atuais. Em seus artigos 22, 25 e
28, há preocupação em relação a normas mínimas para a seguridade social.
2. História da Previdência Social no Brasil

Desde o embrião, o sistema previdenciário brasileiro passa por fortes mudanças e


reformas, respondendo às transformações que a sociedade enfrenta. A seguir, iremos explanar
sobre o histórico da Previdência Social no Brasil e suas principais características em cada
período.

De acordo com Polignano (2001), no início do século XX, o Brasil estava passando
por um processo de urbanização e industrialização acelerado, devido a vinda do comércio
exterior para o país, principalmente no trecho Rio-São Paulo. Além disso, o país estava
recebendo muitos imigrantes europeus, imigrantes esses que já vinham de uma Europa
desenvolvida industrialmente e que os trabalhadores já possuíam alguns direitos trabalhistas
advindos das reivindicações do processo de Revolução Industrial.

As condições das indústrias brasileiras na época eram de precárias e os trabalhadores


não possuíam direitos trabalhistas e previdenciários. O contato dos trabalhadores brasileiros
com os imigrantes europeus proporcionou uma nova visão de organização do trabalho, o que
culminou em duas importantes greves gerais, em 1917 e 1919, com a finalidade de adquirir
direitos trabalhistas e melhores condições de trabalho.

O resultado das greves foi a aprovação da Lei Eloy Chaves, a qual instituiu as Caixas
de Aposentadorias e Pensões (CAPs), que trazia alguns direitos para os trabalhadores.
Vejamos:

A lei se aplicava apenas para os trabalhadores urbanos e era vinculada às empresas, ou


seja, cada empresa possuía a sua CAP e era administrada pela própria empresa em conjunto
com os trabalhadores, com financiamento bipartite – empregador e empregado – e dependia
do poder de mobilização dos trabalhadores para sua implantação. As próprias empresas eram
responsáveis por recolher e administrar os recursos.

Vale destacar que a instituição da referida lei não se configura enquanto um


“benefício” do empregador para os seus empregados. O Brasil estava passando pelo processo
de desenvolvimento industrial e urbano. As categorias profissionais que estavam
reivindicando direitos eram essenciais para o andamento desse desenvolvimento, tanto é que
as primeiras CAPs foram de empresas de ferroviários e marítimos.
As CAPs proviam aposentadorias por tempo de serviço e invalidez (em caráter
provisório com revisões periódicas); socorros médicos em caso de doença para o trabalhador e
membros da sua família; assistência na ocorrência de acidentes de trabalho, auxílio funerário;
medicamentos em preço especial e pensão para os dependentes em caso de morte do
trabalhador. (BRASIL, 1923).

As regras de aposentadoria para essa Lei se configuravam da seguinte forma: 30 anos


de serviço e 50 anos de idade para obtenção do valor integral; 25% de redução do valor do
salário de contribuição para os empregados que completassem 30 anos de serviço, mas não
tivessem 50 anos de idade.

No ano de 1930, o sistema de CAPs abrangia 47 caixas, com 142.464 segurados


ativos, 8.006 aposentados, e 7.013 pensionistas. (POLIGNANO, 2001, p. 8).

Assim, em 1930 o então presidente da república, Getúlio Dornelles Vargas, visava


romper com a política de agro exportação e acelerar ainda mais o processo de industrialização
e consolidação do capitalismo. Para isso, colocou em pauta diversas mudanças no âmbito da
economia e do setor trabalhista. Criou uma nova Constituição Federal, a qual abrangeu
direitos de massa, com um capítulo específico sobre a “ordem social e econômica”. Um
importante marco foi a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a
regulamentação da justiça do trabalho.

No que tange a Previdência Social, a política do Estado de Getúlio Vargas pretendeu


ampliar a todas as categorias do proletariado urbano os direitos garantidos pelas CAPs.
Assim, em 1933, as CAPs são substituídas pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões
(IAPs), em que os trabalhadores não eram mais organizados por empresas, e sim, por
categorias profissionais. Diferentemente das CAPs, os IAPs tinham financiamento tripartite –
o governo federal entrou na base de contribuição – e cobriam aposentadoria ordinária ou por
invalidez, pensão por morte ao cônjuge ou dependentes, assistência médica e hospitalar com
internações até 30 dias e socorros farmacêuticos mediante indenização. (BRASIL, 1933).
Além disso, para ter direito a aposentadoria ordinária, o trabalhador precisava ter 30 anos de
contribuição e 55 anos de idade.

Segundo Nicz (1982) apud Polignano (2001), além de servir como importante
mecanismo de controle social, os IAP’s tinham, até meados da década de 50, papel
fundamental no desenvolvimento econômico deste período, como “instrumento de
captação de poupança forçada”, através de seu regime de capitalização.
Os IAPs vigoraram até meados da década de 1960, quando foi aprovada a Lei
Orgânica da Previdência Social nº 3.807 de 26 de agosto de 1960. A lei objetivava unificar os
IAPs em uma única instituição para administrar as aposentadorias de todos os trabalhadores
urbanos, sem os critérios de segregação/estratificação por empresas e categorias profissionais,
como era o caso das CAPs e dos IAPs, respectivamente. Foi bastante criticada pelos
empregados, pois, a unificação dos institutos representava o desmonte de muitos direitos
conquistados até então, “além dos IAPs se constituírem naquela época em importantes feudos
políticos e eleitorais” (POLIGNANO, 2001, p. 12). Esse processo de unificação só se
consolidou em 1966, com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Vale
destacar que nesse período estava em voga o Regime Militar no Brasil, que se baseava em
extrema centralização de poder no âmbito federal/militar, justificando a unificação dos IAPs
em um único órgão para facilitar o controle por parte dos militares. O financiamento também
era tripartite – governo, empregados e empregadores.

A Lei 3.807/1960, abarcava os seguintes direitos: auxílio-doença; aposentadoria por


invalidez, velhice, especial e tempo de serviço; auxílio-natalidade; pecúlio; assistência
financeira; pensão por morte; auxílio-reclusão; auxílio-funeral; assistência médica, alimentar,
habitacional, complementar, reeducativa e readaptação profissional. (BRASIL, 1960).

Algumas categorias profissionais somente na década de 70 conseguiram se tornar


beneficiários do sistema previdenciário, como os trabalhadores rurais com a criação do
Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL) em 1971 através da Lei
Complementar nº 11 de 15 de maio de 1971. A lei garantia os seguintes direitos: assistência
maternidade, auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou velhice, pensão por morte aos
beneficiários, assistência médica, serviço social e auxílio funeral. (BRASIL, 1963). Os
empregados domésticos e os autônomos só tiveram direito de participar da Previdência em
1972. (POLIGNANO, 2011, p. 16).

A ampliação do mercado de trabalho e uma dinâmica populacional onde havia mais


trabalhadores ativos do que aposentados no país fizeram com que, até os anos 80,
a arrecadação da previdência fosse maior do que seu custo, tendo um grande papel
no crescimento do país nesse período. (AGUIAR, 2017, on-line).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi instituído um novo regime de


Seguridade Social, que abarcou três grandes políticas macrossociais: Assistência Social,
Saúde e Previdência Social. Dessa forma, a Previdência Social se configurou a partir de então
como um Regime Geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, assegurando
cobertura nos seguintes eventos: doença, invalidez, morte e idade avançada; proteção à
maternidade; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salário-
família; auxílio-reclusão; e pensão por morte do segurado. (BRASIL, 1988).

A Constituição de 1988 foi responsável por consolidar a Previdência Social como


um sistema de direitos da cidadania baseado na solidariedade e exigindo como
contrapartida um esforço de cada um dos membros da sociedade em seu
financiamento. Os principais impactos na legislação decorrentes de sua promulgação
foram a universalidade da cobertura e a noção de equidade no financiamento do
sistema e na distribuição dos benefícios. (BRASIL, 2009).

O INPS foi substituído pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) através do
Decreto 99.350 de 27 de junho de 1990. A assistência médica e hospitalar passou a ser de
responsabilidade de outro setor do Estado – Ministério da Saúde – se desvinculando do
sistema previdenciário. Em 1991, através da Lei nº 8.213 de 1991, foram criados os Planos de
Benefícios da Previdência Social, abarcando os direitos de aposentadoria por invalidez, idade,
tempo de contribuição e especial; auxílio-doença; salário-família; salário-maternidade;
auxílio-acidente; auxílio-reclusão; pensão por morte; serviço social e reabilitação profissional.
(BRASIL, 1991).

As regras gerais propostas por essa lei foram: idade mínima de 60 anos para mulheres
e 65, homens; tempo de contribuição de 25 anos para mulheres e 30 para homens e a
aposentadoria especial, mínimo 15 anos de contribuição.

Desde 1990, existe uma corrente ideológica e filosófica que permeia a atuação do
Estado: o neoliberalismo. O neoliberalismo nada mais é que um liberalismo adequado aos
tempos de globalização e prega a mínima intervenção do Estado no mercado/economia. Nesse
cenário, a Previdência Social foi alvo de reformas sucessivas, com a justificativa de alta na
inflação e crises econômicas. Foram propostos os seguintes aspectos através, principalmente,
da Emenda Constitucional 20 de 1998 de Fernando Henrique Cardoso: para cálculo da
aposentadoria a previdência não consideraria o tempo de serviço do trabalhador, mas sim o
tempo de vínculo com o INSS; o tempo de contribuição se colocou em 30 anos para mulheres
e 35 anos para homens.

Em 1999 foi aprovado o fator previdenciário, uma fórmula matemática aplicada sobre
o salário que leva em conta a idade do trabalhador, além do tempo de contribuição, para
definir o valor do benefício. A regra foi implantada para desestimular a aposentadoria
precoce. (CASTRO, 2016, on-line).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se encarregou de fazer uma reforma
no sistema previdenciário, porém, focado no setor público, diferentemente de seus
antecessores Collor e Fernando Henrique Cardoso, que direcionaram a reforma para o âmbito
dos empregados privados vinculados ao INSS. As propostas de Lula, que foram aprovadas, se
colocam no seguinte plano: tempo mínimo de contribuição de 35 anos para homens e 30 para
mulheres; idade mínima de 60 e 55 anos para homens e mulheres, respectivamente; 20 anos
de serviço público efetivo; 10 anos de carreira; 5 anos de exercício no último cargo; desconto
de contribuição de 11% para servidores já aposentados e fim da aposentadoria com valor
integral. Por pressão política, os militares e servidores do judiciário foram excluídos da
reforma. (CASTRO, 2016, on-line; FREITAS, 2019, on-line).

Posteriormente, durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, houve novas


alterações na Previdência Social brasileira. A principal delas foi o Fator 85/95. Vejamos: o
trabalhador tem o direito de se aposentar com os proventos integrais se a soma da idade e do
tempo de contribuição alcançar 85 anos para mulheres e 95 anos para homens. (BRASIL,
2015).

Vale ressaltar que desde 1923 a expectativa de vida foi aumentando gradativamente,
com o desenvolvimento do país, maior acesso aos serviços em geral, melhorias no sistema de
saúde, mudanças no perfil dos adoecimentos, por isso, a Previdência Social sempre foi alvo de
mudanças, acompanhando as referidas mudanças sociais e de expectativa de vida.
3. Reforma da Previdência Contemporânea

Atualmente, está em debate no cenário político uma nova reforma no sistema


previdenciário, propondo novamente mudanças nas regras de concessão dos benefícios tanto
para o Regime Geral quanto para os Regimes Próprios, abrangendo funcionários públicos e
privados. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 6 de 2019 propõe os seguintes
elementos: mínimo de 62 anos de idade para mulheres e 65 anos para homens, podendo
aumentar caso haja aumento da expectativa de vida ao longo dos anos seguintes; mínimo de
20 anos de contribuição para todos. Nesse caso, o beneficiário receberá 60% da média salarial
dos anos trabalhados. Para receber 100% dos proventos é necessário contribuir por no mínimo
40 anos; após o final da regra de transição, a aposentadoria por tempo de contribuição deixará
de existir.

Quadro comparativo das regras de aposentadoria atuais e da Nova Reforma da


Previdência

Atual Nova Proposta


* 60 anos para mulheres; * 62 anos para mulheres;
Idade
* 65 para homens. * 65 para homens.
* Não há idade mínima;
* 30 anos de contribuição para * Não há aposentadoria apenas
Tempo de
mulheres; por tempo de contribuição;
Contribuição * 35 anos de contribuição para
homens.
* 20 anos de contribuição para
homens;
* 15 anos para mulheres;
* Recebimento de 60% da média
Contribuição * 15 anos de contribuição para
salarial;
Mínima todos.
* OBS: para receber o valor
integral é necessário no mínimo
40 anos de contribuição
Alíquotas * até um salário-mínimo, 7,5%;
* até R$ 1693,72: 8%; * acima de um salário-mínimo até
* R$ 1693,73 a R$ 2822,90: 9%; R$ 2.000,00, 9%;
* R$ 2822,91 a R$ 5645,80: 11%. * de R$ 2.000,01 até R$ 3.000,00,
12%;
* de R$ 3.000,01 até R$ 5.839,45,
14%;
Sistema de Obrigatório, descontado em folha, Opcional, com títulos de
Arrecadação regime solidário capitalização
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa.

3.1 Pontos positivos e negativos da Nova Reforma da Previdência

É sabido que o Brasil necessita de uma nova reforma previdenciária. A expectativa


está em ascensão, devido a melhoras nas condições de vida e saúde da população. Porém, a
PEC nº 6 de 2019 propõe mudanças que afetam significativamente a população mais
vulnerável do país. Vejamos:

O aumento da idade não foi tão alarmante, visto que, apenas para mulheres o aumento
foi de 2 anos. Justifica-se devido ao aumento da expectativa de vida, citado anteriormente.
Porém, levando em consideração que as mulheres ainda possuem jornadas duplas e até triplas
de trabalho no Brasil, o aumento da idade impacta significativamente.

Já no tempo de contribuição, a proposta é bastante assustadora, pois, coloca no


mínimo 40 anos de contribuição para recebimento dos proventos integrais. Nessa nova regra,
um trabalhador precisa começar a trabalhar aos 25 anos de idade para se aposentar na idade
mínima – 65 anos – e passar a vida inteira com vínculos trabalhistas, evitando o desemprego.
Teoricamente, deve-se haver empregos para todos por toda a vida produtiva.

No que tange a aposentadoria por tempo de contribuição, a nova previdência vetou


totalmente, ou seja, não há mais o regime de aposentadoria apenas pelo tempo de
contribuição. Na previdência em vigor, essa possibilidade existe e se coloca para no mínimo
15 anos. Sendo assim, para o trabalhador se aposentar, necessariamente deverá completar a
idade mínima, e ainda assim, sem ter certeza de atingir o valor integral.

Sobre o regime de arrecadação, a nova proposta prevê a instituição de regimes de


capitalização opcional. Esse ponto se apresenta como um dos mais danosos à população de
baixa renda, pois, será de responsabilidade de cada um aplicar um valor mensal em poupança
própria, todos os meses impreterivelmente até completar a idade mínima e o tempo mínimo de
contribuição. Na prática, o valor da aposentadoria dependerá do rendimento que o trabalhador
tiver em sua conta individual, sem nenhuma participação do empregador e do governo.
O Chile foi o primeiro país da América Latina a implantar um sistema de
capitalização, em 1981 no governo de Pinochet e já se vê na atualidade um perfil traçado.
Segundo Utchoff (2019), apenas metade da população que supostamente teria o direito
conseguiu se aposentar. Na época das discussões da reforma, os estudiosos diziam que apenas
10% do salário em uma aplicação de capitalização seria necessário para obter 70% do salário
da ativa na aposentadoria, porém, isso não se tornou realidade. Além disso, o índice de
suicídios cresceu exponencialmente. “A explicação que dão os psicólogos é que claramente há
um estado depressivo, uma situação de dependência, de vulnerabilidade, numa idade em que
aparecem todas as doenças e claramente não se tem como resolvê-las.” (UTHOFF, 2019, on-
line).

O que se pretende com o sistema de capitalização é a flexibilização da mão-de-obra,


diminuição de encargos trabalhistas para os empregadores e governo e beneficiar os bancos
com a injeção de dinheiro a ser usado no sistema financeiro.

Outro aspecto a se pensar é que com a possível redução nos valores da aposentadoria
na terceira idade, período em que há maiores gastos com a saúde, a redução do valor da
aposentadoria iria provocar uma redução drástica na qualidade de vida. Ademais, pela
experiência que é vivenciada hoje nos serviços públicos de saúde, este ainda não está
preparado para receber uma massa intensificada de idosos.

Há uma grande comparação aos países desenvolvidos, em que a maioria tem a idade
mínima na faixa dos 66 anos. O que é necessário observar é que, nos países desenvolvidos, a
qualidade de vida ofertada permite que um trabalhador chegue aos 66 anos com melhores
condições de vida e saúde, o que não acontece em países ditos subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento. Isso porque a qualidade de vida, os serviços públicos, o mercado de
trabalho, a renda, entre outros fatores, não proporciona a chegada da idade avançada de forma
tão qualificada quanto nos países desenvolvidos.

Para a Gazeta do Povo (2017), do ponto econômico, a reforma trará alguns benefícios:
elevação da produtividade, pois, pessoas ainda com idade ativa e qualificação permanecerão
mais tempo no mercado de trabalho. Irá também gerar economia de recursos públicos. Além
disso, ao conter o crescimento de seus gastos com Previdência, o governo federal poderá
reduzir o volume de dinheiro que pega emprestado para financiar a dívida pública.

O crédito se tornará mais barato, visto que, com o crescimento das taxas de poupança,
haverá mais recursos para empréstimos, baixando os juros. A queda dos custos do crédito
deve proporcional retorno gradativo do mercado internacional para investimento no Brasil,
gerando reflexos positivos na economia e na geração de empregos.

Do ponto de vista de justiça social e equidade, a PEC prevê a criação de alíquotas


diferenciadas por faixa salarial, fazendo com que aqueles que ganham mais paguem
contribuições previdenciárias com maiores alíquotas, diminuindo as alíquotas dos que tem
renda inferior. (GUELLER, 2019, on-line).

4. Impactos da Reforma Previdenciária na Rotina Contábil

Inicialmente, foram divulgadas na mídia notícias de uma possível eliminação do


FGTS, além das questões amplamente faladas no que diz respeito a aposentadoria. Com a
tendência de maior liberação no mercado para facilitar o andamento das empresas, é possível
que certas alíquotas sejam reduzidas com o objetivo de incentivar a geração de empregos, e
isso exigirá um novo cálculo de folha de pagamento nas empresas. Outro quesito a ser
inserido na contabilização.

Outro fato seria as mudanças nas alíquotas do Programa de Integração Social (PIS),
Contribuição Para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Contribuição Social
Sobre o Lucro Líquido (CSLL). Com isso o contador necessitará estar atento, pois,
impactarão de maneira direta nas demonstrações contábeis e folha de pagamento. Inclusive, se
ocorre uma reforma tributária como há anos discute-se, será muito maior que a reforma
trabalhista ou previdenciária.

Os três ramos formam um tripé dentro da contabilidade, entretanto, o tributário é a


base que sustenta; os outros dois são “apoio”. Voltando ao direto previdenciário, as mudanças
também modificam a vida do contador, seja ele contribuinte individual ou assalariado, o
impacto será sentido na contagem de tempo para aposentadoria. Isso significa que o
profissional não estará imune as mudanças legislativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, uma reforma previdenciária é necessária, visto que, o perfil demográfico


brasileiro está cada vez mais próximo do dos países ditos desenvolvidos: a população idosa
está aumentando gradativamente e o mesmo não acontece com a população jovem, que é
quem sustenta o sistema previdenciário atual, baseado na solidariedade. Além disso, segundo
dados do Ministério da Economia de 2019, os cofres da Previdência Social estão com um
déficit de cerca de 80 bilhões de reais, podendo se tornar insustentável muito brevemente.

Porém, a reforma nos moldes como está posta, trará muitos impactos negativos à vida
dos brasileiros, sobretudo os trabalhadores assalariados do regime geral, que necessitarão
passar mais tempo trabalhando para alcançar a aposentadoria, tempo esse, que não ocorre com
qualidade de vida. Além do mais, os proventos da aposentadoria poderão não serem recebidos
integralmente, devido ao fator previdenciário aplicado aos cálculos para a concessão do
benefício.

Para controlar o desequilíbrio fiscal que assola a economia brasileira na


contemporaneidade, será necessário não só uma reforma previdenciária justa e que seja
discutida com os mais interessados no assunto, mas também, reformas no sistema político e
tributário, dando ênfase a este último, que hoje se configura como extremamente desigual,
atingindo os mais pobres de forma desproporcional.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, J. P. de V. Politize!. História da Previdência Social Brasileira. Florianópolis,
2019. Disponível em: <https://www.politize.com.br/historia-da-previdencia-no-brasil/>.
Acesso em 12 out. 2019.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto nº 4.682 de 24 de janeiro de 1923. Cria, em cada
uma das empresas de estradas de ferro existentes no país, uma caixa de aposentadoria e
pensões para os respectivos empregados. Rio de Janeiro, 1923. Disponível em:
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