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Preparação para o éfolio global

AF1

3. O nascimento do Estado-providência português enfrentou o atraso da economia face aos


seus vizinhos europeus, razão que explica o “carácter semi-periférico” do modelo de
desenvolvimento do país (Santos 1990). Aliás, Santos e Ferreira (2002: 191) sublinham que “O
Estado português é ainda um quase-Estado-providência, que se consolidou num período de
crise política e económica do modelo em que se inspirou”.

Comente a análise de Santos e Ferreira (2002): explique o significado da afirmação – “O Estado


português é ainda um quase-Estadoprovidência” – com base no percurso do Estado-
providência em Portugal em comparação com a evolução do Estado-providência a nível
internacional.

Conteúdos a mobilizar: capítulo 2 do ebook Política Social, em particular pp.50-56 e pp.65-67,


e artigo de Santos e Ferreira (2002) (recurso disponível na turma, no tópico do tema) (obs.: o
texto de Santos (1990) é facultativo, mas o texto de Santos e Ferreira (2002) é de mobilização
obrigatória na elaboração da resposta).

R: As primeiras medidas de política social no âmbito do Estado-


providência surgiram na Europa, nomeadamente em 1889, na
Alemanha, pelas mãos de Bismark (1815-1898) que, devido à
crescente industrialização e com o intuito de conter as ideologias dos
sociais-democratas, apresentou no parlamento nacional uma série de
propostas de lei que compõem as bases da segurança social. Bismark
fez aprovar a primeira legislação de segurança social obrigatória,
aprovando um conjunto de três leis compostas por um sistema de
seguro obrigatória relativo a riscos de acidentes de trabalho, doença,
invalidez e velhice. Bismark impulsionou desta forma o início dos
Estados-providência. Também em 1891, na Dinamarca,
desenvolveram-se um conjunto de medidas que contribuíram para o
início do Estado-providência.
Contudo, o termo “Estado – providência”, conhecido como
“Welfare State”, surgiu em Inglaterra, através do Arcebispo Temple
(1881-1944), em 1941, pela necessidade de se transformar o estado
de guerra (“Warfare”), que se sentia pelo regime nazi, por um
Estado-providência (“Welfare State”). As primeiras medidas adotadas
foram de natureza de seguro com o intuito de proteger a população
dos riscos de acidentes de trabalho, passando aos seguros de doença
e proteção na velhice e, posteriormente, às prestações de proteção
no desemprego. Só mais recentemente se verificaram políticas de
prestações às famílias e seguros de saúde. Também William
Beveridge (1879-1963) ficou associado a este início dos Estados –
providência através da apresentação, em 1942, do famoso relatório
"Social Insurance and Allied Services” (Pereirinha, 2018: 51). Este
relatório, que foi apresentado no parlamento inglês, ficou
universalmente conhecido por Relatório Beveridge.
Surgiam assim as primeiras medidas de cariz social. Estes
programas incluíam as prestações de substituição de rendimento, em
caso de perda remuneratória por motivos de acidente de trabalho,
desemprego ou doença e de prestações de complemento de
rendimento, com o intuito de compensar despesas derivadas do
aumento da dimensão familiar. Estas medidas são da
responsabilidade do Estado. Surgia assim, sob a forma destas
políticas de cobertura dos riscos sociais e promoção do bem-estar
social, uma inovação política que até aqui era descorada, pese
embora limitada a poucos países.
Em Portugal, o Estado-providência tem a sua expansão no final
do séc.XIX, tendo as suas origens nas corporações medievais das
artes e ofícios. Esta expansão é caracterizada pelo aumento do
movimento associativo operário que se deve ao crescimento
económico, no período do fontismo. Com o aumento da
industrialização surgem as associações mutualistas e as organizações
sem fins lucrativos que, mediante o pagamento de uma quota,
protegiam os seus associados contra os riscos sociais como a
proteção em caso de doença, desemprego, acidentes de trabalho,
invalidez, velhice e doenças profissionais. No entanto, estas medidas
geraram alguma revolta e descontentamento uma vez que não eram
suficientes. Posteriormente, surgia uma legislação que implementava
a Lei de Bases de Organização da Previdência, comtemplando órgãos
em três setores como o setor público, privado e corporativo. Além
disso, foi também alargada a previdência abrangendo o abono de
família, os serviços médico-sociais e os direitos de saúde. Com o
aparecimento da democracia, em 1974, surgiu também a criação do
serviço nacional de saúde (SNS) de âmbito universal e gratuito, bem
como a criação da Lei de Bases da Segurança Social, que ainda se
mantém em vigor pese embora com algumas alterações.
Apesar desta evolução no Estado-providência em Portugal o
nosso país ainda fica aquém do que é praticado em outros países da
Europa. Segundo Santos e Ferreira (2002) “(…) em 1998 Portugal era
um dos países que menos gastava em despesas sociais em
percentagem do PIB (23,4%), apenas ultrapassado pela Espanha e
Irlanda, mantendo-se consistentemente abaixo da média europeia
(27,7%) (Amerini, 2000).” Além das despesas de proteção social
estarem consideravelmente abaixo da média europeia, o que traduz
um baixo investimento na garantia do bem-estar social
comparativamente a outros países da Europa, as medidas de
proteção social em Portugal não têm tido eficácia na erradicação da
pobreza e da desigualdade social, não cumprindo a sua missão na
proteção dos grupos mais vulneráveis. Contudo, este baixo
investimento em medidas sociais tem sido compensado com base na
entreajuda familiar e em laços de amizade, através da troca de
alguns bens e serviços entre estes grupos sociais.
Tendo em conta todas estas nuances no Estado – providência
português e uma vez que, as medidas de provisão do bem-estar
social não são suficientes e eficazes, como vimos anteriormente, o
“Estado português é ainda um quase Estado – Providência” (Santos,
2002: 15). Pois, o nosso modelo de “Welfare State” ainda se encontra
distante de outros Estados – providência europeus.
4. Com base na análise da “Estratégia Portugal 2030” e da “Agenda Europa 2030” (cf.
documento “Para uma Europa Sustentável até 2030”), explique como as perspetivas teóricas
da path dependency, path deviation e difusão nos podem ajudar a compreender a expansão e
a evolução histórica do Estado-Providência, no contexto da União Europeia.

Conteúdos a mobilizar: capítulo 2 do ebook Política Social (em particular pp.59-64),


“Estratégia Portugal 2030” e “Para uma Europa Sustentável até 2030” (recursos disponíveis no
tópico inicial da turma).

R: A expansão do Estado-providência está ligada a diversos

fatores que podem ser explicados em torno de duas grandes linhas


teóricas, nomeadamente através da corrente do institucionalismo
histórico e do processo de difusão. Com a primeira linha teórica, o
institucionalismo histórico, surgem os conceitos de “path
dependency” (dependência de percurso), que tem em linha de conta
o percurso histórico, cultural e o conteúdo social, e o conceito de
“path deviation” (desvio de percurso), caracterizado pelos desvios
dependentes da vontade dos atores sociais. (Pereirinha, 2018: 59)
O conceito de “path dependency” surge nos anos 80, na ciência
económica, com o intuito de explicar o porquê de em certas ocasiões
ser mais racional utilizar tecnologias tradicionais comparativamente a
novas tecnologias. Pierson aplicou este conceito no âmbito da análise
da política social. Para o autor, existe um custo de mudança de uma
alternativa para outra que cresce à medida que se avança no tempo,
em certos contextos sociais, o que faz com que as instituições
bloqueiem a mudança. Sendo que a evolução das instituições deverá
ser feita por pequenos ajustes ao longo do tempo ao invés de
alterações drásticas. Neste processo de “path dependency” o
percurso do Estado-providência tem a influência da história.
De acordo com PFAU-EFFINGER (2004) para que se perceba
este mecanismo deve distinguir-se tanto a natureza das instituições e
as políticas do Estado – providência, bem como a forma que o
contexto social assume e onde se enquadra esse Estado-providência,
ou seja, no seu “welfare arrangement”, que se mantém estável ao
longo do tempo caso as suas bases culturais assumirem as normas
do sistema de provisão do bem-estar. Ou seja, deve ter-se em
consideração as relações mútuas entre as políticas do Estado –
providência e as dimensões culturais. De acordo com o autor, tanto a
cultura como as políticas do Estado-providência interrelacionam-se
através das ideias e do consequente contributo que os atores sociais
dão à cultura do bem-estar. Existem dois grupos de atores sociais, os
atores coletivos (ONGs, partidos políticos, etc), e os atores primários,
que são grupos que possuem uma maior escassez de recursos de
poder, o que se traduz em pouca influência na mudança. Logo, temos
as políticas do Estado – providência que são baseadas nas ideias e
que compõem a cultura de bem-estar e os interesses dos atores
sociais que influenciam as bases culturais predominantes.
No entanto, poderá ocorrer um “path deviation”, um desvio de
percurso, do Estado-providência. Isto poderá acontecer pela vontade
os atores sociais e que pode traduzir-se em diferentes alterações,
tanto a nível da atuação das instituições e políticas do Estado-
providência, como uma alteração dos instrumentos e objetivos da
política bem como alterações dos valores fundamentais do Estado-
providência. Ou seja, se uma medida desviar o objetivo ou mesmo o
sistema de valores do Estado-providência estaremos perante um
“path deviation”.
A segunda linha teórica, o processo de difusão, assenta na
ideologia de que nenhum Estado está isolado da comunidade
internacional. Esta teoria explica a influência que os países mais
desenvolvidos ao nível do Estado-providência exercem sobre os
menos desenvolvidos através da difusão dos seus sistemas nacionais
de segurança social mais desenvolvidos e inovadores. Neste
desenvolvimento, nomeadamente nos sistemas de segurança social e
na difusão de orientações de política social, as organizações
internacionais desempenharam um papel muito importante,
contribuindo de forma positiva para a evolução dos sistemas sociais a
nível mundial. Poderemos destacar a Conferência da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), em Filadélfia, em 1944, que marcou
o início dos sistemas de segurança social. O modelo da OIT originou
um sistema de pensões assente em “pensões de benefício definido”
(Pereirinha, 2018: 63) que consistia num financiamento de PAYG
(“pay-as-you-go”), com gestão pública, onde os trabalhadores
contribuem, com parte do seu salário, assegurando o pagamento das
pensões, referentes a esse ano. Este modelo é o utilizado em
Portugal, por exemplo, onde os reformados usufruem de uma pensão
de substituição de salário. Segundo Pereirinha (2018: 63), este
sistema é conhecido como “sistema de repartição”.
A Estratégia Portugal 2030, que foi aprovada em 2020, assenta
num conjunto de medidas para os próximos 8 anos, estruturadas em
4 agendas, com o objetivo de recuperar a economia, proteger o
emprego, assegurando uma maior coesão social, convergindo com os
objetivos da União Europeia. Efetivamente, a agenda 1, pretende
colocar as pessoas no centro das preocupações, promovendo uma
sociedade mais inclusiva e menos desigual. Esta Estratégia Portugal
2030 é um exemplo prático das linhas teóricas do institucionalismo
histórico, nomeadamente do “path dependency” e do processo de
difusão. Por um lado, o “path dependency” está presente na medida
em que a evolução está a ser feita faseadamente, com pequenos
ajustes, com base na história e cultura social de Portugal e da União
Europeia (UE). Por outro lado, é um exemplo do processo de difusão
na medida em que a Estratégia Portugal 2030 segue o modelo e as
ideologias europeias, seguindo a ideologia de que nenhum Estado
está isolado internacionalmente, absorvendo a difusão de políticas
socias e económicas emanadas pela UE e que são transversais aos
países que a compõem.
5. Considerando os equipamentos que podemos designar por Estruturas Residenciais para
Pessoas Idosas (ERPI) e a pluralidade de atores na provisão do bem-estar (Estado, terceiro
setor e mercado), analise a oferta deste tipo de equipamentos na sua área geográfica de
residência: i) identificando diferentes equipamentos, consoante os atores intervenientes na
sua provisão; ii) caracterizando as respostas que oferecem e a forma de financiamento das
mesmas; iii) refletindo sobre o papel dos diferentes atores na provisão deste serviço para as
pessoas idosas, em particular, e na garantia do bem-estar social, em geral.

Conteúdos a mobilizar: capítulo 3 do ebook Política Social, em particular pp.77-88.

R: Tem sido apanágio, nos modernos Estados-providência, que a


provisão e garantia de bem-estar não está exclusivamente assente
nos serviços públicos. Tem-se verificado, na atualidade, que existem
outras entidades de carácter privado que também fornecem estes
serviços de provisão de bem-estar, tendo, em muitas ocasiões, uma
expressão relevante para a população abrangida. Esta importância
que os atores privados têm vindo assumir na garantia desses direitos
sociais são a consequência de, por um lado, o Estado não conseguir,
em alguns casos, cobrir as necessidades da sociedade e, por outro
lado, é a própria vontade política que envolve estes atores privados
nas funções sociais que querem ver garantidas no seio da sociedade.
Devido a esta pluralidade de atores sociais nas sociedades modernas
é frequente usar o termo “welfare-mix”, fazendo referência a um
pluralismo providencial. Ou seja, “(…) há uma pluralidade de atores
sociais, públicos e privados, com características muito diversas que,
conjuntamente, contribuem para a provisão do bem-estar nas
sociedades modernas” (Pereirinha, 2018: 77).
Se se pretender identificar quais os agentes sociais que
contribuem para a provisão do bem-estar é essencial fazer uma
distinção entre a produção e financiamento. No primeiro, importa
entender qual o agente que produz o bem ou serviço, o segundo, diz
respeito ao agente que suporta financeiramente o custo com a
produção desse fornecimento. Ao efetuar a análise à provisão de
bem-estar importa identificar quais os agentes envolvidos, que se
dividem em três categorias: 1) o cidadão, é o agente que vai
consumir o bem ou serviço, na qualidade de portador de direitos
sociais a quem se destina o bem. 2) o agente produtor desses bens
ou serviços, que pode assumir tanto atores privados, como empresas,
atores públicos ou outra categoria de agentes. 3) o agente
financiador, que suporta o custo desse fornecimento, podendo ser o
próprio cidadão, o Estado, ou outra entidade. Ou seja, existem três
atividades distintas que podem corresponder a um agente ou a
agentes distintos, são elas o consumo, a produção e o financiamento.
Estamos perante o “triângulo de bem-estar” e “welfare pluralism”,
como refere Pereirinha (2018: 78).
Estamos assim perante uma multiplicidade de atores sociais
que têm como objetivo primordial garantir a provisão de bem-estar,
enquadrando-se em três categorias distintas. Na primeira
encontramos as organizações que integram o setor do mercado,
possuindo autonomia para a produção e preço dos bens e
serviços que proporcionam tendo como objetivo, além da
garantia de bem-estar, a maximização dos lucros através de uma
racionalidade económica estando, contudo, dependentes da
capacidade financeira do consumidor/cidadão para adquirir esse bem.
Numa segunda categoria estamos perante as organizações de
caracter público, que têm como base o mesmo princípio de
racionalidade económica pese embora assente numa política de
orçamento como o objetivo de garantir o bem-estar social,
independentemente das possibilidades monetárias do
cidadão/consumidor, pois o objetivo é garantir o direito social a todos
os cidadãos. Por último, encontramos as organizações privados do
terceiro sector, que são caracterizadas por organizações de
solidariedade social sem fins lucrativos onde assentam as suas
práticas de provisão de bem-estar na micro-solidariedade. Ou seja,
os bens e serviços que fornecem são trocados por dinheiro contundo
longe da visão de maximização do lucro. Temos como exemplos do
terceiro sector as famílias, vizinhos e amigos que asseguram serviços
que muitas vezes as entidades públicas ou privadas não conseguem
garantir, como por exemplo o apoio a crianças e idosos.
Pela dificuldade sentida das sociedades em encontrar alguns
serviços sociais, como por exemplo, Estruturas Residenciais para
Pessoas Idosas (ERPI), o Estado celebra parcerias público-privadas
(PPP), nomeadamente com as IPSS, estruturas referentes ao terceiro
setor, com o objetivo de promover a garantia de bem-estar através
da produção de serviços sociais diferenciados, como por exemplo, na
área da saúde, educação, cuidados pessoais, entre outros. O Estado,
financia e delega, desta forma, as suas competências na garantia de
bem-estar social para estas instituições do terceiro setor, bem como
para outras instituições de cariz privado.
Na minha área de residência estão disponíveis algumas ERPIs
com origem no terceiro setor e no setor privado lucrativo,
nomeadamente o Centro Social e Paroquial do Bombarral (CSPB) e
diversos Lares, de cariz privado, distribuídos pelo concelho. No caso
do CSPB trata-se de uma instituição do terceiro setor, sem fins
lucrativos e com financiamento do Estado, garantindo a provisão do
bem-estar, nomeadamente para os idosos do nosso concelho.
Contudo, esta instituição não tem a capacidade de provisionar a
garantia de bem-estar em toda a população idosa do concelho. Por
esse motivo, encontramos outras ERPIs de caracter privado, mas com
vista à maximização dos lucros, onde os consumidores (idosos)
financiam estas estruturas.
6. Analise o relatório de Franco (2015) e desenvolva uma reflexão sobre o papel que o terceiro
sector pode assumir na implementação da Política Social no contexto português, aplicando as
teorias justificativas da atuação do terceiro setor.

Em complemento ao relatório de Franco (2015), pode pesquisar informação na Conta Satélite


da Economia Social de 2016.

Em ambos os recursos encontra informação que atualiza a caracterização apresentada no


subcapítulo 3.5 de Pereirinha (2018).

Conteúdos a mobilizar: capítulo 3 do ebook Política Social, em particular pp.91-94, e relatório


de Franco (2015) (em particular pp.201-216) (recursos disponíveis na turma no tópico do
tema).

R: O Terceiro Setor representa, pela sua dimensão, um pilar


fundamental na provisão do bem-estar no seio da sociedade. A sua
existência remonta antes da constituição dos Estados-providência e é
caracterizado pela sua realidade heterogénea. O Terceiro setor, ou
economia social, é constituído por instituições sem fins lucrativos
comtemplando várias modalidades desde associações, misericórdias e
fundações. As associações têm a sua origem no século XV, através
das associações mutualistas, que integravam os primórdios das
organizações da economia social em Portugal. Encontramos também
as cooperativas e organizações não governamentais (ONGs) que
atuam nos setores ambientais, sociais, culturais, etc, assumindo uma
dimensão nacional e internacional.
Estas organizações sem fins lucrativos assumem uma natureza
híbrida na medida em que possuem características das organizações
do mercado bem como da organização do estado. Estas organizações
do Terceiro Setor contam com uma gestão autónoma, no que diz
respeito à gestão económica, assentando a as suas decisões numa
base de racionalidade onde contam com as receitas da venda da
produção dos bens ou serviços, a par das organizações com fins
lucrativos, mas sem o objetivo da maximização do lucro, e também
contam com o financiamento do Estado bem como de donativos de
particulares. Contudo, o objetivo primordial do Terceiro Setor é a
provisão de bens ou serviços que garantam o bem-estar na
sociedade, sem uma ótica de otimização dos lucros.
Por um lado, e devido ao desinvestimento do Estado em
determinados setores sociais, ou por consequência das medidas
socias públicas serem dirigidas para determinados grupos sociais em
detrimento de outros, estas organizações do Terceiro Setor surgem
com a necessidade de garantir a provisão de bem-estar a esses
grupos que não foram abrangidos pelas medidas públicas, devido ao
fracasso do Estado, revelando-se de extrema importância.
Por outro lado, estas organizações também resolvem os
problemas decorrentes do fracasso do mercado onde as instituições
privadas com fins lucrativos, não reportam a informação sobre o
serviço prestado, e os utentes não conseguem controlar a qualidade
do mesmo, originando uma assimetria de informação que leva estas
organizações de mercado a usufruírem desse facto com vista à
maximização dos lucros. Uma vez que as organizações do Terceiro
Setor não têm em linha de conta a maximização dos lucros obtêm
uma credibilidade, junto da sociedade, muito maior o que
consequentemente faz co que haja uma maior procura dos seus
serviços como lares de idosos, creches, centros de dia, entre outros.
O objetivo do Relatório de Franco 2015 é o de aumentar o
conhecimento da realidade das ONGs e qual o seu peso efetivo para a
realidade socioeconómica de Portugal bem com o quais as usas áreas
de atividade, quais são as formas de financiamento, como se
organização e como se gerem e quais os seus pontos fortes e fracos.
O conceito por trás das ONGs é bem claro e resulta de um conjunto
de atividades que proporcionao a provisão social de bem-estar,
através de bens e serviços sem excluir ninguém no seu acesso o que
traduz numa maior coesão social, numa melhor defesa dos direitos
humanos, e mais cidadania, melhor preservação do ambiente e do
património cultural, entre muitas outras.
Neste tipo de organizações as lideranças são exercidas através
de um regime voluntário, sendo que a maior parte dos trabalhadores
são do género feminino e prestam serviços em regime de tempo
integral, com contratos sem termo, possuindo instrumentos de
avaliação de desempenho garantindo assim que os objetivos a que se
propuseram foram cumpridos. A sua forma de financiamento é
maioritariamente através de fundos públicos, seguido de fuindos
próprios e também de fundos privados, como consta no relatório de
Franco 2015.
AF 2

1 . Gøsta Esping-Andersen (1990) elaborou uma tipologia de regimes de estado-providência


que constitui, ainda hoje, um dos contributos mais importantes para a sua análise
comparativa.

Elabore uma síntese das três dimensões que o autor definiu como critérios de base da sua
tipologia: i) a qualidade dos direitos sociais; ii) a natureza da estratificação social; iii) a relação
entre o estado, o mercado e a família.

Com base nessa síntese, procure identificar exemplos de medidas ou políticas sociais atuais
que caracterizem o estado-providência português (ou do país onde resida, caso não seja
Portugal), ilustrando cada dimensão da tipologia.

✓ Conteúdos a mobilizar na resposta: subcapítulo 4.1. do ebook Política Social, em particular


pp.103-109, e outros recursos resultantes da sua pesquisa para exemplificar as dimensões da
tipologia.

R: Uma das mais importantes contribuições relativamente a regimes

de Estado-providência tem a autoria de Esping-Andersen (1990). O


autor defende que os Estados-providência são estados democráticos
e que assentam num “(…) conjunto complexo de dimensões legais e
organizacionais que configuram um sistema (…)” (Pereirinha, 2018:
104). Este sistema que o autor defende assenta em três formas
organizativas distintas, fruto da evolução histórica dos Estado-
providência. Os três modelos de Estado – providência são: o modelo
conservador-corporativo, o modelo liberal e o modelo social-
democrata. A identificação destes três modelos é feita, segundo o
autor, com base em três critérios. O primeiro critério diz respeito à
qualidade dos direitos sociais, o segundo à natureza da estratificação
social e o terceiro à relação entre o Estado, o mercado e a família.
Comecemos por analisar a desmercadorização (de-
commodification), que diz respeito ao primeiro critério que Andersen
identificou. A análise da qualidade dos direitos sociais assenta neste
critério de desmercadorização dos direitos sociais, quer isto dizer que
este critério consiste em analisar em que medida um serviço social ou
a uma transferência de recursos é concedida a um determinado
indivíduo como um direito e que esta é atribuída sem a dependência
dos mercados. No fundo, este critério de desmercadorização traduz a
aptidão que o sistema tem de proporcionar aos seus beneficiários a
capacidade de viverem em condições razoáveis sem a dependência
dos mercados, bem como das instabilidades e incertezas que o
mercado de trabalho traduz. Em Portugal, encontramos o subsídio de
desemprego como uma medida social que assenta nesta definição de
desmercadorização, atribuindo aos desempregados um rendimento
mínimo que visa a garantia do bem-estar sem ser pela força do
mercado. Contudo, se o valor do subsídio de desemprego for menor,
comparativamente ao salário que o benificiário auferia quando estava
empregado, faz com que exista uma maior dependência do nível do
benefício social, logo há um menor grau de desmercadorização.
No segundo critério, segundo Anderson, é o grau e tipo de
estratificação social dos Estados - providência. O autor reconheceu a
existência de três modelos de estratificação. O modelo conservador
- corporatista, o modelo liberal e o modelo social-democrata.
O primeiro, diz respeito ao facto de os programas sociais
conservarem e reterem as relações de estatuto social que existem no
seio da sociedade. Pese embora com origens distintas, atualmente
podemos encontrar duas formas diferenciadas, neste modelo
conservador, nos Estado-providência, são elas o estatismo e o
corporativismo. Sendo o estatismo originário dos sistemas
Bismarkianos de proteção social, onde se verificava a gestão dos
seguros sociais a cargo das autoridades públicas seguindo uma lógica
de autoridade central da ordem social. Já o corporativismo nasce das
organizações medievais e assenta nos princípios mutualistas e de
associativismo corporativo. Sendo esta a via para a proteção social,
ao contrário do estatismo, visto anteriormente. Ou seja, o Estado
reconhece as diferenças de estatuto e privilégio, bem como a
existência de grupos organizados com base nos estatutos sociais.
Este reconhecimento vem originar formas de proteção social, com
esquemas de seguro social, também elas diferenciadas. Este modelo
é característico de países como a Áustria, Alemanha, Bélgica, França,
entre outros, onde apresentam um nível moderado de
desmercadorização aliados a princípios corporatistas e estatistas de
estratificação social. Este modelo de welfare corporativo, criado por
Esping-Andersen, acarreta alguns riscos sociais associados
nomeadamente a discriminação das mulheres, os encargos sociais
com a mão de obra elevada, o excesso de peso das despesas com
pensões e a dificuldade em responder a níveis elevados de
desemprego.
O segundo, o modelo liberal de política social, tal como o nome
indica, permite a adesão livre aos seus mecanismos sendo esta a
forma de organização da produção do bem-estar, remetendo para o
Estado uma pequena parte da responsabilidade da garantia do bem-
estar social. Uma das características deste modelo de welfare é a sua
garantia de proteção contra riscos sociais, através de programas
sujeitos a condição de recursos, ou seja, os means-tested benefits.
Este modelo é característico de países como o Reino Unido e Irlanda,
tendo como riscos associados o aumento da desigualdade social e da
pobreza e trabalhadores pouco qualificados como baixos salários. Por
último, o modelo social-democrata, baseia-se nos ideais socialista.
Modelo típico dos países nórdicos onde estão presentes os princípios
de universalismo popular com o objetivo de consolidar os direitos
democráticos. Este tipo de modelo de walfare também contém alguns
riscos associados como a dificuldade de financiamento e os limites do
emprego no setor público, entre outros.
Segundo o autor, é também importante analisar o regime de
Estado – providência que assenta na relação entre o mercado e o
Estado e na forma como é feita a repartição entre o sector público e
privado no que diz respeito à proteção social. Como base em
determinados indicadores relativos aos regimes de pensões públicos e
privados, Esping-Andersen definiu três grupos de regimes de pensões
(Pereirinha, 2018: 109). 1) os sistemas predominantemente públicos,
onde o elemento privado de mercado tem natureza marginal. 2) os
sistemas residuais, onde o mercado tem tendência a sobressair. 3) os
sistemas universalistas, onde os direitos sociais são garantidos a toda
a população, abolindo os privilégios concedidos pelo estatuto ou
mercado.

2. Na sua génese, a Comunidade Económica Europeia teve objetivos


fundamentalmente económicos. Mas a evolução do que hoje conhecemos por União Europeia
tem sido marcada pelo reforço da dimensão social, em articulação com a dimensão
económica.

Elabore um comentário onde explica como a dimensão social se reflete na Estratégia


Europa 2020 e/ou Estratégia Portugal 2030.

Compare esta estratégia com as orientações do Livro Branco (1994) e da Estratégia de


Lisboa (2000), identificando continuidades na construção do “modelo social europeu”.

✓ Conteúdos a mobilizar na resposta: capítulo 4.6. do ebook Política Social (em


particular p.127, pp. 129-131 e pp.133-135), Estratégia Europa 2020 e/ou Estratégia Portugal
2030.

R: A Comunidade Económica Europeia, como o próprio nome


indica, tem na sua origem objetivos de cariz económico. Contudo, a
União Europeia como a conhecemos na atualidade sofreu diversas
evoluções, nomeadamente no âmbito de políticas socias. Esta
evolução teve a sua afirmação na década de 1980 com um conjunto
de acontecimentos que vincavam a necessidade de afirmação de
políticas europeias com o cariz social. “A Política Social passou a ser
entendida como um "pré-requisito funcional da integração europeia"
(ROOM, 1994, citado em HANTRAI5, 1995: 6), citado por Pereirinha
(2018: 127). É também de salientar que é nesta década que os
países do sul da europa são admitidos na Comunidade Europeia,
nomeadamente Portugal, trazendo um conjunto de novos desafios.
Com esta evolução surge, além de outros documentos, o Ato
Único Europeu, em 1986, trazendo a primeira revisão dos Tratados
da Comunidade Europeia. Contudo, esta revisão visava
essencialmente objetivos de natureza económica bem como a livre
circulação dos bens e serviços dos fatores de produção, como o
trabalho e o capital, revelando pouca evolução no domínio social,
embora estivesse definido no seu preâmbulo. Mais tarde, em 1989,
esses propósitos de promover os direitos socias vinham a ser
aplicados pelos Estados membros, com exceção do Reino Unido,
através da Carta Social, que desta forma deu a dimensão social ao
Ato Único Europeu.
Porém, na década de 90, a Comunidade Europeia enfrentava
diversos problemas sociais e económicos, principalmente o
desemprego que vinha a aumentar. Estas preocupações levaram o
Conselho Europeu de Copenhaga, em 1993, a convidar a Comissão
europeia a apresentar um Livro Branco (Pereirinha, 2018: 130) sobre
a estratégia, a médio prazo, de promoção e crescimento da
competitividade e emprego, com medidas de política para reverter a
situação que se vivia.
Com a necessidade da aplicação de medidas sociais surgia, em
1993 e 1994, um Livro Verde sobre política social, seguido de um
Livro Branco de Política social (Pereirinha, 2018: 130). Este último foi
considerado, por alguns autores, um dos documentos mais completos
sobre o papel da União Europeia na política social. Este Livro Branco
vinha renovar os pilares sociais na Europa através de uma política de
emprego e como objetivo de preservar e desenvolver o modelo social
europeu. Este documento veio mostrar que “ existe um conjunto de
valores que constituem a base do modelo social europeu. Estes
valores incluem a democracia e os direitos individuais, contratação
coletiva livre, economia de mercado, igualdade de oportunidades
para todos e bem--estar social e solidariedade. " ([COM(94) 333
final], p. 2) citado por Pereirinha (2018: 130).
Atualmente, a União Europeia (UE) está a atravessar um
período de transformação, fruto das crises que se vinham a sentir
bem como, mais recentemente, das consequências sociais e
económicas que a COVID19 trouxe consigo, expondo as fragilidades
que a europa tem quer a nível económico quer a nível social. Isto
aliado à globalização e ao crescente envelhecimento populacional faz
com que seja urgente a criação de estratégias que transformem a
União Europeia, como é o caso da Estratégia Europa 2020, que tem
como principal objetivo transformar a “UE numa economia
inteligente, sustentável e inclusiva, que proporcione níveis elevados
de emprego, de produtividade e de coesão social.” (Estratégia Europa
2020: 5).
É percetível que atualmente as estratégias emanadas pala UE
têm em linha de conta os aspetos sociais e não apenas os
económicos, o que revela que a par das sociedades, também as
políticas sociais têm evoluído, existindo um reforço neste tipo de
medidas de dimensão social. Como é o caso da estratégia Europa
2020, que estabeleceu três prioridades, que se reforçam
mutuamente, são elas o crescimento inteligente, desenvolvendo uma
economia assente no conhecimento e inovação, o crescimento
sustentável, promovendo uma economia mais eficiente, e o
crescimento inclusivo, fomentando uma economia com níveis
elevados de emprego assegurando a coesão social e territorial,
refletindo, desta forma, a dimensão social do modelo social europeu.
Bibliografia:

Europeia, C. (2017). Pilar Europeu dos Direitos Sociais.

Europeia, C. (2010). Estratégia Europa 2020.

Ministros, P. d. (2020). Estratégia Portugal 2030. Obtido de Diário da


República:https://dre.pt/dre/detalhe/resolucao-conselhoministros/98-
2020-148444002

Pereirinha, José António (2018). Política Social. Lisboa: Universidade


Aberta.

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