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09
Metodologia
da Investigação
Guia para autoaprendizagem
3 .- Edição
NOTA À EDIÇÃO
AGRADECIMENTOS
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
Objetivos da unidade
1. CONTEXTO E JUSTIFICAÇÃO
2. PR É-REQUISITOS E OBJETIVOS DO SEMINÁ RIO E DO GUIA
3. REGIMES DE TRABALHO E PROGRAMA
4. SISTEMA DE AVALIAÇÃO
5. RECOMENDAÇÕES PARA AUTOAPRENDIZAGEM
In ício da aprendizagem
Planeamento e organiza çã o da aprendizagem
Manter um ritmo de estudo
Tirar partido dos recursos dispon íveis
Objetivos da unidade
1. DUAS QUESTÕES PR ÉVIAS
1.1. A questã o da informa ção dispon ível
Uma atitude de recordista
Atividade 2.1
Recolha preliminar de informaçã o
Atividade 2.2
J á se escreveu tudo sobre determinado assunto?
© Universidade Aberta 4
í ndice
0 nevoeiro informational
Atividade 2.3
.
1.2 A questão da gestão do tempo
Atividade 2.4
Atividade 2.5
2. ELEMENTOS PARA O PLANEAMENTO DE UMA INVESTIGAÇÃO
.
2.1 Investigar o quê? (Delimitar o objeto de estudo)
Atividade 2.6
.
2.2 Definir o objetivo da pesquisa
Atividade 2.7
.
2.3 Programar a pesquisa
Atividade 2.8
.
2.4 Identificar e articular os recursos necessários
.
3 FERRAMENTAS METACOGNITIVAS PARA INVESTIGAÇÃO
.
3.1 Os mapas conceptuais
O que é um mapa conceptual?
Passos para a elaboraçã o de um mapa conceptual
Clarificar conceitos
Desempacotar um conhecimento complexo
Conceber um campo semântico
3.2. Outros diagramas estruturadores cognitivos
3.3. O Vê heurístico, epistemológico ou de Gowin
Atividade 2.9
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 PAPEL DA PESQUISA DOCUMENTAL NO CONTEXTO DO PROCESSO DE
INVESTIGAÇÃO
.
2 DOCUMENTOS ESCRITOS
.
2.1 Onde procurar?
Bibliotecas e arquivos
© Universidade Aberta 5
í ndice
Atividade 3.1
Primeira triagem
Atividade 3.2
2.2. Exploração do texto
A economia da leitura
Estratégias de exploração de texto
2.3. Registo de dados
Fichas bibliográficas
Fichas de leitura
Sistemas de classificação
2.4. Documentos oficiais
Publicações oficiais
Documentos não publicados
Atividade 3.3
.
2.5 Estatísticas
Virtualidades
Limitações
Princípios orientadores
Atividade 3.4
2.6. Documentos pessoais
Virtualidades
Limitações
Princípios orientadores
Atividade 3.5
2.7. Documentos escritos difundidos
O jornal como fonte de dados
Análise de impacto
.
3 DOCUMENTOS NÃO ESCRITOS
.
3.1 Objetos
.
3.2 Registos de som e de imagem
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
© Universidade Aberta 6
í ndice
Objetivos da unidade
1. 0 QUE É OBSERVAR?
1.1. 0 testemunho dos deficientes
.
1.2 Os ensinamentos de Baden Powell
.
1.3 As lições de Conan Doyle
.
1.4 A experiência dos socorristas
Atividade 4.1
.
2 QUE ASPETOS OBSERVAR?
2.1. Os indicadores como filtros de informação
Questões conceptuais
Indicadores demográficos e económicos
Indicadores Sociais
Critérios para a construção de indicadores sociais
.
2.2 Guiões de observação e sistemas de registo
Atividade 4.2
.
3 TIPOS DE OBSERVAÇÃO
.
3.1 Observaçã o não-participante
.
3.2 Observação participante despercebida pelos observados
3.3. Observação participante propriamente dita
Atividade 4.3
.
4 ASPETOS RELEVANTES DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
4.1. A questão do observatório
Negociação e escolha do papel
O horizonte de cada papel
.
4.2 A quest ão da intensidade do "mergulho" (ou do envolvimento do
investigador)
A Janela de Johari
Mergulho (envolvimento) restrito
Mergulho (envolvimento) profundo
Atividade 4.4
.
5 PROBLEMAS DEONTOLÓGICOS
Atividade 4.5
© Universidade Aberta 7
í ndice
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 O QUE É UM INQUÉRITO?
.
1.1 0 inquérito em Ciências Sociais
.
1.2 Tipos de inquéritos em Ciências Sociais
Atividade 5.1
2. INQUÉRITOS POR ENTREVISTA
.
2.1 A interação direta, questão-chave na técnica de entrevista
Influência do entrevistador no entrevistado
Diferenças culturais entre entrevistador e entrevistado
Sobreposiçã o de canais de comunicação
.
2.2 Quando recorrer à entrevista ?
.
2.3 Tipos de entrevistas
2.4. Aspetos de natureza prática
Antes da entrevista
Durante a entrevista
Depois da entrevista
Atividade 5.2
.
3 INQUÉRITOS POR QUESTIONÁRIO
.
3.1 A interação indireta, questão chave do inquérito por questionário
Formulação das perguntas
Diversidade de canais de comunicação
Prevenção das não-respostas
A questão da fiabilidade
3.2. Aspetos de natureza prática
Fase preliminar (antes)
Construção das perguntas
Apresentação do questionário
Atividade 5.3
O decorrer (durante)
Fase subsequente (depois)
© Universidade Aberta 8
í ndice
.
4 EM SÍNTESE: VIRTUALIDADES E LIMITAÇÕES DA ENTREVISTA E DO
QUESTIONÁRIO
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 INTRODUÇÃO
Teste formativo
Leituras complementares
© Universidade Aberta 9
í ndice
Objetivos da unidade
.
1 INTRODUÇÃO
2. PARADIGMAS QUANTITATIVO E QUALITATIVO
Métodos e técnicas de investigação em Ciências Sociais
Métodos quantitativos e métodos qualitativos
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 INTRODUÇÃO
2. AMOSTRAGENS PROBABILÍSTICAS
2.1. Amostragem aleatória simples
.
2.2 Amostragem estratificada
.
2.3 Amostragem de cachos (clusters)
.
2.4 Amostragem por etapas múltiplas
.
2.5 Amostragem sistemática
.
2.6 Determinação da dimensão da amostra
© Universidade Aberta 10
í ndice
Atividade 8.1
.
3 AMOSTRAGENS NÃO PROBABILÍSTICAS
.
3.1 Amostragem de conveniência
.
3.2 Amostragem de casos muito semelhantes ou muito diferentes
.
3.3 Amostragem de casos extremos
3.4. Amostragem de casos típicos
.
3.5 Amostragem em bola de neve
.
3.6 Amostragem por quotas
.
3.7 Utilidade das amostragens não probabilísticas
Atividade 8.2
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
1. CLASSIFICAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
.
1.1 Classificação quanto ao propósito
.
1.2 Classificação quanto ao método
.
2 INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA
3. INVESTIGAÇÃO DESCRITIVA
3.1. Inquéritos
.
3.2 Estudos relativos ao desenvolvimento
.
3.3 Estudos complementares
3.4. Estudos sociométricos
.
4 ESTUDO DE CASO
Histórias de vida
.
5 ESTUDO ETNOGRÁFICO
6. INVESTIGAÇÃO CORRELACIONAL
7. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL
.
8 INVESTIGAÇÃO CAUSAL-COMPARATIVA
Atividade 9.1
© Universidade Aberta 11
í ndice
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 DEFINIÇÃO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
2. TIPOS DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
Análise de exploração e análise de verificação
Análise quantitativa e análise qualitativa
Análise direta e análise indireta
Atividade 10.1
3. A PRÁTICA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO
.
3.1 Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico
.
3.2 Constituição de um corpus
Atividade 10.2
3.3. Definição das categorias
.
3.4 Definição das unidades de análise
Atividade 10.3
.
3.5 Quantificação
.
3.6 Interpretaçã o dos resultados
.
4 FIDELIDADE E VALIDADE
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
.
1 PRINCÍPIOS ÉTICOS
© Universidade Aberta 12
í ndice
BIBLIOGRAFIA GERAL
ANEXOS
© Universidade Aberta 13
NOTA À EDIÇÃO
Ao longo dos seus já dezasseis anos de vida, o presente manual tem sido usado por
uma grande diversidade de pessoas, ultrapassando em muito o público-alvo inicialmente
previsto. Com efeito, quando no final dos anos noventa escrevemos o livro, procurámos
responder às necessidades de aprendizagem dos estudantes do Mestrado em Relações
Interculturais da Universidade Aberta, esperando que a sua utilidade fosse reconhecida por
outros estudantes de 2 o ciclo de cursos de Ciências Sociais, desta e doutras instituições
de ensino superior.
A verdade é que fomos surpreendidos com uma procura bastante mais ampla, tanto no
que se refere ao ciclo de aprendizagem (alargando-se a procura ao primeiro e ao terceiro
ciclos), como no que concerne à proveniência dos utilizadores que, segundo as informações
que tiveram a amabilidade de nos dar, abrangeram domínios como os das Ciências da
Educa ção, da Psicologia Social, da Enfermagem, de v ários cursos ligados à intervenção
social (Política Social, Serviço Social, Educação Social, Animação sociocultural), etc.
Se, naturalmente, este reconhecimento nos tem causado grande satisfação, também
constitui um desafio, no sentido de não o deixarmos desatualizar. Não podendo fazê-
-lo neste momento integralmente, como o ótimo é inimigo do bom, decidimos, na 2 a
edição ( 2008), proceder a uma atualiza ção parcial, cingindo-se às primeiras seis unidades
{ introdução e visão panorâmica) e à bibliografia.
© Universidade Aberta 14
Nota à edição
As mais importantes alterações dizem respeito à unidade 11, cujo título foi alterado,
atendendo a que se deu um maior desenvolvimento à apresentação do projeto e do
relatório de investigação.
Na bibliografia geral foram também introduzidas novas obras que julgamos relevantes para
a investigação de temáticas específicas abordadas na segunda parte deste manual.
Esperamos que o manual continue a ser útil tanto aos estudantes em regime presencial
como aos de ensino a distância. A todos, os autores querem expressar o seu agradecimento
pelas sugestões e incentivos que têm tido ao longo destes dez anos.
© Universidade Aberta 15
AGRADECIMENTOS
Para a efetivaçã o deste Guia, os autores não foram exceção, sendo várias as pessoas
que indireta ou diretamente contribuíram muitas vezes sem o saber. Em particular
queremos agradecer aos que nos apoiaram mais de perto com o seu estímulo e com o
seu trabalho:
À Professora Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade que nos incentivou a elaborá-lo, com
características que possibilitassem o estudo em situação de Ensino Aberto e a Distância
para estudantes de Mestrados em Rela ções Interculturais, quer lecionados na Universidade
Aberta quer nas diversas Instituições de Ensino Superior da rede ERASMUS de que esta
Universidade faz parte. Para além do estímulo que sempre nos deu, devemos-lhe a
laboriosa revisão final.
Também queremos expressar a nossa gratidão pelo trabalho de revisão de partes do texto
à s Mestres Margarida Carmo, Paula Coelho, Una Morgado e Isabel Barros Dias.
Às Dr.as Carolina Cunha e Madalena Carvalho devemos o apoio bibliográ fico e a localiza ção
de algumas obras de Metodologia na rede dos Centros de Apoio da Universidade
Aberta.
© Universidade Aberta 16
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
Sumário
Objetivos da unidade
1. CONTEXTO E JUSTIFICAÇÃO
3. REGIMES DE TRABALHO
5. SISTEMA DE AVALIAÇÃO
Início da aprendizagem
Regras de comunicaçã o
Objetivos da unidade
5. reconhecer os dois diferentes regimes de trabalho em que esta unidade letiva pode
ser aprendida;
© Universidade Aberta 17
Unidade 1 - Introdução
1. CONTEXTO E JUSTIFICAÇÃO
Após este primeiro degrau propedêutico em que vai aprender a estudar melhor e a
expressar adequadamente os resultados desse estudo, está em condições de começar
a aprofundar as estratégias e tá ticas de captura do saber praticadas na área
disciplinar em que pretendeu especializar-se. Esta segunda fase culmina com a aquisição
do grau académico de licenciado1 que, de acordo com Adriano Moreira, é o grau que
confere licença para estudar sozinho.
Num curso de pós- gradua ção, conducente à obtenção do grau de Mestre,o processo
de autonomiza ção tem de ser ainda maior de modo a permitir que o estudante,
ao fim dos dois anos regulamentares, produza uma dissertação em que demonstre, não
só, conhecimentos aprofundados numa dada área do Saber, mas também um domínio
claro dos procedimentos metodológicos. Foi neste terceiro contexto que nasceu o
Seminário sobre Metodologia da Investigação, no elenco curricular do Mestrado em
Relações Interculturais da Universidade Aberta a pedido dos seus próprios estudantes.
Tendo começ ado como unidade didática extracurricular nos dois primeiros anos de
funcionamento, foi integrado no programa do curso de pós-gradua ção a partir de 1994/95.
Como qualquer unidade curricular dos vários mestrados da Universidade Aberta, este
seminário foi ministrado em regime presencial até 2006/ 2007,tendo sido lecionado em
Lisboa, Porto e Macau. Desde 1996/97, parte do primeiro bloco foi lecionada para o
Porto através de videoconferência, com uma taxa de sucesso semelhante à que ocorreu
no grupo que teve apoio presencial. Com a aplicaçã o do novo modelo pedagógico da
Universidade Aberta e, no contexto da adequaçã o do curso à estratégia de Bolonha, esta
unidade curricular passou a ser também oferecida online.
© Universidade Aberta 18
Unidade 1- Introdução
Por se tratar de um seminário inserido num curso de mestrado é exigível, como pré-
- requ í sito, uma preparação prévia no domínio da metodologia geral de investigação,
já adquirida nos curricula da formação inicial. Neste contexto, é conveniente o estudante
ler uma obra geral de metodologia da investigação em Ciências Sociais a fim de reavivar
o que aprendeu3.
0 seminário e, por consequência, o guia, estão organizados em três blocos atrav és dos
quais se procurará, num processo de aprofundamento temático em espiral, atingir o seu
objetivo geral que pode ser assim enunciado: no final dos três blocos, o mestrando
deve ser capaz de elaborar o anteprojeto da sua disserta ção de mestrado. Para
atingir o objetivo geral, o estudante deverá atingir três objetivos espec í ficos:
• no final do primeiro bloco, o mestrando adquire noções gerais sobre
planeamento de um projeto de investiga ção, recolha de dados e apresentação
dos resultados. (Ótica dominante: panorâmica);
2
O conceito de andragogia (etimológicamente educação do homem por contraposição ao
de pedagogia que significa educação da criança) chama a atenção para a especificidade
da metodologia da educa ção de adultos. Este termo foi vulgarizado ao longo dos anos
sessenta, sobretudo a partir da obra de Knowles, Malcolm S. (1980), The modern practice
of adult education. From pedagogy to andragogy, New York, Cambridge, The Adult
Education Company.
3
Há diversas obras com estas características na Bibliografia recomendada. Eis um exemplo duma
particularmente acessível quer no estilo quer na dimensão: Quivy, Raymond e Campenhoudt,
Luc Van ( 1992), Manual de investiga ção em Ciências Sociais, Lisboa, Gradiva.
© Universidade Aberta 19
Unidade 1 - Introdução
4. SISTEMA DE AVALIAÇÃO
Tanto para os estudantes do regime presencial como para os que desenvolverem a sua
aprendizagem em regime de ensino a distância, a avaliação final do seminário poderá ser
baseada nos seguintes elementos:
• Para o bloco I: recensão de uma obra geral de metodologia das Ciências
Sociais (máximo de 5 pá ginas datilografadas a espaço e meio).
A classifica ção final em cada m ódulo poderá ser expressa sob diversas formas, de acordo
com a regulamentação vigente e no quadro normativo de Bolonha .
4
Não é obrigatório que o anteprojeto apresentado no seminário seja o anteprojeto da dissertação.
Sendo desejá vel que o seja, de modo a potenciar o conhecimento acumulado e a não dispersar
energias do mestrando, admite-se que este possa mais tarde, de comum acordo com o seu
orientador, conceber um projeto de dissertação diferente. Para a equipa docente do seminário
o anteprojeto funciona como um exercício de simulação.
© Universidade Aberta 20
Unidade 1- Introdução
Para o estudante que vai trabalhar em regime de ensino online, vale a pena salientar
alguns procedimentos que podem melhorar a qualidade da sua aprendizagem. A sua
experiência como estudante de ensino presencial pode vir a ser-lhe extremamente útil, se
souber tirar partido dela. Sugerimos-lhe, no entanto, algumas alterações do seu método
de trabalho, a fim de poder tirar partido de algumas vantagens que o ensino a distância
tem e minimizar as suas limitações.
Início da aprendizagem
Antes de mais, sugerimos-lhe a leitura cuidadosa da informação sobre o mestrado que
lhe poderá servir de orientação geral no que respeita ao seu relacionamento com os
serviços da Universidade.
Como acima foi referido, esta unidade curricular exige, para que o estudante ou formando
tenha bons resultados, a atualizaçã o de alguns conhecimentos prévios que servirão
como ponto de partida para a aprendizagem. Sugere-se, por isso, que se aconselhe
junto da equipa docente sempre que sinta dificuldades na sua progressão, a fim de ser
orientado(a) a tempo em estratégias de reciclagem. Este procedimento é extremamente
importante uma vez que a formação inicial dos estudantes num mestrado (e neste em
particular) é muito heterogénea.
© Universidade Aberta 21
Unidade 1- Introdução
© Universidade Aberta 22
I. VISÃO PANORÂMICA
HERMANO CARMO
Objetivos da unidade
© Universidade Aberta 23
I. Visão Panorâmica
A primeira denota, habitualmente, que o estudante ainda não fez um estudo exploratório
sobre o tema em questão, encontrando-se fascinado por uma área que acabou de descobrir
ou pela qual manifesta interesse já há algum tempo sem no entanto a ter trabalhado com
intuito científico. Perante esta atitude, dois objetivos devem ser atingidos pelo estudante,
tão depressa quanto possível:
• adquirir uma atitude adequada perante o estudo que vai desenvolver;
• proceder a uma recolha preliminar de informação que lhe permita ter uma
primeira ideia acerca dos diversos contributos existentes sobre o assunto.
© Universidade Aberta 24
I. Visão Panorâ mica
Esta atitude de recordista implica, antes de mais, uma curiosidade nunca satisfeita
traduzida numa motivação sempre realimentada para aprender com os outros - comunidade
académica, informadores qualificados e população-alvo da investigação - com as diversas
fontes de informação e com a realidade em geral.
Implica, por outro lado, uma postura de sá bia humildade intelectual, corolário da
curiosidade, que permite capturar informa ção pertinente em fontes menos habituais,
como em certa literatura não legitimada pela comunidade científica1ou em interlocutores
não académicos.2
Atividade 2.1
Descreva em tópicos (não mais de meia página A4), as características que melhor
o(a) definem face ao conhecimento: arrogante, tímido(a), curioso(a), humilde,
competitivo(a) ? Dê exemplos que ilustrem o seu autorretrato. Seguidamente
confronte a sua reflexão com colegas ou professores e peç a - lhes que critiquem
o seu trabalho.
Em primeiro lugar, há que procurar colher elementos sobre as teorias existentes. Temos
observado, com frequência, uma atitude de reserva face à teoria, considerando-a algo
1
A bibliografia e a videografia de ficção podem ser excelentes fontes de informação e de
hipóteses científicas. A Cidade da Alegria de Lapierre, sobre o quotidiano de comunidades
abaixo do limiar de pobreza absoluta, Os Capitães da Areia de Jorge Amado, que relata as
estratégias de sobrevivência das crianças de rua baianas, ou O Pixote, filme brasileiro que
retrata magistralmente uma subcultura de pobreza, são exemplos de boas fontes de informação
não ortodoxas.
2
Os antropólogos há muito contam com informadores, muitos sem quaisquer habilitações
académicas que, no entanto, se revelam indispensáveis como fontes de informação de alta
qualidade.
© Universidade Aberta 25
I. Visão Panorâ mica
Em segundo lugar, há que indagar que pesquisa tem sido feita no domínio em questão
e com que métodos foi desenvolvida. Para isso, revela -se de grande utilidade o recurso
a bases de dados com informaçã o indexada sobre monografias e artigos, na sua versão
integral ou em formato resumido, assim como a realização de diversas entrevistas
exploratórias a especialistas.
A aná lise crítica dos métodos adotados em investigações anteriores é particularmente útil
pois permite-nos fazer uma ideia sobre a fiabilidade dos seus resultados. Tal análise não
deve ceder a seguidismos de modas académicas. A comunidade científica é constituída
por gente mortal e imperfeita (ainda que nem sempre haja consciência disso) e como tal,
também os académicos - cientistas e professores - estão sujeitos à pressão de modas.
Para ilustrar isto bastará recordar três obsessões frequentes cuja prática indiscriminada
pode levar a erros metodológicos:
• a obsessão pelo mais recente,o que nem sempre conduz a resultados satisfatórios
uma vez que se perde informação de boas fontes clássicas ignorando que nem
sempre o antigo é antiquado assim como nem sempre o moderno é inovador;
3
Sobre isto, vale a pena ler o excelente artigo de Fúlvia Rosemberg sobre os dados deformados
acerca da dimensão do fenómeno crianças de rua na América Latina: ROSEMBERG (1994), A
.
Ret órica Sobre a Crianç a de Rua na Década de 80, in Medina e Greco (orgs ), Saber
-
plural, S. Paulo, ECA/ CJE/ CNPq, pp. 135 136.
© Universidade Aberta 26
I. Visão Panorâ mica
Atividade 2.2
Elabore uma lista de leituras e contactos a fazer para a elaboração de um pré-
-estudo exploratório sobre um tema que lhe pareça interessante como dissertação
de mestrado.
Uma vez feito esse trabalho, proceda a uma primeira recolha de dados.
Seguidamente, tente escrever as suas intenções de pesquisa com fundamento
no estudo que iniciou (má ximo uma pá gina A4). Dê a ler a colegas e submeta-
-se à sua crítica sem receio. Tentem em conjunto responder a duas questões: O
texto está claro ? Está rigoroso?
No final desta fase, o investigador que pensava estar a entrar em terreno virgem, pode
ficar com a ideia oposta, altamente desanimadora, de que tudo já se escreveu sobre o
assunto. Esta sensação angustiante e vertiginosa é típica de quem desenvolve investigação
na nossa época.Com efeito, o primeiro sentimento que nos assalta quando pretendemos
entender o Mundo em que vivemos, é a perplexidade perante a transitoriedade, a
novidade e a diversidade com que a vida social se nos apresenta, configurando um quadro
desconhecido, por vezes mesmo assustador.
Margaret Mead, já em 1969, intuía o que hoje vivemos, utilizando a imagem dos imigrantes
no tempo5:
hoje em dia, todos os que nasceram e foram criados antes da segunda grande guer ¬
4
.
O texto que se segue foi apresentado originalmente em CARMO, H ( 1996), Ensino Superior
a Distâ ncia. Contexto Mundial. Modelos Ibéricos, Lisboa, Universidade Aberta, cap 1, .
ponto 0.
5
MEAD, Margaret (1969), O Conflito de Gerações, D. Quixote, Lisboa, pag . 133 e sgs.
© Universidade Aberta 27
I. Visão Panorâ mica
Com o mesmo olhar perplexo, Edgar Morin, defendia há poucos anos que estamos a
entrar na Idade do Ferro Planetária6, em que o Homem tem cada vez mais consciência
da mundialíza ção, a qual, no entanto, é convulsiva e dilacerada pelas contradições que
a integram:
Perante este quadro, o investigador social do nosso tempo, confronta -se com o tremendo
desafio de tentar descrever uma realidade social complexa e em vertiginosa mudanç a,
de que ele próprio faz parte, com instrumentos toscos, tais como os dos nossos avós,
da Idade do Ferro.
O nevoeiro informacional
Para complicar um pouco mais o seu trabalho de cartógrafo da sociedade contemporânea,
confronta -se com frequência, com aquilo a que Morín chamou "nevoeiro informacional"2,
que se traduz num conjunto de três tipos de filtros que o impedem de visibilizar
convenientemente a sociedade que pretende estudar:
• Ao primeiro, chama Morin sobreinforma çã o, que se traduz no excesso de
informações em que é imerso no seu quotidiano profissional. Ilustremos este
fenómeno apenas com um exemplo: o crescimento exponencial do número
de livros e de revistas científicas, de jornais, de abstracts e de abstracts de
abstracts, que alguns autores consideram haver-se multiplicado por dez em
cada cinquenta anos, faz com que "seja cada vez menos possível ao cientista
ter um conhecimento completo da literatura publicada, já não no domínio global
6
De acordo com Morin, com a expansão europeia iniciada no séc. XV, inicia-se a era planetária,
em que o fenómeno da mundialízação se expande progressivamente gerando-se uma cada
vez maior integração dos subsistemas do planeta. MORIN, E. et.al. (1991), A Idade de Ferro
Planetária , in Os Problemas do Fim de Século, Editorial Notícias, Lisboa, pag. 17 e sgs.
7
. .
MORIN, Edgar ( 1991), op cit, pag 22. .
8
MORIN, Edgar (1981), As Grandes Questões do Nosso Tempo, Editorial Notícias, Lisboa,
. .
pag 19 e sgs Outros autores têm chamado a atenção para esta questão da falta de transparência
.
da sociedade contemporânea Pierre Rosanvallon, por exemplo, defende que o desenvolvimento
da visibilidade social é uma das quatro estratégias indispensáveis à ultrapassagem da crise do
Estado Providência. ROSANVALLON, P. (1984), A Crise do Estado Provid ência, Inquérito,
Lisboa .
© Universidade Aberta 28
I. Visão Panorâ mica
O quadro que se acaba de descrever, serve para explicar que, talvez maior dos problemas
metodológicos com que um investigador se debate ao longo de qualquer processo de
pesquisa, seja o da seleção e gestão da informação disponível obrigando-o a um triplo
esforço para reduzir os efeitos de nevoeiro informacional:
• em primeiro lugar, procurar não se afogar em informação inútil tendo em vista
o objetivo do trabalho;
9
CÂMARA, J. Bettencourt da (1986), A III Revolução Industrial e o Caso Portugu ê s, in
Vários ( 1986), Portugal Face à III Revoluçã o Industrial - Seminário dos 80, ISCSP,
Lisboa, pag. 63 e sgs.
10
.
COSTA, A Bruto da; SILVA, Manuela; et al (1985), A Pobreza em Portugal, Caritas, Lisboa.
Estudos publicados mais recentemente, já não tiveram a mesma reação uma vez que a
subinformação sobre o fenómeno se havia reduzido. Vide por exemplo, COSTA, A. B.; SILVA
M., et al (1989), Pobreza Urbana em Portugal, Caritas, Lisboa; e, SILVA, M. (1991), A
Pobreza Infantil em Portugal, Comité Português para a UNICEF, Lisboa.
© Universidade Aberta 29
I. Visão Panorâ mica
Atividade 2.3
Submeta o trabalho que iniciou na atividade 2.2, a uma nova crítica interrogando-
-se: o tema escolhido será pertinente? Que tipo de informa ção recolhi até agora ?
Que elementos de nevoeiro informacional encontrei na pesquisa preliminar?
Redundâncias (sobreinformação)? Zonas brancas (subinformação) ? Contradições
(possíveis elementos de pseudoinformação) ?
Sendo o tempo um dos recursos mais escassos que o investigador tem ao seu dispor pois
contrariamente ao desejado no popular fado, o tempo não tem hipóteses de voltar para
trás, é curioso notar a pouca relevância que lhe é conferida quando se está numa fase
preliminar de pesquisa. No entanto ou por razões de natureza legal - caso dos prazos
impostos para a conclusão de mestrados - ou de índole contratual— , a verdade é que o
tempo se tem vindo a posicionar como uma variável estratégica em qualquer processo
de pesquisa . E isto por várias razões de que se salientam três:
• porque o nevoeiro informacional acima referido determina gastos consideráveis
de tempo;
11
O exemplo típico é o dos prazos apertados com que os investigadores se têm vindo a debater
nos projetos com financiamento externo.
12
O ciclo de vida do saber é o período que decorre entre o seu nascimento e a sua morte
.
por desatualização Tomemos o exemplo do frigorífico: o ciclo de vida do saber que lhe deu
origem começou quando alguém descobriu que se podia transformar eletricidade em frio;
numa segunda fase, alguém percebeu que tal descoberta podia ser usada para a conservação
de alimentos; num terceiro momento, outra pessoa terá concebido um modo de comercializar
ífico; finalmente dir-se-á
a ideia sob a forma de um armá rio estanque a que chamamos frigor
que o ciclo de vida terminou quando se inventar um outro sistema mais prá tico e barato de
conservar alimentos em nossas casas.
© Universidade Aberta 30
I. Visão Panorâ mica
Qualquer destas tendências apela claramente para a noção de tempo útil de pesquisa
que se assume como condicionador importante da determinaçã o do objeto de estudo
e da metodologia a adotar. Vejamos um simples exemplo: o limite de um ano para a
apresentação de uma dissertação de mestrado após a conclusão do programa académico
obrigar á provavelmente o mestrando que tinha um particular gosto em estudar a
comunidade indiana em Portugal a restringir o seu estudo à região de Lisboa e o seu foco
de análise a grupos praticantes de religião hinduísta .
Atividade 2.4
A este propósito leia o texto que se segue, e procure responder às questões
que se lhe anexam.
"Um efeito imediato do surgimento da sociedade de informação, foi a aceleração
do metabolismo social, em resultado da compressão do tempo. Com efeito, se
compararmos a diferença temporal dos processos de comunica ção tradicionais
como o correio, com o tempo decorrido entre a emissã o e a receção de um fax
ou de uma mensagem em suporte telemático, facilmente nos aperceberemos
deste fenómeno". (CARMO, 1996, 67-69)
• Em que medida sente que a sociedade de informação já entrou na sua vida
(no seu dia a dia profissional, no seu espaço doméstico, etc.) ?
• Tem ideia de quanta informação teve de assimilar no último mês?
Uma boa maneira de começ ar a lidar com a questão do tempo é listar as principais fases
e tarefas de investigação, calcular quanto demorará cada uma delas, como se articulam
entre si (isto é, se a tarefa A antecede necessariamente a tarefa B, sucede a ela ou
podem ser desempenhadas independentemente uma da outra) e encadeá- las de forma
regressiva a partir de um dado momento no futuro que constitui a data limite de conclusão
© Universidade Aberta 31
I. Visão Panorâ mica
Atividade 2.5
Releia as atividades anteriores e registe as respostas às seguintes perguntas
(por esta ordem):
1. até que data tenho de apresentar a minha dissertaçã o de mestrado em
formatação final ?
2. para atingir o objetivo anterior, até que data deverei submeter a minha
versão completamente redigida ao orientador ? (contar com tempo para ele
ler, discutirem e fazer as emendas finais)
3. para atingir o objetivo anterior, até que data deverei concluir a análise dos
dados? (contar com tempo para redigir totalmente o texto do relatório de
pesquisa)
4. para atingir o objetivo anterior, até que data deverei concluir o tratamento
dos dados?
5. para atingir o objetivo anterior, até que data deverei concluir a recolha dos
dados?
6. para atingir o objetivo anterior, até que data deverei concluir o planeamento
da pesquisa?
Provavelmente no momento em que terminou a sua atividade 2.5 o leitor ficou
algo desanimado, uma vez que pode ter chegado à conclusão que não dispõe de
tempo para empreendera pesquisa que ambicionava (ex: a resposta à pergunta
6 situa -se no Passado). Para resolver este problema, aliás muito frequente,
recomendo-lhe os seguintes procedimentos:
• não ignorar a questão; se o fizer apenas irá adiá-la;
• rever cuidadosamente a atividade 2.5 sem encurtar artificialmente o tempo
estimado para cada uma das tarefas, mas procurando observar se pode, no
mesmo período de tempo, desempenhar tarefas diferentes; por exemplo,
será que a redaçã o do relatório final tem de ser feita no fim? nã o poderá
acompanhar todo o processo de investiga ção através de um registo em-
- formato-quase-finaI?
• se se mantiver a situação, ou seja se através desta previsão regressiva de
tempo necessário, chegar à conclusão que, para atingir os objetivos que
se propõe necessitaria de ter começado a investigação anteriormente ao
13
Cfr. por exemplo Belchior (1970).
© Universidade Aberta 32
I. Visão Panorâ mica
Uma vez feita uma reflexão séria sobre a disponibilidade desses dois recursos indispensáveis
à pesquisa, a informa çã o e o tempo, estamos em condições de continuar a planear o
trabalho que a integrará . Recorde-se que planear é definir rumos e que sem se conhecer
o rumo da pesquisa não se pode dizer que ela venha a alcançar qualquer bom porto.
Em Ciências Sociais a determinação do campo que se vai investigar não deve ser feita ao
acaso ainda que este desempenhe um papel importante. Sugestivamente Raymond Quivy
compara o processo de pesquisa nas Ciências Sociais ao da prospeção petrolífera ( Quivy,
1992: 13), Ninguém de bom senso defende que se façam perfurações indiscriminadamente
no terreno: qualquer perfuração deve ser precedida de um estudo geológico prévio, Do
mesmo modo, mergulhar cegamente num processo de recolha de dados sem delimitar
minimamente o objeto de estudo resulta numa perda de tempo e energias que reduzem
naturalmente as condições objetivas para uma pesquisa bem sucedida.
Na fase inicial da investigação, ainda de acordo com este autor, é extremamente importante
evitar três tipos de erros:
• a gula livresca ou estatística, que nos pode fazer afogar em sobreinformação;
• o desprezo pela disciplina que nos recomenda a prévia conceção de hipóteses
e/ ou de questões-bússola que funcionem como orientadoras da pesquisa,
fazendo-a demorar mais e aumentando a imprevisibilidade dos resultados;
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I. Visão Panorâ mica
A experiência aponta alguns critérios úteis para a definição do objeto de estudo para
além, naturalmente, da sua pertinência científica.
14
De acordo com Peter Drucker, uma das figuras mais importantes da Teoria e da Metodologia da
Gestão, a gestão do facto, do fracasso e do êxito inesperado, constituem uma das principais
fontes de inovação.
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I. Visão Panorâ mica
Um terceiro critério, que podemos chamar o dos recursos, resulta, mais prosaicamente
da antevisão de facilidades na captura de meios necessários à investigação imaginada.
Perspetivas de acesso a boas fontes (documentais ou vivas), a financiamentos mais
abundantes ou a maiores possibilidades de publicação, podem condicionar fortemente a
pesquisa tanto na delimitação do seu objeto como na definição das suas metas.
Atividade 2.6
Leia um livro que relate como nasceu e se desenvolveu um processo de pesquisa .
Tente sublinhar os critérios que determinaram a escolha do objeto de estudo.
Será vantajoso que desenvolva esta atividade com outros colegas lendo diferentes
obras e partilhando impressões. A título de exemplo aponto-lhe os seguintes
livros:
• Goodfield, June (s/d) Um mundo imaginado, Lisboa, Gradiva, Ia ed. de
1981
• Benedict, Ruth (1972) O crisântemo e a espada, S. Paulo, Editora Perspectiva,
(1° capítulo apenas)
• Silva, Agostinho da (1989) Vida de Pasteur, Lisboa, Ulmeiro
• Wallace, Irving (s/d), As três sereias11, Lisboa, Portugália Editora.
Uma vez delimitado o objeto de estudo, há que definir claramente que meta ou metas
quer o investigador alcançar. Pretende-se fazer um levantamento de dada situação num
campo ainda pouco estudado a fim de vir a levantar hipóteses de investigação futura ?
Tem-se em vista retratar uma realidade social determinada com intuitos essencialmente
descritivos a fim de entender a estrutura e a dinâmica dessa realidade? O objetivo é
verificar uma dada hipótese? De acordo com as opções feitas quanto aos objetivos, Selttiz,
Jahoda, Deutch e Cook (1967) classificam os estudos em três tipos:
15
Apesar de se tratar de um livro de ficção, esta obra ilustra de forma bem documentada como se
desenrolam certas investigações antropológicas no terreno desmistificando de forma notável a
figura do cientista e problematizando brilhantemente a questão da relação entre investigador
e objeto de estudo .
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I. Visão Panorâ mica
Atividade 2.7
Observe os três objetivos seguintes:
A. Verificar a seguinte afirma ção: o comportamento intolerante dos skinheads
resulta mais da socializaçã o familiar, do que de grupos de pares ou da TV.
B. Identificar hipóteses de explicação para o sucesso escolar das crianças de
minoria chinesa em Portugal.
C. Descrever as estratégias de integra ção social dos jovens ativistas timorenses
após chegarem a Portugal via embaixadas de países amigos.
Classifique estes três objetivos de acordo com a tipologia de Selltiz.
Em meia pá gina tente identificar o objetivo que quer atingir na sua disserta ção.
Identifique-o de acordo com a tipologia referida. Operacionalize-o sob a forma
16
Situam-se neste tipo os estudos de natureza monográfica .
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I. Visão Panorâ mica
Uma vez definido o objetivo ou objetivos da investiga ção há que desmultiplicá - lo(s) até
à sua concretização em tarefas precisas, bem definidas, articuladas e calendarizadas.
Vejamos algumas questões a responder nesta fase12:
• em função da árvore de objetivos definida e operacionalizada em variáveis e
indicadores,
17
Cada questão deve ser operacionalizada desmuitiplicando as perguntas de acordo com a
clá ssica proposta de Lasswell: o quê, quando, onde, quanto, como e porquê .
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1. Visão Panor â mica
Maturação Teórica [
Proposta Initial
I1
I.
:r ::Jh [nt |
Aprovação pelo C, Cientifico
Estudo Exploratório
D
jD
2° Trabalho de Campo ( Extremadura)
Redação
Fim da Ia versão
( •) N D J F M A M J j A S 0 N D J F M A M J J A S 0 N D J F M A M J J A 5 0 N D J F
: Preparação
j R ealização
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I. Visão Panorâ mica
18
Um mero exemplo ilustrativo: uma das dificuldades com que o autor deste texto se debateu
quando estava a redigir a dissertação de doutoramento, foi a falta de um escritório em sua
casa, onde pudesse trabalhar sem interrupçõ es. O problema foi resolvido com a compra de uns
auscultadores. Quando necessá rio, o autor criava o seu escritório w/tt/a/ ligando a aparelhagem
e ouvindo música enquanto trabalhava , isolado da realidade doméstica que o rodeava sem
incomodar os outros elementos do agregado familiar e sem por eles ser interrompido .
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I. Visão Panorâ mica
• Apoio documentalístico
- bibliotecas, centros de documentaçã o e arquivos
- documentalistas
* Orientação científica
- quem quero convidar para orientador(a) ?
- que tipo de orientação pretendo? mais ou menos diretiva ? mais centrada nos
conteúdos ou na metodologia da investigação ?
No início deste capítulo, salientou-se que o investigador deve ter uma atitude adequada
ao trabalho a realizar, caracterizada por ser competitiva consigo (de permanente busca de
aperfeiçoamento, característica dos recordistas) e cooperante com os outros. Dissemos
também que tal atitude exige uma curiosidade insaciá vel e uma forte motiva ção para a
aprendizagem. Esta última característica merece ser sublinhada: com efeito, o investigador
deve assumír-se, antes de mais, como um aprendente do Mundo e da Vida12. Se assim
é, então é fundamental que o investigador ganhe competências de aprendizagem, isto é,
aprenda a aprender cada vez melhor.
19
Na fase final da investigação, em que irá partilhar o que aprendeu com a comunidade
científica, terá de assumir-se como seu ensinante, devendo para isso, adquirir competências
de comunicação, como será referido na unidade relativa ao relatório de pesquisa.
20
De acordo com D1NIS,1 , 2005, Guerra da informação - perspetivas de segurança e
-
competitividade, Lisboa, Sílabo, pp. 23 25, os conceitos dedados, informação, conhecimento
e saber são pedras basilares que caracterizam o funcionamento da sociedade de informação.
Dados são conjuntos de elementos discretos, não organizados, compostos por números,
palavras, sons ou imagens independentes, e que podem ser facilmente estruturados.(...)
Informação éum conjunto de dados organizados, padronizados, agrupados e/ou categorizados
que dizem respeito a uma descrição, definição ou perspetiva.(...) Conhecimento é informação
associada a uma experiência, que compreende uma estratégia, uma prática, um método ou
uma abordagem. (...) Saber ou sabedoria exprime um princípio, discernimento, costume ou
arquétipo, correspondendo a uma dada competência. É neste quadro semâ ntico que se afirma
que o investigador tem de transformar informação em conhecimento (negrito nosso).
21
Para um estudo aprofundado desta matéria veja-se na bibliografia, Novak e Gowin (1996),
Moreira e Buchweitz (1993) e Novak (2000).
© Universidade Aberta 40
I. Visão Panorâ mica
2. Catalogam-se os conceitos segundo uma ordem hierárquica ( dos mais gerais para
os mais específicos)
3. Distribuem-se os conceitos em duas dimensões
Um aspeto importante é que um mapa conceptual deve ser sempre encarado não como
uma representação definitiva de um dado campo de conhecimentos { o mapa conceptual),
mas como uma representaçã o possível de um conhecimento, sempre suscetível de ser
aperfeiçoada. O termo mapa, pretende justamente salientar a natureza instrumental e
orientadora do diagrama .
Melhor do que uma longa dissertaçã o sobre as virtualidades dos mapas conceptuais,
será apresentar alguns exemplos significativos devidamente comentados, e propor-lhe,
seguidamente, que experimente elaborar um.
22
Chamamos estrutura d ores cognitivos aosdiagramas que permitem uma melhorestruturação
da informação possibilitando a sua transformação em conhecimento.
© Universidade Aberta 41
I. Visão Panorâ mica
Importa salientar que nem sempre o autor deste texto seguiu à risca as recomendações
de Novak para construir os mapas conceptuais, uma vez que considera que estes não
devem ser entendidos como espartilhos mas como bússolas para organizar melhor o
conhecimento.
Clarificar conceitos
Com o propósito de clarificar a diferença entre os conceitos de pobreza e de exclusão
social, num trabalho recente (vide fonte) construiu-se um mapa conceptual a partir de
uma investigação publicada por uma equipa brasileira em 2004, que propôs a criação de
um índice agregado de exclusão social a partir de diversos índices disponíveis nas Nações
Unidas— (Fig. 2.2).
Como se observa no mapa, o conceito de exclusão social, de acordo com aqueles autores,
envolve a ideia de uma situação sem qualidade de vida ( vida digna), experimentada por
um dado agregado social com baixos índices de qualificações ( conhecimento) e elevados
problemas de segurança ( vulnerabilidade).
23
.
POCHMANN, Mareio et al, (organ ), 2004, A exclusão no mundo: Atlas de exclusão social,
S. Paulo, Cortez.
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I. Visão Panorâ mica
Exclusão socia
Vulnerabilidade
yida
djgna Conhecimento
^
Pobreza Desemprego
% de populaçao c/
Desigualdade Alfabetização
N° de homicídios
rend, < 2 USídol/dla dos 10% + pobres % de população porr 1C mil
100
ativa com habit
% de desempregados na % > 15 anos formação superior % de populaçao < 15
população ativa alfabetizados anos
Para além dessa primeira leitura, estimula a formulação de diversas hipóteses, relacionando
cada uma das outras variá veis (desigualdade, alfabetização, etc.) com o conceito de
pobreza e permite a análise crítica do conceito (por exemplo: será que em vez da simples
percentagem de popula ção inferior a quinze anos no total da população, não valeria
a pena incluir também a população com idade superior a 65 anos? Se assim fosse, o
índice respetivo teria de ser substituído pelo índice de dependência, robustecendo e
universalizando o índice agregado de exclusão social).
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I. Visão Panorâ mica
Colonização
Descolonizaçã o
Terrorismo
Trópicos na Europa
Sociedade cosmopolita
Adriano Moreira começa por recordar em breves traços a História Mundial recente, a
partir dos processos de colonizaçã o (simbolizada pela expressão Europa nos trópicos) e
de descolonização. Seguidamente, refere-se à sociedade cosmopolita, querendo com isto
chamar a atenção para o processo de globalização e para alguns dos seus desequilíbrios
observá veis, nomeadamente, na situação dos imigrantes ( Trópicos na Europa) registando-
-se a emergência de graves problemas sociais como o das colónias interiores e o do
renascimento de mitos raciais.
© Universidade Aberta 44
I. Visão Panorâ mica
Os exemplos que se seguem resultam de um esforço deste tipo. No primeiro (figura 2.4.),
procurou-se integrar diversos conceitos com que temos vindo a trabalhar nos últimos
anos, em matéria de teoria da educação para a cidadania. No segundo, (figura 2.5),
elaborou-se um mapa conceptual a partir de um subsistema do primeiro, a educação da
personaiidade.
Este mapa conceptual sugere, em primeiro lugar, que a educa ção para a cidadania integra
duas dimensões incontornáveis: a educação para o desenvolvimento pessoal24, e para o
desenvolvimento social.
24
Sugerindo que uma educação para a cidadania exige que o educando, antes de mais, seja
educado como pessoa singular em construção.
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1. Visão Panor â mica
Eixo 1 Eixo
xo i2
-
área cheve 1 área - chave 2 área - chave 3 área-chawe 4 área- chave 5 -
área chave 6 -
áreas chave 7, ® e 9 área ^chave 10
m &
Personalidade Liderança P/ c / gerações Pf cf gerações Pf cf gerações Mudança PlurálíW» Como meta Como método
passadas vivas futuras cultural e social
*31 w
fc .
Educaçao Complementaridade Diálogo
.
Ht 2012, « 01 ííe género intengeí acionai
W1 -I1
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I. Visão Panorâ mica
Na base deste mapa conceptual (MC), estão assinaladas várias remissões para outros
MCs, que objetivam alguns conceitos deste (mapas a outra escala).
© Universidade Aberta 47
1. Visão Panor â mica
Educaçã o da personalidade
dKefwoht'Wem dois
Contextos
ao nível ao nível
mow
i'-loyrd
GAtoncr, 1995 c fonte cognFtivcsr emocionais e sociais açhar e rtarstofl, 2lXH e ron-tes; aaiolõgicos ou éticos
Goteman, IMS, MM * OflWanu, 2W0 mcrigíntia evvteiíial (Gardner )
espintuflJ ( Setor o HarS»n>
-
TI TiOttiisbti» TI - HTlWWri rs - «ncaíMe rorpOfJri T) inif ÈOrríSMí T9 - rtwdorM dt too - nti
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I. Visão Panorâ mica
Um MC deste tipo, tanto pode ser usado como grelha de an álise sobre o modo como um
dado agregado (família, escola, comunidade, país) educa a personalidade dos seus mais
jovens, como de estrutura base para desenhar intervenções com esse objetivo.
Para além dos mapas conceptuais existem muitos outros instrumentos metacognitivos que
permitem ao investigador, de um modo claro e sintético, exprimir, partilhar e desenvolver
o seu pensamento sobre um dado campo de conhecimentos.
A título de exemplo vejamos dois, um sob a forma de um diagrama sistémico que permite
analisar o conceito de intervenção social e descrever alguns dos seus principais tipos
e dimensões (figura 2.6), o outro que representa os vários passos do seu processo
(figura 2.7).
Qualquer processo social em que uma dada pessoa, grupo, organização, comunidade
ou rede social - a que chamaremos sistema-interventor - se assume como recurso
social de outra pessoa, grupo, organização, comunidade ou rede social - a que
-
chamaremos sistema cliente - com ele interagindo através de um sistema de
comunicações diversificadas, com o objetivo de o ajudar a suprir um conjunto de
necessidades sociais, potenciando estímulos e combatendo obstáculos à mudança
pretendida (Carmo, 2000: 61).
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I. Visão Panorâ mica
© Universidade Aberta 50
1. Visão Panor â mica
Níveis de complexidade
da intervenção social
+
Pessoa
Grupo
-
. Cuidados e servi ços de proximidade
( Interven ção te ndencia lm ente
h
Pessoa
Grupo
+
Micra:
Interpessoal
personalizada
Profissões cuidadoras: Traharho / serviço Grupai
social, educaçã o ou pedagogia social, psicologia
Organização comunitária, animação sociocultural, medicina,
Parceria enfermagem ... (á tica pnedominanbemente
Organização
Comunidade Mesa.
Comunidade micro e meso )
. Observatório sodaJ (Diagnó)stico de Organizacional
recursos e necessidades sociais
. Laboratório social ( experimentação de
práticas e de polí ticas inovadoras)
Macro.
Administração Pública . Pol ítica Social: Administração Pública
( Intervenção tendenctalmente geral
Estado abstrata e tipificada, com uma ótica Estado Comunitário
predominante de n í vel mesoe macro ) Metropolitano
Entidade supraestatal Entidade supraestatal Regional
Traduz-se numa estratégia de coesão social Nacional
orientada para a defesa dos direitos humanos e Internacional
para o desenvolvimento, concretizada em Global
polí ticas públicas de educação e formação,
segurança social e familiar, saúde, habitação
social, ambiente, cultura e desenvolvimento
económico ...
Recurso Processo de ajuda Necessidades sociais
Fonte: Carmo, H. (2Q0È)
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I. Visão Panorâ mica
Como foi referido há pouco, a figura 2.7 representa qualquer processo de intervenção
social seja qual for o seu nível de complexidade ou tipo, sob a forma de um
fluxograma:
Identificação
do problema
Paradigma de
intervenção
Há n
de Peter
Análise do
1
N o
consenso ? problema Ketner
Definição de
Há sim
objetivos,
consenso ? programas e
a ç oes
Implementação e Sim
Há
seguimento das
contrato?
normas do contrato
Sim
Avaliação
i
Encerramento
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I. Visão Panorâmica
De acordo com Buchweitz e Moreira (1993: 87), Gowin (1981), vê a investigação científica
como uma maneira de gerar estruturas de significados, ou seja, de estabelecer ligações
entre conceitos, eventos e factos.
Com base nestes pressupostos, Gowin concebeu um esquema a que chamou Vê heurístico
ou epistemológico, também conhecido na comunidade científica por Vê de Gowin, que
pretende representar qualquer campo de conhecimentos.
De acordo com este autor, um campo de conhecimentos integra dois domínios específicos: o
domínio conceptual - filosofia (s), teoria(s), princípios, sistemas conceptuais e conceitos
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I. Visã o Panorâ mica
Com base nesta proposta, e procurando-a aplicar ao tema deste capítulo, o projeto de
investiga ção, observe-se a figura 2.8, que representa sob a forma de um Vê de Gowin as
peças fundamentais de qualquer projeto:
Objeto de estudo:
Identificar um objeto de estudo observ ável, coerente com
os recursos disponíveis (tempo, Informação disponível,
recursos materiais, humanos, financeiros, etc.)
CARMO, H . ( 1997)
( versão 1- 4 )
Cfr, NOVAK, Joseph; GOWIN, Bob (1996), Aprender a aprender Lisboa, Plátano, Ia ed. de 19&4 Ou MORE]RA,M, A .; BtJCHWElrnZ, B. (1993), Novas
estrat égias de ensino e aprendizagem: os mapas conveptuais e o v ê epistemológico, Lisboa, Plátano; NOVAK, Joseph ( 2000) , Aprender , criar e
utilizar o conhecimento - mapas conceptuais como ferramentas de facilitação nas escolas e empresas, Lisboa, Plátano .
© Universidade Aberta 54
I. Visão Panorâmica
Conforme é referido no Vê, após a realização das dez tarefas, o investigador deverá testar
a coerência do projeto relacionando cada uma com todas as outras (por exemplo: será
que os resultados que se pretendem obter, têm a ver com a pergunta de partida, com as
teorias, modelos e conceitos explicitados no projeto? As opções de recolha, tratamento
e análise de dados são consistentes com os resultados que pretendem obter?)
Atividade 2.9
Procure esboçar o seu projeto de investigação através de um V ê de Gowin.
Faç a seguidamente uma lista dos conceitos principais de que se irá socorrer e
elabore um mapa conceptual procurando articulá - los.
S í ntese
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I. Visão Panorâ mica
Teste formativo
1. Que atitudes apriorísticas há que evitar quando se inicia uma dissertaçã o?
2. Que significa defender-se que o investigador deve interiorizar uma atitude de
recordista de alta competição?
5. Em seu entender que lhe parece ser a atitude mais eficaz para a investigaçã o: a
competitiva ou a cooperativa ? Justifique
15. Refira três critérios considerados importantes para a definição do objeto de estudo,
para além da pertinência científica
16. Que tipo de estudos conhece em Ciências Sociais? Distinga-os uns dos outros.
17. O que é uma árvore de objetivos?
Após ter trabalhado este capítulo, procure responder às perguntas acima enunciadas sem
recorrer imediatamente a ele. Após este trabalho poderá confrontá-lo com o texto onde
encontrará facilmente todas respostas às questões formuladas.
© Universidade Aberta 56
I. Visão Panorâ mica
Leituras complementares
BELCHIOR, Proc ópio (1970), PERT / CPM . Técnica de Avaliação, Revisão e Controle
de Projetos, Rio de Janeiro, Edições de Ouro.
NOVAK, Joseph e GOWIN, Bob (1996), Aprender a aprender, Lisboa, Plátano, Ia ed.
de 1984.
SILVA, Augusto S. e PINTO, José M., org. (1986), Metodologia das Ciências Sociais,
Porto, Afrontamento, pp. 9-78.
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I. Visão Panorâ mica
Objetivos da unidade
10. Identificar e tirar partido de documentos em suporte áudio, vídeo e inform á tico
como fontes de dados.
© Universidade Aberta 58
I. Visão Panorâ mica
extrair algum sentido. Por outro lado tem por objetivo executar essas mesmas operações
relativamente a fontes indiretas.
Do que acima foi referido deduz-se que um processo de investigação é algo de semelhante
a uma corrida de estafetas: para atingir os seus objetivos, o investigador necessita de
recolher o testemunho de todo um trabalho anterior, introduzir-lhe algum valor acrescentado
e passar esse testemunho à comunidade científica a fim de que outros possam voltar a
desempenhar o mesmo papel no futuro. Neste sentido a pesquisa documental assume-se
como passagem do testemunho, dos que investigaram antes no mesmo terreno, para as
nossas mãos. Estudar o que se tem produzido na mesma área é, deste modo, não uma
afirmação de erudiçã o académica ou de algum pedantismo intelectual, mas um ato de
gestão de informa ção, indispensá vel a quem queira introduzir algum valor acrescentado
à produçã o científica existente sem correr o risco de estudar o que já está estudado
tomando como original o que já outros descobriram. Tal valor acrescentado escorar-se-á
assim em suportes sólidos anteriormente concebidos e testados.
2. DOCUMENTOS ESCRITOS
Bibliotecas e arquivos
Os primeiros locais que naturalmente ocorrem ao investigador são as bibliotecas e os
arquivos públicos e privados. No entanto, para respeitar o princípio da economia de tempo,
há que proceder a uma seleção prévia dos centros de documentação, ainda que se possam
frequentar, com proveito, bibliotecas gerais como por exemplo a Biblioteca Nacional.
© Universidade Aberta 59
I. Visão Panorâ mica
Na área das relações ínterculturais25 vale a pena começar pelas bibliotecas das instituições
de ensino superior, nomeadamente as que lecionam cursos de graduaçã o ou de pós-
-graduação neste domínio específico ou em áreas afins ( Antropologia, Sociologia, Psicologia
Social, Ciência Política, Comunicação Social, Ciências da Educação e outras) como as
seguintes26:
• Universidade Aberta. No âmbito do Centro de Estudos das Migrações e das
Relações ínterculturais, tem vindo a ser coligido um património documental
e em suporte mediatizado de grande valor para os investigadores desta área.
Sendo prioritariamente para uso dos académicos desta Universidade (docentes
e discentes de pós-graduação) tem-se assumido como (bom) costume abrir o
acesso a investigadores de fora dentro das possibilidades espaciais e materiais
da instituição. As mais de quinhentas dissertações já produzidas no âmbito do
Mestrado em Relações ínterculturais constituem património único de grande
valor neste domínio.
25
Este manual foi inicialmente concebido para o apoio de estudantes do Mestrado em Relações
ínterculturais, da í a especificidade do exemplo. Para outros domínios este critério de adequação
mantém-se.
26
A lista que se segue é meramente indicativa, não tendo pretensõ es de esgotar a informação
sobre o assunto. A equipa docente deste seminá rio solicita a todos os estudantes que
contribuam com informação adicionai a fim de aperfeiçoar futuras edições deste Manual.
© Universidade Aberta 60
I. Visão Panorâmica
Para além das instituições de ensino superior, pode encontrar-se muita documentação
relevante em diversos organismos públicos e privados que se têm dedicado ao estudo
ou à intervenção nesta área:
• Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian (Ciências da Educação)
• Biblioteca da Sociedade de Geografia (Antropologia Cultural, Etnografia e
Histó ria)
Atividade 3.1
Faç a uma lista das bibliotecas e centros de documentação onde gostaria de fazer
a pesquisa bibliográfica sobre o tema que planeou na unidade anterior.
Informe-se (telefonicamente) sobre o acesso a documentação, condições de
leitura e empréstimo e horários de funcionamento
Primeira triagem
Antes de começ ar a consultar indiscriminadamente documentos sobre o objeto de estudo
cedendo à tentação da gula livresca para que nos previne Quivy, o investigador deve
proceder por aproximações sucessivas, selecionando progressiva mente conjuntos de
documentos até chegar a uma dimensã o manuseá vel. Se assim nã o proceder arrisca-se
a perder tempo com documentação de menor qualidade, negligenciando outra que não
lhe escaparia se tivesse uma estratégia de aproximação mais prudente.
27
No campo das migrações em Portugal, por exemplo, é de grande utilidade a consulta de
ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz e ARROTEIA, Jorge (1984), Bibliografia da Emigraçã o
Portuguesa , Lisboa, Instituto Português de Ensino a Distância, para publicações editadas
antes dos anos oitenta do século XX.
© Universidade Aberta 61
I. Visão Panorâ mica
Neste sentido o investigador deve pensar com antecedência se tenciona fazer uma pesquisa
por assuntos, por autores, por títulos ou por datas, ou por outro qualquer critério. Se vai
fazê-lo por palavras-chave (descritores) é conveniente que anteriormente tenha elaborado
uma lista. Ainda que ao longo da pesquisa lhe possam surgir outros descritores pertinentes,
a preparação prévia de uma lista de palavras-chave reduz o tempo de pesquisa no local
(que custa caro) e torna a procura mais eficaz. Atualmente há dois modos principais de
aceder a bases de dados:
• em suporte local, para além dos suportes clássicos ou em microfilme, através
de conjuntos de CD Rom encontram-se excelentes indicações bibliográficas
tanto em formato de simples resumo, podendo muitas vezes os textos integrais
ser encomendados à editora, como em formato integral obtendo-se cópia em
suporte scr
ípto (por impressão) ou informo (por cópia para disquete);
28
Desde 2003 que os investigadores dispõem de uma base de dados de natureza particular,
.
resultante da rede de pesquisa sobre atitudes sociais na Europa, o European Social Survey
Trata-se de uma base de dados com os resultados da investigação extensiva realizada em
22 países europeus pelos elementos da rede, disponíveis para tratamento e aná lise, por
quem esteja disposto a fazê-lo. Pode ver-se um exemplo de tal exploração em VALA, Jorge e
TORRES, Aná lia, (2006, organizadores), Contextos e atitudes sociais na Europa , Lisboa,
Universidade de Lisboa. Instituto de Ciências Sociais.
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Outro critério de seleção que se afigura de grande utilidade é o recurso a uma prévia
identificação de revistas especializadas. A partir da sua consulta e cruzamento de
informação, o investigador consegue com alguma rapidez selecionar monografias e artigos
centrados no seu objeto de estudo.
Para finalizar esta primeira aproximação é conveniente referir que uma das áreas mais
promissoras para a reprodução do conhecimento na sociedade de informação integra a
chamada literatura cinzenta, constituída por um conjunto cada vez maior de relatórios
de pesquisa, produzidos em contexto académico de graduação e de pós-gradua ção,
não publicados, mas validados por júris qualificados de professores especialistas em
diversos domínios, que desempenham um papel equivalente aos referees das revistas
de especialidade.
Muitos destes trabalhos, até há alguns anos ignorados pelo facto de não estarem
publicados, têm sido crescentemente valorizados, devido a dois tipos de fatores:
• por um lado, a informatizaçã o dos catálogos dos centros de documentação,
permitiu a sua identificação em tempo real, com evidentes vantagens para os
seus utilizadores, em termos de seleção, organiza ção e acesso a informação
relevante;
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Atividade 3.2
• Procure saber junto dos doeumentalistas das bibliotecas que selecionou se
existem bibliografias publicadas sobre o seu objeto de estudo.
• Fa ça uma lista de conceitos e palavras-chave que vai usar no seu trabalho.
Verifique como é que as enciclopédias, dicionários científicos e vocabulários
especializados disponíveis tratam esses conceitos e descritores
• Consulte uma boa base de dados cruzando os diversos descritores. Quando
chegara uma listagem suficientemente pequena de títulos (abaixo da centena)
leia os títulos das publicações selecionadas. Dessa listagem selecione apenas
os títulos que lhe pareçam pertinentes.
• Fa ça uma lista das revistas especializadas que gostaria de consultar. Elabore
igualmente uma lista provisória de monografias sendo conveniente que
ambas tenham uma organização temática. Por exemplo, imagine que vai
fazer uma dissertaçã o sobre a integra ção escolar das crianç as ismaelitas
em Lisboa. Neste caso poderá elaborar as suas listas bibliográficas usando
uma tipologia deste género: integração escolar, desenvolvimento da crianç a,
islamismo/ismaelitas, Sociologia Urbana, Sociologia das Migrações, etc., para
além naturalmente do título sempre presente de metodologia.
• Com os dados anteriores coligidos solicite a opinião do documentalista da
instituição.
Uma vez feita a dupla triagem de informa ção acima referida - a dos locais onde procurar
e a das unidades de informação a selecionar (monografias artigos, relatórios, etc.), a fase
seguinte consiste na exploração destas últimas.
A economia da leitura
Também esta operação deve ser efetuada com algumas preocupações económicas,
tendo em atenção o reduzido tempo disponível para a pesquisa. Não se fique, com isto,
com a ideia que o autor é um tecnocrata empedernido com exclusivas preocupações
de engenharia social. Bem pelo contrário, ele tem defendido o extraordinário valor das
leituras e conversas vadias (parafraseando Agostinho da Silva), como catalizadores de
inovação e de processos cognitivos divergentes. A questão que aqui estamos a debater,
no entanto, é bem específica: não se trata de uma pesquisa qualquer, é uma dissertação
de mestrado que dispõe de um tempo muito limitado para ser realizada requerendo
cuidados particulares de gestão desse recurso tão escasso. Por outro lado, não se pense
que esta estratégia espartana obedece apenas a uma opção de mal menor: baseia-se
na convic ção que a interiorização de uma disciplina rigorosa de seleção de informação
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e de gestão de tempo não reduz a criatividade mas aguça -a, desde que o investigador
mantenha a abertura de espírito, pordo-a ao serviço do processo de investigação.
• A data e o local das várias edições dão-nos elementos valiosos sobre o contexto
espácio-temporal em que ocorreram o que nalguns casos, particularmente
quando se examinam obras clássicas com vá rias edições, é extremamente
importante para o entendimento do documento.
29
Grande parte dos títulos são descrições sintéticas dos conteúdos, apresentadas de forma direta
.
ou metafó rica Um exemplo de metá fora extremamente sugestiva escolhida para título é o da
clá ssica investigação de Ruth Benedict sobre a cultura japonesa: O Crisântemo e a Espada ,
que espelha a dicotomia dialética omnipresente naquela cultura, entre o culto da estética,
da harmonia e da paz interior simbolizadas pela flor, e a exaltação de tudo o que a espada
simboliza: a violência e a desvalorização do indivíduo como fenómeno que não se repete.
30
O efeito de halo é a tendência de valorizar um determinado fenómeno, situação ou resultado
presente, de acordo com informações passadas e não de acordo com o quadro atual Este .
efeito, pode fazer com que um bom aluno que deixou de o ser demore a baixar as notas
pelo facto dos professores ainda o verem como bom aluno, assim como pode fazer com que
um investigador fascinado pelo brilhantismo { ou pela sua falta) da obra anterior de um dado
autor, classifique uma dada obra atual de acordo com a imagem que dele retém de trabalhos
anteriores.
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• Das badanas (orelhas) e da contracapa dos livros podemos extrair uma visão
resumida sobre o autor e a obra (da responsabilidade do editor), pelo que
devem ser examinadas com cuidado.
A questão que a seguir se põe é a de criar um bom sistema de registo de dados. Já em 1964
afirmava o grande mestre de investiga ção histórica que foi o Professor Silva Rego:
"(...)o que se deseja é que cumpram o seu dever e que sirvam docilmente o seu
dono e senhor ( ...)".
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Existem dois tipos de fichas particularmente úteis a quem está a fazer uma dissertação,
as fichas bibliográficas e as fichas de leitura. As primeiras contêm a identificação básica
do documento enquanto que as segundas, como o nome indica, registam o resultado de
um trabalho de tratamento, análise e síntese de informação.
Um formato que se tem revelado adequado a uma ficha bibliográ fica que pretende
identificar uma monografia é o seguinte: apelido do autor, primeiro nome (data de edição),
título da obra, local da edição, editora, outras observações (exemplo 1).
Exemplo 1
GRAWITZ, Madeleine (1993 ), Méthodes des sciences sociales, Paris, Dalloz,
870 pp., com um excerto da lição de abertura do Cours de science sociale (1888)
de E. Durkheim, prefácios da autora às Ia e 9 a edições.
31
Há outras normas que habitualmente se encontram na bibliografia consultada, como a APPA e
a Norma Portuguesa.
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Exemplo 3
DOERFERT, Frank et al. (1989), Short descriptions of selected distance
education institutions, Hagen, FernUniversitat.
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Para artigos de revistas ou outras publicações periódicas, o formato usual de uma ficha
bibliográ fica é o seguinte: apelido do autor, primeiro nome (data de edição), título da
obra, nome da revista entre aspas, local da edição, editora, volume (n ), data, localização
°
(pp. xx-yy), outras observações (exemplo 7):
Exemplo 7
COSTA, A. Bruto da (1984), Conceito de Pobreza, "Estudos de Economia",
Lisboa, (3), Abril-Junho, pp. 275-295.
Em qualquer dos casos anteriores é fundamental nao deixar de registar na ficha bibliográfica
a identificação do centro de documentação onde foi consultado o documento e a respetiva
cota, precaução que prevenirá perdas de tempo em futuras consultas.
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Fichas de leitura
Enquanto que a ficha bibliográ fica contém apenas a identifica ção do documento, a ficha
de leitura integra já um valor acrescentado, fruto do trabalho do investigador. Neste tipo
de ficha é comum :
• Resumir parte do que se leu
• Citar passagens consideradas importantes
• Anotar ideias que surjam como eco da reflexã o sobre o texto (Rego, 1964:
65).
O trabalho de resumo é uma operação complexa que exige um bom treino. No sentido de
gerir o melhor possível o tempo disponível, é conveniente o hábito de escrever diretamente
no processador de texto os resumos da documentação estudada32.
As cita ções deverão figurar na ficha entre aspas, com o local de onde foram extraídas
devidamente identificado (obra e página, mesmo em relação aos documentos nã o
publicados). (...)—
32
Lima alternativa ao resumo em texto corrido é a diagramação da informação, sob vários
formatos (mapas conceptuais, vês heurísticos, fluxogramas etc.), conforme se salientou no
ponto 3 da unidade 2. Este modo de desempacotar conhecimento obriga um esforço maior de
análise mas, em contrapartida, permite uma aprendizagem mais significativa dos conteúdos
em questão .
33 Deve haver um particular cuidado no registo das citações, não só por imperativos de rigor
científico, mas também por razões de natureza legal, uma vez que o uso indevido de texto
alheio sem a enunciação da fonte configura o crime de plágio, punido pela lei geral e pela
Academia. Nunca é demais sublinhar que, para além de constituir uma fraude e, por isso
constituir um ato eticamente condená vel, o plágio exprime um comportamento cientificamente
estúpido, uma vez que a citação da fonte é usualmente valorizada pela Academia.
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A organiza ção espacial da ficha pode ser de v árias formas de modo a preencher
adequadamente os requisitos da pesquisa, Tanto pode apresentar-se sob a forma de um
texto corrido (neste caso é fundamental distinguir claramente a identificação do documento
e os três tipos de elementos que se acabam de enunciar) como podem reservar espaços
próprios para cada tipo de informação como o exemplo 10 mostra:
Exemplo 10
Identificação da obra
Sistemas de classificação
Quanto maior o volume de informaçã o registado mais se torna premente um bom
sistema de classificação dessa mesma informação: à velha classificação decimal universal
(CDU) sucedeu um conjunto diverso de sistemas que usam palavras-chave para descrever
sinteticamente um dado documento (por isso mesmo chamadas descritores). No exemplo
11, observa -se que a ficha bibliográfica selecionada apresenta treze descritores, a que
corresponderiam se o suporte fosse de papel ou cartolina, treze diferentes fichas. Como
neste caso o ficheiro é em suporte informático, sempre que a base de dados for interrogada
com um dos referidos descritores a ficha será selecionada. Num suporte ou noutro os
sistemas de descritores permitem um trabalho muito mais produtivo.
Exemplo 11
Miranda, Joana Catarina Tarelho de (1994), Grupos étnicos em Portugal. Os
estereótipos dos "portugueses", Lisboa, s.n., 197 pp, tese de mestrado em
relações interculturais.
Psicologia Social, Interculturalismo, Comportamento, Juventude, Identidade,
MRI, Questionários, Grupos étnicos, Portugal, Relações intergrupos, Estereótipo,
Racismo, Xenofobia.
34
(Rego, 1964: 66). Sobre as vantagens de um bom arquivo de ideias a partir de fichas de
leitura, vale a pena ler a já clássica A Imaginação Sociológica , (Mills, 1969), sobretudo o
apêndice intitulado O Artesanato Intelectual.
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Para muitos estudos torna -se necessária a consulta de documentos oficiais que podemos
tipificar em dois grupos: as publicações oficiais e os documentos não publicados.
Também o Diário das Sessões da Assembleia da República constitui uma fonte essencial
de informa ção. Se, através do Diário da Repú blica (antigamente chamado Diário do
Governo), o investigador tem acesso às principais decisões e delibera ções dos órgãos do
Poder Político e Administrativo, analisando o Diário das Sessões perceciona a dinâmica
da construção de deliberações em sede de Parlamento. Imagine-se, por exemplo, que
se está a estudar a política portuguesa relativamente aos refugiados. Neste caso, é tão
importante analisar o quadro normativo vigente através do estudo da legisla ção publicada
em Diário da República, como investigar a posição dos diversos partidos sobre o assunto.
Este segundo aspeto da questão pode ser clarificado fazendo a análise de conteúdo do
Diário das Sessões, no respeitante aquelas em que a legislação sobre os refugiados foi
debatida e aprovada.
Tal como as fontes anteriores, as publica ções oficiais oriundas da Administra ção Central
(Ministérios e Secretarias de Estado), Regional (dos Órgãos descentralizados das Regiões
Autónomas) e Local (dos municípios) podem fornecer informações interessantes ao
investigador.
35
Um exemplo ilustrador é a dissertação de doutoramento de João Pereira Neto que utiliza como
principal fonte para o estudo da política portuguesa de integração racial o Boletim Oficial de
Angola, publicação com funções equivalentes às do, então, Diário do Governo ( hoje Diário
da República) para aquele território. NETO, João Pereira (1964), Angola: Meio Século de
Integração, Lisboa, ISCSPU.
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é condicionado36.
Na espectativa de ter de recorrer a arquivos públicos, o investigador deve, por isso munir-se
de uma prévia autorização dos respetivos decisores para o que lhe é conveniente possuir
uma credencial passada pelo orientador da dissertação ou pela instituição que legitima
a sua investigaçã o.
Atividade 3.3
• Faça uma lista da legislação que pensa utilizar na sua dissertação. Seguidamente
abra uma pasta com separadores (1, 2, 3, ... n) e com uma folha de rosto com
o respetivo índice. Sugiro que registe a identificação completa da legislação
no índice da pasta, de acordo com o exemplo 9.
• Faça idêntico trabalho relativamente ao Diário das Sessões, a outras publicações
oficiais e a fontes oficiais nã o publicadas identificando-as de acordo com os
exemplos atrás mencionados.
2.5. Estatísticas
Virtualidades
Dados provenientes de Censos, de Anuários ou de Estatísticas Especiais, podem constituir
elementos valiosos por exprimirem grandes tendências nos campos demográ fico, social,
económico e cultural, de outra maneira dificilmente percecioná veis.
Por outro lado as estatísticas fornecem de forma económica, informação sobre grandes
agregados populacionais, permitindo visões de conjunto indispensáveis a quem pretende
entender certos fenómenos sociais complexos numa perspetiva holística.
Limita ções
Ao recorrer à s estatísticas, o investigador deve ter em conta diversos aspetos que
condicionam o seu uso.
36
O fenómeno a que Adriano Moreira chama clandestinidade do Estado (1979, Ciência Política,
Lisboa, Bertrand) traduz-se, mesmo nos Estados em que a Democracia tem fortes raízes, num
manto secreto e/ou sagrado com que a informação é coberta face aos cidadãos exteriores
ao aparelho de Estado, o que naturalmente dificulta o trabalho de qualquer investigador.
Isto, apesar da legislação conducente a dar maior transparência ao trabalho da Administração
como, entre nós, o Código de Procedimento Administrativo.
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Em primeiro lugar as estatísticas são concebidas por pessoas, com critérios de categorização
e arrumação discutíveis, nem sempre suficientemente explícitos. Polémicas frequentes
em torno do modo como se concebem e analisam as taxas de inflação e de desemprego,
mostram que nem sempre a fundamenta ção conceptual das estatísticas é consensual,
permitindo margens de interpretação demasiado amplas para serem fiá veis em termos
absolutos.
Em segundo lugar há que não esquecer que, por vezes, as estatísticas sã o concebidas
não para clarificarem a realidade mas para justificarem prévias interpretações sobre essa
mesma realidade. A posição do investigador perante os dados estatísticos deve ser, por
isso, acompanhada de uma atenção crítica constante, sobretudo no que respeita aos
critérios de categorização e de c álculo. Um exemplo: há anos, alguns decisores políticos
pretendiam privatizar diversas instituições de educação especial com o argumento destas
terem um custo unitário mais elevado que as particulares. Quando interrogados sobre a
base de cálculo do indicador custo per capita de cada estabelecimento informaram- nos
que se baseava na seguinte fórmula :
Cpc era o custo per capita, CT correspondia ao custo total da instituição e U ao número
de utentes.
Não tendo qualquer objeçã o quanto ao numerador da fórmula (custo total), tivemos
ocasião de salientar que a base de cálculo do denominador estava subvalorizada uma
vez que muitas instituições oficiais, para além dos utentes permanentes, tinham utentes
incluídos em programas especiais— .
Em terceiro lugar os conceptores das estatísticas não têm os mesmos interesses que os
investigadores o que os leva a não terem em conta os mesmos critérios classificatórios. A
simples categoriza ção de grupos culturais inserta na base de dados Entreculturas ilustra
37
Um caso que acompanhámos de perto e que agora pode servir de exemplo foi o do Instituto
Antó nio Feliciano Castilho . Para além das cerca de sessenta crianças deficientes visuais e
multideficientes que eram acompanhadas em permanência, a instituição tinha programas
especiais de reabilitação para cerca de doze jovens (média anual) que tinham perdido a visão
há pouco e a quem era prestado do mesmo modo apoio sob a forma de acompanhamento
psicológico, técnicas de locomoção, atividades de vida diária (AVD) e iniciação ao Braille; por
outro lado, funcionava como centro de formação e de estágio para cerca de cem profissionais
por ano (professores, terapeutas ocupacionais e da fala, psicólogos e assistentes sociais).
Somando os 112 utentes referidos ao denominador, provou- se que aquela instituição oficial
tinha um custo mais baixo que outras instituições particulares com idênticas valências .
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as dificuldades que se podem encontrar nestes domínios, sublinhando o cuidado com que
as estatísticas devem ser manipuladas3®.
Princípios orientadores
Em função do exposto constituem medidas de prudência:
• escolher como fontes estatísticas as provenientes de instituições credíveis;
• mesmo neste caso, refletir criticamente sobre o modo como os indicadores
foram concebidos e calculados ( cfr. nota 3 do capítulo anterior);
• utilizar a imagina ção sociológica para tirar partido das estatísticas, cruzando
a matéria prima informativa desta proveniência com informações oriundas de
outras fontes documentais e obtidas com base noutras técnicas de recolha de
dados (ex: observação e inquérito por entrevista e por questioná rio).
Atividade 3.4
• Fa ça uma lista das estatísticas que pensa utilizar na sua dissertaçã o.
Seguidamente abra uma pasta com separadores (1, 2, 3, ... n) e com uma
folha de rosto com o respetivo índice. Registe a sua identificaçã o no índice
da pasta .
• Reflita sobre cada um dos indicadores interrogando-se sobre a credibilidade
das fontes, o modo como foi construído e se corresponde à s suas necessidades
de investigação. Registe em tópicos o resultado da reflexã o pois irá ser-lhe
útil como memorando na análise de dados e na posterior fundamenta ção
metodológica.
38
Sobre o caso concreto da base de dados Entrecuituras, vale a pena ler uma elucidativa reflexão
em CORDEIRO, Ana Paula (1993), Grupos Culturais Minoritários: Universo e Situaçã o
Escolar //oMulticulturalismo e Educação: O Contributo da Comunicação Educacional
na Implementaçã o de Prá ticas Educativas Interculturais, Lisboa, Universidade Aberta,
dissertação de mestrado em Comunicação Educacional Multimedia, pp. 74-111.
39
Seguimos aqui a categorização de Jahoda et al (1967) que integram as dissertações académicas
não publicadas nos documentos pessoais (a literatura cinzenta atr á s referida).
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Pretendendo fazer luz sobre a teia de experiências de um emigrante desde que toma a
decisão de procurar outras paragens para viver até à sua integra ção definitiva (ou não) na
sociedade de acolhimento, aqueles autores assentaram a sua investigação na análise de
dois tipos de documentos pessoais: cartas a que tiveram acesso e relatos escritos pelos
próprios emigrantes em que era descrita toda a experiência migratória 40.
Virtualidades
0 interesse deste tipo de documentos reside sobretudo em dois aspetos:
• possibilita aceder a informação que não se encontra noutras fontes podendo
extrair-se informação única, sem a qual dificilmente se poderiam entender certas
facetas da realidade social.
• permite dar voz aos que normalmente não a têm, possibilitando a difusão
da versão de acontecimentos e processos sociais relevantes, contados pelos
próprios protagonistas com as suas palavras e estilo.
Não seria possível, por exemplo, entender a complexidade do processo pelo qual um cego-
-surdo pode conseguir vencer o mundo do silêncio e da insularização social e integrar-se
totalmente na sociedade que o rodeia, sem o valioso contributo de Helen Keller que, na
sua autobiografia, descreve a espinhosa caminhada que conseguiu fazer, poderosamente
apoiada numa mestra excecional que foi Anne Sullivan.
O mesmo se poderia dizer, noutros campos, no que respeita, por exemplo, a autobiografias
de emigrantes, refugiados, prostitutas, exploradores, missionários, administradores
coloniais e políticos: possuidores de um património existencial único, não se poderia
entender em profundidade o peso de tal experiência na sua vida e na dos agregados com
os quais interagem, sem o seu testemunho pessoal, por maior que fosse a empatia 41 dos
cientistas sociais.
40
Entre nós, vale a pena referir Pulo Monteiro que utilizou a mesma abordagem para proceder à
aná lise sociológica do abandono de nove lugares agro-pastoris da Serra da Lousã : MONTEIRO,
P. (1985), Terra que Já Foi Terra , Lisboa, Edições Salamandra.
41
Utilizamos o termo empatia no sentido rogeriano do termo, expressando a ideia de o
investigador entender o modo como o Outro (neste caso o investigado) vê e experimenta o
Mundo e a Vida, tendo no entanto consciência que não se é o Outro. Para ilustrar o conceito
de empatia, Gisela Konopka numa obra clássica cita um provérbio índio que diz: Nunca julgue
um homem sem antes ter caminhado com os seus moccasins durante uma lua. KONOPKA, G.
(1972) Servi ço Social de Grupo: Um Processo de ajuda, Rio de Janeiro, Zahar, 2a edição,
da edução original de 1963, pp. 111-112.
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Limita ções
O estudo de Lewis permite também ilustrar as limitações dos documentos pessoais
assinaladas por v ários autores. Em síntese é importante ter em conta que:
• como expressões subjetivas dos atores sociais, estão limitados pelos preconceitos,
estereótipos e ideologias dos autores; valendo como testemunhos privilegiados
de quem viveu dada realidade, nã o a retratam com objetividade mas com os olhos
de quem a viveu por dentro, por vezes em situa ções de grande envolvimento
emocional com os inevitá veis filtros percetívos de natureza afetiva e cognitiva;
• por vezes não constituem documentos sociográficos (ainda que subjetivos) mas
autojustificações mais ou menos fundamentadas do comportamento dos autores
(bastante frequente em autobiografias de celebridades);
Princípios orientadores
Tal como em relação às estatísticas existem alguns procedimentos desejáveis para
tirar partido do valor dos documentos pessoais sem correr demasiados riscos. É, pois
recomendado:
• verificar os factos, sempre que possível, cruzando a informaçã o proveniente de
documentos pessoais com a oriunda de outras fontes documentais ou vivas;
42
. . .
LEWIS, O ( 1968), A Cultura da Pobreza , in Blaustein, A e Woock, R , (organizadores), O
Homem Contra a Pobreza: III Guerra Mundial, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura .
43
. .
LEWIS, O (1970), Os Filhos de Sanchez, Lisboa, Moraes, ed original de 1961; Lewis, O .
(1970), A Death in the Sanchez Family, New York, Vintage Book/ Random House.
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Em suma, poder-se-á dizer com alguma segurança que a informação fornecida pelos
documentos pessoais podendo ser fonte valiosa para a investigação, tem de ser combinada
com a informação proveniente de outras fontes, dadas as limitações acima referidas.
Atividade 3.5
• Faça uma lista dos documentos pessoais que julga útil analisar na sua
dissertaçã o, quer já existentes ( cartas, diários dissertações não publicadas),
quer concebidos por si e propostos a informadores privilegiados (histórias
de vida, relatos pessoais). Seguidamente abra uma pasta com separadores
(1, 2, 3, ... n) e com uma folha de rosto com o respetivo índice.
• À medida que os for consultando faça a sua ficha de leitura (de preferência
diretamente no computador com um software compatível com o processador
de texto que pensa usar na feitura do relatório) e registe a sua identificação
no índice da pasta .
• Registe a sua crítica sobre cada um dos documentos pessoais interrogando-se
sobre a veracidade e credibilidade das fontes, o modo como foi construído e
se corresponde à s suas necessidades de investigação.
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caso de um jornal: o mesmo número pode ter unidades de informaçã o com características
diferentes: notícias com a finalidade de informar o público, crónicas cujo objetivo é exprimir
uma opinião sobre determinada situação, artigos claramente apontando para um objetivo
formativo, anúncios com intenções comerciais, institucionais ou políticas, etc.
Se numa crónica, num anúncio ou mesmo num artigo é de esperar uma intencionalidade
do autor que lhe sublinha a sua condição de discurso construído sobre o real mas que
dele por vezes se afasta, no caso da notícia o leitor desprevenido tende a confundi-la
com o real esquecendo que, ao longo do seu ciclo de vida — e ainda que tenha havido
particulares preocupações de objetividade, a informação sofre progressivas filtragens
afastando-se muitas vezes da realidade que pretendia descrever. O investigador tem de
estar consciente de todos estes fatores para os poder ponderar devidamente na análise
da autenticidade e validade dos dados.
Já vimos que o primeiro objetivo deve ser visto com alguma reserva uma vez que a
informa ção difundida é o resultado de sucessivas decantações que lhe podem alterar a
fiabilidade. Por seu turno a questão da análise de conteúdo será referida na segunda parte
deste Manual. Salientemos entã o muito sucintamente alguns aspetos a ter em conta na
análise de impacto de uma unidade de informação.
44
O ciclo de vida de uma notícia começa com a recolha da informação, passando por um
complexo processo de verificação, elaboração, paginação, difusão, receção e reação dos
diversos segmentos de opinião terminando com a sua morte por esquecimento .
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45
O lead ê a síntese que não excede normalmente as trinta palavras apresentada imediatamente
a seguir ao título.
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• Seleção. Que aspetos dos factos conhecidos pelo investigador foram sublinhados
ou omitidos?
Relativamente aos jornais em formato digital, as variáveis atrás assinaladas devem ser
tidas em conta com as devidas adaptações (por exemplo, em vez do nú mero da página
em que está inserida a unidade de informação, poder-se-á considerar que esta terá tanto
mais impacto, quanto menos diques obrigar o utilizador a fazer, ou seja, quanto mais
fácil seja o acesso).
3.1. Objetos
Sendo o objeto uma criaçã o cultural, em certo tipo de investigações, como as de índole
antropológica, há necessidade de proceder à sua recolha e análise. Através do estudo
dos objetos pode reconstituir-se a estrutura e o funcionamento de um dado agregado
social.
46
Este tipo de aproximação é mais próprio dos arqueólogos e dos antropólogos culturais que
estudam culturas tradicionais. Numa dissertação sobre Relações Interculturais provavelmente
o investigador observará objetos e classificá -los-á mas não necessitará de os recolher. Para
quem precisar de o fazer é recomendável a leitura de um livro dessas especialidades. Cfr. por
exemplo Mauss, Mareei (s/d) ou Ribeiro (2003).
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financeiro que implicava por vezes endividarem -se, compravam um televisor para reterem
as suas filhas em casa — .
3.2. Registos de som e de imagem
A análise de informação de registos de som e de imagem bem como a que existe em suporte
informático requer uma especialização que não cabe no âmbito deste manual. No entanto,
para quem necessite de analisar informação nestes tipos de suporte, recomenda -se:
• a leitura atenta da bibliografia da disciplina de Antropologia Visual do Mestrado
em Rela ções Interculturais da Universidade Aberta, nomeadamente Ribeiro
(2003);
S í ntese
Teste formativo
5. Enuncie cinco critérios possíveis a utilizar pelo investigador quando recorre a uma
base de dados.
47
CARMO et al (1971), Estudo Exploratório de um Bairro de Lata de Lisboa, Lisboa, s.n.
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11. Faç a a ficha de leitura de um artigo è sua escolha de acordo com os critérios atrás
recomendados. Identifique-a através de um conjunto de descritores não inferior a
cinco nem superior a dez.
12. Refira alguns exemplos que provem a utilidade da análise das publicações oficiais
para o investigador.
14. Sumarize as principais virtualidades e limitações do uso das estatísticas bem como
alguns procedimentos a adotar para as usar com maior segurança.
16. Faç a uma listagem dos principais fatores a ter em conta na análise do impacto de
uma notícia
17. Refira a importância da análise dos objetos numa investigação sobre a cultura de um
dado grupo social.
18. Se precisar de proceder à an álise de registos de som e de imagem a que fontes pode
recorrer?
Leituras complementares
GRAWITZ, Madeleine (1993), Méthodes des Sciences Sociales, Paris, Dalloz, pp.
503-531.
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SELLTIZ, JAHODA, DEUTCH e COOK (1967), Métodos de Pesquisa nas Rela ções
Sociais, S. Paulo, Herder, pp. 355 -386.
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Objetivos da unidade
2. identificar três condições bá sicas para uma observa ção com qualidade;
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1. O QUE É OBSERVAR?
Por se tratar de uma palavra banalizada na linguagem comum valerá a pena, antes de
mais, clarificar o que se entende por técnica de observação. Para isso recorrer-se-á a
quatro diferentes contextos em que a palavra é utilizada.
Em 1977 decorreu no Instituto António Feliciano de Castilho, uma escola para crianças
cegas, em Lisboa, um curso sobre técnicas de locomoção indispensá veis ao dia a dia de
um cego, destinado a sensibilizar para elas os profissionais de educação especial. Dado
tratar-se de um m ódulo de inicia ção, os procedimentos ensinados circunscreveram -se à
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I. Visão Panorâ mica
Em dada altura, já na fase final do módulo, o grupo foi dividido em pares propondo-se-
-Ihes o seguinte exercício:
• em cada par foi atribuído a um dos elementos o papel de guia e ao outro, o de
cego;
• para o efeito cada um dos que desempenhou o segundo papel foi devidamente
impedido de ver, por colocação de uma venda nos olhos;
• cada par tinha de deambular durante meia hora pelo bairro de Campo de Ourique,
zona onde se situava o local de formação, caracterízada esta por uma quadrícula
de ruas de geometria regular, aparentemente sem pontos de referência para os
forasteiros se poderem orientar;
Na avalia ção do exercício, para além da comprovação de que o invisual tem muito mais
possibilidades de orienta ção espacial do que à partida um normovisua!possa pensar, foi
ainda sublinhada através de uma descoberta por todos experimentada de que ver não
é só olhar e escutar não é só ouvir.
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Com efeito, este jogo de simulação ilustrou que a capacidade de observar se encontra
frequentemente inibida. A passagem do olhar para o vere do ouvir para o escutar, ou
seja a criação de uma atitude de observa ção consciente passa por um treino da
atenção de forma a poder aprofundar a capacidade de selecionar informa ção
pertinente através dos órgã os sensóriais.
Uma das coisas mais importantes que um escuteiro— tem de aprender, quer seja
escuteiro de guerra, quer caçador, quer escuteiro de paz, é que nada escape à sua
.
atenção É indispensá vel que veja as coisas mais insignificantes e as interprete .
48
BADEN - POWELL ( 1977), Escutismo para Rapazes, Lisboa, Corpo Nacional de Escutas,
5a edição revista, Ia edição de 1908, pp. 137-150.
49
O termo sroòísignifica literalmente batedor, explorador, observador militar, sentinela avanç ada.
Quando criou o seu movimento juvenil, BP, como carinhosamente os escuteiros lhe passaram a
chamar, passou a designar por scout o jovem pertencente ao movimento, cujas qualidades de
argúcia, coragem generosidade e espírito de serviço pretendia que se assemelhassem às dos
pioneiros e batedores que tivera o privilégio de conhecer ao longo da sua vida . Em português
a palavra foi traduzida por escoteiro (designação adotada pela Associação dos Escoteiros
de Portugal) e por escuteiro ou escuta (tradução convencionada pelo Corpo Nacional de
Escutas).
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Exige-se muita prática para que um novato adquira o hábito de fixar tudo e não
deixar que nada lhe escape à vista. Esta prá tica tanto se adquire na cidade como
no campo.
De igual modo deve notar todos os rumores, ou cheiros especiais, e procurar averiguar de
onde prov êm. Se não se habituar a reparar nestas pequeninas coisas, não terá elementos
para raciocinar e tirar conclusões e pouco valerá como escuteiro.511
• ter capacidade para comparar o que observa com o que constitui a sua experiência
anterior e a partir daí poder tirar conclusões pertinentes, o que obriga a uma
formação metodológica sólida .
Toda a vida é uma grande cadeia cuja natureza se revela ao examinarmos qualquer
dos elos que a compõem. Como todas as outras artes, a Ciência da Dedução e Aná lise
só pode ser adquirida por meio de um demorado e paciente estudo e a vida não é
tão longa que permita a um morta! o aperfeiçoar- se ao má ximo nesse campo. Antes
50
Baden-Powell, op. cit. pág. 138.
51
BARRETO, Mascarenhas (1985 ), Prefá cio a Doyle, Sir Arthur Conan (1985), Um Estudo em
Vermelho, Lisboa, Livros do Brasil, pp. 42-43. A primeira edição desta obra foi publicada no
Beeton's Christmas Annual de Londres em 1887 tendo sido pela primeira vez editado em livro
-
no ano seguinte, pp. 16 17.
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Noutros domínios da Ciência Aplicada, sobretudo nos campos das Ciências Sociais e da
Educa ção, não é tão evidente a necessidade de uma cuidadosa observaçã o, uma vez que
facilmente se toma quase como natural aquilo que é culturalmente construído, agindo
muitas vezes os profissionais com base em representações estereotipadas da realidade
social.
Isto acontece, por exemplo, no interior de uma sala de aula, em que o processo de ensino-
-aprendizagem se desenvolve num quadro multicultural com protagonistas apresentando
52
. . . .
Op cit pág 19
53
Mesmo no exercício da Medicina em países aitamente industrializados, as técnicas de observação
revelam -se indispensáveis não só como meio fundamentai de diagnóstico mas também como
instrumento metacognitivo de combate à tecnodependência manifestada por alguns
daqueies profissionais.
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diferenças físicas e culturais visíveis, conhecendo-se mal e muitas vezes chegando mesmo
a recear-se reciprocamente. Daqui decorrem outras duas características importantes no
treino da observação: a capacidade para o observador se distanciar do objeto de
observa ção, ainda que este pertença à sua própria cultura, de modo a ganhar uma
conveniente perspetiva, e a capacidade para interpretar um dado comportamento
à luz da diversidade cultural. É neste contexto que um especialista como Javier Garcia
Castano recomenda :
Atividade 4.1
A partir dos exemplos anteriores, elabore um plano de treino pessoal que lhe
permita estar atento a indícios significativos captados no ambiente onde vai
decorrer a sua pesquisa e nas pessoas com quem vai contactar.
Um modo de começar poderá ser através da construção de uma grelha de
observa ção, em que procurará selecionar os indicadores a que vai estar
particularmente atento( a). Por exemplo, imagine que está a fazer um estudo
sobre o insucesso escolar e vai fazer uma entrevista a casa da família de uma
criança pertencente à sua amostra. Que aspetos deve observar enquanto decorre
a conversa?
54
CASTANO, Javier Garcia ( 1994), Antropologia de la Educación: el Estúdio de la
Transmí sión- Adquisición de Cultura, Madrid, Eudema, pp. 18.19.
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• observar o quê?
• que instrumentos se deverão utilizar para registar as observa ções
efetuadas?
É neste contexto que se impõe uma breve reflexã o sobre a construçã o e/ou seleçã o de
indicadores, de modo a funcionarem como instrumentos de filtragem de informação, que
permitam uma orientação mais segura no terreno.
Questões conceptuais
A palavra "indicador ", ensina- nos a Enciclopédia Britânica, designa um instrumento que
revela condições ou aspetos da realidade, que de outra maneira não seriam
percetí veis à vista desarmada. Descodificando esta definição em partes inteligíveis
observa -se que:
55
0 texto inserto nesta secção resulta da adaptação de uma secção de um outro trabalho:
CARMO, H. (1986), Análise e Intervençã o Organizacional, Lisboa, Fundetec, cap. 1.
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2 o Outro aspeto da definiçã o de indicador que nos parece significativo é a sua faceta
de revelador : tal como o revelador fotográ fico, que é uma substância que
permite o aparecimento da imagem na chapa impressionada, de outro modo não
percepcionável, o indicador faz emergir informaçã o, doutra maneira dificilmente
inteligível.
Todavia, não se limita a fazê-lo cega mente. Se se tratasse toda a informa çã o que
percecionamos, ficaríamos afogados no nevoeiro informacional já acima referido. No
meio deste turbilhão informacional, é necessário ao investigador recorrer a processos de
seleção da informa ção útil. O próprio significado da palavra "indicar " faz luz sobre
este potencial revelador dos indicadores: apontar, dar a conhecer, revelar, significar, dar
sinal de, determinar...
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Ora se os indicadores são tão úteis no nosso viver quotidiano, por maioria de razão o
serão para entendermos o sistema social onde estamos inseridos, cuja complexidade e
diversidade necessita ser descodificada, sistematizada, avaliada e, se possível, medida
para ser inteligível.
Indicadores Sociais
Os indicadores demográ ficos e económicos, contribuíram significativamente para a
compreensão do sistema social. No entanto, havia problemas extraeconómicos trazidos
pela organização social e pela mudança que lhes escapavam. Houve então que criar
instrumentos que permitissem revelar com clareza e precisão o que se estava a passar. É
desta necessidade que emergem os primeiros estudos sobre indicadores sociais. Estes,
tal como no caso dos anteriores, podem ser quantitativos ou qualitativos.
56
ROSANVALLON, P. (1985), A Crise do Estado- Providência, Lisboa, Inquérito.
57
BIRNBAUM, P. (1978), La Classe Dirigeante Française, Paris, P.U.F.
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intergerací onal que, como o nome indica, se destina a revelar a mobilidade social no
espaço de uma gera ção, considerando:
• haver mobilidade vertical quando a posição social do filho fosse superior à do
pai (ascendente) ou inferior (descendente);
De acordo com aqueles critérios, Birnbaum observa que em França, nos 30 anos que
antecederam o estudo, se havia verificado uma diminuição substancial de mobilidade
ascendente, ocorrendo com cada vez maior frequência a situa ção de dirigentes, quer
do setor privado quer do setor público, serem filhos de outros dirigentes ou de ex-
-dirigentes.
Tanto os indicadores sociais quantitativos como os qualitativos, são construídos para atingir
quatro objetivos concretos: retratar a realidade social nas suas facetas estrutural
e dinâmica, revelar as perceções dos diferentes grupos sociais sobre o sistema
social, planear a intervençã o social e, finalmente, para avaliar essa intervenção
com clareza e rigor.
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Para se conceber tal instrumento, é conveniente tirar partido das leituras e contactos
efetuados no estudo exploratório bem como a um reconhecimento prévio no terreno a
.
observar É extremamente importante que o investigador não v á desarmado
para o campo. Se o fizesse, correria sérios riscos de colecionar informação inútil para
além de, por certo, lhe escapar muita informaçã o pertinente ao seu estudo.
Feita a observação, torna-se indispensá vel o seu rápido registo sob pena de se perder
elementos valiosos. Para além do uso dos próprios guiões de observa ção que podem
funcionar como instrumentos de registo, é usual recorrer-se a outros elementos como
os seguintes:
• bloco-notas;
• diário de pesquisa;
• gravações em áudio ou em vídeo58.
0 bloco- notas deve ser uma companhia permanente do investigador. É nele que
são anotadas as primeiras impressões, sob a forma de tópicos, diagramas e breves
memorandos, de modo a auxiliar a memória do investigador quando este vier a registar
mais detalhadamente os resultados da sua observação. Certos grupos reagem de modo
negativo a um desconhecido que na sua presença faz anotações. Quando prevê este tipo
de reaçã o, o investigador não deverá utilizá-lo, tentando memorizar a sua observação,
58
Sobre o uso de gravaçõ es á udio e vídeo, vide Ribeiro ( 2003, 2004).
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Este primeiro apontamento é necessário mas não é suficiente tendo de ser completado
com um relato mais detalhado em que se registem os factos observados, interpretações
que nos mereceram, hipóteses que se nos levantaram fruto da observa ção, bem como
outras informações úteis a não esquecer ( ex: nomes de pessoas contactadas ou a
contactar, bibliografia a revisitar, etc.). É com essa função que vários autores recomendam
a elaboração de um diário de pesquisa.
Trata -se, como o nome indica, de um autêntico diário de bordo, em que o investigador
vai assentando por ordem cronológica os vários procedimentos da sua investigação, os
resultados das observações efetuadas, os acontecimentos relevantes, etc. É conveniente
que a sua formatação permita a inserção de diversos tipos de documentos anexos como
fotografias, mapas, gráficos, tabelas e outros, pelo que não é aconselhá vel o uso de
cadernos e blocos que dificultam a inserção desse tipo de informa ção adicional.
59
Pode recorrer- se a diversos processos para atingir este objetivo. Nas investigações que fizemos
em bairros de lata, criámos a rotina de tomar as nossas primeiras notas num café que ficava
á beira do bairro. Mais tarde, na pesquisa para o doutoramento, usá mos um gravador portátil
com o mesmo objetivo. 0 essencial é que as primeiras notas sejam tomadas em cima dos
acontecimentos observados.
60
Por exemplo, no vulgar word for windows pode-se pesquisar as palavras- chave de um texto
usando edit find.
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recolhidos o que não é de desprezar para quem tem de lidar com quantidades
tã o grandes e tã o dispersas de informação
Atividade 4.2
1. Reveja os objetivos que definiu para a sua dissertaçã o
2. Com base no trabalho anterior fa ça um quadro com as seguintes colunas:
Ia coluna: objetivos da pesquisa
2a coluna: aspetos a observar traduzidos por variá veis
3 a coluna: indicadores a observar
4a coluna: onde observar?
5 a coluna: sistema de registo a utilizar
3. Preencha o quadro. O objetivo é construir um roteiro de observação que lhe
sirva de guia para as diversas situa ções da sua pesquisa.
4. Discuta o seu trabalho com outros colegas e introduza as correções
decorrentes.
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3. TIPOS DE OBSERVAÇÃO
Existem várias formas de tipificar as técnicas de observa ção. Uma forma usual de o fazer
é distingui-las de acordo com o envolvimento do observador no campo do objeto de
estudo.
Imagine-se, por exemplo, uma pesquisa sobre comportamentos racistas em sala de aula.
Se o investigador optar por observar a dinâmica do grupo em situação de aula, oculto por
detrás de um painel espelhado, está a fazer uma observa ção nã o-participante.
Em certas investiga ções deste tipo, o papel que o investigador assume é ténue, passando
completamente despercebido à população observada, sem que esse facto possa considerar-
-se incorreto do ponto de vista deontológico uma vez que as situações observadas ocorrem
em ambiente aberto, como nas situações que a seguir se enumeram:
• estudo do comportamento de claques de futebol;
61
Não reduz totalmente a interferência uma vez que, por imperativo ético, o observador deve
previamente colher a autorização dos elementos do grupo-alvo da observação.
Em grande parte das situações o investigador deverá assumir explicitamente o seu papel
de estudioso junto da população observada, combinando-o com outros papéis sociais
cujo posicionamento lhe permita um bom posto de observa ção. Como o desempenho
desses papéis o faz de algum modo participar da vida da população observada, dá -se a
esta técnica o nome de observaçã o participante. O exemplo que se segue ilustra as
suas vantagens e inconvenientes.
De outubro de 1970 a julho de 1971 foi realizado um estudo exploratório sobre um bairro
de lata de Lisboa com o duplo objetivo de fazer um levantamento sociográfico sobre o
estilo de vida da popula ção e de levantar algumas hipóteses sobre as suas estratégias
de sobrevivência®2. Como estratégia de base para a recolha de dados, cada um dos
oito elementos da equipa assumiu um papel reconhecido como socialmente útil pela
comunidade: três inscreveram-se como professores dos cursos noturnos para adultos, que
faziam parte do programa da instituição particular de solidariedade social implantada no
bairro63; outros três assumiram o papel de rececionistas do seu posto médico, onde eram
facultadas consultas de diversas especialidades e donde estava a ser desencadeada uma
campanha de saúde pública; os dois restantes, ofereceram-se para o serviço de bufete do
clube do bairro, local de encontro habitual da juventude e de alguma população adulta.
62
Incidindo sobre um bairro hoje desaparecido, a Quinta do Bacalhau, o trabalho foi desenvolvido
no âmbito da disciplina de Metodologia das Ciências Sociais, do currículo das licenciaturas em
Serviço Social e em Ciências Sociais e Política Ultramarina do ISCSPU/ UTL.
63
Denominava-se Centro de Ação Social Universitá rio (CASU).
No fim de cada semana, a equipa fazia uma reuniã o em que era comparada a informação
registada nos respetivos diários de pesquisa e discutida a sua fiabilidade. Esta técnica,
complementada naturalmente com pesquisa documental e com entrevistas a informadores
qualificados permitiu, ao fim de um ano, atingir os objetivos acima referidos.
Atividade 4.3
Em função dos objetivos previstos para a sua dissertação elabore uma breve
reflexão escrita (n ão mais de meia pá gina A4) em que defenda o uso (ou o não
uso) de cada uma das três técnicas de observação atrá s referidas.
Dada a sua utilidade vale a pena refletir um pouco sobre duas questões a ter em conta
no seu uso, a fim de dela melhor se poder tirar partido:
64
Tal conhecimento não é autom ático. Exige da parte do investigador uma profunda vigilâ ncia
relativamente aos seus preconceitos de raiz etnocêntrica ou não. Vide sobre este perigo, a
obra de ficção de Irving Wallace, As três sereias, op. cit.
65
Vejam-se como exemplos, dois trabalhos produzidos em épocas bem diferentes: WHITE, W .
F. ( 1970), Street Corner Society, the Social Structure of an Italian Slum, Chicago,
.
University of Chicago Press, 13 a edição, ed original de 1943 ( ver sobretudo o apêndice
metodológico pp. 279-358); e ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz (1973),Immigré s Portugais,
Lisboa, ISCSPU, pref. Alain Girard, ( ver sobretudo o capítuio de fundamentação metodológica).
Sobre o seu uso em Antropologia da Educação vide MA1LLO, H.; CASTANO, 3.; e RADA, A.
(1993), Lecturas de Antropologia para Educadores, Madrid, Trotta.
Uma vez que o investigador é habitualmente considerado como intruso, a sua presença
desperta no mínimo alguma perplexidade e, frequentemente, desconfiança, sentimento
que é necessário vencer com habilidade e perseverança. De facto, o investigador é
objetivamente um forasteiro que precisa de ganhar a confiança do grupo ou da comunidade
onde se vai integrar. Para isso é recomendá vel a assunçã o de um papel que seja
simultaneamente claro para a população-alvo - por exemplo que não seja identificável
com papéis antipá ticos ou temidos6 * - e de utilidade social reconhecida.
No exemplo acima referido, os papéis assumidos eram facilmente inteligíveis e
reconhecidamente úteis, dado ter sido dado a conhecera nossa dupla condição: estudantes
que precisavam de apresentar um trabalho académico e que haviam querido conciliar tal
necessidade com o desempenho de um trabalho voluntário na comunidade, professores,
rececionistas ou voluntários no apoio ao clube do bairro.
Após uma cautelosa fase inicial, por parte da popula ção residente no bairro, em que os
testes à nossa autenticidade foram constantes e revelaram a verdade dos nossos discursos,
a equipa foi adotada sem reservas, desenvolvendo-se uma relação de grande franqueza
e, nalguns casos, mesmo de amizade, o que permitiu a nossa presença assídua no bairro
66
A suspeita de que o investigador poderá ser um polícia infiltrado, em comunidades com
problemas de comportamento desviado, ou que é um aliado dos outros, em zonas dominadas
por diferentes fações locais, constitui um sério obstáculo à realização de uma investigação que
requeira a realização de trabalho de campo.
0 papel de professor de adultos exercido na Quinta do Bacalhau, por exemplo, que era
extremamente adequado para observar em profundidade os processos e as dificuldades
de aprendizagem de uma população adulta de trabalhadores manuais não qualificados,
não permitia obter informações significativas no respeitante ao modo como geriam os
seus tempos livres, uma vez que havia um objetivo conflito de interesses entre o tempo
consagrado ao estudo e o pouco que destinavam ao lazer. Esta situa ção levava a uma
certa reserva quando eram interrogados sobre o que faziam fora das aulas.
Em suma, a escolha de cada papel social tem benefí cios e custos que é preciso
ter em conta, devendo ser feita de acordo com o objetivo da pesquisa.
Uma vez definido o papel social que vai legitimar sua presença junto da comunidade
e que lhe permite criar um observatório adequado, o investigador deve interrogar-se
sobre a questão do seu envolvimento com o grupo-alvo ou seja, sobre a intensidade do
mergulho que quer dar sobre o objeto de estudo. As consequências da sua opção são
extremamente relevantes como adiante se poderá ver.
A Janela de Johari
Para perceber claramente a relev ância desta questã o vejamos o modelo proposto por
Joseft Luft e Harry Hingham conhecido por Janela de Johari— .
Este modelo representa o grau de lucidez nas rela ções interpessoais, classificando os
elementos que influem nessas relações em quatro áreas, relativamente a um dado ego:
área livre, aqueles que integram a informação conhecida pelo ego e pelo outro,- área
cega\ os que são conhecidos apenas pelo outro (ex: a imagem não verbalizada que o
outro tem do ego); área secreta: os que, pelo contrário, o ego conhece sem os partilhar
67
LUFT, J. e INGHAM, H. (1955), The Johari Window, a Graphic Model for Interpersonal
Relations, Los Angeles, University of California, (UCLA), Western Training Laboratory for
Group Development.
com o outro; área inconsciente, os elementos que condicionam a relação mas dos quais,
nem o ego nem o outro têm consciência.
Conhecido Área
Área livre
pelo próprio secreta
Desconhecido Área
Área cega
pelo próprio inconsciente
.
Fonte: LUFT, J (s/d), Introdução à Dinâmica de Grupos, Lisboa, Moraes .
Figura 4.2 - Janela de Johari
68
. . .
CARMO, H (1995), op cit , Introdução.
69
Com o termo objetivamente, quer sublinhar-se que as consequências desta situação seriam
independentes da boa vontade dos nossos informadores.
70
Esta situação, em parte facilitadora da pesquisa ievantava-nos, em contrapartida, a questã o
ética da utilização da informaçã o, o que implicava um esforço adicional da sua seleção.
71
Fosse qual fosse o ponto de observa ção em que nos situássemos, este seria fonte de miopia
organizacional, termo que designa o conjunto de filtros que impedem o observador de
percecionar a organização na sua dinâmica. CARMO, H. (1986), Análise e Intervençã o
Organizacional, Lisboa, Fundetec.
72
Sobre a noção de ambivalência sociológica vide MERTON, Robert (1979), Ambivalência
Sociológica , Rio de Janeiro, Zahar.
73 Um problema evidente era o da clássica interferência do observador no objeto de estudo. Esta
questão, no entanto, pareceu-nos de importâ ncia relativa, porque a postura meso e macro em
que nos coloc ávamos, distanciava-nos da nossa interferência como coordenador de ensino.
Sobre a universalidade desta questão, mesmo para as Ciências Físico-Naturais, vide SANTOS,
Boaventura Sousa ( 1991), Um Discurso Sobre as Ciências, Porto, Afrontamento (5a ed.
Edição original de 1987), pag. 23 e sgs.
assumimos, limitou o nosso horizonte, não permitindo observar aspetos de maior detalhe
da dinâmica interna da LINED (circuitos de decisão, estrutura informal, rede comunicacional,
padrões de cultura organizacional, etc .)
Esta foi a situa ção em que nos encontrámos ao observar a nossa própria instituição,
permitindo o acesso a informação reservada aos de dentro mas retirando-nos a perspetiva
do observador exterior.
Tal equilíbrio apesar de difícil é possível como o demonstram trabalhos clássicos como
os de Moreno, Lewin, Lebret, e tantos outros que conseguiram aliar a objetividade da
observação científica à militância da intervenção social.
74
DREYFUS, Catherine ( 1980), Psicoterapias de Grupo, Lisboa, Verbo, p. 20.
75
Idem, p. 46 e sgs.
Nalguns casos, como nos de Paulo Freire22 e de Camilo Torres24, a relação existente
entre o papel de observador e o de participante tende a desequilibrar-se claramente em
favor do segundo chamando alguns autores a esta situação a de observação militante.
Independentemente dos perigos de perda de objetividade científica que são muito
evidentes, sendo uma posição civicamente respeitá vel, em contexto de investigaçã o para
a obtenção de um grau académico é uma opção perigosa pois dispersa o investigador e
afasta -o objetivamente desse objetivo de curto prazo.
Atividade 4.4
1. Refira sucintamente o uso que pensa fazer da técnica de observa çã o
participante para a sua dissertaçã o, como técnica exploratória, como técnica
principal ou como instrumento auxiliar.
2. Caracterize alguns papéis que poderá vir a desempenhar junto da populaçã o-
-alvo e discuta as suas virtualidades e limitações.
3. Explicite como pensa ultrapassar as limitações do seu observatório.
76
Cfr. LEBRET, Louis ( 1964), Suicídio ou Sobrevivência do Ocidente?, S. Paulo, Livraria
Morais, ia ed. 1958.
77
Andragogo brasileiro desenvolveu uma eficaz metodologia de alfabetização e educação cívica
.
de adultos cuja aplicação o levou ao exílio na altura da ditadura militar O seu método tem
sido utilizado em todo o Mundo quer por organismos transnadonais como a UNESCO quer
.
por entidades estatais e ONGs Apesar dos muitos escritos que produziu o seu pensamento
pode sintetizar-se em duas das suas obras: FREIRE, Paulo ( 1972), Pedagogia do Oprimido ,
Lisboa, Afrontamento; e (1971), L'Education: Pratique de la Libert é, Paris, CERF.
78
Nascido em 1929 em Bogotá numa família da classe alta e ordenado em 1954, o padre Camilo
Torres, após ter realizado estudos superiores na Universidade de Louvain ocupou em 1958
o lugar de professor de Sociologia na Universidade de Bogotá . Após quatro anos em que
conseguiu articular a sua atividade de docente e de investigador com a de militante dos direitos
civis, entrou em rotura com o sistema após a crise estudantil de 1962, acabando por aderir à
guerrilha em 1965 e ser morto em 1966. A sua principal obra sociológica foi postumamente
compilada em TORRES, C. (1968), Ecrits et Paroles, publicada em Paris pelas Éditions du
Seuil.
5. PROBLEMAS DEONTOLÓGICOS
Um caso particular que naturalmente agudiza esta questão é o dos estudos sobre
grupos de acesso restrito como alguns agregados políticos e económicos (movimentos
sociais, elites, grupos de pressão e partidos), comunidades étnicas e religiosas, grupos
com estatuto socialmente desvalorizado (homossexuais, delinquentes, prostitutas) e
associações secretas. Nessas situações é previsível ocorrerem resistências ao trabalho
do investigador devido às suas características pessoais (género, idade, classe social,
religião etc.). Quando as barreiras são vencidas e a confiança estabelecida a filtragem da
informa ção a difundir é de primordial importância.
Esta importante questã o leva à necessidade de uma prévia negociação com a populaçã o-
-alvo sobre os limites até onde pode exercer o seu papel de investigador, não sendo
desejável qualquer ação que possa conduzir à sua identifica ção como ladrão de
informação. Tal situaçã o não só seria eticamente condenável como vacinaria a população
contra trabalhos a efetuar futuramente por outros investigadores.
Podendo por vezes assumir contornos difíceis, tal negociaçã o é possível, como o provam
estudos clássicos como o já citado de William F. Whyte sobre os bandos de esquina, ao
qual poderiam acrescentar-se muitos outros como a que Allinsky fez sobre o bando de AI
Capone80 ou, entre nós, como a que Olímpio Nunes realizou sobre os ciganos81.
79
Correspondentes à sua área secreta.
80
cit. in HESS, Rémi (1982), Sociologia de Intervenção , Porto, RÉS.
81
NUNES, Olímpio (1981), O Povo Cigano, Porto, Livraria Apostolado da Imprensa.
82
O termo é usado no sentido que lhe dá MERTON, Robert (1979), Ambivalência Sociológica ,
Rio de Janeiro, Zahar.
Atividade 4.5
1. Fa ça uma breve reflexão sobre os principais problemas deontológicos que a
sua investigação pode levantar. Resuma o resultado em tópicos.
2. Discuta as questões a que chegou com o seu grupo de trabalho.
3. Sumarize as tarefas a realizar para ultrapassar tais problemas.
S í ntese
Teste formativo
Leituras complementares
GOODE, William e HATT, Paul. K. (1960), Métodos em pesquisa social, S. Paulo, Ed.
Nacional. Capítulo sobre observação.
MILLS, C. Wright (1969), A Imagina ção Sociológica, Rio de Janeiro, Zahar, Apêndice
final.
SELLTIZ, JAHODA, DEUTCH e COOK (1967) Métodos de pesquisa nas rela ções
sociais, S. Paulo, Herder (USP), pp. 223-261.
Objetivos da unidade
17. identificar os vários tipos de perguntas que podem integrar um inquérito por
questionário;
18. caracterizar diversos canais de comunica ção usados entre inquiridor e inquirido;
21. explicitar os cuidados a ter num inquérito por questionário, no que respeita à
construção das perguntas;
22. explicitar os cuidados a ter num inquérito por questionário, no que respeita à
apresentação do formulário;
1. O QUE É UM INQUÉRITO?
Em Ciências Sociais esta expressão é usada de uma forma precisa para designar processos
de recolha sistematizada, no terreno, de dados suscetíveis de poderem ser comparados. Há
mesmo autores que quando se referem a inquéritos se circunscrevem aos que permitem
uma posterior aná lise quantitativa identificando -os erradamente com o conceito de
inquérito por questionário.
Esta perspetiva quantitativista é, quanto a nós, profundamente redutora, uma vez que o
que define um inquérito não é a possibilidade de quantificar a informação obtida mas a
recolha sistemática de dados para responder a um determinado problema. Aliás, conforme
o têm demonstrado diversos autores, o critério da quantificação não é diferenciador porque
que cada vez mais é viável quantificar informação aparentemente difícil de der submetida
a tal tratamento®3. Um delírio de um doente mental, por exemplo, pode ser quantificado
desde que haja por parte do investigador o cuidado prévio de conceber um modelo de
análise com variáveis e indicadores significativos, registar rigorosamente as observações
efetuadas ( em vídeo, por exemplo) e proceder às necessárias operações de tratamento
e an álise dos dados de acordo com o modelo previamente construído.
Tendo em vista estudar os procedimentos prá ticos no ato da inquirição, podemos diferenciar
os inquéritos, em Ciências Sociais, segundo duas variá veis:
• o grau de diretividade das perguntas
* a presenç a ou ausência do investigador no ato da inquirição
O resultado do cruzamento das duas variá veis conduz - nos a quatro tipos de inquérito
(fig . 5.1):
Menor diretividade
A - Entrevista pouco estruturada C- Questionário pouco
estruturado
Maior diretividade B - Entrevista estruturada D - Questionário estruturado
Figura 5.1 - Tipos de inquéritos de acordo com os critérios do grau de directividade das
perguntas e da interação estabelecida entre o investigador e a população inquirida
Tanto os inquéritos realizados por entrevista como os inquéritos realizados por questionário
podem ter graus de estruturaçã o diferente.
Imagine que lhe é pedido um estudo sobre as estratégias de sobrevivência dos refugiados
romenos em Lisboa. Para diferentes fases do seu trabalho poderá usar com proveito cada
um dos quatro tipos de inquérito.
®3
Veja-se, a este propósito BARDIN, Lawrence ( 1979), Análise de conteúdo, Lisboa, Edições
.
70, p 35, em que este autor mostra o amplo conjunto de domínios aos quais se podem aplicar
as técnicas de análise de conteúdo.
Munido(a) dos resultados do inquérito por entrevista, que eventualmente lhe tivessem
suscitado um conjunto de hipóteses interessantes, poderia verificá-las através da aplicação
de um inquérito por questionário muito estruturado (situa ção D).
Assim, como adiante se verá, o principal fator distintivo entre um inquérito por
entrevista e um inquérito por questioná rio é o primeiro ser realizado em situação
presencial, enquanto que o segundo ser administrado a distâ ncia . A presenç a ou
ausência do investigador no ato da recolha de dados é assim determinante no que respeita
aos procedimentos técnicos de conceção e de administração dos inquéritos. Essa, a razão
da sua distinção, que se procura ilustrar nos pontos seguintes.
Atividade 5.1
Relativamente aos objetivos que definiu para a sua dissertação, elabore uma
listagem de informações que carecem de inquirição a fontes vivas. Seguidamente
interrogue-se sobre o tipo de inquérito que lhe parece mais adequado para
alcançar as respostas que deseja:
- entrevista pouco estruturada ?
- entrevista muito estruturada?
- questionário pouco estruturado?
- questionário muito estruturado?
A intera ção direta é uma questã o-chave da técnica de entrevista. Recordando o que se
í, a situação habitual no início
disse na unidade anterior relativamente à janela deJohar
de uma entrevista é a da presença de dois interlocutores (duas janelas) cuja interação
apresenta áreas livres muito reduzidas, áreas cegas relativamente grandes e áreas
secretos igualmente extensas84. Dito de outro modo, quando vai começar uma entrevista
o investigador partilhou habitualmente pouca informa çã o com o entrevistado { área
livre pequena), sabe pouco sobre ele (grande área cega do entrevistador e secreta do
entrevistado) encontrando-se este último na mesma situa ção (extensa área cega própria
e secreta de quem o vai entrevistar).
Para atingir tal meta uma estratégia habitualmente eficaz é a de começar por reduzir a
nossa área aplicando uma regra fundamental das relações humanas, a regra
da reciprocidade. Uma primeira forma de o fazer é através de uma apresenta ção
bem-feita a qual assume três vertentes:
• a apresentação do investigador
• a apresentação do problema da pesquisa
• e a explica ção do papel pedido ao entrevistado .
Ao abrir a sua área secreta, o entrevistador fornece ao entrevistado dados que lhe
permitem entender a sua importância como fornecedor de informação e, por consequência,
a sua utilidade para a investigação em curso. Quando é criado este tipo de entendimento,
o entrevistado tem tendência a colaborar (co- laborare = trabalhar com), sentindo que não
está a ser simplesmente utilizado ou mesmo manipulado. Tal como se disse na unidade
anterior, pretende-se criar um ambiente de partilha voluntária de informação e não de
aquisição coerciva da mesma85.
A circunstância de ser uma situação em interação direta ou presencial faz com que no
ato de entrevistar se tenham de gerir três problemas em simultâneo:
• em primeiro lugar, a influência do entrevistador no entrevistado;
84
Não é relevante falar-se das áreas inconscientes uma vez que estas não se alterarão
significativamente numa entrevista deste tipo.
85
Diferente seria se estivéssemos em presença de um inquérito policial, administrativo ou judicial
em que a relação entrevistadores/entrevistados é assimétrica. Nestes casos, os primeiros têm
daramente mais poder que os segundos, o que se traduz numa atitude de captura coerciva de
informação no ato da entrevista.
• em segundo lugar, as diferenças que entre eles existem (de género, de idade,
sociais e culturais);
Uma pergunta perfeitamente inocente numa dada cultura, como inquirir « que idade tem?»
pode ser considerada por um entrevistado de outra cultura um atentado à sua privacidade.
Para as gerações mais velhas, sobretudo em certos estratos sociais é considerado falta
de educa ção perguntar a idade a uma senhora.
Outras vezes surgem questões que são extremamente claras para o entrevistador uma vez
que fazem parte da sua cultura, mas que não fazem parte do campo de conhecimentos
86
Usa-se aqui o conceito de cultura na aceção usual das Ciências Sociais, sem qualquer conotação
valorativa.
Imagine-se, por exemplo, que se está a inquirir uma popula ção de imigrantes cabo-
-verdianos e quer-se indagar da sua familiaridade com a literatura do seu país. Se a
pergunta for demasiado aberta (ex: que pensa sobre a literatura cabo-verdiana?) as
respostas serão demasiado ambíguas ou laterais. Para atingir o objetivo, haverá que
elaborar um conjunto de perguntas concretas sobre o conhecimento de escritores, de
artistas e de obras que permitam funcionar como indicadores de conhecimento sobre a
literatura cabo-verdiana. Se as perguntas forem objetivas as respostas serão por certo
mais verdadeiras.
Outra situação: perguntar a professores que não usam o computador no seu quotidiano
qual a sua opinião sobre a aplicabilidade da videoconferência como instrumento pedagógico
é um convite a especulações desenfreadas e à explicitação de ideias pré-concebidas sobre
o assunto.
Deste modo, ao preparar uma entrevista, o investigador tem de ter em conta que o modo
como põe as questões e como as enquadra em termos nã o-verbais é tão importante como
o seu conteúdo específico devendo ter tantos cuidados com a estratégia formal a adotar
como com a estruturação do guião.
Como qualquer outra técnica de recolha de dados, o inquérito por entrevista deve ser
escolhido em certos contextos e evitado noutros. Duas situações típicas em que o uso
da entrevista é recomendá vel são as seguintes:
• nos casos em que o investigador tem questões relevantes, cuja resposta não
encontra na documentação disponí vel ou, tendo-a encontrado, não lhe
87
Um exemplo deste tipo de questões: na pesquisa sobre os sistemas ibéricos de ensino
superior a distâ ncia não se encontrou, na documentação escrita, qualquer alusão significativa
às resistências à criação da Universidade Aberta, ocorridas durante os diversos anos da sua
gestação. Para se responder a esta questão, foi necessário recorrer a entrevistas a informadores
qualificados.
88
Na referida pesquisa sobre os sistemas ibéricos de ensino superior a distância, as entrevistas
realizadas aos dirigentes das duas universidades e dos centros associadosúa UNED, constituíram
fontes indispensá veis de informação que permitiram poupar muitos meses de trabalho mesmo
tendo em conta o tempo mais tarde despendido em cruzar algumas das informações obtidas
com outras fontes .
89
Esta questão que nos levaria à discussão sobre a representatividade das fontes e às técnicas
de amostragem, será discutida na segunda parte deste manual.
/
1
r 2
( (
34
J 5 6
De acordo com esta autora pode-se classificar as entrevistas de acordo com um continuum,
variando entre um máximo e um mínimo de liberdade concedida ao entrevistado
e o grau de profundidade da informaçã o obtida. A partir desses dois critérios foi
construído o diagrama com um segmento de reta vertical, que representa o nível de
profundidade de informações que a entrevista pode fornecer; e o esboço de um polígono
que progressivamente se vai fechando tornando-se num hex ágono, correspondente ao
decrescente grau de liberdade de resposta proporcionada ao entrevistado.
A entrevista clínica (tipo 1), como o nome indica, é utilizada habitualmente em contextos
terapêuticos, caracterizando-se por uma liberdade quase total dada ao entrevistado
Tipo de Número de Ordem das Forma das Focagem das Situa çã o Possibilidades
entrevista questões questões questões questões Comunicadonal de aná lise
+ abertas no Quase monólogo + qualitativa
1. Clínica <« <« entrevistado
2. Em
<< <<
profundidade
A fim de melhor caracterizar os seis tipos de entrevista observe-se a figura 5.4 em que
se procura diferenciá-las de acordo com seis variáveis : o número das perguntas, a
sua ordem, a sua forma, a sua focagem dominante, o grau de intera ção entre
entrevistador e entrevistado e a facilidade de aná lise das respostas.
90
Madeleine Grawitz utiliza o termo profundidade, no sentido de quantidade de informação de
acesso reservado.
Assim, por exemplo, a entrevista clí nica (tipo 1) de dura ção tendencialmente longa,
caracteriza-se por um número de perguntas muito reduzido, quase sem ordenação,
apresentando uma forma quase sempre aberta, focadas dominantemente sobre a
vivência pessoal do entrevistado o que conduz a respostas eminentemente subjetivas.
0 grau de interação entre entrevistador e entrevistado apresenta -se sob a forma de um
quase -monólogtIa1 e a facilidade de aná lise quantitativa das respostas é reduzida .
Antes da entrevista
Como qualquer outra tarefa de investigação a entrevista exige um planeamento cuidadoso.
Desse planeamento devem constar os procedimentos que a seguir se enumeram de forma
sumária.
91
Quase-monólogo uma vez que o entrevistador tem uma intervenção extremamente reduzida.
0 termo quase, exprime a interação do entrevistador que, ainda que reduzida, intervém na
produção do discurso com a sua simples presença.
92
Quase-diálogovisto que a situação de entrevista é artificia!. Apesar da dinâ mica interativa gerada
pelo conjunto perguntas/respostas ser semelhante a um diá logo vulgar, a sua formalização
retira -lhe a espontaneidade; dai a expressão quase.
Antes:
Definir o objetivo
Construir o guia de entrevista
Escolher os entrevistados
Preparar as pessoas a serem entrevistadas
Marcar a data, a hora e o local
Preparar os entrevistadores (formação técnica)
Durante:
Explicar quem somos e o que queremos
Obter e manter a confiança
Saber escutar
Dar tempo para "aquecer " a relação
Manter o controlo com diplomacia
Utilizar perguntas de aquecimentos, focagem
Enquadrar as perguntas melindrosas
Evitar perguntas indutoras
Depois:
Registar as observações sobre o comportamento do entrevistado
Registar as observações sobre o ambiente em que decorreu a entrevista
Construir o guiã o. Após a definição clara e rigorosa dos objetivos da entrevista, há que
os operacionalizar sob a forma de variá veis. Por exemplo, ao objetivo definira origem
social\ o perfil profissional e a situação académica à entrada para um determinado
programa de formação profissional, devem corresponder diversas variá veis que o
vão operacionalizar ( ex: sexo, idade, lugar de nascimento, residência, profissão dos
pais, estado civil, número de filhos, antecedentes académicos familiares, profissão,
habilitações académicas à data da inscrição)— . Após este procedimento, o investigador
vai ter de operacionalizar as variáveis em perguntas adequadas às metas que
pretende atingir. Por exemplo a variável idade pode ser formatada no guião de vá rias
formas:
- Que idade tem?
ou
- Em que ano nasceu?
93
Adaptado de ARETIO, L. G. ( 1985), Licenciados Estremenos de la UNED: Memorial de
Licenciatura, Badajoz, Universidad Nacional de Educación a Distancia. Centro Regional de la
Estremadura, pp. 20-21.
ou
- A sua idade está incluída em qual dos seguintes grupos
Menos de 20
Entre 20 e 24
Entre 25 e 29
Entre 30 e 34
Mais de 34
ou ainda
Menos de 20
Entre 20 e 29
Entre 30 e 39
Entre 40 e 49
Mais de 49
Para o guião de entrevista ficar pronto a ser utilizado haverá ainda que encadear as
questões de forma adequada ao objetivo da pesquisa34.
94
Para um aprofundamento da questão do encadeamento das questões veja o ponto relativo aos
inquéritos por questionário, que se segue.
95
Para uma melhor compreensão desta questão veja na segunda parte deste manual a secção
correspondente à técnica de amostragem. Veja também Clegg, Frances ( 1995, 159- 172}.
A experiência tem demonstrado que o contacto pré vio com os entrevistados (que pode
ser feito presencialmente mas também pelo correio, telefone, fax, correio eletrónico ou
outro qualquer canal) n ão é um gasto inútil de energias mas constitui, pelo contrário, um
investimento . Ao ter esse procedimento o investigador não só fica com mais garantias
sobre a disponibilidade física e psicológica— da pessoa escolhida mas também se lhe
apresenta com uma imagem de profissionalismo e demonstra ter respeito pelo
seu tempo, o que, decerto, irá ter efeitos positivos no ambiente em que a mesma irá
decorrer.
Durante a entrevista
É comum vermos e ouvirmos, na televisão e na rá dio, situações de entrevista que retratam
exatamente o que um entrevistador em contexto de investigação científica nã o deve
fazer. Esta afirmação não envolve necessariamente uma crítica global aos jornalistas,
uma vez que o contexto e os objetivos de tais entrevistas são completamente diferentes
dos de uma entrevista que serve os fins de uma dada pesquisa científica . Veja -se então
alguns padrões de atuação que têm vindo a revelar-se indutores de eficácia e de eficiência
numa entrevista em contexto de investiga ção.
96
O efeito habitual da ausência de contactas prévios é a entrevista não se realizar ou, o que
é pior, decorrer em ambiente tenso com o entrevistado a despachar o entrevistador com
respostas estereotipadas por ter outras coisas agendadas conferindo ao entrevistador o papel
de intruso ou de ladrão do seu precioso tempo.
Depois da entrevista
Após a entrevista é sempre útil registar as observações sobre o comportamento verbal
e não verbal do entrevistado, bem como sobre o ambiente em que a mesma
decorreu. Tal registo permitirá levantar hipóteses mais seguras sobre a autenticidade das
respostas obtidas e sobre o grau de liberdade com que foram dadas. Numa entrevista feita
em público, por exemplo, o respondente está sujeito a um conjunto de constrangimentos
sociais que poderá não ter se tal entrevista for efetuada na intimidade da sua casa, sem
a presença de espectadores.
Atividade 5.2
Faça o planeamento da recolha de dados para cada uma das situações de
entrevista que identificou na atividade 5.1, considerando os seguintes fatores:
• apresentação ao entrevistado
97
Um recurso habitualmente usado para dar confiança ao entrevistado é o uso de técnicas de
...
reforço através de expressões como "estou a ver ", da repetição pardal e da reformulação do
discurso do entrevistado.
Como dissemos atrás, o inquérito por questionário distingue-se do inquérito por entrevista
essencialmente pelo facto de investigador e inquiridos nã o interagirem em situação
presencialM.
3.1. A intera ção indireta, questã o chave do inquérito por questioná rio
Deste modo, assim como a intera ção direta é um dos principais problemas com que
o investigador se debate quando faz uma entrevista, a intera ção indireta constitui o
problema -chave que acompanha a elabora ção e administração de um inquérito por
questionário. Duas questões devem ser examinadas a este respeito: o cuidado a ser posto
na formula ção das perguntas e a forma mediatizada de contactar com os inquiridos.
38
Tal como no inquérito por entrevista quando se escolhe o inquérito por questionário como
instrumento de recolha de dados deve respeitar- se o conjunto de procedimentos habitual
para qualquer investigação: definir rigorosamente os seus objetivos; formular hipóteses e
questõ es orientadoras, identificar as variá veis relevantes, selecionar a amostra adequada de
inquiridos, elaborar o instrumento em si, testá -lo e administrá-lo para depois poder analisar os
resultados.
• perguntas de informação, que têm por objetivo colher dados sobre factos e
opiniões do inquirido;
Hoje, com as autoestradas da informação, é possível lançar inquéritos por via telemá tica .
Apesar do fascínio que este canal possui, vale a pena recordar que para muitas situações
não parece ser o canal indicado uma vez que não está acessível a toda a populaçã o a
inquirir, pondo-se fortemente a questão da representatividade das respostas. Como se
sabe os cibernautastêm um perfil específico, não sendo ainda um grupo que cubra a
totalidade dos universos a inquirir. Se o problema se pode colocar em termos de amostras
representativas, o mesmo não acontece no que respeita à s amostras intencionais,
nomeadamente em inquéritos a especialistas: usando as autoestradas da informação,
o investigador pode em muito pouco tempo obter respostas a questões específicas, por
parte de um número significativo de utilizadores das redes telem á ticas de qualquer parte
do mundo.
A questã o da fiabilidade
De um modo geral, a tecnologia do inquérito por questionário é bastante fiável desde que
se respeitem escrupulosamente os procedimentos metodológicos quanto à sua conceção,
seleção dos inquiridos e administração no terreno. No entanto, é convergente a opinião
de que as questões objetivas são mais fiáveis que as questões subjetivas.
Tal como em relação à entrevista (vide supra, ponto 2.4.), a elaboração de um inquérito por
questionário carece de certos cuidados. Seguí damente referir-se-ão alguns procedimentos
habituais em inquéritos por questionário, que poderá estudar mais detalhadamente nas
obras referidas no final do capítulo.
QUANTO À S PERGUNTAS:
- Reduzidas ao Q. B.
- Tanto quanto possívei fechadas
- Compreensíveis para os respondentes
- Não ambíguas
- Evitar indiscrições gratuitas
- Confirmar-se mutuamente
- Abrangerem todos os pontos a questionar
- Relevantes reiativamente à experiência do inquirido
Compreensí veis para os respondentes. Isto significa que a pergunta deve formalizar
uma interrogação cujo significado seja percebido pelo inquirido mesmo que este não
saiba responder- lhe. Quando há essa hipótese, a resposta -tipo correspondente (ex: não
sei ) deve figurar como opção.
Não ambíguas. As respostas padrã o não podem ser amb íguas ou terem leituras
subjetivas. Por exemplo, imaginando que se quer questionar a frequência de idas ao
cinema de uma dada popula ção, deve-se evitar respostas tipo como Vou muitas rezes D
Vou raramente Não vou nunca , uma vez que cada respondente tem a sua medida
pessoal. Neste caso seria mais adequado apresentar um conjunto de respostas-padrão
do tipo No último mês... fui mais de oito vezes ao cinema ; ... fui entre 4 e 8 vezes
ao cinema ; ... fui entre 1 e 3 vezes ao cinema não fui ao cinema .
Evitar indiscrições gratuitas. Nota -se por vezes, sobretudo em investigadores com
pouca experiência, uma curiosidade mórbida em querer saber coisas sobre a população
inquirida, traduzida num excesso de perguntas melindrosas ou indiscretas. Para além de
se tratar de um procedimento deontologicamente reprov á vel, funciona como dissuasor
de resposta.
Escalas de atitudes. Por vezes as questões podem ser colocadas sob a forma de uma
escala de atitudes, permitindo ao investigador medir atitudes e opiniões do inquirido.
Pede-se a um indiví duo para reagir positiva ou negativamente em relação a uma série de
proposições que dizem respeito a ele próprio, a outros indivíduos, a atividades diversas, a
instituições ou a situações. Deste modo características qualitativas podem posterior mente
ser trabalhadas de forma quantitativa.
Existe uma grande variedade de escalas que poderão ser aprendidas na bibliografia de
especialidade. A título de exemplo, apenas se referem duas muito usadas.
• Escalas de Likert: consistem na apresentação de uma série de proposições,
devendo o inquirido, em rela ção a cada uma delas, indicar uma de cinco posições:
concorda totalmente, concorda, sem opinião, discorda, discorda totalmente.
As respostas são seguidamente cotadas, respetivamente com as cotações de
+2, +1, 0, -1 e -2, ou com pontuações de 1 a 5. No entanto, se a proposição
é negativa, a cotação tem de ser invertida. Por exemplo concordar com a
afirmação "não gosto de matemática porque a matéria não tem relação com
a realidade", significa uma atitude negativa relativamente à Matemática. Nesse
caso a resposta concorda totaimente recebe uma cotação de -2, concorda será
-1 e assim sucessivamente.
Exempto de preenchimento : por favor Coloque uma crur, ( apenas uma ) no quadrado que melhor se adequar è sua resposta, na coluna da direita e outra cru; na coluna da
esquerda
O que acontece O que deveria acontecer
Nunca Quase Algumas Quase Sempre Nunca Quase Algumas Quase Sempre
nunca Vezes sempre nunca Vezes sempre
Ando fardado de acordo com as regras do fardamento
X 22 X
em vigor
Interessante Aborrecida
Útil Inútil
É dada uma cotação a cada par de adjetivos (ex: de 6, no caso de assinalar o intervalo
mais próximo de do adjetivo positivo, a 0, no caso oposto). Faz-se o somatório das
cotações para ter uma apreciação quantitativa relativa à atitude do inquirido face ao
tópico considerado.
Apresentação do questionário
A apresentação formal e física do questionário é muito mais importante do que se
possa imaginar. Com efeito, como as empresas comerciais que vendem pelo correio já
descobriram há muito, a apresenta ção funciona como elemento legitimador (ou não),
tendo uma quota parte de responsabilidade no êxito ou inê xito de um inquérito por
questionário. Vejamos alguns elementos práticos a não esquecer.
A apresentação do tema, por sua vez, deve ser feita de forma clara e simples, mostrando
o valor acrescentado que o inquirido pode trazer à investigação com as respostas que
forneça.
As instruções devem ser precisas, ciaras e curtas: quando são ambíguas ou demasiado
complicadas tornam-se contraproducentes, como nos diz a nossa experiência de cidadão
quando temos, por exemplo, de preencher certos impressos que constituem autênticas
charadas.
Sempre que enviado pelo correio, o questionário deve ser acompanhado de um envelope
selado ou com resposta paga . A qualidade e a cor do papel devem ser adequadas
ao público-alvo. A qualidade do papel deve ser suficientemente boa, para que as perguntas
possam ser impressas no verso e reverso da folha.
A sua disposiçã o grá fica deve ser tã o clara quanto possível e adequada ao público-alvo.
Por exemplo não é conveniente usar quadros de duas entradas num formulário para ser
preenchido por uma popula ção que não está familiarizada com esse tipo de suporte de
informa ção. A mancha grá fica deve ser aberta e visualmente atrativa.
O formulário deve ser alvo de uma rigorosa revisão grá fica evitando gralhas ortográficas
e erros sintáticos que naturalmente fazem baixar a credibilidade do inquérito aos olhos
do respondente.
O número de folhas deve ser reduzido ao mínimo, para evitar reações prévias negativas
por parte do inquirido. É conveniente informá - lo do tempo médio previsto para a
resposta,
Atividade 5.3
Faça o planeamento da recolha de dados para cada uma das situações de
inquirição que identificou na atividade 5.1, considerando os seguintes fatores:
• formulação e estruturação das perguntas
• diversidade dos canais de comunicação possíveis
• prevenção das não respostas
• apresentação do questionário
O decorrer ( durante)
Quando uma primeira versão do questionário fica redigida, é necessário garantir a sua
aplicabilidade no terreno e avaliar se está de acordo com os objetivos inicialmente
formulados pelo investigador. A primeira versão tem, assim, que ser testada para se
verificar, entre outros aspetos,
• se todas as questões são compreendidas pelos inquiridos da mesma forma, e da
forma prevista pelo investigador;
Esse procedimento, designado por pré- teste, poderá também permitir averiguar as
condições em que o questionário deverá ser aplicado, a sua qualidade gráfica e a adequação
da carta e das instruções que o acompanham.
Após este procedimento o inquérito deverá ser enviado por um dos vários canais atrás
referidos sendo conveniente (quando possível) o investigador ter a precaução de controlar
se chegou aos seus destinatários.
Seguidamente, está em condições de proceder ao tratamento e análise dos dados quer por
via manual quer informática. Sempre que possível, é vantajoso usar meios informáticos pela
rapidez e potência de cálculo que o trabalho computacional permite. Existe atualmente no
mercado software bastante poderoso para este tipo de trabalho— , valendo a pena gastar
algum tempo a aprender a manejá-lo, ou, pelo menos a conhecer as suas potencialidades
para saber encomendar os elementos que se necessita a operadores qualificados.
99
Quando o questionário é lançado já deve ter havido um trabalho de pré-codificação de todas
as respostas fechadas e um esboço de codificação das perguntas abertas. No entanto, só
após a recolha de dados, é possível a codificação final das perguntas abertas e a afinação de
alguns códigos das perguntas fechadas, estas últimas em virtude da ausência de certo tipo
de respostas.
100
Por exemplo o SPSS para tratamento estatístico e o NUDIST para aná lise de conteúdo.
Em jeito de síntese pode dizer-se que qualquer destes dois instrumentos de recolha de
dados apresenta virtualidades e limitações, que procuramos sumariar na figura 5.8:
Teste formativo
Leituras complementares
CLEGG, Frances (1995), Estatística para Todos, Lisboa, Gradiva, pp. 159-172.
MERTON, Robert King; KENDALL, Patrícia L. ( 1946), The focused interview, "The
American Journal of Sociology, vol. 51, n 6, May, pp. 541-557,
°
MERTON,Robert King,(1987),Thefocused interviewand focusgroups: continuities
and discontinuities, "The Public Opinion Quartely, vol. 51, n 4, Winter, pp. 550-
°
566.
Objetivos da unidade
16. identificar e discutir diversos procedimentos para introduzir maior rigor e clareza
num relatório.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo de um relatório, seja ele qual for, é pôr em comum uma determinada ação
do autor e partilhar um conjunto de informações por ele consideradas relevantes. Isto
implica, antes de mais, que a preocupa ção dominante de quem tem a incumbência de
produzir um qualquer relatório deve ser a de ter uma estratégia de comunica ção
adequada ao público a quem esse documento se destina.
Antes de mais, é preciso ter consciência da informa ção que se quer obter e como se que
difundi- la. Também na elaboração de um relatório se aplica o princípio da economia de
101
Exemplos típicos de relatórios deste tipo são as dissertações de mestrado e de
doutoramento.
informação que temos vindo a defender nas anteriores unidades. Isto significa que nunca
se deve transmitir tudo o que se fez e como se fez ao longo do complexo percurso
da pesquisa, uma vez que esse procedimento iria produzir nevoeiro informacional nos
recetores, para além de lhes fazer gastar tempo inutilmente. Há, por isso, que saber
selecionar a informação pertinente (e não mais que essa) a difundir no relatório.
Os conteúdos da investiga ção e o modo como são explicitados sob a forma de relatório
devem ser, por outro lado, coerentes com a motivaçã o que presidiu à conceçã o do
projeto:
• saber mais (ex: comprovar uma teoria);
• saber fazer melhor ( ex: conceber e administrar uma política de urbanização,
de saúde, de educação ou de segurança social, etc.);
comunidade científica, corporizado na mais valia introduzida com o seu trabalho. O relatório
deve concretizar, por isso, uma estratégia comunicacional adequada aos grupos- alvo a
que se destina (figura 6.1).
Deste modo o discurso deve ter uma terminologia codificada de acordo com a organização-
- cliente sendo a sua estrutura normalmente mais simplificada que a usada para
comunidades académicas.
102
Um exemplo que poderá clarificar o que se afirma : contrariamente ao soldado ocidental que
quando em situação militar de derrota eminente apresentava uma baixa motivação para
combater, o militar japonês parecia ganhar combatividade, o que evidentemente tinha efeitos
práticos graves em termos de baixas nos aliados.
Condicionamentos temporais
Também os condicionamentos de natureza temporal devem não só ser explicitados
no relatório, como proporcionada ao leitor, por parte do investigador, a justificação do
ocorrido.
No ato de relatar, esta limitação deve ser explicitada claramente, não como legitimação dos
resultados que não se alcançaram mas como indicador de custo (tempo) / qualidade
(resultados obtidos) da pesquisa .
Em suma, a reflexão prévia proposta nos pontos anteriores destina -se a ter presente
o enquadramento material, pessoal, espaço-temporal e metodológico que enformou a
pesquisa.
Atividade 6.1
De acordo com os pontos anteriores fa ça um exercício de simulação tomando
como referência a dissertação que vai realizar. Tente responder com objetividade
às quatro questões acima discutidas e que colocará a si prório(a):
• o que é que quero transmitir?
• a quem se destina o resultado da pesquisa?
• que constrangimentos espaciais, institucionais e temporais antevejo?
• que escolhas metodológicas irei fazer?
• Seguidamente registe por escrito as suas respostas que, por certo,
constituirã o uma boa base no diálogo que irá estabelecer com o seu orientador
científico.
© Universidade Aberta 144
I. Visão Panorâ mica
3. ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO
- apresentação do problema
- processos de pesquisa
- resultados alcanç ados
- consequências dos resultados
Por outro lado, aos investigadores que, no futuro, poderão vir a debruç ar-se sobre a
mesma problemática, a clareza e o rigor dos procedimentos metodológicos adotados e
as eventuais sugestões para a realização de outras pesquisas que, por vezes, integram
também a sec ção metodológica de um relatório, constituem preciosos instrumentos para
meditação sobre as suas próprias escolhas e padrões de atuação.
Resultados alcançados
É extremamente importante o investigador estar ciente de que os resultados alcançados
pela investigação (positivos e negativos), constituem a parte substantiva de qualquer
relatório. Acontece com alguma frequência, sobretudo em trabalhos produzidos por
investigadores inexperientes, registar-se um desequilíbrio considerável entre uma volumosa
compilação de dados produzidos por outrem, correspondente ao enquadramento teórico
e empírico, e uma exígua apresentação dos resultados alcanç ados pela investigação em
presença.
O princípio do rigor assenta no valor, defendido por qualquer ramo da Ciência, da busca
da Verdade. Sem um pensamento estruturado com rigor, concretizado na sua partilha
oral ou escrita com a comunidade científica, não é possível contribuir para o verdadeiro
desenvolvimento das ciências. O rigor do discurso científico concretiza -se, num relatório,
em conceitos bem definidos, numa distinção clara entre juízos de valor e juízos de facto,
na separa ção inteligível entre descrição e interpretação da realidade estudada, etc .
1.1.
1.2 .
1.2.1.
1.2.1.1.
1.2.1Ã
*“
1.2. 2.
1.3 .
2.
2.1., etc.
103
Recorde-se que organizar é articular recursos de forma adequada . Neste caso, as
informações disponíveis que integram aquela que o investigador já possui e a que vai
recolhendo e produzindo, constituem os seus recursos principais que devem ser articulados
sob pena de desperdício de tempo e perda de energia.
104
Apenas para ilustrar este processo de metamorfose, pode referir-se que o autor do presente
texto reelaborou a estrutura da sua dissertação de doutoramento nove vezes e que esta ideia
f utuanteWw. permitiu ir tendo, em cada momento, uma ideia melhor estruturada
de esquema í
da informação que dispunha sobre o seu objeto de estudo e do caminho que ainda lhe faltava
percorrer.
105
Atenção: só tem sentido criar um nível inferior de estruturação quando se pretende subdividir
a unidade temática de nível superior em pelo menos duas subunidades. N ão teria sentido, por
exemplo, integrar no ponto 1.2.1. apenas um ponto 1.2.1.1. se não houver pelo menos um
ponto 1.2.1.2.
Ia Parte
Capítulo 1
Capítulo 2
1 .
1.1.
1.2.
2.
Capítulo 3
2 a Parte
Capítulo 3, etc.
O corpo do texto
Uma vez possuidor desse instrumento poderoso que é o esquema, o investigador pode
escolher um de dois caminhos: ou escreve o relatório final apenas ao terminar todo
o processo de investigação ou vai progressiva mente escrevendo sucessivas versões
provisórias paralelamente ao processo de pesquisa.
Sendo uma opção respeitá vel, tem o inconveniente de gastar muito tempo inutilmente
com operações redundantes de registo de informação. Em muitos contextos de pesquisa
este procedimento pode hoje ser substituído com vantagem pela segunda opção que, no
entanto, pressupõe a estruturação prévia cuidadosa atrás referida. A vulgarização dos
computadores pessoais veio facilitar extraordinariamente esta opção tanto no que respeita
ao processamento de texto, como à organização e tratamento de dados.
Em vez do processo clássico de redação, que poderá ser descrito como o enchimento de
um recipiente, a segunda opção assemelha-se à construção de um puzzle, inserindo
previamente a estrutura do relatório e escrevendo texto provisório em várias partes do
esquema. Nesta fase, o investigador pode não ter grandes preocupações formais com
o texto que vai produzindo, uma vez que na revisão final irá ter esses cuidados. É, no
entanto, vantajoso que se rotine essa prática, desde o início, assumindo um estilo que
facilite tal operaçã o. Vejamos algumas sugestões que se têm revelado úteis.
Dimensão dos pará grafos e períodos. Deve ser suficientemente pequena para permitir
uma fácil leitura.
Pés de página . O pé de página ou nota de rodapé pode ser usado com êxito para
comentários a propósito e referências ao pensamento de outros autores que, no entanto,
iriam tornar o discurso excessivamente pesado ou que desviariam o leitor do essencial se
fossem postos no corpo do texto. Convém, no entanto não abusar das notas de rodapé,
o que lhes retiraria a função referida e as transformaria em afirma ções presunçosas de
erudição, retirando eficácia comunicacional ao texto.
Anexos. Como atrás foi referido, deve ser incluída em anexo a informação que, não fazendo
parte integrante do texto, lhe serve, apesar de tudo, como complemento indispensá vel.
Do nosso ponto de vista, um relatório de pesquisa nã o deve ser sobrecarregado com
informa ção excessiva, incluindo apenas aquela que se apresenta com utilidade imediata
para o leitor e a que, dada a sua raridade ou originalidade, enriquece o texto principal.
Poder-se-á incluir em anexo, por exemplo, gráficos e cá lculos numéricos, questionários,
registos de entrevista, etc.
índices. Para além do índice Geral, é conveniente que os relatórios que contenham
quadros e ilustrações de v ária ordem, apresentem os índices correspondentes. Em
Título. Muitas vezes descurado o título constitui, quando bem escolhido, um excelente
cartão de visita para uma pesquisa, tendo um efeito de atração ou de repulsão sobre
os potenciais leitores. Deve por isso corresponder ao conteúdo da obra, ou através de
uma simples descrição eventualmente com um subtítulo clarificador (Ex: Metodologia da
Investigação: Guia para Autoaprendizagem) ou recorrendo à metáfora (Ex: OCrisântemo
e a Espada).
Atividade 6.2
De acordo com os pontos anteriores e tendo em consideração a dissertação que
vai realizar elabore uma primeira estruturação do seu relatório de pesquisa .
Seguidamente, submeta-a à crítica de colegas (podendo desempenhar papel
idêntico em relaçã o ao trabalho que eles irão desenvolver). A versão corrigida
da sua estrutura de dissertaçã o poderá constituir uma peça útil a integrar no
projeto de pesquisa, que deve entregar no final do Seminário.
S í ntese
Nesta unidade foi procurado, em primeiro lugar, chamar a atenção do leitor para a
importância do relatório de pesquisa como instrumento fundamental de comunica ção
entre o investigador e a comunidade científica . Seguidamente identificou-se e discutiu-
-se um conjunto de questões prévias ao ato de relatar e que condicionam a estratégia
comunicacional do relat ório. Por fim, apresentaram - se diversos procedimentos
recomendá veis na feitura de um relatório tanto no que respeita ao seu conteúdo como
à forma que o mesmo deve assumir.
Teste formativo
Leituras complementares
AZEVEDO, Carlos A. e G., Ana (1994), Metodologia Científica . Contributos Prá ticos
Para a Elaboração de Trabalhos Acad émicos, Porto, C. Azevedo.
CEIA, Carlos (1995), Normas Para Apresenta ção de Trabalhos Cientí ficos, Lisboa,
Presença.
SELLTIZ, JAHODA, DEUTCH e COOK (1967) M étodos de Pesquisa nas Rela ções
sociais, S. Paulo, Herder (USP), pp. 457-511.
Sumário
Objetivos da unidade
1. INTRODUÇÃ O
Atividade 7.1
4. OS M ÉTODOS QUALITATIVOS
Atividade 7.2
4.2. Tradições teóricas em investigação qualitativa
Atividade 7.3
5. POSSIBILIDADE DE UTILIZAR UMA COMBINA ÇÃ O DE M É TODOS
QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS
Atividade 7.4
Síntese
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
13. Indicar os problemas que se põem à utilização conjunta dos métodos quantitativos
e qualitativos em investigação em Ciências Sociais;
1. INTRODUÇÃO
Madeleine Grawitz (1993) menciona a extrema desordem que existe neste domínio
e refere várias definições de métodos. A autora define métodos como um conjunto
concertado de opera ções que são realizadas para atingir um ou mais objetivos, um corpo
de princípios que presidem a toda a investigação organizada, um conjunto de normas
que permitem selecionar e coordenar as técnicas. Os métodos constituem de maneira
mais ou menos abstrata ou concreta, precisa ou vaga, um plano de trabalho em função
de uma determinada finalidade.
A autora refere ainda que dessa interdependência nasce muitas vezes uma confusão
entre os termos método e técnica que convém distinguir. A técnica representa a etapa de
operações limitadas, ligadas a elementos práticos, concretos, definidos, adaptados a uma
determinada finalidade, enquanto o método é uma conceção intelectual coordenando um
conjunto de opera ções, em geral várias técnicas.1
1
.
M Grawitz ( 1993) refere que a maior parte dos autores fazem a distinção entre m étodo e
.
m étodos, { pp 301-302) .
a) O método no sentido filosófico - No sentido mais elevado e mais geral do termo, o
método (no singular) é constituído pelo conjunto das operações intelectuais através das
.
quais uma disciplina procura atingir as verdades, as demonstra e as verifica Esta conceção
do método no sentido geral de procedimento lógico, inerente a toda atividade científica,
permite considerá-lo como um conjunto de regras independentes de qualquer investigação
-
e conteúdo particulares, tornando acessível a realidade que se quer compreender. Trata se
.
de pontos de vista filosóficos que definem a posição do espírito humano perante o objeto
b) O método, atitude concreta em relaçã o ao objeto - Neste caso a posição filosófica está
mais ou menos subentendida. Neste caso, o método dita sobretudo maneiras concretas de
encarar ou de organizar a investigação, mas de forma mais ou menos imperativa, mais ou
menos precisa, completa e sistematizada. No entanto, nem todos os m étodos influenciam
da mesma maneira, as mesmas etapas da investigação. A autora refere que o método
experimental é imperativo tanto na etapa de observação, como na de recolha dos dados,
enquanto outros métodos não o são, como o método clínico que visa um diagnóstico e uma
terapêutica, interessa-se pelos resultados, mas corresponde sobretudo a uma atitude mental
e a nenhuma manipulação em particular.
c) O método ligado a uma tentativa de explica ção - Liga-se mais ou menos a uma posição
filosófica e pode influenciar uma etapa da investigação.
-
d) O método ligado a um dom ínio particular - o termo método justifica se quando ligado
a um domínio específico e inclui uma maneira de proceder que lhe é própria. Exemplos: o
método histórico, o método psicanalítico.
Neste capítulo são indicadas as principais características dos dois paradigmas, assim como
alguns dos problemas resultantes da associação de métodos quantitativos e de métodos
qualitativos no desenvolvimento da investigação em Ciências Sociais.
Reichardt e Cook (1986) afirmam que um investigador para melhor resolver um problema
de pesquisa não tem que aderir rigidamente a um dos dois paradigmas, podendo mesmo
escolher uma combinação de atributos pertencentes a cada um deles. O investigador
também nã o é obrigado a optar pelo emprego exclusivo de métodos quantitativos ou
qualitativos e no caso de a investigação assim o exigir, poderá mesmo combinar o emprego
dos dois tipos de métodos.
Em resumo, afirmam os citados autores que o paradigma quantitativo postula uma conceção
global positivista, hipotético-dedutiva, particularista, orientada para os resultados, própria
das Ciências Naturais, enquanto o paradigma qualitativo postula uma conceção global
fenomenológica, indutiva, estruturalista, subjetiva e orientada para o processo, própria
da Antropologia Social.
Como anteriormente foi referido, cada tipo de método está portanto ligado a uma
perspetiva paradigmática pr ópria. Seguidamente apresentar-se - ã o as principais
características dos métodos quantitativos e dos métodos qualitativos, cuja distinçã o é
feita, fundamentalmente, no que diz respeito ao processo de recolha de dados e ao modo
como estes são registados e analisados.
das hipóteses mediante uma recolha rigorosa de dados, posteriormente sujeitos a uma
análise estatística e uma utilização de modelos matemáticos para testar essas mesmas
hipóteses. O objetivo é a generalização dos resultados a uma determinada popula ção
em estudo a partir da amostra, o estabelecimento de relações causa-efeito e a previsão
de fenómenos.
Uma das principais limita ções da utilização dos métodos quantitativos em Ciências
Sociais está ligada à própria natureza dos fenómenos estudados: complexidade dos seres
humanos; estímulo que dá origem a diferentes respostas de acordo com os sujeitos; grande
número de variá veis cujo controlo é difícil ou mesmo impossível; subjetividade por parte
do investigador; medição que é muitas vezes indireta, como é por exemplo o caso das
atitudes; problema da validade e fiabilidade dos instrumentos de medição2.
2
Validade de um instrumento diz respeito à sua adequação para medir o "objeto” em estudo;
fiabilidade de um instrumento representa a sua capacidade para que diferentes investigadores
obtenham resultados iguais.
Atividade 7.1
Dos artigos que lhe foram dados durante a parte curricular de Mestrado e que
relatam trabalhos de investigação em Ciências Sociais escolha um em que foram
usados unicamente métodos quantitativos. Fa ça um resumo da metodologia
utilizada nesse trabalho de investiga ção.
4. OS MÉTODOS QUALITATIVOS
Sem pretensão de uma enunciação exaustiva das características dos métodos qualitativos,
entendemos ser, no entanto, importante para a sua compreensã o indicar algumas
delas:3
3
Vide por exemplo Bogdan e Bikien (1984 ); Patton ( 1990).
Atividade 7.2
Dos artigos que lhe foram indicados durante a parte curricular de Mestrado,
que relatam trabalhos de investigação em Ciências Sociais, escolha um em que
tenham sido usados unicamente métodos qualitativos. Faç a uma análise resumida
da metodologia utilizada nesse trabalho de investigação.
8 - Teoria do caos: Física teórica, Ciências Qual é a ordem subjacente (no caso
dinâmica nã o linear Naturais de existir alguma ) aos fen ó menos
desordenados?
9 - Hermenêutica Teologia, Filosofia, Crítica Quais são as condições em que se realizou
Liter ária uma atividade humana ou um produto
foi elaborado de tal forma que se possa
interpretar o seu significado?
Atividade 7.3
Faç a leituras para aprofundar os conhecimentos sobre a perspetiva que maior
interesse lhe desperta e que esteja mais de acordo com a sua forma çã o
disciplinar.
Patton (1990) afirma que uma forma de tornar um plano de investigação mais "sólido" é
através da triangulaçã o, isto é, da combinação de metodologias no estudo dos mesmos
fenómenos ou programas. Tal significa, de acordo com o mesmo autor, utilizar diferentes
métodos ou dados, incluindo a combinação de abordagens quantitativas e qualitativas.
O autor cita Denzin (1978) que identificou quatro grandes tipos de triangulação:
1. triangulaçã o de dados - o uso de uma variedade de fontes num mesmo
estudo;
A lógica da triangulação é que cada método revela diferentes aspetos da realidade empírica
e consequentemente devem utilizar-se diferentes métodos de observação da realidade.
Atividade 7.4
1. Dos artigos que lhe foram dados durante a parte curricular do Mestrado, que
relatam trabalhos de investigação em Ciências Sociais, escolha um em que
tenham sido usados métodos quantitativos e métodos qualitativos. Exponha
resumidamente a metodologia utilizada nesse trabalho de investigaçã o.
2. Indique quais as vantagens que resultaram para esse trabalho de investiga ção
a utilização dos dois métodos.
3. Indique, igualmente, se a utiliza çã o dos dois tipos de métodos levantou
quaisquer problemas ao investigador.
S í ntese
Teste formativo
2. Tendo em conta esses objetivos desenvolva o seguinte tema "A utilização dos métodos
quantitativos e qualitativos em investigação em Ciências Sociais; características dos dois
métodos, vantagens e desvantagens de cada um deles, possibilidades de combinação
de ambos." Não ultrapasse as 30 linhas.
Leituras complementares
BRANEN, Julia
1992 Combining qualitative and quantitative approaches: an overview in Branen,
Julia "Mixing Methods: Qualitative and Quantitative Research", Aldershot,
Avebury, pp. 3-37.
CRESWELL, John W.
2009 Research Design: qualitative, quantitative and mixed methods approaches
(33 ed.) . Thousand Oaks. CA, Sage.
2014 Projeto de Pesquisa - Métodos Qualitativo, Quantitativo e Misto, Artmed
Editora, Ltda, Porto Alegre, RS, Brasil (Tradução brasileira)
FLICK, Uwe
2005 Métodos Qualitativos na Investigação Científica, Lisboa, Monitor.
PATTON, Michael Q.
1990 Qualitative Evaluation and Reseach Methods, Newbury Park, Cal. Sage
Publications, pp. 67 - 89 e 187-189.
SALKIND, N . J.
2012 100 questions (and answers) about research methods, Los Angeles, CA, USA,
Sage Publications.
Sumário
Objetivos da unidade
1. INTRODUÇÃ O
2. AMOSTRAGENS PROBABILÍSTICAS
Atividade 8.1
3. AMOSTRAGENS N ÃO PROBABILÍ STICAS
Teste formativo
Leituras complementares
Objetivos da unidade
1. INTRODU ÇÃO
Patton (1990) afirma que provavelmente nada põe tão bem em evidê ncia a diferença
entre m étodos quantitativos e m étodos qualitativos como as diferentes lógicas que estã o
subjacentes às técnicas de amostragem . A investiga çã o quantitativa tem como base
amostras de maiores dimensões selecionadas aleatoriamente, enquanto a investiga çã o
Seja qual for a técnica utilizada, ao realizar uma amostragem devem ser dados os passos
seguintes:
• Definição da população;
• Determinaçã o da dimensão ou grandeza da amostra necessária;
• Seleção da amostra.
As amostragens probabilí sticas implicam que a seleçã o dos elementos que vão
fazer parte da amostra seja feita aleatoriamente. Procede-se à seleçã o de amostras
probabilísticas com o objetivo de poder generalizar à totalidade da população os resultados
obtidos com o estudo dos elementos constituintes da amostra, devendo assim ser estes
representativos dessa popula ção.
Na amostragem aleatória simples cada elemento de uma dada população tem uma
igual probabilidade de ser selecionado. Todos os elementos da população fazem parte de
uma lista que, em cada caso considerado, inclui a sua totalidade e o número de elementos
que constituem a amostra são selecionados aleatoriamente a partir dela.
4
Neste Manual inclui-se em anexo uma tabela de números aleatórios.
71628
40501
22005
11731
10811
00408
5. Como o total da população é de 530 estudantes, interessam apenas os 3 últimos
dígitos;
6. O primeiro estudante a ser selecionado é aquele a quem foi atribuído o número 116
( 3 últimos dígitos do número 99116);
Amostra (20%)
194 Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais
C. Sociotogí a C * Economia C. Antropologia Total
Sexo Fem. 34 44 28 106
Sexo Masc . 30 32 26 88
Total 64 76 54 194
Utiliza -se esta técnica de amostragem quando os "cachos" estão geograficamente dispersos
tal como o caso de escolas dispersas pelo País, prédios de residência inseridos em diversos
locais de uma cidade, etc. Tome-se, como exemplo, a situação seguinte:
A resposta à pergunta qual deverá ser a dimensão da amostra é difícil. Se ela for de muito
pequena dimensã o, os resultados do estudo podem não ser generalizá veis à população
considerada. Os resultados podem apenas ser válidos para a amostra e poder-se-iam
obter diferentes resultados se fosse estudada a totalidade dos elementos dessa mesma
popula ção.
Usualmente considera-se que quanto maior for a amostra mais possibilidades tem de
ser representativa da população. A dimensão aceitá vel da amostra varia com o tipo
de investigação. Para um estudo descritivo, uma amostra que integre 10% do total da
popula ção considerada é julgado como a dimensã o mínima a obter. Se a população
é pequena, pode ser necessário uma amostra de 20%. Para um estudo correlacionai
são necessários pelo menos 30 sujeitos para estabelecer se existe ou não uma relação
entre duas variáveis. Para estudos experimentais e causal-comparativos é geralmente
recomendado um número mínimo de 30 sujeitos por grupo. Por vezes é necessário
utilizar amostras maiores, por exemplo em estudos experimentais, quando se espera que
a diferença entre o grupo experimental e o grupo de controlo seja pequena, pois se a
No entanto, para determinar a dimensão da amostra deve ter-se em considera ção, entre
outros, o problema do custo que acarreta a sua constituição, o erro considerado tolerá vel,
o plano de investigação no seu conjunto.
Atividade 8.1
Numa revista onde estejam publicados artigos de investigação, escolha um
que relate uma pesquisa onde tenha sido utilizada uma técnica de amostragem
probabilística. Identifique-a e faça um resumo dos procedimentos utilizados pelo
autor.
Enumera -se, a título ilustrativo, sete das técnicas de amostragem não probabilística mais
frequentemente utilizadas:
Tome-se como exemplo: querer selecionar estudantes de Sociologia que obtêm boas
classificações ou querer selecionar simultaneamente estudantes que obtêm boas
classificações e estudantes que obtêm más classificações.
Identificar as "crianç as da rua". Umas crianças vão indicando outras até se chegar
a um número previamente definido e considerado como desejável.
Com esta técnica pretende -se atingir um objetivo idêntico ao que se consegue na
amostragem aleatória: constituir uma amostra que seja um modelo reduzido da população.
Começa-se por se estabelecer um inventário das proporções estatísticas correspondentes
à combinação de diferentes modalidades dos carateres retidos. Deste modo a população
é dividida em subgrupos, por exemplo grupos de homens e de mulheres, definição de
escalões de idade, enumeraçã o de grupos étnicos de pertença, etc. Seguidamente, tendo
como base as percentagens de indivíduos necessários para a amostra final, é indicada aos
entrevistadores uma quota ou seja, o número de sujeitos pertencentes a cada subgrupo
que têm que selecionar e entrevistar.
Exemplo: Se numa localidade tivermos 20000 ativos, dos quais 2000 pertencem ao sector
primário ( sendo 600 mulheres e 1400 homens), 8000 ao sector secundário (sendo 3000
mulheres e 5000 homens) e 10000 ao sector terciário (sendo 6000 mulheres e 4000
homens), uma amostra de 1000 sujeitos deverá incluir:
600 x 1000 / 20000 = 30 Mulheres pertencentes ao sector primário,
1400 x 1000 / 20000 = 70 Homens pertencentes ao sector primário,
3000 x 1000 / 20000 = 150 Mulheres pertencentes ao sector secundário,
5000 x 1000 / 20000 = 250 Homens pertencentes ao sector secundário,
6000 x 1000 / 20000 = 300 Mulheres pertencentes ao sector terciário,
4000 x 1000 / 20000 = 200 Homens pertencentes ao sector terciário.
30 + 70 + 150 + 250 + 300 + 200 = 1000
Por outro lado, o problema da não resposta não existe, porque quando um sujeito se recusa
a responder ou o entrevistador não encontra ninguém em casa procura outro sujeito com
as mesmas características para ser entrevistado. O entrevistador obtém sempre o número
de sujeitos inicialmente previstos, mas o número de sujeitos difíceis de contactar pode
A amostragem por quotas não é tão dispendiosa como a amostragem aleatória estratificada,
mas apresenta grandes inconvenientes relativamente a esta, nomeadamente no que
diz respeito à representatividade da amostra e, consequentemente, à possibilidade de
generalização dos resultados.
É necessário não esquecer que devido ao cará cter subjetivo que envolve o processo de
seleção, põe-se o problema da validade externa (relativo à generalizaçã o dos resultados
obtidos). Não é possível saber-se se os resultados alcançados seriam os mesmos no caso
de os elementos da população selecionados serem outros.
Atividade 8.2
Numa revista onde estejam publicados artigos de investigaçã o, escolha um que
relate uma pesquisa onde tenha sido utilizada uma técnica de amostragem não
probabilística . Identifique-a, critique-a e faça um resumo dos procedimentos
utilizados pelo investigador.
Síntese
Teste formativo
Num concelho onde existem duas escolas do 3 o ciclo do ensino bá sico verificou-se que
há problemas de racismo. Na escola A existem 1600 alunos distribuídos nas seguintes
proporções: lusos ( 70%), cabo-verdianos (20%), angolanos (5%) e guineenses (5%)
e na escola B 900 alunos distribuídos nas seguintes proporções: lusos (60%), cabo-
verdianos ( 25%), angolanos (10%) e moçambicanos (5%). O investigador pretende
primeiramente administrar um questionário a 20% dos alunos para averiguar a situação,
quais os problemas existentes nas escolas e tentar compreender as causas que os motivam.
Seguidamente tem a intenção de observar duas turmas onde os confrontos raciais são
mais graves.
1. Indique que técnica de amostragem probabilística utilizaria para selecionar os alunos
que irão constituir a amostra a quem vai ser administrado o questionário. Justifique
a resposta.
2. Indique que técnica de amostragem não probabilística utilizaria para selecionar as
turmas que irão ser observadas como amostra. Justifique a resposta.
Leituras complementares
HENRY, Gary T.
1990 Practical Sampling, Newbury Park, Sage Publications.
REIS, Elizabeth
2008 Estatística Descritiva, 7a ed., Lisboa, Edições Sílabo.
SILVA, Cecília M.
1994 Estatística Aplicada à Psicologia e Ciências Sociais, Lisboa, McGraw-Hill, pp.
1-21. (Aconselhado a mestrandos que tenham conhecimentos matemáticos, ao
nível do 12 ano de escolaridade).
°
Sumário
Objetivos da unidade
2. INVESTIGA ÇÃ O HISTÓRICA
3. INVESTIGA ÇÃ O DESCRITIVA
3.1. Inquéritos
3.2. Estudos relativos ao desenvolvimento
3.3. Estudos complementares
3.4. Estudos sociométricos
4. ESTUDO DE CASO
6. INVESTIGA ÇÃ O CORRELACIONAL
7 . INVESTIGA ÇÃ O EXPERIMENTAL
8. INVESTIGA ÇÃ O CAUSAL-COMPARATIVA
Atividade 9.1
Síntese
Teste Formativo
Leituras Complementares
Objetivos da unidade
1. CLASSIFICAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
2. INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA
As fontes secundárias não sã o fontes originais, mas sim relatos escritos por alguém
que não presenciou um acontecimento, mas a quem foi relatado esse acontecimento,
muitas vezes não por quem o presenciou, mas por alguém a quem já tinha sido por sua
vez relatado, o que frequentemente dá origem a distorções do que realmente se passou.
Inclui também citações, manuais, enciclopédias e reproduções de materiais, informações,
pinturas e réplicas de objetos de arte. Obviamente que sempre que for possível, será
preferível utilizar fontes primárias, mas não se deverá minimizar, de modo nenhum, o
papel que as fontes secundárias podem desempenhar.
Aná lise dos dados - Todas as fontes históricas deverão ser sujeitas a uma cr í tica
externa para determinar a sua autenticidade e a uma crí tica interna para determinar o
rigor do conteúdo. A idade de um documento pode atualmente ser estabelecida utilizando
testes físicos e químicos, mas para determinar o rigor do documento, há pelo menos
quatro aspetos que deverão ser considerados:
• Conhecimento e competência do autor. Dever-se-á determinar se o autor
do documento tinha a competência necessária ou possibilidades de ter tido
conhecimento do acontecimento que relatou;
intencional da verdade dos fatos feita pelo autor devido a motivações de vária
natureza (pessoais, profissionais, ideológicas, etc.);
* Consistência dos dados. Cada documento deverá ser comparado com outros
para determinar o grau de concordância entre a informação que deles consta.
S í ntese dos dados - Após a aná lise e crítica dos dados recolhidos estes deverão ser
organizados procedendo-se à elaboração de uma síntese e à formulaçã o (se possível)
de conclusões e generaliza ções. Em investigação histórica levanta-se o problema de ser
ou não possível generalizar os resultados da investigação, dado que os acontecimentos
nunca se poderão repetir da mesma maneira; daí a necessidade dessa generalização,
ao ser efetuada, dever revestir grandes cuidados. No entanto, este problema põe-se
também relativamente aos outros domínios de investigação na área das Ciências Sociais.
Porque se trata de seres humanos nunca se pode repetir exatamente o mesmo estudo
nas mesmas condições, ainda que este compreenda um rigoroso controlo de variáveis.
Em investiga ção histórica, como noutras investiga ções, quanto mais similar for uma nova
situação relativamente à anterior, mais aplicáveis poderão ser as generalizações baseadas
no passado.
3. INVESTIGAÇÃO DESCRITIVA
3.1. Inquéritos
Estes estudos são levados a cabo para averiguar qual a situação dos sujeitos de investigação
após um dado período de tempo. Tome-se a título de exemplo a situação seguinte: num
instituto de formação pretendeu-se averiguar qual o efeito de um programa destinado a
promover a integração social de um determinado grupo de sujeitos. Após a conclusão do
programa os sujeitos demonstraram melhor adaptação ao meio em que viviam, mas foi
considerado necessário verificar se, após algum tempo, os efeitos do programa se tinham
ou não mantido. Anteriormente, tinha -se constatado em relação a outros programas
que os seus efeitos benéficos tinham-se atenuado ou mesmo desaparecido após um
período de tempo mais ou menos longo. Procedeu-se então à recolha de dados relativos
à situação dos sujeitos e às opiniões e atitudes dos mesmos em relação ao curso que
tinham frequentado.
Note-se que um programa poderá não ter efeitos imediatos, mas estes poderão vir a
verificar-se mais tarde. De igual modo, a recolha de dados poderá pô-los em evidência.
Sociometria consiste na avalia ção e an á lise das relações interpessoais dentro de um dado
grupo de sujeitos. Através da análise das escolhas ou preferências expressas dos diferentes
membros do grupo pelos outros membros do mesmo grupo, poder-se-á determinar o grau
de aceita ção ou rejeição de um sujeito pelos outros membros do grupo. A cada membro
do grupo será pedido que indique outros membros do grupo com os quais gostaria,
preferencialmente, de executar um trabalho, ou desenvolver uma dada atividade. Por
exemplo, poder-se-á pedir a cada um dos membros do grupo que indique, por ordem
de preferência, três outros membros com quem gostaria de trabalhar num determinado
projeto. Obviamente a escolha dos membros do grupo poderá variar de acordo com a
atividade realizar em conjunto, pois os sujeitos com quem preferencialmente se gostaria
de executar uma tarefa poderão não ser os mesmos com quem se preferiria executar
uma outra tarefa.
As escolhas feitas pelos membros do grupo são representadas num gráfico denominado
sociograma que põe em evidência as escolhas mútuas dos membros do grupo. Na sua
construção poderá, no entanto, utilizar-se diferente simbologia e este poderá apresentar
diversas formas. Um sociograma mostra aqueles que são escolhidos por muitos membros
do grupo, aqueles que ninguém escolhe e pequenos grupos cujos membros se escolhem
mutuamente.
As técnicas sociométricas são utilizadas com fins práticos ou para investigação no caso de se
pretender estudar relações entre membros de um grupo e características comportamentais.
Estes estudos podem dar uma contribuição para o desenvolvimento de teorias que digam
respeito a relações interpessoais dentro de um grupo.
4. ESTUDO DE CASO
Definição - Yin (1988) define um estudo de caso como uma abordagem empírica
que:
• Investiga um fenómeno atual no seu contexto real; quando,
• Os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente
evidentes; e no qual
Yin (1988) põe ainda em evidência que o estudo de caso constitui a estratégia preferida
quando se quer responder a questões de " como" ou "porquê"; o investigador não pode
exercer controlo sobre os acontecimentos e o estudo focaliza-se na investiga ção de um
fenómeno atual no seu próprio contexto. Além destes estudos de caso cujo objetivo é a
explicação de fenómenos, o mesmo autor refere ainda a existência de estudos de caso
exploratórios e descritivos. Em estudo de caso pode ainda estudar-se um caso único ou
casos múltiplos e os dados recolhidos podem ser de natureza qualitativa, quantitativa
ou ambas.
Em estudo de caso utilizam -se diferentes técnicas de recolha de dados tais como: a
observação, a entrevista, a análise documental e o questionário.
Nos estudos de caso, como em quaisquer outros estudos, torna -se necessário assegurar
a validade e fiabilidade do estudo. A validade interna diz respeito à correspondência
entre os resultados e a realidade, isto é, à necessidade de garantir que estes traduzam a
realidade estudada. A fiabilidade diz respeito à replicaçã o do estudo, isto é, à necessidade
de assegurar que os resultados obtidos seriam idênticos aos que se alcançariam caso o
estudo fosse repetido.
Histórias de vida
São um tipo de estudo de caso, em que o investigador mediante entrevistas em
profundidade tenta coligir uma narrativa de um indivíduo. Em Psicologia são utilizadas
para a compreensão de aspetos bá sicos do comportamento humano. Em Sociologia
procura-se reconstituir a carreira dos sujeitos, dando relevo ao papel das organizações,
5. ESTUDO ETNOGRÁFICO
Em v ários domínios das Ciências Sociais tem-se registado um crescente interesse pelos
estudos etnográficos, com a intenção de dar resposta a problemas que os métodos
tradicionais não têm vindo a resolver de forma satisfatória.
Os estudos etnográ ficos pressupõem uma extensa recolha de dados durante um período
de tempo mais ou menos longo, de uma forma naturalística, isto é, sem que o investigador
interfira na situação que está a estudar.
A ideia de cultura é central para os estudos etnográ ficos. Qualquer grupo humano que
viva em conjunto durante um certo período de tempo, desenvolve uma cultura própria,
entendida como um conjunto de padrões de comportamento e crenças que permitem
compreender o modo de agir dos elementos do grupo em questão.
Tendo como ponto de partida um interesse pelo estudo de uma dada organizaçã o ou
grupo, vai recorrer inicialmente à observação, e progressivamente irá definindo com
maior rigor o problema de investiga ção e tomando decisões sobre os elementos da
organização que deverá preferencialmente observar e entrevistar. Após interagir com
estes elementos, poderá tomar outras decisões em relação à continua ção do estudo. O
A unidade de estudo num estudo etnográ fico é uma organiza ção, uma escola (ou uma
turma), um programa. O comportamento e as crenç as dos sujeitos que pertencem a
uma determinada organiza çã o serão melhor compreendidos no contexto da própria
organização.
Este tipo de estudos exige um período de tempo relativamente longo para a recolha de uma
grande variedade de dados, cuja interpretação, frequentemente, se reveste de dificuldades.
O investigador deverá possuir experiência não só como observador, mas também de análise
de dados; experiência que poderá ser garantia de maior objetividade e rigor na recolha
e interpretação dos dados. Quando bem conduzidos, os estudos etnográ ficos permitem
uma compreensão da cultura de uma dada organiza ção, da maneira como os seus
elementos interagem uns com os outros e da influência do contexto no comportamento
dos indivíduos, de uma forma que talvez nenhum outro estudo permita.
6. INVESTIGAÇÃO CORRELACIONAI.
Variá veis cujo grau de correlação é forte podem estar na base de estudos causais-
comparativos, experimentais ou quase-experimentais, estudos esses conduzidos com
o objetivo de verificar se as relações existentes entre variáveis são de natureza causal.
Pode haver um grau de correlação forte entre duas variáveis sem que uma das variá veis
seja a "causa " da outra pois neste caso, será uma terceira variá vel a "causa " das duas
variá veis que apresentam um grau de correla ção forte. Por exemplo, se o investigador
chegar à conclusão que existe uma forte rela ção entre sucesso académico e autoestima,
isto não significa que a autoestima seja a "causa " do sucesso académico ou vice-versa,
mas poderá apenas significar que os bons alunos têm um grau de autoestima mais elevado
do que os maus alunos, os quais têm um grau de autoestima menos elevado. Ambas as
variáveis podem eventualmente ter como causa uma terceira variá vel, como por exemplo,
a estabilidade familiar.
A investigação correlacionai apenas estabelece que h á uma relação entre duas variá veis
mas não estabelece uma relação "causa -efeito ".
No entanto, o estabelecimento de uma correlação entre duas variáveis poderá ser utilizado
na previsão dos valores de uma delas a partir do conhecimento dos valores da outra.
Definição do problema - As relações entre variá veis que irão ser investigadas deverão
ser provenientes da teoria ou da experiência, supondo-se indutiva ou dedutivamente, que
existe uma relação entre elas. Dever-se-á, portanto, partir da formulação de uma hipótese
ou hipóteses de relação entre uma ou mais variá veis, relação que irá ser testada, pelo
que o estudo não deverá ser conduzido a partir de variá veis escolhidas ao acaso.
Como em qualquer outra investigação, os dados recolhidos têm que ser precisos, daí
a importância do instrumento de recolha (testes ou questionários), pois caso os dados
referentes às variá veis não sejam corretos, as medidas de correlaçã o calculadas a partir
deles também o não serão. Deste modo, poder-se-á afirmar que existe uma correlação
(por exemplo moderadamente positiva) entre duas variáveis sem que na realidade a haja.
Os instrumentos têm que ser vá lidos para as medições relativas às variá veis em causa.
Recolha, aná lise e interpreta çã o dos dados - Como foi anteriormente referido,
recolhem-se dois ou mais conjuntos de dados referentes a cada um dos sujeitos previamente
selecionados por amostragem. De acordo com a natureza do estudo, recolhem-se dados
relativos a duas ou mais variáveis e podem utilizar-se cálculos estatísticos de complexidade
variá vel.
O grau de correlação entre duas variá veis é geralmente expresso como um coeficiente
cujo valor varia entre 0.00 e +1.00 ou -1.00. Duas variá veis que est ã o altamente
correlacionadas apresentam um coeficiente perto de + 1.00 ou de -1.00; no caso de não
estarem correlacionadas apresentam um coeficiente perto de 0.00.
cujo agregado familiar é mais desfavorecido tendem a ter maior insucesso escolar, muitas
vezes traduzido por retenções; portanto, quanto menores são os vencimentos do agregado
familiar, maior é o número de retenções e ví ce-versa.
A correlação apresenta valores baixos quando não h á relação entre duas variáveis, como
por exemplo entre a altura do aluno e a aptidão para o desenho (o exemplo dado é
propositadamente muito evidente).
a b C
50 r = 0.80 50
_ r = -0.20
40 . 40 -
i
. '
Y 30
20
Y 30
20
_ •
10 10 * . V
•1
1 1 1 1 1 i i i i j_ - i
a
10 20 30 40 50 10 20 30 40 50
X X X
Na fig. 9.1 estão representados diagramas de dispersão (a) e (b), que são representações
gráficas da relação entre variá veis. A totalidade dos pontos destes diagramas resulta do
"cruzamento" dos valores assumidos pelas variáveis relativamente a cada um dos sujeitos.
Nos dois diagramas os pontos aglomeram-se em torno de uma linha reta imaginária,
tratando-se no diagrama (a) de uma correlação linear positiva forte e no diagrama (b)
de uma correla ção linear negativa fraca.
Existem, no entanto, correlações que não são lineares mas curvilíneas e que indicam
que uma variável aumenta à medida que a outra aumenta também, até que ocorre uma
"reversão ", e a partir daí, uma das variáveis começa a diminuir, enquanto a outra continua
a aumentar, como é o caso do diagrama de dispersã o (c) da fig. 9.1. Um exemplo de
uma correlação curvilínea é a existente entre a velocidade de corrida e a idade. Com o
aumento da idade aumenta a velocidade de corrida até uma determinada idade (20, 21,
22 ... anos) em que se atinge o má ximo de velocidade e depois dá -se a "reversão" e a
velocidade de corrida passa a diminuir à medida que a idade aumenta.
No que diz respeito a fazer previsões, apesar de se ter determinado que existe um nível
de significance aceitá vel, isto não basta. Se o coeficiente de correlaçã o for muito baixo,
este não permite fazer previsões. Isto é, se foi calculado o coeficiente de correlação
entre duas variáveis e se relativamente a um sujeito do qual conhecemos o valor de uma
das variáveis queremos prever qual o valor que assume a outra variável, tal não será
possível. Um coeficiente de correlação abaixo de 0.50 não é suficiente para a previsão de
resultados de um grupo de sujeitos ou de um sujeito, no entanto a combinação de variá veis
pode permitir fazer previsões satisfatórias com valores abaixo de 0.50. Coeficientes de
correlação de 0.60 ou 0.70 são geralmente considerados adequados para previsões que
dizem respeito a um grupo de sujeitos, e coeficientes superiores a 0.80 para a previsão
de valores que digam respeito a sujeitos individuais.
O estabelecimento de uma correlação entre duas variáveis pode, portanto, ter utilidade
na previsão do valor de uma delas a partir do conhecimento dos valores da outra. A
técnica empregada em tais previsões é conhecida por análise de regressão . Dada a
sua apresentação estar igualmente fora do âmbito deste trabalho, remete-se mais uma
vez o leitor para a consulta de uma obra de Estatística aplicada às Ciências Sociais.
7. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL
No final desta secção o leitor encontra uma descrição das variáveis que usualmente são
consideradas em investigação experimental.
Num estudo experimental, o investigador manipula pelo menos uma variá vel
independente, controla outras variá veis consideradas relevantes e observa o efeito
numa ou mais variá veis dependentes (a variável independente é também designada por
tratamento). A manipulaçã o da variá vel independente é a característica que diferencia
a investiga ção experimental das outras investigações. Como exemplos de variá veis
independentes podem referir-se: a adoçã o de um novo programa de aprendizagem,
a introduçã o de um novo sistema informático ou a introdução de uma nova máquina
numa unidade de produção. A variável dependente é a mudança ou diferença resultante
da manipula ção da variá vel independente. É designada por variá vel dependente pois
"depende” da variável independente. A variá vel dependente deverá poder ser medida.
Relativamente aos exemplos anteriormente indicados, poder-se-á medir, através da
administraçã o de um teste, a eficácia de um novo programa de aprendizagem; poder-se-á
calcular a redução do número de horas para executar uma tarefa administrativa devido à
introdução de um novo sistema informático; e poder-se-á calcular o aumento de produção
originado pela introdução de uma nova máquina numa unidade de produção.
Para que seja possível verificar qual o efeito da variável independente sobre a variá vel
dependente é necessário fazer o controlo de outras variáveis, ou seja, o investigador deverá
assegurar-se que os dois grupos são tão equivalentes quanto possível no que respeita a
todas as outras variáveis, exceto quanto à variá vel independente. O controlo de variáveis é
fundamental para que no final do estudo se possa afirmar que a diferença que se verificou
entre o grupo experimental e o grupo de controlo (no caso de essa diferenç a se verificar)
foi devida à manipula ção da variável independente. (Por exemplo, a maior eficácia da
aprendizagem, traduzida pelos melhores resultados obtidos pelo grupo experimental,
teria sido devida à adoção do novo programa) . No entanto, em estudos experimentais
conduzidos no âmbito das Ciências Sociais, apesar de existirem diversas técnicas para se
proceder ao controlo de variá veis, atendendo ao facto da experimentaçã o ser conduzida
em seres humanos, esse controlo reveste-se de grandes dificuldades.
O controlo é necessário não só para que se possa afirmar que as diferenças observadas
na variá vel dependente sã o unicamente devidas à manipulaçã o da variável independente,
ou seja para assegurar que a investigação tenha validade interna, mas também para
que seja possível generalizar ou aplicar os resultados obtidos num dado contexto, a outros
contextos, ou seja para que se possa garantir que tenha também validade externa .
No entanto, um problema subsiste, o de maximizar a validade interna sem que seja posta
em causa a validade externa, pois se efetuarmos um controlo muito rígido sobre os sujeitos
de investiga ção e sobre as condições experimentais, a situação experimental afasta-se
da realidade e os resultados não se tornam generalizáveis para além do contexto onde
se realizou a experimentaçã o. Mas, por outro lado, é difícil conduzir uma experimentação
e controlar variá veis em condições reais. O investigador terá que escolher entre um
controlo muito rigoroso das condições experimentais ou conduzir a experimentação em
condições reais, podendo neste último caso surgirem amea ças à validade interna da
experimentação.
Maturação - diz respeito à s modifica ções físicas ou mentais que ocorrem nos
sujeitos durante o período da experimentação, especialmente quando esta se
prolonga por vários meses. Isto é particularmente importante com crianças e
jovens ( dependendo no entanto, também da natureza do estudo a realizar) e
com adultos sujeitos a efeitos de socialização organizacional.
Tal como no caso anterior, embora o experimentador não tenha controlo sobre a
maturação, pode selecionar um plano que permita neutralizar os seus efeitos.
Instrumentação - resulta da administração de testes que não são fiá veis, que
dão resultados diferentes em diferentes aplicações, de pré-testes e pós-testes
de diferente dificuldade ou de observações que nã o sã o sistematicamente feitas
da mesma maneira ao longo da experimentação.
Esta diferenç a inicial pode ter influência nos resultados do pós-teste. Caso seja
necessário escolher grupos já anteriormente formados, devem selecionar-se
grupos o mais idênticos possível e administrar um pré-teste para que na análise
dos resultados venham a ser tidas em conta as diferenç as iniciais entre esses
grupos.
Este pode ser um problema grave, dependendo dos sujeitos, da natureza dos testes, da
natureza do tratamento e da duraçã o do estudo. Estudos que envolvam mudanças de
atitude são muito sensíveis a esta ameaça, outros não o são tanto. Crianças podem não
ter a perceção da relação entre o pré-teste e o tratamento. Se o pré-teste for administrado
algum tempo antes de começar o tratamento, os seus efeitos podem ser atenuados. No
caso de se prever que o pré-teste possa ter efeitos importantes nos resultados do estudo,
o experimentador deverá selecionar um plano que permita neutralizar a sua ocorrência
ou determinar a sua importância.
O facto dos sujeitos de investigação terem conhecimento de que fazem parte de um grupo
experimental também pode afetar os resultados do estudo, pois o comportamento do
grupo experimental modifica -se não só devido ao tratamento, também ao facto de terem
Outro problema está relacionado com a novidade, pois o grupo experimental pode obter
melhores resultados porque está a utilizar algo de novo. O facto de ser uma novidade
aumenta a motivação e portanto a participa ção e o tratamento pode nã o ser mais eficaz
em si mesmo. Para obviar este efeito o experimentador deverá prolongar a experiência
até que se atenue o efeito de novidade6.
Para minimizar a interferência de tratamentos sucessivos, caso não seja possível fazer
uma experimentação com um único tratamento, o investigador deverá deixar mediar
um período de tempo considerado adequado entre tratamentos sucessivos e investigar
diferentes tipos de variá veis independentes.
5
Este efeito é usualmente designado por efeito Hawthorne ou Mayo, visto ter sido posto em
evidência numa experiência levada a cabo na Fábrica Hawthorne da Western Electric Company
em Chicago, por Elton Mayo. Os operá rios tinham conhecimento de que estavam a colaborar
numa experiência, mas não do seu teor. A experiência consistia em averiguar de que maneira
a intensidade de iluminação poderia afetar a produção. Os investigadores aumentaram a
intensidade da iluminação e a produção aumentou, seguidamente aumentaram ainda mais a
intensidade da iluminação e a produção tornou a aumentar, finalmente diminuíram a intensidade
da iluminação e a produção continuou ainda a aumentar !
6
Existem ainda outros efeitos que poderão afetar os resultados da experimentação:
Contamina ção e efeito de halo:
Designa -se por contamina ção o facto da familiaridade do investigador com os sujeitos de
investigação poder vir a afetar os resultados da experimentação; o investigador pode exercer
influência no seu comportamento ou ser subjetivo na avaliação desse mesmo comportamento.
O efeito de halo diz respeito a ser valorizado o comportamento de um sujeito que previamente
tinha tido um comportamento muito bom ou excelente. Se o investigador conhece os membros
de um grupo pode tender a ser enviesado na aná lise dos resultados desse grupo .
O problema da objetividade põe-se em qualquer tipo de investigação e portanto o investigador
deve, por um lado, evitar situações que a possam pôr em causa e, por outro lado, não deverá
comunicar ao grupo experimental que as suas expectativas são as de que este obtenha melhores
resultados do que o grupo de controlo.
como selecionar aleatoriamente dentre eles os sujeitos que fazem parte do grupo
experimental e do grupo de controlo. A escolha aleatória dos sujeitos de investigação
é a maneira de criar grupos equivalentes e representativos da população estudada.
Se for verificado no final do estudo que os grupos têm resultados diferentes, esta
diferença poderá ser atribuída ao tratamento, ou seja, à variável independente.
Quanto maiores forem os grupos maior será a confiança que se poderá ter nos
resultados obtidos. (Num estudo experimental, 15 sujeitos por grupo é o número
mínimo considerado aceitável para o realizar).
b) Algumas variáveis podem ser controladas, fazendo com que existam em iguais
condições nos dois grupos, tais como: anos de experiência de exercício de uma
dada profissão, habilitações académicas ou profissionais. Por exemplo, todos os
sujeitos possuírem o mesmo número de anos de experiência e a mesma formação
profissional. Metade dos sujeitos deverá fazer parte do grupo experimental e a
outra metade do grupo de controlo (a divisã o dos sujeitos pelos dois grupos deverá
ser feita aleatoriamente). No entanto, esta técnica poderá levantar problemas em
relação à generaliza ção dos resultados, nomeadamente, porque se restringiu a
variabilidade dos sujeitos.
Poder-se-á, ainda, formar grupos que apresentem todos os níveis da variá vel ou
variáveis em estudo, por exemplo, diferente número de anos de experiência na
profissão ou forma ção profissional.
Proceder a uma amostragem estratificada constituirá, do mesmo modo, uma técnica
adequada, caso o investigador queira averiguar se a variável independente afeta a
variável dependente a vários níveis da variável de controlo.
Há dois tipos fundamentais de planos experimentais: planos com uma só variá vel, que
compreendem uma só variável independente, a qual é manipulada, e planos fatoriais,
os quais compreendem duas ou mais variá veis independentes, das quais pelo menos
uma é manipulada.2
Nos planos pré- experimentais não há um controlo adequado das ameaças à validade
interna e externa. Estes planos só têm utilidade para uma investigação preliminar de um
problema, para sugerir hipóteses.
7
Existem ainda pianos experimentais com um só sujeito cujo estudo nã o se enquadra no âmbito deste
trabalho.
Neste Manual não serão analisados os planos pré-experimentais dado o seu muito reduzido
interesse.
A única amea ça a este plano e que pode afetar a generalizaçã o dos resultados,
é a possível intera ção entre o pré-teste e o tratamento, a qual poderá ter como
consequência que os resultados só sejam generaliz á veis a outros grupos a
quem seja igualmente administrado o pré-teste. O investigador deverá referir
no relatório de investigação que a interação entre o pré-teste e o tratamento
poderá constituir uma possível amea ça à validade externa.
6
Este plano poderá ser alargado para mais de dois grupos, ou seja , em vez de ter unicamente
um grupo experimental e um grupo de controlo, poderá ter trê s ou mais grupos.
Para três grupos, por exemplo, poderia apresentar uma das seguintes formas:
a) A O Xj O b) A O X, O
A O X2 O A O X2 O
AO O A O X3 0
Em a) a dois grupos experimentais são administrados dois novos tratamentos diferentes um do
outro, enquanto ao grupo de controlo não é administrado nenhum tratamento novo.
Em b) é administrado um tratamento diferente a cada um dos trê s grupos.
Os resultados do pós-teste dos dois grupos podem ser comparados usando um teste t
para determinar a eficácia do tratamento.
9
Este plano poderá igualmente ser alargado para mais de dois grupos, isto é, em vez de ter
unicamente um grupo experimental e um grupo de controlo, poderá ter três ou mais grupos.
A análise dos resultados deverá ser feita mediante uma análise de variância 2x2 dos
resultados do pós-teste. Esta análise permite saber se o tratamento foi efetivo e se
houve interação entre o tratamento e o pré- teste. No caso de não ter havido interação,
os resultados obtidos poder ã o generalizar-se com maior confiança à população em
estudo.
Como este plano é uma combina ção dos dois planos anteriores, o resultado é
um plano que controla as duas ameaç as referidas para os planos anteriores;
interação pré- teste-tratamento e mortalidade.
Apesar das vantagens que este plano apresenta, ele exige um maior número
de sujeitos de investigaçã o. A escolha do plano deverá ser feita de acordo com
a natureza do estudo que se pretende realizar e as condições em que vai ser
feito. Deste modo, para muitos estudos um dos planos anteriores poderá ser
igualmente adequado.
Planos quase- experimentais - Por vezes não é possível proceder à seleção aleatória
dos sujeitos (por exemplo, quando se tratam de turmas de alunos que já estavam
constituídas), o que levanta problemas relativa mente ao controlo das ameaças à validade
interna. Campbell e Stanley (1963) apresentam vários planos, dos quais descreveremos
três. (Vide também o trabalho de Campbell e Cook, 1979)
Depois de escolhidos os grupos, dever-se-á, sempre que for possível, atribuir aleatoriamente
o tratamento novo ou não tradicional a um dos grupos10.
Dado não haver seleção aleatória dos sujeitos de investigação, podem surgir
ameaças à validade interna da investigação, regressão e interação entre seleção e
variá veis como a maturação, história e testagem. O investigador deverá procurar
controlar estas ameaças escolhendo grupos o mais semelhantes possível.
10
Da mesma maneira que para o plano pré-teste - pós-teste e grupo de controlo, este piano
.
poderá ser alargado para mais de dois grupos A cada um dos grupos pode ser aplicado um
tratamento, diferente, podendo não ser administrado um tratamento novo a um dos grupos.
Se um grupo experimental que obtém várias vezes resultados semelhantes em pré- testes,
for sujeito a um tratamento e posteriormente obtiver repetidas vezes em pós-testes
melhores resultados do que nos pré-testes, o investigador poderá atribuir com maior
confiança a mudança verificada ao tratamento que tinha sido aplicado do que se a esse
mesmo grupo tivesse sido apenas aplicado um pré-teste e um pós- teste. A análise dos
resultados decorrentes da aplicação deste plano exige estatísticas avançadas.
(3 ) Plano contrabalançado
Este plano tem as seguintes características:
x1 o x2 o x3 o
x3 o o x2 o
X2 0 X3 O X1 o
11
Este plano apresenta vá rias variantes que foram analisadas por Campbell e Stanley. Uma
dessas variantes é designada por séries temporais interrompidas múltiplas que inclui um
grupo de controlo. Esquematicamente o plano ficará assim representado:
OOOOXOOOO
0000X0000
Esta variação permite controlar as ameaças à validade interna da história e da instrumentação.
Este plano adapta -se a situações escolares em que os alunos são habitual e periodicamente
sujeitos a testes ou à indústria onde os operários podem ser observados repetidamente. A
análise dos resultados decorrentes da aplicação deste plano exige estatísticas avançadas.
Embora possa ser administrado um pré-teste, este plano é geralmente utilizado para
grupos intactos, não equivalentes e quando a administração de um pré-teste não é
possível ou aconselhá vel.
O exemplo apresentado refere-se a três grupos e a três tratamentos, mas podem participar
na experiência qualquer número de grupos (dois ou mais grupos).
Ameaças à validade:
O mais simples dos planos fatoriais é o que compreende dois tratamentos (dois fatores),
cada um deles com dois níveis. É designado como um plano fatorial 22 ou 2x2 , porque
tem 4 células. Três variá veis independentes, com dois níveis cada, produzem um plano
23, com 8 células. Nã o é no entanto necessário que todos os fatores tenham o mesmo
número de níveis. Planos fatoriais com maí s do que três fatores são raramente usados,
embora teoricamente seja possível, mas não só se torna difícil analisar todas as interações
entre eles, como cada fator faz aumentar o número de sujeitos necessários para realizar
a experiência.
Num plano fatorial os sujeitos são distribuídos aleatoriamente pelas diferentes células.
Variável independente - é uma variá vel estímulo ou input. É o fator que é medido,
manipulado ou selecionado pelo experimentador para determinar a sua relação com
um fenómeno observado. É a variável que é manipulada ou alterada para causar uma
modificaçã o noutra variá vel.
12
"Variável é um conceito operacional e classificatório que, atrav és da partição de um conjunto
teoricamente relevante, assume vários valores". ( Almeida e Pinto, 1995). Os mesmos autores
. .
indicam as quatro fases da construção de variáveis, segundo P Lazarsfeld ( 1965) ( Vide op .
cit. p. 142-143)
É necessário pôr em evidência que muitos estudos experimentais não envolvem apenas
uma variá vel independente e uma variá vel dependente mas várias; além destas outras
variá veis são usualmente consideradas as denominadas variá veis moderadoras, variá veis
de controlo. Muitas vezes infere-se ainda a existência de outras variá veis designadas por
intervenientes.
O experimentador na fase de planeamento do seu estudo terá que decidir quais as variá veis
que irá estudar e quais as que irá controlar.
É de notar que enquanto os efeitos das variá veis moderadoras são estudados, os efeitos
das variá veis de controlo são neutralizados.
Variável interveniente - Pode-se defini- la como o fator que teoricamente tem efeito
no fenómeno observado, mas o qual não pode ser visto, medido ou manipulado; os
seus efeitos só podem ser inferidos através dos efeitos das variáveis independentes e
moderadoras no fenómeno observado.
Vantagens deste tipo de estudos - Estes estudos são apropriados quando não é
possível fazer um estudo experimental e proceder à seleção aleatória de sujeitos, controlar
e manipular os fatores necessá rios para estudar relações causa -efeito, ou quando o
controlo de todas as variáveis com exceção de uma só pode tornar o estudo irrealista e
artificial, pois evita a interação normal com outras variáveis que podem ter influência nos
resultados. Este tipo de estudos pode também levar à identificaçã o de relações que serão
posteriormente estudadas em investigação experimental, facilitam tomadas de decisão
e são menos dispendiosos do que os estudos experimentais.
As variáveis independentes num estudo causal comparativo são variáveis que não podem
ser manipuladas (como a origem socioeconómica, o sexo, a deficiência física ou mental),
causas que não deverão ser manipuladas (como a toxicodependência), ou que poderiam
ser manipuladas mas não o são (como o modelo de ensino-aprendizagem).
Na interpretação dos resultados deverá haver muito cuidado na identifica ção da verdadeira
causa, daquela que ocorreu em primeiro lugar.
Atividade 9.1
Estudou a investigação histórica, a investigaçã o descritiva, o estudo de caso, o
estudo etnográ fico, a investiga ção correlacionai, a investigação experimental e
a investigação causal-comparativa. Fa ça um resumo onde deverá indicar:
- as finalidades de cada um (uma);
- os procedimentos utilizados;
- as vantagens e limita ções.
S í ntese
Teste formativo
Leituras complementares
AFONSO, Natércio
2005 Investigação Naturalista em Educação. Um guia prático e crítico, Porto,
Edições ASA .
CLEGG, Frances
1995 Estatística para todos: um manual para Ciências Sociais, Lisboa, Gradiva.
CRESWELL, John W.
2013 Qualitative Inquiry and Research Design. Choosing Among Five Traditions,
3 rd ed., Thousand Oaks, CA, USA.
FERREIRA, Virginia
1986 O Inquérito por questionário na construção de dados sociológicos, in Silva,
Augusto Santos e Pinto, José Madureira (orgs.), "Metodologia das Ciências
Sociais", 5 a ed., Porto, Edições Afrontamento, pp. 165-196.
FLICK, Uwe
2009 Introdução à Pesquisa Qualitativa, 3a ed., Artmed Editora, RS, Brasil.
FODDY, William
1996 Como Perguntar. Teoria e Prática da construção de perguntas em entrevistas
e questionários, Oeiras, Celta Editora.
GAY, L. R.
1981 Educational Research: Competencies for Analysis & Application, 2 a ed.,
Columbus, Ohio, Charles E. Merrill Publishing Company, pp. 142-271.
JESUÍNO, Jorge C.
1986 O Método Experimentai em Ciências Sociais \w Silva, Augusto S. e Pinto, José M.
(orgs.) "Metodologia das Ciências Sociais", 5a ed., Porto, Edições Afrontamento,
pp. 215-249.
LEVIN , Jack
1987 Estatística Aplicada às Ciências Humanas, 2a ed ., Sã o Paulo, Editora Harbra .
MERRIAM , Sharan B.
1988 Case Study Research in Education, Sã o Francisco, Jossey-Bass Publishers.
PUNCH , Keith F.
2003 Survey Research. The Basics, London, Sage.
THOMAS, Gary
2011 How to do Your Case Study. A Guide for Students & Researchers, London ,
Sage.
YIN , Robert K .
1988 Case Study Research. Design and Methods, Newbury Park, Sage
Publications.
Sumário
Objetivos da unidade
Atividade 10.1
3. A PR ÁTICA DA ANÁLISE DE CONTE ÚDO
3.1. Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico
3.2. Constituição de um corpus
Atividade 10.2
3.3. Definição das categorias
3.4. Definição das unidades de análise
Atividade 10.3
3.5. Quantifica ção
3.6. Interpreta ção dos resultados
4. FIDELIDADE E VALIDADE
Síntese
Teste Formativo
Leituras Complementares
Objetivos da unidade
Berelson, (1952,1968), por exemplo, definiu Análise de Conteúdo como "uma técnica
de investigação que permite fazer uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa
do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por objetivo a sua interpreta ção " .
Pormenorizando:
Objetiva - porque a análise deve ser efetuada de acordo com determinadas regras,
obedecer a instruções suficientemente claras e precisas para que investigadores diferentes,
trabalhando sobre o mesmo conteúdo, possam obter os mesmos resultados. Isto pressupõe
que eles cheguem a acordo sobre os aspetos a analisar, as categorias a estabelecer e a
utilizar e a definição operacional de cada uma dessas categorias.
Quantitativa - uma vez que na maior parte das vezes é calculada a frequência dos
elementos considerados significativos.
Posteriormente foram propostas outras definições. Por exemplo, Cartwright (1953), para
além do "conteúdo manifesto da comunicação", estende a Análise de Conteúdo a "todo
o comportamento simbólico" e Stone (1966) define-a como: "uma técnica que permite
fazer inferências, identificando objetiva e sistematicamente as características específicas
da mensagem ". A Análise de Conteúdo orienta -se para a formaliza ção das relações entre
temas, permitindo traduzir a estrutura dos textos.
Como salienta Bardin (1977), a Análise de Conteúdo nã o deve ser utilizada apenas para
se proceder a uma descrição do conteúdo das mensagens, pois a sua principal finalidade
é a inferência de conhecimentos relativos à s condições de produção (ou eventualmente
de receção), com a ajuda de indicadores (quantitativos ou não).
De acordo com o mesmo autor, esta técnica de pesquisa pode considerar-se como a
articulação entre:
•o texto, descrito e analisado (pelo menos em relação a certos dos seus
elementos característicos), e
Utilizando, mais uma vez, o que Madeleine Grawitz (1993) escreveu sobre o assunto,
apresenta -se seguidamente a distinção dos vários tipos de Análise de Conteúdo:
A análise indireta que procura uma interpretação do que se encontra latente sob a
linguagem expressa é geralmente considerada como característica de uma análise de
tipo qualitativo; mas, por vezes a partir de uma análise quantitativa indireta, para além
do que é manifesto num discurso, por inferência, pode chegar-se a conclusões sobre o
que propositadamente não foi dito ou escrito.
Atividade 10.1
Escolha um artigo que relate uma pesquisa onde tenha sido utilizada a técnica de
Análise de Conteúdo e tente identificar o tipo de análise. Justifique a resposta .
Como qualquer outra técnica de investigação a Análise de Conteúdo implica que sejam
definidos objetivos e um quadro de referência teórico. Dado a definição de objetivos e o
papel da teoria no desenvolvimento da investiga ção já terem sido abordados em capítulos
anteriores não serão aqui novamente desenvolvidos esses aspetos.
13
Bardin ( 1977) considera as seguintes fases na aná lise de conteúdo:
-
1) Pré análise;
2) Exploração do material;
3) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
0 autor diz que na fase de pré-análise o investigador deverá proceder à escolha dos
documentos que vão ser sujeitos à análise, à formulação das hipóteses e dos objetivos da
investigação e à elaboração de indicadores nos quais se deverá apoiar a interpretação final,
estando estas catividades interligadas, pois a escolha dos documentos depende dos objetivos
ou, inversamente, a formulação das hipóteses e dos objetivos só será possível em função
dos documentos disponíveis; os indicadores serão construídos em função das hipóteses e a
formulação das hipóteses será fundamentada na presença de certos índices.
As hipóteses poderão, no entanto, ser ou não estabelecidas na fase preparatória, (não sendo
obrigatório que o sejam). Os índices podem ser escolhidos em função das hipóteses no caso de
estas serem formuladas. Os índices deverão ser organizados em indicadores precisos e fiáveis.
Por exemplo, o índice poderá ser a menção explícita de um tema num texto, o indicador
correspondente; caso se trate de uma análise temática quantitativa, será a frequência desse
tema . Nesta fase deverão também ser determinadas as operações a realizar de divisão do
texto em unidades comparáveis, de categorização para a aná lise temática, e de codificação
para o registo dos dados.
0 investigador deverá proceder à escolha dos documentos que vão ser sujeitos à an álise.
A escolha pode ser feita de duas maneiras: determinada a priori (por exemplo, por análise
sistemática de todos os números de uma revista que só foi editada durante quatro anos)
ou os documentos podem ser escolhidos de acordo com os objetivos da investiga ção em
curso (por exemplo, o investigador pretende analisar a evolução da importância dada
nos programas do Ensino Básico a questões ambientais, nos últimos 10 anos; para isso
pode escolher e analisar os programas de Biologia e de Geografia deste nível de ensino).
Constitui-se assim o corpus ou seja o conjunto dos documentos escolhidos para se
proceder posteriormente à Análise de Conteúdo.
Essa escolha deverá ser feita tendo em atenção certas regras, tais como: a exaustividade
(o que implica considerar todos os elementos do conjunto, no exemplo dado todos os
programas das duas disciplinas dos últimos 10 anos); a representatividade (o que
implica proceder à análise de uma parte dos documentos, devendo a parte selecionada
ser representativa do conjunto dos documentos); a homogeneidade ( os documentos
escolhidos devem obedecer a critérios de escolha rigorosos e não apresentar demasiada
singularidade relativamente a esses critérios de escolha); a pertinência (ou seja, os
documentos escolhidos devem ser adequados como fonte de informação para corresponder
ao objeto da análise que sobre eles irá recair). (Bardin, 1977).
Atividade 10.2
Relativamente ao mesmo exemplo de Análise de Conteúdo que escolheu
anteriormente resuma como o( a) autor( a) procedeu à constituição do corpus.
No segundo caso as categorias não foram definidas antecipadamente. Este tipo de análise
é designado por "procedimento exploratório".
Exaustivas - o que significa que todo o conteúdo que se tomou a decisã o de classificar
deve ser integralmente incluído nas categorias consideradas, sendo no entanto possível,
de acordo com os objetivos, não considerar alguns aspetos do conteúdo, caso em que
se torna necessário justificar por que razão esses aspetos não foram considerados. (Por
exemplo, entrevistados relatam por vezes factos ou emitem opiniões sobre aspetos que
estã o fora dos objetivos da investigação);
Objetivas - as característí cas de cada categoria devem ser explicitadas sem ambiguidade
e de forma suficientemente clara de modo a que diferentes codificadores classifiquem
os diversos elementos, que selecionaram dos conteúdos em análise, nas mesmas
categorias;
Pertinentes - devem manter estreita relação com os objetivos e com o conteúdo que
está a ser classificado. Note-se que quando se definem categorias a priori pode-se pôr
em risco a pertinência da sua inclusão.
A categoriza ção apresenta problemas que o investigador tem por vezes dificuldades em
ultrapassar. Como foi referido, categorias definidas a prioripoáe.n\ levar a que não se tenha
em consideração aspetos importantes do conteúdo; a definição de categorias a posteriori
deve ser feita com muitos cuidados, após leituras sucessivas do texto e tendo em atenção
os objetivos da investigação; as categorias não devem igualmente ser numerosas, nem
demasiadamente pormenorizadas ou, pelo contrário, serem em n úmero insuficiente e
demasiadamente englobantes e, por conseguinte, de fronteiras imprecisas.
Maté ria - importa saber de que trata a comunicaçã o ( assuntos que nela sã o
abordados);
A direçã o da comunicação - que pode ser por exemplo, favorá vel, neutra, desfavorá vel,
entre outras;
O atores - trata -se de definir as características individuais dos atores intervenientes, como
por exemplo: a idade, o sexo, a profissão, o nível de instrução, o nível socioeconómico,
a nacionalidade, a naturalidade, a religião.
A origem - diz respeito à origem dos textos utilizados, tais como: artigos de revistas ou
de jornais regionais, nacionais ou internacionais, etc.14
Após a definição de categorias torna -se necessário proceder à definição de três tipos de
unidades:
a) Unidade de registo é o segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário
para poder proceder à análise, colocando-o numa dada categoria. A escolha da
unidade de registo depende pois dos objetivos estabelecidos e do quadro teórico
orientador da investigação.
14
Ghiglione e Matalon ( 1985), referindo-se ao que os autores designam por procedimentos
fechados ou seja técnicas de aná lise de conteúdo baseadas em categorias previamente
fixadas, análise associada a um quadro categorial empírico ou teórico, consideram cinco tipos
de modalidades categoriais: psicológica, psicolingu ística, psicossociol ógica, linguística
e documental e, relativamente a procedimentos que designam por abertos (exploratórios),
consideram a contagem frequencial, a análise tem á tica, as concomitâ ncias temáticas,
a análise por cachos e a análise por campos sem â nticos, (vide op. cit., pp. 213-244).
Atividade 10.3
Relativamente ao mesmo exemplo de Aná lise de Conteúdo que escolheu
anteriormente resuma como o( a) autor(a) procedeu à definição das categorias
e das unidades de análise.
3.5. Quantificação
Está fora do âmbito deste Manual indicar toda a variedade das técnicas de quantificação
na Análise de Conteúdo, técnicas que evoluíram muito e se diversificaram devido não só
ao desenvolvimento da an álise estatística aplicada ao campo das Ciências Sociais como
à utilização do próprio computador15 1®. -
3.6. Interpretaçã o dos resultados
4. FIDELIDADE E VALIDADE
15
Vala ( 1986) diz que em termos esquemáticos uma aná lise de conteúdo quantitativa pode
tomar três direções:
a ) Aná lise de ocorrê ncias - visa determinar o interesse da fonte por diferentes objetos ou
conteúdos. A hipótese é a de que quanto maior for o interesse do emissor por um dado
objeto maior será a frequência de ocorrência no discurso dos indicadores relativos a esse
objeto.
b) Análise avaliativa - é o estudo das atitudes da fonte reiativamente a determinados objetos,
recorrendo à escala de atitudes de Thurstone ou à Aná lise das Proposições Avaliativas
(Evaluative Assertion Analysis) elaborada por Osgood (1959) (Bardin, 1977, descreve esta
técnica).
c) Análise estrutural - visa fazer inferências sobre a organização do sistema de pensamento
da fonte implicado no discurso que se pretende estudar. Foi Osgood ( 1959) que a iniciou,
tendo-a designado por Análise Associativa.
16
O computador permite tratar o texto (análise linguística) e os resultados (análise numérica).
A validade díz respeito à quilo que o investigador pretendia medir. Uma Aná lise de
Conteúdo será válida, quando a descrição que se fornece sobre o conteúdo tem significado
para o problema em causa e reproduz fielmente a realidade dos factos. Para isso, é
necessário que todas as etapas que integram o processo de análise sejam corretamente
executadas.
S í ntese
Teste formativo
Leituras complementares
BARDIN, Laurence
1977 L'analyse de contenu, Paris, P.U.F. (Existe uma tradução em português referida
na bibliografia) .
GRAWITZ, Madeleine
1993 Méthodes des Sciences Sociaies, Paris, 9a ed., Editions Dalloz, pp. 532- 565.
(Existe a 11a edição).
GUERRA, Isabel C.
2006 Pesquisa Qualitativa e Análise de Conteúdo. Sentidos e Formas de Uso,
Estoril, Principia Editora.
VALA, Jorge
1986 A Análise de Conteúdo \ n Silva, Augusto S. e Pinto, José M. (orgs.), "Metodologia
das Ciências Sociais", 5a ed., Porto, Edições Afrontamento, pp. 101-128.
Sumário
Objetivos da unidade
1. PRINCÍPIOS ÉTICOS
Atividade 11.1
Leituras Complementares
Objetivos da unidade
1. PRINCÍPIOS ÉTICOS
Fidelidade aos dados recolhidos e aos resultados a que chega, não enviesamento das
conclusões constituem regras fundamentais de toda a investigação científica.
O problema deve ser relevante do ponto de vista teórico ou prático e inovador, mas o
investigador poderá optar por replicar um estudo anterior cujos resultados e conclusões
carecem de confirmaçã o por parecerem contraditórios com a teoria ou a prática.
17
Aconselha-se a leitura da unidade 2.
Título (provisório)
1. Objeto da Investigação
1.1. Explicitaçã o do problema de investiga çã o e formula çã o da pergunta de
partida;
1.2. Motivações do investigador
1.3. Relevância do estudo;
1.4. Limitações do estudo;
1.5 Questões ou hipóteses de investigação incluindo as variáveis que vão ser
investigadas;
1.6. Definição de termos (palavras-chave do estudo).
2. Revisão da literatura
3. Procedimentos metodológicos
3.1. Explicita çã o do plano de investiga ção (com indicação e descriçã o do plano
experimental, se para ele houver lugar);
3.2. Indicação da popula ção em estudo e do processo de amostragem, incluindo a
justificação da sua escolha;
3.3. Técnicas e instrumentos de pesquisa a serem utilizados para recolha de
dados;
3.4. Atividades a desenvolver (descriçã o em pormenor do que se vai fazer, quando,
onde e como);
3.5. Validade (como vai ser assegurada a validade interna do estudo);
3.6. Aná lise dos dados ( com explicitaçã o dos procedimentos de organiza ção e
tratamento);
3.7. Calendarização.
4. Referências bibliográficas.
Em 2.2.2. apresentam -se os principais aspetos que deverão ser tidos em conta ao efetuar
a revisão crítica de um Relatório de Investigação. A leitura crítica de relatórios de pesquisas
já realizadas no âmbito de Mestrados em Ciências Sociais deverá ajudar o Mestrando a
elaborar e redigir o seu próprio trabalho de investiga ção.
Título
índice Geral
índice das Figuras
índice dos Quadros
Introduçã o
Objeto da Investigação
Problema de investigação e pergunta de partida
Relevância do estudo
18
Aconselha-se a leitura da unidade 6 e chama-se a atenção para as normas da instituição no
âmbito da qual a dissertação foi realizada .
Limitações do estudo
Questões ou hipóteses de investigação
Metodologia do estudo (indicação sumária de métodos e técnicas utilizadas na
recolha e aná lise de dados)
Definição de termos (palavras-chave do estudo)
Resultados
Descriçã o e interpretaçã o dos resultados relativos a cada uma das questõ es ou
hipóteses.
Conclusões— e Recomendações
Discussão à luz da teoria das implicações dos resultados e seu significado
Recomendações de caráter científico ou prático
Sugestão para futuros trabalhos de investigação
19
Estado da arte - resumo atualizado da investigação já realizada sobre o tema.
20
Alguns autores aconselham a incluir antes da discussão das implicações dos resultados um
breve sumá rio das questões de investigação, dos procedimentos adotados e dos resultados
obtidos.
20 - Nos anexos estão incluídos todos os documentos necessários para que se possa
fazer um juízo crítico dos procedimentos adotados e dos resultados a que o autor
chegou?
Atividade 11.1
Procure encontrar uma dissertação de Mestrado sobre um tema que lhe interesse
e tente fazer a sua crítica atendendo aos aspetos anteriormente indicados. Se
não conhece em profundidade o tema da disserta ção ser- lhe-á difícil realizar
uma crítica aos pontos 5 e 18, mas isso não o impedirá de fazer uma avalia ção
metodológica ao seu conteúdo tendo em atenção os restantes aspetos. Este
trabalho deverá ajudá -lo a elaborar o seu próprio trabalho de investigação.
Leituras complementares
ECO, Umberto
1991 Como se faz uma tese em Ciências Humanas, 5 a ed., Lisboa, Presença.
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1. TÍTULO:
2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA:
Torna-se difícil medir a influência que cada um destes fatores exerce na organizaçã o do
ensino das línguas estrangeiras, pois eles próprios se encontram interrelacionados. No
entanto, tem-se dado uma maior ênfase à ligação entre o segundo fator e as mudanças
verificadas na pedagogia das línguas.
Com o intuito de obtermos uma visão global dessa relação, tentarei esquematizar o
percurso de ambos os fenómenos realizado no século XX.
De 1950 a 1970:
Uma breve aná lise do programa de inglês ministrado em Portugal a partir de 1954 parece
confirmar a tendência metodológica manifesta nas correntes mencionadas. No que respeita
à parte linguística, revela-se o recurso a uma metodologia tradicional mas já inspirada
pelos preceitos estruturalistas. A gramática prescritiva já não é modelo na medida em
que o aluno deveria adquirir a língua que se falava e escrevia na Inglaterra. Interessante
notar que a escrita e a oralidade são os "skills" que deveriam ser exercitados. Embora
Com o intuito de não fugir à questão cultural no ensino das línguas, denota-se, neste
programa, um certo alheamento à veicula ção de informa ção cultural no 2o ciclo, que
compreendia o 3o, 4o e 5o anos do liceu, e uma grande preocupação no cumprimento
dessa tarefa no 3o ciclo, ou seja, nos 6o e 7o anos. Tal como o programa propõe:
Contudo, esse conhecimento não parece incluir uma interpreta ção cultural profunda
veiculada pelo confronto com a cultura do próprio sujeito da aprendizagem. Esta observação
advem da interpreta ção do seguinte comentário que, embora esteja relacionado com a
língua, deixa transparecer a atitude dos pedagogos perante a cultura que pretendiam
esboçar:
"(...) não será isso, por certo, objetivo possível de alcançar no â mbito dos estudos
liceais" (p. 75).
Encontramos vários aspetos designados como culturais para abordar no 8o ano, como por
exemplo: os monumentos, os usos e costumes, as festividades, os feriados, os desportos,
etc.. Todavia, nos objetivos que o aluno deve atingir, não existe qualquer menção à
aquisição de uma competência cultural.
Numa avaliação feita por Maria do Carmo Clímaco ao programa de inglês do Ciclo
Preparatório, em 1986, nota -se que a estereotipagem ainda era uma constante no ensino
da língua no nosso país:
Este parecer crítico deve ter sido tomado em consideração na feitura dos novos programas
de inglês, tanto para o nível básico como para o secundário. O que de mais inovador
surge nesta proposta programática é a ideia de uma aprendizagem da língua como um
processo de autoconhecimento atrav és de um confronto com os outros/com o mundo.
Será que estamos perante a perspetiva integrativa que a autora atrás mencionada referiu
no seu comentário ?
Mais do que nunca, o que subjaz à aquisição de uma competência comunicativa é uma
série de outras competências, na qual se inserem a competência sociolinguística e a
intercultural. Sem a aquisição destas, a competência comunicativa nã o se alcança ou é
deficiente.
Gail Nemetz Robinson, professora norte americana, demonstra, na sua obra Crosscuiturai
Understanding, a esperança de através do ensino das línguas estrangeiras se poder
promover a interiorização de princípios de compreensão mútua entre culturas. Esse grande
objetivo deverá ser conseguido pela elaboração de currículos que perspetivem a língua
como cultura, aliás porque a competência comunicativa inclui conhecimento de certos
fenómenos socioculturais.
A referência bibliográ fica incluí da nestes novos programas não indica que os seus autores
tenham lido as ideias de Gail Robinson; no entanto, as mesmas encontram eco claro na
2
An á lise da Situação Programas, p. 213.
Através das poucas leituras e breves análises feitas, pude observar que o ensino da língua,
até há pouco tempo, renunciava a uma abordagem cultural e, quando a promovia, acabava
por ser superficial e por criar /ensinar estereótipos.
Por último, deverá ser verificado novamente o conhecimento sociocultural que os alunos
possuem e as atitudes perante os outros povos e a sua cultura. Se houver mudanç as de
comportamento, pressupõe-se que a aplicaçã o do programa é viável, não só do ponto
de vista metodológico, como pelos objetivos que propõe. Se não houver mudanças
observadas, poderá significar principalmente falhas no processo de ensino, provavelmente
devidas:
3
Departamento de Educação Bá sica ( 1995): Programas de Inglês - 3o Ciclo LE I e II, Lisboa,
Ministério da Educação.
4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO:
língua inglesa que incide sobre áreas temáticas específicas como a de ciências e a de
tecnologia. Tal como o próprio título indica, a preocupaçã o da autora incidiu sobre a falta
de professores formados para estes cursos de inglês.
Embora o estudo se revele inovador e executado com profundidade e rigor, ele é pouco
pertinente para o trabalho que pretendo realizar. A faceta sociocultural que se pretende
desenvolver no ensino básico e secundário não é incluída no role de objetivos para
estes cursos especializados. Contudo, questões levantadas nesta análise poderão servir
igualmente como objeto de exploração na minha dissertação, salvaguardando a devida
adaptação ao tema; são elas:
• A preparação dos professores.
• A relevância e adequação dos materiais.
•A pertinência das atividades desenvolvidas na sala de aula para os fins
desejados.
Apesar do meu projeto diferir deste estudo na medida em que se direciona para o modo
como a competência intercuiturai é potencializada no espaço de sala de aula e no ensino
básico, a consulta a esta tese auxiliar-me-á com algumas pistas organízativas para :
• a construção de um enquadramento teórico do tema;
• a observação de atividades de aula descritas como promotoras de uma formação
intercuiturai.
Instituiçõ es Professores
Instituto Britânico
Universidade do Minho
7. METODOLOGIA:
A ) Tipo de Investigação:
A investigação que mais se adequa a este estudo parece ser a qualitativa, pelas seguintes
razões:
•A aquisição de uma competência intercultural proposta nos novos programas
tem como fim uma mudança de comportamento. Se o fulcro da investiga ção é
captar como os alunos vã o encarando/ interiorizando as realidades que lhe são
apresentadas, tornar-se-á demasiado redutivo adotar um método unicamente
quantitativo, cujos instrumentos de recolha não só sã o incapazes de captar
vários aspetos do comportamento verbal e gestual, como também limitam a
espontaneidade e diversidade de opiniões.
B ) Instrumentos:
Com o intuito de analisar o conhecimento prévio dos alunos e bem como o conhecimento
posterior à abordagem sociocultural, pretendo elaborar questionários de perguntas
fechadas construídos de acordo com uma seleçã o de indicadores que proporcionem a
captação das atitudes que pretendo analisar.
E ) Procedimentos:
Os procedimentos a seguir estão delineados no ponto três: "Questões e Objetivos da
Investigação" e nas alíneas anteriores a esta e que estã o enquadradas na Metodologia.
8. DEFINIÇÃO DE TERMOS:
* Programa; Curr ículo; Cultura; Competência; Competência Comunicativa;
Competência Linguística; Competência Sociolinguística; Competência
Sociocultural; Competência Intercultural; Estereótipos; Estereotipagem;
Interculturalidade.
A) AO TEMA:
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1990 Aspects of Language Teaching, Oxford, Oxford University Press.
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1956 Language, Thought and Reality, Boston, M.I.T. Press.
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1993 Représentations de Pétranger et didactiques des langues, Paris, Didier.
1986 Enseigner Une Culture Etrangère, Paris, Hachette.
B ) À METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃ O:
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1994 Mixing Methods: Qualitative and Quantitative Research, Aldershot, Avebury,
COHEN, L; MANION, L.
1992 Research Methods in Education, Nova Iorque, Routledge.
ESTRELA, A .
1986 Teoria e Prática de Observação de Classes - Uma Estratégia de Formação de
Professores, 2o ed.,Lisboa,I.N.I.C.
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s.d. Curso de Estatística, Lisboa, ISCSPU.
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1987 Estatística Aplicada a Ciências Humanas, S. Paulo, Harper and Row do Brasil.
PATTON, M.
1987 Qualitative evaluation and research methods, 2a ed., Newbury Park, Sage
SILVERMAN, D.
1993 Interpreting qualitative data: methods for analysing talk, text and interaction,
Londres, Sage.
10. CALENDARIZAÇÃO:
• Trabalho Exploratório: outubro, novembro, dezembro.
• Problemática e Construção do Modelo de Análise: janeiro e fevereiro.
• Observação: fevereiro e março.
• Análise das Informações: abril, maio e junho.
• Conclusão: julho e agosto.
INTRODUÇÃO
Porém, e uma vez que desde há doze anos temos mantido, por via de relações de amizade
muito estreitas e de viagens frequentes, contactos com Espanha, país que para nós
sempre significou "bom vento" não obstante a imagem que nos foi transmitida por um
orientado ensino da História encerrar alguns preconceitos que retiram objetividade aos
factos, mudámos o rumo e começou a germinar a ideia de analisarmos as características
da imigração cabo-verdiana neste país.
1. Título (provisório )
2. Definiçã o do Problema
Este afastamento físico não é sinónimo de afastamento total; por regra o cabo-verdiano
continua muito ligado à sua terra natal. Expressão do apego que os cabo-verdianos têm
à sua terra é o grande peso que as remessas dos emigrantes têm na economia do país.
4
Meintel, Deirdre. Race, Culture, and Portuguese Colonialism in Cabo Verde, Syracuse University,
New York, 1984.
e muitas vezes explorada de forma algo inconsciente pela própria imprensa, através de
notícias que punham em destaque a origem étnica de quem cometia os desacatos.
Lugo - pescadores.
O fator tempo, aliado a outros de n ã o menos importância, não nos permite debruçarmo-
-nos sobre todos os núcleos a que nos referimos. Assim sendo, optámos por direcionar o
nosso trabalho para a comunidade cabo-verdiana de EI Bierzo, zona situada no noroeste
da província de León, núcleo constituído na sua quase totalidade por mineiros e analisá-
-la na perspetiva da sua adapta ção à sociedade recetora, ou seja, pretendemos saber
quais as formas e percursos de integração destes imigrantes nos núcleos em que estão
inseridos. Esta delimitaçã o do objeto de estudo também tem a ver com o facto de estar
a ser elaborada tese sobre os cabo-verdianos residentes em Laciana (leste da província)
por uma investigadora espanhola.
5
Aragon Bombin, Raimundo "Hacia una política ativa de Inmigración',
' in Revista de Economia y
Sociologia, n 11, p. 101, Madrid, março 1991.
°
© Universidade Aberta 269
Anexos
Obviamente que estes modelos não se esgotam em $i próprios, pelo que na prática
coexistirão, por vezes, elementos de ambas as perspetivas. A inserção das comunidades
imigrantes, passa, assim, pelo maior ou menor envolvimento desses grupos no seio
da sociedade recetora e pela rejeição/aceitação/adaptação dos valores dessa mesma
sociedade. A integração plena - podendo isto significar concomitantemente a preserva ção
dos valores de origem e a adaptação dos da sociedade recetora - depende, em larga
medida, do primeiro impacto, da predisposição em assumir essa integração e, nã o menos
importante, das razões que motivaram a saída: no caso em análise a imigração é na sua
totalidade económica, logo, forçada e motivada pela procura de melhores condições de
vida.
Ao pretendermos, com este estudo, analisar os sistemas de integra ção dos imigrantes
cabo-verdianos da zona de EI Bierzo, província de León, pretendemos, concomitantemente,
avaliar o grau de integração percebido por essa mesma sociedade, através de indicadores
vários, como sejam:
Educativa - Duas citações dão conta da extrema importância desta variá vel no
processo de adaptaçã o dos imigrantes ao meio que os acolhe:
" (...} alguns estudos têm demonstrado que entre as variáveis consideradas; o nível
de instrução parece ser aqueie factor que mais influencia o estatuto ocupacionai, a
mobilidade social e o rendimento dos migrantes';6
6
Rocha-Trindade, Maria Beatriz, Sociologia das Migrações, p. 102, Universidade Aberta, Lisboa,
1995.
Qual o nível de instrução dos imigrantes? Quais os mecanismos (a existirem) que permitem
a igualdade de acesso à educaçã o e o colmatar das diferenças sociais a que, por natureza,
os imigrantes estão sujeitos?
4. Relevância do Estudo
Alguns dos núcleos que compõem a diá spora cabo-verdiana têm sido, ao longo dos anos,
objeto de análises sociológicas, antropológicas e linguísticas. No que diz respeito a Espanha
não foi feito nenhum estudo global e aprofundado desta comunidade migrante.
7
Jesus, Maria de Lourdes, Marzot, Mario, et all, Capo Verde, Una Storía Lunga Died Isole,
.
D'Anselmi Editore, Milano, 1989
8
Numa das nossas passagens por Espanha contactámos os dirigentes de uma Associação
Caboverdeana da zona de León que nos deram conta dum projeto de alfabetização de adultos
(portugueses e caboverdeanos) a ser apoiado pelo governo português.
9
Matos, Ana Maria Saint-Maurice Correia de, Reconstrução das Identidades no Processo de
. .
Emigração A População Caboverdiana Residente em Portugal Tese de Doutoramento, ISCTE,
Lisboa, 1994.
Dado o escasso tempo para levar a efeito esta investigação e a dispersão geográfica da
imigraçã o cabo-verdiana em Espanha, seria utópico pensar em termos de caracterização
de "toda " a comunidade cabo-verdiana residente em Espanha. Nesta ótica, estamos em
crer que a investiga ção em curso permitirá aprofundar os conhecimentos já obtidos em
estudos anteriores (embora noutra perspetiva) sobre a emigração cabo-verdiana para
León e, consequentemente, compará -la com outras correntes migratórias cabo-verdianas,
desigradamente aquelas sobre as quais existe informação qualitativa e quantitativa. A
outro nível poderá servir de contributo para futuros estudos que venham a realizar-se
com outros núcleos migratórios cabo-verdíanos, nomeadamente aqueles a que fizemos
referência.
5. Revisã o da Literatura
No que se refere à bibliografia sobre o tema e aos dados disponíveis sobre o número
de cabo-verdianos residentes em Espanha, poem-se, à partida, dois tipos de problemas
que têm a ver com a delimitação, quer seja do número, quer seja das características da
imigração cabo-verdiana neste país:
a) Algumas obras referem-se à imigração portuguesa e à cabo-verdiana
indistintamente;
b) Nos dados oficiais sobre imigração, Cabo Verde é, em algumas rubricas, colocado
na categoria "Resto de África".
No que concerne aos movimentos migrató rios para a província de León, também é comum
agregarem-se os cabo-verdianos, quer seja aos portugueses, quer seja ao "Resto de
Á frica".
Nã o obstante este pequeno "obstáculo", e tanto quanto pudemos apurar até ao momento,
não há nenhuma tese que verse este tema. Existem, isso sim, dois artigos - "Inmigrantes
Caboverdeanos en EI Bierzo" ( Polígonos, Revista de Geografia, n° 4, pp. 99 -105),
escrito em 1994 por Carlos Aranda Vasserot, em que o autor faz uma breve abordagem
das diferentes fases da chegada de imigrantes cabo-verdianos a León, as atividades
desenvolvidas por estes, sua procedência e a trajetória que habitualmente fazem até
chegarem a León; "Portugueses y Caboverdianos en Espana" (Estúdios Geográ ficos,
n 210, pp. 75 -96), escrito em 1993 por Lorenzo Lopez Trigal e Ignacio Prieto Sarro,
°
docentes e investigadores do Departamento de Geografia da Universidade de León, os
quais fazem igualmente uma análise das características da imigraçã o portuguesa em
Espanha, considerando-a semelhante à cabo-verdiana no que diz respeito ao percurso,
ocupaçã o, etc. -. Da autoria de Lopez Trigal, existe igualmente um livro, cujo título, La
Relacionado com o tema em estudo existe bibliografia variada, a qual será objeto de
análise atempada, quer seja em Portugal, quer em Espanha.
6.1 ESPANHA
• Imigrantes Cabo-verdianos;
• Consulado de Cabo Verde em Madrid;
• Biblioteca Nacional (Madrid);
• Associa çõesCulturais e Recreativas de Cabo-verdianos em León,
nomeadamente:
- Associação Cultural "Amílcar Cabral" Bembibre, León;
- Associação Cultural "Los Unidos de Cabo Verde", Villablino, León;
6.2 PORTUGAL
• Embaixada de Cabo Verde em Portugal;
• Instituto Cervantes (Lisboa);
• Centro de Documentaçã o da Universidade Aberta;
• ISCSP;
• ISCTE;
7. Metodologia
2 - Entrevistas:
b) Patrões, empresários;
c) Trabalhadores emigrantes e colegas;
d) Habitantes da comunidade;
e) Professores (embora o trabalho se centre nos sistemas de integraçã o da popula ção
adulta, pretendemos abordar igualmente a integração da 2 a geraçã o e os aspetos
ligados à aprendizagem do castelhano).
8. Operacionalização de conceitos
• Cabo-verdiano
• Assimilação
• Aculturação
• Marginalização
• Imigrante
• Integra ção
IZQUIERDO ESCRIBANO, A .
1991 "La Inmigración Ilegal en Espana", in Economia y Sociologia dei Trabajo,
n° 11, març o, (pp. 18-38).
1996 La Inmigración Inesperada, Madrid, Editorial Trotta,
ROCHA-TRINDADE, Ma Beatriz
1995 Sociologia das Migrações, Lisboa, Universidade Aberta.
SILVESTRE, Alda
1994 Cabo Verde na Rota da Internacionalização, s/l, Grupo de Cooperação de
Língua Portuguesa do Instituto Internacional de Caixas Econ ómicas.
TODD, Emmanuel
1996 £7 Destino de Los Inmigrantes. Asimiiación y Segregation en tas Democracias
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BRYMAN, Alan
1988 Quantity and Quality in Social Research, Routledge, Londres e Nova Iorque.
GRAWITZ, Madeleine
1984 Méthodes des Sciences Sociafes, Paris, Dalloz.
.
set /out / nov /96 Universidade de Granada Pesquisa bibliogr á fica e recolha de
informações - com apoio de docentes
e investigadores do Laborat ório de
Relaciones Interculturales - red
migradones y educadón
.
1 O TEMA EM ESTUDO
2. PROBLEMATIZAÇÃO
Adentro do contexto migratório, o fenómeno da inserção dos migrantes tem sido objeto de
estudos clássicos. Por outro lado, o estudo do processo de inserção dos migrantes forçados,
denominados como refugiados, nomeadamente para a Europa Ocidental, não tem tido a
mesma projeção. No entanto, face ao cada vez maior número e variedade étnico-cultural
dos candidatos ao asilo e dos refugiados reconhecidos, tem vindo a aumentar sobre eles a
pesquisa, muito em especial de natureza política e jurídica, permanecendo em aberto um
vasto campo para abordagens de natureza socioantropológicas consideradas essenciais
para um mais completo conhecimento do fenómeno.
Reconhecidas as causas forçadas que motivaram estas deslocações, coloca -se a questão
de averiguar como se desenvolve o processo da sua inserção nas sociedades recetoras e
até que ponto os antecedentes involuntários que as produziram são determinantes nas
fases subsequentes dos respetivos percursos.
Em Portugal, país com uma vasta experiência ( e)migratória e crescente convivência (i)
migratória, o fenómeno das migrações tem vindo a constituir uma base de trabalho
solidamente estabelecida que suscita um interesse constante e permite a inovaçã o
na sua abordagem científica. Embora tenham aumentado os estudos sobre a situação
dos imigrantes residentes no país, a questão do percurso migratório dos refugiados na
sociedade portuguesa nã o tem merecido significativo interesse, permanecendo assim
em claro o apuramento de situações e problemas que se ligam à sua inserção, que não
é certamente idêntica à dos imigrantes de tipo económico.
3. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO:
.
1 Percursos migratórios dos refugiados em Portugal:
• motiva ções de partida;
• itinerários de inserção;
• expectativas de fixação ou de regresso.
.
2 Deteção das dificuldades de inserção decorrentes de agentes internos e/ou externos
aos refugiados:
• circunstâncias e motivações pessoais em que ocorre o refúgio;
• reagrupamento familiar;
• "choque de culturas";
• não reconhecimento das competências académicas e profissionais adquiridas no
país de origem;
.
3 Dificuldades expressas pelos refugiados na sua inserção em Portugal.
.
4 Estratégias de sobrevivência desenvolvidas pelos próprios.
4. OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO:
.
1 Obter elementos que contribuam para a fundamenta ção teórica do fenómeno,
permitindo aprofundar o conhecimento sobre esta realidade social.
.
2 Desenvolver um trabalho que revista um duplo interesse:
a) para as entidades oficiais e privadas (ONG's);
5. RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Citando Anthony Richmond, pode afirmar-se que a inserção dos refugiados constitui uma
matéria pouco estudada.
" When questions of absorption in receiving countries are considered, the experiences
of refugees are rarely distinguished from those of economic migrants." (Richmond,
1988, p. 9).
Ideia reafirmada por Danièle Joly e Robin Cohen (1989, p . 6) que dizem a este
respeito:
"Refugees are subject to a different regime from that of immigrants both in respect of
admission and settlement. Little theoretical work has been developed to understand
the differences and similarities of refugees and immigrants."
A temática proposta foi identificada pelo European Research Forum on Migrations and
Ethnic Relations como um dos assuntos relevantes de análise no contexto dos "(...)
Impactos da Crise Mundial dos Refugiados (...)", sendo no seu âmbito uma das áreas que
oferece maior interesse a da integração. (Rocha-Trindade, 1995, p. 290).
Não pode, no entanto, deixar de se apontar ainda o facto dos refugiados se estarem a
transformar num paradigma para a avalia ção da sociedade em que vivemos. Richmond
(1992) coloca esta questão em termos da Nova Ordem Mundial, considerando determinantes
as variá veis Estado, Violência, Globaliza ção e Direitos Humanos, que relaciona entre si.
Como resultado do confronto entre estas variá veis e as suas contradições está -se perante
um número cada vez maior de pessoas que não têm direito a "status de refugiado" e
passam a ser, nas palavras de um responsável da ONU, citado por Richmond (1992, p.
19) non-persons (...) subject to exploitation or racial antagonisnf . Isto é, em
nossa opinião, pessoas a quem quase é retirada a condição de ser humano, pela falta de
reconhecimento de direitos, regalias e dignidade que lhes deveriam ser inerentes.
Neste contexto, qual a política de inserção existente em Portugal para o Asilo e para
o Refúgio? Com que base de trabalho operam aqueles que lidam com estas questões?
íade " PODER, DEVER E QUERER' (Rocha -Trindade, 1996, p. 44) encerra o difícil
A tr
equilíbrio entre pessoas e os que por se encontrarem tantas vezes sem direitos, quase
poderiam ser designados, ainda que simbolicamente, por «não-pessoas». Cremos que o
contributo deste trabalho possa ser relevante em termos de conhecimento teórico e em
aplicações sociais de natureza prática.
6. REVISÃO DA LITERATURA
A revisão da literatura que se segue é o fruto das primeiras leituras feitas com base
numa seleçã o bibliográfica especializada em curso. Procurou-se seguiras seguintes pistas
tem á ticas: migra ções forçadas (ou involuntárias), refugiados, inserção (abordando as
facetas da integraçã o, acultura ção, adaptação), contextualizadas nos Estados Unidos,
no Canadá e na Europa, e muito em especial, em Portugal. Desta forma, o objetivo
será enquadrar o tema do ponto de vista teórico-conceptual, comparando socialmente a
situa ção entre Portugal e os países com situações semelhantes, no quadro da respetiva
inserção geográ fica.
Por sua vez, o conceito de emigração é, em Rocha-Trindade (1995, p. 31), " (...) deixara
pátria ou a terra própria para se refugiar, trabalhar temporariamente ou estabelecer
residência em país estranho Esta definição enumera '"refugiar" como um ato
de migração, sendo as motivações de ordem "política" e de "emergência", procurando
desta forma destrinçar o conceito de asilado político do conceito mais abrangente de
refugiado no sentido coletivo em que as causas são mais vastas, exemplo de guerras,
fome, terramotos, etc.
Estas duas obras de referência (Jackson, 1991 e Rocha-Trindade, 1995) não aprofundam
a problemática dos refugiados em particular, exceto nos aspetos legais, caso do último
trabalho referido.
Trabalho pioneiro sobre a imigração em Portugal, o coordenado por Maria do Céu Esteves
(1991), não se refere aos refugiados sen ão através da enumeração dos dispositivos legais
que sancionam a sua entrada e estadia.
Num trabalho recente, Pena Pires (1993, p. 183) referindo-se também à imigração
em Portugal, indica a migraçã o de refugiados como " ( ) direct result of political
changes, in many cases accompanied by conflicts of ethnic or religious nature, and
by implying that the actors freedom is restricted as regards the decision to migrate
associando à situação portuguesa a presença de refugiados políticos de origem angolana
e moçambicana.
A relação entre condicionantes estruturais e escolhas individuais situa -se num continuum
que engloba fatores económicos, passando pelos ecológicos até aos puramente políticos.
A questão de migra ção voluntária e involuntária não é fácil de caracterizar nem de
contrastar. Para operacionalizar a sua análise, Richmond (1988, p. 17), idealiza dois
conceitos: migração "proactive" (próativa) e a migraçã o "reactive" (reativa). A primeira
situa ção - "proactive" ocorre quando:
"Under certain conditions, the decision to move may be made after due consideration
of all relevant information, rationally calculated to maximize net advantage, including
both material and symbolic rewards".
«(...) the decision to move may be made in a state of panic facing a crisis situation
which leaves few alternatives but escape from intolerable threats».
Entre estes dois extremos, muitas das decisões dos migrantes "económicos" e "políticos"
são respostas " difusad' no continuum já referido, caracterizado pela dinâmica relacional
entre quem promove as situações e quem atua em resultado delas.
Quarto a Joly e Cohen em trabalho introdutório ao livro que editam em 1989, apontam
interessantes pistas para uma abordagem do percurso migratório. Embora considerando
limitado o modelo "Kinet" de Kuntz (tal com Richmond), consideram que o conceito de
"pull-push" pode ter uma utilidade, nomeadamente nas atitudes subjetivas e opiniões
pessoais. Chamam a atençã o para o facto de muitos refugiados não desejarem sair e os
efeitos ou circunstâncias traumáticas da saída que podem afetar a sua inserção, referem
ainda as expectativas do regresso e o modo como a perceção da sua estadia (tanto
temporária como definitiva) poderá afetar também a respetiva inserção, nomeadamente
se estes desenvolvem uma atividade de militância política tendo em vista a mudança do
país de origem.
Entende-se dever referir ainda dois trabalhos de autores portugueses sobre a situação
dos refugiados.
Trata -se do único trabalho apurado até ao momento sobre a inserção de refugiados desta
nacionalidade. As conclusões em relação ao nosso país nã o são de todo positivas, pois
as suas políticas de receção estão, na opinião do autor, menos desenvolvidas que em
Espanha. Em relação ao processo de integra ção, os indicadores de dificuldades utilizados
são: tratamento de documentação, procura de trabalho, racismo/ exploração, equivalência
de títulos e outras.
7. METODOLOGIA
b) pesquisa de campo.
Estando afeto ao Centro de Estudos das Migrações e Rela ções Interculturais { CEMRI),
terei acesso às redes europeias de que este Centro é parceiro com Universidades que
têm importante trabalho desenvolvido nesta temática. Exemplo de redes em que o
Centro tem trabalho desenvolvido são: ERASMUS, SOCRATES, TEM PUS E ARION.
São informa ções que nã o podem ser obtidas de outro modo e que requerem um grande
cuidado por parte do investigador, de modo a não selecionar de forma sectária ou
enviesante o conjunto de informadores que irá entrevistar.
Para além do exposto, será elaborado um conjunto de questões que serão introduzidas
de modo mais formal nos "guiões de entrevistas", aos quais se pretende, no entanto,
conferir um caráter aberto.
Quanto à seleção dos entrevistados; que constituirão a «amostra», são por demais
conhecidas as dificuldades inerentes à sua constituiçã o quando o estudo se centra sobre
populações migrantes. O fenómeno da clandestinidade e a salvaguarda da privacidade
individual deste tipo de população conduz à inexistência de estruturas de amostragem
ou, quando existam, torna difícil o acesso à sua consulta.
2. idade;
Estes critérios são relativos. Ao longo do trabalho, face aos contactos efetuados, a situa ção
de escolha (a definir na primeira parte do trabalho) será otimizada.
Os conceitos que vamos definir devem ser considerados como operatórios. As pesquisas,
leituras e críticas que vão ser feitas permitirão reavaliar as ideias agora expostas. O autor
Selim Abou foi intencíonalmente utilizado, pela clareza da sua exposição e pertinência
dos conteúdos que integram os conceitos que elabora .
9. EVENTUAIS LIMITAÇÕES:
Um estudo sobre as experiências de vida dos outros é também uma reflexão sobre a
própria vida por parte do investigador, um estado descrito por Morris (1995) como de
No plano do contacto pessoal com os refugiados não pode deixar de ser mencionado o
fator comunicação, nomeadamente com os refugiados mais recentes - quer em relação
ao seu domínio do Português, quer no domínio que o investigador tem da sua língua .
As limitações apontadas são mais prementes quando de momento ainda não se sabe onde
se irá ser colocado no próximo ano letivo. Este fator, a definir até setembro do corrente
ano de 1996, irá determinar em parte o local de trabalho e a disponibilidade horária. De
qualquer forma, a localizaçã o da atividade laborai (em caso de colocação) situar-se-á na
área da grande Lisboa - região onde se concentra a esmagadora maioria dos refugiados,
segundo indicações de uma entidade oficial contactada.
- leitura cr
ítica da disserta çã o julho 97
Colaboradores - passagem final no computador agosto 97
- Má quina fotográ fica (?) - registo fotográ fico (?) jam - mar ço 97
Dados de
Entrevistas a
Informantes
estrutura
qualificados
Elaboraçã o de
entrevistas
semidirigidas
Tabalho de campo,
Dados de
entrevistas e
din âmica contactos
15
Relatório de progresso
Tratamento de dados
Redação final
11. BIBLIOGRAFIA
CARMO, Hermano
1995 Métodos de Investigação — Bioco I / Mestrado em Relações Interculturais,
apontamentos.
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°
1992 Sociological Perspectives on Refugees Movements. Migration Trends in the
90's: Old Themes, New Issues; Lisbon, 6 - 8 April (policopiado).
De momento listam -se aqueles que parecem ser alguns dos materiais recolhidos mais
relevantes:
RICHMOND, Anthony H.
1994 Global Apartheid Refugees, Racism, and the New World Order, s. ed., Toronto,
New York, Oxford, Oxford University Press.
RUTTER, Jill
1994 Refugee Children in the Classroom, London, Trentham Books.
1. OBJETIVO DA INVESTIGAÇÃO
É significativa a presença nas Escolas primárias dos concelhos do sul do Tejo (Almada
e Seixal) de alunos provenientes de populações etnicamente minoritárias e socialmente
desfavorecidas.
Compete aos professores desses alunos promover, no âmbito dos objetivos e dos princípios
orientadores do sistema educativo, as estratégias e atividades pedagógicas que visem a
educa ção para os valores da tolerância, do diálogo e da solidariedade entre as crianças
das diferentes culturas e etnias, na valorização e consideração do direito à diferença.
O nosso estudo propõe interessar-se pelos professores do Io ciclo do ensino básico das
escolas dos concelhos de Almada e Seixal que têm turmas com crianças das minorias
étnicas. Vamos efetuar uma pesquisa quantitativa de investigaçã o primária, para, através
dela, conhecermos as representações daqueles professores relativamente a preconceitos,
imagens e atitudes, positivas ou negativas, que tenham em relação à s crianças que
estiveram ou estão atualmente nas suas salas de aula.
O termo "representaçã o " foi tomado pelos pedagogos para ser utilizado no sentido
lato de teorias implícitas, conhecimentos comuns, conhecimentos práticos, raciocínios
espontâneos, pré-modelos, pré- conceções, conceções espont â neas... Trata-se de
conhecimentos e regras de a ção que indivíduos ou grupos elaboraram à luz da sua vivência
direta ou indireta (influência dos média), do significado que deram aos acontecimentos,
aos fenómenos, aos conceitos. O ambiente cultural exerce uma forte influência em todos
os indivíduos, inclusive nos professores.
Algumas questões são suscitadas nas escolas frequentadas por essas minorias étnicas,
como, por exemplo, como é que se processa a rela ção na sala de aula ao nível dos alunos
e das suas diferenças? Em que fatores se baseiam as expectativas dos professores? Como
é que o professor constrói e forma pontos de vista sobre os alunos? Quais os critérios
em que o professor se baseia para fazer a apreciação cognitiva e socioafetiva dos seus
alunos e, designadamente, dos alunos das minorias étnicas?
A justificação da relevâ ncia deste estudo será a de evidenciar a import â ncia das
representações dos professores em relação aos estratos sociais dos seus alunos e,
obviamente, na construção de práticas sociais. Foi evidente para todos nós adultos,
quando estivemos em situação de alunos, que os nossos professores possuíam alguns
estereótipos daquilo que eles consideravam "bons alunos" ou "maus alunos" e que era
muito mais difícil eles aceitarem que um "mau aluno" um dia pudesse obter uma boa
avaliação, do que justificarem que um dia um "bom aluno" derrapasse para uma episódica
má classificação.
Estas vivências, baseadas nas representações sociais dos professores, são o dia a dia
das nossas escolas.
Segundo Isabel Guerra, as pesquisas têm concluído que os professores formam uma
imagem do aluno nas primeiras semanas e que a imagem, depois, é bastante estável. A
variável classe social e grupo étnico parecem ser duas variáveis fundamentais na formação
dessas imagens.
Este estudo foi limitado a professores do Io. Ciclo do ensino básico (antes designado por
escola primária). Limita-se a professores deste ciclo porque é lugar comum a sociedade
dizer que têm o papel importantíssimo de preparar os alunos com a formação de base
necessária para uma adequada inserção social, num tempo de mudanças e de dimensão
pluriétnica e pluricultural.
Dentre as escolas do Io. eido, este projeto de pesquisa limita-se a estudar as representações
dos professores em apenas dois concelhos do distrito de Setúbal ( Almada e Seixal).
Estas variá veis foram consideradas de interesse, na medida em que podem permitir
determinar os seus efeitos na relaçã o entre os professores da amostra e a presença de
minorias étnicas nas suas escolas.
MINORIAS ÉTNICAS - grupos minoritários no país de acolhimento, que possuem uma raiz
cultural comum, história, mitos e memórias e que partilham um sentimento de unidade.
0HORTA, Ana Paula Beja - Diversidades Culturais - MRI 94 - 95)
POPULAÇÃO - ( conceito estatístico) - conjunto de elementos de que se quer conhecer
ou investigar alguma ou algumas das suas características. (INCHAUSTI, 1975, p. 65)
ou,
ou,
2 . REVISÃO DA LITERATURA
Os Professores Jorge Vala, Maria Beatriz Rocha-Trindade e Ana Maria Saint-Maurice Correia
de Matos também têm de ser referenciados nesta revisão da literatura; o primeiro pela
investiga ção que tem desenvolvido no campo das representações, sobretudo no estudo da
representação social da violência, e as segundas no estudo das migrações, das minorias
étnicas, da identidade social destas, e das relações étnicas.
3. PROCEDIMENTOS
3.1.1 - Entrevistas livres exploratórias a seis professores com vivências relacionadas com
o problema suscitado.
3.1.4 - Construção do questioná rio definitivo com base na interpretação dos dados
resultantes da aplicação do pré-questionário.
Foi feita depois uma análise do conteúdo do registo das entrevistas que serviu de base
à construção dum pré-teste com 72 questões, obedecendo aos normativos habituais
para este tipo de instrumento de pesquisa: a prepara ção, a formulação e a redação das
perguntas.
A atividade de testagem que se lhe seguiu foi a da aplica ção do pré-questioná rio a 20
indivíduos selecionados aleatoriamente, todos professores do l.° ciclo, colocados em
escolas fora dos concelhos de Almada e Seixal, mas com idêntica caracterização no que
respeita à frequência de minorias étnicas.
3.5. Validade
A validade interna do estudo foi assegurada por uma forma de validaçã o operacional,
baseada no coeficiente de homogeneidade.
Para o tratamento dos dados foi escolhida uma prova estatística que, no caso deste
estudo, foi uma prova estatística não paramétrica; para a aplicação dessa prova usou-se
um programa de computador (Statgraph).
3.7. Calendariza çã o
- Execução do plano de recolha, aná lise e tratamento dos dados (193 junho/julho
professores)
- Prepara ção do relatório da pesquisa (redação dos resultados, conclusões set./ out.
e recomendações)
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UNIVERSIDADE ABERTA
I H
UNIVERSIDADE
09
ISBN: 978 -972- 674-759- 8