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POLÍTICA SOCIAL
Formas de actuação
no contexto europeu
POLÍTICA SOCIAL
Formas de Actuação no Contexto Europeu
Universidade Aberta
2008
© Universidade Aberta
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JOSÉ ANTÓNIO PREIRINHA
Nascido em 1951, em Lisboa, fez os estudos secundários no Liceu Passos Manuel e no Liceu Padre
António Vieira. Concluiu a licenciatura em Economia em 1973, no Instituto Superior de Economia (actual
ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa. Obteve, em 1988, o grau académico de Doctor of Philosophy
in Development Studies no Institute of Social Studies, em Haia (Holanda), reconhecido como grau de
doutor pela Universidade Técnica de Lisboa. Obteve, em 1995, o título de Agregado em Economia pela
Universidade Técnica de Lisboa.
É Professor Catedrático do Departamento de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão
(ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL). É actualmente o Presidente do Conselho Científico do
ISEG/UTL. Foi Presidente do Departamento de Economia do ISEG e Presidente do Centro de Investigação
sobre Economia Portuguesa (CISEP), no ISEG/UTL. Exerce actualmente funções de Presidente do Conselho
Consultivo do Instituto de Segurança Social, I.P.
Exerceu funções técnicas como economista no Ministério do Trabalho (Gabinete de Estudos e
Planeamento) e no Ministério das Finanças e do Plano (Departamento Central de Planeamento, actual
Departamento de Planeamento e Prospectiva, onde foi Chefe de Divisão). É professor universitário
em exclusividade desde 1990. Tem leccionado disciplinas de licenciatura e de mestrado, nas áreas da
teoria económica e da política económica e social. É actualmente o coordenador da unidade curricular
Fundamentos da Política Social, do 2º ciclo (mestrado de Análise de Política Social) do ISEG/UTL. Foi
durante vários anos o coordenador do Mestrado em Economia e Política Social, no ISEG/UTL, tendo
orientado várias dissertações de mestrado e teses de doutoramento nas áreas da distribuição do rendimento,
desigualdades sociais, pobreza e exclusão social, segurança social e análise de políticas sociais.
Tem feito investigação, coordenado equipas de investigação e publicado nas áreas da análise das políticas
sociais, desigualdades do rendimento, pobreza e exclusão social. Nos anos mais recentes tem trabalhado
na investigação nos seguintes domínios: história do Estado-providência em Portugal, problemática do
envelhecimento e segurança social, pobreza numa perspectiva de género, indicadores sociais, política social
numa perspectiva de análise comparativa.
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Política Social: formas de actuação no contexto europeu
7 Introdução
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153 6. Avaliação dos efeitos redistributivos das políticas sociais
157 O rendimento disponível das famílias
160 Rendimento disponível mercantil e operações de redistribuição
165 Efeito redistributivo da despesa pública
167 Progressividade das actuações das políticas públicas
169 Decomposição do índice de Gini
173 Efeito redistributivo das transferências na União Europeia
175 Efeito das transferências sobre a redução da pobreza
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Introdução
Este livro vai ocupar-se da análise da Política Social nas suas formas concretas de actuação nos países
da União Europeia. Confunde-se assim com a análise do funcionamento dos Estados-providência, tal
como se configuram na actualidade no conjunto destes países. Trata-se, assim, de observar a realidade
da actuação dos Estados na sua finalidade de promoção e garantia de direitos sociais, na diversidade que
tais actuações assumem na actualidade em termos de objectivos, instrumentos e modos organizativos
e processuais de decisão. Mas também em termos de resultados que decorrem dessa actuação, das
restrições que se colocam à sua eficácia e das vulnerabilidades que os sistemas nacionais de garantia
de direitos sociais defrontam actualmente na sua sustentabilidade. Pressupõe um conhecimento dos
fundamentos económicos e normativos para a actuação do Estado, mas orienta-se agora para a sua
actuação concreta, tal como a podemos encontrar no que actualmente se designa como modelo social
europeu.
Pretende-se que, no final da leitura deste livro, os leitores tenham alcançado os seguintes objectivos
principais: i) conheçam o âmbito e as formas de actuação das políticas sociais dos Estados europeus,
a sua diversidade actual nos vários regimes de Estado-providência que actualmente caracterizam o
espaço europeu, os diferentes níveis, nacional e supranacional, em que essas políticas são preparadas,
executadas e avaliadas, ficando habilitados a discutir o significado actual da Política Social Europeia;
ii) conheçam a diversidade de actores de Política Social que actualmente caracterizam a actuação dos
Estados-providência, a sua natureza de welfare pluralism com um crescente peso, em articulação com o
Estado, do sector privado lucrativo e das organizações do chamado “terceiro sector”; iii) conheçam as
características dos sistemas de protecção social, com particular destaque para os sistemas de pensões,
em termos dos princípios em que assentam o seu funcionamento (repartição e capitalização, sistemas
multi-pilares de organização dos sistemas) e das formas que têm assumido as suas progressivas
transformações, desde as suas origens até às reformas que têm tido nos tempos mais recentes; iv)
consigam integrar, num quadro de discussão teoricamente bem fundamentado, os actuais problemas
sociais no espaço europeu com as tendências que a Política Social têm vindo a ter, as reformas que têm
vindo a ser pensadas e concretizadas, e os desafios que se colocam actualmente a esses sistemas.
O livro está estruturado em seis capítulos que pretendem cobrir, na sua globalidade, os objectivos
atrás enunciados. Inicia-se com um capítulo (capítulo 1) dedicado ao conceito de Estado-providência,
que necessita de clarificação prévia dado o carácter central que vai assumir ao longo do livro. Trata-
-se de um conceito de origem europeia, historicamente localizado, mas com diversidades actuais que
radicam, em grande medida, nas diversas condições sociais, económicas e políticas em que surgiram
e se difundiram no espaço europeu. É portanto necessário que o livro se inicie com uma perspectiva
histórica relativamente à origem das formas actuais de actuação do Estado na provisão de bem-estar
social, bem como dos processos de difusão dessas modalidades de intervenção até às suas formas
actuais.
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nacionais, as dimensões sociais da construção europeia foram tendo uma evolução em que se formaram
diversos níveis de intervenção política na formulação das políticas sociais, destacando-se claramente
os níveis nacional (dos Estados Membros, responsáveis pela preparação e execução das políticas) e
o nível supra-nacional (da Comissão Europeia e das várias instâncias do poder na União) em que se
definem estratégias e se formam linhas de orientação que marcam a Política Social e as formas de
actuação dos Estados-providência nacionais. É fundamental ter-se esta visão integrada em termos da
Europa da UE-27, observando a evolução da Política Social Europeia (conceito que deve ser discutido)
e as sucessivas fases de alargamento que vieram tazer, para a União Europeia, uma riqueza muito
significativa de formas e modalidades de intervenção dos Estados em Política Social.
Dedicaremos o capítulo seguinte (capítulo 4) ao pluralismo dos actores e ao papel do welfare mix
na actualidade. Nas sociedades contemporâneas, designadamente nos países europeus, assiste-se a
formas de pluralismo providencial (“welfare pluralism”) envolvendo, na provisão do bem-estar, formas
variadas de articulação dos três sectores da Política Social: o Estado, o Mercado e o “Terceiro Sector”,
ou sector da economia social. Não pode analisar-se a Política Social sem se terem em consideração
estas formas de welfare mix, em que os vários sectores têm uma lógica própria de intervenção, cuja
contribuição conjunta assume formas diferenciadas nas várias sociedades europeias e têm, também,
tido uma evolução no sentido do seu progressivo desenvolvimento. A par de alguma justificação
teórica para a existência do sector de economia social, apresentar-se-á informação sobre a dimensão
económica deste sector, quer ao nível mundial quer ao nível europeu e, em particular, em Portugal,
destacando-se as funções que desempenham e as lógicas distintas que apresentam e a lógica da sua
articulação em Política Social.
O capítulo seguinte (capítulo 5) será dedicado à protecção social. Uma área central de actuação dos
Estados-providência é a proteccção contra riscos sociais, cuja justificação económica e normativa
foi analisada noutra ocasião. A segurança social, em particular as pensões de velhice, absorvem uma
parte significativa do orçamento social dos Estados europeus. É também relativamente à possibilidade
económica de garantir direitos sociais de protecção contra estes riscos sociais que se questiona a
sustentabilidade dos Estados-providência actuais. E também, devido à necessidade de o assegurar, que
os Estados nacionais têm procurado reformar os seus sistemas, e os organismos internacionais têm dado
orientações que suportam, ou impulsionam, algumas dessas reformas. Neste capítulo retomaremos o que
noutra ocasião foi exposto sobre a fundamentação da segurança social e abordaremos a fundamentação
do sistema de repartição, ou PAYG, e o sistema de capitalização. Será apresentado um modelo simples
de comportamento de um agente face a diferentes sistemas de protecção social e analisaremos, de
seguida, o comportamento agregado na economia, identificando-se os factores de vulnerabilidade destes
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dois sistemas, de forma comparada. Discutir-se-ão as diversas questões que se colocam a propósito
das reformas dos sistemas, passando em revista os principais marcos históricos relativos a orientações
de reforma dos sistemas que tiveram lugar nos anos recentes. Será dado algum relevo a experiências
europeias e, em particular, a Portugal.
Finalmente, no capítulo seguinte (capítulo 6) faremos incidir a nossa atenção sobre a avaliação dos
efeitos redistributivos de programas sociais. Os programas sociais têm efeito sobre a distribuição do
rendimento, alterando-a e, com ela, alterando também a desigualdade do rendimento. Nem todos os
programas sociais têm por finalidade essa redução das desigualdades. Mas é sempre desejável que o
façam. Vimos, em outra ocasião, que a equidade é um critério relevante de análise em Política Social.
Em particular, faz todo o sentido que o consideremos quando pretendemos avaliar o efeito de prestações
sociais. Apresentaremos uma metodologia de análise dos efeitos, sobre a distribuição do rendimento e
sobre a desigualdade, de transferências sociais. Apresentaremos também uma metodologia de análise
de efeito de transferências sociais sobre a pobreza monetária, ilustrando com dados recentes relativos
à União Europeia.
A organização do livro tem a preocupação de orientar o leitor para o aprofundamento dos temas
tratados ao longo dos capítulos. Para esse efeito, em cada capítulo apresentam-se sugestões de leitura
de aprofundamento e questões para reflexão.
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1. Estado-providência: conceito e incursão histórica
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
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Objectivos
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O conceito de Estado-providência encontra-se hoje muito vulgarizado na
literatura e na discussão pública sobre o papel social do Estado. Essa presença
deve-se a várias razões. Alguns consideram que o Estado‑providência é
demasiado consumidor de recursos económicos, desviando-os de utilizações
mais produtivas: visando objectivos de coesão social, podem comprometer
objectivos de competitividade. Outros receiam que o crescimento da sua
dimensão económica prossiga e até se acentue, não sendo sustentável tal
crescimento e portanto alguns direitos sociais estão em perigo: poderia falar-se
em crise do Estado-providência, seja ela crise financeira (insustentabilidade)
ou crise de legitimidade (impossibilidade de manter o seu papel de
sustentação do sistema capitalista). Alguns autores consideram que o Estado-
providência deve ser reformado, não deixando de ter papel regulador de
direitos, mas funcionando numa base de suporte financeiro e de envolvimento
diferentes dos actores sociais, uma vez que não se verificam já as condições
(económicas, demográficas) que existiam aquando da sua criação. Fala-se
assim na necessidade de reforma, de redução (“retrenchment”) do Estado-
providência, de uma nova política de Estado-providência (“new politics of
the Welfare State”), de reforço do “welfare pluralism”, da criação de formas
de parceria público-privado, desenvolvimento de “quasi-markets” que se
substituam ao poder hegemónico do Estado na provisão do bem-estar, etc.
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1.1 Estado-Providência: uma (primeira) delimitação conceptual
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profissão, sector de actividade, empresa, região) podendo portanto ter uma
natureza corporativa. Algumas destas transferências podem também ser
means-tested, estando a atribuição da prestação dependente da existência
de carências comprovadas por meios exigíveis pelo sistema. Em qualquer
dos casos o Estado-providência assegura um rendimento mínimo, ainda que
a sua “independência” relativamente ao valor da sua riqueza possa assumir
diferentes formas e níveis.
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referência mais adiante. Mas o termo “Welfare State” ficou definitivamente
consagrado e associado ao modelo britânico de provisão do bem-estar após
o surgimento do famoso relatório “Social Insurance and Allied Services”,
redigido e apresentado por William Beveridge no Parlamento inglês em 1942
e que ficou sendo universalmente conhecido por Relatório Beveridge.
Seguro de
Seguro Seguro Seguro
acidentes Seguro de Prestações
País de de de
de desemprego familiares
doença velhice Saúde
trabalho
Alemanha 1884 1883 1889 1927 1954 1880
Reino 1887 (1)
1911 1908 1911 1945 1948
Unido 1906 (2)
Suécia 1901 1910 1913 1934 1947 1962
Canadá 1930 1971 1927 1940 1944 1972
EUA 1930 ----- 1935 1935 ----- -----
1898 1905 (1)
França 1930 1905 (1) 1932 1945
1946 (**) 1910 (2)
1928 (1)
Itália 1898 1919 1919 1936 1945
1943 (2)
Fonte: KUDRLE & MARMOR (1984:83)
(1) Segundo Hugh Heclo; (2) Segundo Peter Flora
(**) Sistema obrigatório
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Estes programas incluem prestações de substituição de rendimento (perdido
por motivo de acidentes de trabalho, desemprego, doença ou por razões de
idade) ou de complemento de rendimento (compensando despesas devido a
aumento da dimensão familiar). Trata-se de um conjunto de riscos sociais cuja
cobertura, sob a responsabilidade do Estado, surge como inovação política
num conjunto muito limitado de países europeus no final do sec. XIX.
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de Bismark ficou conhecida pelas marcas do nacionalismo e militarismo e
pela oposição aos ideais social democratas em desenvolvimento na década
de 1880 e de reforço do poder central do Estado. A crescente industrialização
do país, as exigências crescentes do movimento operário e a necessidade de
conter os ideais social-democratas levou Bismark a desenvolver uma política
social apresentando, no Parlamento Nacional (Reichstag) um conjunto de
propostas de lei que constituem os alicerces fundadores da segurança social.
Na sua mensagem ao Parlamento em 17 de Novembro de 1881, afirmava
que “devem curar-se as feridas sociais não só reprimindo os excessos
social-democratas mas também através de avanços positivos de progresso
do bem-estar dos trabalhadores”. Com este objectivo, e em menos de uma
década (entre 1883 e 1889), Bismark fez aprovar no Reichstag legislação
fundamental criando prestações de seguro obrigatório relativamente a alguns
riscos sociais, fundando assim o primeiro sistema de segurança social de
natureza obrigatória.
Para se poder ter uma ideia da importância que assumiu a criação deste sistema
na Alemanha, refiram-se os seguintes valores estatísticos (KHOUDOUR–
‑CASTERAS, 2004: 16-25): relativamente ao seguro de doença (lei de 1883),
em 1885 cobria 24% da população activa, sendo esta percentagem de 46%
em 1913; o seguro de acidentes de trabalho cobria 21% da população activa
em 1886, passando para 98% em 1913; o seguro de invalidez e velhice
cobriu sempre, desde a sua criação, cerca de 55% da população activa.
Mas deve ser relativizada a importância da participação do Estado nestes
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programas. Na verdade “os programas Bismarkianos (…) não satisfaziam
os critérios modernos de definição de uma redistribuição ou seguro social
público, pelo menos nos seus primeiros anos” (LINDERT, 2004:174).
Basta para isso verificar que a participação do Estado nesses programas era
diminuta. Cálculos efectuados e apresentados em KHOUDOUR-CASTERAS
(2004), relativos ao conjunto dos três programas para o período entre a sua
criação e 1913 revelam que é de cerca de metade (44,7%) a percentagem da
contribuição das entidades patronais para o financiamento destes programas,
sendo de 40% a dos trabalhadores, de 10% o rendimento de juros do capital
formado com os excedentes obtidos em anos anteriores, e de apenas 5,4%
a contribuição do Estado.
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das medidas seguidas pelos países escandinavos, bastante influenciadas pela
sua cultura e características políticas, socioeconómicas, institucionais e de
orientação ideológica (KUHNLE, 1984) ainda que marcada, em termos
da agenda política, pela ocorrência das medidas inovadoras tomadas na
Alemanha.
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já existentes com algumas inovações locais no capítulo dos cuidados à
primeira infância, defesa da mulher na sua função de mãe e trabalhadora,
etc” (COSTA, 1943:7-8).
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o que originou o pagamento de prestações complementares, em regime
de means-test, à população que permanecia em pobreza. E em 1948 seria
anunciado a criação do National Health Service, universal para todos os
cidadãos, seguindo os princípios orientadores do Plano Beveridge.
Uma das orientações teóricas mais conhecidas, e entre as que primeiro surgiram
para explicar a emergência de Estados-providência e o seu desenvolvimento,
foram as que se enquadraram no pensamento funcionalista, explicando o
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surgimento das instituições de segurança social pela necessidade dessas
instituições para o funcionamento da sociedade. As teorias do industrialismo
enquadram-se nesse pensamento funcionalista (myles & quadagno,
2002). Segundo estas teorias, a industrialização cria necessidades de despesa
pública em áreas sociais, devido ao aumento da mão-de-obra assalariada e,
daí, o surgimento de novas vulnerabilidades (acidentes de trabalho, doença,
desemprego, velhice), exigindo-se ao Estado um papel de garantia de
protecção dos riscos em que essas vulnerabilidades se traduzem. Associado
ao crescimento da necessidade de mão-de-obra encontra-se o papel que cabe
ao Estado em assegurar mão-de-obra qualificada para sustentar o crescimento
económico através do sistema educativo. Relacionado com o crescimento
e o progresso económico está também o envelhecimento da população e o
aumento da esperança de vida. O envelhecimento, e as necessidades que dele
decorrem na provisão de serviços sociais, constitui um factor importante
de crescimento das despesas públicas sociais. No entanto, vários estudos
empíricos tendentes a relacionar o surgimento das instituições do Estado-
‑providência com os níveis de industrialização têm demonstrado que é fraca
a relação entre estas duas variáveis (skocpol & amenta, 1986).
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entre os países no que respeita ao âmbito dos direitos consagrados nos
diversos Estados-providência, bem como à dimensão económica das despesas
sociais públicas, pode ser explicada pelo papel desempenhado pelos partidos
de esquerda e da sua relação com o movimento sindical no desenho das
políticas sociais.
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esse Estado-providência específico, no seu “welfare arrangement”. Isto é,
devem ter-se em consideração as relações que se estabelecem, de forma
mútua, entre as políticas do Estado-providência e as dimensões culturais
nessa sociedade. E, segundo este autor, há que distinguir três níveis de
cultura de bem-estar (“welfare culture”): a) os valores e os modelos culturais
em que as várias políticas se encontram enraizadas, onde encontram a sua
justificação e legimitação; ii) os valores e modelos culturais em relação ao
Estado‑providência que são predominantes entre a população e os vários
grupos sociais na sociedade; iii) os valores e modelos culturais que são
utilizados como base do discurso político dos actores sociais, e com os quais
exercem influência nas políticas do Estado-providência.
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ao nível de uma área específica de actuação política (por exemplo, pensões
de reforma) ou ao nível de todo o sistema de Estado-providência, do welfare
arrangement” (pfau-effinger, 2004:1-12).
Processos de difusão
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collier & messick (1969) identifica dois padrões distintos de difusão:
o que designa por hierárquica e o espacial. Por difusão hierárquica entende
a que tem lugar a partir de um centro mais avançado onde a inovação teve
lugar, para unidades menos avançadas que adoptam estas inovações. Tem-se
verificado que, ao observar o calendário internacional de adopção de medidas
de política de segurança social, há uma tendência para terem sido os países
mais prósperos a adoptarem políticas inovadoras de segurança social antes
dos menos desenvolvidos (orenstein, 2003) ou as medidas de política
de segurança social surgirem numa fase mais inicial de modernização nos
países que adoptaram mais tarde essas medidas (collier & messick,
1969). A par disto, existem também padrões regionais de difusão no espaço
europeu que traduzem um tipo diferente de influência das inovações de
política social na europa.
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a danger to poverty everywhere”, afirmando a necessidade de uma “guerra
contra a miséria” e o “direito de a todos os seres humanos, independentemente
do credo, raça e género, se assegurar o bem-estar material e espiritual em
condições de liberdade e dignidade, de segurança económica e igualdade
de oportunidades” (simpson, 1944). Foram aprovadas recomendações,
designadamente sobre “segurança de rendimento” (cobrindo todo o campo
da segurança social e certas formas de assistência social, em termos de
cobertura, elegibilidade, benefícios, condições de contribuição para o sistema
e administração) e cuidados de saúde. Ficou aprovada a recomendação de
que os Estados-membros, “tão rapidamente quanto as condições nacionais
o permitirem” adoptem os princípios definidos sobre a segurança social e os
cuidados de saúde. Por diversos meios, a OIT viria a ter uma forte influência
na criação de sistemas de pensões em vários países.
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ser criado. Por outro lado, a criação e sustentabilidade de um sistema de
repartição, ou PAYG, pressupõe a existência de crescimento demográfico
com equilíbrio adequado entre gerações, crescimento económico sustentado
e confiança política. Todas estas condições foram criadas no pós-guerra. Não
admira, pois, que este tenha sido o sistema criado sob a influência da OIT.
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podendo assumir a forma de contas pessoais de poupança ou fundos de
pensões de base profissional. O terceiro pilar é constituído por esquemas
privados e voluntários de pensões. Este sistema multipliar foi apresentado
no citado relatório afirmando-se, no prefácio, que “this study suggests that
financial security for the old and economic growth would be better served
if government developed three system, or ´pillars´, of old age security: a
publicly managed system with mandatory participation and the limited goal
of reducing poverty among the old; a privately managed, mandatory savings
system; and voluntary savings. The first covers redistribution, the second
and third cover savings, and all three coinsure against the many risks of old
age”. Este sistema multipilar propagar-se-ia a vários países, europeus e do
continente americano, constituindo na actualidade um modelo de referência
para algumas propostas de refoma da segurança social, como veremos mais
adiante.
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Já na primeira República, em 1916, foi criado o Ministério do Trabalho.
A necessidade de reformas sociais, estabilizadoras do ambiente social e
do regime republicano, perturbadas pelas convulsões sociais (população
operária) e dos efeitos da I Guerra Mundial, levou à necessidade de aprovar
um vasto conjunto de diplomas em 10 de Maio de 1919: o Decreto-Lei
nº 5636 (seguro social obrigatório na doença), 5637 (seguro social obrigatório
nos desastres no trabalho), o Decreto-Lei nº 5638 (seguro social obrigatório
na invalidez, velhice e sobrevivência), o Decreto-Lei nº 5639 (Bolsas Sociais
de Trabalho) e o Decreto-Lei nº 5640 (criação do Instituto de Seguros Sociais
Obrigatórios e de Previdência Social). É criado um sistema inovador de
protecção social, poucos anos após a sua criação original, na Alemanha.
Mas não foi concretizado, tendo ficado, malogradamente, sem execução. O
Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios e de Previdência Social existiria
até à sua extinção no Estado-Novo, em 1933, ano em que seria criado o
Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP).
Já no período do Estado-Novo é revista alguma legislação antiga respeitante
ao mutualismo, face ao insucesso dos seguros sociais obrigatórios. É neste
período que são lançadas as bases da previdência, com a aprovação da
Constituição de 1933 e o Estatuto do Trabalho Nacional, nesse mesmo ano.
Pouco tempo depois surge a Lei 1884 de 16 de Março de 1935, que constitui
a Lei de Bases de Organização da Previdência. A estrutura da previdência, tal
como ficou consagrada nesta Lei, pode ser considerada como um conjunto
diversificado de organismos que compõem três sectores distintos: a) o
sector corporativo, composto pelo conjunto das instituições de previdência
dos organismos corporativos (Caixas Sindicais de Previdência, caixas de
previdência das Casas do Povo, e Casa dos Pescadores); b) o sector privado,
composto pelas Caixas de Reforma ou de Previdência e as Associações
de Socorros Mútuos; c) o sector público, constituído pelas Instituições de
Previdência dos Servidores do Estado e dos Corpos Administrativos (Caixa
Geral de Aposentações e Montepio dos Servidores do Estado).
Nos anos 1940s foram dados alguns passos no sentido de um alargamento
de âmbito das instituições existentes, generalizando a previdência a mais
trabalhadores, criando condições para que a falta de iniciativa dos interessados
não colocasse trabalhadores na situação de não ter protecção social. Isto
aconteceu pela atribuição ao governo do poder de iniciativa de criação de
Caixas de Reforma ou de Previdência, tendo sido realizados progressos na
uniformização de regimes das Caixas Sindicais de Previdência e das Caixas
de Reforma ou de Previdência. Destaca-se, neste período, o alargamento dos
direitos à saúde através da criação dos serviços medico-sociais, e a criação
do abono de família. É interessante ter-se em atenção que o abono de família,
criado em 1942, constituiu uma grande inovação de política social tendo
Portugal sido o décimo primeiro país, a nível mundial, a criar este tipo de
medida (pereirinha, arcanjo, carolo, 2008).
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Os anos 1960s são marcados pela Reforma da Previdência Social de 1962,
realizada pela Lei 2115, de 18 de Junho de 1962, cuidadosamente preparada
e longamente discutida durante cinco anos antes da sua aprovação. Trata-se
de uma reforma de grande alcance, cujos efeitos perduraram por um longo
período, que ultrapassou a Revolução de 25 de Abril de 1974, até à aprovação
da Lei de Bases da Segurança Social de 1984. A Lei 2115 veio introduzir
significativas alterações na organização institucional da previdência,
desenvolvendo a extensão do sistema, alargando o seu campo de aplicação
material e pessoal e contribuindo para o desenvolvimento de um Regime Geral
de Segurança Social. No período pós-1969, sob o Estado Social marcelista,
ocorreu um preenchimento de lacunas de protecção social resultantes quer
da não participação no mercado de trabalho de franjas da população (com
destaque para os trabalhadores rurais), quer da não inclusão no sistema da
previdência de certas profissões “específicas” (ex. cabeleireiras, jornaleiros
e sobretudo domésticas) (pereirinha, carolo, 2008).
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Tem havido, nos últimos anos, bastante investigação sobre a despesa social
(lindert, 2004, castles, 2006; adema & ladaique, 2005), em
grande parte facilitada pela publicação das séries OECD Social Expenditure
Database (SOCX), na sua versão “antiga” (a partir de 1960) e na sua versão
“nova” (a partir de 1980). Trata-se de uma importante base de dados para os
países da OCDE, contemplando uma desagregação da despesa social, isto é,
do valor total da despesa realizada no país para realizar direitos sociais, em
vários items de despesa, de forma a garantir comparabilidade entre países.
Deve-se a lindert (2004) a construção de séries para alguns países a
partir de 1880, ligando essa informação aos dados da OCDE que apenas se
iniciam em 1960.
O conceito de “despesa social” está definido pela OCDE como “the provision
by public and private institutions of benefits to, and financial contributions
targeted at, households and individuals in order to provide support during
circumstances which adversely affect their welfare, provided that the
provision of the benefits and financial contributions constitutes neither a
direct payment for a particular good nor an individual contract or transfer”
(citado em adema & ladaique, 2005:7). Inclui assim benefícios sociais
monetários (por exemplo, pensões, subsídios de desemprego, etc), serviços
sociais fornecidos em géneros (por exemplo serviços de saúde, de cuidados
pessoais, creches, centros de dia, etc) e isenções fiscais com finalidades
sociais (por exemplo, benefícios fiscais com planos privados de saúde ou
de reforma).
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Quadro 1.2 – Despesa social em alguns países da OCDE em 1995, em
percentagem do PIB
Subsídios de Assistência
Países total Pensões Saúde Habitação
desemprego social
Fonte: lindert (2004:177-8), com base na OECD Social Expenditure Database (SOCX).
Há duas condições que devem ser verificadas para um certo item de despesa
ser considerado “social”: por um lado, ter alguma finalidade social e, por outro
lado, os programas que os regulam envolverem resdistribuição inter-pessoal
de recursos ou serem de participação obrigatória. Os cinco programas sociais
em que o total da despesa social se encontra decomposto correspondem a
esta concepção. No entanto, constitui uma forma imperfeita de medir, em
termos comparativos para os diferentes países, o papel do Estado na provisão
do bem-estar. Algumas funções do Estado com essa finalidade, através de
actividades de regulação, não assumem a natureza de despesa pública. Por
outro lado, as diferenças entre países na dimensão de algumas rubricas
de despesa significam percentagens diferentes da população total coberta
pelos riscos sociais (extensão dos direitos sociais pela população), mas
também o nível de generosidade desta cobertura (por exemplo, diferentes
taxas de substituição do rendimento no caso das pensões ou do subsídio de
desemprego) e a dimensão dos riscos (por exemplo, diferentes valores para
a percentagem da população idosa, para a taxa de desemprego, etc). Acresce
a estas limitações a dificuldade de medição de forma comparável entre os
vários países, dada a diversidade de sistemas de protecção social em todo o
36
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mundo, não obstante o esforço de harmonização que vem sendo feito pelas
organizações internacionais (pela ocde, neste quadro e, como veremos no
capítulo seguinte, pelo eurostat para os países da União Europeia).
No Quadro 1.2 os países são apresentados de forma agrupada, de modo a
fazer sobressair algumas semelhanças e diferenças entre países relativamente
aos seus sistemas de protecção social, tal como os iremos ver no capítulo
três. Não vamos ainda analisar estas características, pelo que a natureza
desta classificação, tal como é apresentada, tem uma base essencialmente
geográfica: o primeiro grupo é essencialmente constituído pelo conjunto
dos países de cultura anglo-saxónica, quer localizados na Europa ou fora
da Europa, a que se acrescenta o Japão. O segundo grupo é formado pelos
países escandinavos. O terceiro grupo é constituído pelos países do centro
da Europa, onde se iniciaram as primeiras formas de protecção contra riscos
sociais. O quarto grupo é constituído pelos países do sul da Europa. Veremos
mais adiante (capítulos dois e três) que, não obstante a natureza “regional”
desta classificação dos países, ela ajusta-se muito bem a tipologias clássicas
de formas de Estado-providência tendo em conta, na identificação dos traços
tipológicos, critérios rigorosos de análise dos sistemas de protecção social.
Vemos que há uma grande diversidade, entre os países, no que respeita à
percentagem do valor económico criado que devotam à protecção de riscos
sociais, variando entre valores baixos, rondando 12-15% nos países de cultura
anglo-saxónica ou nos países do sul da Europa, e valores relativamente
elevados, acima de 30%, nos países escandinavos. Também é diversa, entre
os países, a composição dessa despesa por natureza dos riscos cobertos.
Não é possível, com base na informação de que dispomos, interpretar estas
diferenças. Mais adiante retomaremos esta questão, quando analisarmos as
tipologias de Estados-providência.
Se é diferente o nível relativo da despesa social e a sua composição por tipos
de riscos sociais cobertos, é também diferente o seu percurso histórico. O
ano que observámos atrás, em análise comparativa entre países (1995), é o
último de uma série, para o mesmo indicador, que se apresenta no Quadro
1.3 e que tem início em 1880.
No final do sec. XIX eram poucos os países que apresentavam um valor
positivo de despesa social e, para estes, o valor máximo representava cerca de
1% do PIB. Até meados dos anos 1920s era a Dinamarca que liderava o nível
relativo de despesa social, sendo o país em que o desenvolvimento do Estado-
providência foi mais significativo. Fora da Europa, era a Nova Zelândia e
a Australia os países que lideravam esse desenvolvimento. Foi, porém, nos
anos 1930s e 1940s que esse crescimento foi mais significativo, quer na
Europa quer no resto do mundo. Foi o período da criação de grande parte dos
programas sociais que hoje caracterizam os modernos Estados‑providência,
como já vimos atrás. Os anos 1960s e 1970s foram, porém, os anos de grande
crescimento do Estado-providência, ao qual se seguiu, até à actualidade, uma
fase de estagnação, ou estabilidade, nesse crescimento.
37
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38
Quadro 1.3 – Transferências Sociais nos países da OCDE, 1880-2001, em percentagem do PIB
1880 1890 1900 1910 1920 1930 1960 1970 1980 1980 1990 1995 1990 2001
a) a) c) b) b)
Australia 0 0 0 1,12 1,66 2,11 7,39 7,37 12,79 10,90 13,57 14,84 14,20 18,00
Canada 0 0 0 0 0,06 0,31 9,12 11,80 14,96 12,91 17,38 18,09 18,60 18,20
EUA 0,29 0,45 0,55 0,56 0,70 0,56 7,26 10,38 15,03 11,43 11,68 13,67 13,40 14,80
Irlanda .. .. .. .. .. 3,74 8,70 11,89 19,19 16,20 18,05 18,30 18,60 13,80
Japão 0,05 0,11 0,17 0,18 0,18 0,21 4,05 5,72 11,94 10,48 11,57 12,24 11,20 16,90
Nova Zelândia 0,17 0,39 1,09 1,35 1,84 2,43 10,37 9,22 15,22 16,22 22,12 18,64 .. ..
Reino Unido 0,86 0,83 1,00 1,38 1,39 2,24 10,21 13,20 16,42 16,94 18,05 22,52 19,50 21,80
Dinamarca 0,96 1,11 1,41 1,75 2,71 3,11 12,26 19,13 27,45 26,44 26,97 30,86 29,30 29,20
Finlândia 0,66 0,76 0,78 0,90 0,85 2,97 8,81 13,56 19,19 18,32 24,66 31,65 24,80 24,80
Noruega 1,07 0,95 1,24 1,18 1,09 2,39 7,85 16,13 20,99 18,50 26,44 27,55 .. ..
Suécia 0,72 0,85 0,85 1,03 1,14 2,59 10,83 16,76 25,94 29,78 32,18 33,01 30,80 29,90
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Alemanha d) 0,50 0,53 0,59 .. .. 4,82 18,10 19,53 25,66 20,42 19,85 24,92 22,80 27,40
Austria 0 0 0 0 0 1,20 15,88 18,90 23,27 23,43 24,54 21,39 24,10 26,00
Belgica 0,17 0,22 0,26 0,43 0,52 0,56 13,14 19,26 30,38 22,45 23,11 27,13 26,90 27,20
França 0,46 0,54 0,57 0,81 0,64 1,05 13,42 16,68 22,55 22,95 23,70 26,93 26,80 28,50
Países Baixos 0,29 0,30 0,39 0,39 0,99 1,03 11,70 22,45 28,34 26,94 27,59 25,70 27,60 21,80
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mais adiante (no capítulo 5) algumas características das recentes reformas
da segurança social. Neste capítulo, de natureza mais introdutória, faremos
uma breve resenha dos contributos teóricos para a explicação desta orientação
de políticas públicas. Usaremos, para esse efeito, a síntese da literatura feita
em starke (2006).
40
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é mais elevado o número de actores políticos com poder de veto. Em países
onde, pelo contrário, existir um mais elevado grau de concentração do poder
político, é mais provável que ocorram reformas deste tipo. Relativamente às
instituições do Estado-providência, alguns autores consideram que é mais
provável que ocorram políticas de redução da política social nos países onde
os sistemas de protecção social são mais generosos, onde as despesas sociais
são mais elevadas, como são os regimes de Estado-providência continentais
e escandinavos. Já outros autores consideram que tal não depende do grau
de generosidade dos sistemas ou do nível das despesa social mas, antes, da
estrutura das classes sociais que suportam os regimes de Estado-providência,
seja eles a classe média (como é o caso dos países escandinavos ou os
regimes corporatistas, continentais) ou, ao invés, no caso dos países de
orientação liberal, de Estado residual, dependentes da lealdade de uma classe
social numericamente fraca e politicamente residual. É, neste sentido, mais
provável que políticas de redução da despesa social ocorram no primeiro
tipo de sociedades. Ainda segundo outros autores, seguidores da teoria da
path-dependency, consideram que as instituições, com a sua pesada herança
histórica, são dificilmente reformáveis, sendo por isso improváveis políticas
de redução, antes ocorrendo variações incrementais no contexto de um quadro
institucional estável.
O papel das ideias na política social e nas suas reformas constitui uma outra
orientação do pensamento sobre o Estado-providência e sobre as mudanças
e reformas que vai tendo. Quando se fala em ideias políticas estamo-nos a
referir a “políticas alternativas específicas bem como princípios organizativos
de que estas propostas políticas se encontram imbuídas (por exemplo, o
neo-liberalismo)” (beland, 2005). Tem havido recentemente bastante
literatura sobre o papel das “ideias” (no sentido exposto) para a política
social, o que explicaria a emergência de novos paradigmas para a análise
da sociedade e das políticas sociais e sua reorientação. Recordando o que
foi visto anteriormente sobre o conceito de problema social1, não podemos 1
PEREIRINHA, J. (2008),
deixar de ter em consideração o facto de que o reconhecimento social e cap.3.
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Leituras complementares
Há uma extensa literatura sobre o welfare state, pelo que se torna difícil
seleccionar bibliografia complementar. Porém, após a leitura deste
capítulo, e complementando o que foi lido, sugerem-se algumas leituras de
aprofundamento.
É um texto muito recente que faz uma boa síntese das principais ideias
de polémicas sobre a redução (“retrenchment”) do Estado-providência.
Recomenda-se vivamente a sua leitura, pela sua grande actualidade.
Palavras-chave
42
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Estado-providência/Welfare State
path-dependency e path-deviation
welfare arrangement
welfare retrenchment
processos de difusão
sistema de pensões de benefício definido / de contribuições definidas
sistema multipilar de pensões de reforma (1ª, 2º e 3º pilares)
2. Diga a sua opinião sobre a importância que tiveram, para a construção dos
modernos Estados-providência, as reformas de Bismark na Alemanha e de
Beveridge no Reino Unido. Por que razão se entende serem estas reformas
fundadoras de duas famílias distintas de protecção social?
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2. Objectivos, funções e instrumentos do Estado-providência
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
47
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Objectivos
48
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Após termos visto, no capítulo anterior, o significado e a origem histórica do
Estado-providência, e feita uma descrição sumária do seu desenvolvimento
no mundo, chegou a vez de começarmos a analisar os modernos Estados-
providência tal como actualmente existem na Europa. Este capítulo tem esse
objectivo, visando caracterizar a sua actuação nas funções que desempenham
nos diversos Estados que constituem a actual União Europeia (UE-27).
49
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2.1 Dimensão social da integração europeia: análise
evolutiva
50
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criação de um mercado comum não deixou nunca de ter em vista objectivos
de progresso de bem-estar que se desejava, e esperava, como resultado dessa
integração.
51
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social-democrata (Dinamarca), nos anos 1980s com a entrada de países do
Sul (Grécia em 1981 e Espanha e Portugal em 1986), o reforço dos modelos
social-democrata e corporatista em 1996 (Áustria, Finlândia e Suécia) e, já no
sec. XXI, os países do ex-bloco socialista. O propósito da harmonização dos
sistemas de protecção social, aquando da fundação da CEE, viria a ter uma
natureza e viabilidade distintas à medida que o seu alargamento foi originando
uma crescente heterogeneidade em termos de modelos de protecção social.
52
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para completar os direitos civis e políticos garantidos pela Convenção
Europeia dos Direitos do Homem, e consagrando direitos sociais. Trata-se
de um conjunto de direitos nos domínios da saúde, da educação, do trabalho
e da protecção social, inspirada nas recomendações das Nações Unidas.
Entra em vigor em 1965, após a sua ratificação por cinco Estados membros.
Por esta Carta Social os Estados membros comprometem-se a respeitar um
conjunto de direitos sociais descritos nos artigos 1º a 19º: direito ao trabalho;
direito a condições justas de trabalho; direito a condições de trabalho seguras
e saudáveis; direito a uma justa remuneração; direito dos trablhadores
a organizarem-se; direito à negociação colectiva; direito das crianças e
jovens à protecção; direito das trabalhadoras femininas à protecção; direito
à orientação profissional; direito à formação profisional; direito à protecção
na saúde; direito à segurança social; direito à assistência social e médica;
direito a beneficiar de serviços sociais; direito da população com deficiência
para a formação profissional, reabilitação e realojamento; direito da protecção
social, legal e económica da família; direito das mães e das crianças à
protecção social e económica; direito a ter uma profissão remunerada no
território de outras partes contratantes; direito dos trabalhadores migrantes
e suas famílias à protecção e assistência.
53
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uma “política social concertada”. A Cimeira de Paris, de 1972, conclui no
mesmo sentido, reconhecendo-se a necessidade de os Estados membros
terem uma actuação mais vigorosa no campo social (collins & salais,
2004:424).
54
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europeia” (room, 1994, citado em hantrais, 1995:6), como um meio
requerido para fortalecer a coesão económica, devendo portanto ser encarada
na mesma base em que o são a política económica, a política monetária ou
a política industrial (hantrais, 1995:6). O Conselho Europeu aceitaria,
em 1985, o relatório do grupo ad hoc sobre “People´s Europe”, coordenado
por Adonnino em que se faziam várias recomendações de política para
permitir alcançar o objectivo de uma “Europa sem fronteiras” para o ano de
1992. É também nesta década que são admitidos os países do Sul (Grécia,
Espanha e Portugal), o que vai originar, no seio da Comunidade Europeia,
um conjunto de novos desafios, atendendo à natureza específica dos novos
países membros.
55
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A Carta Social é uma “declaração solene”, um documento de compromisso
político, não de cumprimento obrigatório, que consagra para os trabalhadores
da Comunidade Europeia um amplo conjunto de direitos. Trata-se dos
direitos dos trabalhadores, enquanto tal (sujeitos de relações laborais) e
não de direitos de cidadania, para toda a população da Comunidade. Esta
Carta Social foi acompanhada por um Programa de Acção Social [com
(89) 586 final, November 1989], visando a sua implementação, respeitando
um conjunto de princípios orientadores fundamentais: o princípio da
subsidiariedade (responsabilidade nacional, dos Estados membros, pelas
políticas), a diversidade dos sistemas nacionais, das culturas e das práticas
e a preservação da competitividade das empresas. Este Programa de Acção
compreende um conjunto de 47 iniciativas relativamente a cada uma das
áreas de direitos consagrados na Carta Social. Trata-se de um importante
documento, pelo que traduz de propósito de marcar a perspectiva de actuação
da CEE no domínio dos assuntos sociais.
56
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que ficou consagrado neste Acordo foi o do papel dos parceiros sociais
nas decisões de política social, quer pela importância dada à consulta dos
parceiros sociais a que se obriga a Comissão, quer pela importância dada
ao diálogo entre parceiros sociais na obtenção de acordos e outras relações
contratuais. É reafirmado o princípio da subsidariedade, no artigo 3ºb do
Tratado, segundo o qual “A Comunidade actuará nos limites das atribuições
que lhe são conferidas e dos objectivos que lhe são cometidos pelo presente
Tratado. Nos domínios que não sejam das suas atribuições exclusivas, a
Comunidade intervem apenas, de acordo com o princípio da subsidiariedade,
se e na medida em que os objectivos da acção encarada não possam ser
suficientemente realizados pelos Estados-membros, e possam pois, devido
à dimensão ou aos efeitos da acção prevista, ser melhor alcançados ao nível
comunitário”.
57
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– Livro Branco”) e onde se diagnosticavam os sintomas e as causas da crise
do emprego e se apontavam medidas de política a seguir. Neste documento
afirma-se que “a principal razão dos fracos resultados na Comunidade
em matéria de emprego no decurso das duas últimas décadas reside nos
condicionalismos impostos às políticas macroeconómicas por conflitos não
resolvidos no domínio da repartição do rendimento e por um ajustamento
estrutural insuficiente” (Livro Branco, 1994: 60). As soluções passam por
políticas anti-inflacionistas, estabilidade macroeconómica e finanças públicas
controladas, por mercados de trabalho flexíveis.
58
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economia competitiva, assegurando que o progresso económico e o progresso
social andem lado a lado.
59
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No novo artigo 109n (art. 125 do Titulo VIII) do Tratado de Amsterdão
estabelece-se que “os Estados Membros e a Comunidade (…) trabalharão
em vista a desenvolver uma estratégia coordenada para o emprego e, em
particular, visando promover uma mão-de-obra qualificada, treinada e flexível
e mercados de trabalho adaptados à mudança, tendo em vista alcançar os
objectivos [definidos para a Comunidade]”. Esta orientação veio originar
a Estratégia Europeia do Emprego, na sequência do Conselho Europeu
de Essen 1994 em que se fixaram objectivos de promoção do emprego. A
Estratégia Europeia do Emprego visava então objectivos de convergência das
políticas de emprego e dos níveis de emprego no seio da União, levando os
Estados Membros a conceber Programas Nacionais de Emprego (em Junho
de 1998), assentes em quatro princípios fundamentais: empregabilidade,
empreendedorismo, adaptabilidade e igualdade de oportunidades.
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2.2 A estratégia de Lisboa e a Agenda Social Europeia
61
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uma sociedade de conhecimento, visando aumentar a qualidade do emprego;
ii) realizar progressos na criação de mais empregos e de melhor qualidade,
melhorando as taxas de emprego no médio-prazo, devendo essas orientações
estar presentes nos Planos Nacionais de Emprego dos Estados Membros;
iii) modernizar a protecção social, adaptando os seus sistemas tornando-os
Estados-providência activos para assegurar trabalho remunerado, promover
a inclusão social e igualdade de género e garantindo serviços de saúde de
qualidade; iv) promover a inclusão social, tomando decisões para erradicar
a pobreza.
Podem distinguir-se os objectivos prosseguidos por cada uma das três áreas de
actuação política acima referidas nos seguintes termos: a política económica
visa alcançar objectivos de competitividade, a política de emprego visa
objectivos de aumento do emprego com qualidade e a politica social visa
objectivos de coesão social. Sabe-se como os objectivos de competitividade
e de coesão social são conflituantes: promover a coesão social, reduzindo
desigualdades e défices de bem-estar (estamos no domínio da equidade), pode
ser conseguida com instrumentos que podem comprometer objectivos de
competitividade (estamos, aqui, no domínio da eficiência). É um conhecido
trade-off da política económica e da política social.
62
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uma política de educação e de formação fortalece simultaneamente a
competitividade e a coesão social: um aumento do emprego permite melhor
sustentar sistemas eficientes de protecção social e a coesão social previne e
minimiza o subemprego dos recursos humanos. Pode assim considerar-se
que a Política Social é um “factor produtivo”, exigindo-se então uma gestão
adequada da interdependência de políticas de modo a sustentar o progresso
económico e social.
63
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2.3 A dimensão e as funções sociais do Estado na União
Europeia
64
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curar doenças, independentemente da sua origem, inclui subsídio de doença,
cuidados médicos e o fornecimento de produtos farmacêuticos.
Invalidez: rendimento de substituição e de apoio em dinheiro ou em géneros
(exceptuando cuidados de saúde) que se relacionem com a incapacidade
de pessoas com deficiências físicas ou mentais para realizar actividades
económicas e sociais, incluindo pensões de invalidez e a provisão de bens e
serviços (que não de serviços de saúde) às pessoas com deficiência.
65
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Quadro 2.1 – Despesa em Protecção Social por grupos de funções 2005
66
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Quadro 2.2 – Indicadores gerais sobre Protecção Social 2005
Fonte: eurostat News Release 19/2008; eurostat Statistics in Focus 46/2008; (1) 2004
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consagrados nos vários países. O Quadro 2.2 acrescenta alguma informação
adicional, com a inclusão do valor da despesa média de alguns benefícios
sociais (destacamos a pensão de velhice e o subsídio de desemprego, que
podem ser comparados com o PIB por habitante de cada país), expressos em
PPS (“purchasing power standards”), uma forma de ter em consideração,
não apenas a conversão numa unidade monetária comum, o euro (usando a
taxa de câmbio), mas também as diferenças de poder de compra (usando os
índices de preços no consumidor), sendo portanto comparáveis em termos
de poder aquisitivo.
Leituras complementares
68
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Recomenda-se, finalmente, a leitura da obra seguinte, que foi escrita para a
Presidência Portuguesa de 2000, quando se realizou o Conselho Europeu de
Lisboa, escrito por autores que iremos referenciar no capítulo seguinte
Palavras-chave
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3. Modelo Social Europeu e Regimes de Estado-providência
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
73
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Objectivos
74
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Quando analisamos os Estados-providência na União Europeia, no que
respeita à sua dimensão económica, às funções que realiza, aos direitos
sociais que consagra e aos princípios normativos em que assentam a sua
actuação e financiamento, deparamo-nos com diferenças muito significativas
entre os diversos Estados-membros, como se viu no capítulo anterior. Estas
diferenças, que radicam nas suas diferentes origens históricas, conferem ao
espaço político da União Europeia uma heterogeneidade com importantes
efeitos na análise da Política Social, como veremos neste capítulo e nos
seguintes. Tem também efeitos muito significativos na forma como se encaram
os grandes desafios colocados aos Estados-providência para a realização,
de forma sustentada, dos direitos sociais que consagram. Por isso, essa
heterogeneidade deve ser devidamente analisada. A forma mais adequada,
e que vem sendo seguida na literatura, consiste em identificar padrões, ou
modelos, de Estados-providência, correspondentes a diferentes regimes de
intervenção do Estado na Política Social dos diversos países. Vamos tratar,
neste capítulo, destes modelos, ou regimes, de Estado-providência tal como
vêm sendo tratados na literatura recente.
75
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Estas análises e a criação de correspondentes tipologias constituem um meio
para atingir outras finalidades, de grande interesse analítico. Vejamos algumas
das mais importantes.
76
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e dos fundamentos teóricos em que assentam os critérios de classificação dos
Estados-providência, têm constituído uma base teórica muito sólida para as
análises das reformas das políticas sociais (myles & pierson, 2001).
77
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União Europeia, à qual a Comissão Europeia tem dado grande importância
pelo desenvolvimento de indicadores sociais e novas fontes de informação
estatística. Entre essas novas fontes de informação deve ser realçado: iv) o
EU-SILC (Statistics on Income and Living Conditions), que se sucede ao
ECHP (European Community Household Panel). Trata-se de um inquérito
em painel por amostragem de agregados familiares para todos os países
da União Europeia, iniciado em 2003, sobre o rendimento e condições de
vida das famílias, em que se garante total comparabilidade na selecção das
amostras, nos conceitos e métodos de inquirição.
78
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regimes de Estado-providência. Ao fazê-lo, na identificação destes princípios,
estamos perante trabalho teórico.
79
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Desmercadorização
80
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não desmercadoriza os direitos sociais, pelas restrições que coloca ao
seu acesso e, também, normalmente pela sua diminuta generosidade. A
natureza assistencial traduz-se no facto de este programa social actuar como
garantia do direito em última instância, colocando portanto no rendimento
da actividade económica, em primeira instância, a base económica em que
assenta a realização do direito. Esta função social do Estado corresponde ao
modelo residual de política social, segundo Titmuss, como vimos atrás.
81
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Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, Noruega e Suécia); b) com nível de
desmercadorização próximo da média do conjunto dos países estudados
(Itália, Japão, França, Alemanha, Finlândia, Suiça): c) com nível de
desmercadorização baixo, inferior à média do conjunto dos países (Austrália,
EUA, Nova Zelândia, Canadá, Irlanda e Reino Unido). Verifica‑se, em termos
de análise empírica, o que se conhece das marcas da história dos Estados-
-providência no mundo actual.
Estratificação social
82
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características do modelo conservador-corporatista de protecção social, tal
como o conhecemos actualmente nos países da Europa continental.
83
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maior igualitarismo nas prestações sociais). Através destes indicadores,
esping-andersen (1990) concluiu pela existência de vários grupos de
países com níveis elevado, médio e baixo de conservadorismo, liberalismo
e social‑democracia. Assim, dos 18 países estudados, são países com a)
elevado grau de conservadorismo: Áustria, Bélgica, França, Alemanha e
Itála; b) elevado grau de liberalismo: Austrália, Canadá, Japão, Suíça, EUA;
c) elevado grau de social-democracia: Dinamarca, Finlândia, Holanda,
Noruega e Suécia.
Os regimes de Estado-providência
a) Regime Social-Democrata
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no mercado de trabalho (especialmente no sector público), e em que a
promoção do emprego aparece como condição de sustentação económica
da solidariedade geral.
b) Regime Liberal
c) Regime Corporativo
85
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Entre os surveys recentes sobre esta literatura, devem consultar-se os textos
recentes de arts & gelissen (2002) e arcanjo (2006).
86
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Repare-se que a classificação de Leibfried assenta em critérios distintos dos
seguidos por Esping-Andersen e visa, pois, objectivos de análise diferentes.
Enquanto Esping-Andersen baseia a sua classificação nos criérios de
qualidade dos direitos sociais, estratificação e articulação entre o Estado e o
Mercado que caraterizam os sistemas de protecção social, tal como se podem
actualmente observar e que resultam dos processos históricos que estão na
sua origem, Leibfied lança um olhar sobre os Estados-providência no que
respeita a um aspecto particular, ainda que bastante relevante: a forma como
incorporam a pobreza e os direitos sociais de quem está próximo dos níveis
mínimos do bem-estar. O surgimento de um “quarto modelo” (do Sul da
Europa) para um quadro tipológico mais completo dos Estados‑providência
viria a ser abordado e desenvolvido por outros autores, como veremos
adiante.
Outra reacção tem a ver com a forma como os países Austrália e Nova
Zelândia são classificados por Esping-Andersen, na categoria de regime
liberal de Estado-providência. Trata-se de uma crítica formulada por
castles & mitchell (1993) que questionam que se considerem
exclusivamente as transferências sociais como instrumento redistributivo que
caracteriza os Estados-providência, havendo mecanismos de regulação das
desigualdades do rendimento ao nível da formação do rendimento primário
(controlo salarial e segurança do emprego) que, tendo efeitos significativos
sobre as desigualdades e a pobreza, antecipam e tornam menos necessários os
mecanimos redistributivos do rendimento disponível. Embora nestes países
as transferências means-tested tenham importância muito significativa, as
orientações políticas de esquerda, determinantes para processos correctores
de desigualdades do rendimento primário, levam os autores a não considerar
adequada a classificação destes países no regime “liberal”. Propõem assim
uma classificação nas seguintes categorias, em que o peso das despesas, do
seu financiamento por impostos e seu efeito equalizador são usados como
critérios: i) liberal, em que o nível de despesas é baixo, não dispondo de
instrumentos de política social que corrijam as desigualdades do rendimento;
ii) conservador, com níveis elevados de despesa social, mas com instrumentos
de correcção das desigualdades com pouca expressão; iii) hegemonia de
não-direita (esquerda) política (“non-right hegemony”), em que existe um
nível elevado de despesa, dispondo de instrumentos de política social de
correcção das desigualdades do rendimento; iv) radical, que são países em
que, como na Austrália e a Nova Zelândia, têm baixos níveis de despesa social
e conseguem reduzir a desigualdade dos rendimentos “antes” dos impostos
e transferências (isto é, reduzem a desigualdade do rendimento primário).
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institucionais de funcionamento do Estado-providência. Estes autores
consideram que as diferenças que os Estados-providência apresentam nestes
aspectos institucionais reflectem o diferente papel que desempenham, na
sociedade, os conflitos entre diferentes grupos de interesse. As estruturas
institucionais existentes permitem, por outro lado, estabelecer quadros de
definição de interesses e identidades entre grupos de cidadãos, que se reflectem
no desenho das políticas de protecção social. Observando programas sociais,
estes autores consideraram como critérios para identificar estas dimensões
institucionais, na perspectiva teórica em que se situam, as condições de acesso
ao programa, os princípios presentes no método de cálculo dos benefícios
sociais e o modo de governação do programa. Propuseram então os seguintes
tipos de Estado-providência: i) Segurança Básica, onde se encontram países
tão diversos como o Reino Unido e Irlanda, ou a Dinamarca, Holanda e
Suíça ou o Canadá, os EUA e Nova Zelândia, e em que as condições de
acesso se baseiam na cidadania ou nas contribuições, em que o benefício tem
natureza uniforme (flat-rate benefit); ii) Corporatista, para vários países do
Continente Europeu (França, Alemanha, Austria, Bélgica e Itália) e o Japão,
em que as condições de acesso se baseiam na categoria profissional do titular
e na participação na actividade económica, em que o benefício é calculado
em estreita relação com o salário auferido (earnings-related benefit);
iii) “Encompassing”, relativo a países escandinavos como a Finlândia, a
Noruega e a Suécia, em que o acesso ao programa se baseia na cidadania
e na participação na actividade económica, sendo o valor da transferência
calculado segundo o princípio do benefício uniforme (flat-rate benefit) ou
segundo o princípio da relação com o salário (earnings-related benefit);
iv) Selectivo (“targeted”), como a Austrália, em que o acesso ao programa
depende do exercício da prova de condição de recursos, sendo o valor da
transferência calculado de acordo com o princípio do benefício mínimo;
v) Voluntário com subsídio estatal (“Voluntary State Subsidized”), em que
as condições de acesso se baseiam no princípio de adesão (voluntária) ao
programa e no valor das contribuições, sendo a transferência social calculada
segundo o princípio do benefício uniforme (flat-rate benefit) ou o princípio
da relação com o salário (earnings-related benefit).
88
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Por nível ou grau de desfamiliarização, Esping-Andersen entende o nível
ou grau de redução em que os cidadãos se encontram na sua dependência
relativamente aos cuidados da família em termos de provisão de bem-estar.
Esta desfamiliarização pode ser conseguida fazendo transitar esses cuidados
familiares para o mercado (comprando serviços até aí prestados pela família)
ou para as instituições do Estado-providência (pelo fornecimento de serviços
públicos de provisão de bem-estar). O conceito de “desfamiliarização” estaria
assim relacionado com o de “desmercadorização”: um regime de bem-estar
que seja desfamiliarizante, ao reduzir o esforço de produção de bem-estar
requerido à família, gera condições para os membros da família, em particular
a mulher, se mercadorizarem (participação no mercado de trabalho). Este
seria, então, um conceito a acrescentar na caracterização dos regimes de
Estado-providência em que, além do modelo de Estado-providência, se
deveria acrescentar a dimensão “relevância da família” no welfare mix.
89
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3.4 A Europa do Sul: realidade ou modelo?
90
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suas políticas sociais: o princípios da subsidiaridadade, o papel da família
patriarcal na provisão do bem-estar, a articulação e boa convivência entre os
interesses do capital e do trabalho, o papel assistencial do Estado, supletivo do
que deve caber à sociedade civil, pelos princípios e práticas das instituições
de mutualidade e de caridade.
Para alguns destes países (Grécia, Espanha e Portugal), as suas transições para
a democracia foram rápidas e acompanhadas por importantes reivindicações
e o surgimento, em soluções políticas tomadas, de ideias igualitaristas. Pode
mesmo considerar-se que “as políticas sociais foram um elemento decisivo na
procura de consenso e na legitimação dos regimes democráticos, na medida
em que as reivindicações sociais, podendo ser expressas, tinham, ainda que
parcialmente, de ser concretizadas de forma a legitimar e consolidar os novos
regimes” (silva, 2002:36).
Estes países seguem, como se disse, pela sua origem histórica, princípios
bismarkianos dominantes dos seus sistemas de protecção social,
aproximando-se dos países do regime continental-corporativo, ainda que
as despesas sociais representem uma percentagem menor do PIB. Mas, o
que é mais significativo, apresentam grande fragmentação nos sistemas
de pensões, com taxas de substituição do rendimento muito elevadas para
alguns grupos sócio-profissionais, existindo grupos em que os níveis de
protecção social são mais incipientes, com prestações sociais baixas, para
os trabalhadores irregulares, não qualificados e de baixos salários, e os que
trabalham na economia informal. Mas, a par deste dualismo de protecção
social, encontramos sistemas de saúde públicos e universais, resultado
das transformações democráticas sofridas e dos ideiais universalistas e
igualitaristas que os caracterizaram. Mas o “baixo grau de penetração das
instituições públicas de protecção social” que caracteriza estes países e
frequentemente acompanhado de formas de particularismo institucional,
de clientelismo político, e “em que os partidos políticos, designadamente
aos níveis regional e local, trocam favores e benefícios por apoio político”
(silva, 2002:41).
91
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3.5 As reformas e o futuro do Estado-providência na Europa
92
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nos vários regimes de Estado-providência: enquanto nos Estados-providência
social‑democrata o crescimento do emprego ocorreu através da expansão do
sector público, não agravando as desigualdades salariais, mas à custa de um
agravamento orçamental, os regimes liberais fizeram esse crescimento no
sector privado, à custa de um agravamento da desigualdade e da pobreza e os
regimes da Europa Continental controlaram o crescimento do sector público
e, pela regulação acrescida do mercado de trabalho e de agravamento de
custos fiscais, o crescimento do emprego no sector privado sofreu restrições,
agravando-se o desemprego nestas economias.
Há, assim, pressões fortes para a reforma dos sistemas de protecção social.
E, sabendo-se que muitos dos factores acima referidos se sentem em todos
os países, os seus efeitos podem ser diferentes entre esses países e também
diferentes, entre esses países, as respostas políticas em termos da reforma
dos sistemas. Tal como se fez atrás sobre os modelos de Estado-providência,
cuja análise comparativa é essencial para a sua compreensão, o mesmo se
pode dizer relativamente à necessidade de se fazerem análises comparativas
dos processos de reforma dos sistemas.
Esta análise exige um quadro conceptual próprio, como foi o que pierson
(2001b) introduziu na literatura do que este autor designou da “nova política”
do Estado-providência. Segundo este autor, as alterações que os poderes
políticos possam introduzir, através de reformas, nos Estados-providência,
na perspectiva dos actores políticos actuantes nesses processos de reforma,
são de três tipos: i) a re-mercadorização; ii) a contenção de custos; iii) a
recalibragem. Vejamos o significado, para este autor, de cada um destes
conceitos e, de seguida, a sua relevância para a análise comparativa das
experiências de reforma.
93
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no mercado de trabalho, quer restringindo a elegibilidade quer reduzindo
benefícios” (pierson, 2001b:422). Quando se refere a contenção de custos,
o autor quer significar uma política de austeridade nos gastos dos programas
sociais, reduzindo as despesas em que incorre o Estado com estes programas.
O conceito de calibragem refere-se a “reformas que visam tornar os
Estados‑providência mais consistentes com os objectivos e exigências actuais
de provisão social” (p.425), e que pode ser conseguida por racionalização
(isto é, modificando programas sociais, não alterando os seus objectivos e
princípios que os enformam, mas adaptando-os a novas ideias que tenham
entretanto surgido que permitam melhor alcançar esses objectivos), ou por
actualização (isto é, adaptando os programas sociais a novos objectivos e
novas exigências sociais). A análise das reformas exigiria então que se fizesse
a distinção entre estas diferentes modalidades de alteração dos Estados-
-providência, não sendo frequentemente fácil fazê-lo quando eles se traduzam
no mesmo tipo de resultado: diminuição dos gastos sociais. É matéria de
trabalho teórico muito recente e actual, certamente inacabado pelos debates
teóricos que se travam nesta área e pelos ainda escassos trabalhos de análise
concreta das reformas já realizadas. Mas é importante destacar o trabalho
realizado por pierson (2001b: 431-456) na análise das características das
reformas, numa perspectiva comparativa entre os países pertencentes aos
três regimes de Estado-providência de Esping-Andersen. Apresenta-se um
sumário deste resultados no Quadro 3.1.
Apoio político do
Moderado Elevado Elevado
Estado‑providência
Pressões
para efectuar Moderadas Moderadas elevadas
ajustamentos
Re- Contenção Contenção
Agenda de
mercadorização/ de custos/ de custos/
reforma dos
contenção de recalibragem recalibragem
sistemas
custos (racionalização) (actualização)
Sem clivagem
Neoliberal
dominante;
(“retrenchment” “stand pat” vs.
Linhas de conflito ajustamento
vs. mercadorização reforma negociada
incremental
compensada)
negociado
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Os diferentes Estados-providência diferem em múltiplos aspectos mas, para
efeitos da análise das suas configurações, é muito relevante a distinção que
entre si se pode fazer no que respeita ao apoio político que as funções sociais
do Estado têm nesses diferentes regimes. Nos regimes liberais esse apoio
político é fraco, não havendo uma base de apoio forte às funções do Estado
na provisão do bem-estar. Assistimos em alguns dos países deste regime a
uma fraca organização e poder sindical, com sistemas eleitoriais baseados
em dois partidos (trabalhista/conservador; democrata/republicano), com
governação de carácter mono-partidário, com fraco apoio popular a soluções
públicas de provisão, dada a institucionalização de soluções de mercado para
a protecção social, o que enfraquece a apoio da classe média a soluções de
provisão pública. Assumindo os gastos sociais um valor menor do que em
outros regimes de Estado-providência, e dada a natureza dual deste regime
e o moderado apoio político que o suporta, são também moderadas as
pressões para efectuar ajustamentos. As reformas a que se assiste nos países
deste regime são em grande medida do tipo re-mercadorização (reduzindo
as condições de elegibilidade e do valor dos benefícios, muito visível
nas alterações de subsídio de desemprego) ou de contenção de custo, não
necessariamente associados a soluções neo-liberais envolvendo redução de
direitos (algumas alterações feitas nos sistemas nacionais de saúde desses
países). Estas alterações são, portanto, bastante conformes às características
deste regime. Isto chega a ser visível ao observar as linhas de conflito que
estas reformas geram nestes países, em que as soluções de “retrenchment”
(redução da dimensão social do Estado), podem ser acompanhadas, ou
complementadas, com soluções compensatórias para os grupos sociais mais
desprotegidos da sociedade, como forma de protecção dos efeitos nocivos,
para o seu bem-estar, destas reformas (mercadorização compensada).
95
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No regime conservador de Estado-providência encontramos um apoio
político forte às funções sociais do Estado. São muito relevantes as formas
de protecção social associadas ao mundo do trabalho, em países em que o
poder sindical é forte e em que há, nos seus sistemas eleitorais, formas de
representação proporcional, raramente de governação mono-partidária, em
que as classes médias se encontram politicamente representadas e em que
a opinião pública apoia estas funções. Mas a arquitectua dos sistemas de
protecção social torna-os vulneráveis às variáveis demográficas e económicas,
levando a pressões elevadas no sentido dos ajustamentos das políticas, dados
os riscos de sustentabidade da realização dos direitos sociais no médio/
longo prazo. Há assim linhas de conflito que se desenham entre grupos que
pretendem conservar a sua situação e os que as pretendem reforma, o que
neste contexto será de reforma negociada. Sendo as reformas de contenção de
custos, assumem a forma de recalibragem por actualização, dada a natureza
mutável dos riscos sociais, obrigando a redefinições dos programas sociais
adaptando-os a esses novos riscos, comportando eventualmente novos
objectivos e princípios organizativos.
Leituras complementares
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• arts, w., gelissen, j. (2002) Three worlds of welfare capitalism
or more? A state-of-the-art report. Journal of European Social Policy,
12(2): 137-158.
Palavras-chave
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regime corporativo
regime de Estado-providência
regime liberal
regime social democrata
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4. Pluralidade de Actores: o welfare-mix
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
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Objectivos
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Quando nos referimos atrás a uma quase identidade entre Estado-providência
e Política Social dos países Europeus na actualidade, não pretendemos com
esta afirmação dizer que o Estado é o único actor social relevante na condução
da Política Social nesses países. Na verdade, além dos serviços públicos,
existem outras entidades, de natureza privada, que contribuem para a provisão
de bem-estar, quer fornecendo bens e serviços quer transferindo rendimento
para as famílias. Ao fazê-lo, quer tenham uma motivação mercantil quer
o sejam por motivos de altruísmo, dão um contributo para a garantia dos
direitos sociais que, em algumas sociedades, pode ter expressão relevante.
Essa relevância pode resultar do facto de, nessas sociedades, o Estado estar
pouco presente na garantia desses direitos, deixando aos actores privados
esse papel. Mas também pode resultar de uma vontade política de envolver
actores privados, que podem ter natureza muito diversa, nas funções sociais
que pretende que sejam garantidas na sociedade. Esta é a tendência que
tem vindo a verificar-se nos modernos Estados-providência. Isto é, há uma
pluralidade de actores sociais, públicos e privados, com características muito
diversas que, conjuntamente, contribuem para a provisão do bem-estar
nas sociedades modernas. Por isso se faz frequentemente referência a um
pluralismo providencial, ou welfare-mix, como características das sociedades
modernas, colocando ao Estado um papel distinto do que seria no caso de
ele ser o único actor a fazer essa provisão.
É deste assunto que vamos tratar neste capítulo. Vamos identificar o conjunto
dos actores sociais que intervêm na provisão do bem-estar e procurar a sua
tipificação, distinguindo-os e analisando as formas de relacionação que têm
entre si neste papel de provisão do bem-estar. Dedicaremos especial atenção
ao designado “terceiro sector” da Política Social, isto é, ao sector privado de
natureza não lucrativa, também designado por “sector da economia social”.
Confrontaremos diferentes concepções e modalidades de “terceiro sector”
nas sociedades actuais, e apresentaremos informação sobre a dimensão
económica deste sector, em particular em Portugal, possibilitando assim uma
análise comparativa da sua relevância (dimensão e funções principais na sua
actuação) no mundo actual. Assim poderemos ter um melhor fundamento para
o papel destas instituições na Política Social. Apresentaremos também uma
explicação teórica (sucinta) para a existência desta diversidade de actores
nas sociedades modernas.
103
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4.1 “Welfare pluralism” e o triângulo de bem-estar na
actualidade
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Quadro 4.1 – A economia mista de bem-estar
Produção
Privada Ajuda mútua/
Financiamento Pública Voluntária Informal
lucrativa Solidariedade
Público Estado →b ↑c →d ↑e
Empresarial
Consumidores ↓a Mercado
Terceiro
Mutualista
Sector
Voluntária
105
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Temos assim duas situações que correspondem a soluções que podemos
considerar como soluções puras de mercado ou, alternativamente, como
1
Veja-se a fundamentação soluções públicas puras, de Estado. Recordemos o que noutro contexto1 foi
para a actuação pública em
pereirinha (2008a), quando há
analisado a propósito de argumentos contrários às soluções de mercado e
fracassos de mercado (capítulo que justificariam a intervenção do Estado. A justificação encontra-se quer em
5) e, em particular, quando há
informação assimétrica, com razões que se relacionam com as consequências sociais do funcionamento
grande relevância na protecção do mercado (em termos de eficiência e em termos de equidade), quer com
de riscos sociais (capítulo 6).
Revêem-se seguidamente, de as próprias características do mercado enquanto mecanismo de afectação de
forma sintética, algumas das recursos (fracassos de mercado). Vejamos algumas dessas razões (spicker,
justificações teóricas então
apresentadas. 1995:112-113).
106
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Também ocorrem frequentemente situações em que a sociedade (e os actores
políticos, com legitimidade para a representar nas opções políticas) consi-
dere que as preferências individuais não sejam as melhores, e considere que
alguns bens e serviços devam ser consumidos, ainda que não correspondam
às suas preferências. Isso significaria a obrigatoriedade de consumo imposta
aos cidadãos, o que acontece quando a realização de direitos sociais possa
estar em causa no caso de tal consumo não se realizar. São os chamados bens
de mérito, e estão neste caso a imposição de escolaridade obrigatória ou de
planos nacionais de vacinação. É de salientar, em particular, o fenómeno da
miopia, isto é, de preferências enganadoras face a situações de risco, o que
justificaria a imposição de seguro, como são os casos do seguro obrigatório
de acidentes, de segurança social obrigatória, etc. A imposição de consumo,
porque é feita em nome de benefícios para a sociedade no seu conjunto, pode
justificar a participação do Estado no seu financiamento. Isto é, as escolhas
sociais podem ser diferentes das escolhas individuais, o que justificaria este
papel do Estado. Mas também pode justificar que outras entidades o possam
fazer.
Os casos acima vistos não põem em causa o funcionamento do mercado
enquanto produtor. Aceitando-se esse papel do mercado, os argumentos
apresentados apontam no sentido de deslocar, para outros agentes que não
o consumidor, o seu papel de financiamento do fornecimento desse bem ou
serviço consumido. Isto significaria, no quadro 4.1, a deslocação na vertical
na coluna de “produção privada” (seria a situação ↑ c, assinalada no Quadro
4.1).
107
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seguradora estaria preparada para suportar, podendo originar a sua exclusão.
Tornar-se-ia necessário, então, garantir a sua provisão através de soluções
de “pooling” obrigatório, com intervenção pública (por exemplo, através de
sistemas de segurança social). Outra forma de informação imperfeita, desta
vez “a posteriori”, ocorre em caso de risco moral, que diz respeito a situações
em que os agentes segurados conseguem controlar as situações contingentes,
podendo alterar a probabilidade de ocorrência do facto contingente e,
portanto, o risco (por exemplo, em caso de desemprego). Uma forma de evitar
risco moral em casos em que possam ocorrer, por exemplo na protecção ao
desemprego, a solução da intervenção do Estado como produtor de serviços
de seguro (segurança social pública) pode ser considerada a adequada, como
vimos anteriormente.
Estes argumentos servem para justificar que haja produção pública de bens e
serviços, deslocando para essa coluna a origem do bem ou serviço produzido.
Mas há outras soluções em que, havendo diferentes combinações entre
produção e financiamento, e com agentes económicos distintos, importa
considerar como característica das economias mistas de bem-estar, ou de
welfare pluralism.
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o exemplo dos serviços de saúde, outro tipo de solução mista: o pagamento
de uma taxa moderadora nos serviços de saúde. Neste caso, o utente do
Serviço Nacional de Saúde paga parte do custo do serviço, comparticipando
em parte do financiamento desses serviços (seria a situação ↓ a, assinalada
no Quadro 4.1).
109
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(instituições de solidariedade, as IPSS em Portugal) a produção de serviços
(cuidados pessoais, serviços de saúde e de educação, etc), com a garantia
de financiamento desses serviços (que corresponderia à situação → d do
Quadro 4.1). Muitas das actividades realizadas por este Sector contam com
a participação financeira do Estado, subsidiando as suas actividades (que
corresponderia à situação ↑ e do Quadro 4.1).
À luz do que foi dito, há três aspectos, ou dimensões de análise, que devemos
considerar na sua caracterização: i) os princípios de racionalidade económica
que os caracterizam; ii) os mecanismos de regulação económica que utilizam
nas suas funções; iii) os princípios constitutivos das organizações e das
suas formas de regulação económica. Vejamos cada um deles, procurando
interpretar as suas diferenças tendo em consideração os objectivos sociais
que têm em vista.
110
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Mercado Estado
(organizações privadas fins lucrativos) (organizações públicas)
· lucro · bem-estar social
· troca (mercadoria) · (re)distribuição
· anonimidade/escolha · cidadania/equidade
Terceiro Sector
(organizações privadas
não-lucrativas)
· micro-solidariedade
· reciprocidade
· pertença/membership
111
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para a sociedade no seu todo. A sua contribuição para a realização de direitos
sociais assenta em práticas de micro-solidariedade, restrita a grupos, de
pequena ou média dimensão, mas não de âmbito universal.
112
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se traduz no facto de que “um favor dado requer um favor de retorno que é
socialmente sancionado e facilmente reconhecido como equivalente ao favor
inicial” (hamilton, 1965). Este mecanismo está francamente presente
nas relações familiares, de parentesco, de amizade e de vizinhança na forma
como recursos económicos são afectados, onde o mecanismo de troca não
está presente (não há relação mercantil), nem o mecanismo de redistribuição
opera (pois não há, nessas relações, nenhuma entidade que, em nome de
algum imperativo moral, tenha autoridade sancionatória na sociedade que
obrigue a transferências entre indivíduos para obter resultados sociais mais
justos).
Outra diferença entre estas organizações diz respeito aos distintos princípios
constitutivos que as caracterizam. Vejamos o que queremos significar. Nas
organizações de mercado impera o princípio da livre escolha do consumidor
e, em contrapartida, o produtor trata de forma anónima, não preferencial,
todos os consumidores, estritamente com base nos votos monetários que
estes lhes dirigem, para a realização da troca. Já nas organizações públicas
esses princípios são bem diferentes. Não há princípios de livre escolha na
essência do fornecimento individual do serviço prestado. Ele assenta, ao
invés, no princípio da equidade. Não existe livre escolha na procura de um
bem mas, antes, realização de equidade no exercício de um direito. Duas
lógicas bem distintas como princípios constitutivos destas organizações.
Também não vigora, nestas instituições, o princípio da anonimidade, como
nas organizações de mercado. Não é o voto monetário que determina o
fornecimento do bem ou do serviço, mas sim o respeito pela cidadania, cujo
direito é realizado por esse fornecimento. Nas organizações do terceiro sector
não estão presentes nenhum destes princípios. Antes se encontra presente,
como princípio constitutivo destas entidades, a noção de “pertença” ao grupo,
de que se é membro e desse facto beneficia em termos de bem-estar.
113
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à saúde. Há aqui uma anonimidade na relação do doente com o mercado:
seja quem for o doente (o tipo ou grau de doença, a nacionalidade ou estatuto
social), é o seu voto monetário que conta.
Veremos mais adiante (na secção 4 deste capítulo) as diferentes formas como
estes três sectores da política social actuam na provisão do bem-estar, e as
justificações teóricas que habitualmente se apresentam para estas formas de
actuação. Retomaremos, nessa altura, a leitura do Quadro 4.1.
114
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4.3 O terceiro-sector da política social: conceito(s) e dimensão
económica
115
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dos indivíduos permitem a libertação do homem. Já em França, com
Saint‑Simon, surge uma corrente de associativismo que vem desenvolver o
pensamento cooperativo e que vem originar novas formas (cooperativas) de
organização da produção (reis, 2006:56-63).
116
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de direitos humanos e muitas outras” e que reúnem um conjunto de
características: em particular “são i) organizações, isto é, têm presença e
estrutura institucional; ii) privadas, isto é, estão institucionalmente separadas
do Estado; iii) não distribuem lucros, isto é, não repartem lucros aos seus
gestores ou proprietários; iii) são autónomas, isto é, controlam a sua própria
actividade; iv) voluntárias, isto é, não é legalmente requerido a quem nelas
trabalha que sejam membros dessas entidades, contando com contribuições
voluntárias para o seu funcionamento, quer em tempo quer em dinheiro”
(salamon et al., 1999:3-4).
117
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não-lucrativas” e descrever brevemente como a teoria económica explica a
sua existência nas economias modernas.
118
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a sua utilidade. Admitindo que as preferências dos eleitores tem um único
valor máximo (isto é, exista para cada eleitor um e um só valor de despesa
em bens públicos à qual esse eleitor confira um valor ordinal máximo), o
teorema do votante mediano diz-nos que, nestas condições, num processo de
decisão por maioria de votos, a política mais preferida, e que será portanto
a decidida, será aquela que é a mais preferida pelo votante mediano, isto
é, aquele que, numa ordenação dos cidadãos por ordem crescente do nível
mais preferido de despesa em bens públicos, fizer uma partição 50%/50%
do conjunto dos eleitores. Uma das implicações deste teorema é que, a fim
de obter a maioria dos votos, os políticos deverão identificar as preferências
deste votante mediano, orientando as medidas de política para estas
preferências. No caso de a sociedade ser heterogénea, com diversidade de
grupos sociais com preferências muito diversas (por exemplo, uma sociedade
com diversidade de grupos étnicos), poderão alguns grupos enfrentar a não
satisfação das suas preferências. Esta diversidade de procura constitui um
factor de surgimento, na sociedade, de instituições direccionadas para a
satisfação destas necessidades. Encontramos, nos EUA, uma verificação
deste teorema, onde a diversidade étnica, cultural e religiosa encontra, como
resposta à correspondente diversidade de tipos de procura não satisfeitas pelos
poderes públicos, respostas organizativas em múltiplas organizações sem fins
lucrativos. Ou, nas sociedades europeias (designadamente em Portugal), a
existência de preferências localmente definidas constitui um factor indutor
de formas organizativas de natureza voluntária (associações de moradores,
centros de dia paroquiais, etc) dirigidos às necessidades das populações.
119
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Outra explicação para a existência de instituições sem fins lucrativos na
provisão do bem-estar assenta também na existência de outra forma de
fracasso do Estado: a imperfeição da informação que o Estado tem sobre a
disposição dos cidadãos para pagar (willingness to pay) pelo fornecimento de
bens públicos. No caso de bens privados fornecidos por entidades com fins
lucrativos, o consumidor atingirá o seu óptimo quando, dado um certo preço,
adquirir um bem na quantidade em que o benefício marginal (o benefício
obtido na última unidade consumida, cujo valor monetário é quanto está
disposto a pagar por essa unidade) igualar o custo marginal (o custo da última
unidade consumida) que, sendo os consumidores price-takers, iguala o preço.
Mas no caso da provisão pública, não existindo preço nem mecanismos
de mercado para regular a afectação de recursos através da troca, falta um
instrumento de avaliação dessa disposição para pagar que o mercado, pelo
preço e mecanismos de troca, revela. Sendo o serviço fornecido por uma
agência governamental, o equivalente preço(político)-imposto (ou preço
de Lindhal, como é conhecido na literatura) seria o valor do imposto que
igualaria este pseudo-preço do benefício marginal. Mas este pseudo-preço,
ou preço-imposto, não consegue ser conhecido de forma individualizável
entre os vários consumidores/cidadãos. O que o Estado faz é determinar
politicamente a quantidade e a qualidade da produção a realizar do bem ou
serviço público (frequentemente segundo princípios de equidade horizontal)
e criar um sistema fiscal segundo regras orçamentais decididas politicamente
(frequentemente segundo princípios de equidade vertical). Assim, para
alguns consumidores/cidadãos a quantidade e qualidade da produção pública
excede o que estes consumidores/cidadãos procuram (desejam consumir) aos
preços-impostos que defrontam, enquanto que para outros essa quantidade
e qualidade é inferior a essa procura. Haverá assim cidadãos insatisfeitos,
por excesso ou por defeito. Criam-se assim condições para, alternativamente
à provisão pública, essa provisão ser privada, por organizações sem fins
lucrativos que permitam igualar o preço à possibilidade de pagar dos seus
utentes.
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São muito antigas as primeiras formas de organizações de economia social
em Portugal, com origem em instituições de caridade medievais do séc. XII
(confrarias, corporações de mesteres) e com a criação das Misericórdias no
séc. XV, sob a égide da Igreja Católica. É no sec. XIX, com o desenvolvimento
da indústria e comércio e o crescimento urbano, que surgem as Associações
de Socorros Mútuos que, tendo sido instituições de seguro voluntário e
associativo de riscos sociais, são o embrião das primeiras formas de protecção
social em Portugal. Estas associações vão perdendo importância à medida que
a previdência social, sob a égide do Estado-Novo, vai ganhando expressão
na protecção contra os riscos sociais clássicos.
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governamentais, com actividade nos domínios culturais, ambientais, sociais,
cívico, etc., quer no âmbito nacional quer internacional.
Leituras complementares
122
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O Terceiro Sector, ou Sector da Economia Social, tem sido objecto de estudo
em Portugal no âmbito da investigação para doutoramento. Estão publicadas
duas teses de doutoramento em Economia sobre este sector da Política Social,
cuja consulta se recomenda:
http://www.econosoc.org/
http://www.arnova.org/
http://www.ulg.ac.be/ciriec/
http://europa.eu.int/comm/civil_society/coneccs/index_en.htm
123
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• Um site onde pode encontrar o Discussion Paper "The Commission
and NGOs : building a stronger partnership” on 18 January 2000
(COM (2000) 11) e os comentários recebidos:
http://europa.eu.int/comm/secretariat_general/sgc/ong/index_en.htm
http://www.inscoop.pt/
• The Johns Hopkins Institute for Policy Studies (IPS) faz parte da
Johns Hopkins University, dedicando-se à investigação do non-profit
sector:
http://www.jhu.edu/~ips/research/nonprofit/nonprofit.htm
http://www.jhu.edu/%7Eccss/pubs/
http://www.jhu.edu/~ccss/pubs/pdf/spanishgcs.pdf
Palavras-chave
welfare pluralism
welfare mix
Terceiro Sector
Economia Social
sector não lucrativo (non profit organisations)
sector voluntário
124
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Questões para revisão e reflexão
125
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5. Economia das Pensões
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
129
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Objectivos
130
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Vimos nos capítulos anteriores que a protecção contra riscos sociais é um
dos objectivos fundamentais da Política Social, constituindo uma forma
de actuação dos Estados-providência que visa garantir direitos sociais e,
portanto, o bem-estar social. Entre os riscos sociais cobertos, aquele que nos
países da União Europeia absorve uma parte mais significativa da despesa
em protecção social, cerca de 46%, é a protecção do risco de velhice. Trata-
-se do risco de perda de rendimento pelo facto de se atingir uma idade a
partir da qual não se exerce actividade económica e, portanto, não se obtém
rendimento primário. A existência de pensões de reforma constitui uma
resposta de Política Social e que, nas condições previstas nos diferentes
países, e segundo diferentes modalidades, garante rendimento de substituição.
Desta forma, assegura-se que, perante a ocorrência do risco de perda de
rendimento, haja a garantia de um rendimento. É deste assunto que vamos
tratar neste capítulo. Vamos analisar como funcionam os sistemas de pensões,
distinguindo diferentes modalidades de intervenção e diferentes formas de
obter o financiamento para esta garantia de rendimento. Vamos também
analisar como é que a sociedade o consegue assegurar ou, de outro modo,
que factores podem estar presentes, nas sociedades actuais, que possam por
em causa essa garantia. Veremos também quais as reformas que têm vindo
a ser feitas nos países da União Europeia em resposta a estes desafios de
“sustentabilidade económica” das pensões.
131
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dos cidadãos, em que estes obtém rendimento da sua actividade económica,
para um estádio posterior (idade mais avançada), em que não têm actividade
económica e, portanto, não auferem rendimento primário.
132
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trabalhadora desconta para o sistema de protecção social montantes que
correspondem a uma percentagem fixada do seu salário. Este valor pago
regularmente pelos trabalhadores vai permitir ao sistema de protecção
social pagar, também regularmente, as pensões de reforma, segundo regras
estabelecidas. Existe assim uma transferência de rendimento a partir de uma
geração de população que trabalha, tem rendimento salarial e desconta para
o sistema de protecção social, para outra geração, de pessoas que já não
trabalham por terem atingido a idade da reforma. Não há assim uma lógica
de acumulação e capitalização de fundos que permita a transferência “intra-
-individual” de recursos ao longo do ciclo de vida do trabalhador mas, antes,
uma lógica de transferência “inter-individual” de rendimento entre pessoas
que se situam em fases diferentes do seu ciclo de vida, isto é, pertencentes
a diferentes gerações.
133
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e com o salário no fim de carreira) for inferior ao valor considerado como
mínimo pela legislação nacional. Este rendimento diferencial (complemento
de pensão) é atribuído segundo uma lógica de solidariedade, visando reduzir
a intensidade da pobreza para estes beneficiários do sistema. O financiamento
deste complemento de pensão assenta na fiscalidade (é de solidariedade geral
que se trata) e não na contribuição calculada como percentagem do salário
ganho. Pode afirmar-se também que há, neste caso, objectivo de redistribuição
do rendimento, já que actua sobre a distribuição do rendimento, diminuindo
a desigualdade da sua distribuição.
Hipótese 1: cada pessoa vive em dois períodos: período 1 (em que realiza
uma actividade económica e, portanto, obtém rendimento primário resultante
134
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dessa actividade) e o período 2 (em que não tem actividade económica e,
portanto, não tem rendimento primário);
C1 = W – S
C2 = S.(1 + r)
135
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longo do ciclo de vida, tomando decisão sobre o plano de consumo óptimo,
isto é, o valor do consumo no período 1 e no período 2 que lhe permite
obter a utilidade máxima. O valor da despesa em consumo no período 1 é
determinado pelo valor do rendimento desse período, isto é, do rendimento
do trabalho. No período 2 não tem rendimento do trabalho, pelo que só terá
recursos para despender em consumo se tiver poupado rendimento no período
1 para poder ser despendido no período 2. Se tiver feito poupança de valor S
no período 1, significa que transfere esse valor para ser usado em consumo
no período 2. Mas obtém ainda o rendimento de valor r.S, pela aplicação
financeira que faz dessa poupança, tendo em atenção a taxa de juro r que
vigora nessa economia. Se fizer poupança de valor S no período 1, poderá
então fazer despesa de consumo de valor W – S no período 1 e de valor
S + r.S no período 2.
C1 = W.(1-b) – S
C2 = S.(1+r) + b.W.(1+r)
136
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O agente económico decidirá então sobre a poupança óptima (que maximiza
a sua utilidade) tendo, como dados, o rendimento salarial obtido no período
1 (W), a parte obrigatória de desconto para a segurança social (fracção b do
rendimento salarial) e a taxa de juro r.
C1 = W.(1-β) – S
C2 = p + S.(1+r)
137
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5.3 Funcionamento agregado de sistemas de pensões
N t − N t −1
w w
(5.5a) nt = w
N t −1
e a taxa de crescimento do salário médio entre o período t-1 e o período t
como:
W t − W t −1
(5.5b) wt =
W t −1
Sistema de repartição
138
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(5.6) N t .W t .bt = Nt .Pt
w r
(5.7) N t = N t −1
r w
de onde vem:
(5.8) N t . W t . b t = N t −1. P t
w w
(5.9) P t = W t . b t .(1 + n t )
Conclui-se então que o nível das pensões depende positivamente do salário
actual e da taxa de contribuição actual para o sistema (isto é, da geração
actual, que trabalha) e, também, da taxa de crescimento do emprego. Uma
diminuição da taxa de crescimento do emprego reflectir-se-á, ceteris paribus,
numa diminuição da pensão (admitindo a hipótese de orçamento equilibrado
do sistema, não gerando défices nem superavits).
Sistema de capitalização
139
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Comparação dos dois sistemas
P t = b.(1 + n )
(5.12) qt = t
Wt
o que significa que a taxa de substituição do rendimento, dada a taxa de
contribuição para o sistema, depende da taxa de crescimento do emprego (a
variável fundamental para manter o sistema equilibrado). Um crescimento
maior do emprego permitirá, dado b, uma taxa de substituição do rendimento
mais elevada.
(5.13) P t = b.(1 + rt −1 )
qt =
Wt 1+ wt
o que significa que, uma vez fixada a taxa de contribuição para o sistema,
quanto maior for a taxa de juro (à qual capitalizam as poupanças acumuladas)
tanto maior poderá ser, para um orçamento equilibrado, a taxa de substituição
do rendimento (i.e., a relação entre a pensão média e o salário médio). Por
outro lado, quanto menor for a taxa de crescimento do salário médio, ceteris
paribus, tanto maior será a relação entre a pensão e o salário (pois este,
tomado como referência, é menor em termos relativos).
P t / Wt q
(5.14) bt = =
1+ nt 1+ nt
o que significa que a taxa de contribuição para o sistema, uma vez fixada a
taxa de substituição do rendimento, e para ter um orçamento de saldo nulo,
depende da taxa de crescimento do emprego: quanto menor esta for, tanto
maior terá de ser esta taxa de contribuição.
140
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o que significa que quanto maior for a taxa de crescimento do salário,
mantendo tudo o resto constante, tanto maior terá de ser a contribuição para o
sistema para manter o saldo equilibrado e garantir que a taxa de substituição
do rendimento não se altere. Por outro lado, quanto maior for a taxa de juro
tanto menor poderá ser a taxa de contribuição para o sistema que garanta o
seu orçamento equilibrado, para manter constante a taxa de substituição do
rendimento.
• todas as famílias têm uma mesma dimensão padrão, pelo que não
vamos considerar diferenças de dimensão das famílias na aplicação
da medida de política;
141
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inferior a esse valor m nesta sociedade, o que constitui um objectivo
de política social;
rendimento
disponível
B
(m) A
45º
O
D rendimento da
actividade económica
Figura 5.1
142
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Façamos a interpretação desta afectação diferencial de rendimento. Sendo
esta afectação diferencial obtida como a diferença s = m – g, em que s é um
subsídio pago ao beneficiário, esta afectação diferencial pode ser interpretada
como um imposto negativo sobre o rendimento primário, de acordo com uma
taxa t. A expressão (5.16) pode então exprimir-se como:
Para reduzir os efeitos negativos sobre a oferta de trabalho (ou, dito de outro
modo, da procura de emprego), deve fazer-se com que o subsídio s diminua
com o rendimento primário g, mas diminuindo a um ritmo inferior ao do
aumento de g, mantendo os beneficiários com interesse em trabalhar. Isto
significa que a expressão acima seja:
rendimento
disponível
B´
B
(m) A
O
D D´ rendimento da
actividade económica
Figura 5.2
143
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O valor do parâmetro t tem assim dois efeitos: i) sobre a oferta de trabalho;
ii) sobre o custo da medida. Quanto mais elevado for t, mais desencoraja a
oferta de trabalho, mas menor é o limite de acesso e, portanto, menor será
o seu custo. Quanto menor for t, tanto maior será o incentivo à oferta de
trabalho, mas maior será o seu custo. Vejamos os dois casos extremos, t =
0 ou t = 1. Com t = 1, tem-se s = m - g para g < m, e estamos na situação
apresentada na Figura 5.1, rendimento mínimo garantido, que desincentiva
ao trabalho os beneficiários deste rendimento mínimo garantido. Vejamos o
caso extremo em que t = 0, que é representado na Figura 5.3.
rendimento
disponível
B B´
(m) A
O
D D´ rendimento da
actividade económica
Figura 5.3
144
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rendimento
disponível
B´´
B
(m) A
O
D D´ D´´ rendimento da
actividade económica
Figura 5.4
145
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São assim três os macro-objectivos traçados para as reformas que devem ser
realizados, pelos Estados da União dos seus sistemas de protecção social: i) a
adequação das pensões; ii) a sustentabilidade dos regimes de pensões; e iii)
a modernização dos sistemas. Na sequência deste enunciado de objectivos,
em 2002 teve lugar uma primeira vaga de Relatórios Nacionais de Estratégia
em que os vários Estados membros identificaram, em termos nacionais, estes
objectivos e desenharam políticas visando esses objectivos. Foi com base
nestes relatórios que a Comissão e o Conselho adoptaram o “Joint Report on
adequate and sustainable pensions”, em Março de 2003. O Conselho Europeu
em Março de 2003 convidou os países membros a realizarem as reformas dos
seus sistemas de pensões pela aplicação, nesse processo, do Método Aberto
de Coordenação (MAC). Os países apresentariam então, no Verão de 2005,
uma segunda vaga de Relatórios Nacionais de Estratégia.
146
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Adequação das pensões
Sustentabilidade
147
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num conjunto coerente de medidas visando a sustentabilidade dos sistemas
de pensões
148
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(ver atrás, na secção 5.3). Nos sistemas de capitalização, a viabilidade
destes sistemas depende da capacidade de constituir reformas suficientes
para suportar financeiramente os encargos com as pensões e a capacidade de
transferir, ao longo do tempo, recursos financeiros. Este objectivo é, portanto,
fundamental para a sustentabilidade dos sistemas de pensões.
149
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2005), face aos grandes desafios que são colocados a estes sistemas e que,
resumidamente, se colocam aos seguintes níveis: i) as mudanças demográficas
(aumento do envelhecimento da população, traduzida no aumento do rácio
de dependência); ii) problemas do mercado de trabalho, que se traduz numa
insuficiente utilização da mão de obra, designadamente pelo aumento do
desemprego; iii) alterações sócio-culturais que se traduzem no aumento da
flexibilidade das relações laborais e no aumento das relações laborais de
natureza não permanente; iv) aumento das interdependências internacionais
(globalização) que agravam a pressão sobre os custos de mão de obra e a
concorrência entre diferentes sistemas fiscais e sistemas de protecção social
(eckardt, 2005:248). Trata-se, afinal, de uma forma de o “modelo social
europeu” procurar manter a sua capacidade de sobrevivência enquanto
sistema de garantia de direitos sociais.
Leituras complementares
Este capítulo trata de uma das áreas mais importantes de Política Social: a
protecção de riscos sociais consagrada, nos actuais Estados-providência,
em sistemas de protecção social, com características diferenciadas entre os
vários países da União Europeia. Podem tipificar-se algumas modalidades de
sistemas de protecção social, com particular relevância para os sistemas de
pensões, onde a abordagem económica, em modelos de gerações sobrepostas,
se torna necessária. Recomenda-se, por isso, a leitura do seguinte capítulo
do livro já várias vezes referenciado:
150
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Palavras-chave
151
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6. Avaliação dos Efeitos Redistributivos
das Políticas Sociais
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Sumário
Leituras complementares
Palavras-chave
155
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Objectivos
156
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Neste capítulo vamos apresentar aspectos metodológicos de análise dos
efeitos redistributivos das políticas sociais e alguns resultados de análise
feitos para países da União Europeia que permitam ilustrar estes efeitos e
diferenças, no seio da União Europeia, que se encontram entre países que
a constituem. Esta preocupação de análise da política social constitui um
domínio de grande relevância para a avaliação dos efeitos da intervenção
pública dirigida à provisão do bem-estar, por duas razões fundamentais.
Por um lado, porque essa intervenção pública actua sobre a distribuição
dos recursos (produzindo e fornecendo gratuitamente serviços, pagando
rendimentos de transferência, etc), afectando essa distribuição de acordo
com finalidades sociais de promoção do bem-estar. Deve então constituir
preocupação de avaliação dessas políticas medir o efeito que têm sobre a
distribuição dos recursos, contendo nessa avaliação critérios adequados (não
necessariamente unânimes) de justiça nessa avaliação (PEREIRINHA, 2003).
Por outro lado, esta provisão de bem-estar constitui requisito para garantir a
realização de direitos sociais que, como atrás vimos, são direitos-crédito, isto
é, que obrigam a sociedade, no seu conjunto, a contribuir para essa realização.
Mas essa contribuição traduz-se na afectação de recursos (pelo pagamento
de impostos, por exemplo) pagos pela população, segundo critérios que
caracterizam a política económica e social do país, e que originam algum
efeito sobre os recursos líquidos (i.e., após o pagamento destas contribuições)
da população e a sua distribuição entre os seus membros. A forma como
esses custos se repartem entre a população e o seu efeito no modo como
esses recursos líquidos (isto é, após o pagamento destas contribuições) se
repartem constituem naturalmente outra preocupação de análise da política
social, segundo critérios de justiça social. É sobre estes dois domínios de
análise que iremos concentrar a nossa atenção, descrevendo metodologias
de análise os efeitos sobre a distribuição dos recursos da actuação a política
social. Por razões que passaremos a explicar, a variável económica que irá
sintetizar o conceito de “recursos” cuja distribuição será analisada vai ser
o conceito de rendimento.
157
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1
Para compreender os concei- compreendermos as diferenças entre estes dois conceitos bem como a forma
tos fundamentais e os proces-
sos de criação e distribuição como, a partir do rendimento primário, se obtém o rendimento disponível1.
do rendimento ver PEREIRI-
NHA (2008), cap. 7. Por rendimento primário de uma família entende-se o valor do rendimento
que essa família aufere por ser proprietária de factores produtivos primários
usados na produção de bens e serviços na economia. Por rendimento
disponível de uma família entende-se o rendimento que essa família aufere
durante um período e de que dispõe, durante esse período, para poder decidir
quanto à forma da sua utilização em consumo ou poupança.
158
© Universidade Aberta
Vejamos dois grupos de situações ilustrativas do que acabámos de dizer. Há
serviços fornecidos gratuitamente às famílias pelo Estado (por exemplo,
serviços de educação e de saúde). Trata-se neste caso de rendimentos
auferidos em espécie pelas famílias, isto é, sob a forma de serviços fornecidos
gratuitamente e que são consumidos pelas famílias, embora o não tenham
sido através de um acto de compra no mercado. É um rendimento auferido
em espécie, resultante da actividade não mercantil do Estado. Podemos
designar esta componente do rendimento das famílias como rendimento
disponível não mercantil, para com isto significar que se trata do resultado
da actividade de produção não mercantil do Estado e que se trata de um
rendimento disponível para consumo, que é usado directamente em consumo
no acto da utilização desses serviços e é também, no acto de utilização
desses serviços, que este consumo se traduz em rendimento das famílias. As
famílias não poderão transaccionar estes serviços fornecidos pelo Estado,
o rendimento é indissociável do consumo desses serviços. A consideração
destes fluxos de rendimento será feita adiante de forma mais cuidada, onde
veremos, designadamente, como tratar este rendimento quando há lugar
a algum pagamento, pelas famílias, pelo consumo destes serviços (por
exemplo, taxas moderadoras no caso dos serviços de saúde, propinas no
caso de serviços de educação, etc.).
159
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(6.2) RDMi = RDMMi + RDMEi
160
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Podemos então classificar as operações de repartição que têm lugar entre
a família i e o agente j (o qual se refere a qualquer agente pertencente aos
sectores institucionais referidos acima) em duas categorias:
161
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• transferências monetárias, isto é, formas de intervenção que actuam
a somar no cálculo do rendimento disponível mercantil;
Os impostos directos
Sobre os lucros das empresas incidem impostos directos (no sistema fiscal
português, o IRC) e, do lucro líquido de impostos, uma parte é retida na
empresa (lucros não distribuídos). Só o lucro remanescente é distribuído
pelos sócios, proporcionalmente às suas quotas (parte do capital da empresa
de que são proprietários).
Sobre este ELE que é rendimento primário da família incidem assim duas
operações de repartição:
162
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Vejamos agora o caso do trabalho por conta própria. A retribuição auferida
por esta forma de actividade económica constitui ELE das famílias. Mas
nem todo este ELE constitui rendimento disponível das famílias: sobre ele
incidem também contribuições para a Segurança Social, que constitui uma
operação de repartição entre o Estado e as famílias.
Mas o Estado faz também incidir, sobre o rendimento das famílias, outros
impostos directos. E aqui devemos ter em consideração, no sistema fiscal
português, o IRS (imposto sobre o rendimento global da famílias, após
feitas as deduções fiscais previstas na lei), e de natureza progressiva (isto é,
com taxa média crescente com o rendimento). O IRS constitui assim outra
operação de repartição que ocorre entre o Estado e as famílias.
Temos assim uma visão global das operações de repartição que determinam
a formação do rendimento disponível das famílias, e a equação seguinte, que
resulta das equações (6.3) e (6.5) acima apresentadas:
163
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Vejamos as principais operações de repartição que adicionam rendimento
ao rendimento primário das famílias, e que têm origem nas várias categorias
de agentes considerados, na classificação acima considerada, como sectores
institucionais.
As transferências
164
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não diminuem o rendimento das famílias que as enviam: a remessa de tais
transferências constitui uma forma de utilização do rendimento dessas
famílias.
Vamos considerar outro tipo de actuação do Estado, que já foi referida atrás,
e que se traduz na produção de serviços não mercantis. Vimos que esta
actuação deve ser considerada para o cálculo do rendimento disponível total
das famílias, originando assim um conceito mais alargado do rendimento
disponível das famílias: rendimento disponível total.
A produção destes serviços não mercantis pelo Estado pode ter duas
naturezas. Uma delas é a produção dos chamados bens públicos, isto é, de
bens que se caracterizam pelo facto de beneficiarem a colectividade no seu
conjunto, uma vez produzidos ninguem podendo ser deles excluídos e, por
outro lado, não existir rivalidade no consumo, isto é, o facto de surgir mais
um indivíduo na sociedade não reduz o consumo desses bens por parte dos
restantes indivíduos. Estão nesta situação de não exclusão e não rivalidade no
consumo serviços como a defesa, a segurança, etc. A natureza própria destes
bens leva a que seja o Estado a desempenhar o papel da sua produção numa
165
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sociedade. Uma nota porém, desde já: a designação destes bens por “bens
públicos” tem que ver com a sua natureza específica (não exclusão e não
rivalidade no consumo) e não no facto de serem produzidos pelo Estado.
O facto de estes bens serem produzidos pelo Estado significa que, pagando
as famílias preços simbólicos, ou de qualquer modo reduzidos (inferiores ao
custo) no uso desses serviços, o efeito do Estado que nos interessa considerar
é a diferença entre o valor do consumo desses bens (isto é, o custo em que o
Estado incorre na sua produção) e o valor da despesa das famílias (o valor
pago pelas famílias).
166
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Imaginemos duas sociedades, uma em que a produção desses bens é feita
exclusivamente por entidades privadas (sociedade A), e outra (sociedade
B) onde essa produção é exclusivamente feita pelo Estado, sendo estes
serviços fornecidos gratuitamente aos cidadãos que os procuram. Estas duas
sociedades são muito diferentes: se compararmos uma família em A com um
rendimento nominal igual ao da outra família em B, podemos concluir que
estão em condições muito diferentes. No primeiro caso (A) tem de pagar
tudo o que necessita desses serviços e no segundo caso (B) pagará apenas
simbolicamente os serviços que consome. E no entanto auferem o mesmo
rendimento. Então, a melhor forma de garantir a comparabilidade entre
estas duas sociedades consiste em considerar, como parte do rendimento
das famílias, o valor destas transferências em espécie. Se o fizermos,
considerando como valor destas transferências:
São assim dois tipos de intervenção que vamos tratar: algumas adicionam
rendimento às famílias, enquanto outras subtraem rendimento às famílias.
(6.9) x1 = x 0 − ∆x
167
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em que:
∆x
(6.10) t= 0
x
em que t > 0 no caso das intervenções que subtraem rendimento, e t < 0 no
caso das intervenções que adicionam rendimento (atendendo à forma como
definimos x0 e x1 acima).
168
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Será progressiva se a taxa de imposto aumentar com o rendimento, e será
regressiva se a taxa de imposto diminuir com o rendimento.
169
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proporções iguais para todas as famílias, isso significa que não se altera a
repartição do rendimento disponível, reduzindo a desigualdade se representar
uma proporção t crescente com o rendimento, e agravando a desigualdade se t
for decrescente com o rendimento (recorde-se o raciocício feito a propósito da
interpretação da curva de Lorenz). Vamos ver com mais atenção esta questão
seguidamente, fazendo uso de uma generalização da curva de Lorenz.
x i = x i − Ti
1 0
(6.11)
e designemos, por taxa de imposto da família i, o rácio:
(6.12) Ti
ti = 0
xi
e tenha-se:
n n n
(6.13) X = ∑ xi ; X = ∑ xi ; T = ∑ Ti
0 0 1 1
i =1 i =1 i =1
T
(6.14) t= 0
X
Podemos agora associar, a cada família, as seguintes variáveis:
170
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• si como a proporção do rendimento total líquido, X1 , auferido pelas
famílias com rendimento bruto inferior ou igual a x i0 ;
∑r
i =1
i
(6.16) CT =1 − n −1
∑p
i =1
i
∑s
i =1
i
(6.17) G =1 −
*
n −1
∑p
i =1
i
(6.18) G* = G −
t
l−t
(
⋅ CT − G )
171
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como uma medida de progressividade dos impostos. Pode verificar-se que
CT = G no caso de impostos proporcionais (e portanto G* = G) e CT < G no
caso de impostos regressivos (e, neste caso, G* > G).
• da taxa de imposto
x i = x i + TR i
2 0
(6.19)
Repare-se que, ao contrário da formulação geral apresentada atrás,
apresentámos agora o rendimento x i2 como a soma de duas componentes, e
em que TRi aparece como componente positiva.
TR
(6.20) tr = 0
X
em que:
n n
(6.21) X = ∑ xi ; TR = ∑ TR i
0 0
i =1 i =1
172
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6.6 Efeito redistributivo das transferências na UE
Redução
Coeficiente de Gini Percentagem Factor de
País desigualdade Progressividade
Rendimento Rendimento das receitas correcção
Absoluta em %
mercantil disponível
Regimes social-democratas (nórdicos)
DK 0,553 0,378 0,175 32 0,834 0,250 -0,033
FIN 0,577 0,361 0,216 37 0,811 0,325 -0,047
S 0,583 0,352 0,231 40 0,833 0,357 -0,066
Regimes corporativos (continentais)
D 0,551 0,391 0,160 29 0,977 0,190 -0,025
NL 0,536 0,345 0,191 36 0,910 0,263 -0,048
B 0,534 0,349 0,185 35 0,883 0,252 -0,037
F (a) 0,497 0,308 0,189 38 0,870 0,285 0,060
A (a) 0,428 0,303 0,125 29 0,606 0,260 0,032
I (a) 0,483 0,334 0,150 31 0,821 0,254 0,058
Regimes liberais (anglo-saxónicos)
UK 0,599 0,428 0,171 29 0,896 0,218 -0,024
I R L
0,492 0,351 0,141 29 0,772 0,212 0.023
(a)
Regimes do Sul Europeu
E (a) 0,524 0,392 0,132 25 0,791 0,216 0,038
EL (a) 0,472 0,363 0,109 23 0,838 0,165 0,030
P (a) 0,480 0,380 0,100 21 0,745 0,187 0,039
Fonte: ras, pommer & schut (2002) (adaptado)
(a) para este país o rendimento mercantil é calculado líquido de impostos directos (fonte ECHP).
173
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pelos impostos e pelas transferências. Deste modo, o sistema fiscal e o sistema
de segurança social fazem uma “correcção” à distribuição do rendimento
originada pelo mercado, a qual consiste no rendimento do trabalho (por conta
de outrem e por conta própria) e no rendimento de propriedade. Importa
assim colocar a seguinte questão: em que medida as instituições do Estado-
-providência reduzem as diferenças de rendimento entre as famílias?
174
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os dados do European Community Household Panel (eurostat), em que
o rendimento mercantil é líquido de impostos. Daí que, ao compararem-se
os países, devemos ter em consideração o facto de para o primeiro grupo de
países se estar a avaliar o efeito conjunto dos impostos e das transferências,
enquanto para o segundo grupo de países se estar a analisar estritamente o
efeito das transferências. Devemos, portanto, ser cautelosos na análise deste
quadro.
175
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Trata‑se de uma “questão” diferente, em termos de objectivos de avaliação.
E, naturalmente, requer uma metodologia que é necessariamente diferente.
176
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rendimento
T
Q´´
P´
O´ Q´
S*
O R
S P Q famílias
Figura 6.1
Mas em que consiste “reduzir” a pobreza? Pode ter dois significados, ora a
pobreza seja medida pelo número de pobres (ou headcount) ou pelo défice
de pobreza (ou poverty gap), isto é, o valor do rendimento total que “falta” à
população pobre para deixar de ser pobre, isto é, atingir o limiar da pobreza.
No primeiro caso estamos a fazer uma avaliação da eficácia em termos de
incidência, no segundo caso estamos a avaliar a eficácia das transferências
em termos de intensidade.
177
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Para avaliar a eficácia das transferências é necessário ter uma linha de pobreza
definida. Ela está representada, na Figura 6.1, pela recta horizontal ao eixo
das abcissas para o valor OO´.
PQ
(6.23a) EH1 =
OR
ou, alternativamente, pela percentagem da população pobre que o deixa de
ser em resultado das transferências:
PQ
(6.23b) EH2 =
OQ
Podemos também avaliar a eficácia das transferências em termos de
intensidade, isto é, calcular em que medida as transferências reduzem o
défice de pobreza (poverty gap). Repare-se que, de acordo com o método de
representação na Figura, o valor total das transferências é a área S*OST. Por
outro lado, o défice de pobreza é dado pela área O´OSQ´. As transferências
determinam a redução do défice de pobreza para O´S*P´, ou seja, opera
uma redução de S*OSQ´P´. Então, a medida da eficácia é então dada pelo
rácio:
Mas há também uma parte das transferências que não contribui para a
redução do défice da pobreza. Trata-se do valor dado pela área P´Q´T. As
transferências pagas às famílias excedendo, neste montante, o valor que é
necessário para eliminar a pobreza. Podemos então avaliar a eficiência das
transferências, isto é, qual a percentagem das transferências pagas às famílias
que reduzem o défice de pobreza. A eficiência das transferências é tanto maior
quanto menos for a parte “excedentária”, isto é, a que não é necessária para
reduzir este défice.
178
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Pode então usar-se, como indicador da eficiência das transferências, o
rácio:
S*OSQ'Q''
(6.25b) EC2 =
S*OST
Esta metodologia foi utilizada por rodrigues (2004) para avaliar o
efeito da prestação do rendimento mínimo garantido/rendimento social de
inserção sobre a redução da pobreza. Trata-se de um exercício de simulação
de política social, em que foram utilizados dados do Inquérito aos Orçamentos
Familiares do INE, de 2000.
179
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medida de política, 8% foi paga a famílias que inicialmente não seriam
consideradas pobres.
%
Pobreza antes das Pobreza após as Redução (em % da taxa
transferências transferências incidência antes)
Regimes social-democratas (países nórdicos)
Dinamarca 30 12 60,0
Suécia 29 9 69,0
Finlândia 28 12 57,1
Regimes corporativos (países continentais)
Alemanha 23 12 47,8
Áustria 24 12 50,0
França 26 13 50,0
Itália 23 19 17,4
Bélgica 28 15 46,4
Países Baixos 22 11 50,0
Luxemburgo 23 13 43,5
Regime liberal (países anglo-saxónicos)
Reino Unido 31 19 38,7
Irlanda 32 20 37,5
Países do Sul da Europa
Espanha 24 20 16,4
Grécia 23 20 13,1
Portugal 26 19 26,9
Países que aderiram mais recentemente
Bulgária 17 14 17,6
República Checa 21 10 52,4
Estónia 24 18 25,0
Letónia 26 19 26,9
Lituânia 26 21 19,2
Hungria 29 13 55,2
Polónia 30 21 30,0
Roménia 24 18 25,0
Eslovénia 26 12 53,8
Eslováquia 22 13 40,9
Malta 21 15 28,6
Chipre 22 16 27,3
180
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Este quadro compara as taxas de pobreza (incidência) antes e após benefícios
sociais. Estes benefícios sociais são transferências sociais pagas às famílias
para além das pensões (de velhice e de sobrevivência). Ou seja, quer no
cômputo de rendimento antes quer no do rendimento após, estas pensões
estão incluídas. O que significa que as transferências cujos efeitos estão a
ser considerados estão próximos, em termos de âmbito, das políticas sociais
dirigidas à pobreza. Faz, portanto, algum sentido fazer a análise dos dados
deste Quadro, onde os países se encontram agrupados segundo a tipologia
clássica dos regimes de Estado-providência na Europa, tal como estão
consagradas na literatura recente.
Leituras complementares
181
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que, no capítulo 3 (Economic Aspects of Social Policy) trata, nas páginas
70-77, da avaliação do efeito, sobre a desigualdade, da tributação e
transferências e, no capítulo 8 (Poverty), nas páginas 312-334 trata do efeito
das transferências sobre a pobreza.
• Ras, M., Pommer, E., Schut, J.M. (2002), Income on the Move,
DG EMPL/E1 Study Series, July 2002
Palavras-chave
182
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operações (aditivas; subtractivas) de redistribuição
progressividade vs. regressividade de programas sociais
183
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Anexo 1
184
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A. Diz-se, neste caso, que estamos a traçar uma curva de concentração que
é uma “generalização” do conceito de curva de Lorenz.
185
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• pi como a proporção das famílias que têm um valor para o atributo
B inferior ou igual a Bi ;
(4) r = r (p)
em que p ∈ (0,1] ∧ r ∈ (0,1]
1 Q(P)
C
ri
0 pi 1 P
Figura 1
186
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• à proporção pi de famílias de mais baixo valor para o atributo
B corresponde a proporção ri do valor total do atributo A: esta
interpretação corresponde à “leitura” da curva a partir do ponto
(0,0);
a) r(0) = 0, o que significa que não existe nenhuma família com valor do
atributo B inferior a Bi , e portanto a “nenhuma” família corresponde
“nenhum” valor para o atributo A;
187
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Anexo 2
Seja:
Tem-se então
188
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Podemos dizer que
(4) G´ = G * + (G´ − G * )
x
1
F1 [T(x) ]=
E[T(X)] ∫0
(7b) T(t) f (t) dt
x
1
F1 [D(x) ]=
E[D(X)] ∫0
(7c) D(t) f (t) dt
De (6) obtém-se
e daí:
E [X ] E [T(X) ]
(9) F1 [D(x)]= .F1 (x) + . F1 [T(x) ] =
E [X ]+ E [T(X) ] E [X ]+ E [T(X) ]
E [T(X) ]
= F1 (x) + . F1 [T(x) ]− F1 (x) =
E [X ]+ E [T(X) ]
e
= F1 (x) + . F1 [T(x) ]− F1 (x)
1+e
189
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em que:
E [T(X) ]
(10) e=
E [X ]
e portanto
E [T(X) ] E [T(X) ]
e E [X ] E [X ] E [T(X) ]
(11) = = =
1+ e E [T(X) ] E [X ]+ E [T(X) ] E [X ] + E [T(X) ]
1+
E [X ] E [X ]
A expressão em (11) mede, então, a proporção das transferências no
rendimento total (após transferências).
∞
(12) G * =1 − 2 ∫ F1 [D(x) ]f (x)dx =
0
∞
e
=1 − 2 ∫ F1 (x) + . F1 [T(x) ]− F1 (x) f (x)dx =
0
1+ e
e
∞ ∞ ∞
=1 − 2 ∫ F1 (x) f (x)dx + 1 − 2 ∫ F1 [T(x)]f (x)dx − 1 − 2 ∫ F1 (x)f (x)dx
0
1 + e 0 0
isto é:
e
(13) G* = G + (C T − G )
1+ e
em que
∞
(14) CT =1 − 2 ∫ F1[T(x)]f (x)dx
0
190
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isto é, a alteração da concentração do rendimento que resulta das transferências
é decomposta nos seguintes efeitos:
191
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