Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
As entidades sem fins lucrativos assumem, a cada dia, um papel muito relevante na
sociedade atual. São as maiores responsáveis pela realização das atividades de caráter
beneficente, filantrópicos, caritativo, religioso, cultural, educacional, científico, artístico,
literário, recreativo, de proteção ao meio ambiente, esportivo, e muitos outros serviços de
cunho social. Contribuem significativamente para o desenvolvimento econômico, social e
politico do país, pois realizam inúmeras atividades que deveriam ser de responsabilidade do
Estado, mas que deixam de ser por ele atendidas.
Para abordar o tema Terceiro Setor, faz-se necessário distinguir este dos demais
setores da sociedade. Segundo Fernandes (2002, p. 127) “a ideia de um “terceiro setor” supõe
um “primeiro” e um “segundo”, e nesta medida faz referência ao Estado e ao mercado”,
respectivamente.
Este setor se diferencia do segundo, por não ter a finalidade lucrativa, contudo, é
considerado um setor “privado, porém público”, (Fernandes, 2002, p.13), por ter
características dos dois setores.
Dias (2008) expõe uma visão ampliada sobre a composição do terceiro setor, a saber:
entidades beneficentes e assistências; entidades culturais, cientificas e educacionais; entidades
recreativas e esportivas; fundações privadas (inclusive as empresariais); organizações
nãogovernamentais; entidades beneficentes, assistenciais, culturais, cientificas, educacionais,
recreativas e esportivas vinculadas a religiões, igrejas ou assemelhadas; organizações de
caráter corporativo e entidades representativas patronais e profissionais (sindicatos,
federações, confederações e centrais de empregados e de empregadores, associações de classe
e de categoria profissional); organizações de defesa ou promoção de interesses e direitos
gerais; associações voluntarias; organizações religiosas; organizações políticas de caráter
partidário. Destas diversas instituições que fazem parte do terceiro setor pode-se destacar que
sob a ótica do Código Civil Brasileiro, entidades sem fins lucrativos são: associações,
fundações e organizações religiosas.
Pode-se notar que entre os autores do tema grande parte defende a ideia de que o
terceiro setor mescla um pouco dos dois outros setores, especialmente por usar de dinheiro
privado e público para proporcionar o bem-estar da sociedade e de forma voluntária. Dessa
forma, Silva (2010) vem evidenciar que o terceiro setor é visto como uma conjunção entre as
finalidades do setor público e a natureza do setor privado, ou seja, é composto por
organizações que visam a benefícios coletivos, porém de natureza privada. Além disso, ao
obter resultado positivo, este é revertido para a própria organização, a fim de melhorar suas
atividades direcionadas à sociedade.
2. TERCEIRO SETOR NO BRASIL
A primeira entidade sem fins lucrativos identificada na história brasileira foi a Santa
Casa de Misericórdia, fundada em 1543, em Santos (SP), com o apoio da Igreja Católica,
organização ainda existente nos dias de hoje.
Porém, a formação do “terceiro setor” com o modelo atual, com a participação ativa da
sociedade civil em parceria com a Administração Pública, é um resultado do século XX e está
intimamente ligada à alteração da forma de se sistematizar as atividades estatais.
Os itens acima tratam-se dos mesmos benefícios permitidos a uma entidade sem fins
lucrativos que detinha o título de Utiilidade Pública Federal (UPF) ou a qualificação de
OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), portanto a conclusão clara é
que os benefícios, até então reservados às entidades com UPF ou OSCIP, agora são de direito
de todas as entidades sem fins lucrativos, independente destas titularidades.
Desta forma, o título de UPF foi extinto, até porque a lei que o instituiu – Lei 91 de
28/08/35 foi revogada. Portanto este título não tem mais qualquer validade e, em consulta ao
Ministério da Justiça, a sua prestação de contas também não sera mais necessária.
Não existe, ainda, no âmbito do sistema normativo brasileiro, uma definição jurídica
do que é esse Terceiro Setor, ou uma qualificação de entidades jurídicas já existentes para
tarefas concernentes àquele.
3. TIPOS DE ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR
A classificação das entidades do Terceiro Setor tem gerado muita controvérsia dentro
e fora do mundo acadêmico, não existindo unanimidade entre os diversos autores, inclusive
no tocante a sua abrangência.
As entidades do Terceiro Setor são regidas pelo Código Civil (Lei nº 10.406/02, com
as introduções trazidas pelas Leis nºs. 10.825/03 e 11.127/05) e juridicamente constituídas sob
a forma de associações ou fundações ou organizações religiosas. Apesar de serem comumente
utilizadas as expressões “entidade”, “ONG” (Organização Não Governamental), “instituição”,
“instituto” dentre outras, essas denominações servem apenas para designar uma associação,
fundação ou organização religiosa, as quais possuem importantes diferenças jurídicas entre si.
As Fundações são entes jurídicos de direito privado que têm como fator
preponderante o patrimônio. Este ganha personalidade jurídica e deve ser administrado de
modo a atingir o cumprimento das finalidades estipuladas pelo seu instituidor, através de
escritura pública ou testamento, para servir a um objetivo específico, voltado a causas de
interesse público. A partir da vigência do Código Civil de 2002, somente podem ser
constituídas fundações para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (parágrafo
único do art. 62).
a) a finalidade ou os fins;
b) a origem ou a forma de criação;
c) o patrimônio;
d) o modo de administração;
e) o velamento do Ministério Público.
A finalidade, sempre lícita, é permanente, uma vez que, após definida pelos
instituidores, em escritura ou testamento, não pode ser modificada pelos administradores (CC,
Art. 67, II). Quanto à origem da fundação, esta é realizada pela manifestação de liberdade de
pessoas físicas ou jurídicas, que são os instituidores, por meio de escritura pública ou cédula
testamentária (CC, Art. 62). Com relação ao patrimônio, este de primordial importância na
caracterização da pessoa jurídica fundacional, é composto por bens livres que o(s)
instituidor(es) lega(m) ou doa(m) à futura entidade, para que ela possa, com aquela dotação
inicial, realizar as suas finalidades. O modo de administração ou a organização administrativa
é característica basilar do ente fundacional, pois, ao vincular-se um patrimônio a um fim,
verificou-se a necessidade de diferenciarem-se os instituidores dos administradores e de
organizar esses órgãos autônomos, mas subordinados, cabendo-lhes: deliberar e traçar metas e
diretrizes, função do conselho curador ou deliberativo; executar função do conselho
administrativo ou executivo e controlar internamente função do conselho fiscal. Há, ainda,
talvez como quinta característica das fundações de direito privado, o papel desempenhado
pelo Ministério Público como ente estatal incumbido, pela lei, de velar, acompanhar, intervir e
fiscalizar as fundações.
As organizações religiosas são pessoas jurídicas formadas por pessoas que se unem
para a realização de atividades sem finalidade lucrativa, voltadas à religiosidade e à profissão
da fé, muitas vezes realizando atividades voltadas para a coletividade.
O Art. 44, inciso IV, do Código Civil dispõe da organização religiosa, como pessoa
jurídica de direito privado. O parágrafo único do mesmo artigo estabelece que são livres a
criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas,
sendo vedado ao Poder Público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e
necessários ao seu funcionamento. A instituição e constituição da organização religiosa
assemelham-se à da associação. Nesse sentido, não existe controle estatal prévio dos seus atos
constitutivos (ata de criação e estatuto), e não há necessidade de elaboração de escritura
pública. Na organização religiosa, não existem sócios ou associados, mas, sim, “membros”.
São pessoas integradas pela confissão de fé, por votos, por compromissos ou por vivência
carismática existencial.
Após a sua constituição, a entidade sem fins lucrativos pode requerer títulos, registros,
certificados e qualificações. Para solicitar esses enquadramentos legais, a entidade deverá
observar os requisitos necessários à sua obtenção, bem como as obrigações decorrentes. Cada
título possui uma legislação específica que deve ser cumprida pela entidade interessada em
obtê-lo, ressalvando-se que nem todos os títulos são cumulativos (se pode ter um, nem sempre
pode ter outro). Os objetivos para concessão de títulos, qualificações e registros são:
Segundo Violin (2002, p. 195) “todos são títulos concedidos a pessoas jurídicas de
direito privado, devidamente constituídas, em forma de associações e fundações privadas, nos
termos da legislação civil, os quais permitem a concessão de benefícios às entidades
qualificadas, via subvenções, auxílios, convênios, contratos de gestão, termos de parceria”.
De acordo com a Lei n.º 12.101, de 2009, a certificação ou sua renovação será
concedida à entidade beneficente que demonstre, no exercício fiscal anterior ao do
requerimento, observado o período mínimo de 12 (doze) meses de constituição da entidade,
de acordo com as respectivas áreas de atuação, e cumpra, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
a) Ser constituída como pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
reconhecidas como entidades beneficentes de assistência social com a finalidade de prestação
de serviços nas áreas de assistência social, saúde ou educação, e que atendam ao disposto na
Lei 12.101 de 2009 e ainda deverão obedecer ao princípio da universalidade do atendimento,
sendo vedado dirigir suas atividades exclusivamente a seus associados ou a categoria
profissional.
b) Prever, em seus atos constitutivos, em caso de dissolução ou extinção, a destinação
do eventual patrimônio remanescente a entidade sem fins lucrativos congêneres ou a
entidades públicas
Com relação aos recursos, elas precisam aplicar suas rendas e eventuais resultados
integralmente no território nacional para a manutenção e desenvolvimento de seus objetivos
institucionais. É necessário aplicar as subvenções e doações recebidas nas finalidades a que
estejam vinculadas e, anualmente, pelo menos 20% da receita bruta em gratuidade, cujo
montante nunca será inferior à isenção de contribuições sociais usufruídas. Alves (2005)
destaca que os recursos obtidos não constituem patrimônio de indivíduo ou de sociedade sem
caráter beneficente de assistência social e que sejam declaradas de utilidade pública federal.
Organização Social é uma forma de qualificação das entidades para que possam
absorver atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, até então
desempenhadas diretamente pelo Poder Público. A obtenção da qualificação não é um direito
ou opção das entidades, uma vez que elas apenas serão qualificadas como OS (Organização
Social) se forem aprovadas quanto aos critérios de conveniência e oportunidade pelo Poder
Público. A ausência de critérios objetivos para a aprovação e escolha das entidades a serem
qualificadas, segundo alguns juristas, torna a Lei inconstitucional. As vantagens de se obter
essa qualificação são:
Para Tavares Neto e Fernandes (2010) foi a partir da lei que dispõe sobre as
Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIPs), Lei nº 9.790 de 23 de março de 1999,
que se constituiu o chamado “marco legal” do terceiro setor. Os autores destacam que: [...] a
referida lei trouxe a possibilidade de as pessoas jurídicas, formadas por grupos de pessoas ou
profissionais de direito privado sem fins econômicos serem qualificadas, pelo Poder Público,
como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs – e poderem com ele
relacionar-se por meio de termos de parceria desde que seus objetivos sociais e normas
estatutárias atendam aos requisitos da lei (TAVARES NETO; FERNANDES, 2010, p. 385).
Iniciou-se por conceituar o termo Terceiro Setor como o espaço ocupado pelo
conjunto de entidades privadas sem fins lucrativos que realizam atividades complementares às
públicas, visando contribuir com a solução de problemas sociais e em prol do bem comum.
_______, Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002: institui o novo Código Civil Brasileiro.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm> . Acesso em:
17/06/2018.
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Terceiro setor e Estado: legitimidade e regulação: por um
novo marco jurídico. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
EAESP / FGV – Revista Eletrônica do Terceiro Setor do Centro de Estudos do Terceiro Setor
– CETS . Disponível em: < integracao.fgvsp.br> acesso em 19/06/2018
FERNANDES, Rubem César. Privado, porém público: O terceiro setor na América Latina.
3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002.
NUNES, Andrea. Terceiro setor: controle e fiscalização. 2. ed. São Paulo: Método, 2006.
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Aspectos Gerais do Terceito Setor. São Paulo,
2011. Disponível em:
<http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/direito-terceiro-setor/cartilhas/REVISaO
%202011Cartilha_Revisao_2011_Final_Sem%20destaque%20de%20alteracoes.pdf> Acesso
em: 21/06/2018