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Aula 1: Contextualização e evolução do terceiro setor.

Aprofunde seus conhecimentos sobre Terceiro Setor e


Responsabilidade Social: seção 1.1, págs
23/25; Surgimento das ONGs: seção 1.2, pág
26; Classificações do Terceiro Setor: seção 1.3, págs
27/31; Pessoas Jurídicas de direito Público e
Privado: seção 1.4, págs 32 e 33; Entidades sem Fins
Lucrativos: seção 1.4, págs 34 e 35 do livro da disciplina

O terceiro setor é aquele formado por instituições decorrentes da


iniciativa privada, de caráter voluntário, que visam essencialmente ao
bem comum e não possuem finalidade de obter lucro com sua atuação.
Nesse sentido, a Gerência de Estudos Setoriais do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social – Geset/BNDES, em sua publicação
de 2001, Terceiro setor e desenvolvimento social, enfatiza que a
conceituação mais aceita na época de sua emissão é de que esse setor
representa
‘’ uma esfera de atuação pública, não estatal, formada a partir
de iniciativas privadas voluntárias, sem fins lucrativos, no
sentido do bem comum ’’

Evolução histórica
As organizações sociais, que atuavam com vistas ao bem-estar comum no Brasil, notadamente
de assistência às comunidades carentes, eram, em um passado mais distante, ligadas em sua
grande maioria à Igreja Católica.
As Santas Casas, bem como as irmandades e as ordens terceiras (franciscana, dominicana,
carmelita), que têm atuação registrada na nossa história a partir do século XVI, representam
exemplo clássico da atuação da Igreja Católica no Brasil. Assim, da fase do Brasil Colônia até
meados do século XIX, podemos observar a predominância da associação entre o poder estatal
e a Igreja Católica com a finalidade de atendimento assistencial.

Apesar de podermos identificar, no fim do século XIX, a participação relevante de entidades


sem fins lucrativos, como é o exemplo das Santas Casas, é no período dos governos militares,
pós-revolução de 1964, que observamos a consolidação de muitas organizações, talvez por
conta das restrições ao desenvolvimento de partidos políticos e instituições a eles ligadas. Outro
aspecto que cabe destacar diz respeito à entrada em cena de outras religiões, unindo a caridade
à prática religiosa.
Conforme Gohn (2013, p. 243):

‘’ Nos anos 70/80 as ONGs eram instituições de apoio aos


movimentos sociais e populares, estavam por detrás deles na luta
contra o regime militar e pela democratização do país. Ajudaram a
construir um campo democrático popular. Nesta fase as ONGs se
preocupavam em fortalecer a representatividade das organizações
populares, ajudava a própria organização se estruturar, muitas
delas trabalhavam numa linha de conscientização dos grupos
organizados.’’
‘’ No Brasil, as organizações não governamentais sem fins
lucrativos ganham força a partir do processo de
redemocratização política que se deu após o período da Ditadura
Militar (1964-1985). Mas foi a partir da década de 90 que
surgiram as principais organizações não governamentais no país,
como o Instituto Ethos (1998) e a Rede de ONGs da Mata
Atlântica, (1992) que reúne cerca de 312 instituições em 16
estados.’’

O ambiente econômico tem em sua composição três diferentes setores.

Primeiro setor:

Segundo setor:

Teiceiro setor:
Por fim, o terceiro setor, dada a sua importância, carece de uma norma
que regule o seu funcionamento e dê transparência ao seu relacionamento
com o Estado, abrangendo todas as entidades, independentemente de sua
certificação, titulação ou qualificação.
Aula 2 : Tipos, características e funcionamento das
entidades

vamos tratar da personalidade jurídica das organizações que compõem o


terceiro setor, que, como vimos na aula anterior, é formado por
instituições que não têm finalidade de lucro em suas operações, mas, sim,
visam ao bem comum.
Vamos concentrar os nossos estudos nos dois principais tipos jurídicos que
podem adotar as organizações que integram o terceiro setor, que são as
associações e as fundações, deixando de abordar, nesta disciplina, os
partidos políticos e as organizações religiosas por conta da especificidade
de suas atuações, que demandaria uma abordagem diferenciada.

Essas organizações, como qualquer pessoa jurídica, têm sua constituição


regulada em lei. A esse propósito, o Código Civil (BRASIL, 2002), em seu
artigo 45, assim estabeleceu:

‘’ Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado


com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo.’’

Então, o registro dessas organizações, em alguns casos, exigirá a aprovação


prévia do Poder Executivo, como as cooperativas e sindicatos, e deverá
conter, nos termos do artigo 46:
Associações
As associações, nos termos do artigo 53 do Código Civil (BRASIL, 2002), são constituídas por
pessoas que se organizam com finalidade não econômica e não possuem entre si direitos e
obrigações de forma recíproca, ou seja, nenhum associado, por conta da associação, possui
direitos contra outros associados ou obrigações perante estes.
É muito importante lembrar, nesse momento, o que nos ensinam Grazzioli et al. (2015, p. 25):
“Cada um dos associados constitui uma individualidade, e a associação, outra, tendo cada um
seus direitos, deveres e bens.”
Conforme o Manual do terceiro setor, elaborado pela equipe do Instituto Pro Bono – IPB:
[...] associação é toda união de pessoas, promovida com um fim
determinado, seja de ordem beneficente, literária, científica, artística,
recreativa, desportiva ou política, entre outras, que não tenha finalidade
lucrativa. Sua finalidade pode ser altruística — como uma associação
beneficente que atende a uma comunidade sem restrições qualificadas —
ou não altruística, no sentido de que se restringe a um grupo seleto e
homogêneo de associados.
(IPB, 2001, p. 9-10)
Devemos ressalvar que, apesar de as associações não terem a finalidade de obter lucro, elas não
estão proibidas de realizar transações de natureza comercial, isto é, geradoras de receitas. Mas
essas transações devem estar previa e expressamente contidas em seu estatuto, assim como todo
o retorno obtido deve ser destinado em sua integralidade para custear a finalidade da
organização.
O registro dos atos constitutivos das associações deve ser feito no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas – RCPJ, nos termos do artigo 114 da Lei nº 6.015/1973, que será vedado quando:
[...] o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou
atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à
segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral
e aos bons costumes.
A ata de constituição e o Estatuto são os atos constitutivos das associações, que lhes dão
existência formal, ou seja, a sua personalidade jurídica. No estatuto, conforme artigo 54 do
Código Civil, deverão constar:
1. I. A denominação, os fins e a sede da associação;
2. II. Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
3. III. Os direitos e deveres dos associados;
4. IV. As fontes de recursos para sua manutenção;
5. V. O modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
6. VI. As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
7. VII. A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (BRASIL, 2002, art. 54)

A gestão das associações em geral se dá com a existência de, ao menos, três organismos: a
assembleia geral; os administradores, que podem adotar a nomenclatura de diretoria executiva,
superintendência, direção geral, entre outros; e o conselho fiscal. Destes, por força da
determinação do Código Civil (BRASIL, 2002, art. 59), é a assembleia geral o órgão máximo
de deliberação, que tem poderes privativos para a destituição dos administradores e alteração
do estatuto, com o quórum e demais critérios estabelecidos no estatuto.
No entendimento de Grazzioli et al. (2015, p. 39), além desses poderes, o estatuto deve atribuir
as seguintes competências à assembleia geral:
[...] eleger os administradores; aprovar a previsão orçamentária e o plano
anual de ação, propostos preferencialmente pela Diretoria Executiva;
estabelecer as diretrizes de atuação da Diretoria Executiva; deliberar
sobre a alienação de bens patrimoniais de valor significativo; deliberar
sobre a aceitação, ou não, de doações com encargo; apreciar as contas,
aprovando-as ou rejeitando-as; aprovar alteração estatutária; denunciar às
autoridades competentes os erros, fraudes ou crimes de que porventura
tomar conhecimento, sem prejuízo de tomada das medidas
administrativas e judiciais.
A administração da associação é exercida, em geral, por organismo denominado
superintendência geral, diretoria executiva, entre outros, que será responsável pela realização
dos atos de gestão da associação. As competências necessárias à realização dos atos de gestão a
serem atribuídas ao órgão responsável pela administração são, entre outras, gerir os recursos da
associação, contratar e demitir empregados, cumprir as deliberações feitas pela assembleia
geral, fazer cumprir e cumprir o estatuto da associação e elaborar as peças contábeis e a
prestação anual de contas.
A missão do conselho fiscal, por sua vez, é a de fiscalizar as ações tomadas pela direção da
associação e como são utilizados os recursos financeiros captados. A sua constituição é muito
importante, constando como condição necessária à obtenção de certificados e qualificações,
bem como para a obtenção de recursos públicos. Um exemplo é a qualificação como
organizações da sociedade civil de interesse público – Oscips, instituída pela Lei nº
9.790/1999, que exige, entre outros aspectos, a constituição de conselho fiscal para a sua
obtenção.
Organizações Sociais – OSs e Oscips não são tipos de sociedades, mas sim qualificações que as
sociedades sem fins lucrativos, como as associações e fundações, podem obter para se
qualificarem a receber recursos públicos, isenções fiscais etc.

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