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Dos aspectos trabalhistas e das relações de trabalho (remunerada e não

remunerada) no âmbito das fundações, associações e entidades de interesse social

A sociedade civil organizada, representada pelas Fundações, Associações e Entidades


de Interesse Social é hoje indiscutivelmente componente essencial para o resgate e para
a construção da dignidade do cidadão.

Seus propósitos, seus princípios e seus valores cativam um número cada vez maior de
pessoas e estimulam-nas a se engajarem na luta social, tanto de forma profissional e,
portanto, remunerada, como de forma voluntária e, portanto, não remunerada.

Nesta temática, será discutido o trabalho remunerado, não só aquele estruturado sobre a
relação de emprego existente entre a entidade e seus empregados, como também aquele
oriundo da participação de pessoal para o desempenho de tarefas específicas, sem que
haja a formação de relação empregatícia, como ocorre, por exemplo, com os
trabalhadores temporários, os estagiários e os autônomos.

Também será abordado sobre o trabalho não remunerado exercido por aquelas pessoas
que doam seu tempo e talento para as entidades do Terceiro Setor. Por fim, seguirá
elenco das obrigações trabalhistas, previdenciárias e sindicais de responsabilidade da
entidade.

Do trabalho remunerado, do contrato de trabalho e da relação de emprego

As fundações, associações e entidades de interesse social que necessitarem contratar


empregados deverão seguir os ditames ou as regras previstas na Consolidação das Leis
do Trabalho – CLT (Decreto-Lei n.º 5.452/1943) e nas respectivas Convenções
Coletivas de Trabalho. Destaque-se que a CLT foi alterada pela Lei n.º 13.467, de
13.07.2017, para se adequar às novas relações de trabalho.

Sabidamente, podem ser empregadores ou tomadores dos serviços as pessoas jurídicas


de direito público e de direito privado ou físicas. Em que pese o contrato de trabalho
seja a modalidade por excelência da prestação de serviços no campo empresarial
(segundo setor), é prescindível a finalidade lucrativa para se caracterizar a figura do
empregador.

Especificamente sobre as pessoas jurídicas de direito privado, dispõe o art. 2.º, § 1.º, da
CLT: “§ 1.º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de
emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações
recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como
empregados”. Não há nenhuma diferenciação legal a estes empregadores (as instituições
sem fins lucrativos) quer quanto à forma de contratação, quer quanto aos encargos
sociais devidos ao fato de que são entidades sem fins lucrativos e apresentam
finalidades ou objetivos sociais.

A relação de emprego tem natureza contratual e contém quatro elementos: pessoalidade,


continuidade, onerosidade e subordinação. O próprio art. 3.º da CLT expressa esse
entendimento ao definir empregado como “toda pessoa física que prestar serviços de
natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.

É necessário o registro no “livro” ou “fichas de registro de empregados”, no órgão


competente, atualmente ligado ao Ministério da Economia, para a admissão de
empregados com vínculo de emprego, bem como a observação dos dispositivos legais
no que concerne à anotação de carteira de trabalho e os principais eventos relacionados
ao vínculo de emprego, tais como férias, promoções, licenças, adicionais, pagamento de
contribuições sindicais, término do vínculo etc.

Do trabalho não remunerado: o serviço voluntário

A ação voluntária, o serviço voluntário ou o voluntariado é a forma com que cada vez
mais pessoas procuram contribuir para uma nova ordem social, conscientes da sua
responsabilidade ante uma sociedade desigual.

No trabalho voluntariado, as pessoas que dão continuidade a sua atividade são aquelas
que entendem perfeitamente e com profundidade a importância e o significado de sua
ação, e o que ela pode trazer de retorno para si e para a vida do outro. É uma atitude que
envolve sentimento, cumplicidade e expectativa de mudança, transformação social e
espiritual.

Portanto, a noção de voluntariado vincula-se diretamente a aspectos de engajamento


social e cidadania, notadamente pela disponibilidade de prestar serviços a quem delas
necessite, sem expectativa de auferir benefícios financeiros. No Brasil, o conceito de
serviço voluntário tem começado a se impor de maneira distinta do de filantropia, tal
como era ela praticada há muitos anos, quando existia a visão paternalista, com a prática
de donativos, sem qualquer vínculo com a emancipação daquele que necessitava de
ajuda.
Em termos legislativos, há a Lei n.º 9.608/1998, que disciplina a matéria. Em termos de
ações globalizadas, a ONU escolheu o ano de 2001 como o Ano Internacional do
Voluntário, dando condição ao desenvolvimento de campanhas sobre o tema,
propiciando maior engajamento das pessoas, entidades e do próprio governo no trabalho
pelo bem do próximo; em termos de forma de atuar, são cada vez maiores, mais
abrangentes e criativas, com a participação de estudantes, donas de casa e profissionais
liberais, tais como médicos, dentistas, psicólogos ou advogados, que dedicam parte do
seu valioso tempo livre a trabalhar voluntariamente em instituições privadas ou em
Centro de Voluntariado. Tudo para, na verdade, desenvolver o altruísmo como valor
ético e cultural e propagar o “serviço” sem esperar nada em troca, além do prazer de
servir ao próximo.

Referências

PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social - aspectos


jurídicos, administrativos, contábeis, trabalhista e tributário. 10 ed. Brasília: Brasília
Jurídica, 2020.

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