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Cooperativa: sociedade, empresa ou forma singular de

empresa (arts.1.093 - 1.096 C.Civil)

Thiago Pereira Vilela


Aluno do 2º ano do Curso de Direito da UNESP (campus de Franca-SP)

Sumário: 1. Introdução. 2. Histórico. 3. Conceito.


4. Cooperativa sui generis. 5. Sociedade cooperativa.
6. A cooperativa e a empresa. 7. Cooperativa e forma
singular de empresa. 8. Conclusão. 9. Bibliografia

1. Introdução

A cooperativa é uma sociedade de pessoas e rege-se pelos princípios da

sociedade simples. Para melhor caracterizá-la, será feita uma comparação entre ela e

sociedades empresariais. As sociedades simples foram introduzidas pelo novo Código

Civil em substituição às sociedades civis, abrangendo aquelas sociedades que não

exercem atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 982), isto é, atividades

não empresariais ou atividade de empresário rural.

A sociedade cooperativa possui características que lhe são peculiares e isso já é

o bastante para diferenciá-la das demais sociedades. Por conseguinte, analisaremos os

aspectos que conduzem à sua constituição, como o princípio da solidariedade e os

procedimentos em que ela tem atuado tanto em relação aos cooperados quanto em

relação a terceiros.

2. Histórico
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A história do cooperativismo recente guarda relação direta com o desequilíbrio

da distribuição de renda e da alocação de riquezas, quadro que, na fase de concepção do

movimento (meados do século XIX), se via agravado pelas repercussões da Revolução

Industrial.

Seguindo o exemplo dos tecelões de Rochdale, na Inglaterra, que, em 1844, se

agruparam em associação cooperativa para ter acesso a alimentos mais baratos (pela

compra direta junto ao produtor, eliminando a figura do intermediador), agricultores do

município de Flammersfeld, Alemanha, elegeram a via cooperativada para pôr fim a

agiotagem que imperava na região, razão da hipoteca de suas propriedades e

benfeitorias e da penhora de seus animais. Liderados pelo servidor público e filho de

agricultores Friedrich Wilhelm Raiffeisen, assessorado pelo Pastor Muller, os pequenos

produtores, em 1848, através da criação de associação de auto-ajuda (Associação de

Amparo aos Agricultores sem Recurso, também batizada de “Caixa Rural”), resolveram

reagir a ações espertas de um comerciante de gado do local, que, em retribuição a

cedência de vacas de leite, cobrava, documentalmente, novilhas do rebanho, impondo

juros e amortizações muito além da capacidade de solvência dos agricultores. A

solução, na prática, consistia em reunir as economias de produtores mais abastados e

com elas atender às necessidades individuais dos rurícolas menos favorecidos, sem a

perspectiva do ganho abusivo. Nascia, assim, sob a égide da auto-ajuda e do

mutualismo, como fonte alternativa e democrática de financiamento, o movimento

cooperativista de crédito.

Esta relação de interdependência entre os homens, de modo que, a ação

desenvolvida por um repercutia, bem ou mal, nos outros, favoreceu a idéia de


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solidariedade social diante da ineficácia do Estado em atender às necessidades da

população.

Assim,

é evidente que a solidariedade pode realizar-se por outros meios que não pela
intervenção do Estado, a começar pelos inumeráveis modos de associações. A
associação cooperativa sob suas diversas formas é, juntamente com a associação
sindical e a mutualidade, a solução mais frequentemente preconizada pelos
solidaristas. E os solidaristas, estimam que aquelas formas, por serem livres, são
superiores à ação do Estado que é necessariamente coercitiva – o que não quer
dizer que a coerção não se torne indispensável onde quer que os indivíduos sejam
incapazes de realizar, por si próprios, a solidariedade livre”. (FRANKE, 1973,
p.3)

Assim sendo, o mais alto princípio ao qual se subordina, inalteravelmente, a

ação cooperativa, é o de que a cooperativa não existe para explorar serviços no seu

próprio interesse, mas para prestá-los desinteressadamente aos seus membros, os

cooperados. Essa atitude básica pressupõe um ideário sócio-econômico, ou seja, o

solidarismo, entendido como expressão de um comportamento comum em que o

interesse da cooperativa se identifique com o do cooperado. É exatamente esse ideário

que distingue as cooperativas, por forma inequívoca, de outras orientações econômicas.

Sem embargo desse aspecto do solidarismo, cuja fundamentação parece limitar-

se a considerações de moralidade e utilidade, o que realmente prevalece é o pensamento

de que a solidariedade, como fato social, só é criadora de uma ordem jurídica mais

razoável e humana, quando fecundada, na sua atuação, por um ideal de justiça,

concretizado no auxílio mútuo que os homens se prestem voluntariamente ou, se

preciso for, mediante coerção do Estado, em busca do bem comum.

Urge, portanto, transformar a sociedade dos homens em uma sorte de grande

sociedade de socorros mútuos em que a solidariedade natural, ratificada pela boa


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vontade de cada um, ou, na falta, pela coerção legal, se transformará na justiça pela qual

cada indivíduo será chamado a tomar sua parte do fardo e também do lucro de outrem.

3. Conceito

Uma definição unitária tropeça, com efeito, no poliformismo das organizações

cooperativas. Aliás, o presente trabalho objetiva estabelecer diferenças que permitem

caracterizar a cooperativa tanto como sociedade de pessoas, empresa, ou forma singular

de empresa.

Há quem diga que cooperativa é toda comunidade de pessoas – em contraste

com a união de capitais – para a persecução de fins comuns; por essa definição, a

característica fundamental é dirigida a proporcionar utilidade aos associados, não na

proporção da participação no capital, mas na medida em que participem dos negócios;

porém, tal assertiva fere os princípios que regem, por exemplo, as cooperativas de

produção ou de crédito, sem que se possa negar a esses empreendimentos o caráter

cooperativo.

A doutrina alemã conceitua cooperativa como sociedade de número não fechado

de sócios, a qual visa ao fomento da indústria e economia de seus membros, mediante a

exploração de negócios em comum. Indica sua natureza econômica tanto quanto, isso

seja possível. Ao lado da satisfação de vantagens materiais proporcionada aos

associados, é de considerar-se o valor educacional da cooperativa. Existe o laço da

solidariedade que une os seus membros, consciente, e por vezes, inconscientemente.

Já a Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971 que regula a Política Nacional de

Cooperativismo trouxe a seguinte definição: “As cooperativas são sociedades de

pessoas, com forma e natureza jurídicas próprias, de natureza civil, não sujeitas a
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falência, constituídas para prestar serviços aos associados [...]”(BRASIL, on line).

Nesse sentido, percebe-se a dificuldade de uma conceituação unitária, agravado pelo

aparecimento de novas categorias de cooperativas.

Entretanto, o elemento decisivo para caracterizá-las é a utilização, pelos

associados, dos serviços sociais comuns; Não se concebe cooperativa em que os

associados não operem com a sociedade, praticando, com ela, os negócios internos, o

negócio-fim, por cujo intermédio a cooperativa, em contato com o mercado, deverá

promover o incremento das economias dos sócios e a obtenção de recursos destinados a

obras de assistência, cultura e educação. Logo,

Trata-se da realização prática, no âmbito cooperativo, da regra conhecida como


princípio de dupla qualidade. A empresa cooperativa não tem existência
autônoma; sua natureza é eminentemente instrumental; criada, substancialmente,
para servir aos sócios, viverá enquanto e na medida em que os mesmos dela se
servirem. ( FRANKE, 1973, p.68)

O que é, certamente, essencial ao conceito de cooperativa é que esta promova a

defesa e melhoria da situação econômica dos cooperados, quer obtendo, para eles, ao

mais baixo custo, bens e prestações de que necessitam, quer colocando, no mercado, a

preços justos, bens e prestações por eles produzidos.

4. Cooperativa sui generis

A cooperativa é uma é uma organização econômica sui generis; não é um

empreendimento lucrativista, não é expressão de uma economia comunitária, de tipo

coletivista, mas também não é associação caritativa. Ela se distingue conceitualmente

das demais organizações por um traço altamente característico: enquanto nas


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organizações não cooperativas a pessoa se associa para participar dos lucros sociais na

proporção do capital investido, já na cooperativa a razão que conduz à filiação do

associado não é obtenção de um dividendo de capital, mas a possibilidade de utilizar-se

dos “serviços”da sociedade para melhorar o seu próprio “status”econômico.

Para isso, entretanto, impõe-se que o sócio da cooperativa seja, ao mesmo

tempo, o seu usuário ou cliente. Nas cooperativas de consumo, por exemplo, a posição

de sócio só tem razão de ser quando ele associa para o fim de abastecer-se, nos

armazéns da cooperativa, de bens necessários ao uso e consumo domésticos. Nas

agrícolas, a filiação do produtor somente adquire sentido quando seu ingresso se fez

para permitir-lhe a entrega de seus produtos, a fim de sejam vendidos, por intermédio

da cooperativa, no mercado consumidor. É, pois, essencial ao próprio conceito de

cooperativa que as pessoas que se associam, exerçam, simultaneamente, em relação a

ela, o papel de sócio e usuário ou cliente. E o que em direito cooperativo, se exprime

pelo nome de “princípio de dupla qualidade”, cuja realização prática importa, em regra,

a abolição da vantagem patrimonial chamada “lucro”que, não existisse a cooperativa,

seria auferida pelo intermediário.

Visando a cooperativa, como pessoa jurídica, à defesa a ao fomento da

economia individual dos associados, não atingiria ela seus objetivos caso enriquecesse

em detrimento e às custas de seus integrantes. Assim sendo, ela deve possuir um caráter

instrumental ou auxiliar que permita amparar e propiciar melhores condições

econômicas de seus cooperados.

Por conseguinte,
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Ë preciso distinguir entre o fim (causa final) da sociedade cooperativa e seu


objeto. O fim da cooperativa é a prestação de serviços ao associado, para a
melhoria do seu status econômico. A melhoria econômica do associado resulta do
aumento de seus ingressos ou da redução das suas despesas, mediante, a
obtenção, através da cooperativa, de créditos ou meios de produção, de ocasiões
de elaboração e venda de produtos, e a consecução de poupanças.
Objeto do empreendimento cooperativo é o ramo de sua atividade empresarial; é
o meio pelo qual, no caso singular, a cooperativa procura alcançar o seu fim, ou
seja, a defesa e melhoria da situação econômica do cooperado. (FRANKE, 1973,
p.15)

Dentro do objeto do empreendimento cooperativo atual, pode-se perceber a

existência de diversos ramos de atividade. Entre estes, citam-se:

- Cooperativas de Produção: aquelas que detêm os meios de produção, de modo a ser

proprietária do produto integral do trabalho, afastando a figura do empresário e do lucro

adquirido com a detenção dos meios de produção;

- Cooperativas de crédito: aquelas que oferecem empréstimos e financiamentos aos

cooperados a taxas bem inferiores que as praticadas no mercado;

- Cooperativas de trabalho: aquelas que se dispõem a contratar obras, tarefas, serviços

públicos ou particulares para determinado grupo de trabalhadores de mesmo ofício;

- Cooperativas de Consumo: aquelas que se destinam a oferecer aos sócios bens e serviços

relacionados a atividades familiares e pessoais, que elimina a figura do intermediário;

- Cooperativas de habitação: aquelas que se ocupam com a construção ou compra de casas

de moradia, para alugá-las ou transmiti-las aos cooperados;

E serão consideradas mistas as cooperativas que apresentarem mais de um

objeto de atividades.
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Em todos esses casos, o fim da cooperativa se identifica com o de sua clientela,

funcionando a sociedade como instrumento de satisfação das necessidades domésticas e

empresariais dos cooperados.

Ademais, a distribuição, entre os associados, do lucro auferido dos negócios da

cooperativa com estranhos, implicaria na descaracterização da cooperativa, atribuindo-

lhes finalidades eminentemente capitalistas. Se esse lucro, porém, não for partilhado

entre os sócios, mas levado a fundo indivisível destinado ao fomento da educação ou a

fins de assistência social, isto é, a um fundo cuja aplicação envolva interesses de

utilidade coletiva, pode-se afirmar que a cooperativa não só cumpre sua missão de

melhorar as economias associadas como também investe na área social, tão defasada

pelo poder público atual.

5. Sociedade Cooperativa

O Código Civil de 2002 definiu a sociedade cooperativa como sociedade

simples:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que


tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro
(art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único: Independentemente de seu objeto, considera-se
empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. (BRASIL, 2003,
p.186)

Permanece a ser regida por lei especial (Lei nº 5.764/71) limitando-se o Código

a estabelecer suas características fundamentais. Resguardadas essas características, no

que a lei especial de sua regência for omissa, aplicam-se-lhes as disposições referentes à

sociedade simples. Dessa forma, elas se excluem de eventual falência, ficando sujeita à

insolvência civil. Por esse caráter, seu registro é civil e sua atividade não é empresarial,
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mas, pode-se utilizar meios empresariais para atingirem o objeto social,

exclusivamente, pois, a finalidade não é o lucro.

Sendo a sociedade cooperativa uma modalidade de sociedade simples, o seu

estudo não se localiza no Direito de Empresa, razão pela qual apenas nos limitaremos a

indicar aqueles elementos essenciais à constituição do seu perfil, a saber:

a) variabilidade ou dispensa do capital social que pode ser constituído por bens

ou por serviços.

b) concurso de sócios em número mínimo necessário à composição de seu órgão

de administração, sem, entretanto, haver restrição ao número máximo;

c) limitação do valor das quotas do capital social que cada sócio poderá deter;

d) intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos ao corpo de

cooperados, ainda que em razão de herança;

e) quorum de instalação e de deliberação de assembléia dos cooperados

estabelecidos em razão do número de sócios presentes ao encontro social e não com

base no capital representado;

f) direito de cada cooperado a um só voto nas deliberações assembleares, tenha a

cooperativa ou não capital e independente do valor de sua participação caso o tenha;

g) distribuição do resultado em proporção direta ao valor das operações

efetuadas pelo sócio cooperado com a sociedade com a sociedade, podendo ser

atribuído juro fixo ao capital realizado;

h) indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de

dissolução da sociedade;
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i) responsabilização limitada ou ilimitada dos sócios em relação às dívidas da

sociedade cooperativa. É limitada a responsabilidade quando o sócio responde somente

pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a

proporção de sua participação nessas mesmas operações; é ilimitada quando o sócio

responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;

Embora sociedade simples, a sociedade cooperativa encontra-se sujeita à

inscrição na Junta Comercial, por força de previsão em Lei especial (Lei nº 5.764/71,

artigo 18), que prevalece na espécie, conforme ressalvam os artigos 1.093 e 1.096 do

novo Código.

6. A cooperativa e a empresa

Vimos que a sociedade cooperativa rege-se pelos princípios e disposições da

sociedade simples, dessa forma seria um erro colossal considerar a cooperativa como

sendo uma sociedade empresária. Tanto que a sociedade empresária manifesta-se como

uma organização técnico-econômica, que ordena o emprego de capital e trabalho para a

exploração, com fins lucrativos, de uma atividade produtiva. Assim sendo, já de forma

conceitual, a sociedade cooperativa de distancia dos fins adotados pela sociedade

empresária, marcada, fundamentalmente pela finalidade lucrativa.

Desse modo. pode-se perceber que o cooperativismo ao longo de sua existência

se apresentou como um sistema fechado ao mercado. No entanto, neste novo cenário

econômico em que estão inseridas as sociedades cooperativas, elas passam por

mudanças e adotam, de forma contundente, práticas e estratégias inerentes às

atividades mercantis, buscando sua inserção no mercado capitalista de forma a alcançar

os fins desejados. A própria legislação dá um tratamento uniforme, em alguns casos, às


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cooperativas em relação às empresas, a exemplo do art. 91 da Lei Cooperativista: as

cooperativas igualam-se às demais empresas em relação aos seus empregados para os

fins da legislação trabalhista e previdenciária. (BRASIL on-line)

O cooperativismo, em sua relação com terceiros, avança de forma tão eficaz ao

ponto de se questionar o caráter empresarial ou associativo de sua organização. É o que

se discute em relação às cooperativas de crédito. Estas vem ganhando cada vez mais

espaço no mercado de modo a serem equiparadas aos bancos, a despeito de que seja

vedado às cooperativas o uso da expressão "Banco". Além disso, estratégias como o

marketing empresarial, a propaganda publicitária, a criação de marcas, a concorrência

mercantil, dentre outras, propicia um aprofundamento nas relações das cooperativas

com terceiros.

Não se pode, contudo, entender o avanço dessas cooperativas no que tange aos

atos mercantis como um desrespeito às normas regulatórias de seu funcionamento.

Estas podem auferir lucros com terceiros, ainda que este não seja o seu objetivo perante

os sócios.
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Conseqüentemente, ao adotarem, as cooperativas, procedimentos e formas de

interação com terceiros muito semelhantes à atividade empresarial, supõe-se tratar-se de

um mesmo tipo societário, contudo, possuem colossais diferenças. A título

exemplificativo, citaremos as cooperativas de créditos e os bancos:

BANCOS COOPERATIVAS DE CRÉDITO


- São sociedades de capital - São sociedades de pessoas
- o poder é exercido na proporção do número - O voto tem peso igual para todos (uma pessoa
de ações um voto)
- as deliberações são concentradas - as decisões são partilhadas entre muitos
- o administrador é um 3º (homem do - o administrador é do meio (cooperativado)
mercado)
- o usuário das operações é mero cliente - o usuário é o próprio dono
- o usuário não exerce qualquer influência na - toda política operacional é decidida pelos
definição do preço dos produtos próprios usuários/donos (cooperativados)
- podem tratar distintamente cada usuário - não podem distinguir: o que vale para um vale
para todos (art. 37 da lei nº 5.764/71)

- preferem o grande poupador e as maiores - não discriminam, voltando-se mais para os


corporações menos abastados
- priorizam os grandes centros - não restringem, tendo forte atuação nas
comunidades mais remotas
- tem propósitos mercantilistas - a mercancia não é cogitada
- A remuneração das operações e dos serviços não - o preço das operações e dos serviços visa à
tem parâmetro/limite cobertura de custos (taxa de administração)
- atendem em massa, priorizando, ademais, o - o relacionamento é personalizado/individual,
auto-serviço/a automação com o apoio da informática
- não tem vínculo com a comunidade e o público- - estão comprometidas com as comunidades e os
alvo usuários
- avançam pela competição - desenvolvem-se pela cooperação
- visam ao lucro por excelência - o lucro está fora do seu objeto
- o resultado é de poucos donos(nada é dividido - o excedente (sobras) é distribuído entre todos
com os clientes) (usuários), na proporção das operações
individuais, reduzindo ainda mais o preço final
pago pelos cooperados
- no plano societário, são regulados pela Lei das - são regulados pela Lei Cooperativias
Sociedades Anônimas

As cooperativas de crédito, além da circunstância de serem autorizadas a

funcionar e fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil têm em comum com o sistema
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bancário tradicional apenas o nome de alguns produtos que oferecem e de alguns

serviços que prestam. E isso em razão da unidade da fonte normativa. Por conseguinte,

são tidas como instituições financeiras por equiparação.

As diferenças entre a sociedade cooperativa e as empresas não param por aí. O

art. 79 da Lei nº 5.764/71 assim enuncia:

Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus


associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados,
para a consecução dos objetivos sociais.
Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem
contrato de compra e venda de produto ou mercadoria. (BRASIL, on-line)

De acordo com esta definição o associado desempenha, a um só tempo, uma

dupla função na cooperativa (dono e usuário/tomador de serviços), o que caracteriza o

ato cooperativo em oposição ao ato mercantil ou operação de mercado, em que dono e

clientes são atores distintos, estranhos entre si. Assim sendo, o ato cooperativo não gera

tributação para seus usuários por não ser uma operação de mercado e tampouco vínculo

empregatício para efeitos trabalhistas. Também constitui balizamento essencial, para o

não reconhecimento, pelos tribunais de todo o país, de suposta relação de consumo nas

convenções entre cooperativa e seus cooperativados, não se prestando o Código de

Defesa do Consumidor para resolver eventuais divergências que daí possam derivar.

Operando com a clientela associada no intuito de melhorar-lhe a situação

econômica mediante serviços específicos que lhe presta, não tem a cooperativa razão

para lucrar a suas expensas. É o que ocorre, por exemplo, com as empresas mercantis,

cujo fim é alcançarem para seus integrantes uma renda proporcional ao capital

investido, realizada por meio de negócios efetuados, principalmente, com terceiros e,


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eventualmente, com os próprios sócios, que, nessas operações, se encontram na posição

de terceiros.

Em relação aos lucros obtidos Franke (1973, p.19-20) afirma que

Nas cooperativas que operam em círculo fechado com a clientela associada, as


diferenças entre as receitas e as despesas, apuradas nos balaços anuais, quando
positivas, podem ter uma aparência de lucro. Na realidade, porém, trata-se de
“sobras”resultantes de haver o associado pago a mais pelo serviço que a
cooperativa lhe prestou ou, inversamente, de ter ela retido um valor excessivo
como contraprestação do serviço fornecido. As “sobras”tecnicamente, não são
“lucros”, mas saldos de valores obtidos dos associados para cobertura de
despesas, e que, pela racionalização ou pela faixa de segurança dos custos
operacionais com que a cooperativa trabalhou, não foram gastos, isto é,
“sobraram”, merecendo, por isso, a denominação de “despesas poupadas” ou
“sobras”. Ora, corresponde a uma exigência de justiça distributiva, que as
“sobras”sejam devolvidas aos cooperados na mesma medida em que estes
contribuíram para sua formação. A idéia da devolução das sobras aos associados
na proporção das operações que tenham feito com a sociedade, deu nascimento ao
instituto jurídico do “retorno”, [...]

Com efeito, sociedade cooperativa e sociedade empresarial apresentam muitos

pontos em comum e tantos outros, divergentes. É bem verdade que ambas possuem

diferentes classificações e um tratamento legislativo típico, não obstante, esses dois

tipos societários adotam procedimentos tão próximos uns dos outros que podem até se

confundir na ordem prática. O que se deve levar em consideração são as finalidades

almejadas por elas, isto é, pelos seus usuários.

7. Cooperativa e forma singular de empresa

A forma singular de empresa, assim como a sociedade empresária, apresenta

traços, desde logo, que a diferencia da sociedade cooperativa. Para que o estudo seja

facilitado, faz-se necessário definir a forma singular de empresa.

A forma singular de empresa se divide em microempresa e empresa de pequeno

porte.
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A microempresa

É um conceito criado pela Lei nº 7.256/84 (estatuto da microempresa) e,


atualmente, regulado pela Lei nº 8.864, de 28 de março de 1994, com alterações
introduzidas pela Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, que estabelecem
normas também para as empresas de pequeno porte, em atendimento ao disposto
no art. 179 da Constituição Federal. (HENTZ, 1998, p.60)

Fruto de uma política de desburocratização, para agilizar o funcionamento dos

pequenos organismos empresariais, a microempresa, para fins de enquadramento no

SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições de

Microempresas e das empresas de pequeno porte – deve ser considerada pessoa jurídica

ou firma individual que tenha receita bruta anual igual ou inferior a R$ 435.000,00. E a

empresa de pequeno porte, a pessoa jurídica ou firma individual, que não enquadrada

como microempresa, tenha receita bruta anual entre R$ 435.000,00 e R$ 2.000.000,00.

Nesse sentido, de início se entende que a as formas singulares de empresa, ou

seja, microempresa e empresa de pequeno porte têm por objeto a finalidade lucrativa

diversamente do que ocorre com a sociedade cooperativa. Além dessa diferença, vê-se

que as formas singulares de empresa seguem os princípios institutivos da empresa

stricto sensu, com algumas exceções.

Porém, também são apresentadas com nitidez as semelhanças entre estas e a

sociedade cooperativa, como por exemplo, o fato de receberem um tratamento

diferenciado e simplificado, nos campos administrativo, fiscal, previdenciário,

trabalhista e creditício.
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8. Conclusão

A sociedade cooperativa tem a forma, obrigatoriamente, de uma sociedade

simples, de forma que não dispõe de alternativas para a sua regulamentação, como

ocorre com outros tipos societários, exceto com as sociedades anônimas. Por essa

conceituação, as cooperativas diferem das demais sociedades empresariais, pela

maneira e pelo fim de seu objeto social, visto que, enquanto essas visam como

finalidade maior o lucro, aquelas podem se utilizar do “lucro”, ou melhor, das sobras

líquidas para atingir seu fim maior, o qual não é o lucro, mas o bem-comum de todos os

sócios, indistintamente, da sociedade cooperativa.

Por isso, esse tipo societário precisa ter sua relevância evidenciada a cada dia

mais, uma vez que se trata de uma forma alternativa e autônoma das pessoas carentes de

trabalho e renda se unirem, a fim de obterem o que sozinhas seria praticamente

impossível de alcançarem. Em vista da atual conjuntura de nosso país, as cooperativas

podem ser uma ótima saída, pelo seu princípio mutualista e pela sua inspiração

democrática, tidas como norteadores desse tipo societário.

Fica evidenciado que as cooperativas sejam tão semelhantes às formas

singulares de empresa e às sociedades empresariais; Sejam nas suas formas de atuação,

como a organização, as estratégias adotadas, a relação com terceiros, o tratamento

privilegiado fornecido pelo legislador, ou seja, a despeito de todas essas identidades

existentes, apresenta suas características que lhe são inerentes e exclusivas de modo a

objetivar, eminentemente, a melhoria da condição de cada um de seus membros.


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9. Bibliografia:

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Federal, 2003.

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promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto por Juarez de
Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. (com emendas, 2002).

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BRITTO, Marcel. O ato cooperativo e suas relações obrigacionais. 2002. 129f.


Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de História, Direito e Serviço Social,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2002.

FRANKE, Walmor. Direito das sociedades cooperativas: São Paulo: Saraiva,


1973.

HENTZ, Luis Antonio Soares; Direito Empresarial: doutrina e jurisprudência:


São Paulo: Led Editora de Direito,1998.

MEINEN, Enio; DOMINGUES, Jefferson Nercolini; DOMINGUES, Jane Aparecida


Stefanes. Cooperativas de crédito no direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra
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PRUX, Oscar Ivan; HENTZ, Luiz Antonio Soares; ALMEIDA, Marcus Elidius
Michelli de. Comentários ao Código Civil brasileiro: da sociedade, do
estabelecimento e dos institutos complementares. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
V. 10.

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