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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: CAD7302 - Laboratório de Gestão: Organizações da Sociedade Civil
Professor: Sérgio Luís Boeira
Graduandos: Bruna Vallin Santos, Thiago Rodrigues,
Wellington Koefender, Yasmin Juppa.

ECONOMIA SOLIDÁRIA

Em um mundo onde o “ter” é, muitas vezes, mais importante do que o “ser” e o


capitalismo aliena os cidadãos de forma a gerar lucro acima de tudo e de todos, a Economia
Solidária surge como uma forma alternativa e empática à sustentabilidade ambiental e ao bem
estar das pessoas. Mas o que é Economia Solidária? Como funciona? Quais organizações
trabalham com ela? O presente trabalho tem como objetivo entender o que é e como funciona
a economia solidária, além de buscar exemplos praticáveis deste sistema um tanto quanto
diferente. Para isso, fez-se uma pesquisa bibliográfica cujos resultados e interpretações são
apresentados abaixo.

O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA?

A Economia Solidária é considerada uma maneira autônoma de gerenciar os recursos


naturais e humanos de forma que as desigualdades sociais sejam minimizadas a médio e longo
prazo, para isso ela repensa a geração de lucro e acaba transformando o trabalho gerado em
benefícios para a sociedade em geral e não apenas para uma pequena parte dela (ECYCLE,
2019). Seu propósito é de criar diferentes atividades econômicas sustentáveis, geridas através
da cooperação de seus trabalhadores, na perspectiva de desenvolvimento regional e de
construção de relações sociais libertadoras e equilibradas. Essa forma de economia, cujo
termo surgiu no anos 80/90, possui uma visão holística que integra fortemente a economia, a
educação, a cultura, e a ação política para a transformação social (CENTRO DE
INTERVENÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO AMÍLCAR CABRAL, 2019).
Segundo a Central de Cooperativas e Empreendimento Solidários (2019), os valores
comuns da Economia Solidária são: “a posse/controle coletivo dos meios de produção,
distribuição, comercialização e crédito; a gestão democrática, transparente e participativa dos
empreendimentos econômicos e/ou sociais; a distribuição igualitária dos resultados
econômicos dos empreendimentos”.
Enquanto no capitalismo a economia é competitiva, onde os donos dos meios de
produção acumulam vantagens e lucro, na economia solidária predomina a igualdade e a
cooperação entre os membros. Esta forma de economia só é concretizada quando todos
aqueles que se associam se organizam igualitariamente e de forma cooperativa. Dessa forma,
todos os sócios possuem a mesma parcela de capital e o mesmo direito de voto durante as
decisões a serem tomadas, fazendo com que não haja competição entre os membros e que o
esforço para que a organização cresça seja de todos, bem como os frutos dele. No entanto,
isso não quer dizer que esse tipo de organização não possua uma hierarquia, pelo contrário, se
a cooperativa precisar de gerentes, estes serão eleitos por todos os membros participantes da
mesma.

COMO FUNCIONA A ECONOMIA SOLIDÁRIA?

Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), existem três palavras que
dão identidade ao cooperativismo, são elas: cooperação, transformação e equilíbrio. O
conceito de cooperação é por conta da relação trabalho-renda, pois o que tem mais valor são
as pessoas e quem dita as regras é o grupo, sendo uma construção em que todos ganham. A
transformação fica por conta do impacto que é causado não só em sua própria realidade, mas
também da comunidade e do mundo. E o equilíbrio que deve haver entre o econômico e o
social, o individual e o coletivo, a produtividade e a sustentabilidade.
Também no site da OCB existe um esquema sobre como funcionam as diretrizes de
uma cooperativa. Em primeiro lugar, em uma cooperativa, é o cooperado quem manda, todas
as principais decisões são tomadas pela Assembléia Geral, órgão composto por todos os
cooperados ou seus representantes. Através de votação, as decisões são sempre tomadas de
forma democrática.
A visão estratégica fica por conta do Conselho de Administração ou Diretoria, que
deve ser composto por no mínimo 5 e no máximo 11 diretores eleitos, esses serão as pessoas
responsáveis por dar um direcionamento estratégico para a organização. Esses diretores
eleitos recomenda-se que sejam capacitados pela OCB. Os membros do conselho, são
subordinados e devem prestar contas à Assembléia geral.
A transparência é outro ponto primordial para o bom funcionamento de uma
cooperativa, isso é feito por meio do Conselho Fiscal que tem autonomia para fiscalizar
minuciosamente os atos da administração. A OCB também oferece capacitação para os
ocupantes desse cargo. Já as demais decisões do dia a dia ficam sob responsabilidade da
gestão executiva da empresa, que é composta pelo presidente e pelos diretores.
A adesão é voluntária e livre, ou seja, basta que a pessoa que tenha interesse em
participar esteja disposta a assumir as responsabilidades e esteja alinhada com seus objetivos.
As cooperativas também podem variar de acordo com sua dimensão e objetivos, são
elas de 1º grau, em que tem o objetivo de prestar serviços diretos aos associados, formada por
no mínimo 20 cooperados; as de 2º grau caracterizada por ser uma cooperativa para
cooperativas, com o objetivo de ajudar a organizar os serviços das filiadas e por fim a de 3º
grau, que é uma cooperativa para as federações que têm os mesmos objetivos que a de 2º
grau, mas deve ser formada por três cooperativas centrais.

EXEMPLO 1 - Banco de Tempo

Parte-se do pressuposto de que a economia solidária visa a igualdade e a cooperação


entre os seus membros, com isso temos um exemplo prático que elucida esse conceito de
economia colaborativa e solidária pautada em um sistema denominado como Banco de
Tempo, este encarado como um modo de se viver.
O Banco de Tempo nada mais é que um sistema organizado que visa a troca de
produtos e serviços de forma solidária, onde a moeda de troca é o próprio tempo, havendo a
troca de tempo por tempo. Neste modelo de economia solidária utiliza-se de um recurso
extremamente valioso, que é o nosso tempo, e com ele , ser feito tudo aquilo que mais
gostamos, gerando valores e conexões entre as pessoas.
As primeiras idéias sobre o banco de tempo surgiram em Portugal e na Itália por volta
dos anos 2000, sendo que em Portugal surgiu pela iniciativa do grupo Graal, que é um grupo
de inspiração cristã, constituído por uma comunidade Internacional de mulheres que buscam
um sentido mais profundo de se existir conciliado a ideia de igualdade e sustentabilidade, a
partir das trocas de experiências e conhecimento.
No Brasil, este modelo começou a ser utilizado a aproximadamente dez anos e mais
próximo da nossa realidade temos o Banco de Tempo Florianópolis, criado a cerca de dois
anos. O Banco de Tempo Florianópolis possui cerca de 1700 pessoas cadastradas além de
mais de 15 mil pessoas no grupo do Facebook.
O BTF baseia-se na idéia de menos dinheiro e mais tempo, ação anticapitalista, menor
competitividade e incentivo a projetos sociais. O Banco portanto não é uma instituição
burocrática e não possui fins lucrativos, é formado por pessoas que querem dedicar o seu
tempo para mudar o mundo, onde tudo acontece baseado no interesse único e exclusivo
daqueles que participam

EXEMPLO 2 - Cooperativas de Catadores de Lixo e Materiais Recicláveis

Um exemplo perfeito de organização cooperativa que funciona como tal e traz


vantagens a todos os envolvidos é a dos catadores de lixo e materiais recicláveis que se
espalham por todo o país.
A primeira cooperativa deste tipo foi a Coopamare (Cooperativa de Catadores
Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis), fundada em 31 de maio de 1989
em um bairro da cidade de São Paulo. A união de catadores através da cooperativa deu força a
eles possibilitando maiores ganhos através da organização e ajuda mútua, a própria prefeitura
da cidade cedeu um espaço para que pudessem trabalhar e reconheceu o trabalho de catador
como atividade profissional através de um decreto municipal. Atualmente, já com 30 anos de
história, a Coopamare recebe por dia mais de 120 catadores.
Depois da Coopamare milhares de cooperativas surgiram no Brasil, atualmente são
cerca de 2 mil organizações desse tipo atuando em favor dos catadores. Essas organizações
ainda contam com o apoio do MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Material
Reciclável, que tem como objetivo “garantir o protagonismo popular da classe, que é
oprimida pelas estruturas do sistema social”, ou seja, garantir a independência da classe sem
que partidos políticos, empresários ou o governo precise falar por eles. O movimento visa
apoio a todo catador, desde o cooperativado ao morador do lixão. Na sua missão, há o viés
humanitário, e também o viés ambiental, já que a atividade exercida é de extrema importância
para as condições de um meio ambiente limpo e saudável “É nossa tarefa lutar pelo
reconhecimento, inclusão e valorização do trabalho dos catadores e catadoras, auto
organizando-os em Bases Orgânicas, com independência e solidariedade da classe oprimida,
lutando contra a incineração e a privatização do lixo, minimizando os impactos ambientais,
aumentando a vida útil do planeta e construindo o poder popular”.
O movimento apoia as cooperativas e nas cooperativas os catadores se organizam e
conseguem melhorias para seu trabalho. É através delas que conseguem espaços para
trabalhar e depositar os materiais recolhidos das ruas, maquinários - que na maioria das vezes
são ganhos através de doação da iniciativa pública ou da privada, melhores negociações de
preços com compradores, e ainda a força para poder se organizar fazendo com que o trabalho
seja mais produtivo e rentável para cada um de seus integrantes.
Com o apoio de movimentos como o MNCR e com a elaboração de estruturas
cooperativas, os catadores de lixo passaram a enxergar a si próprios de outra maneira. Seu
trabalho, que sempre enfrentou o preconceito, agora ganha força de dentro para fora, e além
da luta diária pelo seu ganha pão a classe agora busca reconhecimento pela prestação de um
serviço público para a sociedade, que é o recolhimento e tratamento adequado do lixo
produzido nas cidades. Desde o início das cooperativas dos catadores muita coisa já foi
conquistada mas ainda há muita luta pela frente.
REFERÊNCIAS
CENTRO DE INTERVENÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO AMÍLCAR
CABRAL. Economia Solidária. Disponível em:
<https://www.cidac.pt/index.php/o-que-fazemos/comercio-e-desenvolvimento/economia-solid
aria/>. Acesso em: 30 jun. 2019.

CENTRAL DE COOPERATIVAS E EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIOS. O QUE


É ECONOMIA SOLIDÁRIA? Disponível em:
<http://www.unisolbrasil.org.br/o-que-e-economia-solidaria/>. Acesso em: 30 jun. 2019.

ECYCLE. Entenda a Economia Solidária: Saiba o que é e como funciona a


Economia Solidária, um modo de produção diferente. Disponível em:
<https://www.ecycle.com.br/6269-economia-solidaria.html>. Acesso em: 30 jun. 2019.

Organização de Cooperativas do Brasil. Como funciona uma cooperativa. 2019. Disponível


em: <https://www.ocb.org.br/>. Acesso em: 30 jun. 2019.

O QUE é o Movimento?: O que é o MNCR. O que é o MNCR. 2008. Disponível em:


<http://www.mncr.org.br/sobre-o-mncr>. Acesso em: 30 jun. 2019.

E os Bancos de Tempo chegaram ao Brasil - Dinponível em :


<https://outraspalavras.net/outrasmidias/e-os-bancos-de-tempo-chegaram-ao-brasil/>. Acesso
em 02 jun. 2019.

O que é o Graal. Disponível em: <http://www.graal.org.pt/pt/graal/o-que-e-o-graal> .


Acesso em 02 Jun. 2019.

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