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INFLUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA NA GESTÃO DE

COOPERATIVAS AGRÁRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS


diegocoop@hotmail.com

APRESENTACAO ORAL-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e


Agroindústria
DIEGO NEVES DE SOUSA; NORA BEATRIZ PRESNO AMODEO; CLEITON SILVA
FERREIRA MILAGRES; JOSÉ BENEDITO PINHO; PALLOMA ROSA FERREIRA.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.

Influências da educação cooperativista na gestão de cooperativas


agrárias do Estado de Minas Gerais1

Grupo de Pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e


Agroindústria

Resumo
Diferenciada como multidimensional, a sociedade cooperativa é cada vez mais desafiada a
atingir, ao mesmo tempo, objetivos de ordem econômica e social, o que a torna, a priori,
mais complexa e distinta de outras formas de organização empresarial. Nessa perspectiva,
a educação cooperativista tem, exatamente, o papel de atuar, simultaneamente, na gestão
social e empresarial das cooperativas, com o objetivo de proporcionar melhorias tanto no
que se refere ao aumento da participação dos cooperados, quanto na profissionalização da
gestão, adequando assim, à sua singular estrutura organizacional. Desse modo, este estudo
tem como objetivo analisar as possibilidades e limitantes da educação cooperativa na
gestão de cooperativas agrárias do Estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados
mediante questionário enviado via correio a 452 cooperativas. Entre os resultados, ficou
evidenciado, tanto na teoria quanto na prática, que a gestão social é o principal gargalo
encontrado na gestão de cooperativas e, por sua vez, a realização de um bom trabalho de
educação cooperativista poderá conduzir à solução de outros problemas decorrentes na
gestão das cooperativas.

Palavras-chaves: Gestão de cooperativas agrárias, educação cooperativista, gestão social


de cooperativas.

Influences of cooperative education in the management of agrarian


cooperatives in the State of Minas Gerais

1
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) o apoio
financeiro que permitiu a participação no evento

1
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Abstract
Differentiated as multidimensional, the cooperative society is increasingly challenged to
achieve, at the same time, economic and social goals, which turns it, a priori, into a more
complex and distinct form than other business organization. From this perspective,
cooperative education has the distinctly role of acting simultaneously in the social and in
the business management of cooperatives. Its objective is to endow with improvements
both in terms of increasing the participation of members, and in the professionalization of
management, adapted to its unique organizational structure. Thus, this study aims to
analyze the possibilities and bounds of cooperative education in the management of
agricultural cooperatives, in the State of Minas Gerais. Data were collected through a
questionnaire mailed to 452 cooperatives. Results made evident both in theory and in
practice that the social management is the main bottleneck encountered in the management
of cooperatives and, in turn, developing a good work in cooperative education may lead to
the solution of other problems arising from the management of cooperatives.

Key Words: Management of agrarian cooperatives, cooperative education, social


cooperative management.

1. INTRODUÇÃO
A cooperativa caracteriza-se por ser uma sociedade de pessoas democraticamente
gerida, centrada nas necessidades do grupo, que une esforços em torno de objetivos
comuns, sendo mais importante a pessoa, e não o capital. Apresenta aspectos simultâneos
de associação e de empresa, norteada por princípios, valores e filosofia de natureza própria,
o que a qualifica e a diferencia das demais. Outra característica é que representantes eleitos
pelos associados dirigem a organização e devem prestar contas à assembléia, na qual cada
associado tem direito a um voto. Assim, a participação qualificada dos associados torna-se
crucial para o desenvolvimento das cooperativas.
Segundo a Aliança Cooperativa Internacional – ACI, os princípios2 do
cooperativismo são norteados por valores que podem ser colocados em prática, refletindo,
dessa forma, as idéias básicas de ajuda mútua, auto-responsabilidade, democracia,
equidade, igualdade e solidariedade.
Amodeo (2006) explica que os princípios seriam os delineamentos por meio dos
quais as cooperativas praticam os seus valores. Assim, tanto os valores quanto os
princípios formam parte da identidade das cooperativas e marcariam, sobretudo, a

2
Os princípios básicos do cooperativismo foram criados na Inglaterra pelos Pioneiros de Rochdale, em 1844.
As sucessivas reformulações realizadas pela ACI ocorreram em 1937 (Paris), 1966 (Viena) e 1995
(Manchester), com o objetivo de adaptar à realidade da economia mundial, sendo eles: 1. Adesão livre e
voluntária; 2. Gestão democrática e livre; 3. Participação econômica dos membros; 4. Autonomia e
independência; 5. Educação, formação e informação; 6. Intercooperação; e 7. Interesse pela comunidade.

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formação de um estilo de estratégia e de ação própria que devem guiar esse tipo de
organização.
Observa-se, no momento atual, que o maior desafio enfrentado pelas cooperativas é
realizar uma administração equilibrada, pautada entre o social e o empresarial. Para que
isso se concretize, a cooperativa necessita estar bem organizada e ser eficientemente gerida
sob a lógica do cooperativismo, de tal modo que os dois tipos de gestão sejam
complementares e igualmente promovidos para cumprir os objetivos das organizações
cooperativas. Segundo Amodeo (2006), o corpo de associados deve estar organizado para
gerar valor para a empresa, caso contrário, acarretará em ônus que comprometerá o
resultado desta. Assim, gestão social e gestão empresarial são duas faces da mesma moeda,
ou melhor, são complementares e imprescindíveis para uma gestão cooperativa de êxito.
Nessa perspectiva, a gestão social tem a função de articular a participação do
cooperado nas decisões tomadas pela cooperativa, enquanto a gestão empresarial está mais
voltada a gerir os interesses econômicos da empresa cooperativa. Verifica-se, dessa forma,
que a educação cooperativista tem exatamente o papel de atuar, simultaneamente, em
ambas as formas de gestão, num processo de capacitação que sustenta e promove a gestão
cooperativa como um todo.
Neste contexto, este estudo tem como objetivo analisar as possibilidades e
limitantes da gestão cooperativa. Metodologicamente, para isso, utilizou-se do questionário
para a coleta de dados. Foram enviados via correio a 452 cooperativas agrárias do Estado
de Minas Gerais, tanto àquelas filiadas à Organização das Cooperativas do Estado de
Minas Gerais - Ocemg3, quanto a outras, cujo contato foi estabelecido observando-se os
endereços de cooperativas agrárias disponíveis na Telelista.net4. Deste montante enviado,
obteve-se o retorno de 51 questionários.

2. A GESTÃO COOPERATIVA E SUAS ESPECIFICIDADES

A sustentabilidade institucional de qualquer organização deve estar amparada por


sua missão, pelos princípios e pelos valores que, de alguma forma, a norteiam
estrategicamente, demonstrando, dessa maneira, a sua verdadeira razão de ser. Rego (1986)
salienta que uma organização não deve apenas ter o objetivo de gerar bens econômicos,
mas também deve procurar desempenhar um papel significativo no tecido social. Como

3
Por meio do Anuário, é possível obter as principais informações econômicas do cooperativismo mineiro.
Apresenta o ranking das cooperativas mineiras em categorias como número de associados, empregados,
receitas totais, salários médios de empregados, sobras de exercício e riqueza gerada por associados, entre
outros, além de fazer referência aos indicadores de desempenho das cooperativas em relação ao quadro
social, funcional, financeiro, operacional e contribuições para a sociedade. Nele é possível encontrar também
o endereço das cooperativas dos diversos ramos do cooperativismo, filiadas à Ocemg. Essa filiação é
obrigatória por lei, embora muitas cooperativas optem por não fazê-la, daí a opção de procurar cooperativas
em outras fontes.
4
O endereço eletrônico da Telelista.net é http://www.telelistas.net/ que possui em seu conteúdo endereços de
empresas, profissionais e pessoas de todo o Brasil.

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consequência, as organizações criam uma identidade e uma visibilidade peculiar que as
distinguirão das demais formas organizativas, ou seja, “conciliando aspectos sociais e
econômicos, a organização ajusta-se ao escopo para o qual foi idealizada” (Rego, 1986,
p.13).
No caso das cooperativas, por apresentar especificidades em sua forma de
organização, faz-se necessário realizar uma gestão que contemple, igualmente, aspectos
tanto empresariais quanto sociais. Porém, sabe-se que, muitas vezes, é priorizado o
enfoque empresarial em detrimento do social, o qual, às vezes, é deixado em segundo
plano.
Entende-se a gestão social como a que viabiliza o relacionamento da cooperativa
com o associado, promovendo e qualificando sua participação. Não se discorda da
importância de focar a gestão no empresarial, pelo contrário, ela é fundamental para atingir
os objetivos econômicos dos seus sócios, mas, também, é de vital importância sua
complementaridade com a gestão social, a fim de promover uma participação efetiva e
eficaz dos associados na cooperativa, implementar os princípios e valores nas rotinas e
ações da organização e contemplando o interesse dos associados, o que demonstra o
interesse da cooperativa pela comunidade em que está inserida.
Dessa forma, a gestão cooperativa necessita utilizar alguns instrumentos específicos
de gestão que não estão somente, ou diretamente, voltados para o empresarial, mas que são
instrumentos que reforçam a gestão social, seja por meio da educação cooperativa, de
eficientes sistemas de comunicação intra-empresa e com os associados, seja por meio de
uma gestão interna do poder que conduza a uma aprendizagem conjunta e a um
funcionamento democrático, como afirma Amodeo (2006).
Não se pode pensar numa cooperativa sem conectar o lado econômico, com o
social, e o político, pois esse tipo de organização é multidimensional. É por isso que há
maior preocupação em elaborar mecanismos que as façam sobreviver em um cenário
econômico competitivo, mas que também preservem sua identidade cooperativa, sendo fiel
a sua doutrina, respeitando as características inerentes ao modelo cooperativo.
Inseridas num ambiente dinâmico, em constante mudança, exige-se das
cooperativas que sejam geridas em contextos de mercado cada vez mais acirrado, mas não
necessariamente se utilizando das mesmas estratégias e parâmetros das demais formas de
organização empresarial. As cooperativas têm que desenvolver suas próprias estratégias
competitivas, priorizando as características e necessidades demandadas por seu quadro
social. As empresas podem escolher ou mudar de clientes ou fornecedores, a qualquer
momento, para garantir sua competitividade, no entanto, esse não é o caso das
cooperativas. Elas devem encontrar alternativas econômicas para os seus associados, de
acordo com as características socioeconômicas destes, ou, ainda, promover as mudanças
produtivas ou de gestão que as viabilizem economicamente e/ou aos integrantes do seu
quadro social. Assim, a forma de participação do quadro social na gestão cooperativa
influencia, diretamente, na competitividade empresarial das cooperativas. A gestão
cooperativa deverá adequar a gestão econômica ao perfil e necessidades dos associados e
promover a participação destes, com vistas em viabilizar sua inserção competitiva nos
mercados.
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Porém, Soto (2008) adverte sobre a importância de adequar as estratégias da
organização aos princípios cooperativos, uma vez que devem ser vistos não só como uma
prática de boas intenções, mas como a tradução de atos cotidianos concretos que guiarão a
gestão, de maneira eficaz.
Nesse escopo, a organização cooperativa tem que se conhecer a si mesma, tanto no
que se refere ao ambiente interno quanto externo, para delimitar as ações que executará
junto ao mercado. Todavia, por tratar-se de uma organização coletiva, a administração
deve elaborar ações para que a decisão a ser tomada contemple a realidade, a opinião e os
objetivos individuais daqueles que compõem seu quadro social, e não somente de quem a
administra.
Para ilustrar a realidade da gestão das cooperativas, o estudo elaborado por Oliveira
(2006) descreve, na Tabela 1, os seus principais problemas5 e consequências. A partir dos
elementos citados, pode-se inferir que esses problemas são de ordens diversas,
diferenciados de acordo com tipologia, estrutura e realidade de cada cooperativa.

Tabela 1 – Principais problemas e sua consequência na gestão das cooperativas


Problema Consequência
1. Falta ou esquecimento da educação Consolida a ruptura do cooperado com a
cooperativista por parte dos cooperados cooperativa
2. Falta de cooperação entre as
Prejudica a gestão e o processo evolutivo
cooperativas quanto a suas atividades e
das cooperativas
seus negócios
3. Não apresentação de adequados Falta de aplicação de modernos
modelos de gestão instrumentos administrativos
Consolida uma administração
4. Aplicação de modelos de gestão presidencialista que pode levar a
centralizados problemas administrativos e a resultados
operacionais inadequados
Extinção de várias cooperativas que serão
5. Não saber trabalhar, adequadamente, aniquiladas pelos novos e fortes
com a concorrência concorrentes que estão se consolidando no
mercado
Derruba qualquer negócio que seja
6. Confusão entre “propriedade de gestão”
compartilhado ou cooperado entre
e “propriedade da cooperativa”
diferentes pessoas
Fonte: Adaptado de Oliveira (2006).

5
O autor não se preocupou em elencar os problemas em ordem de importância, seguindo, portanto, uma
classificação aleatória.

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O que chama a atenção, neste estudo, é a percepção da falta ou esquecimento da
educação cooperativista por parte dos cooperados, o que também é ressaltado, por
Ricciardi e Jenkins (2000), Scheneider (2003), Amodeo (2006) e Valadares (2009) como
um dos principais problemas encontrados nas cooperativas e de todo o sistema
cooperativista.
De maneira bem prática, Oliveira (2006) aponta alternativas para a solução dos
problemas do cooperativismo, entre eles, o supracitado, por meio de seis ações,
aparentemente indispensáveis à gestão cooperativa. São elas: i) Cadastro dos cooperados;
ii) Desenvolvimento de núcleos de cooperados sustentados por agentes; iii)
Desenvolvimento e disponibilização de informações adequadas e atualizadas para os
cooperados; iv) Desenvolvimento de um plano estratégico com adequados indicadores de
desempenho; v) Estabelecimento de classes de cooperados com benefícios e restrições
específicas, de acordo com o nível de interação dos cooperados com a cooperativa; e, por
fim, vi) Foco nos jovens e nos filhos de cooperados. Para ele, essas ações devem estar mais
bem estruturadas na gestão da cooperativa, principalmente pela intermediação dos meios
de comunicação que ela utiliza na interação com seus diversos públicos.
No entanto, muitas vezes, os princípios do cooperativismo não são,
necessariamente, considerados em toda sua relevância no desenvolvimento da gestão
cooperativa, podendo, dessa forma, tanto esvaziar o seu conteúdo quanto limitar não só a
sua possibilidade de alcançar os seus objetivos e cumprir a sua missão, como a sua própria
potencialidade competitiva. Valores e princípios serão, então, só enunciados vazios, caso
não sejam incorporados nas rotinas de gestão e difundidos e apreendidos pela educação
cooperativista, cuja função é maior do que a simples transmissão desses princípios
(Amodeo, 2006).
Nesse sentido, a comunicação exerce papel de suma importância, que é, além das
simples práticas de gestão, a transmissão dos processos de educação cooperativista.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em atendimento aos objetivos deste trabalho, tornou-se oportuno saber, por um
lado, quais os principais problemas identificados nas cooperativas pelos respondentes, e,
por outro, as potencialidades e/ou pontos fortes, para com base nestes dados analisar a
existência ou não de relações entre a efetivação de práticas de educação cooperativista e as
perspectivas de futuro das cooperativas sob a ótica dos informantes6.
Quando questionados acerca do principal problema enfrentado pela cooperativa,
22,6% dos respondentes apontam que a insuficiente prática da educação cooperativista e a
falta de profissionalização da gestão e do quadro social foram os principais obstáculos, que
limitam o desenvolvimento do empreendimento.
Algumas opiniões servem para ilustrar o significado das porcentagens. De acordo
com o respondente n°1, o problema está relacionado ao “total desconhecimento do espírito
cooperativista”. O respondente n°20 realça ser o “não entendimento do sócio cooperado

6
Para isso, analisaram-se os dados coletados por Ferreira, P.R (2009) para sua pesquisa de dissertação.

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que ele faz parte de um ‘todo’ (cooperativa) e que o ’todo’ apenas prospera com a união e
busca constante por educação, treinamento e informação das partes”.
Do total de informantes, 21% mencionam que os problemas enfrentados pelas
cooperativas se relacionam aos altos níveis de concorrência enfrentados pelos produtores
no mercado, frente às organizações globais existentes em âmbito local e nacional, e
somado a isso, às recorrentes crises existentes no setor onde operam. De acordo com o
respondente n°6, os problemas estariam relacionados com o “péssimo momento da
agricultura, dificultando a credibilidade na entidade, a falta de união e conhecimento dos
produtores”.
Sobressaíram com 19,4% das respostas, como limitantes do desenvolvimento das
cooperativas, as dificuldades financeiras e de acesso ao capital, principalmente referentes à
ausência de capital de giro, necessário às movimentações financeiras correntes no dia-a-dia
destas organizações. O respondente n°21 ressaltou, corroborando “a impossibilidade de
remunerar as produções dos associados na mesma proporção com que aumentam custos
para produzir, testemunhando as dificuldades dos produtores do agronegócio em geral”.
Também foi mencionada, em aproximadamente 13% dos casos, como limitante ao
desenvolvimento destas organizações, a deficiente participação dos cooperados nas
assembleias e o desinteresse dos membros associados nos eventos promovidos pela
cooperativa. Como desdobramento deste fato aponta-se, também, os problemas de
comunicação (8,1%), pois “há dificuldade de disseminação de informações aos produtores
de forma confiável na cooperativa”, conforme descreve o respondente n° 1.
O conjunto das respostas sobre os problemas enfrentados pelas cooperativas é
apresentado no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Problemas Enfrentados pelas Cooperativas

Fonte: Ferreira, 2009.

Quanto aos pontos fortes e/ou possibilidades das cooperativas, 25,4% dos
respondentes mencionaram sua estrutura social, enfatizando o trabalho social de qualidade

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desenvolvido na cooperativa, o bom relacionamento entre funcionários e cooperados, a
abertura para o desenvolvimento de trabalhos de educação e orientações, a união e
participação dos cooperados. Houve também referências aos valores intrínsecos à
organização, como a transparência, equidade, credibilidade, confiança e honestidade com
percentual de 17,5%. Além disso, outros 15,9% mencionaram como potencialidade a
estrutura econômica e física da cooperativa, salientando possuir estrutura organizada pela
qualidade dos produtos e a bom preço, conseguindo melhores formas de remuneração para
os cooperados. Em menor número, 14,3% referiram-se à qualidade dos produtos e 6,3% à
facilidade de comercialização. Essas respostas são mostradas no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Pontos fortes da cooperativa

Fonte: Ferreira, 2009

Os resultados desta pesquisa apresentam similaridades e coincidências com os


resultados de outras duas pesquisas realizadas com cooperativas agropecuárias do Estado
de Minas Gerais, que apresentam dados sobre a situação deste ramo específico do
cooperativismo. Trata-se das pesquisas: “As Cooperativas Agropecuárias e o Desafio da
Gestão Social: um estudo na região Sul/Sudoeste de MG”, de Milagres et al. (2009), e
“Gestão Social e Empresarial nas Cooperativas Agrárias”, de Reis et al. (2008). Os
problemas enfrentados pelas cooperativas apontados por estes trabalhos coincidem com os
dados obtidos nesta pesquisa. Nas pesquisas mencionadas, apontaram-se também as
deficiências relacionadas com a gestão social, o que se traduz em índices cada vez mais
baixos de participação e envolvimento dos associados na vida de suas cooperativas, e,
consequentemente, a falta de fidelização aparece como um dos principais problemas
assinalados pelos interlocutores das cooperativas. Estes trabalhos científicos apresentam e
resumem também as deficientes práticas de educação cooperativista e seus efeitos na
gestão social e empresarial, avaliados como um dos maiores gargalos enfrentados pelas
cooperativas.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo democrático, característico da organização cooperativa, lugar de tomada
de decisão coletiva, está, cada vez mais, sendo desafiado a promover soluções e
desenvolver alternativas para manter sua competitividade no mercado. Assim, deve-se
transformar em ferramenta de articulação de estratégias competitivas. Isso requer a
manutenção harmônica e equilibrada entre sua identidade associativa e empresarial, com
base em uma eficiente comunicação organizacional, visto que esta poderá influenciar,
positivamente, nas atividades promovidas pela administração da cooperativa, em especial,
na gestão social apoiadas pela educação cooperativista.
Entre os resultados da pesquisa, a educação cooperativista mostra-se
insuficientemente desenvolvida nas cooperativas agrárias mineiras analisadas, onde se
visualizaram lacunas e dificuldades no direcionamento das atividades. Para atender a esse
problema apontado pelos próprios interlocutores das cooperativas, seria necessário
implementar processos amplos e diversificados de educação cooperativista7. Diversificados
porque trata-se de uma educação complexa e multifacetada, que compreende em seu
espectro uma gama diferenciada de conteúdos e temáticas a serem trabalhados – conteúdos
vinculados à gestão empresarial, à gestão social e, também, à assistência técnica produtiva
aos associados na condição de produtores – junto a distintos públicos: os cooperados,
dirigentes, funcionários, as famílias dos associados e comunidade em geral, segundo às
especificidades (de organizações e de associados) de cada ramo.
Por isso, a educação cooperativista é considerada o principal elemento a ser
solucionado pelos gestores, já que ela poderá promover a solução de outros problemas
decorrentes da gestão das cooperativas. Assim, a educação cooperativista deverá promover
a intensificação da participação dos membros associados, a qual permitirá articular também
os negócios deles com os da cooperativa e a concretização de uma gestão mais
democrática, o aprimoramento da circulação dos fluxos de informação e comunicação no
ambiente interno e externo da cooperativa, maior entendimento e implementação da
doutrina e da cultura cooperativista e, consequentemente, o reconhecimento do papel do
cooperado no empreendimento como dono-usuário. Assim, o trabalho de educação
cooperativista fortalecerá canais por meio do quais os associados possam expressar seus
anseios junto ao conselho administrativo, além de capacitá-los para uma gestão
democrática e competitiva.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMODEO, N. B. P. Contribuição da educação cooperativa nos processos de


desenvolvimento rural. In: AMODEO, N. B. P; ALIMONDA, H. (Orgs) Ruralidades:
capacitação e desenvolvimento. Viçosa: Ed. UFV, 2006, p.151-176.

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Para financiar essas atividades existe previsão legal da existência do FATES (Fundo de Assistência Técnica
Educacional e Social) nas cooperativas.

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FERREIRA, P.R. A Educação Cooperativista em Minas Gerais: Mapeando as
Organizações. 2009. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) – Universidade Federal
de Viçosa, Viçosa, 2009.

MILAGRES, C.S.F; AMODEO, N. B. P; SOUSA, D. N. As Cooperativas Agropecuárias


e o Desafio da Gestão Social: Um Estudo na Região Sul/Sudoeste de Mg. In: 47º
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REIS, B. S; AMODEO, N.B.; ANDRADE, H. C; BARROS, B. A. Administração


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RICCIARDI, L; LEMOS, R. J. Cooperativa, a empresa do século XXI: como os países


em desenvolvimento podem chegar a desenvolvidos. São Paulo: LTr, 2000.

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Associativas. 4, 2008, Santa Fé/Argentina – Anais (...) Santa Fé: Universidade Nacional do
Litoral, 2008, p.63-79. CD-ROM.

VALADARES, J. H. Estratégias de educação para a cooperação. Rio de Janeiro: FGV –


MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas, 2009.

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