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Empresas Líderes
Autoria: Angela Maria Maurer, Guillermo Cruz
Resumo
As parcerias sociais são alternativas para as grandes empresas estarem potencializando suas ações
de Responsabilidade Social Corporativa, principalmente com iniciativas que impulsionem
empreendimentos baseados em comunidade. Adotando uma ONG destaque no setor de
reciclagem como estudo de caso, este artigo buscou analisar a aprendizagem entre os atores de
uma rede de parcerias deste setor. Constatou-se que a rede da ONG é composta por empresas
líderes, cooperativas, uma ONG e um instituto. Os processos de aprendizagem identificados
apresentaram-se de forma distinta, dependendo do tipo de relação e de atores envolvidos. Ainda,
as cooperativas demonstraram uma maior variedade de formas de aprendizado.
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Introdução
É visível a dificuldade de se encontrar grandes empresas que não tenham em seu portfólio
de informações palavras como sustentabilidade, desenvolvimento sustentável ou stakeholders. A
similariedade no discurso das empresas advém da preocupação que elas estão crescentemente
tendo em inserir os direcionadores social, ambiental e econômico de Responsabilidade Social
Corporativa (RSC) em suas estratégias ou ações. A tendência de RSC vem sendo desenvolvida de
forma mais significativa desde a década de 1990, principalmente em países norte-americanos e
europeus. Mas, no Brasil, as discussões de RSC já perpassam empresas de diversos portes,
comunidades científicas, entidades empresariais e até mesmo representantes do Governo.
Uma das maneiras de as empresas estarem desenvolvendo programas de RSC é por meio
de parcerias estabelecidas entre organizações de, até mesmo, diferentes setores. Diversos autores
(JAMALI; KESHISHIAN, 2009; SEITANIDI; KOUFOPOULOS; PALMER, 2010) enfatizam a
possibilidade de serem desenvolvidas parcerias entre empresas e organizações não-
governamentais (ONGs) no contexto de RSC. Neste sentido, o relacionamento entre essa
diversidade de atores pode ser compreendido como uma rede que apresenta fluxos específicos
para a realização de atividades de responsabilidade social. Com essas parcerias sociais, as
empresas podem potencializar o impacto de suas iniciativas de RSC, principalmente se apoiarem
e incentivarem empreendimentos baseados em comunidades (EBCs), os quais são tidos como
soluções alinhadas aos pressupostos de sustentabilidade, visto que proporcionam renda e trabalho
a comunidades locais, ao mesmo tempo em que utilizam de forma consciente os recursos naturais
que estão à sua disposição (PEREDO; CHRISMAN, 2006). Mas para que os EBCs possam fazer
uso da contribuição de outros atores, os seus membros devem aprender novas técnicas ou
conhecimentos, por exemplo.
Para compreender a aprendizagem, existem diversas abordagens teóricas, com diferentes
processos e níveis, podendo, por exemplo, ter como foco apenas o indivíduo e as formas como
este absorve conhecimento ou mesmo o indivíduo como parte de um grupo (seja esse grupo uma
organização, uma comunidade ou a sociedade como um todo). Ao nível individual, o aprendizado
pode ser interpretado através da consideração da influência de fatores ambientais (SKINNER,
2007), de fatores cognitivos ou da interação entre ambos (PAJARES; OLAZ, 2008). Alterando-se
a unidade de análise para a organização, pode-se observar os diferentes mecanismos de
aprendizado que acontecem em um organização, enquanto a mesma busca a otimização de seus
processos e a criação de uma vantagem competitiva. Outro nível de análise do processo de
aprendizado considera a natureza sócio-histórica deste, onde o aprendizado dos indivíduos é
função da participação destes em “processos sociais formados por cultura e história” (ELKJAER,
2003, p.46) e pela participação em “comunidades de prática” (WENGER, 1998, 2000).
Finalmente, considerando-se as demandas dos EBCs por práticas empreendedoras é relevante a
contribuição de outra corrente téorica: a da aprendizagem empreendedora (PITTAWAY et al.,
2011), a qual aproxima a vasta literatura existente sobre processos de aprendizado com as
correntes teóricas do empreendedorismo.
Diante do exposto, este artigo tem como objetivo analisar a aprendizagem entre os atores
de uma rede de parcerias do setor de reciclagem. Para alcançar o objetivo proposto, foi realizado
um estudo de caso na ONG Centro Apoio Profissional Multidisciplinar (CAMP), localizada em
Porto Alegre – RS. O setor escolhido referiu-se ao de materiais recicláveis pela crescente
preocupação com a destinação do lixo produzido pelas sociedades, além de as cooperativas de
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reciclagem realizarem um trabalho de grande importância para a sustentabilidade, contribuindo
para o aumento da quantidade de materiais recicláveis coletados. O presente artigo foi, então,
organizado da seguinte forma: na primeira seção são discutidos aspectos relacionados às redes e
às parcerias sociais para a implantação de iniciativas de RSC, sendo destacado o papel dos
empreendimentos baseados em comunidades; na segunda, compete discutir os diferentes
processos de aprendizagem; na terceira, exibem-se os procedimentos metodológicos adotados no
estudo; a quarta seção,cabe abordar os resultados obtidos; e, por fim, procede-se com as
considerações finais.
2 Os processos de aprendizagem
Os processos de aprendizagem são abordados na literatura de maneira variada, levando
em consideração diferentes enfoques e níveis de análise. Diante dessas diversas abordagens, as
organizações, ao estabelecerem parcerias sociais, acabam por participar de processos individuais,
sociais e organizacionais de aprendizagem. Além disso, um dos principais objetivos dos EBCs é a
capacidade dos envolvidos se tornarem empreendedores. Nesse sentido, Pittaway et al. (2011)
sugerem que existe um tipo específico de aprendizagem para os indivíduos interessados em
empreender: a aprendizagem empreendedora. A presente discussão de aprendizagem insere,
portanto, elementos dessas diferentes vertentes teóricas de aprendizagem.
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Componente Descrição
Empreendedores são pessoas voltadas para a ação, cujo aprendizado ocorre principalmente
Orientação para a
pela experiência (COPE 2003). Aqui destacam-se três componentes: (a) a ação de fazer; (b) a
ação e experiência
experiência ganha na ação realizada; e (c) o aprendizado acumulado através da experiência.
Empreendedores passam por um aprendizado acelerado e transformador em períodos
Erros, crises e particulares de crise ou durante momentos de dificuldade. Deakins e Freel (1998) destacam a
fracasso importância da habilidade de empreendedores em aprender com suas decisões, erros e
experiência para o crescimento de pequenas e médias empresas.
O aprendizado tende a ser mais efetivo quando os atores refletem a respeito de suas
experiências. Assim, os empreendedores que são mais reflexivos tendem a ser aprendizes
Reflexão na mais eficientes (COPE, 2003). A reflexão pode advir: (a) da observação do self em relação aos
experiência outros indivíduos; (b) da observação do self no contexto de ação; (c) por observações dos
aprendizados obtidos durante sua experiência; ou (d) por intermédio de meta-observações
capazes de alterar os frames de referência aceitos pelo indivíduo (DEFILLIPPI, 2001).
Uma importante característica empreendedora é a capacidade de identificar e explorar
Oportunidades e
oportunidades (SMILOR, 1997). Na aprendizagem empreendedora, a capacidade de ver
solução de problemas
oportunidades e engajar na solução de problemas é geralmente aprendida por meio da prática.
O empreendedorismo é um processo não-linear e discontínuo (DEAKINS e FREEL, 1998)
Incerteza, sendo frequentemente definido em função dos riscos, da ambiguidade e da incerteza nos
ambiguidade e primeiros estágios do negócio. Também é um processo que envolve uma alta carga emocional
exposição emocional (COPE e WATTS, 2000), havendo uma íntima relação entre o bem estar emocional e
financeiro do empreendedor, de sua família e a boa performance nos negócios (COPE, 2003).
O aprendizado empreendedor deve ser visto como um fenômeno social no qual o
Prática Social e
empreendedor e os outros profissionais operam em comunidades socias de prática, em
Engajamento Social
constante engajamento social.
Conforme as pessoas vão sendo reconhecidas como empreendedoras, sua identidade, tanto
Auto-eficácia e para si quanto para os outros, vai sendo reinventada. Assim, destaca-se o papel desempenhado
intencionalidade pela auto-eficácia, ou seja, a auto-confiança proveniente da crença do indivíduo em sua
capacidade de coordenar uma atividade ou negócio de maneira bem sucedida (RAE, 2002).
Quadro 01 - Componentes da aprendizagem empreendedora.
Fonte: Elaborado com base em Pittaway et al. (2011).
3 Procedimentos Metodológicos
Para alcançar o objetivo de analisar a aprendizagem entre os atores de uma rede de
parcerias do setor de reciclagem, adotou-se como estratégia a realização de estudo de caso. De
acordo com Eisenhardt (1989), o método de estudo de caso busca entender a dinâmica presente
dentro de uma única configuração, sendo utilizado para compreender questões complexas de
forma mais aprofundada (YIN, 2005). O estudo de caso também permite que os pesquisadores
organizem dados sociais sem, no entanto, violar as peculiaridades unívocas de uma conjuntura,
assim conservando as características unitárias do fenômeno social (MITCHELL, 1983).
Yin (2005) também postula que os pesquisadores podem basear-se em estudos de casos
únicos ou múltiplos. Optou-se pela realização de um estudo de caso único pelo fato de a
organização focal envolver algumas das empresas mais importantes do Rio Grande do Sul e
cooperativas que também se destacam. O ator focal é a organização não-governamental Centro
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Assessoria Multi Profissional (CAMP), que se localiza em Porto Alegre. Essa organização
intermedia as ações de corporações e de cooperativas, desempenhando um importante papel no
setor de reciclagem do RS.
Os estudos de casos tipicamente combinam diversos métodos de coleta de dados, como
arquivos, entrevistas, questionários e observações (EISENHARDT, 1989). Yin (2005) também
argumenta que diversas fontes de evidência são necessárias para a realização da triangulação dos
dados. O presente estudo, portanto, baseou-se na coleta de dados primários e secundários. Os
dados secundários foram obtidos por meio de websites e de documentos fornecidos pelas
organizações envolvidas na pesquisa. Já os dados primários foram coletados por meio de
entrevistas semiestruturadas, as quais possuem certo grau de estruturação e se guiam por pontos
de interesse que o pesquisador vai explorando ao longo da própria entrevista (GIL, 2008). O
roteiro semiestruturado foi construído de acordo com as seguintes opções teóricas: tipo e
características de parcerias, laços tipo-eventos de Borgatti e Halsin (2011), características dos
EBCs e processos de aprendizagem individual, organizacional, social e empreendedor.
Foram realizadas 07 entrevistas entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, com uma
média de 30 minutos cada uma delas. O primeiro contato ocorreu com o Consultor do Instituto
Vonpar, que indicou o Coordenador do CAMP para ser entrevistado. As demais entrevistas
ocorreram por meio da indicação do Coordenador do CAMP. Posteriormente, as entrevistas
foram inteiramente transcritas. O Quadro 02 visa apresentar o perfil dos entrevistados de acordo
com a função ou cargo, organização, idade e escolaridade dos entrevistados. Cabe ressaltar que
apesar deste estudo apresentar apenas 03 cooperativas de reciclagem, a atual rede de cooperativas
do CAMP possui um número superior a 30 cooperativas assessoradas.
A análise dos dados coletados foi feita à luz das abordagens teóricas discutidas nas seções
1 e 2 deste estudo. Para realizar essa análise, estabeleceram-se macrocategorias de orientação: (a)
características da rede e os tipos de laços estabelecidos com o CAMP; e (b) a aprendizagem entre
os atores da rede estabelecida no setor de reciclagem. Destaca-se, ainda, que a aprendizagem foi
analisada de acordo com as subdivisões abordadas na seção 2: individual, organizacional, social e
empreendedora.
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5 Considerações Finais
O presente artigo teve o objetivo de objetivo analisar a aprendizagem entre os atores de
uma rede de parcerias do setor de reciclagem. Primeiramente, analisou-se a rede da organização
focal escolhida (CAMP), da qual participam empresas líderes, ONGs, um instituto e cooperativas
de reciclagem. Esses atores desempenham diferentes papéis dentro da rede: (a) as empresas (e
instituto) são as principais responsáveis pelo fornecimento de recursos financeiros e estabelecem
relações contínuas com o CAMP (laços tipo-estado); (b) a ONG Aliança Empreendedora é
encarregada de capacitar a equipe do CAMP, apresentando laços contínuos com os membros do
CAMP; e (c) as cooperativas de reciclagem também estabelecem relações contínuas, porém com
menos intensidade, e com o objetivo de receber capacitações ou equipamentos.
Por mais que o envolvimento das empresas com as cooperativas de reciclagem tenha se
demonstrado de forma limitada, o Consultor do Instituto Vonpar e o Coordenador de Projetos
Sociais da Braskem estabelecem relacionamentos mais próximos com as cooperativas. Sendo
assim, eles realizam visitas periódicas aos galpões de reciclagem e acompanham mais de perto o
trabalho realizado pelo Coordenador do CAMP. Desta forma, constata-se que as ações de RSC de
empresas em EBCs tornam-se um investimento para auxiliar na geração de renda. Em outras
palavras, as empresas não estão doando recursos às cooperativas, mas realizando programas que
vão além da filantropia, conforme descrito por Tracey, Phillips e Haugh (2005).
Quanto ao estudo do aprendizado em EBCs, os relatos obtidos nas entrevistas realizadas
possibilitaram a observação dos diferentes níveis de aprendizado (individual, organizacional,
social e empreendedor) que compõe os diferentes setores (empresas, ONGs, cooperativas) da
rede estudada. Chama-se a atenção para o fato do fluxo de conhecimento ter apresentado-se mais
intenso em alguns dos setores estudados (cooperativas) do que em outros (empresas), com
processos de aprendizado presentes em na maioria dos níveis considerados.Tal conclusão pode
ser justificada de diferentes maneiras: seja pela presença maior de treinamentos e interações nesse
ponto da rede (interface ONG-cooperativas), pela quantidade maior de pessoas entrevistadas
nesse setor ou mesmo pelo nível de detalhamento obtido nos relatos dados pelos entrevistados.
Levando em conta os níveis estudados, tomados individualmente, foram verificados
diferentes fenômenos. Observou-se a influência tanto do ambiente quanto de fatores cognitivos
no aprendizado individual, reforçando o que era defendido por Bandura (1977). No nível
organizacional confirmou-se a relevância das questões processuais no aprendizado
organizacional, especialmente no setor empresarial. Ainda, foi verificada a contribuição não
apenas dos mecanismos formais, mas também de aspectos informais no processo de
aprendizagem. Além das contribuições verificadas a nível individual e organizacional, no nível
social houve uma forte contribuição da interação entre os agentes dentro do seu contexto sócio-
cultural, e das diferentes comunidades de prática na aquisição de conhecimento através de troca
de experiências, como ocorre no fórum de reciclagem. E, finalmente, constatou-se a presença de
um aprendizado empreendedor nas cooperativas, fomentando o surgimento de iniciativas
empreendedoras nesse setor, tais como o envolvimento em uma cadeia binacional de pet.
Uma das limitações do estudo é a análise de apenas três cooperativas de reciclagem que
estabelecem relacionamentos com o CAMP. Sugere-se que estudos futuros possam suplantar essa
limitação, apresentando informações e dados referentes aos demais EBCs. Com relação ao estudo
dos processos de aprendizagem seria interessante ampliar o número de fatores utilizados nas
análises de cada nível, talvez focando-se em um número menor de níveis (considerando, por
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exemplo apenas o empreendedor/organizacional ou social/empreendedor) e na exploração
exaustiva de cada aspecto particular do nível de aprendizado escolhido. Ainda, com relação aos
métodos empregados, poderia-se considerar o estudo de apenas uma cooperativa específica ou
mesmo a aplicação de um estudo quantitativo prévio para avaliar quais fatores são destacados em
um ponto da rede de parcerias, para, então, avaliá-los qualitativamente.
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