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Introdução

A Responsabilidade Social Empresarial é um relacionamento ético entre a empresa e


todos os seus grupos de interesse que acabam, deste modo, por serem interdependentes,
integrando nas suas práticas o respeito pelo meio ambiente e o investimento em ações
sociais. Como sabemos, a empresa está inserida na sociedade, logo, é importante que as
suas ações, além de garantirem o cumprimento dos seus objetivos internos, devem
fomentar benefícios para a sociedade em geral.

É importante frisar que a RSE é um conceito em constante evolução e que


atualmente não tem uma definição universalmente aceite.

Cada vez mais as empresas se preocupam com a Responsabilidade Social e articulam


a sua atuação para se comprometerem com os seus stakeholders nas dimensões
económica, social e ambiental, tendo como finalidade a integração destas dimensões nos
seus valores, tomada de decisões, cultura, estratégia e operações de uma forma
transparente e responsável estabelecendo, desta forma, melhores práticas dentro da
organização, para fomentar a criação de riqueza e melhorar a sociedade.

A RSE é também conhecida por uma série de vários outros nomes, que incluem a
responsabilidade corporativa, ética empresarial, responsabilidade empresarial, cidadania
corporativa e “triple bottom line”, responsabilidade social ambiental, para citar apenas
alguns.

A responsabilidade social empresarial começou a ser discutida no início do século XX,


com o filantropismo, que inicialmente assumia caráter pessoal, representado pelas
doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações. Com a extinção do
modelo industrial e em seguida com o surgimento da sociedade pós-industrial, o
conceito evoluiu, passando a estar inserido no plano de negócios das organizações essas
ações sociais. Foi então que Bowen (1953) definiu RSE como sendo o dever ou a
obrigação dos gestores de empresa em alinhar os projetos sociais e as tomadas de
decisões com os valores da sociedade. Carroll (1979), por sua vez definiu RSE como
algo que envolve as expectativas económicas, legais, éticas e discricionárias que a
sociedade tem em determinado período de tempo. Este conceito evoluiu até aos dias
atuas com novas definições que podem ser encontradas na revisão de literatura
apresentada.

A presente investigação terá como base uma metodologia quantitativa assente nos
sistemas de equações estruturais, desenvolvidas com base no software pls. O estudo de
campo aplicou-se a 80 empresas de Angola mais precisamente da província de Luanda.
A investigação teve como base um levantamento bibliográfico de aspetos históricos,
culturais, Ciências Económica, das socioeconômicos e demográficos sobre a aplicação
da Responsabilidade Social das empresas, que serviram de base ao enquadramento,
contextualização deste conceito num país em desenvolvimento, assim como ao conjunto
de componentes subjacentes ao mesmo.

Algumas pesquisas sobre Responsabilidade Social Empresarial limitam-se


em falar primordialmente sobre práticas voltadas à comunidade e para o meio onde
vivem, procurando dar respostas a sociedade sobre seus comportamentos
principalmente no tocante ao meio ambiente. O tema vem ganhando cada vez
mais espaços nas organizações, pois segundo Ashley (2003), a Responsabilidade
Social está surgindo como uma nova estratégia para aumentar seus lucro e
potencializar seu desenvolvimento diante de uma maior conscientização e exigência
dos consumidores por produtos e práticas que gerem melhoria para a sociedade .

De acordo com o Instituto Ethos (2013), as mudanças no mundo do trabalho


levam as organizações a reforçar o engajamento de seus colaboradores e a planejar com
eles políticas de remuneração e benefícios, pois esta forma de responsabilidade social é
uma maneira eficaz de engajamento, comprometimento e envolvimento dos seus
funcionários com os processos organizacionais. A pesquisa foi realizada na empresa
Unicred, eleita como uma das melhores empresas para se trabalhar, título recebido
em 2013 publicado pela revista Exame.

É cada vez mais evidente que o Estado não tem mais condições de arcar sozinho
com o bem-estar da sociedade em que vivemos. Tal fato gera a necessidade de ação por
parte das empresas e dos cidadãos preocupados com o futuro da nação.

Com o passar dos tempos podemos ver o quanto as empresas vem crescendo e se
inovando. Então, passamos a refletir sobre os desafios globais que têm feito parte da
nossa sociedade nas últimas décadas. Neste contexto, as empresas começaram a se
preocupar mais com seus consumidores, funcionários, meio ambiente e a sociedade em
geral.

Atualmente, a sustentabilidade nas empresas é considerada muito importante, seu


papel é contribuir de alguma forma para o sociedade , com a preservação ao meio
ambiente, projetos para adolescentes, programas de apoio aos seus colaboradores entre
outros projetos. Deste modo abordaremos diversos assuntos e pesquisas que mostram o
grau de responsabilidade das empresas e o quanto isso pode contribuir na valorização
da sua imagem.

A questão a ser estudada é a aceitação das empresas referente a esta criação de


projetos de sustentabilidade, pois como boa parte delas acha isso já fundamental para o
seu crescimento, outras acham algo desnecessário considerando as medidas de
preservação ao meio ambiente uma obrigatoriedade por parte do governo de intervir aos
impactos ambientais que possam estar ocorrendo. Assim, indagamos se, hoje em dia, a
empresa deve priorizar apenas a qualidade de seus produtos ofertados ou se sua
responsabilidade social também valoriza sua imagem na captação de novos clientes e
empreendimentos, visto que o marketing da organização pode ser beneficiado por essas
ações.
3.1 Justificativa

O tema em estudo justifica-se no facto de que muitos desconhecem a


importância do impacto da responsabilidade social das empresas no que tange o
bem-estar da sociedade e de que modo as empresas contribuem para a sociedade.

3.2 Situação Problemática e Problema de Investigação

De um modo geral a sociedade precisa de um apoio por das empresas , é muito comum
as empresas começarem a se envolverem nos problemas da sociedade. Ao resolver os
problemas da sociedade geralmente as empresas disponibilizam os seus bens financeiros
ou mesmo materias.

Qual é o papel fundamental do estudo do impacto da responsabilidade social das


empresas na Lunda-Sul?

3.3 Definição do Tema

O estudo do impacto da responsabilidade social das empresas na Lunda-Sul é um


instrumento utilizado pela empresa para contribuir no desempenho do bem-estar da
comunidade.

3.4 Delimitação do tema

O presente trabalho restringe-se apenas no que tange o papel da Responsabilidade


Social das empresas na Lunda-Sul.
3.5 Objecto do estudo

O estudo do impacto da Responsabilidade Social das empresas na Lunda-Sul.

3.6 Campo de Acção e Delimitação Temporal do Estudo

Temos como o nosso campo de acção a cidade de saurimo

3.7 Objetivo Geral

 conhecer o papel o papel fundamental do estudo do impacto da responsabilidade


social das empresas

3.8 Objetivo Específico

 conhecer os diferentes tipos de responsabilidade social mais frequente na


sociedade
 Ilustrar a posição da Responsabilidade Social na nossa sociedades.
 Identificar factos referidos pela sociedade
 Avaliar a importância da responsabilidade social na nossa sociedades .

3.9 Hipóteses

A chegada de novos conceitos, visões por novos horizontes e materiais humanos faz
com a ideia de responsabilidade social cresça cada dia mais entre as grandes e pequenas
empresas. E está mudança é fundamental para o crescimento e fortalecimento da
empresa na sociedade.

4 Metodologia

Para atender às necessidades dessa investigação, utilizar-se-á a pesquisa aplicada,


pois será necessária a geração de conhecimentos para analisar a situação actual e as
possíveis práticas bem sucedidas no impacto da Responsabilidade Social das empresas
que possam servir de exemplos a serem disseminadas nas empresas. Assim, a pesquisa
será desenvolvida através da pesquisa qualitativa, justificada pelo facto de que o estudo
representará uma realidade socialmente construída e a ênfase estará na natureza repleta
de valores e significados, buscando soluções que resultam da experiência social.

4.1 Metódos

Neste âmbito para obtermos os dados utilizaremos os seguintes métodos:

 Indutivo, para recolha de informações, analisando cada caso separadamente e


construir um quadro teórico;
 Dedutivo, visou na busca de estabelecer a relação entre a causa e efeito para
que a pergunta seja respondida razoavelmente;

 Pesquisa de campo: vamos usar a observação participantes na comunidade .


 Pesquisa bibliográfica: que permitirá identificar as mais diversas abordagens
4.2 Procedimentos Metodológicos
Utilizou-se este método com vista na busca de uma percepção racional e sistemática
dos factos relacionados com objectivos traçados com base no estudo de campo
Capítulo I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO.

1. Responsabilidade Social Empresarial. Breves considerações

Responsabilidade é um substantivo feminino derivado da palavra “responder” com origem no


Latim mais precisamente do verbo “respondere”, que significa responder, produzir efeito,
satisfazer, justificar, comprometer-se da sua parte e prometer, ou seja, que demonstra a
qualidade do que é responsável, ou obrigação de responder por atos próprios ou alheios, entre
outras aceções.

Em termos gerais e, entrando mais afundo no nosso tema, que é o de Responsabilidade Social
Empresarial (RSE), verificamos que responsabilidade de um agente, neste caso individual ou
coletivo, é a obrigação de responder pelas consequências previsíveis das suas ações em virtude
de leis, contratos, normas de grupos sociais ou de sua convicção íntima. É através da proteção
do capitalismo, na sociedade de produção, que surge a RSE. Surge a partir de um determinado
estágio da gestão empresarial, onde se verifica que essa nova forma apresenta valores éticos
como guia de negócios e exige o pensamento em estratégias e políticas que abracem uma
relação socialmente responsável por parte das empresas, tornando-as agentes e parceiras de
uma sociedade mais sustentável. Além disso, deve haver aqui uma interligação entre as
empresas e os grupos com o qual elas se relacionam, os famosos stakeholders.

Como muitas empresas no passado estiveram envolvidas em ações socialmente


irresponsáveis, onde estiveram envolvidas em experiências negativas e desastrosas, hoje,
optam por ações de cunho social. Verificamos que a Nike foi associada ao uso de mão-de-obra
infantil na Ásia e teve grande rejeição por parte dos consumidores. Algo parecido aconteceu
com a Shell nos anos 90, quando foi acusada de prejudicar o meio ambiente e desrespeitar os
direitos humanos na Nigéria. Logo, para evitar imagens negativas, as empresas sabem que têm
de investir em aspetos sociais porque isto é o caminho para que tenham uma relação de
confiança e respeito entre os stakeholders, gerando, neste caso, benefícios a longo prazo,
melhoria da reputação da empresa e fortalecendo, ainda, a marca junto do consumidor, que
por sua vez se reflete na mudança de atitudes de compra (Mendes, 2017).

Segundo Fischer (2002), no século XX, existiram várias correntes de pensamento que
procuraram estreitar a relação da empresa com o ambiente social, destacando a importância
da relação entre as organizações com a envolvente social do qual integravam. Conforme a
autora,
Desta reflexão provém o conceito de responsabilidade social empresarial, que é cunhado, no
âmbito da teoria das organizações, como uma das funções organizacionais a serem
administradas, no fluxo das relações e interações, que se estabelecem entre os sistemas
empresariais específicos e o sistema social mais amplo.” Fischer (2002, p.74-75).

De início, segundo Fischer (2002), o conceito não foi acatado. As empresas, em termos
teóricos, mostravam interesse em fazer cumprir as suas obrigações sociais, mas na prática
limitavam a ações pontuais e esporádicas. Seria, pois, o cenário complexo da mundialização
económica que tornaria conveniente o ressurgimento do exercício da RSE.

Em síntese, as empresas competem entre si de forma acirrada e pressões como a citada


mundialização económica, a intensificação da inovação tecnológica, consumidores cada vez
mais exigentes, fazem parte de um cenário em que apenas a qualidade e o preço não são mais
tão atrativos como outrora. A sobrevivência e o sucesso das empresas passaram também a
requerer a adoção de práticas que tragam valor acrescentado e que conquistem a preferência
dos consumidores.

Segundo Grayson e Hodges (2012, p.74, citado por Milani & Aguiar, 2017, p. 829), “numa
economia global interconectada, os consumidores (que hoje são em geral mais bem
informados e mais afluentes do que nunca) serão fiéis a marcas e organizações que lhes deem
razões para confiar”. De acordo com os mesmos autores, para garantir contratos e negócios,
também é importante que as companhias demonstrem determinado envolvimento com o
meio ambiente e com a comunidade. De facto, Paes (2003) sustenta que:

“Diante dessa nova organização empresarial global, as organizações privadas possuem uma
nova diretriz nos rumos da obtenção do lucro, pois simplesmente as vantagens oferecidas em
relação a valores (preços) não estão sendo suficientes para a obtenção de um mercado
consumidor. Cada vez mais a qualidade do produto está relacionada à relação da empresa com
a sociedade e seu comportamento ético e esses fatores determinam o comportamento dos
consumidores.” (Paes, 2003, p. 25)

Segundo Milani e Aguiar (2017), a responsabilidade social empresarial surge no momento em


que o papel das empresas também é questionado e sofre transformações. É interessante
acrescentar que as atividades que resultam da intensa fabricação de novos produtos
começaram a gerar insatisfação por parte da sociedade e reconheceu-se, desde então, que o
consumo possuía implicações sociais. Do exposto, pode-se afirmar que a notoriedade da
responsabilidade social se deu também devido à degradação dos ecossistemas na sociedade
industrial.
Portanto, a continuidade das empresas também depende de satisfação de toda a sua
envolvente, neste caso, os stakeholders. Entendemos que as relações entre a sociedade e
as empresas são dialéticas, o que significa dizer que a sociedade interfere na existência
da empresa e que, como as empresas fazem parte da sociedade, elas também sofrem
alterações.

Para Oliveira e Moura-Leite (2014), a responsabilidade social está cada vez mais
presente nos genes das organizações, pois cada vez mais se observa a pressão das partes
interessadas para que as empresas assumam e diminuam os impactos gerados pelas suas
ações na sociedade como um todo. Segundo Savitz e Weber (2007), a gestão de forma
responsável do negócio auxilia na proteção da organização por meio da identificação de
falhas na gestão, na redução dos riscos de prejudicar os clientes, proporciona a redução
de custos, melhora a produtividade, elimina desperdícios, e, por fim, promove o
crescimento da empresa através de conquistas de novos mercados e lançamento de
novos bens e serviços.

Ainda de acordo com Savitz e Weber (2007), as organizações socialmente responsáveis


gerem o negócio com o intuito de gerar benefícios para todas as partes envolvidas com a
organização. Logo, estas não realizam ações socialmente responsáveis de forma
abstrata, estes projetos e programas buscam sempre beneficiar de forma simultânea os
interesses da organização e os da comunidade em que atuam, ou seja, ter uma natureza
estratégica.

Segundo Porter e Kramer (2006), a RSE estratégica procura avançar em relação aos
aspetos abrangidos pela responsiva. Essas ações de caráter estratégico procuram investir
em fatores que fomentem a competitividade da organização do contexto no qual está
inserida. Sendo assim, quanto mais próxima do negócio da empresa estiver a questão
social, melhor será o crescimento da capacidade e dos recursos da organização, além de
trazer benefícios efetivos para a comunidade. Ou seja, as organizações devem tomar
providências nas questões de responsabilidade social, desde que estas estejam ligadas ao
ramo de atuação e os benefícios obtidos sejam para as comunidades no entorno das
organizações, pois quando isso se verifica, dá-se uma relação benéfica para todos os
envolvidos que também podemos designar de “ganho- ganha”.

De acordo com Pontes (2011, citado por Oliveira & Moura-Leite, 2014), a utilização da
responsabilidade social estratégica ou responsiva pelas organizações direciona os
investimentos para questões sociais que afetam o meio em que estão incorporadas. Em
função do problema social abordado, adota-se uma das duas RSE designadas
anteriormente. E para isso é necessário verificar as características dos projetos
implementados. Além disso, é mportante considerar o setor de atuação, as necessidades
da comunidade e o que for melhor para o negócio da organização.
É importante frisar que não existem parâmetros rígidos na classificação de projetos e
iniciativas das organizações, em questões sociais genéricas, cadeia de valor e contexto
competitivo, pois as organizações são distintas e possuem diferentes objetos e
preocupações sociais e negócios diversos. Como exemplo temos a situação de uma
redução de emissão de CO2. Para uma organização do setor financeiro, a relevância é
baixa, mas, é um aspeto importante para a cadeia de valor de uma empresa de transporte
e estratégico para uma montadora de automóveis (Porter & Kramer, 2006).

Segundo Pereira et al., (2009, citado por Oliveira & Moura-Leite, 2014), a escolha da
área em que a ação será estabelecida dependerá do negócio da organização, da
localização e do seu propósito. Portanto, para classificar uma ação desenvolvida pela
empresa como estratégica será necessário que os impactos causados aos stakeholders
afetados pela atividade operacional sejam transformados em métodos para atingir os
resultados.

1.1. Definição de Responsabilidade Social

Para que uma organização seja considerada socialmente responsável, segundo Ashley et
al. (2006, p.7), é necessário que cumpra certos requisitos. Tais como:
“Preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam todos os
públicos/stakeholders envolvidos; promoção de valores e comportamentos morais que
respeitem os padrões universais de direitos humanos e de cidadania e participação na
sociedade; respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabilidade em todo o
mundo; maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização,
contribuindo para o desenvolvimento económico e humano dos indivíduos ou até
atuando diretamente na área social, em parceria com governos ou isoladamente.”
(Ashley et al., 2006, p.7)

Segundo Melo Neto e Froes (1999), a organização precisa de mais para ser considerada
socialmente responsável do que apenas apoiar o desenvolvimento da sociedade e
preservar o meio ambiente. Para estes autores, a organização deve apoiar e investir no
bem-estar dos seus colaboradores e dependentes, promover a comunicação transparente,
apresentar os resultados aos acionistas, bem como garantir a cooperação com os seus
parceiros além de assegurar a satisfação dos seus clientes.

Esta definição é muito parecida com a do Instituto Ethos de Empresas e


Responsabilidade Social, cujo teor passou de um conceito filantrópico, em que a
empresa era obrigada a exercer uma relação social com a comunidade, para abranger
todos os stakeholders da empresa, desde funcionários, clientes, fornecedores, acionistas,
concorrentes, meio ambiente à organizações públicas e estatais, definindo RSE como
sendo uma forma de gestão, considerando-se a relação ética e transparente da empresa
com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pela implementação de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando
recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais (Instituto Ethos, 2017)
De acordo com Nascimento, Lemos e Mello (2008), a Responsabilidade Social
Empresarial representa um conjunto de medidas socioambientais desenvolvidas por uma
organização. Ainda segundo estes autores, essas medidas visam diminuir os impactos
negativos que as empresas provocam no ecossistema, bem como desenvolver ações que
provocam uma imagem positiva para a organização, com intuito de favorecer os seus
negócios.

Ainda segundo Melo Neto e Froes (1999), a RSE está dividida em duas dimensões: a
interna, que foca no público interno da empresa, seus empregados e dependentes; a e a
externa, cujo foco é a comunidade mais próxima da empresa ou local onde ela está
inserida. Já a organização que atua em ambas as dimensões exerce a sua cidadania
empresarial e é reconhecida como “empresa-cidadão”.

A empresa que deixa de cumprir os seus deveres sociais com os seus grupos de
interesse, perde o seu capital de responsabilidade social, ou seja, a imagem da empresa é
prejudicada e sua reputação torna-se ameaçada. Os riscos da falta ou perda da
responsabilidade social externa são mais prejudiciais à empresa do que os riscos da falta
de responsabilidade social interna, e eles são: acusações de injustiça social, perda de
clientes, reclamações dos fornecedores e revendedores, boicote de consumidores, queda
nas vendas, gastos extras com passivos ambientais, ações na justiça, risco de invasões e
até mesmo risco de falência. (Melo Neto e Froes, 1999).

De acordo com os mesmos autores é importante, no longo prazo, a responsabilidade das


empresas com as questões socioambientais uma vez que os clientes potenciais poderão
vir a comprar produtos de uma organização que demonstre preocupação com o meio
ambiente e o bem-estar social. Assim, potenciais clientes, que tem dificuldades em
escolher bens e serviços entre vários concorrentes, poderão decidir comprar de uma
organização com maior apelo socioambiental e com mais respeitabilidade no mercado.

A responsabilidade social da empresa pode beneficiar cinco categorias de grupos:

proprietários e acionistas, consumidores, empregados, o público ou a comunidade onde


a empresa atua e os credores e fornecedores. A empresa escolhe a categoria que mais
lhe convém para ser a sua principal beneficiária. Sendo assim, a categoria beneficiária
principal oferece a razão da existência da organização, enquanto as outras beneficiárias
apenas se mantêm a disposição da empresa (Oliveira, 1984).

Segundo Melo Neto e Froes (1999), a responsabilidade social desempenhada de forma


inteligente e consistente contribui para a sustentabilidade e o desempenho empresarial.
Com isso, as ações sociais desenvolvidas pelas empresas podem acarretar alguns
benefícios para a organização:
“Ganhos de imagem corporativa; popularidade dos seus dirigentes, que se sobressaem
como verdadeiros líderes empresariais com elevado senso de responsabilidade social;
maior apoio, motivação, lealdade, confiança, e melhor desempenho dos seus
funcionários e parceiros; melhor relacionamento com o governo; maior disposição dos
fornecedores, distribuidores, representantes em realizar parcerias com a empresa;
maiores vantagens competitivas (marca mais forte e mais conhecida, produtos mais
conhecidos); e maior fidelidade dos clientes atuais e possibilidades de conquista de
novos clientes.” (Melo Neto e Froes, 1999).

De acordo com a Comissão Europeia (2013), sempre que uma empresa assume a
responsabilidade para com a sociedade, o meio ambiente e os trabalhadores, acarreta
uma situação de vantagem a todos os níveis, a qual contribui para aumentar a base de
confiança necessária ao sucesso económico. Considera ainda que a governação
empresarial constitui um elemento fundamental da responsabilidade social das
empresas, em particular no que diz respeito à relação com as autoridades públicas, os
trabalhadores e as suas associações representativas, bem como no que toca à política de
bónus, salários e retribuições seguidos pela empresa; entende que bónus, indemnizações
e salários excessivos pagos a gestores, em particular nos casos em que a empresa
enfrenta dificuldades, não são compatíveis com um comportamento socialmente
responsável.

A política fiscal de uma empresa dever ser considerada como parte da RSE e que as
estratégias de evasão fiscal ou o recurso a paraísos fiscais são, portanto, incompatíveis
com um comportamento socialmente responsável. Entende também que, no quadro da
avaliação da responsabilidade social de uma empresa, deve ser tido em conta o
comportamento das empresas que fazem parte da sua cadeia de fornecimento, bem
como das empresas subcontratadas.

A CE define RSE como sendo a responsabilidade das empresas pelo impacto que têm na
sociedade. Com esta definição, as empresas devem adotar um processo que integre as
questões sociais, ambientais e éticas, os direitos humanos e as solicitações dos
consumidores na sua estratégia comercial e de base. Com o objetivo de criar uma
comunidade de valores para proprietários e acionistas, as outras partes interessadas e a
sociedade em geral, a fim de identificar, evitar e atenuar os possíveis impactos
negativos das atividades da empresa.

Este relatório salienta ainda que o investimento socialmente responsável (ISR) é parte
integrante do processo de execução da responsabilidade social das empresas no quadro
de decisões de investimento; e refere que, embora não exista uma definição de ISR, este
combina habitualmente os objetivos financeiros dos investidores com as suas
preocupações com as questões sociais, ambientais, éticas e relativas ao governo das
empresas.
Salienta também que a responsabilidade das empresas não deve ser reduzida a uma
ferramenta de comercialização, e que a única maneira de desenvolver a RSE plenamente
consiste em incorporá-la na estratégia global da empresa, implementando-a e
traduzindo-a na realidade das operações quotidianas da empresa e da sua estratégia
financeira.

“Responsabilidade social da empresa significa também, e sobretudo, competitividade.


Isto não significa automaticamente que todas as intervenções em matéria de RSE
reforcem as vantagens concorrenciais de uma empresa, mas sim que determinadas
medidas possam reforçar uma empresa se permitirem criar uma comunidade de valores
entre a empresa, os seus acionistas e a sociedade em geral.” (Comissão Europeia, 2013,
p.13)

A Responsabilidade Social nas empresas apresenta, atualmente, três definições que


apesar de serem diferentes em termos de escritas acabam por serem sinónimas. Elas são:
Responsabilidade Social Empresarial (RSE), Responsabilidade Social Corporativa
(RSC) e Responsabilidade Social Ambiental (RSA), e verificamos que todas elas estão
intimamente relacionadas com o conceito “Stakeholder”.

A RSE é a designação mais popular de responsabilidade social desenvolvida pelas


empresas, que por muitos é considerada como sinónimo de RSC, contudo ela tem um
diferencial facilmente identificado que é o de focar em ações destinadas aos diversos
stakeholders, além de observar a comunidade e ambiente.

RSC é a designação mais utilizada para definir a responsabilidade social das grandes
empresas, empresas que geralmente praticam ações sociais observando no seu público
interno ou no ambiente de negócio. Alguns dos princípios básicos que guiam a RSC
são: ação social, código de conduta, auditoria social, código de bom governo,
desenvolvimento sustentável empresa-cidadã, ética empresarial, gestão ambiental e
sustentabilidade.

A RSA é a designação mais recente de responsabilidade social e talvez a mais


abrangente, direciona a sua atenção às ações socioambientais, além das questões
comumente tratadas em relação ao seu público interno e externo (Montagna, 2015).

Stalkeholders (partes interessadas) são pessoas ou grupos que possuem propriedade,


direitos ou interesses passados, presentes ou futuros em uma organização e em suas
atividades (Clarkson, 1995).

Também podemos definir RSE como sendo o compromisso que nós (geração presente)
temos em relação à geração futura, com a sociedade como um todo, de livre e
espontânea vontade e que tem como dever seguir normas, filosofias e ideais para se
alcançar um objetivo único que é o de uma sociedade melhor para todos.
A responsabilidade social não se deve confundir com negócio local. Ela é, nada mais,
que uma área da empresa destacada a implementar medidas que promovam o bem
comum, ajudando deste modo a comunidade em que está inserida e melhorar,
consequentemente, a imagem da própria empresa, promovendo a ideia de que é uma boa
cidadã.

“A responsabilidade social empresarial (RSE) é outro termo que às vezes se confunde


com negócio social. A RSE frequentemente designa um fundo beneficente destacado
por uma empresa voltada para o lucro para fazer algo de bom na comunidade local. Por
exemplo, o departamento de RSE de uma empresa pode doar dinheiro para um hospital
ou escola, conceder bolsas de estudo para umas poucas crianças pobres ou patrocinar
um dia de limpeza na praia ou num parque. Os programas de RSE são usados
principalmente para construir a imagem de uma empresa, promover a ideia de que é
uma “boa vizinha” ou uma “boa cidadã.” (Yunus, 2010, p. 27).

A responsabilidade social empresarial veio dar um novo sentido à maneira de


governação das empresas. Verificou-se na responsabilidade social uma nova estratégia
capaz de potencializar o desenvolvimento das organizações e aumentar os seus lucros.
Os consumidores cada vez mais tendem a juntar-se e a incentivar organizações que têm
como meta não só o benefício próprio, mas que ajudam a melhorar o meio ambiente ou
a comunidade em geral, tornando as suas práticas mais sustentáveis. Uma outra visão dá
uma perspetiva do tema no âmbito de como o mundo vê:

“O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para


aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da
maior conscientização do consumidor e consequentemente procura por produtos e
práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspetos
éticos ligados à cidadania. Além disso, essas profundas transformações mostram-nos
que o crescimento econômico só será possível se estiver alicerçado em bases sólidas.
Deve haver um desenvolvimento de estratégias empresariais competitivas por meio de
soluções socialmente corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.”
(Arruda, 2002, p.3)

Alguns fatores que podem levar as empresas a serem socialmente responsáveis são:
expectativas dos consumidores, depredação do meio ambiente, perda dos valores sociais
na comunidade, a globalização e os seus efeitos secundários bem como as alterações nas
formas tradicionais de gestão.

“A noção de responsabilidade social por parte das empresas tem sido bem difundida.
Isso ocorre principalmente em países considerados mais desenvolvidos por exigência do
mercado consumidor, pela pressão da sociedade civil organizada e por mudanças
profundas nas legislações para gerar produtos mais seguros e menos prejudiciais à
natureza.” (Costa, 2007, p.20)
Para assumir um papel socialmente responsável é necessário que as empresas, governos
e sociedade, deem respostas aos inúmeros desafios que surgem devido à globalização a
questões que envolvem tanto aspetos económicos como sociais e ambientais, e que
sejam acima de tudo sustentáveis, visando diminuir os impactos diretos ou indiretos na
sociedade ou no planeta devido ao exercício do negócio.

Ser socialmente responsável não está restrito ao cumprimento de todas as obrigações


legais – implica ir mais além promovendo investimentos em capital humano, no
ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais,
ultrapassando a esfera da própria empresa, envolvendo, além dos trabalhadores e
acionistas, outras partes interessadas.” (Reetz, 2006, p. 22)

A responsabilidade social é concreta e permanente, embora não seja uma realidade na


maioria das empresas. Mas é certo que essa febre se torne viral na maioria das empresas
nos próximos tempos, visto que cada vez mais se vão fazendo e aprofundando estudos
sobre esta temática. É fundamental não só para as empresas como também para a
sociedade em geral devido aos enormes benefícios gerados por ela.

“Apesar de encarada como modismo por alguns, a responsabilidade social empresarial


pode ser considerada como concreta e permanente. Não obstante existir um movimento
mundial, liderado pelas grandes empresas de produtos, ela ainda não é uma realidade na
maioria das empresas (...) A responsabilidade social define o grau de amadurecimento
de uma empresa privada em relação ao impacto social de suas atividades. Abrange, em
termos gerais, desenvolvimento comunitário, equilíbrio ambiental, tratamento justo aos
funcionários, comunicações transparentes, retorno aos investidores, sinergia com
parceiros e satisfação do consumidor.” (Costa, 2007,
p. 23)

Como há tantas definições de RSE, muitas empresas quiseram sinalizar ao mercado que
são responsáveis com a sociedade e procuraram entre as diferentes definições qual delas
melhor se adequa à maneira como seus negócios são conduzidos, o que significa que
muitas empresas identificam como responsáveis, embora, na prática, elas também não
se responsabilizam pelas externalidades negativas que afetaram algum ou alguns de seus
grupos de interesse.
1.2. Responsabilidade Social Empresarial. Uma breve resenha histórica

Segundo Tenório (2004), a questão de responsabilidade social empresarial (RSE) é


um tema recente, polémico e dinâmico, envolvendo desde a geração de lucros
pelos empresários, em visão bastante simplificada, até a implementação de ações
sociais no plano de negócios das organizações, em contexto abrangente e
complexo.

Em seguida falaremos desta temática dentro de um limite histórico, onde


mostraremos o seu desenvolvimento ao longo do século XX, com início ainda na
sociedade industrial, passando pela era pós-industrial e chegando aos dias atuais.

A responsabilidade social empresarial começou a ser discutida no início do século


XX, com o filantropismo. Em seguida, com a extinção do modelo industrial e com o
surgimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando essas ações
sociais a estar inseridas no plano de negócios das organizações.

ssim, além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos como voluntariado empresarial,


cidadania corporativa, responsabilidade social corporativa e, por último, desenvolvimento
sustentável.Para melhor ilustrar a RSE dividiremos a análise em dois períodos distintos: 1º Do
início do século XX até à década de 1950. 2º Abordagem contemporânea, estendendo-se
desde a década de 1950 até aos dias atuais.

1.2.1. Do início do século XX até à década de 1950

De acordo com Tenório (2004), neste período a sociedade experimentava a transição da


economia agrícola para a industrial, com a crescente evolução tecnológica e a aplicação da
ciência na organização do trabalho, mudando o processo produtivo. A ideologia predominante
era o liberalismo de Adam Smith, Malthus, David Ricardo e Stuart Mill, baseado no princípio da
propriedade e da iniciativa privada. A visão clássica da responsabilidade social empresarial
incorporava os princípios liberais, influenciando a forma de atuação social das empresas e
definindo as principais responsabilidades da companhia em relação aos agentes sociais na
época. Através das obras destes autores, imaginava-se que a função das empresas era apenas
a geração de ganhos para os seus donos ou acionistas.

Pelo liberalismo, a interferência do Estado na economia seria um obstáculo à concorrência,


elemento essencial ao desenvolvimento económico e cujos benefícios seriam repartidos por
toda a sociedade. O Estado seria o responsável pelas ações sociais, pela promoção da
concorrência e pela proteção da propriedade. Já as empresas deveriam buscar a maximização
do lucro, a geração de empregos e o pagamento de impostos. Atuando dessa forma, as
companhias exerceriam sua função social. Ou seja, com a busca pela maximização do lucro por
parte das empresas, acreditava-se que assim aconteceria a livre concorrência entre
organizações e que esse era o mecanismo perfeito para a regulamentação do mercado e a
geração de riqueza provesse a sociedade. A intervenção do Estado sobre a economia deveria
ser mínima, uma vez que as organizações seriam capazes de gerar empregos e,
consequentemente, bem-estar a todos (Montoro Filho et al., 2001).

De acordo com Andrade et al. (2010), esta ideia permaneceu no mundo ocidental até
o início do século XX, mais precisamente em 1929 quando se deu a queda da Bolsa de Nova
Iorque. Apercebeu-se então que a economia livre do controlo do Estado era insustentável e
gerava grandes desequilíbrios socias. Notou-se que as organizações privadas, com o seu
propósito de maximização constante dos lucros, não asseguravam o bem-estar e a segurança
dos trabalhadores, assim como não investiam em importantes setores da sociedade
fundamentais para o equilíbrio social. É nesta época que surge a ideia do Estado
intervencionista, a partir da obra de John Keynes, que regulamenta e financia a economia e as
relações trabalhistas (Tenório, 2004). Este modelo de Keynes, apesar dos elevados impostos
que acarretava, permitiu, após a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos países
desenvolvidos – onde de facto se efetivou este modelo –, que as organizações pudessem
trabalhar em um ambiente de menos incerteza, investindo fortemente na sua produção e
desenvolvimento tecnológico, o que lhestrouxe enormes vantagens. Singer (2002) sustenta
que:

“Apesar da volta do liberalismo, o panorama teórico da economia nunca mais será o mesmo;
tampouco o da política. A razão disso é que a teoria de Keynes foi aplicada no mundo inteiro,
dos anos 30 aos 70 do século passado, e deu certo. Durante mais de 30 anos o pleno emprego
foi geral, e o comando do Estado sobre a economia capitalista garantiu altas taxas de
crescimento do produto, da produtividade, de emprego e dos salários.” (Singer, 2002, p. 14).

Esse modelo funcionou bem durante quatro décadas, mas nos anos 1980, principalmente com
o sucesso da política económica liberal em Inglaterra, houve uma volta aos moldes do início do
século XX, que passaram a denominar “neoliberalismo”

(Singer, 2002). Em muitos lugares, essa nova política originou um forte desemprego e o
reaparecimento de diversos problemas de carácter social. Isso, associado aos ganhos que as
sociedades obtiveram com a intervenção do Estado nas décadas anteriores, o
desenvolvimento das tecnologias da informação, o aumento do nível de escolaridade em geral
e o surgimento de grandes problemas ambientais, fez com que surgisse uma cobrança: cobrir
as lacunas abertas pela nova economia. Tenório (2004), a partir das proposições de Toffler
(1995), afirma que a sociedade industrial – típica do período liberal – tinha como valor central
o sucesso económico, enquanto a sociedade pós-industrial – modelo Keynesiano – passou a
estimar também o: “... aumento da qualidade de vida; a valorização do ser humano; o respeito
ao meio ambiente; a organização empresarial de múltiplos objetivos; e a valorização das ações
sociais, tanto das empresas quanto dos indivíduos.” (Tenório, 2004, p. 20) As sociedades
então, quando o Estado deixou de ser o provedor, passam a demandar das organizações não
somente a boa qualidade dos produtos, da distribuição e dos preços, mas também um
compromisso empresarial com a ética, o desenvolvimento social e o respeito à natureza,
ambiente propício para que o debate teórico e a prática da Responsabilidade Social
Empresarial se intensificassem. Sobre a função social empresarial, Friedman refere:
“Os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas têm uma
responsabilidade social além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus acionistas
ou de seus membros. Isso mostra uma conceção errada do carácter e da natureza de uma
economia livre, através da qual só existe uma responsabilidade social do capital que é a de
usar seus recursos e dedicar-se a atividade destinadas a aumentar seus lucros até onde
permaneça dentro das regras do jogo, o que significa participar de uma competição libre e
aberta, sem enganos ou fraude”. (Friedman, 1985, p.23, citado por Tenório, 2004).

Neste período, segundo Galbraith (1982, citado por Tenório, 2004), o mercado era formado
por empresários de pequenas empresas, em regime de concorrência perfeita, com base
tecnológica estável e acessível, e com pouco ou nenhum poder de influenciar individualmente
o mercado. O património confundia-se com o do dono. A maximização dos lucros era o
objetivo da companhia e expressava a vontade dos acionistas, sendo essa a principal
contribuição social da empresa.

A alteração do processo produtivo, originada pela evolução tecnológica e pela aplicação da


ciência na organização do trabalho, foi outro fator que contribuiu para fomentar a discussão
do conceito de responsabilidade social empresarial, uma vez que as suas consequências
afetaram as relações de trabalho existentes na época, gerando debates a respeito das
obrigações empresariais em relação a seus empregados.

Com a alteração do processo produtivo, substituiu-se o trabalho artesanal pela especialização


da tarefa. Como resultado desse processo, surgiu a administração científica, com o objetivo de
aumentar a produtividade e diminuir o desperdício na produção. Os seus principais
idealizadores foram Taylor, Ford e Fayol (Tenório, 2004).

Sendo assim o objetivo de maximização do lucro estava presente em todos os processos


empresariais que buscavam a otimização da produção. Entretanto, o liberalismo não
estimulava a prática de ações sociais pelas empresas e até as condenava, pois entendia que a
caridade não contribuía para o desenvolvimento da sociedade nem era de responsabilidade
das organizações. Deste modo, no início do século XX, a RSE limitava-se apenas ao ato
filantrópico, que inicialmente assumia um caráter pessoal, representando pelas doações
efetuadas por empresários ou pela criação de fundações, como a Ford, a Rockfeller e a
Guggenheum. Posteriormente, com as pressões da sociedade, a ação filantrópica passou a ser
promovida pela própria empresa, simbolizando o início da incorporação da temática social na
gestão empresarial.

De acordo com Tenório (2004), apesar de a administração científica e o liberalismo económico


terem contribuído para o crescimento da população e a acumulação de capital, inicialmente a
industrialização ocasionou a degradação da qualidade de vida, a intensificação de problemas
ambientais e a precariedade das relações de trabalho.

A partir desse momento, a sociedade começou a mobilizar-se, pressionando o governo e


empresas a solucionarem os problemas gerados pela industrialização. Verificou-se, assim,
maior controle social da atividade empresarial.
Logo, o conceito de responsabilidade social empresarial passou a incorporar alguns anseios
dos principais agentes e a ser entendido, não apenas como geração de empregos, o
pagamento de impostos e a geração de lucro, mas também como o cumprimento de
obrigações legais referentes a questões trabalhistas e ambientais. Esta é a primeira dimensão
de responsabilidade social empresarial sugerida por Martinelli (2000, citado por Tenório,
2004). De Masi apresenta alguns dos problemas sociais e ecológicos gerados pelo processo de
industrialização no começo do século XX:

“O crescimento das dimensões urbanas não conheceu um melhoramento na qualidade de


vida dos cidadãos: poluição química e fotoquímica, obstrução da circulação, barulho, falta de
água e de higiene concorreram para estressar tanto os habitantes quanto a terra. Calcula-se
que, no mundo, 280 milhões de habitantes das cidades não dispunham de água potável e que,
para resolver os problemas ecológicos de uma cidade como Los Angeles, é necessário o
suporte de uma área 300 vezes maior do que a própria cidade.” (De Masi, 2000, p.149, citado
por Tenório, 2004) Os problemas trabalhistas referiam-se às longas jornadas de trabalho —
que chegavam a durar até 12 horas diárias —, aos baixos salários, à ausência de legislação
trabalhista e previdenciária e à mecanização do ser humano. “A filosofia do taylorismo,
destinada a estabelecer a harmonia industrial ao invés da discórdia, encontrou forte oposição
desde 1910 entre os trabalhadores e os sindicatos. Muitos trabalhadores não conseguiam
trabalhar dentro do ritmo de tempo padrão preestabelecido e passaram a se queixar de uma
nova forma de exploração sutil do empregado: fixação de padrões elevados de desempenho
favoráveis à empresa e desfavoráveis aos trabalhadores. O trabalho qualificado e
superespecializado passou a ser considerado degradante e humilhante pelos trabalhadores,
seja pela monotonia, pelo automatismo, pela diminuição da exigência de raciocínio ou pela
destituição completa de qualquer significado psicológico do trabalho.” (Chiavenato, 1999,
p.45, citado por Tenório, 2004)

Abordagem contemporânea, estendendo-se desde a década de 1950 até aos dias atuais

Segundo Alban (1999) esta época é marcada por uma fase de forte mobilização cívica e
revolucionária, além de um enorme progresso científico e tecnológico. O modo de produção e
de acumulação do capital continua sendo intenso, e a regulação de tipo monopolístico. Com a
crise do dólar e do petróleo, finda o ciclo dos “anos dourados” (1945-1973), e a economia
capitalista volta a apresentar grandes debilidades conjunturais, longas e profundas recessões,
queda do ritmo de crescimento e altas taxas de desemprego. Dentro de um cenário de
contestações e turbulência social, as empresas tornam-se alvo de reivindicações cada vez mais
numerosas e variadas. Inúmeros movimentos da sociedade civil passam a exercer pressão
sobre elas, particularmente no que toca a questões de poluição, consumo, emprego,
discriminações raciais e de género, ou natureza do produto comercializado (principalmente a
industrial bélica e de cigarros). As demandas tornam-se centrais e generalizadas e vários
movimentos de contracultura questionam o ato egoísta das empresas que vivam
exclusivamente para a maximização de seus lucros.

Em 1970 começam a surgir protestos argumentando que o contrato social sobre o qual se
baseia o sistema da livre empresa havia mudado, e que as organizações deviam responder a
obrigações mais amplas que a simples rentabilidade (Gendron, 2000). Em 1972, a publicação
do relatório do Clube de Roma, intitulado The limits of growth, vem fornecer ainda mais
argumentos aos grupos contestatários. Cresce uma atmosfera “anti-negócios” que inquieta o
mundo organizacional – e dá-se então o início do verdadeiro debate sobre a RSE.

Nasce também, nesta época, a escola Business Ethics aquando do surgimento da bioética,
através da qual é estimulado o desenvolvimento de um novo ramo da ética normativa e
aplicada, voltada especificamente para o mundo dos negócios e das empresas (De George,
1987).

No final da década de 70, as novas teorias organizacionais, menos gerencialistas que as


anteriores, favorecem uma perceção da empresa enquanto entidade moral:

as decisões empresariais deixam de ser atribuídas apenas aos indivíduos, e considera-se a


hipótese de que possam ser tomadas pela própria organização, enquanto estrutura decisória
composta por objetivos, regras e procedimentos. Logo a ideia de responsabilidade pessoal é
substituída pela noção de responsabilidade corporativa, e transita-se assim de uma perspetiva
individualista para uma organizacional, que transcende a mera agregação das ações dos
sujeitos (Lecours, 1995).

Entretanto, de meados da década de 70 até ao início da década de 80, o campo da Business


Ethics confunde-se com a corrente de mesmo nome – de orientação filosófica, normativa –
porque basicamente não existem abordagens concorrentes de peso significativo. Portanto, o
vocabulário da filosofia (bem, mal, dever, justiça) começa a partir daí, a ser gradualmente
substituído por uma terminologia mais sociológica (poder, legitimidade, racionalidade)
(Lecours, 1995). Nesse mesmo período, a ideia de responsabilidade desagregase da noção
discricionária de filantropia, e passa a referir-se às consequências das próprias atividades
usuais da empresa. É a partir daí que surge a primeira divisão da Business Ethics e surge a
escola Business & Society.

A partir desta data ressurgem as políticas neoliberais: ajuste fiscal, redução das despesas
sociais do Estado, privatizações, desregulamentação, liberalização do comércio, das taxas de
câmbio e das relações trabalhistas. O fordismo cede lugar ao pós-fordismo, modo de produção
e de acumulação flexíveis, de base microeletrónica, cujas consequências revelam-se
devastadoras para os níveis de emprego, tanto nos países industrializados como nos
periféricos (Alban, 1999). Graças às novas tecnologias, a produção torna-se descentralizada, e
a mão-deobra pode ser subcontratada e operar a partir de qualquer continente. Os
trabalhadores trocam o estatuto de assalariados pelo de autónomos, informais ou
contratados, sem garantia de trabalho estável ou segurança social.

Sob o ponto de vista social, a pobreza, o desemprego e outros tipos de exclusão marcam tanto
o cenário norte-americano quanto o europeu, e também nos países menos desenvolvidos. A
problemática ambiental é tema de diversas conferências internacionais, e, em 1987, o
Relatório Brundtland lança o conceito de “desenvolvimento sustentável”, que pretende
conciliar desenvolvimento económico e proteção ambiental (Nobre & Amazonas, 2002).
Consolida-se definitivamente, no início da década de 80, a abordagem intitulada Business &
Society, a qual concebe empresa e sociedade como uma rede inextrincável de interesses e
relações, permeada por disputas de poder, acordos contratuais explícitos e implícitos, e pela
busca de legitimidade. Nesta época surge a famosa teoria dos stakeholders, desenvolvida por
Freeman (1984), segundo a qual a ideia de que as empresas não possuem responsabilidades
senão em relação aos acionistas deve ser substituída pelo conceito de relação de confiança
entre a empresa e as suas partes interessadas. Esta teoria revelar-se-á suficientemente rica e
abrangente para ser encampada (e adaptada) pelas três correntes teóricas dedicadas ao
estudo das relações entre ética, empresas e sociedade. Surge também, neste período a escola
Social Issues Management – resultado da preocupação, nos círculos de gestão, com os
inevitáveis conflitos inerentes às interações entre empresas e sociedade, e com a crescente
intensificação de tais conflitos. Esta abordagem visa atender à demanda por instrumentos para
a gestão sistemática dos problemas éticos e sociais enfrentados (ou antecipados) pelas
companhias, de tal modo que a sensibilidade (responsiveness) corporativa transforme-se
numa vantagem competitiva (Kreitlon, 2004).
Já nos séculos XVIII e XIX era possível encontrar acções colectivas de
carácter criativo que envolviam o Estado e o empresariado e que visavam
sobretudo reduzir situações de pobreza e antagonismo dela decorrentes.
Nesta época, a intervenção social empresarial expressava-se através da
caridade pontual de beneméritos como forma de governar a miséria.
É a partir do século XIX que começamos a encontrar ações, pontuais, que
envolvem o Estado e as empresas com o objetivo de reduzir a pobreza e
todas as diferenças que daí decorriam. Os empresários da altura
preocupavam-se, pontualmente, com os seus colaboradores e como
torná-los mais competitivos. Não se sabendo se as motivações seriam
económicas ou sociais.

Nesta época, e conforme o discurso da Igreja Católica

O problema da pobreza era encarado como algo degradante, conduzindo


a atitudes de piedade e caridade. Neste período, a filantropia
fundamentava-se na beneficência individual e no pressuposto de que
a ajuda aos pobres deveria advir da iniciativa particular, inspirada
por motivações mais elevadas do que as que movem a assistência estatal.

Entre 1918 e 1929 começa-se a verificar uma maior sensibilização no


quediz respeito à missão das empresas relativamente à sociedade.
Surgindo assim novas formas de interação entre os empresários e os
trabalhadores. partir dos anos 30 do século XX começamos a entrar
numa nova era do conceito de responsabilidade social da empresa,
doravante designado por RSE, derivado de mutações tanto na vida
económica como social. No plano económico, estávamos perante novos
desafios concorrenciais, que consequentemente exigiam maior
competitividade, tanto a nível tecnológico como em termos de eficiência
organizacional, de exigência de recursos humanos qualificados e
consequentemente uma maior sensibilização corporativa.

Após a 2ªGuerra Mundial as empresas passam a ter como missão não só o lucro mas
também a preocupação com o bem-estar. Ainda assim, a década de 50 e 60, foi
marcada como uma década de desejos mas não de aplicação prática. A partir da
década dos anos 80, preocupações ambientais, laborais, direitos do consumidor e a
saúde começam a fazer parte da ordem do dia nas empresas. É neste década
que se desenvolvem as teses dos stakeholderse a ética empresarial.

A partir dos anos 90 emerge a boa reputação das empresas associada à RSE.
Atualmente, as empresas vêm a sua missão para lá da obtenção do lucro, cada
vez mais impelidas de fazer mais e melhor pela sociedade, sentindo-se como
verdadeiras responsáveis pela sustentabilidade social e ambiental.
No dias de hoje, Tem predominado a concepção de que a vocação das empresas é
gerar dividendos para investidores e accionistas, contribuir para o desenvolvimento
económico, criar empregos e fornecer bens e serviços ao mercado. Nesta fórmula
clássica, espera-se que as empresas, na consecução de suas actividades, cumpram
com as exigências legais de pagamento de impostos e contribuições aos trabalhadores,
evitem práticas de corrupção, suborno e mantenham uma conduta transparente e
responsável pelos seus lucros.

Do ponto de vista dos consumidores e cidadãos, este aumento de responsabilidade


social por parte das empresas é um caminho para um mundo mais justo e
sustentável sendo que, as empresas serão sempre as primeiras responsáveis. Este
novo olhar possibilitou a tomada em consideração da empresa como um facto social,
com dimensão própria que ultrapassa a ideia de locus central do capitalismo e, portanto,
de conflito social e de exploração do trabalhador. A nova proposta procura
explicar também a empresa.

Stakeholders: Ou partes interessadas, designa todas as entidades que afetam a


atividade de uma empresa ou são afetados por ela (investidores, trabalhadores,
parceiros comerciais, fornecedores, clientes, credores, comunidade local, associações
de cidadãos, entidades reguladoras e o Governo); Costa, Maria Alice Nunes; Maria
João Santos; Fernando Miguel Seabra; Fátima Jorge: Responsabilidade Social, uma
visão Ibero Americana, (2011) Almedina, pp. 15-22.

como uma micro-comunidade, com autonomia e capaz de influenciar as


representações e as estruturas sociais. Assim sendo, e de acordo com a visão do
economista Hodgson (1994), a empresa faz parte de uma rede vital de laços contratuais
criadas por ela através das suas relações de mercado.

A nível mundial verificaram-se fenómenos sociais, tais como a luta pela igualdade
de direitos entre homens e mulheres, entre raças, assim como a contestação e luta por
novos valores e atitudes (v.g. Maio de 1968 em França), que vieram gerar novas
práticas no relacionamento das empresas com a sociedade e meio ambiente. É
neste contexto que se passou a divulgar informação acerca das práticas das empresas no
domínio ambiental e social. Assim, no início da década de 70, esta matéria assume
especial relevo aquando da elaboração e publicação dos relatórios sobre actividades
de índole social. Surge em França, em 1972, um dos modelos e práticas associadas
àquelas actividades, o Balanço Social e, em 1977, aquele país foi o primeiro a
estabelecer a sua obrigatoriedade para empresas com mais de 750 trabalhadores
(Monteiro, 2005).
A crescente globalização das economias através da acção das grandes
multinacionais, condicionada pelas preferências e “valores” do mercado, veio
acelerar todo o processo associado à definição do conceito de RSE. Desde então, têm-se
realizado diversos estudos e investigação acerca dos efeitos das políticas de
responsabilidade social praticadas pelas empresas, todavia, por falta de resultados
consistentes e conclusivos, prosseguem as investigações a nível académico sobre
esta temática dada a sua complexidade (Moreno, 2004).

O conceito de RSE e a sua regulamentação na União Europeia Como anteriormente


referimos, a RSE e respectivas práticas vêm sendo debatidas ao longo de várias
décadas, tendo suscitado um crescente interesse por parte de organismos regionais e
internacionais, nomeadamente, Comissão Europeia (CE), Nações Unidas e
Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE). A
crescente tomada de consciência da importância das questões sociais no designado
desenvolvimento sustentável originou o aparecimento de diversas iniciativas por parte
de organizações, tais como Investors for Africa, Global Compact, World Business
Council for Sustainable Development, Global Reporting Iniciative.

No entanto, a realidade demonstra que estas práticas ainda não têm uma aplicação
efectiva e generalizada a nível mundial. Neste domínio, a União Europeia (UE) tem
desenvolvido acções para (i) divulgar os resultados e impacto positivo da adopção das
práticas de RSE nas empresas e na sociedade, (fomentar competências de gestão nesta
temática, intensificar a RSE nas pequenas e médias empresas e (iv) promover a
convergência e transparência das práticas de RSE (Monteiro, 2005). Em Março de
2000, a UE apresentou na Cimeira de Lisboa, entre outros, o objectivo estratégico de
se tornar na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do
mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e
melhores empregos, e com maior coesão.

determinada uma estratégia para a UE, consubstanciada num conjunto de medidas para
as áreas tecnológica, científica, económica e social, entre outras, que visa a
divulgação de melhores práticas e pretende alcançar uma maior convergência ao
nível dos seus principais objectivos: sociedade da informação, investigação e
desenvolvimento, política de empresa, educação e combate à exclusão social. A UE
demonstra o maior interesse pelo tema da RSE e reconhece-lhe grande potencial
para a consecução dos objectivos visados.

Com a publicação do Livro Verde, em 2001, a UE quis alargar o debate em torno da


RSE com o intuito de determinar as formas de promover e melhorar as
respectivas práticas quer na Europa, quer no resto do mundo. Neste documento é
apresentado o conceito de RSE como sendo a integração voluntária de
preocupações sociais e ambientais por parte das empresas, nas suas operações e na sua
interacção com outras partes interessadas, e salienta-se a vantagem da assunção
voluntária de compromissos não obrigatórios por lei (COM 366, 2001). Refere-se ainda
que, ao adoptar uma gestão que concilia os interesses de diversas partes, numa
abordagem global ao nível da qualidade e do desenvolvimento sustentável, as empresas
contribuem para a melhoria das normas relacionadas com o desenvolvimento
social, protecção ambiental e direitos fundamentais.

O investimento socialmente responsável: uma nova perspectiva na gestão


empresarial

O aparecimento de orientações sobre as políticas de responsabilidade social,


índices e classificações relativamente aos comportamentos socialmente responsáveis,
bem como o crescente interesse e intervenção de organismos de âmbito regional
e internacional, nomeadamente a CE e a OCDE, denotam a crescente
consciencialização das questões sociais ao nível dos negócios das empresas.

De acordo com a UE, a popularidade do investimento socialmente responsável (ISR)


aumentou nos últimos anos junto dos principais investidores. As políticas
responsáveis do ponto de vista social e ambiental fornecem aos investidores um
bom indicador de uma gestão sã, tanto a nível interno como externo. Ao
anteciparem e prevenirem as crises que podem afectar a reputação da empresa ou
provocar quedas abruptas no valor das suas acções, essas políticas contribuem para

A construção de um quadro teórico sobre a responsabilidade social, bem como sobre o


desempenho social tem sido complexa (Gond & Herrbach, 2006). De acordo com
os mesmos autores, o estudo do desempenho social das empresas pode ser sintetizado
em três grandes períodos:

 inicialmente os investigadores centravam os seus estudos na percepção da


razão pela qual algumas empresas tinham em linha de conta questões de
natureza ambiental e social em vez de se concentrarem nas questões de
natureza económica (corporate social responsability);

 A segunda fase é relativa à percepção do modo como as práticas de


responsabilidade social foram sendo operacionalizadas, i. e., como a crescente
consciencialização das questões sociais foi sendo materializada (corporate
social Tékhne, 2008, Vol VI, nº10 Mário Marques, Cláudia Teixeira 154
responsiveness);

 O terceiro período surge, fundamentalmente na década de 90, associado ao


conceito de corporate social performance, o qual emergiu como síntese dos
anteriores períodos. Gond & Herrback (2006) pretenderam avaliar se a
implementação de sistemas de relato social conduziria a alterações nas
dinâmicas individual e organizacional, impulsionadoras do desempenho
organizacional.

Estes autores referem que a literatura faz uma distinção entre duas tendências

complementares de pesquisa em torno desta temática: a abordagem

comportamental, que vê a aprendizagem organizacional como a capacidade de

adaptação das organizações à sua envolvente; e a abordagem cognitiva, que vê a

aprendizagem organizacional como um processo de mudança cognitiva. Esta

dicotomia conduz a dois processos distintos de aprendizagem organizacional. O

primeiro considera a aprendizagem como um processo de adaptação, sendo as

rotinas encaradas como o resultado de anteriores aprendizagens e experiências.

Neste contexto, a aprendizagem é definida como uma nova rotina resultante do

processo “ensaio/erro” entre a empresa e a sua envolvente. No segundo, a

aprendizagem é vista como um processo interno e conduz a uma mudança

cognitiva. Nesta perspectiva, a aprendizagem decorre do processamento de

informação.

Dada a proximidade, em termos conceptuais, entre desempenho social e a teoria

da aprendizagem organizacional, Gond & Herrbach (2006) propõem o relato e

desempenho sociais como um processo de aprendizagem, recorrendo à concepção

feita por Wood (1991) sobre o modelo de desempenho social.

A ideia básica da RSE é a de que o negócio e a sociedade em geral, apesar dos

diferentes interesses, se misturam. Assim, a sociedade gera expectativas

relativamente ao comportamento e resultados das empresas e estas, por sua vez,

esperam obter daquela recursos e legitimação (Wood, 1991).


Conclusão

O presente trabalho de investigação permitiu estudar empiricamente a RSE em África,


mais precisamente em Angola, onde encontramos poucos estudos sobre o assunto.
Portanto, este trabalho exploratório apresenta um cunho inovador. O principal objetivo
desta dissertação foi analisar a implementação do conceito de RSE nas empresas de
Angola. Como ferramenta foi usado um questionário a uma amostra, por conveniência,
a empresas deste país. Com base no primeiro objetivo, é importante frisar, que em geral,
as empresas de Angola, mais precisamente da província de Luanda (nossa amostra),
implementam a RSE de forma ativa, através da existência de igualdade de
oportunidades para todos os empregados, da preocupação em melhorar a qualidade de
vida dos mesmos, estando a favor da contratação de pessoas em risco de exclusão social
e valorizando, deste modo, a contribuição de pessoas incapacitadas no mundo
empresarial. Comprometem-se ainda com criação de emprego e apresentam eficientes
mecanismos de diálogo com os empregados. Nesta senda, é evidente que a dimensão
social é muito valorizada, o que pode estar relacionado com o nível de desenvolvimento
e rendimento per capita deste país.

Quanto ao segundo objetivo, os principais fatores que contribuem para a melhoria


social, económica e ambiental nas empresas de Angola são: a consciência que as
empresas têm em planear os seus investimentos considerando a redução do impacto
ambiental; a consciência da importância de incorporar compras responsáveis preferindo
fornecedores responsáveis e ainda preocuparem-se em apresentar níveis de higiene e de
segurança no trabalho que vão além do mínimo exigido pela lei.

Após a análise empírica podemos concluir que a divulgação da informação sobre RSE
tem um efeito positivo sobre as dimensões económica, social e ambiental, fazendo desta
o indicador mais forte. Em contrapartida temos a dimensão ambiental como sendo a
mais fraca, depois de ter sido rejeitada uma associação positiva com o grau de inovação
e o sucesso competitivo. Considerando que Angola está a atravessar um momento mais
conturbado em termos económicos e financeiros, o que influência o desenvolvimento
presente e futuro do país, seria interessante num horizonte temporal alargado, de pelo
menos quatro anos, desenvolver-se o mesmo estudo descritivo com o objetivo de
analisar eventuais mudanças, citando, por exemplo, a atividade. Sendo assim, seria
possível estabelecer uma eventual analogia entre os fatores que integram o estudo atual
e os fatores que contextualizam o estudo posterior.

Em suma, a RSE em Angola é aplicada de forma positiva, tendo sido verificado, através
do nosso estudo, que as empresas estão comprometidas em melhorar a sua relação e
comprometimento com a comunidade envolvente, através das diferentes dimensões
económica, social e ambiental. A prova disso é que as empresas estão motivadas em
melhorar a qualidade de vida dos seus empregados, em proporcionar produtos e serviços
de alta qualidade aos seus clientes, estando ainda conscientes que devem planear os seus
investimentos considerando a redução do impacto ambiental.

Como limitações e sugestões para futuras investigações, apresentam-se algumas


considerações: a grande dificuldade foi registada aquando da recolha de dados, quer seja
presencial ou virtualmente. Verificou-se um certo receio e sentimento de negação
quanto ao preenchimento dos questionários, o que tornou o processo mais exaustivo e
demorado. Muitos questionários tiveram de ser anulados pois foram preenchidos sem
nenhuma responsabilidade, tendo sido verificadas situações depreciativas ao longo do
processo investigativo. É importante que o estudo em causa seja aprofundado visando
contribuir de forma positiva as relações interpessoais, a comunidade em que as
empresas se encontram inseridas, melhorando desta forma a qualidade de vida dos
habitantes, a forma como interagem com o meio ambiente, onde os cidadãos e
participantes da sociedade tenham conduta correta (ética), obedeçam às leis, sejam bons
cidadãos filantropicamente e sejam capazes de criar riqueza e, deste modo, contribuir
para o desenvolvimento sustentável. É exatamente neste sentido que a realização deste
trabalho de investigação deve ser entendida - como um ponto de partida e não de
chegada. Embora já se faça algum trabalho ao nível da RS em Angola, muito ainda se
encontra por fazer. É importante que as empresas investidoras e com estratégia de
internacionalização neste país, implementem boas práticas que valorizem quer o
ambiente interno onde operam, quer o ambiente externo, numa tentativa de
transformação da realidade por meio da ação prática.

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