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Introdução
Qualquer artigo que comece por dizer que “não é uma tarefa fácil…” quer evidenciar
os possíveis questionamentos surgidos das suas próprias conclusões, porquanto a ciência nos
permite questionar infinitamente os fundamentos da nossa certeza.
Ao lançarmos mãos a este debate, que pretende definir a natureza jurídica das
Cooperativas no ordenamento jurídico angolano face às classificações das pessoas colectivas
encontradas em diferentes diplomas legais e que nos remetem quase sempre a divisão entre
Sector Público e Sector Privado, procuramos fornecer as melhores respostas para a clarificação
da mesma, dada a importância que tem, não apenas teórica, mas prática.
É também um estudo que visa levantar um assunto que dada a importância não justifica
a carência bibliográfica que se encerra na nossa praça. É de todo essencial que se compreenda
o regime jurídico das pessoas colectivas quer sejam de natureza pública, privada e por
conseguinte cogitar a possibilidade de haver entre ou ao lado destas outras que possam com ela
harmonizar-se.
Adentramos também nas questões de natureza técnica e complementares que nos
permitem compreender os contornos do debate, as possíveis compreensões e diferentes
perspectivas, confronta-las para daí extrair a resposta às questões colocadas.
O Sector cooperativo tem amparo constitucional onde encontramos a raiz da questão,
dando assim sentido e legitimidade aos questionamentos sobre a natureza jurídica das entidades
que compõe este Sector.
A Lei 23/15 de 31 de Agosto Lei das Cooperativas estabelece o regime jurídico das
Cooperativas aqui objecto de estudo, que nos permite confrontar com o regime jurídico das
entidades pertencentes a outros sectores. Não é pacífica numa primeira vista, mas o trabalho
que enfrentamos remete-nos ao desafio de decifrar esta questão que tem dividido opiniões na
doutrina e jurisprudência.
A questão coloca-se quando o artigo 157.° do CC que prescreve as tradicionais pessoas
colectivas apresenta-nos a Sociedade, as Associações e as Fundações, não fazendo qualquer
referência às Cooperativas o que sugere questionar a sua natureza jurídica.
Por fim, concluir positivamente ou negativamente às questões colocadas pressupõe
assumir uma ou outra posição neste debate, por isso o que procura aqui é assumir uma postura
objectiva quanto aos factos comparando as características dos diferentes sectores e dos
diferentes regimes jurídicos das entidades nela existentes e a partir da conclusão aí tirada
responder de forma consistente, fundamentada e plausível.
CONCLUSÃO
A questão da definição da natureza jurídica das Cooperativas não é pacífica, pois a
doutrina encontra-se dividida quanto a sua classificação. Como referenciamos no início da
nossa abordagem alguns entendem que se trata de uma Sociedade, mesmo que especial, outros
entendem que se trata de uma Associação e outros não reconduzem a natureza jurídica das
Cooperativas a nenhuma das figuras admitindo assim a existência de uma pessoa colectiva
distinta das demais, que partilha ponto comuns com outras pessoas colectivas sim, mas que se
distingue quanto a natureza jurídica. Concordamos com esta última posição, pois, além dos
argumentos aqui adiantados a própria Constituição da República de Angola estabelece o
princípio da Coexistência entre os três sectores, demonstrando desde logo a intenção do
legislador angolano em dar a cada Sector pessoas colectivas com características próprias. Ora
admitindo que são as Cooperativas um tipo de pessoa colectiva distinta das outras sendo ela
mesma sem precisar de procurar similitude forçada dá margens para que se cogite e com razão
a divisão tradicional entre Direito Público e Direito Privado, incluindo assim um Sector
Cooperativo cuja regulação é feita através de um Direito Cooperativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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