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O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a

Stakeholders Theory
Aluno: Alexis Sales de Paula e Souza
Introdução. O instituto da função social da propriedade. A função social da
propriedade urbana e da propriedade rural. A função social da empresa. O Código Civil
e a função social da empresa. A posição da jurisprudência sobre a função social da
empresa. A função social da propriedade como gênero e a função social da empresa como
espécie. A Teoria das Partes Interessadas. A Teoria das Partes Interessadas e a sua relação
com a função social da empresa. Conclusão.

Introdução
A Constituição brasileira, ao definir a ordem econômica nacional, optou pelo
sistema econômico capitalista, ou seja, regido pelas forças de mercado (economia de
mercado), modelo no qual predominam a livre iniciativa e a propriedade privada dos
fatores de produção (recursos naturais, trabalho, capacidade empresarial, tecnologia e
capital).1 A ordem econômica é o conjunto de normas que define, institucionalmente, um
determinado modo de produção econômica (GRAU,2010).2 Assim, pode-se afirmar que
a Constituição definiu na ordem econômica a forma como o capitalismo de mercado será
exercido no Brasil.
O capitalismo é uma racionalização do homem e das instituições, ou seja, a essência
do sistema capitalista é a racionalização das regras de troca, incluindo, nesse sentido, a
troca da força de trabalho por salários (WEBER, 2004)3. Caracteriza-se pela exigência de
acumulação ilimitada do capital por meios formalmente pacíficos. Trata-se de repor
perpetuamente em jogo o capital no circuito econômico, com o objetivo de extrair lucro.
Em outras palavras, aumentar o capital para ser novamente reinvestido. Essa, é a principal
marca do capitalismo, “aquilo que lhe confere a dinâmica e a força de transformação
que fascinaram seus observadores, mesmo os mais hostis” (BOLTANSKI, 2009).4
Contudo, a ideia de acúmulo do capital não consiste apenas num amontoamento de
riquezas, ou seja, de objetos desejados por seu valor de uso, por sua função ostentatória
ou como signos de poder. As formas concretas da riqueza (imobiliária, bens de capital,
mercadorias, moeda etc.) não têm interesse em si e, por sua falta de liquidez, podem até
constituir obstáculo ao único objetivo que importa realmente: a transformação
permanente do capital, de equipamentos e aquisições diversas (matérias-primas,
componentes, serviços etc.) em produção, de produção em moeda e de moeda em novos
investimentos (BOLTANSKI, 2009).5
Em relação à propriedade privada, traço marcante do capitalismo, a Constituição
estatui de forma genérica que é garantida a propriedade como direito fundamental. A
Carta, todavia, ressalva que esta (propriedade) atenderá sua função social (art. 5º, XXII e
XXIII). Assim, o exercício dos direitos da propriedade privada na Constituição está
vinculado ao atendimento de uma função social. Daí vem a expressão função social da
propriedade.

 
1
Há uma outra espécie de capitalismo ao qual a doutrina econômica denomina de Capitalismo de Estado. Trata-se do envolvimento
direto do Estado no setor produtivo e de serviços concorrendo com a iniciativa privada ou substituindo-a. É uma tendência que pode
ser verificada tanto em países capitalistas, quanto em socialistas. O Estado atua por questões estratégicas, onde faltam recursos para
o investimento privado ou nos setores em que a taxa de lucro não é compensadora para as empresas privadas locais ou multinacionais.
2
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988. 14ª ed., rev. e ampl., São Paulo: Malheiros, 2010, pág. 70.
3
WEBER, Max. A Ética Protestante e o “Espírito do Capitalismo”. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pág. 135.
4
BOLTANSKI, Lue; CHIAPELLO, Eve. O novo espírito do capitalismo, trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes,
2009, pág. 35
5
BOLTANSKI, Lue; CHIAPELLO, Eve. Op. cit., pág. 35.
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
No Capítulo que trata dos princípios gerais da atividade econômica, a Constituição
afirma que a ordem econômica também é fundada, dentre outros, no princípio da função
social da propriedade (art. 170, III). Observa-se, portanto, que a Lei Maior estabeleceu
como gênero a função social de toda e qualquer propriedade e, como espécies, a função
social da propriedade urbana, a função social da propriedade rural e a função social da
propriedade na ordem econômica.
Essa vinculação da propriedade a sua função social é designada por alguns
doutrinadores de republicanismo post-New Deal. Representa uma República que respeita
os pressupostos liberais do direito de propriedade privada e da liberdade de iniciativa
econômica, mas que também assume a tarefa da regulação econômica orientada para a
prossecução do bem comum e para a solução de assimetrias sociais, em especial no
trabalho (CANOTILHO).6 Estabeleceu-se na Constituição a teoria das limitações
horizontais como fonte da vinculação propriedade + função social. O exercício do direito
de propriedade pressupõe uma reserva de amizade e de não prejudicialidade, não como
restrição do exercício deste direito, mas como limite dos pressupostos jurídicos e fáticos
do direito em si (CANOTILHO).7
No presente artigo vai-se detalhar a função social da propriedade e discuti-la como
gênero, dos quais são espécies a função social da propriedade urbana, a função social da
propriedade rural e a função social da empresa e dos contratos. Especificamente em
relação à função social da empresa, o artigo discute também a sua aproximação com a
Teoria das Partes Interessadas (Stakeholders Theory) e como esta serve de complemento
para dar concretude àquela.

O instituto da função social da propriedade


Com fundamento no princípio da solidariedade, vários sistemas jurídicos
contemporâneos consagram o dever fundamental de se dar à propriedade privada uma
função social (COMPARATO, 2015). Já o princípio da solidariedade se prende à ideia de
responsabilidade de todos pelas carências ou necessidades de qualquer indivíduo ou
grupo social. O fundamento ético desse princípio encontra-se na ideia de justiça
distributiva, entendida como a necessária compensação de bens e vantagens entre as
classes sociais, com a socialização dos riscos normais da existência humana
(COMPARATO, 2015).8
Para vários doutrinadores, a origem constitucional da função social da propriedade
encontra-se na Constituição Weimar9 a qual organizou as bases da democracia social ao
dispor sobre a educação pública e o direito trabalhista. Na seção sobre a vida econômica,
a Constituição Weimar tratou da função social da propriedade com uma fórmula que a
tornou célebre: a propriedade obriga (COMPARATO, 2015).10

 
6
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional, e teoria da constituição, 7ª ed., 11ª reimp., Coimbra: Almedina, pág. 227.
7
CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit., pág. 1281.
8
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2015, pág. 79.
9
De maneira inovadora, a Constituição alemã de 1919 (Constituição de Weimar) veio na “tentativa de estabelecer uma democracia
social, abrangendo dispositivos sobre a ordem econômica e social, família, educação e cultura, bem como instituindo a função social
da propriedade. As concepções sociais ou socializantes, assim como a determinação de princípios constitucionais para a intervenção
estatal nos domínios sociais e econômicos, são, então, consideradas fundamentos do ‘novo constitucionalismo social’” que veio a
influenciar nossas constituições a partir da de 1934 e, inclusive, a de 1988, e também vários Estados europeus e alguns americanos.
(STEFANO, Isa Gabriela de Almeida et al. Estudos de Direito Constitucional Comparado, Coord. Maria Garcia e José Roberto
Neves Amorim, Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, pág. 443)
10
COMPARATO, Fábio Konder. Op. cit., pág. 207.


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
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Então, a partir da Constituição Weimar, há o progressivo reconhecimento de uma
ordem econômica e social com implicações para a questão da propriedade e que isto
construiu uma nova etapa frente ao superado “laisser faire, laisser passer”11. A doutrina
da função social da propriedade corresponde a uma alteração conceitual da utilização da
propriedade, uma parcela do regime tradicional. Por isso, a função social altera alguns
aspectos pertinentes ao seu exercício, relação externa do uso da propriedade. Em outras
palavras, o modo como são exercitadas as faculdades ou os poderes inerentes ao direito
da propriedade. O pressuposto de confiança recíproca e boa-fé, que se integra no moderno
conceito de obrigação, encontra correspondência na função social do direito de
propriedade, no sentido de consideração à solidariedade social, compreendendo os
direitos proprietário e os deveres que são legalmente impostos ao proprietário (FACHIN,
1988).12
Assim, o conceito de propriedade sofreu profunda alteração no século passado. A
propriedade privada tradicional perdeu muito do seu significado como elemento
fundamental destinado a assegurar a subsistência individual e o poder de
autodeterminação como fator básico da ordem social. A base da subsistência e do poder
de autodeterminação do homem moderno não é mais a propriedade privada em sentido
tradicional, mas o próprio trabalho e o sistema previdenciário e assistencial instituído e
gerido pelo Estado. Essa evolução fez com que o conceito constitucional de direito de
propriedade se desvinculasse, pouco a pouco, do conteúdo eminentemente civilístico de
que era dotado. A garantia do direito de propriedade passou a abranger não só a
propriedade sobre bens móveis ou imóveis, mas também os demais valores patrimoniais,
incluídas aqui as diversas situações de índole patrimonial, decorrentes de relações de
direito privado ou não (MENDES, 2012).13
Essa mudança da função da propriedade foi fundamental para o abandono da ideia
da necessária identificação entre o conceito civilístico e o conceito constitucional de
propriedade. O essencial para a definição e qualificação da propriedade passa a ser a
"utilidade privada" do direito patrimonial para o indivíduo, isto é, a relação deste direito
patrimonial com o titular. Vê-se, assim, que o conceito constitucional de proteção ao
direito de propriedade transcende à concepção privatística estrita, abarcando outros
valores de índole patrimonial, como as pretensões salariais e as participações societárias.
Essa orientação permite que se confira proteção constitucional não só à propriedade
privada em sentido estrito, mas, fundamentalmente, às demais relações de índole
patrimonial (hipotecas, penhores, depósitos bancários, pretensões salariais, ações,
participações societárias, direitos de patente e de marcas etc) (MENDES, 2012).14
O conceito constitucional de propriedade é, portanto, mais amplo do que aquele do
direito privado. Tornou necessário estender a mesma proteção, que, no início, só se
conferia à relação do homem com as coisas, à titularidade da exploração de inventos e
criações artísticas de obras literárias e até mesmo a direitos em geral que hoje não o são

 
11
A expressão significa "deixai fazer, deixai passar" simboliza a ideia do liberalismo econômico puro. Implica na ideia de que o
mercado deve funcionar livremente, limitando-se o Estado a proteger os direitos de propriedade.
12
FACHIN, Luiz Edson. A função social da posse e a propriedade contemporânea (uma perspectiva da usucapião imobiliária
rural), Porto Alegre: Fabris, 1988, pág. 17/18.
13
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direito constitucional. 4ª ed.,
rev. e amp., São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 141/142.
14
MENDES, Gilmar Ferreira. Op. cit., 2012, pág. 141/143.


 
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à medida que haja uma devida indenização de sua expressão econômica
(BASTOS,1989).15
Inexiste um conceito constitucional ou infralegal fixo, estático, que conceitue
propriedade, vez que o conteúdo deste direito vem sendo alterado hodiernamente pela
evolução tecnológica. Logo, o conceito de propriedade é dinâmico, o que torna necessário
reconhecer que a garantia constitucional da propriedade está submetida a um intenso
processo de relativização (MENDES, 2012).16
A evolução do Estado Liberal para o Estado Social de Direito foi marcada pela
efetivação da responsabilidade da sociedade pela existência social, econômica e moral
dos seus membros, sem prejuízo da autonomia do direito e o respeito pelos direitos dos
particulares. Na limitação do conteúdo dos direitos subjetivos dos indivíduos manifesta-
se o núcleo do princípio do Estado social: a responsabilização não apenas da sociedade,
mas também do próprio indivíduo pela existência social e pelo bem-estar dos outros. São
três características essenciais dessa mudança: 1) a relativização dos direitos privados pela
sua função social; 2) a vinculação ético-social destes direitos; 3) o recuo perante o
formalismo do sistema do direito privado clássico do século XIX (WIEACKER).17
A função social da propriedade constitucionalmente prevista condiciona-a como
um todo, não apenas seu exercício, e transforma a propriedade privada, sem socializá-la.
A função social da propriedade não se confunde com os sistemas administrativos de
limitação da propriedade (desapropriação, servidão administrativa, requisição), pois estes
dizem respeito ao exercício do direito pelo proprietário, enquanto aquela (função social)
à estrutura do direito à propriedade. Isso possibilita ao legislador regular os modos de
aquisição da propriedade em geral ou de certos tipos, seu uso, gozo e disposição. Constitui
o fundamento do regime jurídico da propriedade, não de limitações, obrigações e ônus
que podem apoiar-se – e sempre se apoiaram – em outros títulos de intervenção, como a
ordem pública ou a atividade de polícia (SILVA, 2014).18
Ao inscrevê-lo no art. 5°, XXII, a Constituição conferiu ao direito de propriedade
legalmente constituído e exercido o status de direito fundamental. Em outras palavras, a
Carta prevê que o direito de propriedade não é absoluto e que o atendimento à sua função
social lhe é inerente e integra o próprio direito em si. Logo, a função social incide sobre
a estrutura e o conteúdo da propriedade, sobre a própria configuração do direito e constitui
o elemento que qualifica sua situação jurídica.
Conforme o Código Civil (art. 1.228), o proprietário tem a faculdade de gozar ou
fruir da coisa; reaver ou buscar a coisa de quem o injustamente possua ou detenha; usar
ou utilizar a coisa; e dispor ou alienar a coisa. De acordo com o Código Civil (art.
1.196), possui a propriedade plena a pessoa que detém os quatro atributos. Se não possui
todos os atributos é considerada apenas possuidora. Logo, todo proprietário é possuidor,
mas nem todo possuidor é proprietário. Justamente por incidir apenas sobre o atributo
de usar ou utilizar a coisa, a função social da propriedade é exigível do proprietário
(função social da propriedade) ou do mero possuidor da coisa (função social da posse).

 
15
BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil, vol. 2, São Paulo: Saraiva, 1989, pág.
118/119.
16
MENDES, Gilmar Ferreira. Op. cit., 2012, pág. 157/158.
17
WIEACKER, Franz. História do Direito Privado moderno, trad. A. M. Hespanha, 2ª. ed., rev., Lisboa: Fundação Calouste
Gulbekian, 1993, pág. 623-624
18
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 37ª ed., rev. e atual. até a Emenda Constitucional nº 76, de
28.11.2013, São Paulo: Malheiros, 2014, pág. 284/285.


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
Destaque-se que o conceito de propriedade e de patrimônio não se confundem.
Patrimônio é a soma dos valores patrimoniais ou dinheiro reunido por uma pessoa. Muito
embora tenha havido uma ampliação do conceito de propriedade para os fins de proteção
constitucional, este não se confunde com o próprio patrimônio da pessoa. O que a
constituição considera direito fundamental constitucionalmente protegido é a propriedade
e não a inteireza do patrimônio havido pela pessoa. O patrimônio, enquanto tal, não está
submetido à proteção do direito de propriedade, a doutrina e a jurisprudência reconhecem
que as leis tributárias não podem ser dotadas de efeito confiscatório, atribuindo-se à
proteção do direito de propriedade qualidade de parâmetro de controle em relação às
exações tributárias (MENDES, 2012).19
Por se tratar de norma de direito fundamental, na dicção do art. 5º, §1º, da
Constituição, a função social da propriedade tem aplicação imediata, preferencial e
condiciona a validade e o sentido de todos os atos normativos infraconstitucionais
decorrentes. Além disso, o fato de ser um direito fundamental retira da propriedade sua
característica de ser regida unicamente por normas de direito privado. Assim, a
propriedade passa a ser dirigida por normas de direito público, vez tratar-se de uma
instituição submetida ao conjunto de normas jurídicas que disciplinam o desempenho de
atividades e de instituições de interesse coletivo, vinculadas direta ou indiretamente à
realização dos direitos fundamentais, e pela vinculação à satisfação de determinados fins.
O princípio da função social da propriedade é de aplicabilidade imediata, possuindo plena
eficácia e a disciplina constitucional interfere na estrutura e no conceito da propriedade e
a transforma numa instituição de direito público (SILVA, 2014)20 (NOVELINO, 2013)21.
Reforçando o caráter de direito público do regime da propriedade, o direito
contemporâneo alterou a experiência do direito privado em matéria de direito de
propriedade. Antes, o proprietário não tinha deveres positivos (contratar ou cumprir
prestações em favor de outrem, como sucede com os devedores numa relação
obrigacional). Todavia, a partir do instituto da função social, a posição passiva do direito
de propriedade, exercitável erga omnes (perante todos), concretizável quando há um dano
provocado à coisa, por um ato comissivo de outrem, deu lugar a deveres positivos do
proprietário de certos bens, em relação a outros sujeitos determinados, ou perante a
comunidade social como um todo (COMPARATO, 2015).22 Logo, a expressão “função
social” significa um poder-dever, ou um dever-poder, que traz ao direito privado o
condicionamento do exercício do poder de proprietário a uma finalidade, algo que até
então era tido como exclusivo do direito público (GRAU, 2010).23
Está claro que a função social se manifesta na própria configuração estrutural do
direito de propriedade, pondo-se concretamente como elemento qualificante na
predeterminação dos modos de aquisição, gozo e utilização dos bens. em face do princípio
da função social, o proprietário é obrigado constitucionalmente a observar o papel
produtivo de sua propriedade. Assim, a imposição do cumprimento da função social
introduziu uma nota na propriedade que pode não coincidir com o interesse de seu
proprietário (TAVARES, 2020)24. Esse interesse, que pode ser estranho ao proprietário,
constitui um princípio ordenador da propriedade privada e fundamenta a atribuição deste
 
19
MENDES, Gilmar Ferreira. Op. cit., pág. 144.
20
SILVA, José Afonso da. Op. cit., pág. 285.
21
NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. 8ª ed. rev. e atual., Rio de Janeiro: Forense, 2013, pág. 463.
22
COMPARATO, Fábio Konder. Op. cit., pág. 368/369
23
GRAU, Eros Roberto. Op. cit., pág. 245
24
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 18ª ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2020, pág. 717.


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
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direito, seu reconhecimento e sua garantia, incidindo sobre seu próprio conteúdo (SILVA,
2014)25. Trata-se de fundamento para o reconhecimento e garantia do direito de
propriedade em sua plenitude. São exigíveis, dentro do conceito de função social, todas
as condições que decorram de um interesse social (TAVARES, 2020)26.
Consequentemente, a função social da propriedade é um elemento qualificante da
situação jurídica, que se manifesta, conforme as hipóteses, seja como condição de
exercício de faculdades atribuídas, seja como obrigação de exercitar determinadas
faculdades de acordo com modalidades preestabelecidas (SILVA, 2014)27.
Em razão do mandamento constitucional, não pode ser juridicamente considerado
proprietário aquele que não der ao bem uma destinação compatível e harmoniosa com o
interesse público. Logo, trata-se de mais do que o estabelecimento de limitação ao
exercício do bem. Fixam-se condutas que podem, até mesmo, colidir com os interesses
do proprietário, mas que, se não atendidas, desnaturam a sua própria condição.
Isso ocorre porque a Constituição retira a noção individualista de propriedade típica
do século XVIII. A função social da propriedade não significa a negação ou abolição do
direito de propriedade em si, antes afirma-a como algo maior que a esfera privada do seu
sujeito titular, pois a propriedade deve oferecer uma maior utilidade à coletividade. A
função social da propriedade é elemento integrador do conceito de propriedade como seu
objeto constitutivo, não se confundindo com os elementos limitadores do direito de
propriedade, taus como restrições, servidões e a desapropriação (FERNANDES, 2020).28
O reconhecimento do direito de propriedade – e da necessidade de atendimento à
sua função social – como direito fundamental garante que este instituto não possa ser
objeto de emenda constitucional tendente a aboli-lo (art. 60, §4º). Além disso, exige que
toda e qualquer intervenção ao direito de propriedade deve ser processada nos termos do
devido processo legal e obedecer ao princípio da proporcionalidade e da razoabilidade. A
aplicação desse princípio fundamental deve impor direitos e responsabilidades ao
proprietário, de forma justa e legal. Assim, com base na função social da propriedade,
não se pode causar ao proprietário qualquer espécie de dano injustificado e ilegal. O
princípio da função social da propriedade precisa ser empregado de forma cuidadosa,
equilibrada, evoluída e moderna (FERREIRA, 2018).29
Por ser um direito fundamental, a função social da propriedade é inalienável e
intransferível. Logo, seu titular não pode se despojar dela (função social) por não
corresponder a um bem disponível. Isso significa que o proprietário não pode adotar ações
que torne o exercício da função social de sua propriedade impossível, física ou
juridicamente, de ser exercitada (NUNES JÚNIOR, 2019).30
Ao examinar a ADI 2.213, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o
direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave
hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art.
5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados,

 
25
SILVA, José Afonso da. Op. cit., pág. 286.
26
TAVARES, André Ramos. Op. cit., pág. 717.
27
SILVA, José Afonso da. Op. cit., pág. 286.
28
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12ª ed., Salvador: JusPodivm, 2020, pág. 567.
29
FERREIRA, Roberto. Constituição Federal interpretada: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, Costa Machado,
Organizador; Alma Candida da Cunha Ferraz, Coordenadora. 9ª. ed., Barueri, SP: Manole, 2018, pág. 920/921.
30
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3ª ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 880.


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
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contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria
Constituição da República.31

A função social da propriedade urbana e da propriedade rural


No caso da propriedade rural e da propriedade urbana a própria Constituição
densificou o princípio da função social estabeleceu de forma clara os requisitos para o seu
atendimento.
A função social da propriedade rural, conforme o art. 186 da Carta, é cumprida
quando esta atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos requisitos de: I - aproveitamento racional e adequado; II -
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; e IV - exploração
que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Já a função social da propriedade urbana, na dicção do art. 182 da Constituição c/c
art. 22, §2º, da Lei nº 10.257, de 2001 (Estatuto das Cidades), é atendida quando
cumpridas as exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano
diretor, instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

A função social da empresa


Conforme observou-se anteriormente, a Constituição garante o direito de
propriedade (característica marcante do capitalismo), desde que atendida sua função
social. Em outras palavras, estabeleceu-se, constitucionalmente, a funcionalização do
instituto da propriedade. A funcionalização dos institutos de direito civil à realização de
valores sociais tem origem na segunda metade do século XIX. Naquela época, a doutrina
já pregava o reconhecimento de uma “função social” como modo de substituir ou
temperar os contornos individualistas do direito subjetivo, em especial o da propriedade.
A partir daí, a doutrina civilista passou a distinguir a estrutura (como funciona) e a função
(para que serve) dos institutos jurídicos, reconhecendo neste último aspecto (função) a
verdadeira justificativa da proteção pelo ordenamento (SCHREIBER, 2016).32
A Constituição estabeleceu a função social da propriedade dos meios de produção
como instituição da ordem econômica e das consequentes relações econômicas dela
oriunda (art. 170, II e III). Isso, modificou a sua natureza e relativizou seu conceito e
significado, pois os princípios da ordem econômica são preordenados à vista da realização
de seu fim: assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social
(SILVA, 2014).33
Diferentemente do que ocorreu com a propriedade urbana e a rural, a Constituição
não definiu objetivamente os critérios de atendimento da função social da propriedade na
ordem econômica. Em razão desse fato, a função social da propriedade tornou-se para a
ordem econômica um conceito jurídico indeterminado, de sentido fluido, destinado a lidar
com situações nas quais o legislador não pôde ou não quis, no relato abstrato do enunciado
 
31
ADI 2.213 MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 4/4/2002, DJ de 23/4/2004. No mesmo sentido: MS 25.284, Rel. Min. Marco Aurélio,
j. 17/6/2010, DJE de 13/8/2010.
32
SCHREIBER, Anderson. Direito civil constitucional, Aline de Miranda Valverde Terra et al, coord. Anderson Schreiber e Carlos
Nelson Konder. 1ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, pág. 19.
33
SILVA, José Afonso da. Op. cit., pág. 824.


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
normativo, especificar de forma detalhada suas hipóteses de incidência ou exaurir o
comando a ser dele extraído (BARROSO, 2013).34 Isso abre para o legislador e para o
intérprete um espaço considerável, mas não ilimitado ou arbitrário, de valoração
subjetiva, o que permite adaptar o comando constitucional a cada situação específica.
A função social da empresa, da mesma forma que ocorre com a do contrato, não é
expressamente regulamentada no texto constitucional. Contudo, por estar a empresa
inserida no princípio maior da livre iniciativa, este previsto no art. 170 da Constituição, a
sua função social ganha status constitucional e encontra sua expressão e contornos neste
preceito (SANTOS, 2016).35
Portanto, o princípio da função social da empresa é uma decorrência necessária do
princípio da função social da propriedade e ambos têm a mesma hierarquia constitucional.
Deste modo, a lei não pode suprimir ou limitar a função social da empresa. Alguns
doutrinadores entendem que a lei deveria prescrever, de modo expresso, que a empresa
cumpre sua função social quando contribui para o desenvolvimento econômico, local,
regional, nacional ou global, mediante exploração de sua atividade, feita com rigorosa
observância dos direitos dos trabalhadores e consumidores, bem como das normas de
direito ambiental e tributário (COELHO, 2020)36.
Na ordem econômica o princípio da função social da propriedade se realiza sobre a
propriedade dos bens de produção, na disciplina jurídica da propriedade de tais bens,
implementada sob compromisso com a sua destinação. Isso porque, no capitalismo, os
bens de produção (capital) são postos em dinamismo, em regime de empresa, como
função social da empresa. Assim, essa função social da empresa é um poder-dever não só
do proprietário, mas, também, do controlador, porque numa empresa estas figuras nem
sempre se confundem (GRAU, 2010).37 É o caso, por exemplo, do controlador de uma
empresa que aluga os bens de produção pertencentes a outra pessoa natural ou jurídica
(proprietário). O controlador está obrigado a observar a função social da posse do
patrimônio (bens).
O art. 170, III, da Constituição, ao ter a função social da propriedade como um dos
princípios da ordem econômica, reforça a tese de que a norma principiológica do art. 5º,
XXIII, da Carta significa que todo e qualquer tipo de propriedade deverá atender à sua
função social. A principal importância disso está na sua compreensão como um dos
instrumentos destinados à realização da existência digna de todos e da justiça social.
Assim, correlacionando essa compreensão com a valorização do trabalho humano (art.
170, caput), a defesa do consumidor (art. 170, V), a defesa do meio ambiente (art. 170,
VI), a redução das desigualdades regionais e sociais (art. 170, VII) e a busca do pleno
emprego (art. 1º, VIII), tem-se configurada a sua direta implicação com a propriedade dos
bens de produção, especialmente imputada à empresa pela qual se realiza e efetiva o poder
econômico, o poder de dominação empresarial. Disso decorre que tanto vale falar de
função social da propriedade dos bens de capital, como de função social da empresa,
como de função social do poder econômico (SILVA, 2014)38.

 
34
BARROSO, Luís Roberto (2013). Op. cit., pág. 401.
35
SANTOS, Deborah Pereira Pinto dos; MENDES, Eduardo Heitor. Direito civil constitucional, Aline de Miranda Valverde Terra
et al, coord. Anderson Schreiber e Carlos Nelson Konder. 1ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, pág. 98.
36
COELHO, Fábio Ulhoa. Novo manual de direito comercial: direito de empresa. 31ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Thomson
Reuters, 2020, págs. 16/17.
37
GRAU, Eros Roberto. Op. cit., pág. 242.
38
SILVA, José Afonso da. Op. cit., pág. 826


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
No Capítulo dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, a Constituição atrelou
a atividade econômica à função de servir como instrumento de valores de cunho
existencial: a função social da propriedade; a defesa do consumidor; a defesa do meio
ambiente; a busca do pleno emprego; e a redução das desigualdades sociais e regionais.
A partir dessa previsão, a função social se espraiou para a empresa, para o contrato e para
outros institutos de direito civil (SCHREIBER, 2016).39
A função social da propriedade prevista no art. 170 é um princípio que se confunde
com intenção. Apesar de o texto constitucional ter consagrado uma economia
descentralizada e de mercado, autorizou o Estado a intervir no domínio econômico com
a finalidade de exercer as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sempre de
caráter normativo e regulador (MORAES, 2017) 40.
A interpretação dos arts. 1º, IV, 5º, XXII e XIII, e 170, caput, III, IV e VIII, deve,
portanto, ser sistêmica pois, no campo econômico, a Constituição não adotou um modelo
de Estado liberal, mas um modelo de Estado regulador/intervencionista (RAMOS,
2018).41 Consequentemente, esses dispositivos se articulam e se complementam,
formulando princípios gerais econômicos e financeiros da tutela do mercado e da própria
atividade econômica.
Logo, a função social da empresa assume para o empresário42 (proprietário) o papel
de um princípio geral que condiciona sua autonomia. escreve que os atos e as atividades
da empresa, para terem reconhecimento jurídico, devem ter uma finalidade positiva e ser
avaliáveis como conformes à razão (função) pela qual o direito de propriedade foi
garantido e reconhecido. A atividade de gozo e de disposição do empresário (proprietário)
não pode ser exercida em contraste com a utilidade social ou de modo a provocar danos
à segurança, à liberdade e à dignidade humana (PERLINGIER, 2002).43 Trata-se da
passagem de uma ética individualista para uma ética solidarista.
Quando se fala em função social da empresa faz-se referência à atividade
empresarial em si, que decorre do uso dos chamados bens de produção pelos
empresários. Como a propriedade (ou o poder de controle) desses bens está sujeita ao
cumprimento de uma função social, nos termos do art. 5º, XXIII, da Constituição, o
exercício da empresa (atividade econômica organizada) também deve cumprir uma
função social específica (RAMOS, 2020).44
É preciso destacar que o princípio da função social da empresa não foi instituído
pela Constituição de 1988. Já constava do art. 157, III, da Constituição de 1967, o qual
previa que a ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base, dentre
outros, no princípio da função social da propriedade.45

 
39
SCHREIBER, Anderson. Op. cit., pág. 19.
40
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33ª ed. rev. e atual. até a EC nº 95, de 15 de dezembro de 2016, São Paulo: Atlas,
2017, págs. 599/600.
41
RAMOS, André Santa Cruz. Constituição Federal Comentada/Alexandre de Moraes; et al. 1ª. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018,
pág. 754.
42
Segundo o Código Civil, art. 966, considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para
a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Não é empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária
ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
43
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil: Introdução ao direito civil constitucional, trad. Maria Cristina De Cicco. 3ª ed.,
rev. e ampl., Rio de Janeiro: Renovar, 2002, pág. 216/228.
44
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 10ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2020, pág. 104.
45
Constituição de 1967: art. 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos seguintes princípios: I
- liberdade de iniciativa; II - valorização do trabalho como condição da dignidade humana; III - função social da propriedade; IV -


 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
Dando concretude ao disposto na Constituição de 1967, a Lei nº 6.404, de 1976 (Lei
das S/A), arts. 116, parágrafo único, e 154, previu que a empresa tinha a obrigação de
observar a sua função social. O art. 154 prevê que o administrador da empresa deve
exercer suas atribuições para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as
exigências do bem público e da função social da empresa. Já o art. 116, parágrafo único,
estabelece que o interesse social da empresa compreende o daqueles que trabalham na
sociedade, da comunidade em geral e o interesse nacional. Já em 1976 a Lei das S/A
constituiu a mais moderna expressão da doutrina institucionalista (TOMAZETTE,
2017).46
A propriedade privada, garantida constitucionalmente, não mais poderá ser
considerada como um direito exclusivamente individual. Seu conceito e significado
foram relativizados, pois os princípios da ordem econômica são preordenados à vista da
realização de seu fim: assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da
justiça social (FACCHINI NETO, 2018).47
É insuficiente para atendimento da função social da empresa a simples imposição
de deveres negativos, consistentes, em termos gerais, na vedação à provocação de
prejuízos a terceiros. O princípio da função social da empresa, para ser eficazmente
cumprido, exige condutas positivas e um comportamento pautado pela prevenção de
danos, e não pela simples responsabilização (GAMA e BARTHOLO).48
A função social da empresa não pode ser confundida com a responsabilidade social
da empresa, pois são coisas distintas e com fundamentações absolutamente diferentes. A
função social da empresa é mandamento constitucional. Para ser cumprido não é
necessário que a empresa gere novos postos de trabalho, nem mesmo que, vindo a
atravessar dificuldades, mantenha os que tiver gerado. Também não se exige que a
empresa ajude a comunidade vizinha aos seus estabelecimentos empresariais ou promova
ações culturais ou educacionais (COELHO, 2020).49
Já a responsabilidade social da empresa, conforme o SEBRAE, compreende ações
e posturas voluntariamente desenvolvidas que buscam promover o bem-estar dos seus
públicos interno e externo. São práticas voluntárias e não se confundem com ações
compulsórias impostas pela Lei ou por quaisquer incentivos externos, como, por exemplo,
os incentivos fiscais.50
É preciso compreender que quando se fala em função social da empresa, por se
tratar da propriedade (patrimônio) na ordem econômica, estamos falando dos bens de

 
harmonia e solidariedade entre os fatores de produção; V - desenvolvimento econômico; VI - repressão ao abuso do poder econômico,
caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros.
46
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1. 8ª. ed. rev. e atual, São Paulo:
Atlas, 2017, pág. 517.
47
FACCHINI NETO, Eugênio. Comentários à Constituição do Brasil, J. J. Gomes Canotilho et al.; outros autores e coordenadores
Ingo Wolfgang Sarlet, Lenio Luiz Streck, Gilmar Ferreira Mendes. 2ª ed., São Paulo: Saraiva Educação, Série IDP, 2018, pág.
3342/3343.
48
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; BARTHOLO, Bruno de Paiva. IV Jornada de Direito Civil, org. Ministro Ruy Rosado
de Aguiar Jr., Brasília: CJF, 2007, pág. 286/287.
49
COELHO, Fábio Ulhoa. Novo manual de direito comercial: direito de empresa. 31ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Thomson
Reuters, 2020, pág. 16/17.
50
Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/5-dicas-para-implementar-a-responsabilidade-social-na-
sua-empresa,4b5819c6fc0c0710VgnVCM1000004c00210aRCRD

10 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
capital51, dos bens intermediários52, dos bens de consumo53 (produto oriundo dos bens de
capital e dos bens intermediários) e dos contratos que são celebrados na atividade
econômica.
A função social da empresa desloca a titularidade da propriedade do âmbito estrito
dos direitos subjetivos para o direito-função ou poder-dever. Em uma economia de massa,
os interesses a serem tutelados são superiores ou alheios e vão além do direito subjetivo
privado e da função de produção e circulação de bens e serviços da empresa. Com isso, a
empresa ultrapassa a antiga noção de mera organização produtiva, pois seus deveres para
com a sociedade autorizam a conferir-lhe uma função social consequentemente com a
ideia natural de bem público (BRASILINO, 2020).54 Quando se utiliza a expressão
“função social da empresa”, o termo “empresa”, sob o ponto de vista jurídico, deve ser
encarado como empresa-instituição-organização que surge do inter-relacionamento entre
empresa-empresário (sujeito), empresa-estabelecimento (objeto) e empresa-atividade
(fato jurídico) e a expressão “função social” diz respeito aos compromissos e obrigações
para com os empregados, os consumidores e a comunidade como um todo (BRASILINO,
2020).55
A submissão da atividade da empresa (propriedade) privada ao cumprimento de
uma função social não afeta o cálculo econômico racional56 e nem interfere na alocação
eficiente dos recursos. A função social da empresa refere-se à atividade empresarial em
si e decorre do uso dos bens de produção pelos empresários.
O conceito jurídico de poder-dever implica que o poder dado ao titular de um direito
é um instrumento para que se cumpra o dever decorrente daquela titularidade. E, portanto,
passa-se a exigir dele, titular do direito, não apenas uma abstenção, mas uma ação, da
qual, supostamente, advirão benefícios gerais, por exemplo construindo um edifício ou
plantando em terrenos até então ociosos (NUSDEO, 2005)57.

 
51
Os bens de capital são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo. É o caso,
por exemplo, de máquinas, equipamentos e instalações. São usualmente classificados no ativo fixo das empresas, e uma de suas
características é contribuir para a melhoria da produtividade da mão-de-obra. Exemplo: máquinas e equipamentos.
52
Os bens intermediários são transformados ou agregados na produção de outros bens e são consumidos totalmente no processo
produtivo (insumos, matérias-primas e componentes). Diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou utilização
final.
53
Os bens de consumo destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo com a durabilidade, podem ser
classificados como duráveis (por exemplo: geladeiras, fogões, automóveis) ou como não duráveis (alimentos, produtos de limpeza).
54
BRASILINO, Fábio. Bem jurídico empresarial: função social, preservação da empresa e proteção ao patrimônio mínimo
empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 2020, pág. 151/154.
55
BRASILINO, Fábio. Op. cit., págs. 160 e 195.
56
Segundo Ludwig von Mises, sem o cálculo econômico não pode existir uma economia, pois é ele que permite a alocação de recursos
em aplicações produtivas. Em uma economia de trocas voluntárias, “a unidade comum de cálculo econômico é representada pelo
valor objetivo de troca das mercadorias. Isso gera uma vantagem tripla. Em primeiro lugar, passa a ser possível basear o cálculo
econômico de acordo com as valorações de todos os participantes da troca. O valor subjetivo que um dado bem tem para uma pessoa
é um fenômeno puramente individual e, portanto, não pode ser imediatamente comparado ao valor subjetivo que esse mesmo bem
tem para as outras pessoas. Isso só se torna possível quando se utiliza valores de troca, os quais surgem naturalmente da interação
das valorações subjetivas de todos os indivíduos que participam da troca. Nesse caso, o cálculo baseado nos valores de troca fornece
um controle sobre o método mais apropriado de se empregar os bens. Qualquer um que deseje fazer cálculos relacionados a algum
complicado processo de produção irá imediatamente perceber se ele está agindo de maneira mais econômica que os concorrentes ou
não; se ele descobrir — por meio das relações de troca predominantes no mercado — que não será capaz de produzir lucrativamente,
isso significa que outros estão sabendo melhor como fazer um uso mais adequado desses bens de ordem alta. Por último, utilizar os
valores de troca para se fazer cálculos econômicos é o que possibilita avaliar os bens de acordo com uma unidade de conta definida.
E para esse propósito — dado que os bens são mutuamente substituíveis de acordo com as relações de troca predominantes no
mercado —, qualquer bem existente pode ser escolhido. Em uma economia monetária, esse bem escolhido é o dinheiro.” (MISES,
Ludwig von. O cálculo econômico sob o socialismo, ed. Instituto Ludwig von Mises Brasil, pág. 17)
57
NUSDEO, Fábio. Curso de Economia – Introdução ao Direito Econômico. 4ª ed., São Paulo: Ed. RT, 2005, pág. 210.

11 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
A O Código Civil e a função social da empresa
A livre iniciativa e o direito à propriedade são traços marcantes das sociedades
capitalistas. Na ordem econômica ditada pelo art. 170 da Constituição e pelo Código Civil
(arts. 187, 421, 1.228 e 2.035) esses institutos estão condicionados e devem ser exercidos
em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais. A livre iniciativa tem como
função social a de propiciar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça
social. Já a função social da propriedade permite ao proprietário praticar qualquer ato que
lhe traga comodidade ou utilidade, mas o impede prática de atos com o dolo de causar
externalidades negativas para prejudicar outrem ou a comunidade onde está radicado
(Código Civil, art. 1.228, §2º).
O Código Civil (art. 421) estendeu acertadamente a função social da empresa
também aos contratos. Não haveria sentido à Constituição atribuir função social à
propriedade empresarial e não o fazer em relação ao meio dinâmico de aquisição desta
propriedade e ao meio de circulação das riquezas, qual seja, o contrato. Assim, qualquer
atividade econômica a ser desenvolvida, inclusive a contratual, deve ter como propósito
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, nos termos do
art. 170, caput, da Constituição (CUNHA, 2005).58
A função social do contrato, disposta no Código Civil (art. 421), não afasta a
autonomia privada, mas com ela se compatibiliza. A inclusão da função social do contrato
na disciplina da ordem econômica da Constituição está presente de forma implícita, como
uma exigência lógica, e de forma explícita por previsão do Código Civil. Aplica-se às
empresas porque é nelas e na sua atividade econômica que se reconhece a natureza
jurídica eminentemente contratual. O principal corolário que se extrai do princípio da
função social dos contratos é a prevalência dos interesses sociais eventualmente
envolvidos no contrato sobre os interesses individuais nele regulados.
A atribuição de uma função social ao contrato condiciona o direito subjetivo à
liberdade contratual à respectiva função da avença. Albergada como pressuposto de
legitimidade da própria atividade empresarial, a função social da empresa possui relação
direta com a incontestável função social exercida por outros dois institutos, quais sejam:
a propriedade (Constituição, arts. 5º, inc. XXIII, e 170, inc. III), particularmente no que
tange aos bens de capital necessários à prática empresarial; e o contrato, tendo em vista a
natureza contratual inerente à maioria das sociedades empresárias, que respondem pela
esmagadora parte dos empreendimentos empresariais, e a presença desse instrumento
negocial na maior parte das atividades exercidas pelos empresários. Destarte, a efetiva
consecução do fim social da empresa só será possível mediante atividade promocional
por parte dos empresários, consistente em obediência a deveres positivos, dentre os quais,
inevitavelmente, aqueles expressos nos princípios do art. 170, da Constituição (GAMA e
BARTHOLO).59
Por sua característica, a função social da empresa é dotada de dois momentos: um
com a função de patrimônio (propriedade) individual; e, outro, com função coletiva
(social). O primeiro (individual), refere-se ao direito do titular da coisa de usar, gozar e
dispor da coisa e de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha
(Código Civil, art. 1.228, caput). O segundo (coletivo), é pertinente à utilização do
patrimônio (bens) como instrumento de uma função da propriedade (Código Civil, art.
 
58
CUNHA, Wladimir Alcibíades Marinho Falcão. III Jornada de Direito Civil, org. Ministro Ruy Rosado de Aguiar Jr., Brasília:
CJF, 2005, pág. 165.
59
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; BARTHOLO, Bruno de Paiva. Op. cit., pág. 286/287.

12 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
1.228, §1º). São distintos os fundamentos que justificam a propriedade dotada de função
individual e propriedade dotada de função social. A primeira (individual), justifica-se
para que o indivíduo possa prover a sua subsistência e de sua família. Já a propriedade
dotada de função social é justificada pelos seus fins, seus serviços e sua função (GRAU,
2010).60
Nessa linha, não apenas os bens de capital estão sujeitos à sua função social, mas
também o produto gerado ou transformado. Não pode, portanto, a produção ser retida
para fins de especulação ou acumulada sem destinação ao uso fixado. Nesse caso, a
propriedade excede sua característica de função individual e frusta sua função social. Tal
conduta é vedada e a Lei nº 8.137, de 1990, art. 7º, IV e VIII, define ser crime contra a
ordem econômica e a economia popular recusar-se a fazer circular seu produto para fins
de especulação.
O importante a salientar é que na ordem econômica prevista na Constituição o
princípio da função social da empresa está estritamente vinculado ao regime jurídico da
iniciativa econômica que incluiu a propriedade dos bens de capital, dos bens
intermediários, a produção e os contratos destinados a fazer circular economicamente as
mercadorias e os serviços.
Conclui-se, portanto, que a função social da empresa é discernida a partir da
consideração da propriedade dinâmica, que não tem por objeto a fruição do seu titular,
mero direito subjetivo, mas a produção de outros bens (função). Assim, a teoria da
propriedade da empresa não pode ser construída independentemente daquilo que alguns
doutrinadores denominam de Teoria da Iniciativa Econômica (GRAU, 2010).61
É preciso destacar que o atendimento à função social da empresa não é excludente
com o intento de lucro perseguido pelo empresário. Pelo contrário, pressupõe a
compatibilização da obtenção de lucro com os deveres jurídicos que advém da
propriedade. A função social da empresa implica em o empresário ou o administrador
assumir o poder-dever de conciliar a atividade empresarial com a observância de um
plexo de deveres jurídicos, positivos e negativos, em benefício da vida social (MARTINS,
2016).62
Assim, a atividade econômica desenvolvida pela empresa tem função social e deve
ser reconhecida e protegida para que a fruição dos direitos de conteúdo patrimonial, no
caso, bens de produção (propriedade), seja feita de maneira a alcançar seu escopo social
de utilidade à coletividade, ainda que indiretamente. Desta feita, as situações jurídicas
patrimoniais possuem uma instrumentalidade indireta à concretização da dignidade
humana, pois o seu principal objetivo é a realização de uma função social. A
funcionalização das situações jurídicas leva à consideração de que os legítimos interesses
individuais dos titulares da atividade econômica somente serão merecedores de tutela
quando realizem uma função social, isto é, “na medida em que interesses socialmente
relevantes, posto que alheios à esfera individual, venham a ser igualmente tutelados”. A
proteção dos interesses privados vincula-se ao atendimento de interesses sociais, a serem
promovidos no âmbito da atividade econômica (SANTOS, 2016).63

 
60
GRAU, Eros Roberto. Op. cit., 2010, págs. 243/244.
61
GRAU, Eros Roberto. Op. cit., pág. 245.
62
MARTINS, Adriano de Oliveira. Recuperação de empresa em crise: a efetividade da autofalência no caso de inviabilidade da
recuperação. Curitiba: Juruá, 2016. pág. 60.
63
SANTOS, Deborah Pereira Pinto dos. Op. cit., pág. 91.

13 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
A posição da jurisprudência sobre a função social da empresa
O STF apreciou o princípio da função social da empresa em várias assentadas.
Citem-se especificamente as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) nºs 3.934 e
4.613 que, no nosso entendimento, melhor representam a posição do Tribunal.
Na ADI 3.93464, o STF discutiu a inconstitucionalidade dos arts. 60, parágrafo
único, 83, I e IV, e, e 141, II, da Lei nº 11.101, de 2005, que regula a recuperação judicial,
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, por supostamente
serem incompatíveis com o disposto nos arts. 1º, III e IV, 6º, 7º, I, e 170, VIII, da
Constituição. Alegavam os autores da ADI, dentre outros, que os dispositivos
impugnados afrontam os valores constitucionais da dignidade da pessoa humana, do
trabalho e do pleno emprego ao liberar os arrematantes de empresas alienadas
judicialmente das obrigações trabalhistas, tornando-os imunes aos ônus de sucessão.
O Relator da ADI 3.934, em seu voto, entendeu não existirem os vícios
constitucionais apontados, pois a Lei ao estabelecer a inocorrência de sucessão dos
créditos trabalhistas, optou por dar “concreção a determinados valores constitucionais,
a saber, a livre iniciativa e a função social da propriedade – de cujas manifestações a
empresa é uma das mais conspícuas – em detrimento de outros, com igual densidade
axiológica, eis que os reputou mais adequados ao tratamento da matéria”. Destacou
ainda o Relator que a Lei nº 11.101, de 2005, buscou garantir a sobrevivência das
empresas em dificuldades, “tendo em conta, sobretudo, a função social que tais
complexos patrimoniais exercem, a teor do disposto no art. 170, III, da Lei Maior”.
Já a ADI 4.613 questionava dispositivos do Código Brasileiro de Trânsito que
determinavam a veiculação de mensagens educativas de trânsito em peças publicitárias
de produtos da indústria automobilística. Sustentou o autor, dentre outros, que o setor
produtivo não pode ser “eleito como financiador de programas educativos que ao Estado
compete promover”.
Ao apreciar a matéria, o STF entendeu que as normas impugnadas atendiam ao
estipulado na Constituição, pois são consectárias da proteção ao consumidor e da função
social da propriedade, princípios da ordem econômica.65 Conforme o voto do Relator, a
exigência legal encontra-se em consonância “com o princípio da função social da
propriedade e, ainda, com o princípio da proteção ao consumidor, ambos
direcionadores, nos termos do art. 170 da CF/88, da livre iniciativa”. Ressaltou o Relator
que, em diversas oportunidades66, o STF assentou que “o princípio da livre iniciativa não
pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do
consumidor”. Destacou ainda o Relator que, com base o princípio constitucional da
função social da propriedade, limitador da livre iniciativa, não procedia a alegação de que
as propagandas seriam custeadas pelas empresas automobilísticas, o que estaria por
transmitir a obrigação do Estado à informação educativa de trânsito às empresas
automobilísticas.
No âmbito infraconstitucional, o Conselho da Justiça Federal (CJF), para tentar
uniformizar a interpretação, elaborou três enunciados nos quais aborda a questão do
princípio da função social da empresa e do contrato e seu desdobramento, onde estatui:

 
64
ADI 3.934, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 27/5/2009, DJE de 6/11/2009.
65
ADI 4631, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/9/2018, DJE de 3/12/2018.
66
Nesse sentido: RE nº 349.686, Rel. Min Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 5/8/05; AI nº 636.883 /RJ-AgR, Rel. Min. Cármen
Lúcia, Primeira Turma DJ de 1º/3/2011.

14 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
Número Enunciado
O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a direitos
26 ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial.
Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a boa-
29 fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as especificidades
dos contratos empresariais.
Art. 966: Deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação
53
das normas relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa.

A função social da propriedade como gênero e a função social da empresa como


espécie
A Constituição estabeleceu o paradigma da função social da propriedade como
gênero no art. 5º, XXIII, e como espécies a função social da propriedade rural, a função
social da propriedade urbana e a função social da empresa.
A livre iniciativa e o direito à propriedade são traços marcantes das sociedades
capitalistas. Na ordem econômica ditada pelo art. 170 da Constituição, a livre iniciativa e
o direito de propriedade estão condicionados e devem ser exercidos em consonância com
as suas finalidades econômicas e sociais, conforme prevê o art. 1.228, §1º, do Código
Civil.
A livre iniciativa tem como função social a de propiciar a todos uma existência
digna, conforme os ditames da justiça social. Já a função social da propriedade permite
ao proprietário praticar qualquer ato que lhe traga comodidade ou utilidade. Todavia,
conforme prevê o art. 1.228, §2º, do Código Civil, é defeso ao proprietário a prática de
atos com o dolo de causar externalidades negativas para prejudicar outrem ou a
comunidade onde está radicado.
Na ordem econômica a função social da propriedade confunde-se com a função
social da iniciativa econômica, portanto a função social da empresa. Isso impõe limites,
negativos e positivos, ao controlador da empresa que não pode desenvolver sua atividade
econômica em afronta a utilidade social ou de modo a causar dano à segurança, à
liberdade e aos direitos humanos.
Conforme dito anteriormente, a função social da empresa também é regida por
normas de direito público. Logo, pode-se afirmar que a Constituição prevê uma ordem
econômica regida pelo direito público ou, em outras palavras, uma ordem pública
econômica. Desta maneira, por se tratar de matéria afeita ao direito público, aplicam-se
às convenções celebradas o disposto no Código Civil, art. 2.035, parágrafo único, o qual
prevê que nenhuma avença prevalecerá se contrariar o preceito de ordem pública da
função social da propriedade.
A par disso, a legislação infraconstitucional também densificou o princípio da
função social da empresa no Código Civil e na Lei das S/A. No Código Civil, essa
expressão encontra-se nos institutos do abuso do direito de propriedade (art. 187), da
função social do contrato (art. 421) e ao estipular as obrigações do proprietário (art. 1.228,
§§ 1º e 2º).
Na Lei das S/A, a função social da empresa está expressa na obrigação do acionista
controlador usar o poder de controle com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto,
cumprir sua função social e satisfazer as exigências do bem público. Segundo a norma, o
15 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
controlador da empresa tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas
da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos
e interesses deve lealmente respeitar e atender (art. 116, parágrafo único e art. 154, caput).
De tudo o que foi dito, conclui-se que a função social da propriedade prevista como
direito fundamental no art. 5º, XIII, da Constituição é gênero do qual são espécies, com
o mesmo caráter de direito fundamental a função social da propriedade rural, a função
social da propriedade urbana e a função social da empresa. O quadro abaixo resume os
institutos:

Função social da propriedade rural, art. 186 da CF


Função Social da Propriedade
art. 5º, XXIII, da CF

Função social da propriedade urbana


art. 182 da CF c/c Estatuto das Cidades, art. 22, §2º

Função social da empresa e função social do


contrato
art. 170, III, da CF c/c Código Civil, arts. 187, 421 e
1.228

A Teoria das Partes Interessadas (Stakeholders Theory)


Segundo a Escola de Chicago, a Teoria da Responsabilidade Social das
Corporações ou Teoria dos Acionistas (Theory of Corporate Social Responsibility ou
Stokeholders Theory) propõe que o executivo de uma empresa, por ser um funcionário
dos proprietários da corporação, tem responsabilidade direta com seus empregadores. E
essa responsabilidade é conduzir os negócios da empresa de acordo com os desejos dos
proprietários do capital que, geralmente, são os de auferir o máximo de lucro possível,
dentro da lei e dentro da ética social. Portanto, as empresas têm uma única
responsabilidade social: utilizar seus recursos e se envolver em atividades destinadas a
aumentar seus lucros, dentro das regras do jogo, ou seja, em concorrência aberta e livre
sem enganos ou fraudes (FRIEDMAN, 1970)67. Segundo a Teoria da Responsabilidade
Social das Corporações, as empresas são pessoas jurídicas, portanto são
artificiais/fictícias e pessoas artificiais/fictícias só podem ter responsabilidades
artificiais/fictícias. Como responsabilidades morais não são responsabilidades
artificiais/fictícias, as empresas não podem ter responsabilidades morais (FRIEDMAN,
1970)68.

 
67
FRIEDMAN, Milton. The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits. New York: Times Magazine, 13/9/1970,
reimpresso em Beauchamp and Bowie, 2001, págs. 51 e 55.
68
“What does it mean to say that “business” has responsibilities? Only people can have responsibilities. A corporation is an artificial
person and in this sense may have artificial responsibilities, but “business” as a whole cannot be said to have responsibilities, even
in this vague sense”. (FRIEDMAN, Milton. Op. cit., pág. 51).

16 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
Em contraposição à Teoria da Responsabilidade Social das Corporações, surge a
denominada Teoria das Partes Interessadas (Stakeholders Theory) que propõe a
ampliação da ideia de que o acionista é o único grupo ao qual a empresa deve responder.
Conforme essa Teoria, as empresas precisam observar os interesses de todas as partes
interessadas (stakeholders) no negócio, sem os quais a corporação deixaria de existir. As
partes interessadas na decisão empresarial, normalmente, envolvem muito mais
categorias do que a dos acionistas. Embora importantes, os acionistas são apenas um dos
muitos grupos que serão afetados pela decisão da empresa (FREEMAN, 2010)69.
Conforme os doutrinadores que defendem esta teoria, as partes interessadas nas decisões
da empresa são: acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, financiadores e a
sociedade de um geral (FREEMAN, 2010).70
Em contraste com a visão de responsabilidade única com os acionistas, a Teoria das
Partes Interessadas propõe que a atividade da empresa considere os interesses de todas as
partes que afetam ou serão afetadas por uma decisão importante da corporação
(FREEMAN, 2010)71. Cada um desses grupos de interesse tem razões justificáveis para
esperar, e muitas vezes para exigir, que a empresa aja de forma responsável para a
satisfação de suas reivindicações. Em geral, os acionistas reivindicam retornos
apropriados sobre seus investimentos; os funcionários buscam satisfação profissional
amplamente definida; os clientes querem aquilo pelo qual pagam; os fornecedores
procuram compradores confiáveis; governos querem o cumprimento da lei; sindicatos
buscam benefícios para seus filiados, na proporção de suas contribuições para o sucesso
da empresa; os concorrentes querem concorrência leal; as comunidades locais querem
empresas que sejam responsáveis; e o público em geral procura alguma garantia de que a
qualidade da vida será melhorada como resultado da existência da empresa (FREEMAN,
2010)72.
A teoria das partes interessadas surge como uma nova proposta de gestão para
entender e solucionar três problemas empresariais interligados. Primeiro, a criação de
valor73 e do comércio: em uma era de mudanças rápidas no contexto empresarial global,
como o valor é criado e negociado? Nesse aspecto, a empresa deve entender como seus
administradores interagem em conjunto com clientes, fornecedores, funcionários,
investidores (acionistas, portadores de obrigações, bancos etc.) e a comunidade para criar
 
69
FREEMAN, Edward; HARRISON, Jeffrey; HICKS, Andrew; PARMAR, Bidhan; e COLLE, Simone de. Stakeholder Theory –
The State of the Art. New York: Cambridge University Press, 2010, pág. 31.
70
Conforme Freeman, the genesis of “stakeholder theory” is simply the integration thesis plus the responsibility principle. Give up
the separation fallacy, in part because of the open question argument, and there is not much alternative. People engaged in value
creation and trade are responsible precisely to “those groups and individuals who can affect or be affected by their actions” – that
is, stakeholders. For most businesses, as we currently understand it today, this means paying attention at least to customers,
employees, suppliers, communities, and financiers. FREEMAN, Edward; HARRISON, Jeffrey; HICKS, Andrew; PARMAR, Bidhan;
e COLLE, Simone de. Stakeholder Theory – The State of the Art. New York: Cambridge University Press, 2010, págs. 3/9.
71
FREEMAN, Edward; HARRISON, Jeffrey; HICKS, Andrew; PARMAR, Bidhan; e COLLE, Simone de. Op. cit., pág. 33.
72
“Each of these interest groups has justifiable reasons to expect, and often to demand, that the company act in a responsible manner
toward the satisfaction of its claims. In general, stockholders claim appropriate returns on their investments; employees seek broadly
defined job satisfaction; customers want what they pay for; suppliers seek dependable buyers; governments want adherence to
legislated regulations; unions seek benefits for members in proportion to their contributions to company success; competitors want
fair competition; local communities want companies that are responsible “citizens”; and the general public seeks some assurance
that the quality of life will be improved as a result of the firm’s existence.” (FREEMAN, Edward; HARRISON, Jeffrey; HICKS,
Andrew; PARMAR, Bidhan; e COLLE, Simone de. Op. cit., pág. 37)
73
Em economia, o valor está relacionado à capacidade de bens e serviços de terem utilidade e de satisfazerem as necessidades de
qualquer ordem, materiais ou ideais. Por exemplo, o valor para o cliente é representado pela diferença entre o nível de utilidade e
satisfação ao adquirir o bem ou serviço e o que ele gastou (investiu) para obter o bem ou serviço. Quanto maior a utilidade e satisfação,
maior será o valor que o cliente dará ao produto ou serviço. A sintonia entre o cliente e a marca e a capacidade de um negócio de
entender o comportamento do consumidor e atender às suas necessidades (aumentar a utilidade e o valor) é tão importante quanto o
preço para influenciar na decisão de adquirir. Portanto, criar ou agregar valor é aumentar a utilidade e satisfação de um bem ou serviço.
O valor de um produto ou negócio não é exclusivamente ligado a seu preço.

17 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
e comercializar valor. Entender um negócio é saber como essas relações funcionam e
mudam ao longo do tempo. É tarefa da empresa moldar essas relações para criar o
máximo de valor possível para as partes interessadas e administrar a distribuição desse
valor. Quando os interesses das partes interessadas entram em conflito, a empresa deve
encontrar uma maneira de repensar os problemas e identificar uma forma para que as
necessidades de um amplo grupo de partes interessadas sejam atendidas. A medida em
que isso é feito, ainda mais valor poderá ser criado para cada um. São tradeoffs buscando
um ganha-ganha (BIDHAN, 2010)74.
O segundo problema a ser entendido e solucionado pela Teoria das Partes
Interessadas busca é a questão da ética do capitalismo: quais são as conexões entre o
capitalismo e ética? A gestão eficaz das relações entre as partes interessadas ajuda as
empresas a sobreviverem e a prosperarem em sistemas capitalistas. Essa relação envolve
questões morais porque dizem respeito a valores, escolhas e potenciais danos e/ou
benefícios para um grande grupo de grupos e indivíduos. A ética numa sociedade
capitalista tem a função de orientar as decisões das empresas com base nos valores morais
da sociedade como, por exemplo, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade
social.
O terceiro problema a ser solucionado é o da mentalidade gerencial: como os
administradores devem atuar para criar um valor melhor e conectar negócios e ética de
forma explícita? As empresas devem concentrar sua atenção na criação, manutenção e
alinhamento das relações com as partes interessadas para criar valor e evitar falhas
morais.
São questões com um alto nível de incerteza e mudança e que sugerem uma revisão
de como se deve pensar o capitalismo. Conforme os defensores da teoria das partes
interessadas, se se adota como unidade de análise as relações entre uma empresa e os
grupos e indivíduos que afetam ou podem ser afetados por suas decisões, tem-se mais
chances de lidar efetivamente com esses três problemas.

A Teoria das Partes Interessadas e a sua relação com a função social da empresa 
Há um imbricamento e não uma identidade perfeita entre a função social da empresa
descrita na Constituição Federal e a Teoria das Partes Interessadas, até porque esta não
possui força cogente e aquela deriva de um comando normativo principiológico. Há, no
entanto, um ponto de contato entre os dois que é a visão de que a empresa tem
responsabilidades/obrigações que vão além da produção e circulação de bens e serviços
e geração de lucros.
Conforme o art. 170 da Constituição, a função social da empresa exige que as
decisões empresariais respeitem a soberania nacional, a propriedade privada, a livre
concorrência, a defesa do consumidor e do meio ambiente, a redução das desigualdades
regionais e sociais e a busca do pleno emprego.
Já a Teoria da Partes Interessadas propõe que as decisões da empresa leve em
consideração os impactos sobre todas as partes que afetam ou serão afetadas pela ação

 
74
Bidhan L. Parmar, R. Edward Freeman, Jeffrey S. Harrison, Andrew C. Wicks, Lauren Purnell & Simone de Colle (2010):
Stakeholder Theory: The State of the Art, The Academy of Management Annals, 4:1, 403-445. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1080/19416520.2010.495581

18 
 
O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
empresarial (clientes, funcionários, fornecedores, grupos de ação política e ambiental,
comunidades locais, a mídia, instituições financeiras e os Governos).
Como dito anteriormente, a Constituição não definiu objetivamente os critérios de
atendimento da função social da empresa, tornando-a um conceito jurídico indeterminado
e de sentido fluido. Nesse ponto, a Teoria das Partes Interessadas traz uma importante
contribuição ao detalhar a necessidade de o ambiente empresarial considerar em suas
decisões o ecossistema de grupos relacionados.
Da formulação do princípio inscrito no art. 170 da Constituição e a partir de sua
densificação no Código Civil (arts. 421, 1.228, §§ 1º e 2º), depreende-se que a função
social da propriedade, sem afetar o fundo de direito em si, deve buscar um compromisso,
uma relação entre o interesse individual do proprietário e os interesses das partes
interessadas (stakeholders), que são as pessoas, naturais ou jurídicas, e as organizações
públicas ou privadas, afetadas de forma direta ou indireta, positiva ou negativamente, pelo
exercício dos atributos da propriedade.
Esses interesses têm a ver com a livre concorrência, a defesa do consumidor, a
defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades regionais e sociais e a busca do
pleno emprego. A função social da empresa implica que os interesses constitucionalmente
protegidos não se concentrarem apenas na titularidade dos empresários. De acordo com
o comando constitucional, são igualmente dignos de proteção jurídica os interesses
metaindividuais, de toda a sociedade ou de parcela desta, potencialmente afetados pelo
modo com que se empregam os bens de produção. Assim, a empresa cumpre sua função
social ao gerar empregos e riqueza, pagar tributos, contribuir para o desenvolvimento
econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de sua região ou do país, adotar
práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao respeitar os
direitos dos consumidores (COELHO, 2012)75.

Conclusão
A Constituição brasileira optou pelo sistema capitalista quando definiu a ordem
econômica nacional e determinou a forma como o capitalismo de mercado será exercido
no Brasil. Predominam, portanto, as forças de mercado, a livre iniciativa e a propriedade
privada dos fatores de produção. definiu na ordem econômica.
A Carta Constitucional conferiu ao direito de propriedade legalmente constituído e
exercido dentro das exigências de atendimento à função social o status de direito
fundamental. Em outras palavras, a Carta prevê que o direito de propriedade não é
absoluto e o atendimento à sua função social lhe é inerente e integra o próprio direito em
si. Assim, a função social incide sobre a estrutura e o conteúdo da propriedade, sobre a
própria configuração do direito e constitui o elemento que qualifica sua situação jurídica.
A função social da propriedade prevista no art. 5º, XXIII, é gênero da qual são
espécies a função social da propriedade rural, a função social da propriedade urbana e a
função social da empresa. O atendimento à função social da propriedade rural foi
explicitado no art. 186 da Constituição. Já o que se considera a função social da
propriedade urbana está devidamente descrito no art. 182 da Carta e no art. 22, §2º, do
Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 2001).
 
75
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, vol. 1, Direito de empresa. 16. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 80/81.

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O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
Stakeholders Theory
 
Diferentemente do que ocorreu com a propriedade urbana e a rural, a Constituição
não definiu objetivamente os critérios de atendimento da função social da propriedade na
ordem econômica. Em razão desse fato, a função social da propriedade tornou-se para a
ordem econômica um conceito jurídico indeterminado, de sentido fluido.
Tendo em vista o conteúdo constitucional da Ordem Econômica conclui-se que o
princípio da função social da empresa é uma decorrência necessária do princípio da
função social da propriedade e ambos têm a mesma hierarquia constitucional.
A função social da empresa não pode ser confundida com a sua responsabilidade
social. A função social da empresa é mandamento constitucional. Para ser cumprido não
é necessário que a empresa gere novos postos de trabalho, nem mesmo que, vindo a
atravessar dificuldades, mantenha os que tiver gerado. Também não se exige que a
empresa ajude a comunidade vizinha aos seus estabelecimentos empresariais ou promova
ações culturais ou educacionais.
Já a responsabilidade social da empresa, compreende ações e posturas
voluntariamente desenvolvidas que buscam promover o bem-estar dos seus públicos
interno e externo. Como são práticas voluntárias, não se confundem com ações
compulsórias impostas pela função social da empresa.
O Código Civil estendeu aos contratos a função social da empresa. Não haveria
sentido à Constituição atribuir função social à propriedade empresarial e não o fazer em
relação aos contratos, meio dinâmico de aquisição desta propriedade e ao meio de
circulação das riquezas.
Como a Constituição não definiu objetivamente os critérios de atendimento da
função social da empresa, a utilização da Teoria das Partes Interessadas traz uma
importante contribuição ao detalhar a necessidade de o ambiente empresarial considerar
em suas decisões o ecossistema de grupos relacionados.

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O princípio da função social da propriedade e da empresa e a sua relação com a
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