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Primeira parte:
Constituição económica
Princípios fundamentais
Perspetiva histórica
Regulação económica e constitucional
Direitos fundamentais de natureza económica
Segunda parte:
Regulação especifica do direito da concorrência
o Estado liberal
A herança do antigo regime não adianta muito para percebermos onde estamos hoje,
quais são as raízes da atualidade económica.
Nesta altura vigorava o princípio do governo representativo, isto significa a ideia de
legitimidade em termos de titularidade e exercício do poder político a título
representativo, ou seja, o poder só se encontra legitimado se e quando exercido por
representantes do povo e da Nação.
Nas caraterísticas que este estado apresenta: tem a sua génese nas ideias da revolução
francesa tendo uma influência na conceção grega da república da democracia, assim
como a justiça, as funções mais justas, também à ideia de bem comum e como
evidente a uma serie de contributos filosóficos, nomeadamente de Locke e Rosseau, o
contrato social, compromisso esse em que há legitimidade política aos governantes,
em troca de proteção dos direitos.
Outro grande princípio foi o princípio da separação de poderes de Montesquieu, ou
seja, o poder tem de estar repartido e controlado mutuamente pelos governantes
escolhidos pelo povo, pelo executivo que executa as ordens do parlamento e as
transforma na regulação propriamente dita e o controlo dos privados.
O estado estava dividido em 3 grandes funções:
Executiva e a administrativa: titularidade do monarca
Legislativa: confiada ao parlamento
Jurisdicional: nos tribunais
Kant, Hobbes com a ideia de imperativo de regras impostas aos governados.
Tudo isto são contributos que vem inspirar toda a regulação económica e jurídica do
estado liberal. O liberalismo vem fundar se na escola clássica de economia inglesa, da
mão invisível, a economia e o mercado não precisam que o estado mande, porque há
uma mão invisível que faz com que os economistas façam aquilo que será de melhor. O
bem comum é o somatório do bem individual. Esta ideia da intervenção mínima do
estado na economia vai influenciar a forma como estado age na economia.
Deste modo, não se queria apenas limitações internas, com a separação do poder, mas
também limitações externas em que o estado devia ser reduzido ao mínimo em
termos de fins, tarefas e objetivos. A este competia zelar pela manutenção da paz, da
ordem e da justiça, confiando à sociedade tudo mais. Assim, a ele competia a definição
as regras, através de um quadro neutro, que devem ser respeitadas por todos os
cidadãos. Do mesmo modo, competia-lhe assegurar as diferentes liberdades civis, de
pensamento, de expressão, etc..
Do ponto de vista de direito administrativo, traduz-se numa conceção das regras que
legalizam a administração publica como proteção dos administrados face aos abusos
dos administradores, uma conceção de defesa, porque o Direito Publico assumia um
papel subordinado em relação ao direito privado, isto é, o direito administrativo tem
um papel importante na preservação da ordem publica e da paz publica, mas na vida
económica e social o protagonismo pertence ao direito privado. A sua incidência na
vida económica é muito reduzida, apenas nas atividades de polícia é que temos um
direito incidente na vida económica. A economia, aqui, assenta num sistema de
autorregulação. O estado tem uma atividade negativa, apenas para impedir excessos e
para condenar certas praticas.
Isto traduz-se que durante todo o período liberal, a intervenção publica do estado
servia para garantir que ninguém fosse impedido de utilizar a forma que entendesse
mais conveniente, mas começa a ganhar cada vez mais peso a proteção da
propriedade dinâmica, a empresa. Que tem por objetivo protegê-los da insolvência, os
comerciantes. A propriedade que gera mais propriedade, um conjunto orientado pela
atividade económica que vai gerar mais riqueza, mais bens, produção, multiplicação
dos fatores produtivos, postos de trabalho, ...
Não há preocupação com um princípio de defesa do consumidor, dos contratos,
portanto falamos de autonomia contratual em que cada um é livre de assinar qualquer
contrato, mas tem de arrecadar com as consequências a que se sujeita, uma máxima
liberdade para máxima responsabilidade.
o Estado social
No seculo XX, há a guerra mundial tendo um com texto económico, geopolítico e
divisão de poderes. Portanto este contexto já contava com crise de relacionamento
dos estados, com a revolução industrial, não havendo proteção para as classes menos
favorecidas.
No fim das hostilidades, em 1918, temos o estado a não renunciar a esta função
dirigente da economia, uma vez que o fim da guerra levou a outras medidas
relacionadas com os soldados vindos da guerra, criando-se, assim um fenómeno de
intervenção dos poderes públicos na vida social.
Os estados percebem que precisam de financiar, tendo de intervir mais na economia,
não se podem limitar um agente passivo e vigilante das liberdades individuais. Ao
intervir na economia, numa primeira fase, preocupam-se a arranjar formas de
financiamento, passa a ser um estado produtor, intervindo diretamente em setores de
interesse geral. Tem bastante influencia nas políticas americanas, que tentaram uma
distribuição de riqueza através da intervenção direta do estado, especialmente em
grandes obras, com recurso nos trabalhadores do estado. Havendo umas
nacionalizações e criação de empresas publicas para este tipo de distribuições.
Todos estes setores geraram receitas para o estado, para alem disto, o período
posterior foi num grande empoderamento da economia social, surgindo o Plano
Marshall, o banco mundial, o GATT, formas de cooperação económica internacional.
Tudo isto foram formas que o estado encontrou para se financiar para a reconstrução,
para os exércitos, para os sistemas de armamento. Por isso o estado teve de ser um
estado produtor, fornecia serviços, tendo de cobrar pelos mesmos. Levando a que o
estado liberal se tornasse num estado social e intervencionista, no ponto de vista
económico.
Isto durou cerca de 20 anos depois da II GM, os golden 60 e termina quando nos anos
70 fazem o mundo entrar numa crise económica, tendo como consequência a
transformação para estado regulador.
A CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA
Estamos a abarcar a:
constituição formal: o conjunto de princípios e normas de conteúdo económico
que estão explicitados no texto fundamental
constituição material: conjunto de princípios e regras jus-económicos em que
assenta a ordem económica, independentemente da sua formal inserção no
texto fundamental
3 períodos:
Período liberal:
Portugal teve 4 constituições liberais, a de 1822, 1826, 1838, 1911.
Foram relativamente semelhantes com algumas nuances, mas todas elas consagravam
os direitos fundamnetais de natureza económica, embora tendencialmente fizessem
decorrer o direito à incitava privada e direito de escolha de profissão do direito à
propriedade. Estas constituições por estarem inseridas num período liberal, o estado
estava ausente da atividade prestadora, devolvia aos privados a atividades
empresarial. As coisas mudam com a revolução de 1926 e com o estado novo.
Estado novo
De acordo com os tempos, o mundo estava a viver a grande depressão, um período de
grande isolamento económico, em que os estados escolhem subir as taxas
alfandegarias para favorecer as indústrias nacionais. Posto isto, o estado precisa de
intervir, de acordo com este princípio o estado novo quer manter o Portugal o mais
isolado possível, tendo como grande princípio orientador o corporativismo, ou seja,
essencial da atividade económica ser conduzida pelas corporações de profissionais que
decidem as grandes linhas do setor, mas contrariamente ao que parece, é um órgão
completamente controlado pelo estado. Por isto se diz que o corporativismo é do
estado, pois este impõe caminhos a estas corporações profissionais.
Quanto aos direitos económicos, temos uma versão corporativista dos mesmos. A
Constituição de 1933 garante, no seu artigo 8o, no15 o direito de propriedade privada
e o direito de transmissão de bens, em vida ou por morte, proibindo o no12 do mesmo
artigo o confisco de bens. No no7 do mesmo artigo 8o é também consagrada a
liberdade de escolha de profissão ou género de trabalho, indústria ou comércio.
Portugal começa com uma constituição liberal refinada com 3 versões diferentes, sofre
uma mudança muito grande com o estado novo com a vontade de o estado controlar
os operadores privados, sofre uma transição brutal em 74 com as nacionalizações que
acompanham a produção industrial e de todos os setores de base.
Princípio democrático
Artigo 1.º - (República Portuguesa)
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade
popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
O princípio democrático tal como esta expresso na CRP, no art.1º, onde se diz que
é a vontade dos eleitores que legitima o poder político e os governantes a
limitarem aquando necessário a sua liberdade económica e nessa medida esta
legitimação tutelar do poder politico começa por ser o grande principio da
constituição económica. Levanta a questão da relação do legislador constituinte
com o legislador ordinário porque a constituição pode autorizar o legislador
ordinário a restringir direitos de natureza económica, mas é o legislador que tem
de escolher a extensão da medida dessa restrição, sendo aferida à luz da CRP. Estas
diretrizes muitas vezes inserem-se na constituição programática, objetivos que o
legislador traça para o estado, sendo por vezes difícil aferir a proporcionalidade das
medidas adotadas em relação a um programa mais vago.
Princípio de planeamento:
90º a 92º, os planos são indicações genéricas de objetivos que a prazo o estado deve
prosseguir, mas que não o vincula, sendo assim são um documento orientador da
atuação económica do estado que deve ser lido em conjunto com as orientações da UE
para determinados períodos.
Princípio do fomento:
princípio muito genérico que diz que o estado deve encorajar a iniciativa económico-
privada através de medidas políticas. Ao setor privado temos o 100º/d/e. O estado
deve apoiar as nossas empresas e a sua projeção internacional. Isto é claramente
contrário as regras da organização mundial do comércio sobre as subvenções. Por
causa deste impacto que as subvenções e auxílios públicos tem na liberdade da
concorrência o TFUE proíbe todo o tipo de auxílios públicos.
Liberdade de profissão
Art.47º CRP- todos tem direito de escolher livremente o objeto de trabalho, salvo as
exceções estipuladas.
O nº1 consagra a liberdade de escolha de profissão ou objeto de trabalho. Este artigo
está no capítulo dos DLG e goza do regime especial devida aos DLG. Especialmente
digno de proteção. O que aqui está já constava de outros preceitos constitucionais, por
exemplo do art.13º CRP, art.266º/2 CRP, estes já dizem o essencial ao direito de acesso
à função publica, por isso a inclusão do nº2 do art.47º era escusada.
Art.47º/2- liberdade de acesso à função publica; estabelecido por regra por concurso,
em qualquer organismo publico há uma pessoa especifica equacionada para ocupar a
vaga. Abrange não apenas a função publica propriamente dita, mas existem profissões
que pressupõe o exercício das funções publicas privadas.
Liberdade de empresa
Liberdade de iniciativa económica que é uma liberdade que, não obstante o
princípio da coexistência de três setores de produção (publico, privado e negocial)
a atividade é exercida através de empresas e essas podem ser privadas
(esmagadora maioria que colaboram na economia de mercado), empresas
coletivas e empresas publicas. Esta liberdade é constitucionalmente consagrada no
art.61º e refere-se especialmente aos setores privados, não obstante o próprio
estado se reservar a si próprio o direito de exercer qualquer tipo de atividade
económica que seja importante exercer, tendo o estado um meio de
financiamento que os setores privados não tem, ele deve deixar aos operadores
privados o mercado, isto é, deve conceder aos operadores privados a liberdade
jurídica de constituir empresas, mas também conceder o espaço de liberdade
económica que precisam para se desenvolver. O estado reserva-se a si próprio
algumas áreas de intervenção económica, em que os privados não podem atuar,
tirando essa reserva de setor publico (lei 88ª/87) a liberdade de empresa é uma
liberdade tendencialmente absoluta.
Temos de distinguir dois momentos, tal como na liberdade de profissão:
- Acesso
- Exercício
O que é uma empresa? Como já foi dito, o conceito de empresa não é uniforme nos
diferentes ramos de direito. Por exemplo, no direito do trabalho, comercial e da
concorrência não tem conceitos convergentes, há certas entidades que não são
abrangidas por uns. Desde logo, empresa é um conceito que pode ser entendido de
perspetiva objetiva e subjetiva, ou seja, para o direito comercial, a empresa é
sobretudo uma coisa, um bem que pertence ao património do empresário, a mesma
pessoa ou sociedade pode ser dona de várias empresas, no DC a empresa é coisificada,
cujo âmbito pode ser difícil de delimitar. Por isso mesmo, para o DC a grande
importância do conceito de empresa tem a ver com a sua transmissão e aquilo que se
transmite quando há uma locação de estabelecimento, por isso uma empresa tem de
ser um bem transferível, caso contrário deixa de ser uma empresa e deixa de ter
aptidão de ser objeto de efeitos jurídicos. Por exemplo, um escritório de advogados e
um consultório medico não é uma empresa para o DC, porque dentro destas
organizações produtivas, as pessoas estão ligadas ao empresário e não á empresa,
portanto esta estrutura não é transferível enquanto empresa, apenas os elementos
que individualmente a compõem. Uma empresa tem de ser autónoma do empresário,
tem de existir mesmo que o empresário desapareça.
Uma empresa tem de ter como finalidade o lucro? As sociedades têm por fim a
obtenção de lucro, contudo, nem todas as empresas são sociedades, há empresas
publicas e coletivas que não seguem a forma societária e nem todas as sociedades tem
de ser empresa, uma sociedade pode constituir-se sem que seja uma empresa, apenas
sendo uma pessoa jurídica sem que uma empresa exerça o seu objeto. Em certos
casos, embora a regra seja de que qualquer empresa privada é constituída para obter
lucro, as empresas poderão não ter como finalidade a obtenção de lucro, por exemplo
as empresas publicas têm como finalidade o equilíbrio financeiro, as empresas
cooperativas apesar de gerarem benefício para os seus membros, não distribuem
lucros. Para o DC tendencialmente a empresa é um objeto separável (empresário) e
transferível (para terceiros) e que tendencialmente tem lucro.
Para o direito da concorrência já não é assim, os profissionais liberais são empresários,
não interessa se podem ou não transferir para terceiros, todos estes operadores
económicos são empresários. Isto levanta-nos a questão de saber, o que é empresa à
luz da CRP? O art.61º remete para o art.86º, que concretiza e através da qual o estado
assume a obrigação de incentivar a atividade económica privada. Antes havia uma
reserva constitucional de setor publico e agora é apenas uma faculdade, reflexo da
mudança da perspetiva económica que a nossa CRP sofreu a partir de 76. Portanto, a
nossa CRP não nos diz o que é uma empresa o que significa que temos de adotar um
conceito que nos permita abranger a liberdade de constituir uma entidade que
organize meios produtivos com a finalidade de estabelecer interações com terceiros. A
constituição obriga o legislador a não restringir, para alem do que é essencial, a
liberdade de escolha da forma empresarial, a liberdade de qualquer cidadão criar uma
empresa e através desta exercer a sua profissão, através desta trocar com terceiros
bens e serviços que são necessários para que a economia funcione. Por isso, o âmbito
da liberdade de empresa é funcional quanto ao da liberdade profissional, já que temos
a escolha de um meio no qual o outro se pode exercer. Maioria das profissões não
requerem que o titular do direito crie a empresa para o exercício do seu trabalho, por
isso a liberdade de profissão esta um patamar acima no que toca à realização pessoa e
os direitos de personalidade do que a liberdade de criação de empresa.
Tem havido, progressivamente, uma tendência para o estado exercer de uma forma
cada vez mais ligeira a sua atividade de prestador a favor da sua atividade regulatória
para que a regulação feita através de concessões passe para um regime de
autorizações. Muitas atividades que só poderiam ser exercidas através de concessão,
passaram a estar sujeitas ao regime de autorização, como atividades que estavam
sujeitas ao regime de autorização, sem a resposta ao qual não pode a empresa ser
criada, há um outro esquema para atividades que não representem um tao potencial
para interesses de terceiros, o regime da mera comunicação ou notificação. Quando
não haja um perigo grande para interesses de terceiros para a abertura de
determinado estabelecimento quando o estado verifique as condições para a abertura
do local e para não empatar o tempo do empresário, haverá apenas comunicação da
abertura e depois confirma-se as condições necessárias, ou seja, autorizam o
empresário a abrir a empresa acompanhada da notificação e documentação necessária
e depois essa entidade competente tem a prerrogativa de fiscalizar o cumprimento de
todas as condições estabelecidas por lei para o exercício da atividade. Se essas
condições não se verificarem, não só a empresa deixa de estar autorizada a atuar,
suspensão do direito, como haverá uma coima por ter exercido a atividade sem
condições (sanção pecuniária). Tudo isto tem a ver com a tendência para a
desburocratização da atividade privada, facilitada pelos meios tecnológicos, e com a
relação dos privados com o estado.