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Direito do Ambiente
O que é o Direito do Ambiente?
Nasceu como subsistema do Direito Adminsitrativo dado que se entendia que o seu nú cleo decorria da ação
da Administração Pú blica (no seu sentido orgânico)
Aparentemente, a CRP de 1976, no seu artigo 9.º/e), dará razão a essa conceção
Contudo, uma leitura mais atenta da norma constitucional assim como dos autores que mais têm
desenvolvido estas matéias, parecem desmentir essa visão de exclusividade administrativa...
O Direito do Ambiente tem uma razão de ser pró pria e uma ló gica de existir inconfundível: assegurar a
preservação e as qualidades dos componentes ambienteais naturais e impor aos seus utilizadores princípios
de gestão racional.
Essa essência específica ganha maior acuidade perante a emergência das alteraçõ es climáticas.
E distingue-se de outros subsistemas de direito afins ganhando espaço para a sua autonomia
No caso português, o DA iniciou um percurso autó nomo a partir da CRP de 1976, sobretudo com
a primeira Lei de Bases do Ambiente de 1987 e ganhou foro quando a União Europeia (UE) o
conseguiu moldar como uma das suas principais prioridades.
O Direito do Ambiente nasceu no seio do direito administrativo mas as suas ló gicas essenciais já não
se confundem plenamente com este.
Do mesmo modo que o DdA se diferencia de outras suas subespécies como o direito do urbanismo, direito
do patrimó nio cultural, direito da paisagem ou outros subsistemas afins…
Desde as ú ltimas décadas do século XX, foram-se evidenciando linhas mestras daquilo a que se
convencionou chamar de Modernidade (Lyotard, Habermas). Contudo, para alguns autores estaremos na
pó s-modernidade e, para outros, estaremos na tardo-modernidade. Mas, seja qual for o nome atribuído, é
indubitável que na época contemporânea assistimos ao desfazer de bastiõ es da era antecedente.
A Modernidade tem ló gicas essenciais: visão antropocêntrica, razão, contratualismo social, ló gica do
progresso, dicotomia individualismo vs. coletivismo e crença nos vetores exatos da ciência e da tecnologia.
Já no direito, esta tem em consideração o Direito dos Estados, os direitos humanos (a partir da revolução
francesa) e o legalismo.
**Pó s-Modernidade
Significa a transição proveniente da incapacidade das bases da Modernidade explicarem e regerem a época
contemporânea. Neste âmbito, surgem controvérsias:
o fim exclusivo da razão
a decadência da lei
o bio-centrismo
Assim, é correto afirmar que o Ambiente é parte integrante desta visão de transição.
Efetivamente, o Ambiente é um elemento sintomático, integrante e estruturante da mudança profunda que o Direito
tem atravessado. Atualmente, o sistema jurídico tende para o universal, para o direito dos grandes espaços, para
soluçõ es adaptáveis e moldáveis às contínuas transformaçõ es da realidade e não para esquemas alicerçados em
dogmas legais. Surgem, portanto, acordos internacionais alargados, dá-se a revitalização da jurisprudência e a
renovação de soluçõ es consuetudinárias, nomeadamente os negó cios internacionais, o comércio eletró nico e o
mercado high tech.
ECOLOGIA: é o estudo das interaçõ es dos seres vivos entre si e com o meio ambiente
Incluem-se na biosfera todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o conceito seja
geralmente alargado para incluir também os seus habitats.
ECOSSISTEMA: é o conjunto formado por todos os fatores bió ticos e abió ticos que atuam simultaneamente
sobre determinada área.
- Factores abió ticos - os factores externos como a água, o sol, o solo, o gelo, o vento.
O Direito do Ambiente gerou-se num contexto internacional intrincado em que os Estados resistiram em
abdicar de parcelas da sua soberania e revela duas vertentes:
Soft law - disposição não-obrigató ria, declaraçõ es de princípio e normas programáticas que
visam harmonizar as questõ es entre Estados;
Hard law - direito vinculante que impõ e soluçõ es nas áreas comuns dos Estados, as que excedem
as de soberania (Oceanos, Antártida, etc)
O Direito Internacional do Ambiente, mesmo num entendimento embrionário, é uma criação recente (século XIX).
A primeira preocupação foi sobre a limitação dos recursos naturais - início da autolimitação da soberania em matéria
de ambiente.
Neste contexto, assumiram relevância uma série de decisõ es de tribunais arbitrais que regularam conceitos
fronteiriços com impactos ambientais e, no século XX, atribuiu-se importância ao papel do TIJ.
Evolução
Smelter Trail Case (1938-41), USA-Canadá , emque um tribunal arbitral disse que: «…nenhum
Estado tem o direito de permitiractividades no seu território que causem danos,por emissões, no
território de outro Estado…».
Primeiro tratado ambiental moderno deproteção das espécies: Convenção de Ramsar (1971) -
espécies aquáticas.
Protocolo de Montreal (1987) – Protocolo para a proteção da camada de ozono, que reuniu
190 países mais a CEE (UE)
Protocolo de Quioto (1997)– (55% + 55%): calendário de limites nas emissõ es de gases efeito-
estufa de menos 5,2% em relação a 1990; note-se que as limitaçõ es são diferenciadas entre os 38
países mais poluentes; além disso, este gerou graves problemas políticos e acusaçõ es em relação
aos países asiáticos em desenvolvimento (asiáticos);
->Acordo de Paris
Correspondeu a um anseio da consciência mundialliderado pelos alertas da Ciência e guiado pela
diplomaciafrancesa.
Objetivos:
- temperatura global abaixo de 2º acima dos níveis préindustriais e nunca acima de 1,5º;
(Relató rios do Painel Intergovernamental para as Alteraçõ es Climáticas)
O debate ambiental transformou-se num combate irrazoável de Apó stolos, extremado e sem
pontos de convergência, feito de desdém sobre os adquiridos científicos, aproveitado por
populistas que só pensam em ganhar o combate eleitoral
EUA-Trump saem do Acordo; Brasil ameaça, mas não sai; Acordos bilaterais entre países para
utilização dos recursos numa perspetiva economicista
Impasse à vista…
-> **O Acordo de Paris foi realizado na COP21 (2015)
COP 25 – Madrid (2019) – esta ú ltima foi especialmente problemática. Era para ser
realizada noBrasil que recusou. Passou para o Chile que não foi capaz. Aconteceu em
Espanha e notabilizou-se porespetáculos político-circenses que só cavaram o
fossoentre os apó stolos a favor e contra o Ambiente…
- Metano (CH4) – segundo gás com efeito de estufa mais importante, depois do C02. As
concentraçõ es de metano na atmosfera (produção de gás, mineração, eliminação de resíduos e
gado) são as mais altas em 800 000 anos. Além disso, o metano tem um poder de aquecimento
muito maior do que o CO2, mas um período de permanência na atmosfera mais curto.
O sonho de Ursula von der Leyen para osprimeiros 100 dias da sua Comissão
- European Green Deal - Pacto Ecoló gico Europeu como alteração fundamental das ló gicas do
desenvolvimento;
- A transição digital
A segunda vaga - outubro de 2020 – está a ser enfrentada com os ensinamentos adquiridos
naPrimavera mas não há como fugir aos prejuízoseconó micos e sociais.
Objetivos:
Reafirmar as metas de Paris
O Acordo de Paris ainda não foi implementado e o modelo de aplicação será discutido 6 anos
depois…
Os EUA voltaram a Paris mas, para além da retó rica, não se percebeu se tentarão liderar a luta
contra as alteraçõ es climáticas;
O Ambiente é condição sine qua non dos Planos de Recuperação da crise econó mica provocada
pela Covid;
Possui (para já) um largo consenso dos Governos europeus – aceitação dessa condição para
receber fundos não teve polémica;
Ainda se vêem as estratégias ambientais como algo que se tem de fazer desde que não prejudique
demasiado os interesses de cada Estado-Membro;
Dado o cariz identitário da UE (democracia, carácter social e inclusivo), a chave para a força
política necessária reside na opinião pú blica europeia;
A Carta (1826), os Atos Adicionais (1852) e a Constituição de 1911 representaram a mesma ló gica bucó lica,
paisagística e agrícola
Quase um século depois, a Const. de 1933 (art. 52.º) falava em “protecção dos monumentos naturais” –
mais interesses estéticos e culturais do que ambientais.
Só com a actual CRP de 1976, no art. 66.º , se constitucionalizou o Ambiente pela primeira vez no seu
sentido pró prio (aproximadamente).
Nos EUA – NEPA, National Environment Policy Act (1969), adoptado por alguns Estados federados
mas não pela Constituição Federal
Na Alemanha a protecção ambiental vem da mesma altura mas só foi constitucionalizada em 1994
No Brasil, a Lei 6.938, que foi exemplo para muitas ordens jurídicas – constitucionalização em 1988
(art. 225.º)
A França seguiu um percurso distinto: lei de valor reforçado (2004) com 10 princípios fundamentais
(Decálogo), Charte de l'environnement, que foi constitucionalizada em 2005
Portugal:
Na versão original o ambiente já estava consagrado como bem jurídico mas só com a revisão de
1982 se dá dimensão ao art. 66.º inserindo a “protecção ambiental” como tarefa
fundamental do Estado no art. 9.º (Princípios Fundamentais), alíneas d) e e):
Momentos referenciais:
Em 1986, Portugal adere às (então) Comunidades Europeias (hoje UE) num momento
em que o Ambiente se começa a destacar enquanto preocupação social primordial
Em 2014 surge a segunda LBA – Lei n.º 19/2014, de 14 de abril (hoje em vigor)
Hoje, o art. 66.º está na PARTE I - Direitos e deveres fundamentais, TÍTULO III - Direitos
e deveres econó micos, sociais e culturais, CAPÍTULO II - Direitos e deveres sociais: CRP
Artigo 66.º - (Ambiente e qualidade de vida)
Para Carla Amado Gomes, o art. 66.º é uma retórica simbólica, politicamente correta,
sem grandes efeitos práticos e que gera confusõ es;
Além disso, esta considera que o n.º 1 do art. 66.º está imerso numa "errância
conceptual", tendo em conta que de trata de uma noção antropocêntrica: o ambiente
seria sempre uma noção conexionada com o bem-estar das pessoas;
Quanto ao n.º 2, Carla Amado Gomes considera que este é um conjunto de normas
imprecisas e amalgamadas, que confunde a resposta aos conceitos essenciais:
indefinição do bem jurídico ‘’ambiente’’; Ainda neste âmbito, Gomes Canotilho refere
que ‘’não é Ambiente é Ambiance…’’
Vasco Pereira da Silva afirma que uma revisão constitucional clarificadora destes
conceitos ambientais é urgente;
Gomes Canotilho considera que o texto constitucional ainda padece de uma pré-
compreensão antropocêntrica do ambiente, na qual se deve proteger a Natureza por
esta constituir um bem instrumental para o Homem poder dela usufruir; Assim, urge
superar essa visão para se passar a uma pré-compreensão ecocêntrica em que o
ambiente é um fim em si mesmo e cujo pressuposto e fundamento seja a ‘’consideração
valorativa do Homem enquanto parte integrante da Natureza’’
A tendência atual é uma vertente impositiva: cada cidadão tem deveres (diferenciados
por atividade) em razão do seu impacto no ambiente – ló gica da Charte Constitutionelle
de l’Environnement (2005)
3. LBA de 2014.
A Constituição ambiental portuguesa (art. 66.º), apesar de precursora em 1976, cedo se viu desatualizada
face à evolução das ló gicas e percepçõ es do direito internacional e europeu do ambiente, bem como
perante a crescente consciencialização dos cidadãos em matérias de proteção do ambiente
Tentou-se, então, colmatar essa divergência em 1987, logo depois da adesão de Portugal às Comunidades
Europeias (1986), com a primeira Lei de Bases do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de abril
Desarticulação entre a CRP e o Direito do Ambiente
A ideia primordial era a de alcançar uma revisão constitucional capaz e coerente. Contudo, nunca se
conseguiu o consenso político suficiente, nem na revisão de 1989 nem na revisão de 1997
A legislação portuguesa de ambiente foi-se construindo sob o guarda-chuva da LBA e, sobretudo, à custa
dos contributos do direito europeu e dos Tratados, Convençõ es e Declaraçõ es Internacionais, que Portugal
subscreveu ou foi parte
Outros países, europeus ou não, tiveram o mesmo problema: desarticulação entre as bases constitucionais e
uma nova área do direito, transversal e disruptiva, que se ia construindo a uma velocidade vertiginosa
O Caso Francês – Charte de l’environnement como Lei Constitucional – A França resolveu a questão com uma
Lei de 2004, que foi incorporada na Constituição em 2005: a Charte de l’environnement. Note-se que esta foi dotada
de 10 princípios-base que dão sentido ló gico a todas as leis francesas.
A primeira LBA, Lei n.º 11/87, de 7 de abril cedo careceu de atualizaçõ es que tornassem a ordem jurídica
ambiental coerente e eficaz.
Até 2014, o direito português conheceu três compreensõ es logicamente distintas e divergentes do direito
do ambiente: a constitucional, a legislação ordinária e a internacional e europeia.
Claro que as leis e regulamentos nacionais, quanto ao seu conteú do material, foram decisavamente
influenciados pelo direito internacional e, sobretudo, pelo direito europeu originário e derivado.
- A defesa e a proteção do ambiente constitui um dever de todos nas suas açõ es pessoais, profissionais,
privadas ou pú blicas, e em todos os âmbitos de atuação de qualquer um
- Princípio do Poluidor-Pagador
- Princípio do Utilizador-Pagador
- Princípio da Responsabilidade
- Princípio da Recuperação
Princípio de Desenvolvimento Sustentável
Declaração de Estocolmo de 1972; Carta da Natureza de 1982; Rio 1993; CRP, art. 66.º/2;
É um dever ambiental imputado aos Estados no desenvolvimento de todas as suas políticas pú blicas;
Na LBA surge como a base e prisma interpretativo de todos os princípios seguintes, particularmente o
princípio da responsabilidade intergeracional (com o qual quase confunde na interpretação literal da
norma;
Obriga à fundamentação ecoló gica das decisõ es econó micas – serão inconstitucionais as decisõ es muito
gravosas para o ambiente;
-> Note-se que, Carla Amado Gomes faz uma crítica severa a esta seleção de princípios do art. 3.º da LBA
Considera que o princípio do desenvolvimento sustentável é difuso e seria uma mera ‘’equação de
ponderação circunstanciada e conjuntural do interesse de preservação ambiental (…) destituída de
condiçõ es de operacionalização real’’;
Na sua perspetiva, o momento presente exige um novo princípio: o princípio da sustentabilidade ambiental
e dos recursos, dividido em sustentabilidade ecoló gica e social;
Acredita que o princípio da responsabilidade intra e intergeracional está a ser posto em causa –
‘’impossibilidade conceptual’’
Implica a não assunção de projetos benéficos a curto/médio prazo mas potencialmente perigosos
no futuro, tal como por exemplo o projeto nuclear;
"Deveres formulados num juízo comparativo entre a qualidade ambiental de que beneficia a geração atual e
aquela que está obrigada a manter para a geração futura"
Manutenção da possibilidade de escolha da geração futura quanto à utilização dos recursos
naturais
Princípio da Prevenção/Precaução
Consiste na capacidade de antecipação de situaçõ es potencialmente perigosas, naturais ou humanas, que
ponham em risco o ambiente. Este visa a adoção dos meios antecipató rios adequados para afastar a
verificação do perigo (torna insuficiente a mera reação).
Este princípio obriga o Estado a uma antecipação proativa ‘’prioritariamente na fonte’’ (art. 191.º/2 TFUE)
e exige um juízo de prognose administrativa (discricionariedade, teoria da folga) – p.ex, um juízo
probabiliístico;
NOTA: ‘’Prevention’’ e ‘’precaution’’ têm significados distintos em inglês, mas não tanto assim nas línguas latinas: a
prevenção diz respeito a perigos imediatos e com grau de probabilidade muito acentuado; já a precaução relaciona-se
com riscos futuros e determinados. Mas, maioritariamente, hoje, defende-se que a precaução é a prevenção
amplificada: permite a atuação dos poderes pú blicos e a restrição de direitos dos cidadãos sem que a verificação do
dano ambiental esteja revelada com o elevado grau de certeza – sempre com critérios científicos de razoabilidade e de
bom senso.
Princípio do Poluidor-Pagador
Obriga o responsável pela poluição a assumir os custos tanto da atividade poluente como da introdução de
medidas internas de prevenção e controle necessárias para combater as ameaças e agressõ es ao ambiente;
Ou seja, quem beneficia de uma atividade eco-poluente deve ser responsável pelos prejuízos ambientais
por reconstrução natura por via fiscal;
Princípio do Utilizador-Pagador
Obriga o utente de serviços pú blicos a suportar os custos da utilização dos recursos, assim como da
recuperação proporcional dos custos associados à sua disponibilização, visando a respetiva utilização
racional;
Quem usufrui dos recursos (não estará necessariamente a poluir) deve custear a sua utilização;
Permite ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização de recursos (art. 66.º/2/h
CRP)
Princípio da Responsabilidade
Obriga à responsabilização de todos os que direta ou indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem
ameaças ou danos ao ambiente, cabendo ao Estado a aplicação das sançõ es devidas, não estando excluída a
possibilidade de indemnização nos termos da lei;
Implica toda e qualquer forma de responsabilidade: penal, civil, administrativa, disciplinar;
Não requer a efetivação da ameaça (dano ambiental), mas apenas a sua constatação;
O Estado é o sancionador – mas o que fazer quando o responsável é o pró prio Estado?
Princípio da Recuperação
Obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado do ambiente tal como se encontrava
anteriormente à ocorrência do facto danoso; o Um dos princípios base da responsabilidade civil é o da
‘’restauração natural’’ – o agente deve recolocar a situação no preciso status em que esta se encontrava
antes da verificação do dano - contudo, este princípio é de muito rara e difícil aplicação em direito do
ambiente; o A restauração será a possível (a mais amiga do ambiente) e pode cumular-se com a restituição
por equivalente (pagamento de indemnização)
A separação dos princípios materiais do ambiente (art. 3.º) e dos princípios das políticas pú blicas
ambientais (art. 4.º) é muito criticada quer no que respeita à sua ratio, quer no elenco dos princípios que
compõ em cada uma das vertentes;
Os primeiros regerão toda a atuação pú blica e privada no ambiente; E os segundos regerão as ló gicas de
atuação do Estado e dos demais poderes pú blicos na condução da sua atuação;
Em bom rigor, a sua área de incidência pode confundir-se porque ambos vinculam o Estado, que tem o
poder de conformar os privados às suas preocupaçõ es essenciais.
Princípio da Transversalidade e da Integração
Os Tratados internacionais impõ em um dever de concertação das soluçõ es comuns para problemas globais
Implica o consenso de soluçõ es com os Estados, com organizaçõ es supranacionais e abre porta à
cooperação com ONGs
Provavelmente, aquele que melhor foi implementado nas ú ltimas décadas e que está na raiz da
prioridade do ambiente na consciência coletiva
Informação e Participação são elementos integradores e qua non do conceito de cidadania ambiental;
Decorre do direito geral à informação dos interessados (CPA), mas implica um mais elevado grau de
informação administrativa, dado que o ‘’interessado’’ pode ser qualquer cidadão
Possibilita, também, a intervenção dos tribunais (ex: ação popular) – ‘’tutela plena e efetiva dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos’’ – LBA, art. 7.º/1;
-> Crítica: predominância da ação do Estado e a menorização do papel do cidadão – seria desejável um
maior equilíbrio.
No ú ltimo dia de 2021 foi publicada em Diário da Repú blica a Lei n.º 98/2021, Lei de Bases do Clima, que
entrou em vigor em fevereiro de 2022
A origem concreta deste diploma parte de uma iniciativa legislativa na Assembleia da Repú blica (adiante
AR) do Partido dos Animais e Natureza (adiante PAN), o Projeto de Lei n.º 131/XIV/1.
O especial contexto jurídico em que o direito do ambiente europeu se encontra, e em que a nova lei
necessária mas não assumidamente se insere, pode resultar em incertezas não desejadas e levantar
perplexidades evitáveis
Deu entrada a 29 de novembro de 2019. O texto foi substituído a pedido do autor (PAN) a 1 de abril.
A marcha do processo legislativo pode ser seguida através do seguinte endereço eletró nico:
https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=44220
Apó s um processo legislativo longo a que se associaram quase todos os partidos políticos representados na
AR, a Lei foi aprovada apenas com o voto contra da Iniciativa Liberal nos ú ltimos dias da Legislatura
É a segunda Lei de Bases na área do Ambiente – vigora conjuntamente com a LBA de 2014
A ideia é que esta ú ltima se debruce sobre o combate às alteraçõ es climáticas e não tanto sobre a proteção
ambiental
Contudo, existem redundâncias com a Lei de Bases do Ambiente ao nível dos princípios fundamentais que
trazem ruído e não ajudam
Embora esteja no seguimento do Pacto Ecoló gico Europeu e da Lei Climática Europeia não o referem – ao
contrário das suas congéneres europeias
Aliás a sua colocação neste contexto pode ser unicamente uma “noção do léxico ativista sem qualquer
significado jurídico” – ver GOMES, C. A., (2022). Introdução ao Direito do Ambiente (5.ª edição). Lisboa:
AAFDL, p. 146.
O nº 2 do artigo tem uma redação que roça o ridículo e, ao tentar elucidar o conceito, paradoxalmente, é
suscetível de gerar ainda mais confusõ es
Os Objetivos enunciados são princípios programáticos, um dever-ser que vincula o Estado, tarefas
contínuas de adaptação permanente
Pontos principais:
1. “Transição” para economias e sociedade neutras
Pelos menos, existe a salvaguarda da alínea c) que prevê a articulação necessária com a LBA
Pontos principais:
1. Conceito de “demais espécies” da alínea a) que pressupõ e um afastamento da ló gica
antropocênctrica
2. Princípio da subsidiariedade que obriga à participação das regiõ es e autarquias (ver arts. 8.º e
14.º)
3. Ligação ló gica entre Responsabilização, recuperação e reparação – que faz mais sentido do que a
separação que consta da LBA
O n.º 2 dá uma definição que assenta na ideia de defesa, administrativa e judicial, quer contra os poderes
pú blicos quer contra privados, impelindo-os a cumprir esse direito nos termos em que estão vinculados
pelos ordenamento jurídico nacional, europeu e internacional.
Mais redundâncias
As repetiçõ es desnecessárias continuam nos artigos 6.º (Direitos em matéria climática), 7.º (Deveres em
matéria climática) e 9.º (Participação dos cidadãos)
Os direitos e deveres aí contidos, bem como a ló gica do princípio da participação dos interessados é
idêntica àquela que já existe na LBA
Também não nos parece positiva a ideia de coexistirem duas cidadanias: a ambiental (art. 8.º da LBA) e a
climática (art. 7.º/2 da LBC) – tal enfraquece a ideia de inicial de cidadania
Os Sujeitos da Ação Climática (art. 8.º), embora não sejam verdadeiramente inovadores são um
esclarecimento proveitoso
O Portal da Ação Climática (art. 10.º) é positivo mas não nos parece que tenha dignidade para constar de
uma Lei de Bases
Apesar de se ter alcançado um acordo na Cimeira de Paris (2015), cedo se percebeu que esse resultado tinha sido
forçado pela pressão mediática e da opinião pú blica e não correspondia à vontade real dos Estados signatários. No
fundo, este tratou-se de um acordo para ser exibido por todos os intervenientes (diplomacia francesa, China, EUA e
Obama nos ú ltimos meses do seu mandato, etc.), mas não tanto para ser cumprido. Portanto, o facto de o Ambiente e a
questão das alteraçõ es climáticas se terem tornado um dos ingredientes comuns do mercado político, conduziu a
várias encenaçõ es performativas por parte dos Estados e das ONGs. Além disso, é conveniente referir que os atores
principais estavam irremediavelmente extremados:
De um lado, os adeptos do radicalismo ambiental – visam uma mudança total do modo de vida, sem
recurso aos combustíveis fó sseis ou às matérias-primas compostas e industrializadas. Estes quase que
clamam pelo regresso a uma era pré-industrial (Green Deal do partido democrata norte-americano);
De outro, os negacionistas, que viam a questão ambiental como uma armadilha política e interpretaram as
isençõ es oferecidas aos países em vias de desenvolvimento como artifícios para colocar os EUA e algumas
economias europeias numa posição dependente dos países emergentes, designadamente a China;
O Ambiente torna-se, cada vez mais, num combate de apó stolos e ruidoso, em que ninguém queria ouvir opiniõ es
contrárias às suas. E os Estados, além da retó rica política, agiam ou ficavam inertes consoante as suas pró prias
agendas políticas internas: a França afirma-se ambientalista mas subsidia iniciativas de empresas francesas de
destruição da floresta amazó nica; a UE apoia projetos desastrosos em países do 3.º mundo; a China, pouco antes de
Paris, aderiu às preocupaçõ es ambientais, mas em 2/3 do seu territó rio inexistem políticas mínimas nessa matéria;
Neste seguimento, falharam várias Cimeiras ambientais e cedo se percebeu que o acordo de Paris teria o mesmo fim
material de irrelevância e não cumprimento. Além disso, a saída dos EUA do acordo em 2017 (devido à promessa
eleitoral de Trump de 2016), as ameaças do Brasil e o desinteresse de um conjunto de países que tinham aceitado os
objetivos de Paris em 2015 criaram a sensação internacional de mais uma tentativa frustrada, que deixaria o esforço
contra as alteraçõ es climáticas desprovido de sentido e de futuro.
Mas, apesar da proposta de Ursula ter sido encarada com ceticismo (a meta dos 100 dias não ajudou à sua
credibilização), esta foi cumprida: foi apresentado um plano estratégico ambiental que inclui 4 elementos
fundamentais: PEE/European Green Deal; Declaração Timmermans; Roteiro de açõ es (roadmap); Lei Climática
Europeia (projeto de regulamento);
Fins do PEE:
Neutralidade climática – atingir a não-emissão de gases de efeito de estufa em 2050;
Separação da ló gica causal entre crescimento econó mico e utilização de recursos – este ú ltimo propó sito é
uma ambição civilizacional, já que nunca na nossa civilização, em espaços econó micos alargados (que não
sejam cidades-Estado ou países de reduzida dimensão) foi ensaiado com êxito o corte do cordão umbilical
entre o crescimento da riqueza e a utilização de recursos;
Objetivos agregados:
Preservação do capital natural da UE
Ou seja, o PEE quer agregar os europeus nas suas diferenças, com a participação das autoridades europeias,
estatais, regionais e locais;
Pressupõ e um esforço global e transversal – todas as áreas da economia e o modo como encaramos a nossa
existência serão transformados paulatinamente;
A médio/longo prazo terá de incluir o resto do mundo por arrastamento – a UE influencia e deve dar
exemplo, mas a transformação global da sociedade pressupõ e que o resto do mundo deverá acompanhar
estas mudanças;
Conteúdo:
Transformar a economia e a sociedade –** reduzir emissõ es, gerar emprego e crescimento, combater a
pobreza energética, reduzir a dependência energética externa, melhorar a saú de e melhorar o bem- estar;
Transportes sustentáveis para todos – planos para reduzir as emissõ es automó veis;
Liderar a terceira revolução industrial – novos mercados para indú strias não poluentes; eletrificação
da economia e maior utilização de energia de fontes renováveis; mecanismo para garantir que as empresas
que importam produtos para a UE também paguem pelas emissõ es de carbono; criação de empregos verdes
no setor da construção;
Despoluir o nosso sistema energético –** reduzir para 55% as emissõ es de gases de efeito estufa até 2030;
40% é a nova meta para as energias renováveis para 2030; incentivos na tributação dos produtos
energéticos;
Trabalhar com a natureza para proteger o planeta e a saúde humana – recuperação das florestas,
dos solos e das zonas humidades, o que aumentará a absorção de CO2;
Ação climática a nível mundial – O PEE foi um exemplo positivo, tendo inspirando alguns parceiros da
UE a fixar as suas pró prias data-limite para alcançar a neutralidade climática, nomeadamente a Coreia do
Sul; Além disso, este pacto tem o objetivo de provar que é possível combater a emergência climática e, neste
sentido, quem quiser negociar com a UE terá de se sujeitar, ao longo do tempo, às regras ambientais
europeias;
Transformação Verde – O PEE é a nova estratégia de crescimento da Europa e tem com objetivo
essencial torná-la no primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050.
Transformação Digital – As tecnologias digitais estão a mudar o rosto da indú stria e a forma como
desenvolvemos atividades econó micas. Estas permitem aos operadores econó micos serem mais proativos,
proporcionam novas competências aos trabalhadores e apoiam a descarbonização da nossa economia.
Serão adotados novos modelos de negó cio com foco na prevenção face aos danos ambientais possíveis;
Será dada particular atenção aos setores de utilização intensiva de recursos como têxteis, construção,
eletró nica e plásticos – continuação da estratégia dos plásticos de 2018 da Comissão com especial atenção
aos microplásticos;
Incluirá a oferta de um leque de escolhas aos consumidores quanto à utilização dos produtos mais amigos
do ambiente;
Promoção da informação credível, sendo esta essencial para as escolhas dos consumidores, evitando o
‘’green washing’’
Especial atenção à navegação (poluição nos portos) e aeronáutica (novos aeroportos com mais exigências);
A agricultura e a pecuária europeias deverão ser um modelo de sustentabilidade com mudanças de práticas
e processo produtivos
A UE apresentará uma nova estratégia sobre biodiversidade até 2030 como vetor essencial dos EM nessa
Convenção e guia para as atuaçõ es pró prias;
Florestas, oceanos, biodiversidade e ‘’blue economy’’ serão um fator transversal das políticas europeias;