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UNIDADE II: Governança e Proteção Ambiental

Aula 01: Proteção ambiental internacional

Introdução

Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco em mais uma aula da disciplina de
Responsabilidade Social e Ambiental.

A nossa temática será sobre o sistema de proteção e governança ambiental internacional. Ela
permitirá que você compreenda o processo de reconhecimento e afirmação da proteção
ambiental no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio das conferências da
ONU, discussões, como mudanças do clima, sustentabilidades e outras, passaram a fazer parte
do nosso dia a dia profissional. Além disso, há a aplicabilidade dos documentos internacionais
no ordenamento jurídico brasileiro, em um diálogo cada vez mais recorrente para que os
desafios ambientais sejam enfrentados por todos os Estados.

Portanto, você, como futuro profissional, a partir dessa aula, compreenderá a estrutura
internacional de proteção ao meio ambiente e a relação com o direito brasileiro.

Vamos juntos no estudo do sistema internacional de proteção ao meio ambiente?

Estou te esperando!

O surgimento da proteção internacional ao meio ambiente no âmbito das Nações Unidas

O arcabouço da proteção e da governança ambiental tem os seus aspectos mais importantes


nas instâncias internacionais, pois as questões ambientais não estão limitadas às definições de
fronteiras entre países, ou seja, os desafios são transfronteiriços ou transnacionais e discuti-los
e enfrentá-los exige a cooperação comum entre os Estados. As deliberações são estabelecidas
nos arranjos das organizações supranacionais.

A temática ambiental entrou na agenda global na década de 1960, a partir das preocupações
com os efeitos da explosão demográfica mundial e do aumento da poluição. Em um período de
forte expansão do comércio e das atividades econômicas, houve a constatação dos limites
desse crescimento, que se tornou um assunto de debates entre pesquisadores e atores das
instâncias internacionais.

O sistema internacional contemporâneo é relativamente recente, com origem no final da


Segunda Guerra Mundial, com a Conferência de São Francisco, de 1945, que aprovou a Carta
de São Francisco, de criação da Organização das Nações Unidas (ONU). O propósito primordial
da ONU é o de garantir a paz mundial, mas também o de “conseguir uma cooperação
internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural
ou humanitário [...]” e de

“ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos
comuns” (BRASIL, 1945, [s. p.]).

Nota-se, pois, que a ONU se tornou, assim, o centro das discussões globais, atuando por meio
de seus conselhos – Segurança; Econômico e Social; outros –, de suas comissões – Direitos
Humanos (que desde 2006 se transformou em Conselho) e outras – e de suas agências
especializadas – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco); Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO);
Fundo Monetário Internacional (FMI).

Além da ONU, organizações foram criadas em âmbito regional, como a Organização dos
Estados Americanos (OEA), em 1948, pelos países das Américas. Na Europa, foram criados o
Conselho da Europa, em 1949, e a Comissão Europeia, em 1951. Esses compõem, hoje, o
arcabouço da União Europeia, a qual, por sua vez, foi criada em 1993.

No que se refere ao direito internacional, em que os principais sujeitos são os Estados, é


preciso destacar o papel da ONU, que se tornou o lócus de formação de um arcabouço de
normas e instituições em várias áreas, como direitos humanos, educação, cultura e meio
ambiente. Com essa perspectiva, a discussão entre Estados é fundamental para a formação de
normas ambientais internacionais, com o objetivo comum de proteção ao meio ambiente em
todas as suas dimensões. Vários problemas ambientais são de caráter transnacional e exigem
ações multilaterais e cooperativas (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012).

A formalização da proteção ambiental no âmbito internacional se dá essencialmente por meio


de dois tipos de atos: tratados e declarações. Os tratados são firmados entre Estados e podem
ser bilaterais (dois Estados) ou multilaterais (vários Estados). Um tratado possui força jurídica
vinculante, assim, é chamado de hard law. Os tratados podem ser globais, quando
estabelecidos em organizações de abrangência mundial (por exemplo, ONU), ou regionais,
quando firmados por países de uma determinada região do mundo ou em uma organização
delimitada geograficamente (por exemplo, OEA). Os tratados de direito ambiental
frequentemente recebem a denominação de convenção, porque costumam ser oriundos de
conferências específicas para debater temáticas ambientais. Já as declarações, no direito
ambiental, não têm força jurídica vinculante, são chamadas de soft law, ou seja, não são
normas impositivas, mas formam os princípios do direito internacional. Esses são
gradativamente reconhecidos nas instâncias internacionais e nacionais. Portanto, ao estudar o
direito ambiental, esses dois tipos de atos são os mais frequentes.

Os tratados em matéria ambiental costumam ter algumas características, como: (i) os países
signatários se submetem às regras comuns; (ii) os países adotam uma cooperação interestatal,
por meio de agências internacionais ou órgãos específicos que são criados; (iii) o conteúdo dos
tratados depende do estágio atual do conhecimento científico; (iv) os tratados podem
comportar obrigações diferenciadas entre países (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). Os tratados
ambientais são compromissos para enfrentar questões, como poluição, diversidade biológica,
mudança do clima, florestas, entre outros, que são reveladores de como as dinâmicas
ambientais não respeitam fronteiras de Estados. Exige-se deles a cooperação e a articulação
comum para o enfrentamento dos desafios ambientais.

Por evidente, esse é um processo complexo, com dificuldades, porque a estrutura do direito
internacional foi construída em observância a um dos pressupostos do Estado moderno, a
soberania. E isso significa a autodeterminação sobre os seus territórios para dispor livremente
de suas riquezas e de seus recursos naturais. Além disso, a autodeterminação está
diretamente ligada ao desenvolvimento, que é um argumento presente entre os países, em
especial, os emergentes, marcados pela desigualdade em múltiplas dimensões – econômica,
social, ambiental. A cooperação para lidar com os problemas ambientais deve equacionar
esses desafios. Isso demonstra a complexidade dos debates nas instâncias internacionais.
A partir da década de 1970, há o franco desenvolvimento do direito internacional do meio
ambiente, que ocorreu com as conferências no âmbito da Organização das Nações Unidas
(ONU), como veremos a seguir.

As principais conferências internacionais de proteção ao meio ambiente

Entender o processo de constituição das instâncias de governança ambiental internacional


passa pela compreensão das conferências das Nações Unidas sobre a temática. Da primeira
conferência em 1972 até os dias atuais, a ONU promoveu quatro conferências mundiais, que
foram decisivas para que assuntos, como meio ambiente equilibrado, desenvolvimento
sustentável, mudanças climáticas, entre outros, assumissem cntralidade na agenda global. São
elas:

1. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (1972).

2. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992).

3. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10 (2002).

4. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 (2012).

Em 1968, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução nº 2.398 (XXIII),
decidiu pela realização de uma conferência mundial para discutir as questões ambientais.
Dessa forma, ocorreu, de 5 a 16 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia,
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que é considerada um
marco do direito ambiental internacional.

No curso dos trabalhos da Conferência, os países participantes dividiram-se em duas correntes


de interpretação sobre os problemas ambientais (MELO, 2017): de um lado,
os preservacionistas, liderados pelos países desenvolvidos, que defenderam a mitigação nas
intervenções antrópicas sobre o meio ambiente; de outro, os desenvolvimentistas, composta
pelos países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, que defendiam a aceitação da
poluição e que a preocupação deveria ser com o crescimento econômico.

Ao término dos trabalhos foi editada a Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente
Humano, com 26 princípios. O Princípio 1 da Declaração reconhece o meio ambiente com
qualidade como direito fundamental:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de


vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna,
gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio
ambiente, para as gerações presentes e futuras. (ONU, 1972, p. 2)

No quadro de governança internacional, em dezembro de 1972, foi criado o Programa das


Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi, Quênia, responsável
por promover a proteção ao meio ambiente e o uso eficiente de recursos naturais no contexto
do desenvolvimento sustentável. O PNUMA é uma agência do Sistema das Nações Unidas e a
principal autoridade global em meio ambiente (MELO, 2017).

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), realizada
em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como a Cúpula da Terra,
representou o momento máximo da preocupação ambiental global. Foram produzidos cinco
documentos internacionais: (i) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; (ii)
Agenda 21; (iii) Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima; (iv) Convenção sobre
Diversidade Biológica ou da Biodiversidade; (v) Declaração de Princípios sobre Florestas.
Desses, somente a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre
Diversidade Biológica possuem força jurídica vinculante, obrigatória, denominados no direito
internacional de hard law. Os demais são declarações, destituídas de caráter vinculante,
chamadas de soft law.

A Declaração do Rio é um documento que contém 27 princípios, norteadores do direito


ambiental na esfera internacional e fonte para o desenvolvimento principiológico na legislação
ambiental dos países. A Declaração do Rio traz preceitos fundamentais para o
desenvolvimento de uma agenda internacional de proteção ao meio ambiente, que conjugue
compromissos e obrigações para os Estados.

No que se refere à Agenda 21, trata-se de um documento programático, com 40 capítulos, em


que se estabelecem diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável, do
espaço global ao local.

Já a Convenção sobre Diversidade Biológica é o mais importante instrumento internacional de


proteção da biodiversidade. Os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica são: (i) a
conservação da diversidade biológica; (ii) a utilização sustentável de seus componentes; (iii) a
repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos,
mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de
tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias e
mediante financiamento adequado (MELO, 2017).

Por fim, a Declaração de Princípios sobre Florestas é um documento sem força jurídica
vinculativa. Em seu conteúdo, ela exprime que os países, em especial os desenvolvidos, devem
empreender esforços para recuperar a Terra por meio de reflorestamento, arborização e
conservação florestal.

Em 2002, a ONU promoveu, em Johanesburgo, África do Sul, a Cúpula Mundial sobre


Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+10. Em seus debates, emergiu a
necessidade de adoção de medidas concretas para executar os objetivos da Agenda 21 até
então não suficientemente implementados, além do enfoque na importância da concretização
de políticas públicas para um crescimento com sustentabilidade. Dois foram os documentos
oficiais da Cúpula Mundial: a Declaração Política e o Plano de Implementação.

A Declaração Política, denominada “O Compromisso de Johanesburgo sobre Desenvolvimento


Sustentável”, reafirma os princípios das duas conferências anteriores e faz uma análise da
pobreza e da má distribuição de renda no mundo. O Plano de Implementação é o documento
das metas, assentadas em três objetivos: (i) a erradicação da pobreza; (ii) a alteração nos
padrões insustentáveis de produção e consumo; (iii) a proteção dos recursos naturais para o
desenvolvimento econômico e social. A partir deles, o Plano de Implementação relaciona as
medidas de desenvolvimento sustentável para cada região do planeta.

Em junho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro foi palco da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A Rio+20 teve dois temas principais: (i) a
economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; (ii)
a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável (MELO, 2017). A Rio+20 não teve
a mesma representatividade das conferências anteriores. Os países desenvolvidos, diante da
crise econômica global de 2008, optaram por não se comprometer com medidas vinculantes
ou mesmo metas específicas para as diversas temáticas com pertinência ambiental. O
documento final da Conferência é denominado “O Futuro que Queremos”, contendo 283
tópicos que, em linhas gerais, relaciona a renovação dos compromissos políticos das
conferências anteriores (Estocolmo/1972, Rio/1992 e Johanesburgo/2002) e consigna
proposições genéricas sobre a economia verde e o quadro institucional para o
desenvolvimento sustentável (MELO, 2017).

Por fim, em 28 de julho de 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma
resolução declarando que todas as pessoas têm direito a um meio ambiente limpo e saudável
(ONU, 2022). Apesar de não ser vinculante, a resolução é um importante indicativo para a
proteção ambiental em todo o planeta.

A interface da proteção internacional e o direito nacional

As decisões proclamadas nas conferências das Nações Unidas e nos acordos internacionais têm
influência direta na estrutura jurídica e nos órgãos de governança ambiental nacional. Há uma
simbiose entre direito internacional e nacional na proteção ambiental. Isso se dá tanto pela
incorporação dos tratados ambientais na ordem jurídica brasileira quanto pela inspiração na
elaboração de diplomas legais na legislação brasileira.

Inicialmente, a aprovação de um tratado pelo Brasil passa por estágios, como a negociação; a
assinatura pelo representante do Estado, no caso do Brasil, o Presidente da República; a
aprovação pelas duas casas do Congresso Nacional – Câmara dos Deputados e Senado Federal;
a ratificação, ato pelo qual o país assume a obrigação de cumpri-lo no plano internacional.
Com essas etapas, o tratado é válido em nível internacional. Contudo, para concluir a
incorporação do tratado, o Presidente da República edita um decreto com a sua promulgação
na ordem jurídica brasileira. Com isso, o Brasil assume uma série de obrigações para a
implementação correspondente, de acordo com as disposições específicas de cada convenção.
Para exemplificar, no caso da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, o Brasil assumiu o
compromisso de reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, o que implica uma série de
medidas e instrumentos para observar as prescrições da Convenção-Quadro, o que afeta todos
os setores do país, como o poder público, a esfera empresarial e a sociedade civil. O Acordo de
Paris, decorrência da Convenção-Quadro, também foi incorporado à ordem jurídica brasileira.
A propósito, o Supremo Tribunal Federal reconheceu recentemente o Acordo de Paris como
um tratado de direitos humanos, ou seja, possui um status especial, de supralegalidade,
estando acima da legislação brasileira, mas abaixo da Constituição (BRASIL, 2022). Isso significa
que a legislação ordinária terá que observar as normas do Acordo de Paris para a redução dos
gases de efeito estufa.
Figura 1
| Status dos Tratados de Direitos Humanos.

Outro exemplo de aplicabilidade dessa sistemática é Convenção sobre Diversidade Biológica,


que, além de incorporada internamente, proporcionou a edição do Decreto nº 4.339/2002,
com os princípios e as diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade.
Esses são somente alguns exemplos da dinâmica de relação entre as esferas nacional e
internacional. Portanto, os compromissos no âmbito internacional têm implicações diretas no
direito brasileiro. Ser signatário de um tratado em matéria ambiental é assumir obrigações
perante a comunidade internacional e conferir a sua observância na ordem jurídica doméstica.

A partir da normatização internacional, temos reflexos na ordem jurídica brasileira, inclusive


em nível constitucional. Até mesmo instrumentos sem força jurídica vinculante, como as
declarações, têm influência. A Declaração de Estocolmo, de 1972, inseriu o meio ambiente no
rol dos direitos humanos, enquanto o Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, consignou que
o meio ambiente deve ser protegido para as presentes e futuras gerações. O art. 225 da
Constituição de 1988, que é o coração da proteção ambiental em nível constitucional, dispôs
que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental e que deve ser
protegido para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Essa passagem demonstra a
influência das discussões da ONU. Em nível infraconstitucional, o exemplo mais significativo é a
Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, que trouxe princípios internacionais de proteção ao
meio ambiente, que são atualmente previstos na legislação brasileira, como os princípios da
precaução, poluidor-pagador, participação comunitária, informação e análogos. No mesmo
sentido, a Agenda 21, elaborada em 1992, que apesar de não ser obrigatória, serviu de
parâmetro para muitas iniciativas nos órgãos da Administração Pública brasileira e no setor
empresarial.

Com relação à legislação propriamente dita, o Brasil editou leis a partir das discussões
originárias nos documentos e acordos das organizações supranacionais. Como exemplos, a Lei
nº 12.187/2009, que instituiu a Política Nacional de Mudanças do Clima, e a Lei nº
13.123/2015, que disciplina conteúdo atinente à biodiversidade e ao patrimônio genético.

No que se refere à estrutura administrativa brasileira, ela é igualmente influenciada pelas


conferências das Nações Unidas. Após a realização da Conferência de Estocolmo, o Brasil criou,
em 1973, no âmbito do Ministério do Interior, a Secretaria Especial de Meio Ambiente da
Presidência da República, como primeiro órgão nacional de proteção ao meio ambiente, tendo
como secretário o Sr. Paulo Nogueira Neto. Em 1992, após a Cúpula da Terra (Rio-92), a
Secretaria de Meio Ambiente se transformou no Ministério do Meio Ambiente e Amazônia
Legal, integrando a estrutura diretamente vinculada à Presidência da República (MELO, 2017).
Por todos esses elementos, evidencia-se a influência do domínio internacional em face da
legislação brasileira.
Videoaula: Proteção ambiental internacional

Nesse vídeo, conheceremos o sistema de proteção internacional ao meio ambiente, a partir do


sistema global das Nações Unidas (ONU). Para tanto, faremos uma abordagem do processo de
afirmação da proteção ambiental, a partir das conferências da ONU. Por fim, demostraremos a
relação entre o direito internacional e o direito brasileiro. Vamos juntos? Estou te aguardando
para essa aula!

Saiba mais

Nessa aula, estudamos o sistema internacional de proteção ao meio ambiente. Como forma de
aprofundar, uma sugestão é conhecer o site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(Cetesb), que mantém um banco de dados com as principais convenções internacionais em
matéria de meio ambiente. Trata-se de uma oportunidade de conhecer os documentos e
instrumentos globais das principais temáticas ambientais. Procure conhecer e aprofundar o
conhecimento sobre os principais documentos ambientais em nível internacional.

Aula 02: Desenvolvimento sustentável

Introdução

Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco em uma aula sobre um tema fundamental para a
sua formação profissional: a sustentabilidade.

Atualmente, não há nenhuma discussão estatal ou empresarial que prescinda da


sustentabilidade enquanto um valor central para as nossas sociedades, em todas as escalas, do
global ao local. Por meio da sustentabilidade, temos o compromisso de compatibilização das
atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente.

Assim, conhecer o surgimento, os desafios e a implementação da sustentabilidade é uma


competência essencial na formação dos profissionais contemporâneos. A sustentabilidade é
uma proposição necessária para uma sociedade ética e socialmente comprometida com o
planeta.

Vamos juntos no estudo dessa instigante temática!


A concepção de desenvolvimento sustentável

As ocorrências das expressões sustentabilidade e desenvolvimento sustentável encontram-se


associadas nos documentos oficiais, sejam internacionais ou nacionais. Contudo, deve-se
apontar que sustentabilidade é uma expressão mais antiga e com significado singular.
Sustentabilidade é uma palavra de origem latina, sustentare, e significa sustentar, manter algo.
O conceito de sustentabilidade surgiu nas províncias da Saxônia e da Prússia, nos primórdios
da modernidade, nos processos de manejo das florestas (BOFF, 2016) e se consolidou na
Alemanha do século XIX, dando origem à prática da silvicultura (restauração de florestas).

Na primeira metade do século XX, a sustentabilidade esteve majoritariamente ligada aos


domínios da biologia e, em especial, da ecologia. Ao longo da segunda metade do século XX, o
termo se estende para a problemática da explosão demográfica e da poluição na sociedade
global, como alertou o zoólogo Eugene Odum (2001, p. 812):

“chegou o momento de o homem administrar tanto a sua própria população com os recursos
de que depende, dado que pela primeira vez na sua breve história se encontra perante
limitações definitivas, e não puramente locais”.

Tal estado de coisas se deve à intensidade das intervenções antropogênicas que afetaram
decisivamente

“[...] o frágil e complexo equilíbrio entre componentes e acontecimentos que determinam a


organização do ecossistema no Planeta Terra ao longo de milhões de anos” (ALMEIDA, 2016, p.
58).

A noção de sustentabilidade, em sentido amplo, é primordialmente a manutenção dos


sistemas de suporte à vida. Portanto, a sustentabilidade é um conceito sistêmico, visto que
conjuga saberes interdisciplinares, especificamente aqueles de sustentação da vida no planeta
e, no caso da vida humana, os processos econômicos, sociais, culturais e, claro, ambientais.

A partir dos domínios da ecologia, com as suas preocupações com a superpopulação, uso dos
recursos naturais e a poluição e seus resíduos, houve a transposição de suas análises para
outros domínios, notadamente através dos relatórios patrocinados pelo Clube de Roma, grupo
de empresários e pensadores formado no final da década de 1960 e que patrocinou uma série
de discussões sobre o futuro do planeta. Um dos estudos foi particularmente importante, o
denominado Os limites do crescimento, do ano de 1972, elaborado por cientistas
do Massachusetts Institute of Technology (MIT), também conhecido como Relatório Meadows,
por ter sido liderado por Dennis Meadows e Donella Meadows. A principal conclusão desse
estudo científico foi de que:

Se se mantiverem as tendências actuais de crescimento da população mundial, da


industrialização, da poluição, da produção de alimentos e de esgotamento de recursos, os
limites de crescimento do nosso planeta serão atingidos nos próximos cem anos. O resultado
mais provável vai ser um declínio súbito e incontrolável da população e da capacidade
produtiva. (TAMARES,1983, p. 151)

Contudo, o relatório científico apontou:

É possível alterar essas tendências de crescimento e criar condições de estabilidade ecológica e


económica que podem ser mantidas a longo prazo. O estado de equilíbrio global pode ser
concebido de forma a garantir, a cada habitante da Terra, a satisfação das necessidades
materiais básicas e a igualdade de oportunidades por forma que cada pessoa possa atingir a
sua plena realização humana. (TAMARES, 1983, p. 151)

Apesar das críticas que recebeu, diante de suas projeções pouco otimistas sobre o futuro da
humanidade, deixando clara a finitude de recursos naturais em uma sociedade de consumo
acelerado, o Relatório Meadows contribuiu para que as discussões ambientais adentrassem
definitivamente no tabuleiro global. Afinal, ele tocou num ponto central para o sistema
econômico global: a necessidade de limitações nos padrões de produção e consumo.

É a partir desse momento que entra em debate uma série de termos e teorias para equacionar
as premissas do crescimento econômico em um mundo finito, limitado. Por isso, a ideia de
crescimento, central para o pensamento moderno e intensificada após o término da Segunda
Guerra Mundial, precisará ser sustentada, razão pela qual se iniciam as formulações teóricas
para uma concepção de desenvolvimento, que deverá ser sustentável. Isto é, um
desenvolvimento em que a economia seja sustentada pelo uso racional dos recursos naturais;
o que é preciso reconhecer, trata-se de um dos grandes desafios da contemporaneidade.
Gradativamente, como veremos, as expressões desenvolvimento e sustentabilidade serão
associadas, com o surgimento da compreensão de desenvolvimento sustentável e de uma
multiplicidade de sentidos para a palavra sustentabilidade.

A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência sobre o Meio
Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia. Nesse período, deu-se o delineamento dos
contornos da expressão ecodesenvolvimento por Maurice Strong – Secretário-Geral dessa
Convenção –, cabendo a Ignacy Sachs a popularização do conceito como um projeto de
desenvolvimento socialmente inclusivo, ecologicamente viável e economicamente sustentado,
o qual se converteu com o passar dos anos no conceito de desenvolvimento sustentável.

A expressão desenvolvimento sustentável apareceu pela primeira vez no ano de 1980 no


documento intitulado Estratégia de Conservação Mundial (World Conservation Strategy), que
foi editado pelas organizações ambientalistas União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUNC) e World Wildlife Fund (WWF), a pedido das Nações Unidas (BARBIERI, 2020).

Em 1983, a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo
longo ciclo de audiências e debates com líderes políticos e organizações em todo o planeta
resultou, em 1987, como conclusão de suas atividades, no Relatório Nosso Futuro Comum,
também conhecido como Relatório Brundtland, nome dado em homenagem à senhora Gro
Harlen Brundtland, a ex-primeira-ministra da Noruega, que havia presidido os trabalhos
(MELO, 2017). Esse documento definiu os contornos clássicos do desenvolvimento sustentável,
que passou a ser considerado como aquele

“[...] que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as
futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas” (ONU, 1991).

O Relatório Nosso Futuro Comum é um manifesto essencialmente ético, de conjugação da


economia com os propósitos de justiça social e ambiental. A partir de sua elaboração,
expressões como desenvolvimento sustentável e sustentabilidade passam a ser associadas
como sinônimos.
Em 1992, a ONU realizou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92) e o conceito de desenvolvimento sustentável cristalizou-se por meio de um dos seus
principais documentos: a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, cujas principais proposições seguem:

Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável.


Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza (princípio 01).

O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas
equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações
presentes e futuras (princípio 03).

Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte


integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste
(princípio 04).

Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o


desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim
de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da
população do mundo (princípio 05).

Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para
todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo,
e promover políticas demográficas adequadas (princípio 08). (ONU, 1992, [s. p.])

A Declaração do Rio Janeiro pretendeu, através de suas proposições, conciliar os pleitos do


mercado capitalista com as carências dos países em desenvolvimento e pobres, o que
terminou por elencar princípios contraditórios. De qualquer forma, por meio de uma
declaração flexível – soft law –, foi possível articular o desenvolvimento sustentável em escalas
e esferas, do global ao local, dos mercados à sociedade civil, apesar de tal abrangência se
reduzir ao plano discursivo.

Outro documento representativo dessas conjugações foi igualmente editado ao término dos
trabalhos da Rio-92, a ambiciosa Agenda 21. Trata-se de um documento programático, com 40
capítulos, com as diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável em todas
as escalas, do global ao local, para o século XXI (MELO, 2017). Apesar de festejada em sua
edição, a Agenda 21 foi perdendo força com os passar dos anos.

A interpretação sobre desenvolvimento sustentável foi consolidada com a Cúpula Mundial


sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), realizada em Johannesburgo, África do Sul, em
2002. A conferência admitiu as limitações e as dificuldades na implementação da Agenda 21,
mas reafirmou o significado de desenvolvimento sustentável da Rio-92. A Declaração de
Johannesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável defendeu o capitalismo verde, diante da
globalização e que

“[...] a rápida integração de mercados, a mobilidade do capital e os significativos aumentos nos


fluxos de investimento mundo afora trouxeram novos desafios e oportunidades para a busca
do desenvolvimento sustentável” (MELO, 2017, p. 29).

Contudo,
“[...] os benefícios e custos da globalização são distribuídos desigualmente, e os países em
desenvolvimento enfrentam especiais dificuldades para encarar esse desafio” (MELO, 2017, p.
29).

Da edição do Relatório Brundtland, passando pela Agenda 21 até chegar aos dias atuais, a
esfera internacional reforçou o aspecto de multiplicidade de significados de desenvolvimento
sustentável e da expressão sustentabilidade, que, inclusive, foi apropriada por adjetivações,
tais como sustentabilidade ambiental, econômica, social, cultural e tantas outras digressões.
Apesar dessas perspectivas, as expressões desenvolvimento sustentáveis e sustentabilidade
conjugam a abordagem preferencial dos documentos oficiais e diplomas legais.

A aplicação do desenvolvimento sustentável no âmbito estatal e corporativo

O desenvolvimento sustentável é um princípio no direito brasileiro. A Constituição de 1988,


em seu art. 170, disciplina que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho e na
livre-iniciativa e visa assegurar uma existência digna para todos conforme os ditames da justiça
social, com a observância, entre outros, dos princípios da função social da propriedade e da
defesa do meio ambiente (BRASIL, 1988). Por função social entende-se que o exercício do
direito de propriedade impõe o respeito pelas normas ambientais (MELO, 2017). A defesa do
meio ambiente nas atividades econômicas ocorre igualmente por meio do tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação (BRASIL, 1988).

Na ordem constitucional brasileira, o desenvolvimento sustentável encontra-se na conjugação


do art. 170 – ordem econômica – com o art. 225 – proteção ao meio ambiente –, ambos da
Constituição Federal (MELO, 2017). Apesar disso, há uma constante tensão na implementação
das atividades econômicas com as normas jurídicas de proteção ambiental. Daí surge a
indagação: em caso de confronto entre uma atividade econômica e a proteção ao meio
ambiente, qual é a interpretação que deverá prevalecer? Embora sejamos uma economia de
livre mercado, nenhuma atividade pode ser exercida em desconformidade com a proteção ao
meio ambiente. Afinal, só é possível uma existência com dignidade se as pessoas possam viver
em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sem poluição, com salubridade. E se não
temos o ambiente saudável, como falar em saúde e qualidade de vida? Apesar dessas
afirmações serem reconhecidas por todos, sabemos que a questão é bem mais complexa. Por
isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a disciplinar a matéria, decidindo que é
necessária a compatibilização entre atividades econômicas e proteção ao meio ambiente.
Contudo, consignou que as atividades econômicas não podem ser exercidas em desarmonia
com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente (MELO, 2017). Nos
termos da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.540,

“[...] a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios
destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente”.

E conclui que:

“A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais
nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica [...]” (BRASIL, 2005, [s.
p.]).

Portanto, é necessário sempre buscar a compatibilização entre atividades econômicas e


proteção ao meio ambiente; na impossibilidade, é preciso atentar para as questões
ambientais. E isso porque a preocupação somente na dimensão econômica tem ocasionado os
danos e desastres ambientais que são constantemente relatados nos meios de comunicação,
em que pessoas, populações ou cidades são afetadas. Afinal, ao se privilegiar somente os
argumentos econômicos, continuamos somente como crescimento econômico, e a
sustentabilidade torna-se meramente retórica, sem qualquer efetividade.

Em meados da década de 1990, o britânico John Elkington propõe o termo Triple Bottom
Line (TBL), no âmbito corporativo norte-americano, o qual fica conhecido no Brasil como o
tripé da sustentabilidade, conjugando as dimensões econômica, social e ambiental. Esse
conceito possui como elementos constitutivos os três Ps da sustentabilidade (people, planet,
profit; ou em português, pessoas, planeta e lucro). Em suma, as empresas devem buscar o
lucro corporativo, mas com responsabilidade social em suas operações, que devem estar
alinhadas no compromisso ambiental com o planeta (MELO, 2017). O TBL é utilizado
atualmente como um dos indicadores de mensuração da sustentabilidade para governos, setor
empresarial e organizações sem fins lucrativos.

O tripé da sustentabilidade associa os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Por


sustentabilidade econômica, o uso racional e eficiente dos recursos naturais, com o uso de
tecnologias que diminuam os impactos ambientais e as externalidades negativas. A
sustentabilidade social envolve uma distribuição de renda justa, de modo a reduzir as
desigualdades e promover os valores de uma sociedade inclusiva. Por sustentabilidade
ambiental, respeitar e proteger os ciclos de regulação dos processos ecológicos essenciais, de
modo a garantir recursos para as presentes e futuras gerações, em uma concepção que as
variáveis ambientais sejam integradas aos ciclos econômicos.

No âmbito governamental, um exemplo de aplicação do tripé da sustentabilidade é a Agenda


Ambiental na Administração Pública (A3P), que articula a promoção da sustentabilidade nas
entidades da Administração Pública Direta e Indireta em nível federal, estadual e municipal,
nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Apesar da adesão ser voluntária, a A3P é
um relevante programa de práticas governamentais sustentáveis.

Uma outra leitura de sustentabilidade procura dividi-la em duas abordagens: sustentabilidade


fraca e sustentabilidade forte (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). A sustentabilidade fraca é aquela
que se baseia na economia clássica, em que o capital natural pode ser substituído pelo capital
produzido e que, por consequência, não há limites para o crescimento econômico. Nesse
pensamento, é possível adotar soluções tecnológicas para solucionar os problemas ambientais.
Já a sustentabilidade forte assenta-se na economia ecológica, isto é, a ausência do capital
natural impõe limites para o crescimento econômico. Essa compreensão tem como
fundamento a preservação dos componentes ecológicos, de forma que será preciso conter os
fatores de pressão, ou seja, limites para uma economia de crescimento contínuo. Em qualquer
dessas perspectivas, é importante compreender a importância que a sustentabilidade assume
na contemporaneidade, como elemento essencial para as nossas sociedades.

Videoaula: Desenvolvimento sustentável

Nesse vídeo, quero convidá-lo para conhecer as principais discussões sobre a sustentabilidade,
um valor fundamental em nossas sociedades. Faremos uma abordagem do processo de
afirmação do desenvolvimento sustentável e das principais interpretações sobre a
sustentabilidade, no âmbito público e empresarial. Trata-se de um tema que estará muito
presente no seu dia a dia. Vamos juntos? Estou te aguardando para essa aula!
Aula 03: Políticas públicas ambientais

Introdução

Querido aluno, você sabe o que são políticas públicas? Qual é a importância delas em nossa
sociedade? E como as políticas públicas ambientais dialogam com as atividades econômicas?

Esta é a temática da nossa aula: as políticas públicas ambientais. Estudaremos a Política


Nacional do Meio Ambiente, que é o diploma legal estruturante das políticas e da governança
ambiental no Brasil. Você conhecerá o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com os órgãos em
nível federal, estadual e municipal responsáveis pela promoção e proteção ao meio ambiente.
Além disso, faremos uma abordagem de dois dos principais instrumentos da Política Nacional
que regulamentam as atividades econômicas: a avaliação de impactos ambientais e o
licenciamento ambiental.

Venha conosco conhecer os principais fundamentos da estrutura normativa e de governança


ambiental no nosso país.

O conceito de políticas públicas

O que é uma política pública? Quando ela deve ser elaborada? Quem participa da sua
elaboração? Qual o conteúdo de uma política pública? Essas são perguntas necessárias para a
compreensão da importância das políticas públicas de responsabilidade social e ambiental. São
múltiplas as interpretações para essas indagações, mas vamos nos ater às respostas que
dialogam com a nossa atuação profissional.

Quando um problema público é identificado, surge a necessidade de ofertar respostas e


alternativas para resolvê-lo. Situações socialmente sensíveis exigem do poder público uma
diretriz. Essa diretriz é o que chamamos de políticas públicas (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019),
isto é, o mecanismo de atuação estatal para a resolução de problemas públicos. Portanto,
esses, socialmente reconhecidos por atores estatais e não estatais, entram na agenda de
discussões do poder público e, como tal, exigem a formulação de políticas públicas para as
mudanças possíveis e pretendidas

Fi
gura 1 | A formação da política pública. Fonte: elaborada pelo autor.
A pergunta seguinte é: a quem cabe a elaboração de políticas públicas? Há duas interpretações
para essa indagação (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019). De um lado, há os que defendem a
centralidade dos atores estatais na elaboração dessas – por exemplo, agentes políticos e
técnicos dos poderes Executivo e Legislativo –, pela legitimidade e pela capacidade de alocar
recursos financeiros para equacionar os problemas públicos. Do outro lado, há os que
advogam uma compreensão multicêntrica, de que a elaboração das políticas públicas é uma
conjugação da atuação de atores estatais com os atores não estatais, como empresas,
sindicatos, organizações religiosas, organizações não governamentais etc. No caso brasileiro,
as dinâmicas das políticas públicas estão diretamente ligadas ao Estado pela sua centralidade e
intervencionismo histórico. Isto é: o Estado brasileiro é o responsável pela elaboração de
políticas públicas. Mas o fato de ser o responsável não impede a participação dos grupos de
interesse, como o setor empresarial e a sociedade civil.

É importante destacar que o Brasil é uma Federação, em que o Estado divide suas atribuições
com competências atribuídas aos seus entes federativos União, estados-membros, Distrito
Federal e municípios. Assim, políticas públicas são formuladas em termos espaciais ou
territoriais, isto é, aquelas que interessam a todo o país são políticas nacionais, como é o caso
do meio ambiente, da educação, da saúde e de outras áreas. Em articulação com as políticas
nacionais, as políticas estaduais e municipais são estabelecidas atendendo às especificidades e
singularidades de cada recorte territorial.

Mas, qual o conteúdo de uma política pública? Como já mencionamos, uma política pública
parte de um problema público, uma situação que a sociedade exige um conjunto de ações
para a resolução do problema. A política pública abrange o reconhecimento do problema e o
nível de mudança pretendido, ou seja, as transformações desejadas. É nesse ponto que temos
o conteúdo de uma política pública. Essa é composta de princípios, objetivos e instrumentos
para a sua concretização. Os princípios são os elementos estruturantes que balizarão a política
pública; é por meio deles que são definidas as estratégias. Quanto aos objetivos, eles articulam
as mudanças pretendidas, os estágios de implementação de uma política pública e, por vezes,
o tempo necessário. Já os instrumentos são as ações, os meios e os mecanismos que permitem
que a política pública alcance os seus objetivos.

Uma outra forma de compreender as políticas públicas é por meio dos níveis operacionais.
Nesse sentido, temos três níveis: plano, programa e projetos. No plano, temos os princípios,
objetivos e instrumentos, como já estudamos no parágrafo anterior. O plano deve ser aplicado
por meio de programas, que são os recortes ou desdobramentos dele. Para exemplificar, os
programas podem ser aplicados no âmbito dos estados ou dos municípios e podem ser
divididos em projetos, que são a menor unidade de planejamento ou de ação. Portanto,
políticas públicas possuem níveis operacionais na articulação e operacionalização por meio de
um plano, que é um nível estruturante e de longo prazo; com os programas, em um nível
intermediário e de médio prazo; com os projetos, de curto prazo e em um nível operacional
(SECCHI; COELHO; PIRES, 2019). A imagem a seguir expõe os níveis operacionais de uma
política pública.
Pois bem, feitas essas considerações, estudaremos agora as políticas públicas em matéria
ambiental.

As principais políticas públicas de proteção ao meio ambiente no Brasil

Uma política pública ambiental é uma diretriz de planejamento e intervenção estatal, com a
participação do setor produtivo e dos atores não governamentais, para a proteção do meio
ambiente. Uma política pública ambiental condiciona e disciplina as atividades econômicas e
sociais em compatibilização com a proteção ambiental.

No Brasil, as políticas públicas ambientais existem desde a década de 1930, com a aprovação
do Código Florestal de 1934, do Código de Águas de 1934 e outros diplomas legais (BURSZTYN;
BURSZTYN, 2012). Na década de 1970, teve início a estruturação dos órgãos administrativos de
proteção ao meio ambiente, mas de forma fragmentada. Esse quadro mudaria na década
seguinte.

A efetiva concepção de proteção ao meio ambiente ocorreu somente em 1981, quando foi
editada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938. Essa é a lei
estruturante da proteção ambiental brasileira e traz os princípios, objetivos e instrumentos
para uma política ambiental para o Brasil.

Em primeiro plano, é preciso mencionar a importância dos princípios, uma vez que toda
política ambiental ocorre pela observância deles. No contexto das nossas discussões, dois
merecem destaque: o princípio da prevenção e o princípio da precaução. O princípio da
prevenção significa agir antecipadamente para evitar os possíveis danos ambientais, que
costumam ser irreversíveis. Assim, as políticas ambientais são formuladas de forma a prevenir
os impactos ambientais negativos. Por meio do princípio da precaução, deve-se observar que,
em situações que predominem a incerteza científica, com a ausência de pesquisas e estudos
científicos sobre as possíveis consequências de atividades econômicas sobre a saúde das
pessoas e o meio ambiente, não se façam as intervenções pretendidas. Esses dois princípios
são balizadores das políticas públicas no Brasil.

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) estabeleceu como objetivo geral:“[...] a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]” (BRASIL, 1981, [s. p.]).
Nota-se que a PNMA conjuga o desenvolvimento das atividades sociais e econômicas com a
proteção ambiental, de forma a assegurar a dignidade humana.

O art. 4º da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981) elenca os seus objetivos específicos. Destacaremos os
três mais relevantes para a nossa discussão. O primeiro deles é a

“[...] compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade


do meio ambiente e do equilíbrio ecológico” (BRASIL, 1981, [s. p.]).

Esse objetivo é o que chamamos atualmente de desenvolvimento sustentável, ou seja,


compatibilizar as atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. O segundo
objetivo é o

“[...] estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao


uso e manejo de recursos ambientais” (BRASIL, 1981, [s. p.]).

Cabe ao poder público estabelecer padrões de qualidade ambiental para o ar, os recursos
hídricos e o solo. O terceiro objetivo é a

“[...] imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos” (BRASIL, 1981, [s. p.]).

Esse último objetivo articula dois aspectos que convergem para o conteúdo de princípios
ambientais. O primeiro é o princípio do poluidor-pagador, que estabelece a obrigação do
poluidor de reparar os danos causados ao meio ambiente. O segundo é o princípio do usuário-
pagador, que impõe o pagamento pelo uso de recursos ambientais com fins econômicos, como
no caso da cobrança pelo uso de recursos hídricos. Por exemplo, uma empresa ou uma
atividade agropecuária que faça a captação de água em um rio – em níveis que afetem a
qualidade ou a quantidade desse curso d’água – deve pagar por esse uso.

Outro ponto fundamental da Lei nº 6.938/1981 foi a criação do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (Sisnama), que é o conjunto de órgãos da União, estados, Distrito Federal,
municípios e suas respectivas administrações indiretas, responsáveis pela proteção, pelo
controle, pelo monitoramento e pela melhoria da qualidade e da política ambiental no país.
Trata-se da estrutura responsável pela administração ambiental no Brasil. O Sisnama é
regulamentado pelo Decreto nº 99.274/1990 (BRASIL, 1990) e estrutura-se em seis recortes
fundamentais:

1. Órgão superior: o Conselho de Governo, com a finalidade de assessor o Presidente da


República nas questões ambientais.

2. Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),


com a função de assessor o Conselho de Governo e, especialmente, de deliberar sobre
normas e padrões compatíveis com o meio ambiente.

3. Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar a


política nacional e as diretrizes para a proteção ambiental.

4. Órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que
são autarquias federais responsáveis por executar e fazer executar as diretrizes
governamentais para o meio ambiente.
5. Órgãos seccionais: os órgãos ou as entidades estaduais responsáveis pela execução de
programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a
degradação ambiental.

6. Órgãos locais: os órgãos ou as entidades municipais responsáveis pelo controle e pela


fiscalização dessas atividades nas suas respectivas jurisdições.

Por fim, é preciso evidenciar que a partir da PNMA surgiram outras políticas públicas em áreas
específicas em matéria ambiental, como a Política Nacional de Recursos Hídricos; a Política
Nacional de Resíduos Sólidos; a Política Nacional de Biodiversidade; a Política Nacional
Educação Ambiental; a Política Nacional de Mudança do Clima e outras. O fato de termos
políticas em nível nacional mostra a preocupação da articulação entre a União, os estados, o
Distrito Federal e os municípios.

As políticas públicas e a regulação das atividades econômicas

As políticas públicas ambientais possuem uma interface imediata com as atividades


econômicas, especificamente por meio de programas e procedimentos para disciplinar e
condicionar empreendimentos e atividades potencialmente poluidores ou causadores de
degradação. No caso da Política Nacional do Meio Ambiente, dois de seus instrumentos,
previstos em seu art. 9º (BRASIL, 1981), são fundamentais para a regulação das atividades
econômicas: a avaliação de impactos ambientais e o licenciamento ambiental.

A avaliação de impactos ambientais é um instrumento de gestão ambiental que dispõe sobre a


obrigatoriedade de estudos sobre os impactos ambientais de atividades e empreendimento
potencialmente causadores de poluição ou degradação ambiental. A avaliação de impactos
ambientais é a análise técnica sobre os possíveis impactos, que se dá por meio dos estudos
ambientais. Um exemplo é o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, conhecido pela sigla
Eia/Rima, com previsão constitucional e obrigatório para as atividades e empreendimento
potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente (BRASIL, 1988).
Note que o Eia/Rima não é para todos os empreendimentos; o pressuposto é que a obra ou
atividade seja potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, como
é o caso de rodovias, ferrovias, atividades de mineração e outras (CONAMA, 1986). O Eia/Rima
é um estudo público, complexo, elaborado pelo empreendedor, que será analisado pelo órgão
ambiental competente. Agora, quando o empreendimento não for causador de significativa
degradação ambiental, os estudos ambientais serão simplificados, como é o caso do Relatório
Ambiental Preliminar (RAP), aplicável para obras e atividades poluidoras e degradadoras, mas
não de forma significativa.

A avaliação de impactos ambientais está diretamente ligada a outro importante instrumento


da PNMA: o licenciamento ambiental. Isso porque, no curso de um licenciamento ambiental,
teremos a necessidade de elaboração de estudos ambientais por parte dos empreendedores.
O licenciamento ambiental, segundo Melo (2017, p. 221), é um procedimento administrativo
com a

“[...] finalidade de avaliar os possíveis impactos e riscos de uma atividade ou empreendimento


potencialmente causador de degradação ambiental ou poluição”.

Esse instrumento é uma manifestação do princípio da prevenção, ou seja, tem como objetivo
antecipar e mitigar os impactos negativos de uma empresa ou atividade potencialmente
causadora de poluição ou degradação ambiental. Enquanto procedimento, o licenciamento
ambiental passa por etapas, em que o empreendedor deverá observar as prescrições do órgão
ambiental para a obtenção das licenças ambientais do seu negócio. No licenciamento
ambiental trifásico, que é o mais completo, é necessária a obtenção de três licenças
ambientais. São elas (MELO, 2017): (i) licença prévia, obtida com a aprovação do projeto e de
sua localização; (ii) licença de instalação, em que o projeto é implementado e ganha
materialidade; (iii) licença de operação, que permite o funcionamento da empresa. Caso o
empreendimento seja potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, o empreendedor deverá elaborar o Eia/Rima, cuja aprovação pelo órgão ambiental
enseja a concessão da licença prévia, prosseguindo, depois, com as demais etapas. A
propósito, nos casos de exigência de Eia/Rima, será possível a realização de audiência pública,
na garantia do princípio da participação comunitária. Podem requerer a audiência pública o
próprio órgão ambiental licenciador, o Ministério Público, uma entidade da sociedade civil ou
cinquenta ou mais cidadãos (CONAMA, 1987).

O licenciamento ambiental pode ser realizado por qualquer ente federativo – União, estados-
membros, Distrito Federal e municípios –, desde que tenha órgão ambiental capacitado e
conselho de meio ambiente. Para exemplificar, no âmbito federal temos o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) – órgão ambiental – e o
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Esses dois requisitos são obrigatórios para
que um ente federativo proceda ao licenciamento ambiental. A divisão de atribuições entre os
entes federativos encontra-se na Lei Complementar nº 140/2011, que divide as ações
administrativas entre os entes federativos.

Em uma síntese, a União licenciará os empreendimentos localizados e desenvolvidos (i) no


Brasil e em país limítrofe; (ii) no mar territorial, na plataforma continental ou na zona
econômica exclusiva; (iii) em terras indígenas; (iv) em unidades de conservação instituídas pela
União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); (v) em dois ou mais Estados; (vi) de
caráter militar; (vii) destinados a material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem
energia nuclear, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); entre
outras atribuições (BRASIL, 2011). Os estados-membros promoverão o licenciamento de
atividades ou empreendimento efetivos ou potencialmente poluidores ou capazes de causar
degradação, ressalvada as atribuições dos demais entes; ou de atividades ou
empreendimentos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em APAs
(BRASIL, 2011). Por fim, os municípios licenciarão os empreendimentos que causem ou possam
causar impacto ambiental de âmbito local, ou em unidades de conservação instituídas pelo
município, exceto em APAs (BRASIL, 2011).

O licenciamento ambiental é, portanto, um instrumento de grande centralidade para as


atividades econômicas em nosso país.

Videoaula: Políticas públicas ambientais

Nesse vídeo, estudaremos as políticas públicas ambientais. Qual a importância delas e como se
relacionam com as suas atividades profissionais? É o que responderemos! Para isso, faremos
uma leitura da Política Nacional do Meio Ambiente e do Sistema Nacional do Meio Ambiente.
Ao final, o estudo de um importante instrumento: o licenciamento ambiental. Vamos juntos?
Estou te aguardando para essa aula!
Aula 04: Responsabilidade em matéria ambiental

Introdução

Querido aluno, nessa aula, estudaremos um dos temas mais importantes para a sua formação
acadêmica e profissional: a responsabilidade em matéria ambiental.

Apesar do sistema jurídico ambiental pautar-se na prevenção das condutas consideradas


lesivas ao meio ambiente, sabemos que mesmo assim elas ocorrem, em especial, os danos
ambientais. E é nesse momento que surge a discussão da nossa aula. Afinal, será preciso
responsabilizar as pessoas físicas e jurídicas que violam as normas jurídicas de proteção ao
meio ambiente.

Assim, você conhecerá os principais fundamentos da responsabilidade civil, penal e


administrativa em matéria ambiental, com a leitura dos tribunais superiores sobre os principais
pontos dessa aula.

Tenho certeza de que você vai gostar desse conteúdo!

Vamos juntos!

O conceito de dano ambiental

O arcabouço jurídico de proteção ao meio ambiente tem como objetivo a prevenção aos
impactos ambientais que causem poluição ou degradação, notadamente em casos de dano
ambiental. Com a ocorrência de um dano ambiental, adentra-se nas discussões sobre a
responsabilidade em matéria ambiental (MELO, 2017).

Em que pese a sua importância, o ordenamento jurídico brasileiro não confere uma definição
de dano ambiental. Por essa razão, a sua compreensão passa por elementos doutrinários e
pela interpretação dos tribunais superiores, especialmente o Superior Tribunal de Justiça
(MELO, 2017). Antes de adentrar nos aspectos doutrinários e jurisprudenciais, é importante
conhecer dois conceitos legais e que estão associados ao entendimento do dano ambiental.
São eles: degradação da qualidade ambiental e poluição.

Considera-se degradação da qualidade ambiental a “[...] alteração adversa das características


do meio ambiente”, conforme o art. 3º, II, da Lei nº 6.938/1981 (BRASIL, 1981, [s. p.]). A
degradação da qualidade ambiental ocorre tanto pela ação antrópica (humana) quanto por um
evento natural, como um abalo sísmico ou uma erupção vulcânica.

Já o conceito de poluição possui amparo legal no art. 3º, III, da Lei nº 6.938/1981, considerada

[...] a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou


indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem
condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou
energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (BRASIL, 1981, [s. p.])

A poluição é a degradação da qualidade ambiental provocada por uma atividade


antropogênica, isto é, promovida pelo homem. A poluição é sempre negativa, e no
ordenamento jurídico brasileiro é um ilícito penal, conforme o art. 54 da Lei nº 9.605/1998
(BRASIL, 1998), e administrativo, ao teor do art. 61 do Decreto nº 6.514/2008 (BRASIL, 2008).

Quanto ao dano ambiental, Benjamin (2011, p. 132) vai defini-lo

“[...] como a alteração, deterioração ou destruição, parcial ou total, de qualquer dos recursos
naturais, afetando adversamente o homem e/ou a natureza”.

Leite e Ayala (2010, p. 102), após análise da legislação brasileira, apresentam o seguinte
conceito:

Dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intolerável causada por qualquer
ação humana (culposa ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse
da coletividade, em uma concepção totalizante, e, indiretamente, a terceiros, tendo em vista
interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem.

Por essa leitura, o dano ambiental pode atingir o macrobem ambiental, esse que é o meio
ambiente em uma visão global e integrada, como bem de uso comum do povo, e os
microbens, que são a parte corpórea do meio ambiente (fauna, flora etc.). Ademais, o dano
ambiental pode afetar interesses individualizáveis, patrimoniais ou extrapatrimoniais.

De comum entre esses conceitos é a caracterização, em regra, da dupla face do dano


ambiental, afetando a natureza e o homem. O dano ambiental possui

“[...] feição multifacetária, com implicações no macrobem ambiental, nos microbens


ambientais (florestas, rios, fauna etc.), no patrimônio material e moral de pessoas e da
coletividade” (MELO, 2017, [s.p.]).

Nesse sentido, diante das várias dimensões jurídicas, apresentaremos duas das principais
classificações doutrinárias e jurisprudenciais sobre o dano ambiental: quanto à extensão do
bem protegido e quanto à extensão do dano ambiental (LEITE; AYALA, 2010).

Figura 1 | Classificação de dano ambiental. Fonte: elaborada pelo autor.


Quanto à extensão do bem protegido, é possível configurar como: (i) dano ambiental lato
sensu; (ii) dano individual, reflexo ou em ricochete.

Compreende-se como

“[...] dano ambiental lato sensu (em sentido amplo) o que afeta os interesses difusos da
coletividade e, como tal, todos os componentes do meio ambiente (meio ambiente natural,
cultural, artificial)” (MELO, 2017, p. 374).

Dano ambiental individual, reflexo ou em ricochete é

“[...] o dano individual, que afeta interesses próprios, e somente de forma indireta ou reflexa
protege o bem ambiental” (MELO, 2017, p. 374).

Para exemplificar, as lesões à saúde, ao patrimônio e à atividade econômica de uma ou de um


grupo de pessoas.

Quanto à extensão do dano, a divisão em: (i) dano patrimonial; (ii) dano extrapatrimonial.
Dano ambiental patrimonial

“[...] é o que diz respeito à perda material do bem atingido. É o dano físico, material” (MELO,
2017, p. 375).

Quanto ao dano extrapatrimonial ou moral ambiental, é aquele que ofende valores imateriais,
reduzindo o bem-estar, a qualidade de vida do indivíduo ou da coletividade ou atingindo o
valor intrínseco do bem. O dano extrapatrimonial pode ser dividido em individual e coletivo. O
dano moral ambiental individual é aquele que acarreta dor ou sofrimento psíquico para uma
pessoa, como no caso de um pescador impedido de exercer sua atividade econômica por causa
de um dano ambiental. O dano moral ambiental coletivo, por sua vez, se dá pelo prejuízo à
imagem e moral coletiva dos indivíduos. Com esses apontamentos, fica evidenciado o caráter
multifacetário do dano ambiental no ordenamento jurídico brasileiro.

A responsabilidade nas esferas civil, penal e administrativa

Entende-se por responsabilidade a obrigação de responder pela ação ou omissão que seja
lesiva a uma pessoa, patrimônio ou em face de uma obrigação legal. Na esfera ambiental, a
responsabilidade surge com a conduta considerada lesiva ao meio ambiente. Nesse sentido, a
Constituição Federal de 1988 disciplina a responsabilidade em matéria ambiental nos
seguintes termos:

“as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,


pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados” (BRASIL, 1988, [s. p.]).

Essa norma estabelece a tríplice responsabilidade em matéria ambiental: civil, penal e


administrativa. Cada uma delas dispõe de um regime jurídico próprio que, apesar de
disciplinarem a aplicação de sanções aos responsáveis, a preocupação central está em reparar
os danos causados ao meio ambiente.
Figura 2 | Natureza jurídica da responsabilidade ambiental. Fonte: elaborada pelo autor.

A responsabilidade penal ambiental é disciplinada pela Lei nº 9.605/1998, também conhecida


como Lei de Crimes Ambientais. No caso de cometimento de um crime ambiental, conforme os
tipos penais, teremos a imputação da pessoa física ou jurídica. Essa responsabilidade é sempre
subjetiva, com a necessidade de comprovação da culpabilidade – dolo ou culpa – do autor do
crime. Uma das novidades da Lei nº 9.605/1998 foi instituir a responsabilidade penal da
pessoa jurídica,

“[...] nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade” (BRASIL,
1998, [s. p.]).

Dois são os requisitos para configurar a responsabilidade penal da pessoa jurídica: (i) a decisão
deve ser praticada pelo representante legal ou pelo órgão colegiado da empresa; (ii) a conduta
deve satisfazer ou beneficiar os interesses da pessoa jurídica. Assim, uma decisão do
representante legal/contratual ou de um órgão colegiado, que beneficie a empresa, enseja a
discussão do cometimento de um ilícito penal e, caso se confirme, ela poderá ser condenada
isolada, cumulativa ou alternativamente às penas de multa, restritivas de direitos e prestação
de serviços à comunidade (BRASIL, 1998). Registra-se que não é obrigatório a dupla imputação,
isto é, a persecução penal simultânea da pessoa jurídica e da pessoa física responsável no
âmbito da empresa. Já as pessoas físicas que cometem crimes ambientais poderão sofrer as
penas restritivas de liberdade, restritivas de direitos e multa, de acordo com o crime ambiental
cometido.

A responsabilidade administrativa ambiental, por sua vez, surge quando a pessoa física ou
jurídica pratica uma infração administrativa que, segundo definição legal, é

“[...] toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente” (BRASIL, 1998, [s. p.]).

Em nível federal, o Decreto nº 6.514/2008 disciplina as infrações administrativas e o processo


administrativo ambiental. Na responsabilidade administrativa, que é subjetiva – há que
demonstrar o dolo e a culpa do responsável –, ao se verificar o cometimento de uma infração
ambiental, o fiscal do órgão ambiental – que pode ser federal, estadual ou municipal – lavra
um auto de infração e aplica uma sanção à pessoa física ou jurídica, que pode ser uma multa,
suspensão de atividades, demolição de obra e outras (BRASIL, 2008). Com isso, é instaurado o
processo administrativo, em que o autuado poderá se defender dos fatos e fundamentos
consignados no auto de infração e, ao final, a decisão da autoridade administrativa ambiental.

Por fim, temos a responsabilidade civil ambiental. No caso da ocorrência de um dano


ambiental, o responsável, pessoa física e jurídica, de direito público ou privado, é obrigado à
reparação. O ordenamento jurídico brasileiro adota, desde a Lei nº 6.938/1981, a teoria da
responsabilidade civil objetiva, em que é necessária somente a comprovação do nexo de
causalidade entre a conduta e o dano, sem discutir sobre a culpabilidade, isto é, não é preciso
investigar a culpa ou o dolo do poluidor/degradador. Além disso, a adoção da teoria da
responsabilidade objetiva implica a irrelevância da licitude ou ilicitude da atividade e que
questões como caso fortuito e de força maior não são excludentes.

A licitude de uma atividade ou um empreendimento, quer autorizado ou licenciado, não afasta


ou atenua a responsabilidade do poluidor. Isso porque, nas palavras de Milaré (2011, p. 1257),

“[...] não raras vezes o poluidor se defendia alegando ser lícita a sua conduta, porque estava
dentro dos padrões de emissão traçados pela autoridade administrativa e, ainda, tinha
autorização ou licença para exercer aquela atividade”.

O fato do empreendimento ou da atividade ter se submetido ao licenciamento ambiental, por


exemplo, não exime a empresa da obrigação de reparar as consequências de suas
intervenções, especialmente em caso de dano ao meio ambiente. De forma direta, o
argumento da licitude da atividade não afasta eventual responsabilidade do poluidor. Em
paralelo, é tese do STJ que

“[...] não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente”
(BRASIL, 2018a, [s. p.]).

Com relação ao caso fortuito e da força maior, que são clássicas excludentes de
responsabilidade, elas não podem ser invocadas para elidir a obrigação de reparar os danos
causados. Uma vez que o empreendedor assume a atividade, ele é integralmente responsável
pelos danos decorrentes de sua atividade econômica. Isso porque o STJ adota a teoria do risco
integral em matéria ambiental, que não admite excludentes e atenuantes na responsabilização
do degradador (BRASIL, 2014).

A reparação do dano ambiental

Ao se verificar a ocorrência de um dano ao meio ambiente, é necessário que se proceda à sua


reparação, que deve ser integral.

A primeira pergunta é: quem deve reparar? Por evidente, o causador do dano ambiental.
Todavia, essa resposta precisa ser adequada com a figura do poluidor no sistema jurídico
brasileiro. Conforme a Lei nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, o
poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou de direito privado, direta ou
indiretamente responsável pela poluição ou degradação ambiental (BRASIL, 1981). Por esse
conceito, tanto pessoas de direito privado – empresas – quanto as entidades da Administração
Pública Direta – União, estados, Distrito Federal e municípios – e indireta – autarquias,
fundações públicas e outras – podem ser consideradas como poluidoras. Mas, há um aspecto
muito importante: o poluidor pode ser direto ou indireto. O poluidor direto é aquele que
efetivamente causou a degradação, ao passo que o poluidor indireto é aquele que, de alguma
forma, contribuiu para o dano ambiental. Como exemplo, instituições financeiras podem ser
responsabilizadas por empréstimos a empresas que causem danos ambientais; a empresa
como poluidora direta, a instituição financeira como poluidora indireta, porque sem o
empréstimo não teria ocorrido o dano ambiental. E o último ponto a ser destacado é que pela
jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) os poluidores direto e indireto
são solidários, significa dizer que aqueles que participaram do dano ambiental ou que tiraram
proveito da atividade são igualmente responsáveis pela reparação. Assim, uma ação civil
pública – a principal ação de natureza ambiental – pode ser ajuizada em face de ambos,
poluidor direto ou indireto, ou de qualquer um deles.

A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981) e a Lei da Ação Civil Pública
(BRASIL, 1985) relacionam, basicamente, duas formas de reparação do dano ambiental: (i) a
reparação/restauração e a (ii) indenização pecuniária. Uma outra modalidade de reparação é
destacada pela doutrina: a compensação ecológica (MELO, 2017). Dessa forma, são três as
modalidades de reparação do dano ambiental: (i) reparação específica (in natura); (ii)
compensação ecológica; (iii) indenização pecuniária. Destaca-se, em um primeiro momento,
que a ordem estabelecida deve ser observada, ou seja, deve ser priorizada a reparação
específica sobre as demais modalidades, que são subsidiárias.

A reparação específica, também chamada de in natura, é aquela no local em que ocorreu o


dano ambiental e, assim, encontra-se na perspectiva de retorno do equilíbrio ecológico, ou
pelo menos uma situação mais próxima (MELO, 2017). Nessa modalidade, é o próprio bem
lesado que deve ser reparado. Por exemplo, se o dano é o desmatamento de dez hectares de
vegetação primária, a reparação será no próprio local, com a obrigação de fazer, consistente
na recomposição da área desmatada.

Agora, se não for possível a reparação específica, adentra-se nas hipóteses de compensação
ecológica ou de indenização pecuniária. A compensação ecológica é a substituição do bem
lesado por outro equivalente (MELO, 2017). Para essa modalidade, além da impossibilidade da
reparação específica, é preciso que a área a ser compensada seja do mesmo tamanho da área
do dano e que tenha a mesma importância ecológica. A indenização pecuniária, por fim, é a
forma clássica de reparação no direito civil, mas subsidiária no direito ambiental (MELO, 2017).
Os valores arrecadados a título de indenização são destinados para o fundo para reconstituição
dos bens lesados, criado pela Lei da Ação Civil Pública.

Uma questão relevante é a cumulação de pedidos em uma ação civil pública ambiental, isto é,
tanto a reparação específica – obrigação de fazer ou de não fazer – quanto a indenização
pecuniária. O STJ entende por essa possibilidade. Segundo a Súmula 629,

“quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não


fazer cumulada com a de indenizar” (BRASIL, 2018b, [s. p.]).

Portanto, aquele que cometer um dano ambiental poderá ser obrigado reciprocamente a
reparar onde ocorreu o dano ambiental e destinar recursos financeiros para o fundo para
reconstituição dos bens lesados.

Por fim, a pretensão de reparação aos danos causados ao meio ambiente é imprescritível,
conforme decidiu o STF (BRASIL, 2020). Por outras palavras, uma ação civil pública de
reparação de danos causados ao meio ambiente não está sujeita ao instituto da prescrição,
podendo ser ajuizada mesmo que tenha se passado vários anos da ocorrência do dano. Trata-
se de demonstração da relevância do bem ambiental, cuja proteção é imprescindível para
todas as atividades humanas.

Videoaula: Responsabilidade em matéria ambiental

Nesse vídeo, estudaremos um dos temas mais importantes no âmbito profissional: a


responsabilidade em matéria ambiental. Você conhecerá as dimensões do dano ambiental e a
responsabilidade civil, penal e administrativa das pessoas físicas ou jurídicas que cometem
condutas lesivas ao meio ambiente. Por fim, conhecerá as formas de reparação do dano
ambiental. Vamos juntos? Estou te aguardando para essa aula!

Saiba mais

Um dos maiores desastres ambientais do Brasil foi o rompimento da barragem de rejeitos da


mineração no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de
2015. Durante o processo de reparação, um dos ajustes feitos entre as empresas responsáveis
pela barragem e o Ministério Público Federal foi a assinatura de um Termo de Transação e
Ajustamento de Conduta. Nele ficou estabelecida a criação de uma organização autônoma,
dedicada às atividades de reparação e compensação dos impactos ambientais na Bacia do Vale
do Rio Doce. Essa organização é a Fundação Renova. Trata-se de uma entidade que hoje é
responsável por vários projetos e iniciativas de reparação dos danos ambientais do acidente de
Mariana. Você pode conhecer o trabalho da Fundação Renova em seu site.

Aula 05: Revisão da unidade

Governança para a sustentabilidade

A questão ambiental é um componente indissociável dos processos econômicos. Os Estados,


as corporações e a sociedade discutem a relação entre economia e meio ambiente. Em uma
sociedade global, com os fluxos econômicos e com a interação de sistemas empresariais, os
temas ambientais estão presentes em todos os níveis. Por isso, a importância de conhecermos
as estruturas de governança ambiental, tanto em nível internacional quanto nacional.

Toda a dinâmica de reconhecimento dos problemas ambientais e a formulação de normas de


regulação e de governança ambiental tiveram início nos eventos promovidos pela Organização
das Nações Unidas (ONU). A partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, e da criação do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), uma série de encontros entre os
atores globais – organizações internacionais, Estados e entidades não governamentais –
passaram a discutir os desafios para superar os efeitos causados pelo crescimento econômico
acelerado e o comprometimento da disponibilidade de recursos ambientais. Nisso, assume
relevância a necessidade de compatibilizar os avanços econômicos sem desestruturar os
sistemas ecológicos. É nesse momento que o desenvolvimento, uma temática que ganhou
força após a Segunda Guerra Mundial, passa a ser articulado com a necessidade de ser
sustentado, ou seja, cria-se a concepção de um desenvolvimento que possa ser durável,
sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi consolidado com o Relatório Nosso Futuro


Comum, da ONU, de 1987, o qual declarou que o uso dos recursos naturais pelas presentes
gerações não pode comprometer a disponibilidade para as futuras gerações. Trata-se de um
compromisso ético entre gerações e de afirmação de um desenvolvimento que seja
sustentado. Essa concepção adentrou em todos os âmbitos institucionais, de governos ao setor
corporativo, da escala global à local. Tanto que hoje nenhuma discussão prescinde da
sustentabilidade enquanto norteadora das atividades econômicas, em que pese as tensões e
dificuldades de conjugação, sobretudo em países como o Brasil, em que as exigências
materiais mínimas para a maioria da população continuam a ser um objetivo a ser superado
em nossa sociedade.

Nesse contexto, as políticas públicas são um mecanismo fundamental para a promoção da


sustentabilidade. No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é o diploma legal
estruturante, com os princípios, objetivos e instrumentos de proteção e promoção do meio
ambiente. A PNMA criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com os entes e órgãos
responsáveis pela proteção do ambiente em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
Além disso, temos os instrumentos da PNMA, que regulamentam as atividades econômicas,
como é o caso do licenciamento ambiental, que estabelece a conjugação dos valores
econômicos e da proteção ao meio ambiente.

Embora toda a sistemática ambiental esteja assentada na definição de políticas e instrumentos


de prevenção aos danos ambientais, é preciso disciplinar as consequências jurídicas pela não
observância das prescrições legais. É nesse ponto que surge um tema de fundamental
relevância profissional: a responsabilidade ambiental das pessoas físicas e jurídicas
responsáveis por condutas consideradas lesivas ao meio ambiente. Por disposição
constitucional, essa reponsabilidade impõe sanções penais e administrativas aos poluidores,
que são obrigados a reparar os danos causados. A responsabilidade em matéria ambiental é
um mecanismo de defesa contra as intervenções deletérias ao ambiente, assumindo um tema
central no dia a dia de qualquer profissional dos setores corporativos.

Videoaula: Revisão da unidade

Olá! Tudo bem? Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre a proteção ambiental
internacional e nacional. Conheceremos as principais conferências das Nações Unidas para, em
seguida, adentrarmos nas políticas públicas ambientais, em especial, a Política Nacional do
Meio Ambiente. Por fim, realizaremos uma abordagem da responsabilidade civil, penal e
administrativa em matéria ambiental. Quero convidá-lo para dialogarmos sobre a governança
para a sustentabilidade. Vamos juntos?

Estudo de caso

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área
ambiental e foi contratado por determinada entidade da sociedade civil para emitir análise
técnica sobre um caso que envolve a conduta poluidora de uma empresa e a possível
responsabilidade em matéria ambiental.
Nesse sentido, trata-se de problemática que envolve empresa do ramo têxtil, em que o
processo industrial envolve o uso intensivo de produtos químicos. A atividade é considerada
potencialmente causadora de significativa degradação, sendo que a empresa se submeteu ao
licenciamento ambiental, com a elaboração do estudo prévio de impacto ambiental
(Eia/Rima). Durante o procedimento administrativo, foi realizada audiência pública e uma
parcela significativa da população das cidades vizinhas manifestou-se contrária à instalação do
empreendimento, por estar muito próximo de um rio que abastece várias cidades e pelos
riscos envolvidos. Apesar das manifestações contrárias, o órgão ambiental licenciador
concedeu as licenças ambientais e a empresa está em operação há mais de três anos.

No início do ano de 2022, diante dos efeitos econômicos advindos da pandemia, a empresa
resolveu cortar custos operacionais, e um dos aspectos mais afetados foram as operações de
tratamento dos efluentes líquidos e gasosos gerados em sua dinâmica industrial. Apesar da
redução de custos no sistema de tratamento de efluentes, as metas financeiras pretendidas
não foram atingidas.

Diante disso, no mês de setembro de 2022, uma decisão do diretor-presidente da empresa


determinou que os funcionários fizessem o lançamento dos efluentes da empresa diretamente
no rio que atravessa a área do empreendimento. Com essa destinação direta no curso d’água,
houve uma redução dos custos operacionais, já que os fluentes não precisaram de
tratamento.

No entanto, essa decisão teve consequências imediatas, com a mortandade de peixes e a


contaminação da água, com o uso impróprio por semanas, impedindo que os moradores das
cidades vizinhas pudessem usá-la no abastecimento público e como insumo de seus processos
produtivos, em especial, na agricultura e na pecuária. Diante da repercussão negativa, a
empresa veio a público se manifestar e pedir desculpas pelo ocorrido. Contudo, alegou que
não pode ser responsabilizada porque é uma atividade devidamente licenciada pelo órgão
ambiental estadual e que adota padrões internacionais de sustentabilidade, inclusive o lema
da empresa baseia-se no tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Além disso,
que a sua responsabilização poderia levar ao fechamento de suas atividades e à dispensa de
seus funcionários.

Diante desse relato, a análise agora é com você. Para tanto, emita as suas considerações sobre
a possível responsabilidade da empresa no caso em questão.

Reflita

Procure refletir e discorra sobre a importância do licenciamento ambiental no contexto


empresarial. Veja que é um instrumento necessário para avaliar os impactos ambientais das
atividades econômicas. Mas, procure refletir e descreva, igualmente, que a exigência do
licenciamento não supre o dever de observar as prescrições legais de proteção ao meio
ambiente, sob pena de ser responsabilizada civil, penal e administrativamente pelos danos
causados. Portanto, o licenciamento ambiental é somente o primeiro passo para uma empresa
comprometida com a proteção ao meio ambiente.

Videoaula: Resolução do estudo de caso

Vamos, juntos, articular os principais aspectos para a resolução do nosso estudo de caso.
Em primeiro lugar, é necessário contextualizar que o caso se trata de um dos aspectos mais
recorrentes e sensíveis da nossa realidade: o desenvolvimento de atividades econômicas em
respeito à proteção ao meio ambiente. Trata-se de uma questão recorrente no universo
profissional, mas com consequências para todos, uma vez que os impactos ambientais têm
efeitos sociais e econômicos. Para a resolução, é importante identificar que o problema
conjuga o conhecimento dos instrumentos regulatórios das atividades econômicas previstos na
Lei nº 6.938/1991, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, em especial, o
licenciamento ambiental, com a responsabilidade ambiental, ou seja, as consequências pelo
descumprimento das normas ambientais, com a ocorrência de dano ambiental.

Nesse sentido, a partir do problema proposto, nota-se que a empresa cumpriu normalmente
os procedimentos do licenciamento ambiental. Por se tratar de atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, foi exigida a realização do estudo
prévio de impacto ambiental (Eia/Rima), inclusive com a realização de audiência pública,
momento de informação e participação da sociedade. Diante da regularidade das etapas
procedimentais, foram concedidas as licenças ambientais, com o funcionamento das
operações.

Contudo, podemos notar que, diante das dificuldades financeiras, especialmente decorrentes
dos efeitos da pandemia de Covid-19, a empresa optou por reduzir custos e direcionou esse
intento nos procedimentos e nas medidas de controle de suas externalidades, ou seja,
daquelas que podem causar poluição. E, aqui, temos o início do problema, porque, ao reduzir
as medidas de tratamento de efluentes, de uma atividade que é reconhecidamente poluidora,
aumentaram os riscos de um dano ambiental, que viria a ser confirmado.

O lançamento de efluentes, com a contaminação do rio, ocasionou o dano ambiental. Esse


teve reciprocamente duas dimensões: (i) causou danos à natureza, com a mortandade de
peixes; (ii) impossibilitou o uso da água para o abastecimento público e insumo de atividades
produtivas (MELO, 2017). Por isso, no caso em análise, a empresa será responsável por esses
aspectos.

Quanto às alegações da empresa, elas não coadunam com o sistema jurídico brasileiro, isso
porque a Constituição Federal, em seu art. 225, § 3º (BRASIL, 1988), determina a tríplice
responsabilidade – civil, penal e administrativa – para os causadores de dano ao meio
ambiente. No caso, é possível discutir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, porque
houve uma decisão do órgão colegiado, que beneficiou a empresa, já que deixou de investir
recursos financeiros com essa conduta que, ao final, ocasionou o crime de poluição (BRASIL,
1998). Além disso, essa conduta pode ser analisada à luz da responsabilidade administrativa
ambiental (BRASIL, 2008). E, por fim, implicará a obrigação de reparar os danos causados ao
meio ambiente.

O argumento de que a empresa é licenciada não afasta a obrigação de reparar os danos


causados ao meio ambiente. Ademais, usar a justificativa da empregabilidade e do possível
fechamento como forma de se esquivar da responsabilidade, além de não ter qualquer
embasamento jurídico, representa uma lógica de privatizar os lucros e socializar os prejuízos
com a sociedade. Por evidente, isso não se coaduna com os parâmetros de uma empresa que
se apresenta seguindo o tripé da sustentabilidade. Esses são, em síntese, os principais
argumentos para o deslinde da sua atuação como consultor ambiental.
Resumo visual:

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