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Universidade Federal do Ceará

Faculdade de Direito
Disciplina: Direito Ambiental
Docente: Profa. Geovana Cartaxo

Discente: Vitória Virna Girão Chaves

ALBERGARIA, Bruno. História do Direito Ambiental. In: Direito Ambiental, v.1,


p.127-141.

RESUMO

O presente artigo trata, de maneira simples e completa, da evolução histórica do Direito


Ambiental no Brasil, tendo em vista não somente as leis em si que tratam sobre o meio ambiente,
mas fazendo um estudo baseado nos fundamentos, objetivos da proteção jurídica, conforme
afirma o autor. Inicia, dessa maneira, pontuando que um estudo acerca das normas ambientais no
Brasil remonta inevitavelmente, em seu início, ao estudo da legislação lusitana. Isso porque é
certo que o Direito Ambiental, conforme conhecido atualmente, como um novo ramo do Direito,
é resultado de um contexto pós-Revolução Industrial de percepção da escassez dos recursos
naturais, porém, conforme afirma Albergaria, as normas ambientais são remotas, datando de
período bem anterior a 1972, ano marco do surgimento do Direito Ambiental. Os fundamentos
dessas normas, no entanto, tinham um caráter utilitário, bem diferente do Direito Ambiental atual,
visando, assim, garantir a alimentação, a fixação do homem ao solo ou, até mesmo, ordenar a
exploração devido ao valor econômico do bem.
Durante o Brasil Colônia, vigoravam em Portugal as Ordenações Afonsinas de 1446, que
já continham normas relacionadas a proteção da madeira com vistas a proporcionar o projeto de
expansão ultramarina do país, assim como, normas que previam a proibição de corte de árvores
frutíferas e regulamentavam a caça a mamíferos e aves. Em 1521, foram criadas as Ordenações
Manuelinas com previsões acerca da exploração do pau-brasil e, principalmente, relacionadas a
questão alimentícia, grande problema da época. As normas ambientais passam a acompanhar,
assim, as mudanças econômicas na colônia, regulando a mineração e, posteriormente, com os
primeiros sinais de degradação das florestas brasileiras, foram criadas leis protetivas ao
desmatamento, mas com objetivo de combater o contrabando de madeira ilegal.
Após a independência do Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a estabelecer a
competência da União para preservar as belezas naturais e os monumentos históricos. Na década
de 30, diversas legislações foram editadas visando a proteção individual de cada setor ambiental,
numa fase fragmentária. Foi criado assim o primeiro Código Florestal, um Código das Águas,
Código da Caça, regulamentação da fauna, dentre outras. Em 1965 foi criada a lei que instituiu a
ação popular, dando um passo importante na defesa de direitos de caráter difuso tal como o
ambiental.
Com a mudança na perspectiva sobre o Direito Ambiental, na década de 1970, apesar de
inicialmente contra a ideia de preservação, alegando a necessidade de crescimento econômica, o
Brasil passa a ter leis mais incisivas com relação a proteção ambiental, como a responsabilidade
objetiva por danos ecológicos e a criação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA, Lei nº
6938), em 1981. Em 1985, a Lei da Ação Civil Pública representou um importante passo na
proteção dos direitos difusos e coletivos. Por fim, a Constituição de 1988, promulgada após a
redemocratização do país, traz uma nova perspectiva ao Direito Ambiental, dedicando-lhe
capítulo próprio e previsão ampla. Desse modo, foram editadas, posteriormente, a Lei de Crimes
Ambientais (Lei nº 9605/98), a Política Nacional de Educação Ambiental, o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), dentre outras diversas normas que hoje regulamentam o
Direito Ambiental Brasileiro.
CITAÇÕES

“É consenso que o Direito Ambiental é um ramo do Direito Novo, que surgiu como uma
preocupação na pós-Revolução Industrial, tendo como marco inicial o Congresso de Estolcomo,
em 1972(GRANZIERA, 2009). Realmente, a possiblidade de degradação ambiental, resultante
da inserção de novas tecnologias, notadamente da força motriz movida à base de combustão
(inicialmente de motores à carvão, até se chegar aos hidrocarbonetos), fez a capacidade humana
de modificar o ambiente ser elevada à capacidade superior da sua recuperação espontânea. Ou
seja, a velocidade do dano tornou-se maior do que a natureza poderia absorver. Come efeito,
apresentou-se um novo paradigma sobre a necessidade de preservação da natureza após a referida
revolução, sentida e discutida principalmente no Congresso Mundial de Estolcomo, em 1972. As
normas de proteção ambiental são, porém, remotas, aliás, muito remotas.” (p. 127)
“De fato, as normas de cunho ambiental são tão antigas quanto as outras normas sociais
(ALBEGARIA, 2009), porém, pela análise da sua inserção no mundo jurídico, verifica-se que
houve uma transformação da sua finalidade, do seu escopo. [...]” (p. 127)
“Ipso facto, as primeiras normas de proteção do ambiente tinham o objetivo da busca e da
proteção incessante dos produtos destinados à alimentação, notadamente para a fixação do homem
ao solo. [...]” (p. 128)
“A questão do valor econômico também influiu na legislação de cunho ambiental. No
Brasil Colônia, a extração de pau-brasil era monopólio da Coroa portuguesa, que proibia o seu
corte, seu transporte e sua comercialização por particulares. Não porque a Coroa já estivesse
prevendo a iminência de sua extinção, mas porque o seu comércio rendia vultosas quantias para
o reino (MAGALHÃES, 2002).” (p. 128)
“Com o surgimento de uma nova ciência, a Ecologia, o meio ambiente passou a ter uma
tutela especifica, com características internacionais. Não é mais considerado como bem exclusivo
para a utilização das pessoas (antropocentrismo), mas como bem em si mesmo, que deve ser
protegido do poder de devastação do ser humano (biocentrismo).” (p. 129)
“Na época do descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500d.C., vigoravam, na
Metrópole, as Ordenações Afonsinas [...] que já continham normas protetoras das florestas
portuguesas, especialmente para controlar o emprego de madeiras utilizadas para dar impulso à
almejada expansão ultramarina portuguesa (WAINER, 1999). O corte de árvores frutíferas foi
proibido desde 1393; a sua violação era considerada crime de injúria ao rei.” (p. 130)
“A regulamentação da caça á mamíferos e aves foi também uma preocupação das normas
jurídicas portuguesas, tamanha era a falta de alimentos na Europa, àquela época. Para amenizar o
problema, foi incentivado o cultivo da terra, sob a pena de perda da propriedade rural. [...]” (p.
130)
“As Ordenações Manuelinas foram, sob a ótica da legislação ambiental, até mesmo
progressistas, pois continham várias normas de proteção à natureza, tais como a proteção às
abelhas no momento da coleta do mel, e a tipificação, como crime, do corte de árvores, para o
caso de valoração da responsabilidade civil.” (p.130)
“Nessa época, aplicava-se a teoria da responsabilidade subjetiva pelo dano causado “com
malícia” por animais e pomares vizinhos, expressa no alvará de 2 de outubro de 1607 e reiterada
pela lei de 12 de setembro de 1750. A contrario sensu, a lei de 24 de maio de 1608 exprime a
teoria da responsabilidade objetiva por danos causados pelo gado nos olivais vizinhos, sem culpa
do dono ou de seu empregado (WAINER, 1999).” (p.131)
“Com a invasão de Napoleão a Portugal, a família real mudou-se para o Brasil no ano de
1808, mais precisamente para o Rio de Janeiro, abrindo os portos para as nações amigas e, entre
outras benfeitorias, inaugurando o Jardim Botânico. Novas espécies de plantas foram trazidas
para o continente, tais como o abacateiro, a palmeira real, o chá e o cravo. Nessa época, as
florestas brasileiras já davam os primeiros sinais de devastação. Por esse motivo foram
promulgadas leis que prometiam alforriar os escravos que denunciassem o desmatamento, e outras
sobre a responsabilidade solidária, que visava atingir o proprietário de terras que permitisse a
destruição da madeira. [...]” (p. 132)
“A década de 30 foi de grande avanço para a legislação ambiental infraconstitucional. Com
uma visão ainda setorial, isto é, procurando proteger separadamente os diferentes setores do
ambiente, tais como fauna, flora, mas, águas continentais e atmosfera, várias leis foram editadas
visando à proteção desses sítios isoladamente. [...]” (p.135)
“Nos anos 1950, as fábricas destinadas à construção de armamento bélico durante a guerra
foram transformadas para reconstruir e redesenhar o mundo. As primeiras grandes catástrofes
ambientais aconteceram, e o mundo voltou-se para um novo problema de alcance mundial: a
poluição. O desgaste ambiental acompanhou, em razão direta, a maciça e vertinosa
industrialização pós-guerra, cujas consequências, como se veria, estavam a exigir uma nova
postura mundial. O desenvolvimento a qualquer preço não atendia mais à sociedade internacional.
Afinal, o padrão de vida coletivo estava sendo prejudicado pela degradação ambiental.” (p.136)
“No Congresso das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente humano, em 1972, na cidade
de Estolcomo, Suécia, com a participação de 114 países, foi dado o primeiro alerta em relação à
necessidade de proteção efetiva do meio ambiente. Os países que ainda não haviam alcançado o
desenvolvimento pleno relutaram, entretanto, em aceitar essa nova ordem mundial. O Brasil, no
auge da Ditadura Militar, foi um dos países a legar que preferia o desenvolvimento a qualquer
custo, principalmente se fosse feito pela exploração do meio ambiente. [...]” (p.137)
“Foi marcante no mundo político e jurídico pátrio foi a instituição, em 31 de agosto de
1981, da Política Nacional do Meio Ambiente, expressa na fora da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981,
art.14, 1º), considerada por muitos estudiosos a lei-mãe do Direito Ambienta pátrio (SEGUIN,
2000). [...]” (p. 138)
“ [...] Pode-se dizer que a Constituição Federal de 1988 introduziu, no Direito Ambiental,
um novo marco, dedicando à matéria um capítulo próprio (BRASIL, 1988, cap. VI). Seu texto é
considerado um dos mais avançados do mundo.” (p. 139)

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