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DIREITO DE GREVE E FORMAS DE PROTEÇÃO AO EMPREGADOR

BOTASSE, Renan 1

RESUMO
O direito de greve, garantido pela Constituição Federal de 1988, é um direito de
extrema importância para os trabalhadores e empregadores, que infelizmente não o
compreendem da forma que deveriam. A falta da difusão da matéria dá oportunidade
para que ocorram abusos por parte dos grevistas, empregadores e até mesmo
juristas, uma vez que é escasso o material que trate da greve, em especial sobre seus
limites e defesa do empregador. O presente trabalho, por meio do método dedutivo,
utilizando-se de pesquisa bibliográfica, julgados, artigos acadêmicos e a legislação
brasileira, aborda o tema da greve, se estendendo às formas de defesa do
empregador e os limites desse direito no setor privado. Pretende-se analisar quais são
os abusos do direito de greve, bem como as consequências e a responsabilização
dos que ultrapassam os limites legais. Primeiramente, será feita uma análise do
histórico da greve no mundo e no Brasil. Na sequência, será abordado o exercício em
si do direito de greve, suas formas, direitos e deveres a serem respeitados, limites e
consequências do abuso, analisando os efeitos e consequências em cada esfera: civil,
trabalhista e penal.

Palavras-chave: Greve; Defesa do empregador; Direitos e deveres dos trabalhadores


e empregadores.

¹ Graduando do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do


Trabalho da Universidade Estácio de Sá de Vitória, Estado do Espírito Santo,
renanbotasse@hotmail.com.
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INTRODUÇÃO

O direito de greve é um direito fundamental e de extrema importância, e apesar


de ser tão importante e ser exercido com frequência, tanto os empregados quanto os
empregadores e sindicatos não têm plena consciência do que se trata o direito de
greve, nem mesmo de todos os direitos e deveres envolvidos no seu exercício, muito
menos dos limites a serem observados.
Dentro da seara do Direito do Trabalho, o direito de greve é um dos principais
tópicos, e dentro do direito de greve, um de seus pontos mais importantes são as
respostas do empregador aos atos dos empregados e sindicatos. Quando se trata das
respostas do empregador ao movimento grevista, alude-se ao direito de greve como
um todo, sendo explicadas as suas principais minúcias e explicitados os outros direitos
que esbarram nesse exercício, mostrando-se assim os pontos principais para defesa
do empregador perante a greve, além de versar sobre os aspectos principiológicos da
greve.
O presente trabalho pretende analisar o direito de greve com foco na defesa do
empregador. Pretende-se analisar as causas, consequências e efeitos da greve, tendo
em foco os meios de proteção patronal.
Essa pesquisa foi feita com base na doutrina, artigos científicos e documentos,
sendo consultados livros, revistas científicas, jurisprudências, leis, súmulas, tratados
e até mesmo processos.
Por se tratar de um dos principais tópicos do Direito do Trabalho o direito de
greve é de suma importância para todos, pois a base da sociedade é o trabalho, já
que sem este não existiria a sociedade desenvolvida como hoje é, sendo ainda mais
importante analisar os abusos causados pelo exercício de tal direito e as formas de
proteção aos empregadores. O presente artigo pretende servir de base para um
primeiro contato com o direito de greve, bem como aprofundar e aperfeiçoar o
entendimento do mesmo, focando sempre nas defesa do empregador.
O trabalho em referência tem como principais pontos a evolução da greve no
contexto mundial e brasileiro, seu conceito, mostrando quem são os titulares do direito
e quais os requisitos para o seu exercício, as modalidades de greve, os direitos e
deveres dos empregados e empregadores, os limites e abusos, bem como o dissídio
coletivo, tratando da responsabilidade civil, trabalhista e penal e formas de proteção
do empregador.
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1 DIREITO DE GREVE

1.1 ETIMOLOGIA E HISTÓRICO

A expressão greve é derivada da palavra francesa grève, proveniente da Place


de Grève, situada em Paris, França, na margem do Rio Sena, local de embarque e
desembarque de navios, onde gravetos trazidos pelo Sena se uniam. Orginalmente,
o termo “grève” significa cascalho, areal, ou seja, “terreno plano composto de cascalho
ou areia à margem do mar ou rio”. Essa praça era utilizada como local de encontro
dos trabalhadores, que deliberavam e debatiam medidas a serem tomadas para
alcançar os interesses do grupo, além de ponto de encontro dos que estavam à
procura de emprego (MARTINS, 2011).
Observando do ponto de vista histórico, percebemos que houve uma
modificação sensível no reconhecimento do direito de greve do proletariado, pois ao
fim do século XVIII e início do século XIX, durante a Revolução Francesa, a greve era
tratada como ilícito penal. Prova disto foi a Lei Le Chapelier que proibia o agrupamento
profissional para defesa de interesses coletivos (sindicatos). Da mesma forma, na
Inglaterra em 1800, a união dos trabalhadores era considerada crime contra a coroa.
Somente após metade do século XIX as coalizações trabalhistas passaram a ser
consideradas válidas, apesar do direito de greve continuar sendo considerado um
delito.
A evolução da fase de proibição para a fase de tolerância e, posteriormente,
reconhecimento como direito é relativamente simples e muito importante. Durante a
fase de proibição, houve uma divisão em ilícito civil, com consequências previstas na
resolução contratual, e ilícito penal, instituído como delito. Com a evolução social, a
greve passou a ser tolerada, deixando de constituir ilícito penal, mas continuando
como ilícito civil; posteriormente é reconhecida como direito, direito constitucional (no
caso do Brasil), considerada como forma de legitima defesa dos trabalhadores,
visando equilibrar a relação empregado-empregador.
No Brasil a greve percorreu um caminho diferente para se tornar o direito
fundamental que é. “No Brasil, a greve não é encontrada numa sucessão cronológica
de delito, liberdade e direito. Inicialmente, tivemos o conceito de greve como liberdade,
depois delito e, posteriormente, direito” (MARTINS, 2011, p. 863).
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Somente após a Constituição Federal de 1988, e com a criação da Lei 7.783


de 1989, houve a regulação da greve como é compreendida hoje. Definindo-se quais
eram as atividades essenciais e regulando o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade, a greve tomou outras proporções, sendo considerada um
direito fundamental.

1.2 CONCEITO

A expressão greve é derivada da palavra francesa grève, proveniente da Place


de Grève, situada em Paris, França, na margem do Rio Sena, local de embarque e
desembarque de navios, onde gravetos trazidos pelo Sena se uniam. Orginalmente,
o termo “grève” significa cascalho, areal, ou seja, “terreno plano composto de cascalho
ou areia à margem do mar ou rio”. Essa praça era utilizada como local de encontro
dos trabalhadores, que deliberavam e debatiam medidas a serem tomadas para
alcançar os interesses do grupo, além de ponto de encontro dos que estavam à
procura de emprego (MARTINS, 2011).
Observando do ponto de vista histórico, percebemos que houve uma
modificação sensível no reconhecimento do direito de greve do proletariado, pois ao
fim do século XVIII e início do século XIX, durante a Revolução Francesa, a greve era
tratada como ilícito penal. Prova disto foi a Lei Le Chapelier que proibia o agrupamento
profissional para defesa de interesses coletivos (sindicatos). Da mesma forma, na
Inglaterra em 1800, a união dos trabalhadores era considerada crime contra a coroa.
Somente após metade do século XIX as coalizações trabalhistas passaram a ser
consideradas válidas, apesar do direito de greve continuar sendo considerado um
delito.
A evolução da fase de proibição para a fase de tolerância e, posteriormente,
reconhecimento como direito é relativamente simples e muito importante. Durante a
fase de proibição, houve uma divisão em ilícito civil, com consequências previstas na
resolução contratual, e ilícito penal, instituído como delito. Com a evolução social, a
greve passou a ser tolerada, deixando de constituir ilícito penal, mas continuando
como ilícito civil; posteriormente é reconhecida como direito, direito constitucional (no
caso do Brasil), considerada como forma de legitima defesa dos trabalhadores,
visando equilibrar a relação empregado-empregador.
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No Brasil a greve percorreu um caminho diferente para se tornar o direito


fundamental que é. “No Brasil, a greve não é encontrada numa sucessão cronológica
de delito, liberdade e direito. Inicialmente, tivemos o conceito de greve como liberdade,
depois delito e, posteriormente, direito” (MARTINS, 2011, p. 863).
Somente após a Constituição Federal de 1988, e com a criação da Lei 7.783
de 1989, houve a regulação da greve como é compreendida hoje. Definindo-se quais
eram as atividades essenciais e regulando o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade, a greve tomou outras proporções, sendo considerada um
direito fundamental.

2 DIREITOS E LIMITES DO DIREITO DE GREVE

2.1 DIREITOS ASSEGURADOS AOS EMPREGADOS E SINDICATOS

Os direitos dos empregados ao exercer o direito de greve estão positivados no


Artigo 6° da Lei nº. 7.783/89, nos seguintes termos:

Artigo 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:


I – o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os
trabalhadores a aderirem à greve:
II – A arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento
§1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e
empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias
fundamentais de outrem
§2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o
empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de
frustrar a divulgação do movimento
§3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas
não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou
dano à propriedade ou pessoa.

A seguir será explanado objetivamente o artigo supracitado, individualizando


os preceitos de cada inciso e parágrafo.

2.1.1 Meios pacíficos de persuasão dos trabalhadores

Artigo 6º, I – O emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou


aliciar os trabalhadores a aderirem à greve.
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Deve haver o emprego pacifico de técnicas para persuasão, em seguida,


adesão de membros da categoria à greve. Um meio comum de persuasão é o piquete,
que divulga os benefícios e necessidades dos que reivindicam. Como o efeito do
piquete é erga omnes, pode-se ter a ideia de que não é necessária a adesão de todos
os trabalhadores, porém, deve-se ressaltar, quanto maior o número de grevistas maior
será a pressão exercida sobre os empregadores.

Em nenhuma hipótese poderá ser utilizado outro meio que não seja o pacífico
para persuadir os trabalhadores, caso ocorra qualquer tipo de coação para que o
trabalhador participe do movimento grevista, o movimento será deflagrado como
ilícito, perdendo a forma de greve bem como suas proteções.

2.1.2 Arrecadação de fundos e livre divulgação do movimento

Artigo 6º, II – a arrecadação de fundos e a livre divulgação do


movimento.

Os grevistas poderão pedir a colaboração de terceiros estranhos ao movimento


grevista para manter a greve, pois por vezes o sindicato não tem renda/incentivo
suficiente para arcar com os gastos necessários para manter a paralisação. A greve
não ocorre sem uma preparação, portanto há gastos com a divulgação, preparando a
sociedade/empregador para a greve, e durante o movimento também há gastos com
placas, adesivos, carros de som e uma infinidade de formas de divulgar o movimento.

2.1.3 Piquetes e outros meios de persuasão

Artigo 6º, §1º - Em nenhuma hipótese, os meios adotados por


empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos
e garantias fundamentais de outrem.

Os meios de divulgação da greve devem ser sempre pacíficos e focados em


convencer seus companheiros a aderirem e colaborarem com a greve e a sociedade.
Qualquer forma de manifestação que envolva agressão física ou com palavras de
baixo calão, que impeça a livre circulação de pessoas, impedindo outros trabalhadores
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ou até mesmo terceiros de adentrarem o local da empresa, e outras formas do mesmo


gênero tornará a greve abusiva por exercício irregular do direito.

A livre manifestação de pensamento é outro direito fundamental (CF,


art. 5º, IV) de modo que não é dado ao empregador impedir, na porta
da fábrica, a liberdade dos grevistas de dizer aos demais colegas o seu
ponto de vista sobre os problemas trabalhistas existentes com o patrão.
(NASCIMENTO apud MELO, 2011, p. 94).

Portanto, é legal toda forma de manifestação, independentemente se for


próximo à empresa ou não. Desde que não extrapole o seu direito (sem violência), ela
poderá ser exercida normalmente e caso ocorra a violação dos direitos elencados, a
greve passa a ser encarada como um movimento ilícito, sendo impossível o seu
prosseguimento, devendo o empregador ou Ministério Público do trabalho acionar o
poder judiciário para sepultar o movimento.

2.1.4 Acesso ao trabalho e dano à propriedade ou pessoa

Artigo 6º, 3º - As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos


grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar
ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.

Qualquer manifestação ou ato de persuasão deve ser pacífico, não podendo


colocar a integridade física e psíquica das pessoas em risco, muito menos causar
prejuízo à propriedade da empresa de forma anormal com a depredação do
patrimônio, lembrando que greve e prejuízo ao empregador estão umbilicalmente
ligados, mas esses prejuízos devem respeitar a não obtenção de lucros e não
destruição de patrimônio do empregador. Quando ocorrer prejuízo anormal, deverá
ser estudado caso a caso e punido o responsável, como preza o Código Civil, devendo
o causador reparar o dano causado.

O causador do dano patrimonial ou à pessoa, responderá de forma


individualizada perante o empregador, lembrando sempre que caso os danos sejam
causados pelo movimento grevista como um todo, como no caso de depredação por
multidões, é o movimento que responderá tanto na esfera civil como trabalhista
(administrativa).
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2.2 FORMAS ABUSIVAS E ILÍCITAS DO DIREITO DE GREVE

CASSAR (2013) traz em sua obra algumas modalidades de greve,


determinando objetivamente dois tipos de movimentos como abusivos, quais sejam:

A) greve de ocupação ou de habitação:

É considerada abusiva e ilícita no Brasil. Os empregados invadem o local da


prestação de serviço, ou se recusam a sair de lá, para que haja a paralisação da
produção, impedindo que os trabalhadores que desejam trabalhar o façam.

Para Nascimento (2009, p. 1325), a ocupação do estabelecimento da empresa


não é considerada greve e sim invasão de propriedade alheia, sendo passível de
medida possessória, seja esta reintegração de posse, manutenção de posse ou
interdito proibitório, lembrando que tais medidas possessórias deverão ser
ingressadas junto à Justiça do Trabalho e são as formas legais de defesa da
propriedade do empregador, quando o desforço não for suficiente, como será visto em
tópicos posteriores. Nesse mesmo sentido outros doutrinadores se posicionam.

A ocupação dos estabelecimentos da empresa pelos trabalhadores,


recusando-se a sair do local de trabalho e lá permanecendo sem
trabalhar, impedindo também que aqueles não participantes da greve
trabalhem, não é admitida entre nós. Essa conduta viola o direito
constitucional de propriedade e deve ser revertida mediante ordem
judicial de desocupação, com a consequente punição dos
responsáveis. (PAULO E ALEXANDRINO, 2010, p. 406).

B) greve política:

É compreendida como uma greve contra os poderes públicos, não visa o seu
empregador e pode ser feito com a intenção de alteração ou criação de nova lei. A
Justiça do Trabalho desconsidera esse tipo de greve como greve trabalhista, sendo
considerada abusiva, pois não depende do patrão. A motivação para a greve é o
governo e não o empregador. Portanto não há o que se falar na possibilidade de
manutenção do movimento grevista, sendo plenamente possível e empregador
ingressar com ação de dissídio coletivo, visando a condenação do movimento como
movimento abusivo, devendo os desembargadores determinarem o imediato retorno
dos funcionários aos seus postos.
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Apesar das definições dos tipos de greve sugeridos por CASSAR (2013), a
doutrina e jurisprudência vanguardista não divide os movimentos grevistas tão
claramente como lícita ou ilícita, há o entendimento de que tais termos devem ser
substituídos pela palavra abusiva ou não.

Como vivemos em um regime democrático de direito, não há cabimento para


direitos absolutos, o que ocorre é uma harmonização de direitos feita, muitas vezes,
pela mera ponderação. Dessa forma, mesmo sendo um direito fundamental, o direito
de greve deve respeitar outros direitos constitucionalmente assegurados, como:
saúde, liberdade, segurança, vida e outros. Portanto, os limites do direito de greve não
devem ser vistos como limites que castram um direito fundamental, mas, sim, como
ferramentas que o harmonizam com outros direitos fundamentais.

Os limites mais claros ao direito de greve estão: A) nos serviços e atividades


essenciais; B) no atendimento das necessidades inadiáveis da população; C) na
punição aos abusos cometidos por conta do exercício da greve; D) na limitação à
greve do servidor público; E) na proibição da greve para o serviço militar.

Os limites supracitados são os mais claros, entretanto, há mais elencados na


Lei de Greve (Lei nº. 7.783/89), e mesmo que surjam novos limites em lei específica,
seja para o exercício da greve no direito privado como para servidores públicos, a
limitação não poderá desnaturar o direito de greve, apenas harmonizá-lo a todos os
outros direitos e liberdades fundamentais, que são garantidos aos cidadãos,
lembrando que sempre caberá ao empregador o direito de defender-se de qualquer
tipo de atitude abusiva praticada pelos empregados.

Normalmente os excessos ocorrem quando não são respeitadas as limitações


impostas pela legislação do país, sendo muito comum a participação de categoria sem
motivo (greve de solidariedade), não informar a população e/ou empregador em tempo
razoável, destruir ou deteriorar bens do empregador ou de terceiros, até mesmo a
violência física ou moral contra as pessoas. Após o abuso é necessário que o
empregador manifeste-se para que haja sanção do movimento e do participante,
sendo responsabilizados, na esfera trabalhista, civil e penal, podendo receber
sanções cumuladas das três esferas sem gerar bis in idem.
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Os princípios de liberdade sindical não protegem excessos no exercício


do direito de greve que consistam em ações de natureza delituosa. Por
outro lado, ninguém deve ser privado de liberdade nem ser objeto de
sanções penais pelo simples fato de organizar uma greve pacífica ou
dela participar (OIT, 1996, §602). A imposição de sanções penais
desproporcionais de modo algum favorece o desenvolvimento de
relações de trabalho harmoniosas e estáveis, e as penas de prisão, se
impostas, devem ser justificadas em virtude das infrações cometidas e
estarem sujeitas a um controle judiciário regular (OIT, 1996, §§117 e
178). (MELO, 2011, p. 101).

Portanto, as sanções aos abusos praticados devem ser proporcionais e devem,


de fato, ocorrer pois, apesar de ser direito fundamental, não há direito absoluto, sendo
necessária a represália de atitudes que firam o direito da população, seja direito do
empregador ou de terceiro não envolvido diretamente com a situação.

No caso da legislação brasileira, o abuso do direito de greve está ligado


umbilicalmente a não observância das disposições da Lei nº. 7.783/89.

Artigo 14 – Constitui abuso do direito de greve a inobservância das


normas contidas na presente lei, bem como a manutenção da
paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da
Justiça do Trabalho.

Nesse sentido, Garcia (2011, p. 723), ao tratar do abuso do direito de greve,


praticamente transcreve o Artigo 14, dizendo que “a inobservância das determinações
desse diploma legal, a manutenção da paralisação após a celebração de acordo,
convenção ou sentença normativa, são caracterizadas como abuso do direito de
greve”. Ainda nesse tópico, Garcia (2011), conforme está disposto no Artigo 5º da
Constituição Federal e seus incisos, também afirma que está assegurado o direito à
livre manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato. Deverão ser
indenizados aqueles que sofreram danos a sua moral e danos materiais. Além de ser
assegurado o respeito às convicções políticas, crenças religiosas e filosóficas, sendo
assegurado também o direito à vida privada e à livre locomoção, devendo o direito de
greve respeitar todos esses conceitos fundamentais sob pena de incorrer em
abusividade.

Da mesma forma que Garcia fez, Paulo e Alexandrino (2010, p. 402) doutrinam
“Os grevistas têm a obrigação de respeitar os direitos constitucionais, tanto em relação
ao empregador, quanto aos demais trabalhadores e aos usuários dos serviços” e
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complementam: “Significa dizer que os grevistas não poderão ocupar ou danificar


instalações ou bens do empregador, violando o seu direito à propriedade (...). A moral
ou a imagem do empregador também não devem ser denegridos, estando sujeitos os
autores às sanções civis ou penais cabíveis”.

O abuso do direito de greve consiste, pois, no exercício imoderado,


indevido, irregular, ou anormal de qualquer direito, que importe no
ultrapassamento dos limites impostos pela boa-fé, pelos bons
costumes ou pelo fim social ou econômico do mesmo ou na geração
de danos injustos ou despropositados. Pode vir a ser praticado pelo
trabalhador, pelo empregador, pelas entidades ou coalização que os
representam na ocorrência de quaisquer das ações ou omissões
lembradas. (Sussekind, 2010, p. 632).

Também é necessário dizer que, de forma geral, a atitude de alguns grevistas


não toca na greve nem a greve toca os grevistas. Para Sussekind (2010), os grevistas
que praticarem atos que possam ser classificados como abusivos deverão ser
julgados e penalizados pela prática deles, mas essa abusividade não tornará a greve
abusiva, desde que os atos cometidos não sejam incentivados pelo movimento como
um todo. E nessa mesma condição, se a greve for abusiva, por não ter cumprido com
alguma determinação legal, os trabalhadores que aderirem a ela não poderão ser
penalizados, mesmo que a greve não seja lícita.

Apesar de estar tão ligado ao abuso do direito de greve a não prática de


determinado ato obrigatório por disposição legal ou pela extrapolação de determinado
direito, o Judiciário deve avaliar o abuso ou não do direito de greve seguindo critérios
maiores do que só o previsto no artigo 14, mas também com critérios já sedimentados
na doutrina e jurisprudência que tratem sobre o abuso do direito de greve.

O assunto do abuso do direito de greve se encontra de certa forma engessado


pela legislação, mas há um motivo de assim ser: a lei é de 1989, apenas um ano após
a edição da Constituição Federal, ou seja, o Brasil acabava de sair de um período de
21 anos do regime ditatorial no qual a greve foi tratada como um delito e não como
um direito fundamental do cidadão. Na verdade, não havia a necessidade da Lei de
Greve dizer o que ocasiona o abuso de seu exercício, e limitá-lo à “inobservância das
normas contidas na presente lei” não foi muito inteligente, pois o abuso do exercício
do direito de greve é um conceito muito amplo, sendo possível a sua solução se
houver a aplicação dos princípios gerais do direito e dos ramos atingidos pelo abuso.
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Deve-se ater ao posicionamento em que o abuso deverá ser enxergado pela


hermenêutica, e não apenas pela letra fria da lei (MELO, 2011).

Por fim, deve-se ressaltar que conforme o Artigo 188, inciso I do Código Civil,
ato ilícito praticado em legitima defesa ou no exercício regular de direito reconhecido,
não constitui ato ilícito. Quando o grevista cometer ato considerado ilícito, mas se
estiver no exercício regular de seu direito ou em legitima defesa, ele não estará
abusando de seus direitos (MARTINS, 2011).

2.3 DESCONSIDERAÇÃO DO DIREITO DE GREVE

Quem classifica e pune a greve e seus membros é o Poder Judiciário, sendo


de competência da Justiça do Trabalho, através dos Tribunais e Varas do Trabalho
de cada Região, os quais além de punir devem decidir acerca das reinvindicações,
dando procedência total ou parcial, ou até mesmo considerando improcedente aos
requerimentos feitos.

O doutrinador Melo (2011), afirma que a Emenda Constitucional nº 45,


modificou a competência da Justiça Comum para a Justiça do Trabalho, devendo esta
ser a responsável pela decisão sobre todos os resultados do movimento grevista, seja
na esfera cível ou na esfera trabalhista, devendo apenas preservar a competência dos
crimes praticados pelos grevistas junto a justiça comum.

Outra modificação relevante trazida pela EC n. 45 diz respeito aos


efeitos da greve, notadamente no caso de seu exercício abusivo. Como
é sabido, o §2º do artigo 9º da Constituição estabelece que os abusos
cometidos durante a greve ‘sujeitam os responsáveis às penas da lei’.
Anteriormente à alteração do artigo 114 da Constituição, não raro os
empregadores vinham acionando as entidades sindicais na Justiça
Comum para pleitear indenização ou medidas inibitórias ao exercício
abusivo do direito de greve. Em nosso entendimento, esse tipo de
demanda passou definitivamente à competência da justiça do
Trabalho. Primeiramente, porque é o que se depreende literalmente da
redação do inciso II do artigo 114. Percebe-se que o reformador utilizou
a expressão ‘ações que envolva exercício do direito de greve’ e não
‘ações que envolvam o direito de greve’. Em segundo lugar, porque o
inciso VI do mesmo artigo 114 atribuiu à Justiça do Trabalho ‘as ações
de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação
de trabalho’. Portanto, a interpretação sistemática dos dois incisos
referidos está a indicar que as ações de indenização (ou seja,
reparatórias) por danos materiais ou morais decorrentes do exercício
do direito de greve (relação coletiva de trabalho) devem ser julgadas
pelos Juízes do Trabalho de primeiro grau. Aqui se inclui não somente
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as ações ajuizadas pelas partes diretamente envolvidas na greve, mas


vai ‘desde aquelas apresentadas por terceiros prejudicados por
movimento paredista, exigindo reparações por prejuízos sofridos.
(CASAGRANDE apud MELO, 2011, p. 192).

A principal forma de tratar da greve junta à Justiça do Trabalho é através do


Dissídio Coletivo o qual, por vezes, é minimizado ao conceito de resolução da greve,
entretanto ele é muito mais que uma ferramenta para resolução de conflitos grevistas.
O dissídio coletivo é um tipo de processo judicial utilizável para solução de conflitos
de cunho econômico, jurídico ou de greve. Pelo dissídio coletivo são discutidos
interesses abstratos e gerais, sempre de pessoas indeterminadas e que visem a criar
ou modificar alguma condição de trabalho.

Para o Tribunal Superior de Trabalho (TST), o dissidio coletivo pode ser dividido
em 5 tipos: A) econômico: onde é criado, extinto ou modificado norma e condição de
trabalho; B) jurídico: serve para o TST declarar ou interpretar o alcance de
determinada norma jurídica, podendo ser qualquer tipo de norma jurídica (lei,
convenção coletiva, contrato coletivo, acordo coletivo, laudo arbitral, sentença
normativa ou ato normativo qualquer); C) revisional: como o próprio nome diz, serve
para revisar condição de trabalho ou norma que se tornou exacerbadamente onerosa
ou injusta, em razão de alteração imprevista; D) de greve: a qual visa declarar a
abusividade ou não da greve e dar a solução do conflito de categorias; E) originário:
serve para marcar a primeira data-base da categoria (MELO, 2011).

Adoto como classificação, para efeito didático, a seguinte: a) dissídio


econômico (ou de interesse), destinado à criação, manutenção,
modificação ou extinção de normas e condições de trabalho,
abrangendo o originário e o revisional; b) dissidio jurídico, destinado à
interpretação de uma norma jurídica trabalhista; c) dissídio de greve,
que, conforme o caso, é, ao mesmo tempo, declaratório (da
abusividade ou não do movimento) e econômico, no tocante à
apreciação às reivindicações dos trabalhadores que deram causa ao
movimento. (MELO, 2011, p. 122)

Garcia (2011), ao falar mais especificamente do dissídio coletivo de greve, o


considera como um processo coletivo diferente, pois a decisão do tribunal irá declarar
a abusividade ou não do exercício desse direito, além do caráter econômico da
decisão, que irá decidir a respeito das condições almejadas pelos trabalhadores. Além
disso, o Tribunal também deverá regular a relação de trabalho durante a paralisação,
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uma vez que o contrato de trabalho estava suspenso, decidindo até mesmo sobre o
pagamento ou não dos dias parados. Portanto, o dissídio coletivo de greve não pode
ser confundido com o dissídio coletivo econômico, pois o segundo só poderá regular
sobre as condições econômicas da greve e nada mais, sendo o primeiro muito mais
complexo e abrangente.

Além do dissídio coletivo a greve também poderá ser considerada abusiva


através de Ação Declaratória, conforme artigo 19 do Código de Processo Civil de
2015, uma vez que ela declara a forma que aquela relação jurídica tem (Bueno, 2015,
p. 57).

Mais especificamente para a greve e seus efeitos no cotidiano, o Tribunal


deverá analisar todas as reinvindicações que motivaram a paralisação. Devendo a
sentença ser rápida, eficaz e que reestabeleça a paz social entre as partes. Entretanto,
a classificação da greve como abusiva ou não é mais difícil do que se pode imaginar,
pois a classificação da greve como abusiva acarreta várias sanções e, por vezes, um
simples vício formal pode trazer grandes transtornos. É por esse motivo que algumas
vezes, mesmo a greve apresentando vícios formais, ela não será classificada como
abusiva (MELO, 2011).

A greve abusiva também pode ser dividida em dois tipos: as greves


formalmente abusivas, as quais não respeitam aspectos formais; um exemplo é a
greve que não é comunicada ao empregador com antecedência de 48 horas. Já a
greve materialmente abusiva pode ser exemplificada como a greve em que as atitudes
dos empregados ou sindicato a torna abusiva, por exemplo, uma greve em que os
empregados que aderiram à greve não permitem que os outros empregados.

Também é de se ressaltar que a abusividade da greve pode levar a


consequências várias, mediante a responsabilização concernente aos
aspectos penais, civis e trabalhistas. Assim, não se deve declarar a
abusividade de um movimento paredista apenas diante de
fundamentações discricionárias e subjetivistas, porque todo
julgamento deve basear-se em fatos objetivos e no direito. (MELO,
2011, p. 162).

3 PROTEÇÃO AO EMPREGADOR
15

3.1 TIPOS DE PREJUÍZOS AO EMPREGADOR

O prejuízo é a principal arma da greve, mas esse prejuízo deve ser normal,
caracterizado mais como uma falta de lucro do empregador e aborrecimento à
sociedade. Entretanto, os prejuízos anormais poderão ser cobrados judicialmente,
sendo competentes para essas ações as Varas do Trabalho, conforme anteriormente
dito.

Portanto, quaisquer prejuízos que vão além da perda do lucro, poderão


ensejar o ressarcimento por parte do empregador, o qual jamais pode ser apenado
pela forma ilícita do movimento grevista e seus membros.

3.2 RESPONSABILIDADES DECORRENTES DO EXERCÍCIO IRREGULAR DO


DIREITO DE GREVE E PROTEÇÃO AO EMPREGADOR

A Constituição Federal, em seu artigo 9º, §2º estabelece que os abusos


cometidos durante a greve serão sujeitos as penalidades da lei. Complementando a
Carta Magna, a Lei da Greve diz, em seu artigo 15, “A responsabilidade pelos atos
praticados, ilícitos ou crimes cometidos, no curso da greve, será apurada conforme o
caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal. Já o parágrafo único do mesmo
Artigo preceitua “deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a abertura do
competente inquérito e oferecer denúncia quando houver indício de prática de delito”.
Portanto, é dever de todos, fiscalizar o movimento e punir aqueles que extrapolam os
direitos concedidos e aqueles que não seguem os preceitos legais.

São passiveis de punição tanto os trabalhadores (pessoas físicas), quanto os


empregadores, sindicatos dos trabalhadores e sindicato patronais (pessoas jurídicas).
Dessa forma, todos os envolvidos com a paralisação poderão ser responsabilizados,
dos dois lados, e em todas nas esferas, civil, penal e trabalhista.

Poderá, ainda, o sindicato dos trabalhadores ser responsabilizado por


perdas e danos. Essa possibilidade assume especial importância,
fragilizando os sindicatos, ante a perspectiva de que a greve,
especialmente em empresas de grande porte, como ocorreu em uma
paralisação dos empregados da Petrobrás, acarrete condenações a
indenizações de valores astronômicos, incapazes de ser suportados
16

pelas finanças da entidade sindical, literalmente levando-a à


bancarrota. (PAULO E ALEXANDRINO, 2010, p. 407).

3.2.1 Esfera trabalhista


Em suma, as punições cabíveis aos trabalhadores são: advertência, suspensão
e dispensa por justa causa. Além disso também é possível que ocorra o corte do ponto
dos grevistas uma vez que não existe contraprestação pelo pagamento, já que não há
labor.

Para Melo (2011), a lei nº. 7.783/89, em seu artigo 7º, parágrafo único,
configura situação de demissão por justa causa a adesão do trabalhador à greve
abusiva, porém esse entendimento não é acolhido pela jurisprudência trabalhista, nem
pelo Supremo Tribunal Federal, pois em sua Súmula 316 de 1963 estabeleceu “A
simples adesão à greve não constitui falta grave”.

A greve tem o escopo de contrariar o empregador, portanto alguns atos


praticados, apesar de serem contrários ao empregador, não são penalizados,
havendo, no entanto, atos que, independentemente de estarem ou não relacionados
à greve, irão gerar direito do empregador punir o empregado. Exemplos desses atos
puníveis são: ofensa física ao empregador ou terceiro, ofensa à honra do empregador
ou terceiro, causar dano ao empregador, danificar, sem nenhuma justificativa
equipamento ou máquina, comportamento não pacífico, o trabalhador que recusa
atender convocação do sindicato e etc. Nesses casos, ocorrerá o abuso do direito de
greve, extrapolando os limites permitidos, ensejando punições que deverão ser
equivalentes aos atos praticados.

Destarte, no uso do seu poder disciplinar, o empregador poderá


suspender o empregado até trinta dias, simplesmente adverti-lo ou
despedi-lo, Caber-lhe-á dosar a penalidade, tendo em vista a natureza
e a gravidade dos atos praticados; mas não deverá discriminar, isto é,
aplicar penalidades diversas a empregados que cometeram a mesma
falta e cujos antecedentes não justifiquem a diferenciação.
(SUSSEKIND, 2010, p. 635).

No caso dos trabalhadores que gozam de estabilidade, por terem sofrido


acidente de trabalho há menos de um ano, estarem grávidas, serem dirigentes
sindicais, membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) ou
17

comissão de fábrica, deverá ser instaurado Inquérito Judicial para apurar a falta grave,
e só assim, ser decidida pela demissão ou não, com justa causa, do empregado que
praticou a alegada falta grave (MELO, 2011).

Lembrando que durante a paralisação, o contrato de trabalho ficará suspenso,


como foi positivado no artigo 7ª da lei 7.783/89, não sendo possível a dispensa do
empregado, exceto quando houver justa causa por abuso de direito de greve.

3.2.2 Esfera civil

A responsabilidade civil advém da extrapolação de um limite do direito de greve.


A greve, como já foi dito anteriormente, visa acarretar prejuízos ao empregador, o
objetivo da greve é causar empecilhos à vida dos empregadores e da sociedade a sua
volta. Esse empecilhos são prejuízos normais, decorrentes do exercício regular do
direito de greve. A responsabilidade civil aqui não trata desse prejuízo “planejado”, e
sim do prejuízo anormal, o prejuízo em excesso causado, o prejuízo feito sem motivo
ou por má-fé.

Normalmente há responsabilidade civil quando os grevistas se utilizam de


piquetes violentos, constrangem pessoas, impedem o acesso ao trabalho dos outros
trabalhadores que não aderiram à greve, quando há ameaças ou danos à propriedade
dos empregados, empregadores ou terceiros.

Haverá responsabilidade civil mesmo que só haja violação de ordem moral,


pois o Código Civil em seu artigo 186 estabelece que quem causa dano, mesmo que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. No caso da greve, deve haver a combinação
com o artigo 187, que estabelece “Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”, portanto o grevista que extrapola seu
direito será responsabilizado civilmente. O artigo 927 preceitua que todo aquele que
causar dano a outrem deverá reparar o prejuízo.

A responsabilidade civil no contexto do abuso do direito de greve está ligado


aos prejuízos dolosos e anormais, que não serão admitidos.

Melo (2011), contextualiza a aplicação da responsabilidade civil no direito de


greve.
18

Há algum tempo nas cidades de Campinas e de Sorocaba, em que o


Ministério Público Estadual ajuizou ações civis públicas em face dos
sindicatos de condutores, em razão de greves realizadas no transporte
coletivo sem obediência à legislação pertinente e com prejuízo à
comunidade, pela paralisação total dos serviços houve condenação
contra as classes profissionais para que custeassem o pagamento dos
bilhetes de passagens da população durante alguns dias. (MELO,
2011, p. 106).

Uma vez ultrapassada a questão da possibilidade da aplicação da


responsabilidade civil no abuso do exercício do direto de greve, resta saber a quem
será imputada tal responsabilidade. A melhor doutrina segue o seguinte raciocínio: o
empregado poderá ser responsabilizado na esfera trabalhista, civil e criminal, já o
sindicato só poderá ser responsabilizado civilmente. Portanto, como é clara a posição
de hipossuficiência do empregado, quem deverá ser penalizado em relação à greve é
o sindicato. Quando se fala em atos específicos que ocorrem dentro do contexto da
greve, a responsabilidade é de quem o pratica, um exemplo é um empregado que
discute com um empregador e o agride, pois ele não quer aceitar as demandas da
classe. O empregador poderá acionar o empregado na área civil sozinho, pois o seu
ato foi estranho à greve (MELO, 2011).

A responsabilização civil da greve como um todo será de competência da


justiça do Trabalho, isso é devido à Emenda Constitucional número 45/04 que ampliou
a competência da Justiça do Trabalho, modificando o Artigo 114, II, o qual determina
a competência da justiça do trabalho para processar e julgar quaisquer ações que
envolvam o exercício do direito de greve, englobando, portanto, a responsabilidade
civil que advém da prática do direito de greve.

Portanto, os danos eventuais não poderão ser ressarcidos, bem como os lucros
que o empregador não obteve durante a paralisação. Já quanto aos danos anormais,
que efetivamente foram sofridos e comprovados, os danos causados por
manifestações violentas, poderá o empregador ou terceiro exigir judicialmente do
sindicato ou do empregado (ato isolado) o ressarcimento (BOUCINHAS FILHO, 2013).

3.2.3 Esfera penal


19

Como já foi afirmado, a greve foi considerada por muitos anos um ilícito penal,
especialmente durante a ditadura militar e somente com a chegada da Constituição
Federal de 1988 passou a ser considerada um direito fundamental. Assim, não há o
que se falar em responsabilidade penal dos grevistas. Entretanto, se os titulares do
direito de greve, no exercício dela, praticarem algum ato ilícito previsto na legislação
penal, deverão ser processados e julgados pela lei penal, não tendo que se relacionar
o ato praticado ao exercício do direito de greve. A greve como movimento não é capaz
de sofrer responsabilidade penal. Já os grevistas que praticarem os atos listados
abaixo por Brolio (2011) poderão:

O excesso do movimento paredista pode tipificar crimes contra a


organização do trabalho. É caso dos arts. 197 (atentado contra a
liberdade de trabalho), 200 (paralisação de trabalho, seguida de
violência ou perturbação da ordem), 202 (invasão de estabelecimento
industrial, comercial ou agrícola), todos do Código Penal, c/c o art. 15
da Lei 7.783/1989.
A competência para julgar referendados crimes é da Justiça Comum
Federal de 1º grau, conforme art. 109, VI, da CF/1988, já superado pelo
STF, que falece competência da Justiça do Trabalho nesse sentido
(MC na ADIn 3684/DF, Pleno, j. 01.02.2007, rel. Min. Cezar Peluso).
(BROLIO, 2011, p. 70).

3.3 LOCKOUT
Para Nascimento (2009), lockout é considerado como a paralisação das
atividades pelo empregador, a fim de exercer pressão sobre os trabalhadores,
dificultando assim o atendimento às reivindicações do proletariado. Sendo uma
cessação da atividade como forma de protesto contra as atitudes dos empregados.
Nas palavras de Brolio (2011, p. 69), “O locaute (lockout) deve ser entendido como a
‘greve’ do empregador”.

O lockout nada mais é do que a greve do empregador, o qual fecha as portas


da empresa impedindo que os trabalhadores façam seu trabalho, fragilizando ainda
mais os movimentos sindicais e tornando ainda mais esdrúxula a diferença entre
empregados e empregador (SARAIVA, 2011)

O Artigo 17 da lei nº. 7.783/89 vedou a prática do Lockout.


20

Artigo 17 – Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do


empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o
atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout).

Portanto, o Lockout é proibido no Brasil, e ocorrendo ficarão os empregados


assegurados de todos os direitos trabalhistas, inclusive o direito a percepção dos
salários e até mesmo podendo encerrar o contrato de trabalho por justa causa indireta.
Não ocorre a suspensão do contrato de trabalho durante o lockout, na verdade, ocorre
uma interrupção do contrato por iniciativa do empregador, não havendo qualquer
prejuízo aos empregados. Na doutrina há três teses:

Para a primeira, lockout enseja a rescisão do contrato de trabalho pelo


empregado. É sustentada por Paul Durand e Vitu. Baseia-se no caráter
alimentar do salário, necessário para a sobrevivência dos
trabalhadores, prejudicados nos casos de lockout,
Para a segunda, opera-se simples suspensão do contrato de trabalho
enquanto perdurar o lockout.
Para a terceira, ao empregador é assegurada uma opção, facultando-
se-lhe dar por rescindido o contrato ou simplesmente considerá-lo
suspenso, segundo os seus critérios de conveniência.
A Lei n. 7.783, de 1989, proíbe o lockout com o objetivo de frustrar
negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos
empregados. (NASCIMENTO, 2009, p. 1330).
21

CONCLUSÃO

A greve é um movimento do proletariado que visa melhorar suas condições de


trabalho, lembrando que não se trata apenas de melhoria salarial mas também
ambiental, buscando um vínculo empregatício elevado.
A evolução histórica do direito de greve no Brasil é diferente da evolução no resto do
mundo. Nos outros países ela evoluiu de ilícito penal para ação tolerável e
posteriormente para um direito garantido. Já no Brasil, ela foi considerada um ilícito,
futuramente tolerada, voltou a ser ilícito e, por fim, tornou-se um direito
constitucionalmente garantido.
O direito de greve é uma ferramenta importante para a equiparação de forças entre
empregado e empregador, entretanto, deve ser usado com sabedoria para não
extrapolar seus limites legais, como os previstos no artigo 6º da Lei nº. 7.783/89, pois
caso seja extrapolado, perderá sua validade jurídica, tornando-se um movimento
abusivo, o que por certo invalida a sua existência.
Os grevistas devem se submeter a decisão do Tribunal do Trabalho, não continuando
a paralisação após a solução do mesmo. Na mesma linha dos deveres, é dever do
empregador suportar os grevistas, não podendo constranger o direito fundamental de
greve que seus empregados possuem, devendo suportar os inconvenientes,
aborrecimentos e prejuízos (normais) causados pelo movimento, sendo impossível
rescindir o contrato por justa causa. É de suma importância frisar que também é
impossível a utilização do lockout pelo empregador.
O respeito aos limites do direito de greve está relacionado a não extrapolação dos
direitos que estão dispostos em lei. Na verdade, a relação entre os grevistas e o
restante da sociedade deve ser sempre de harmonia, mesmo que esteja sendo
causado algum aborrecimento, pois causar prejuízo e aborrecimento é o objetivo da
greve. Além da não extrapolação dos direitos concedidos há certas condutas que são
vedadas aos grevistas, como qualquer ato violento. Esses são os abusos mais
comuns e, como abusos, merecem responsabilização, que recairá sobre a greve, o
sindicato ou os empregados. Sempre que o abuso for causado por ato individual e
isolado ele não contaminará a greve, entretanto, se isso ocorrer por incentivo dos
grevistas como um todo, o ato contaminará a greve. Ademais, a responsabilização
poderá ocorrer em três esferas sem gerar bis in idem, sendo elas a esfera trabalhista,
quando o trabalhador é punido, a esfera cível, onde deverá haver indenização aos
prejudicados de forma anormal, seja pelo trabalhador ou sindicato, e por último, na
esfera penal, quando houver algum crime, devendo o trabalhador responder pelo ato
que cometeu.
O empregador possui algumas formas para se proteger ou minimizar os danos, as
principais sendo a ação declaratória e o dissídio coletivo, os quais tem o escopo de
demonstrar que o movimento grevista é abusivo, devendo ser desconsiderado como
exercício legitimo de um direito, sendo plenamente possível sofrer as consequências
pelos seus atos. Além dessas ações, para greves de ocupação, poderão ser utilizadas
as ações possessórias e desforço, sendo plenamente possível que o empregador
proteja a sua propriedade de atos abusivos dos grevistas. Também poderá ingressar
com ações requerendo indenização por danos morais ou materiais sofridos,
lembrando que é importante distinguir atos praticados por determinados grevistas e
atos praticados pelo movimento como um todo.
22

Por fim, ficou claro que existem várias formas de proteção ao empregador, cabendo a
ele estar sempre vigilante e atento aos atos dos grevistas e do movimento de forma
geral. Por vezes os empregados irão extrapolar os direitos observados na legislação,
sendo plenamente possível a proteção e ressarcimento do empregador pelos abusos
cometidos.
23

REFERÊNCIAS

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situações de exercício abusivo do direito de greve e de violência durante a
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