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BOTASSE, Renan 1
RESUMO
O direito de greve, garantido pela Constituição Federal de 1988, é um direito de
extrema importância para os trabalhadores e empregadores, que infelizmente não o
compreendem da forma que deveriam. A falta da difusão da matéria dá oportunidade
para que ocorram abusos por parte dos grevistas, empregadores e até mesmo
juristas, uma vez que é escasso o material que trate da greve, em especial sobre seus
limites e defesa do empregador. O presente trabalho, por meio do método dedutivo,
utilizando-se de pesquisa bibliográfica, julgados, artigos acadêmicos e a legislação
brasileira, aborda o tema da greve, se estendendo às formas de defesa do
empregador e os limites desse direito no setor privado. Pretende-se analisar quais são
os abusos do direito de greve, bem como as consequências e a responsabilização
dos que ultrapassam os limites legais. Primeiramente, será feita uma análise do
histórico da greve no mundo e no Brasil. Na sequência, será abordado o exercício em
si do direito de greve, suas formas, direitos e deveres a serem respeitados, limites e
consequências do abuso, analisando os efeitos e consequências em cada esfera: civil,
trabalhista e penal.
INTRODUÇÃO
1 DIREITO DE GREVE
1.2 CONCEITO
Em nenhuma hipótese poderá ser utilizado outro meio que não seja o pacífico
para persuadir os trabalhadores, caso ocorra qualquer tipo de coação para que o
trabalhador participe do movimento grevista, o movimento será deflagrado como
ilícito, perdendo a forma de greve bem como suas proteções.
B) greve política:
É compreendida como uma greve contra os poderes públicos, não visa o seu
empregador e pode ser feito com a intenção de alteração ou criação de nova lei. A
Justiça do Trabalho desconsidera esse tipo de greve como greve trabalhista, sendo
considerada abusiva, pois não depende do patrão. A motivação para a greve é o
governo e não o empregador. Portanto não há o que se falar na possibilidade de
manutenção do movimento grevista, sendo plenamente possível e empregador
ingressar com ação de dissídio coletivo, visando a condenação do movimento como
movimento abusivo, devendo os desembargadores determinarem o imediato retorno
dos funcionários aos seus postos.
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Apesar das definições dos tipos de greve sugeridos por CASSAR (2013), a
doutrina e jurisprudência vanguardista não divide os movimentos grevistas tão
claramente como lícita ou ilícita, há o entendimento de que tais termos devem ser
substituídos pela palavra abusiva ou não.
Da mesma forma que Garcia fez, Paulo e Alexandrino (2010, p. 402) doutrinam
“Os grevistas têm a obrigação de respeitar os direitos constitucionais, tanto em relação
ao empregador, quanto aos demais trabalhadores e aos usuários dos serviços” e
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Por fim, deve-se ressaltar que conforme o Artigo 188, inciso I do Código Civil,
ato ilícito praticado em legitima defesa ou no exercício regular de direito reconhecido,
não constitui ato ilícito. Quando o grevista cometer ato considerado ilícito, mas se
estiver no exercício regular de seu direito ou em legitima defesa, ele não estará
abusando de seus direitos (MARTINS, 2011).
Para o Tribunal Superior de Trabalho (TST), o dissidio coletivo pode ser dividido
em 5 tipos: A) econômico: onde é criado, extinto ou modificado norma e condição de
trabalho; B) jurídico: serve para o TST declarar ou interpretar o alcance de
determinada norma jurídica, podendo ser qualquer tipo de norma jurídica (lei,
convenção coletiva, contrato coletivo, acordo coletivo, laudo arbitral, sentença
normativa ou ato normativo qualquer); C) revisional: como o próprio nome diz, serve
para revisar condição de trabalho ou norma que se tornou exacerbadamente onerosa
ou injusta, em razão de alteração imprevista; D) de greve: a qual visa declarar a
abusividade ou não da greve e dar a solução do conflito de categorias; E) originário:
serve para marcar a primeira data-base da categoria (MELO, 2011).
uma vez que o contrato de trabalho estava suspenso, decidindo até mesmo sobre o
pagamento ou não dos dias parados. Portanto, o dissídio coletivo de greve não pode
ser confundido com o dissídio coletivo econômico, pois o segundo só poderá regular
sobre as condições econômicas da greve e nada mais, sendo o primeiro muito mais
complexo e abrangente.
3 PROTEÇÃO AO EMPREGADOR
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O prejuízo é a principal arma da greve, mas esse prejuízo deve ser normal,
caracterizado mais como uma falta de lucro do empregador e aborrecimento à
sociedade. Entretanto, os prejuízos anormais poderão ser cobrados judicialmente,
sendo competentes para essas ações as Varas do Trabalho, conforme anteriormente
dito.
Para Melo (2011), a lei nº. 7.783/89, em seu artigo 7º, parágrafo único,
configura situação de demissão por justa causa a adesão do trabalhador à greve
abusiva, porém esse entendimento não é acolhido pela jurisprudência trabalhista, nem
pelo Supremo Tribunal Federal, pois em sua Súmula 316 de 1963 estabeleceu “A
simples adesão à greve não constitui falta grave”.
comissão de fábrica, deverá ser instaurado Inquérito Judicial para apurar a falta grave,
e só assim, ser decidida pela demissão ou não, com justa causa, do empregado que
praticou a alegada falta grave (MELO, 2011).
Portanto, os danos eventuais não poderão ser ressarcidos, bem como os lucros
que o empregador não obteve durante a paralisação. Já quanto aos danos anormais,
que efetivamente foram sofridos e comprovados, os danos causados por
manifestações violentas, poderá o empregador ou terceiro exigir judicialmente do
sindicato ou do empregado (ato isolado) o ressarcimento (BOUCINHAS FILHO, 2013).
Como já foi afirmado, a greve foi considerada por muitos anos um ilícito penal,
especialmente durante a ditadura militar e somente com a chegada da Constituição
Federal de 1988 passou a ser considerada um direito fundamental. Assim, não há o
que se falar em responsabilidade penal dos grevistas. Entretanto, se os titulares do
direito de greve, no exercício dela, praticarem algum ato ilícito previsto na legislação
penal, deverão ser processados e julgados pela lei penal, não tendo que se relacionar
o ato praticado ao exercício do direito de greve. A greve como movimento não é capaz
de sofrer responsabilidade penal. Já os grevistas que praticarem os atos listados
abaixo por Brolio (2011) poderão:
3.3 LOCKOUT
Para Nascimento (2009), lockout é considerado como a paralisação das
atividades pelo empregador, a fim de exercer pressão sobre os trabalhadores,
dificultando assim o atendimento às reivindicações do proletariado. Sendo uma
cessação da atividade como forma de protesto contra as atitudes dos empregados.
Nas palavras de Brolio (2011, p. 69), “O locaute (lockout) deve ser entendido como a
‘greve’ do empregador”.
CONCLUSÃO
Por fim, ficou claro que existem várias formas de proteção ao empregador, cabendo a
ele estar sempre vigilante e atento aos atos dos grevistas e do movimento de forma
geral. Por vezes os empregados irão extrapolar os direitos observados na legislação,
sendo plenamente possível a proteção e ressarcimento do empregador pelos abusos
cometidos.
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REFERÊNCIAS
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Paulo: Saraiva, 2015, p. 57)
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