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Direito do Ambiente
Desde as últimas décadas do século XX, foram-se evidenciando linhas mestras daquilo a que se
convencionou chamar de Modernidade (Lyotard, Habermas). Contudo, para alguns autores estaremos na
pós-modernidade e, para outros, estaremos na tardo-modernidade. Mas, seja qual for o nome atribuído, é
indubitável que na época contemporânea assistimos ao desfazer de bastiões da era antecedente.
A Modernidade tem lógicas essenciais: visão antropocêntrica, razão, contratualismo social, lógica do
progresso, dicotomia individualismo vs. coletivismo e crença nos vetores exatos da ciência e da tecnologia. Já
no direito, esta tem em consideração o Direito dos Estados, os direitos humanos (a partir da revolução francesa)
e o legalismo.
Por sua vez, a Pós-Modernidade designa a transição aportada pela constatação da insuficiência das bases da
Modernidade para explicar e reger a época contemporânea. Neste âmbito, surgem controvérsias:
Hard Law – direito vinculante que impõe soluções nas ‘’áreas comuns’’ dos Estados, ou seja, aquelas que
excedem as áreas de soberania, nomeadamente os Oceanos e a Antártida.
Origens do Direito do Ambiente
O Direito Internacional do Ambiente, mesmo num entendimento embrionário, é uma criação recente (século XIX). De
facto, a primeira preocupação incidiu sobre a limitação dos recursos naturais: neste contexto, assumiram relevância uma
série de decisões de tribunais arbitrais que regularam con昀氀itos fronteiriços com impactos ambientais e, no século XX,
atribuiu-se importância ao papel do TIJ. // Evolução:
1.º Período – desde o ‘’início’’ até 1945
2.º Período – desde 1945 até à Conferência de Estocolmo (1972)
3.º Período – desde Estocolmo até ao Rio (1992)
4.º Período – do Rio até Paris (2015)
5.º Período – Paris, Contestação e PEE (Contra-Reforma Europeia) (2016-2021)
3.º Período
Conferência de Estocolmo – 114 Estados acordaram medidas de proteção da natureza, até aí inexistentes,
tendo sido a primeira cimeira do planeta.
Declaração de Estocolmo – 25 princípios, sendo a Magna Carta do direito ambiental moderno
Plano de Ação para o Meio Ambiente – 109 recomendações que formataram o direito ambiente moderno
(recursos, deveres, educação)
UNEP (1972) – Recomendação para a criação de entidades internacionais do Ambiente
CITIES (1973-1975) – Tratado sobre o comércio internacional de espécies ameaçadas de fauna e flora
silvestre
Carta Mundial da Natureza (1982) – Aprovada pela Assembleia-Geral da ONU
Protocolo de Montreal (1987) – Protocolo para a proteção da camada de ozono, que reuniu 190 países
mais a CEE (UE)
Correspondeu a um anseio da consciência mundial liderado pelos alertas da Ciência e guiado pela
diplomacia francesa;
Foi antecipado pela Plataforma de Durban (2011) – obter um instrumento vinculativo e abrangente contra as
alterações climáticas.
Objetivos:
o Temperatura global abaixo de 2ºC, acima dos níveis pré-industriais e nunca acima de 1,5ºC
(relatórios do painel intergovernamental para as alterações climáticas)
o Estratégias de adaptação às alterações climáticas e reduzir gases efeitos-estufa
o Fundos financeiros que o possibilitem
Paris a entardecer…
Espanha, tendo-se notabilizado por espetáculos político-circenses, que só cavaram o fosso entre os
apóstolos a favor e contra o Ambiente.
Ainda no 5.º Período, é necessário referir a atuação da Europa, nomeadamente o sonho de Ursula von der
Leyen para os primeiros 100 dias da sua Comissão: a contra-reforma europeia no ambiente:
European Green Deal – Pacto Ecológico Europeu, que ambiciona uma alteração fundamental das
lógicas do desenvolvimento;
Lei Europeia do Clima e a transição justa – a Declaração do ‘’historiador’’ Timmermans;
A transição digital;
Pandemia do COVID-19: Esta atinge a Europa em finais de janeiro de 2020. Numa primeira fase do
confinamento (março-maio 2020) atingiu todos os países da UE e perturbou gravemente os sistemas de saúde
de alguns países europeus, nomeadamente a Itália, Espanha e França, evidenciando-se efeitos económicos
devastadores. Já a segunda vaga (a partir de outubro de 2020) foi enfrentada com os ensinamentos adquiridos
na primavera, mas não foi possível evitar os prejuízos económicos e sociais.
Primeiramente, deu-se um debate dicotómico entre Ambiente e recuperação financeira. Depois, seguiu-se
um consenso assinalável entre a recuperação verde, aproveitando a estratégia do PEE- European Green Deal.
Note-se que o plano de recuperação europeu (Recovery Plan for Europe) torna a proteção do Ambiente e o
combate às alterações climáticas num elemento fundamental e imprescindível.
A luta contra as alterações climáticas é um vetor fundamental das políticas públicas, mas só está a ser
levado a sério na UE;
O Acordo de Paris ainda não foi implementado e o modelo de aplicação será discutido 6 anos depois…
Os EUA voltaram a Paris mas, para além da retórica, não se percebeu se tentarão liderar a luta contra as
alterações climáticas;
A China diz que sim mas faz o oposto (centrais a carvão)
O Ambiente é condição sine qua non dos Planos de Recuperação da crise económica provocada pela Covid;
Possui (para já) um largo consenso dos Governos europeus – aceitação dessa condição para receber fundos
não teve polémica;
Ainda se vêem as estratégias ambientais como algo que se tem de fazer desde que não prejudique
demasiado os interesses de cada Estado-Membro;
Dado o cariz identitário da UE (democracia, carácter social e inclusivo), a chave para a força política
necessária reside na opinião pública europeia;
As preocupações com a saúde ambiental do planeta cresceram desmesuradamente na 2ª metade do século XX,
revelando-se uma das principais preocupações sociais e políticas do século XXI. Neste sentido, os direitos
internacional, europeu e interno espalharam essa extraordinária redimensionação;
Portanto, o Direito do Ambiente (DA) nasceu no seio do Direito Administrativo, mas as suas lógicas
essenciais já não se confundem plenamente com este. Do mesmo modo que o DA se diferencia de outras suas
subespécies como o direito do urbanismo, direito do património cultural, direito da paisagem ou outros
subsistemas afins.
Além disso, é importante referir que o DA tem uma razão de ser própria e uma lógica de existir
inconfundível: assegurar a preservação e as qualidades dos componentes ambientes naturais e impor aos seus
utilizadores princípios de gestão racional. Note-se que esta essência específica ganha particular relevância
perante a emergência das alterações climáticas.
O DA nasce do Direito Internacional e ganhou eficácia nas ordens jurídicas internas através da ação do
Estado (direito administrativo).
No caso português, o DA iniciou um percurso autónomo a partir de 1987 (primeira Lei de Bases do
Ambiente) e ganhou foro quando a União Europeia o conseguiu moldar como uma das suas principais
prioridades;
Mais de 90% das leis nacionais de DA são direito europeu;
A Constituição de 1822 (art. 223.º/v) dizia para as Câmaras Municipais procederem ao plantio de árvores
nos terrenos de sua pertença – mais incentivo rural do que o embrião de preocupações ambientais.
A Carta (1826), os Atos Adicionais (1852) e a Constituição de 1911 representaram a mesma lógica bucólica,
paisagística e agrícola;
Quase um século depois, a Constituição de 1933 (art. 52.º) falava em ‘’proteção dos monumentos naturais’’
– mais interesses estéticos e culturais do que ambientais;
Só com a atual CRP de 1976, no art. 66.º, se constitucionalizou o Ambiente pela primeira vez no seu sentido
próprio (aproximadamente).
Note-se que foi só com a revisão de 1982 que se deu dimensão ao art. 66.º inserindo a ‘’proteção ambiental
como tarefa fundamental do Estado no art. 9.º/d/e:
o Artigo 9.º d) promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os
portugueses, bem como a efetivação de direitos económicos e ambientais, mediante a transformação
e modernização das estruturas económicas e sociais; e) proteger e valorizar o património cultural do
povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um
correto ordenamento do território; (NOTA: ver o art. 66.º atual, revisto em 1989 e em 2003)
Momentos referenciais:
o 1986 – Portugal adere à CEE (atual UE) num momento em que o Ambiente se começa a destacar
enquanto preocupação social primordial
o 1987 – Surge a primeira Lei de Bases do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de abril
o 2014 – Surge a segunda Lei de Bases do Ambiente – Lei n.º19/2014, de 14 de abril (hoje em vigor)
Nos EUA, surgiu o NEPA (National Environment Policy Act, 1969), adotado por alguns Estados federados
mas não pela Constituição Federal;
Na Alemanha a proteção ambiental vem da mesma altura mas só foi constitucionalizada em 1994;
No Brasil, a Lei 6.938, que foi exemplo para muitas ordens jurídicas – constitucionalização em 1988 (art.
225.º)
A França seguiu um percurso distinto: lei de valor reforçado (2004) com 10 princípios fundamentais
(Decálogo), Charte de l’environnement, que foi constitucionalizada em 2005;
Para Carla Amado Gomes, este é apenas uma ‘’retórica simbólica e politicamente correta’’, sem grandes
efeitos práticos e que gera confusões;
Além disso, esta considera que o n.º 1 do art 66.º da CRP está imerso numa ‘’errância conceptual’’, tendo
em conta que se trata de uma noção antropocêntrica: o ambiente seria sempre uma noção conexionada com
o bem-estar das pessoas;
Quanto ao n.º 2, Carla Amado Gomes considera que este é um conjunto de normas imprecisas e
amalgamadas, que confunde a resposta aos conceitos essenciais: indefinição do bem jurídico ‘’ambiente’’;
Ainda neste âmbito, Gomes Canotilho refere que ‘’não é Ambiente é Ambiance…’’
Vasco Pereira da Silva afirma que uma revisão constitucional clarificadora destes conceitos ambientais é
urgente;
Gomes Canotilho considera que o texto constitucional ainda padece de uma pré-compreensão
antropocêntrica do ambiente, na qual se deve proteger a Natureza por esta constituir um bem instrumental
para o Homem poder dela usufruir; Assim, urge superar essa visão para se passar a uma pré-compreensão
ecocêntrica em que o ambiente é um fim em si mesmo e cujo pressuposto e fundamento seja a
‘’consideração valorativa do Homem enquanto parte integrante da Natureza’’
A tendência atual é uma vertente impositiva: cada cidadão tem deveres (diferenciados por atividade) em
razão do seu impacto no ambiente – lógica da Charte Constitutionelle de l’Environnement (2005)
NOTA: ver artigo 191.º/1/2 do TL (ex-artigos 174.º TUE e 175.º TUE); artigo 192.º/2, TL (ex-artigo 174.º/TUE); artigo 193.º (ex-artigo 176.º TUE)
A Constituição ambiental portuguesa (art. 66.º), apesar de precursora em 1976, cedo se viu desatualizada
face à evolução das lógicas e percepções do direito internacional e europeu do ambiente, bem como perante
a crescente consciencialização dos cidadãos em matérias de proteção do ambiente
Tentou-se, então, colmatar essa divergência em 1987, logo depois da adesão de Portugal às Comunidades
Europeias (1986), com a primeira Lei de Bases do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de abril
A ideia primordial era a de alcançar uma revisão constitucional capaz e coerente. Contudo, nunca se
conseguiu o consenso político suficiente, nem na revisão de 1989 nem na revisão de 1997
A legislação portuguesa de ambiente foi-se construindo sob o guarda-chuva da LBA e, sobretudo, à custa
dos contributos do direito europeu e dos Tratados, Convenções e Declarações Internacionais, que Portugal
subscreveu ou foi parte
Outros países, europeus ou não, tiveram o mesmo problema: desarticulação entre as bases constitucionais e
uma nova área do direito, transversal e disruptiva, que se ia construindo a uma velocidade vertiginosa
O Caso Francês – Charte de l’environnement como Lei Constitucional – A França resolveu a questão com
uma Lei de 2004, que foi incorporada na Constituição em 2005: a Charte de l’environnement. Note-se que esta
foi dotada de 10 princípios-base que dão sentido lógico a todas as leis francesas.
A primeira LBA, Lei n.º 11/87, de 7 de abril cedo careceu de atualizações que tornassem a ordem jurídica
ambiental coerente e eficaz.
Até 2014, o direito português conheceu três compreensões logicamente distintas e divergentes do direito do
ambiente: a constitucional, a legislação ordinária e a internacional e europeia.
Claro que as leis e regulamentos nacionais, quanto ao seu conteúdo material, foram decisavamente
influenciados pelo direito internacional e, sobretudo, pelo direito europeu originário e derivado.
Art. 2.º Objetivos da política de ambiente (bases e prismas interpretativos de todos os princípios) 1 - A
política de ambiente visa a efetivação dos direitos ambientais através da promoção do desenvolvimento
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sustentável, suportada na gestão adequada do ambiente, em particular dos ecossistemas e dos recursos naturais,
contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade de baixo carbono e uma «economia verde», racional e
eficiente na utilização dos recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria progressiva da qualidade de
vida dos cidadãos.
Art. 2.º Objetivos da política de ambiente 2 - Compete ao Estado a realização da política de ambiente,
tanto através da ação direta dos seus órgãos e agentes nos diversos níveis de decisão local, regional, nacional,
europeia e internacional, como através da mobilização e da coordenação de todos os cidadãos e forças sociais,
num processo participado e assente no pleno exercício da cidadania ambiental.
Declaração de Estocolmo de 1972; Carta da Natureza de 1982; Rio 1993; CRP, art. 66.º/2;
É um dever ambiental imputado aos Estados no desenvolvimento de todas as suas políticas públicas;
Visa a conciliação/harmonização do desenvolvimento económico com a preservação do ambiente;
Na LBA surge como a base e prisma interpretativo de todos os princípios seguintes, particularmente o
princípio da responsabilidade intergeracional (com o qual quase confunde na interpretação literal da norma;
Obriga à fundamentação ecológica das decisões económicas – serão inconstitucionais as decisões muito
gravosas para o ambiente;
Note-se que, Carla Amado Gomes faz uma crítica severa a esta seleção de princípios do art. 3.º da LBA
Obriga à utilização e ao aproveitamento dos recursos naturais e humanos de força racional e equilibrada, a
fim de garantir a sua preservação a presentes e futuras gerações;
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o Todas as nossas ações afetam o ambiente e a pegada repercute-se na qualidade ambiental das
gerações futuras. Assim, as nossas ações individuais, bem como as políticas públicas deverão ser
sempre pautadas pela ideia do menor dano possível;
o Implica a não assunção de projetos benéficos a curto/médio prazo mas potencialmente perigosos no
futuro, tal como por exemplo o projeto nuclear;
Deveres formulados num juízo comparativo entre a qualidade ambiental de que beneficia a geração atual e
aquela que está obrigada a manter para a geração futura
o Manutenção da possibilidade de escolha da geração futura quanto à utilização dos recursos naturais
o Conservação da qualidade dos recursos naturais
o Garantia do acesso futuro não-discriminatório a esses recursos naturais
Princípio da Prevenção/Precaução
NOTA: ‘’Prevention’’ e ‘’precaution’’ têm significados distintos em inglês, mas não tanto assim nas línguas latinas: a
prevenção diz respeito a perigos imediatos e com grau de probabilidade muito acentuado; já a precaução relaciona-se com
riscos futuros e determinados. Mas, maioritariamente, hoje, defende-se que a precaução é a prevenção amplificada:
permite a atuação dos poderes públicos e a restrição de direitos dos cidadãos sem que a verificação do dano ambiental
esteja revelada com o elevado grau de certeza – sempre com critérios científicos de razoabilidade e de bom senso.
Princípio do Poluidor-Pagador
Obriga o responsável pela poluição a assumir os custos tanto da atividade poluente como da introdução de
medidas internas de prevenção e controle necessárias para combater as ameaças e agressões ao ambiente;
Art. 191.º/2, TL (ex-art. 174.º/2 TUE) e art. 66.º/2/h da CRP
Ou seja, quem beneficia de uma atividade eco-poluente deve ser responsável pelos prejuízos ambientais por
reconstrução natura por via fiscal;
Contudo, deste surge um eventual paradoxo: quem paga pode poluir;
Princípio do Utilizador-Pagador
Obriga o utente de serviços públicos a suportar os custos da utilização dos recursos, assim como da
recuperação proporcional dos custos associados à sua disponibilização, visando a respetiva utilização
racional;
o Quem usufrui dos recursos (não estará necessariamente a poluir) deve custear a sua utilização;
o O objetivo é racionalizar o uso dos recursos pelos cidadãos;
o Permite ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização de recursos (art. 66.º/2/h CRP)
Princípio da Responsabilidade
Obriga à responsabilização de todos os que direta ou indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem
ameaças ou danos ao ambiente, cabendo ao Estado a aplicação das sanções devidas, não estando excluída a
possibilidade de indemnização nos termos da lei;
o Implica toda e qualquer forma de responsabilidade: penal, civil, administrativa, disciplinar;
o Não requer a efetivação da ameaça (dano ambiental), mas apenas a sua constatação;
o O Estado é o sancionador – mas o que fazer quando o responsável é o próprio Estado?
Princípio da Recuperação
Obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado do ambiente tal como se encontrava
anteriormente à ocorrência do facto danoso;
o Um dos princípios base da responsabilidade civil é o da ‘’restauração natural’’ – o agente deve
recolocar a situação no preciso status em que esta se encontrava antes da verificação do dano -
contudo, este princípio é de muito rara e difícil aplicação em direito do ambiente;
o A restauração será a possível (a mais amiga do ambiente) e pode cumular-se com a restituição por
equivalente (pagamento de indemnização)
A separação dos princípios materiais do ambiente (art. 3.º) e dos princípios das políticas públicas ambientais
(art. 4.º) é muito criticada quer no que respeita à sua ratio, quer no elenco dos princípios que compõem cada
uma das vertentes;
Os primeiros regerão toda a atuação pública e privada no ambiente; E os segundos regerão as lógicas de
atuação do Estado e dos demais poderes públicos na condução da sua atuação;
Em bom rigor, a sua área de incidência pode confundir-se porque ambos vinculam o Estado, que tem o
poder de conformar os privados às suas preocupações essenciais.
o Princípio da Transversalidade e da Integração
o Princípio da Cooperação Internacional
o Princípio do Conhecimento e da Ciência
o Princípio da Educação Ambiental
o Princípio da Informação e da Participação
Obriga à integração das exigências de proteção do ambiente na definição e execução das demais políticas
globais e sectoriais, de modo a promover o desenvolvimento sustentável;
o Constituem um filtro e um prisma inafastável de qualquer política pública, independentemente da
área ou da conexão mais remota com o ambiente
o Assume uma relação direta com o princípio do desenvolvimento sustentável
Obriga à procura de soluções concertadas com outros países e organizações internacionais no sentido da
promoção do ambiente e do desenvolvimento sustentável;
o Os Tratados internacionais impõem um dever de concertação das soluções comuns para problemas
globais
o Implica o consenso de soluções com os Estados, com organizações supranacionais e abre porta à
cooperação com ONGs
o Também assume uma relação direta com o princípio do desenvolvimento sustentável
Obrigam a que o diagnóstico e as soluções dos problemas ambientais devam resultar da convergência dos
saberes sociais com os conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo por base dados rigorosos, emanados
de fontes fidedignas e isentas;
o Princípio base das políticas públicas, que não se podem pautar por emoções, sensações ou
conveniências políticas – atual vírus do direito do ambiente;
o Os dados dos problemas e a elaboração de soluções terão de ser enquadrados em dados científicos
credíveis acima dos interesses e dos propósitos laterais;
Obriga a políticas pedagógicas viradas para a tomada de consciência ambiental, apostando na educação para
o desenvolvimento sustentável e dotando os cidadãos de competências ambientais num processo contínuo,
que promove a cidadania participativa e apela à responsabilização, designadamente através do voluntariado
e do mecenato ambiental, tendo em vista a proteção e a melhoria do ambiente em toda a sua dimensão
humana;
o Princípio que decorre da Declaração de Estocolmo, bem como do art. 66.º/2/g da CRP
o Provavelmente, aquele que melhor foi implementado nas últimas décadas e que está na raiz da
prioridade do ambiente na consciência coletiva
Obrigam ao envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, privilegiando a divulgação e a partilha de
dados e estudos, a adoção de ações de monitorização das políticas, o fomento de uma cultura de
transparência e de responsabilidade, na busca de um elevado grau de respeito dos valores ambientais pela
comunidade, ao mesmo tempo que assegura aos cidadãos o direito pleno de intervir na elaboração e no
acompanhamento da aplicação das políticas ambientais.
Informação e Participação são elementos integradores e qua non do conceito de cidadania ambiental;
Decorre do direito geral à informação dos interessados (CPA), mas implica um mais elevado grau de
informação administrativa, dado que o ‘’interessado’’ pode ser qualquer cidadão (LBA
Corolário do ‘’direito de defesa’’ – LBA, art. 7.º
Traduz-se num direito procedimental – CPA, LBA, RAIA;
Possibilita, também, a intervenção dos tribunais (ex: ação popular) – ‘’tutela plena e efetiva dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos’’ – LBA, art. 7.º/1;
1. A todos é reconhecido o direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente protegidos
em matéria de ambiente.
2. Em especial, os referidos direitos processuais incluem, nomeadamente:
a) O direito de ação para a defesa de direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos, assim como
para o exercício do direito de ação pública e de ação popular;
b) O direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação de violações de bens e valores ambientais da
forma mais célere possível;
c) O direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça ou dano ao ambiente;
crítica: predominância da ação do Estado e a menorização do papel do cidadão – seria desejável um maior
equilíbrio.
Apesar de se ter alcançado um acordo na Cimeira de Paris (2015), cedo se percebeu que esse resultado tinha
sido forçado pela pressão mediática e da opinião pública e não correspondia à vontade real dos Estados
signatários. No fundo, este tratou-se de um acordo para ser exibido por todos os intervenientes (diplomacia
francesa, China, EUA e Obama nos últimos meses do seu mandato, etc.), mas não tanto para ser cumprido.
Portanto, o facto de o Ambiente e a questão das alterações climáticas se terem tornado um dos ingredientes
comuns do mercado político, conduziu a várias encenações performativas por parte dos Estados e das ONGs.
Além disso, é conveniente referir que os atores principais estavam irremediavelmente extremados:
De um lado, os adeptos do radicalismo ambiental – visam uma mudança total do modo de vida, sem
recurso aos combustíveis fósseis ou às matérias-primas compostas e industrializadas. Estes quase que
clamam pelo regresso a uma era pré-industrial (Green Deal do partido democrata norte-americano);
De outro, os negacionistas, que viam a questão ambiental como uma armadilha política e interpretaram as
isenções oferecidas aos países em vias de desenvolvimento como artifícios para colocar os EUA e algumas
economias europeias numa posição dependente dos países emergentes, designadamente a China;
O Ambiente torna-se, cada vez mais, num combate de apóstolos e ruidoso, em que ninguém queria ouvir
opiniões contrárias às suas. E os Estados, além da retórica política, agiam ou ficavam inertes consoante as suas
próprias agendas políticas internas: a França afirma-se ambientalista mas subsidia iniciativas de empresas
francesas de destruição da floresta amazónica; a UE apoia projetos desastrosos em países do 3.º mundo; a
China, pouco antes de Paris, aderiu às preocupações ambientais, mas em 2/3 do seu território inexistem
políticas mínimas nessa matéria;
Neste seguimento, falharam várias Cimeiras ambientais e cedo se percebeu que o acordo de Paris teria o
mesmo fim material de irrelevância e não cumprimento. Além disso, a saída dos EUA do acordo em 2017
(devido à promessa eleitoral de Trump de 2016), as ameaças do Brasil e o desinteresse de um conjunto de
países que tinham aceitado os objetivos de Paris em 2015 criaram a sensação internacional de mais uma
tentativa frustrada, que deixaria o esforço contra as alterações climáticas desprovido de sentido e de futuro.
Mas, apesar da proposta de Ursula ter sido encarada com ceticismo (a meta dos 100 dias não ajudou à sua
credibilização), esta foi cumprida: foi apresentado um plano estratégico ambiental que inclui 4 elementos
fundamentais: PEE/European Green Deal; Declaração Timmermans; Roteiro de ações (roadmap); Lei Climática
Europeia (projeto de regulamento);
O combate às alterações climáticas é assumido como o desafio determinante da nossa geração, cuja resposta
a Comissão Europeia decidiu tomar nas suas mãos;
O PEE consiste numa nova estratégia da Europa, que visa transformar as suas lógicas de produção, de
crescimento e de existência geral, mantendo e incrementando a qualidade de vida dos cidadãos europeus.
Deste modo, colocar-se-ia a Europa num plano irrenunciável de sociedade justa, próspera, dotada de uma
economia competitiva e verdadeiramente eficiente na gestão e utilização dos recursos;
Fins do PEE:
o Neutralidade climática – atingir a não-emissão de gases de efeito de estufa em 2050;
o Separação da lógica causal entre crescimento económico e utilização de recursos – este último
propósito é uma ambição civilizacional, já que nunca na nossa civilização, em espaços económicos
alargados (que não sejam cidades-Estado ou países de reduzida dimensão) foi ensaiado com êxito o
corte do cordão umbilical entre o crescimento da riqueza e a utilização de recursos;
o Não deixar ninguém para trás.
Objetivos agregados:
o Preservação do capital natural da UE
o Saúde e bem-estar (qualidade de vida) dos cidadãos europeus
o As mudanças terão de ser justas e inclusivas (equilíbrio)
o Atenção especial à diversidade territorial e à especificidade das indústrias e trabalhadores
o Ou seja, o PEE quer agregar os europeus nas suas diferenças, com a participação das autoridades
europeias, estatais, regionais e locais;
Pressupostos: o que é necessário?
o Orientação europeia quanto às mudanças climáticas, que não poderá ignorar os direitos dos
consumidores e trabalhadores;
o Requer um investimento financeiro massivo;
o Pressupõe um esforço global e transversal – todas as áreas da economia e o modo como encaramos a
nossa existência serão transformados paulatinamente;
o A médio/longo prazo terá de incluir o resto do mundo por arrastamento – a UE influencia e deve dar
o exemplo, mas a transformação global da sociedade pressupõe que o resto do mundo deverá
acompanhar estas mudanças;
Conteúdo:
o Transformar a economia e a sociedade – reduzir emissões, gerar emprego e crescimento, combater
a pobreza energética, reduzir a dependência energética externa, melhorar a saúde e melhorar o bem-
estar;
o Transportes sustentáveis para todos – planos para reduzir as emissões automóveis;
o Liderar a terceira revolução industrial – novos mercados para indústrias não poluentes;
eletrificação da economia e maior utilização de energia de fontes renováveis; mecanismo para
garantir que as empresas que importam produtos para a UE também paguem pelas emissões de
carbono; criação de empregos verdes no setor da construção;
o Despoluir o nosso sistema energético – reduzir para 55% as emissões de gases de efeito estufa até
2030; 40% é a nova meta para as energias renováveis para 2030; incentivos na tributação dos
produtos energéticos;
o Renovar os edifícios, adequando-os a estilos de vida mais ecológicos – os Estados-Membros
devem renovar, pelo menos, 3% da superfície total do conjunto de edifícios públicos; os EM devem
fixar um valor de 49% de utilização de energias renováveis nos edifícios para 2030;
o Trabalhar com a natureza para proteger o planeta e a saúde humana – recuperação das
florestas, dos solos e das zonas humidades, o que aumentará a absorção de CO2;
o Ação climática a nível mundial
o Ação climática a nível mundial – O PEE foi um exemplo positivo, tendo inspirando alguns
parceiros da UE a fixar as suas próprias data-limite para alcançar a neutralidade climática,
nomeadamente a Coreia do Sul; Além disso, este pacto tem o objetivo de provar que é possível
combater a emergência climática e, neste sentido, quem quiser negociar com a UE terá de se sujeitar,
ao longo do tempo, às regras ambientais europeias;
Transformação Verde – O PEE é a nova estratégia de crescimento da Europa e tem com objetivo essencial
torná-la no primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050.
Transformação Digital – As tecnologias digitais estão a mudar o rosto da indústria e a forma como
desenvolvemos atividades económicas. Estas permitem aos operadores económicos serem mais proativos,
proporcionam novas competências aos trabalhadores e apoiam a descarbonização da nossa economia.
Plano de produtos sustentáveis quer nos materiais quer na sua utilização, que priorizará a utilização de
materiais reciclados e a sua reutilização antes da reciclagem;
Serão adotados novos modelos de negócio com foco na prevenção face aos danos ambientais possíveis;
Existirá um reforço da responsabilidade ambiental;
Será dada particular atenção aos setores de utilização intensiva de recursos como têxteis, construção,
eletrónica e plásticos – continuação da estratégia dos plásticos de 2018 da Comissão com especial atenção
aos microplásticos;
Incluirá a oferta de um leque de escolhas aos consumidores quanto à utilização dos produtos mais amigos
do ambiente;
Promoção da informação credível, sendo esta essencial para as escolhas dos consumidores, evitando o
‘’green washing’’
Revisão da legislação sobre combustíveis em veículos automóveis, visando atingir o nível de emissões zero
a partir de 2025;
Especial atenção à navegação (poluição nos portos) e aeronáutica (novos aeroportos com mais exigências);
Entre 2021-2027, a Política Agrícola Comum, no seu orçamento, deverá contribuir 40% para o ambiente
A Política Comum das Pescas, através do Fundo de Pescas, contribuirá 30%
A agricultura e a pecuária europeias deverão ser um modelo de sustentabilidade com mudanças de práticas e
processo produtivos
Planos estratégicos de redução dos pesticidas, fertilizantes e antibióticos
Embora todos os Estados-Membros, regiões e setores devam contribuir para a transição, a escala do desafio não
é a mesma para todos: o mecanismo para uma transição justa prestará apoio financeiro e prático para ajudar os
trabalhadores afetados e gerar os investimentos necessários a essas regiões.
Os objetivos do Green Deal não serão atingidos com tecnologias convencionais – obrigam inovações
disruptivas e soluções ambientalmente sustentáveis;
Escolas e universidades serão fatores fundamentais;
Promessa verde – ‘’do no harm’’
o Todas as políticas da União, independentemente do setor, deverão obedecer às lógicas de
sustentabilidade do PEE
o Toda a legislação europeia terá de refletir isso mesmo
o Transversalidade total na ação dos vários organismos da UE
AIA/DIA – O regime jurídico da AIA (RAIA) é uma lei essencial para a operacionalização e efetivação do
direito do ambiente. Este traduz-se num procedimento administrativo em que a autoridade competente emana
uma declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental) necessariamente prévia ao ato autorizativo final e
que constitui condição de validade intrínseca deste: note-se que a decisão final pode ser desfavorável, favorável
ou condicionalmente favorável (RAIA, art. 18.º/1);
Objetivos:
o Do lado do proponente, obter uma posição antecipada da Administração acerca das suas opções
antes da obtenção da autorização final;
o Do lado da Administração, configurar toda a situação no mínimo sacrifício possível para o ambiente
– ideia do menor dano presente + futuro possível;
Noções Básicas – art. 2.º
d) ‘’Avaliação de impacte ambiental’’ ou ‘’AIA’’, instrumento de carácter preventivo da política de
ambiente, sustentado:
o Na elaboração de um estudo de impacte ambiental
o Na realização de consultas públicas e de consultas a entidades competentes em razão da matéria
o Na análise pelas autoridades competentes da informação apresentada no estudo e de eventual
informação suplementar fornecida pelo proponente ou decorrente das consultas efetuadas
o Na conclusão fundamentada pela autoridade de avaliação de impacte ambiental sobre os efeitos
significativos do projeto no ambiente, bem como a identificação e proposta de medidas que evitem,
minimizem ou compensem esses efeitos, tendo em vista uma decisão sobre a viabilidade da
execução de tais projetos e respetiva pós-avaliação;
f) ‘’Decisão de verificação de conformidade ambiental de projeto de execução’’, a decisão, expressa ou
tácita, sobre a conformidade ambiental do projeto de execução com a declaração de impacte ambiental
emitida, em fase de anteprojeto ou estudo prévio;
g) ‘’Declaração de impacte ambiental’’ ou ‘’DIA’’, decisão, expressa ou tácita, sobre a viabilidade
ambiental de um projeto, em fase de estudo prévio ou anteprojeto ou projeto de execução;
j) ‘’Estudo de impacte ambiental ou ‘’EIA’’, documento elaborado pelo proponente no âmbito do
procedimento de AIA, que contém:
o Uma descrição sumária do projeto
o A identificação e avaliação dos impactes prováveis, positivos e negativos, que a realização do
projeto pode ter no ambiente
o A evolução previsível da situação de facto sem a realização do projeto
o As medidas de gestão ambiental destinadas a evitar, minimizar ou compensar os impactes negativos
esperados
o E um resumo não técnico destas informações
k) ‘’Impacte Ambiental’’, conjunto das alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas no ambiente,
sobre determinados fatores, num determinado período de tempo e numa determinada área, resultantes da
realização de um projeto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse período de tempo e nessa área, se
esse projeto não viesse a ter lugar;
n) ‘’Pós-avaliação’’, procedimento desenvolvido após a DIA ou a decisão sobre a conformidade
ambiental do projeto de execução, que visa avaliar a eficácia das medidas fixadas para evitar, minimizar
ou compensar os impactes negativos e potenciar os efeitos positivos, se necessário, nas fases de construção,
exploração e desativação, definindo, se necessário a adoção de novas medidas;
t) ‘’Resumo não técnico’’ ou ‘’RNT’’, documento que integra o EIA e o Relatório de Conformidade
Ambiental do Projeto de Execução e que tem como objetivo servir de suporte à participação pública,
descrevendo, de forma coerente e sintética, numa linguagem e com uma apresentação acessível à
generalidade do público, as informações constantes dos mesmos;
d) Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução ou ‘’RECAPE’’, documento
elaborado pelo proponente no âmbito da verificação da conformidade do projeto de execução com a DIA
Art. 1.º/2 – As decisões proferidas no procedimento de AIA, incluindo na fase de verificação da
conformidade ambiental do projeto de execução são prévias ao licenciamento ou autorização dos projetos
suscetíveis de provocar efeitos significativos no ambiente, nos termos do presente decreto-lei, devendo a
entidade licenciadora ou competente para a autorização do projeto indeferir o pedido de licenciamento ou
autorização sempre que não tenha sido previamente obtida decisão, expressa ou tácita, sobre a AIA;
Âmbito de Aplicação – De acordo com os dispostos nos números 3 a 5 do artigo 1.º do RAIA, todos os
projetos suscetíveis de provocar efeitos significativos no ambiente estão sujeitos a AIA – esta é a regra.
Contudo, excetuam-se:
o Os estabelecimentos industriais a instalar em Zona Empresarial Responsável (ZER) não são sujeitos
a procedimento de AIA, no caso de o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da ZER ter incluído os
requisitos de informação necessários ao EIA do estabelecimento em causa – n.º6
o Projetos destinados unicamente à defesa nacional ou à proteção civil – n.º 7
Pode, ainda, por iniciativa do proponente, ser pedida a dispensa de AIA, de acordo com o art. 4.º/1 – em
circunstâncias excecionais e devidamente fundamentadas, o licenciamento ou a autorização de um projeto pode,
por iniciativa do proponente e mediante despacho dos membros do Governo responsáveis pela área do ambiente
e da tutela do projeto, ser concedido com dispensa, total ou parcial, do procedimento de AIA.
Art. 6.º Entidades Intervenientes – No âmbito da aplicação do presente decreto-lei, intervêm as seguintes
entidades:
o Entidade licenciadora ou competente para a autorização do projeto
o Autoridade de AIA: A Agência Portuguesa do Ambiente, I.P e as CCDRs
o Comissão de Avaliação (CA) – órgão ad hoc, que tem um papel fundamental na realização da
instrução (art. 9.º)
o Autoridade Nacional de AIA (normalmente a APA)
o Conselho Consultivo de AIA (CCAIA) – art. 10.º/4/5/6 – visa o acompanhamento abstrato
(genérico) da aplicação da RAIA e serve de órgão consultor da APA e do Governo;
o Peritos – art. 9.º/a – aqueles que cumpram os requisitos definidos por portaria do membro do
Governo responsável pela área do ambiente, sob proposta do grupo de pontos focais nas autoridades
de AIA e ouvido o CCAIA
o Grupo de pontos focais – art. 10.º/2 – sob a coordenação da autoridade nacional de AIA, é criado um
grupo de pontos focais, cuja composição é assegurada por representantes de todas as autoridades de
AIA – art. 10.º/3 – acompanhar a evolução das políticas e metodologias de AIA, bem como preparar
normas e documentos de orientação para uma aplicação harmonizada dos procedimentos adotados
no âmbito do presente regime jurídico;
Contagem dos Prazos (art. 87.º CPA) – À contagem dos prazos são aplicáveis as seguintes regras: a) o prazo começa a correr
independentemente de quaisquer formalidades; b) não se inclui na contagem o dia em que ocorra o evento a partir do qual o prazo
começa a correr; c) o prazo fixado suspende-se nos sábados, domingos e feriados; d) na contagem dos prazos legalmente fixados em
mais de 6 meses, incluem-se os sábados domingos e feriados; é havido como prazo de um ou dois dias o designado, respetivamente,
por 24 ou 48h; o termo do prazo que coincida com dia em que o serviço perante o qual deva ser praticado o ato não esteja aberto ao
público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil seguinte; g) considera-se que o serviço não
está aberto ao público quando for concedida tolerância de ponto, total ou parcial.
Fase Preliminar Facultativa – (art. 12.º/1 – ‘’o proponente pode apresentar previamente ao início do
procedimento de AIA, uma PDA (Proposta de Definição do Âmbito) do EIA
art. 12.º/10 – ‘’a definição do âmbito do EIA vincula o proponente, a autoridade de AIA e as entidades
externas consultadas quanto ao conteúdo do EIA, pelo período de 2 anos, salvo quando se verifiquem, durante
este período, alterações circunstanciais de facto e direito que manifesta e substancialmente contrariem a
decisão’’ esta fase prévia visa consolidar a confiança dos proponentes no seu projeto e pode permitir saltar
etapas do procedimento, dando logo origem a parecer final da autoridade da AIA.
LA – Entidades Competentes
1. As instalações que desenvolvem uma ou mais atividades previstas no anexo I, bem como as instalações de
combustão e as instalações de incineração de resíduos e de coincineração de resíduos, só podem ser
explorados após a emissão das licenças previstas no presente decreto-lei;
2. O titular de LA, emitida para as instalações que desenvolvem as atividades previstas no anexo I, é o único
responsável pelo desenvolvimento de todas as atividades, independentemente das outras entidades que
operem na mesma instalação e sem prejuízo do exercício do direito de regresso, quando aplicável.
Formas da LA
o Licença prévia (regra)
o Uma só licença, quando a atividade principal é a gestão (incineração ou co-incineração) de resíduos
(art. 6.º/1)
o Licença ambiental padronizada, mediante despacho ministerial, operado sob responsabilidade (casos
do art. 8.)
LA – Fases do Procedimento
A situação regra acontece através do balcão único (art. 13.º) – que tem de ser coordenado com a LUA; Note-
se que a LA tem 7 fases:
1. Iniciativa – Pedido em formulário eletrónico dirigido à entidade coordenadora que o redireciona à APA
no prazo de 3 dias (art. 35.º)
2. Instrução
o Declaração de conformidade ou indeferimento liminar – 15 dias (art. 37.º)
o Avaliação técnica (38.º/1)
o Publicitação do pedido (art 39.º)
3. Audiência dos interessados (regido pelo CPA, arts. 121.º-125.º)
4. Decisão – Prazo 50 dias; AIA prévia é situação comum (art. 40.º/2) senão prazo até 80 dias (art. 40.º/1)
o Nesta fase podem dar-se 4 situações: deferimento expresso; indeferimento expresso (art. 40.º/6),
deferimento tácito (tem de ser certificado, art. 23.º/3) e indeferimento tácito/implícito – quando
nenhum dos casos anteriores se verifica, o que implica que o proponente terá de usar uma ação de
condenação para a prática de ato devido (arts. 66.º e ss. do CPTA)
5. Publicitação da decisão fundamentada (arts. 18.º/1 e art. 30.º/6) – O foco deve ser dado às emissões
evitadas pelo licenciamento, relatórios que serviram de alicerce às MTD;
6. Monitorização (art. 41.º/3/c/d e art. 93.º) – O operador deve realizar relatórios juntos da APA – se não o
fizer incorrerá numa contra-ordenação grave (art. 111.º/2/m)
7. Desmantelamento (art. 42.º) – Logo à partida, este tipo de medidas devem estar previstas. Se o operador
lidar com substâncias perigosas (art. 3.º/ggg), deve apresentar um relatório de base e um plano de
desativação (na cessação das atividades);
Contudo, esse objetivo tem encontrado obstáculos e não foi, ainda, atingido. Neste seguimento, em 2015, foi
criado a LUA (Licenciamento Único Ambiental, DL n.º75/2015, de 11 de maio), que visa obter a TUA (Título
Único Ambiental)
LUA – DL n.º175/2015
A ideia é concentrar o procedimento e a decisão na APA e nas CCDR, que já tinham à sua cura a maioria dos
procedimentos na área do ambiente: ‘’…os sucessivos processos de reestruturação dos serviços públicos
permitiram reunir num único organismo, a Agência Portuguesa do Ambiente, I.P (APA, I.P.), a maioria das
competências em matéria de licenciamento no domínio do ambiente, partilhadas ao nível regional com as
Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Esta circunstância constituiu uma
oportunidade irrenunciável de economia dos recursos afetos aos diversos procedimentos de licenciamento no
domínio do ambiente, de forma simultânea e global, com ganhos para os operadores económicos ao nível da
redução dos custos.’’
O LUA traduz-se num procedimento de emissão de Título Único Ambiental (TUA), que constitui um título
único de todos os atos de licenciamento e de controlo prévio no domínio do ambiente aplicáveis ao pedido,
condensando toda a informação relativa aos requisitos aplicáveis ao estabelecimento ou atividade em
questão, em matéria de ambiente.
O TUA inclui a informação de base da atividade ou instalação, disponibilizada de forma harmonizada para
todas as entidades intervenientes, sendo nele inscritas todas as licenças e autorizações concedidas, bem
como averbadas as vicissitudes jurídicas das mesmas, assegurando assim o histórico desse estabelecimento
ou atividade, em matéria de ambiente.
O LUA funciona a partir da plataforma eletrónica Sistema Integrado de Licenciamento do Ambiente
(SILiAmb), à qual têm acesso todos os organismos intervenientes para efeitos de monitorização dos
procedimentos em curso, através da qual entram os pedidos de licenciamento no âmbito dos regimes
aplicáveis ao exercício das atividades económicas.
Quando estejam em causa pedidos de licenciamento ou controlo prévio ambiental apresentados no âmbito
desses regimes, os pedidos são submetidos através do respetivo balcão eletrónico e encaminhados para o
SILiAmb, para tramitação do procedimento de emissão do TUA. O SILiAmb assegura a interoperabilidade
com a plataforma eletrónica do regime de licenciamento da atividade, transmitindo para a mesma o TUA,
atualizado com as licenças ambientais adquiridas.
Âmbito de aplicação (art. 1.º)
o Da avaliação de impacte ambiental (RJAIA)
o De prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas
o De emissões industriais (REI)
o De comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa
o Da gestão de resíduos
o Dos títulos de utilização de recursos hídricos (TURH)
o Das operações de deposição de resíduos em aterro e as características técnicas e os requisitos gerais
a observar na conceção, licenciamento, construção, exploração, encerramento e pós-encerramento de
aterros
o Do regime jurídico do licenciamento da instalação e da exploração dos centros integrados de
recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos
o Dos procedimentos ambientais previstos no regime jurídico de gestão de resíduos das explorações
de depósitos minerais e de massas minerais
o Dos procedimentos ambientais de avaliação de incidências ambientais
Procedimento do LUA
A ação popular aglomera os interesses individuais homogéneos, a quem concede regime indemnizatório, e
os interesses de fruição de bens coletivos, a quem não admite direito à indemnização de forma direta;
Os interesses individuais eram ressarcíveis através de uma ação inibitória do titular lesado – mas não os
interesses coletivos…
Pela LBA os autores populares e o MP podem propor ações inibitórias e deduzir pedidos de indemnização:
1. Os infratores são obrigados a remover as causas da infrações e a repor a situação anterior à mesma ou
equivalente, salvo o disposto n.º3 (…)
2. Em caso de não ser possível a reposição da situação anterior à infração, os infratores ficam obrigados ao
pagamento de uma indemnização especial a definir por legislação e à realização das obras necessárias à
minimização das consequências provocadas.’’ Contudo, os critérios legais não apontam para valoração
da lesão ecológica, para o equilíbrio do ecossistema, para o prejuízo geracional, etc.
Dano Ecológico/Ambiental
O Dano consiste num prejuízo causado num qualquer bem jurídico – coisas ou direitos;
A evolução do direito do ambiente proporcionou o surgimento do conceito de danos causados à natureza em
si, ao património natural e aos fundamentos da vida;
Na doutrina e na legislação europeia passaram a coexistir vários conceitos diferenciados de danos
ambientais que trouxeram alguma confusão: dano ecológico puro; dano ecológico propriamente dito; danos
causados ao ambiente; danos no ambiente;
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DL 147/2008, de 29 de julho
‘’O estudo dos instrumentos de tutela ambiental a partir da análise económica do direito tem revelado que,
sempre que os particulares disponham de mais e ou melhor informação do que as autoridades
administrativas relativamente a um estado de conservação ambiental ou quanto ao risco próprio das
atividades económicas, é preferível dotá-los de direitos indemnizatórios, investindo assim o cidadão na
qualidade de verdadeiro zelador do ambiente, de modo a obter uma alocação economicamente mais racional
dos recursos.’’
A dispersão dos danos ambientais, em que o lesado, numa análise custo benefício, se vê desicentivado a
demandar o poluidor;
A concausalidade na produção de danos, que em matéria ambiental conhece particular agudeza em razão do
carácter técnico e científico e é susceptível de impedir a efetivação da responsabilidade;
O período de latência das causas dos danos ambientais, que leva a que um dano só se manifeste muito
depois da produção do(s) facto(s) que está na sua origem;
A dificuldade técnica de provar o nexo de causalidade (uma causa é apta a produzir o dano) (e,
consequentemente, de o imputar ao respetivo autor);
A questão de garantir que o poluidor tem a capacidade financeira suficiente para suportar os custos de
reparação e a internalização do custo social gerado;
DL 147/2008, de 29 de julho
Disposições Gerais
Seguindo o modelo da Diretiva 2004/34/CE, o art. 2.º define o seu âmbito de aplicação ‘’aos danos
ambientais, bem como às ameaças iminentes desses danos’’ se causadas por uma atividade ocupacional:
‘’económica, independentemente de seu carácter público ou privado, lucrativo ou não’’; Contudo, este não
se aplica se estes resultarem de: atos de conflito armado, hostilidades, guerra civil ou insurreição;
fenómenos naturais de carácter totalmente excepcional imprevisível ou que, ainda que previstos, sejam
inevitáveis; atividades cujo principal objetivo resida na defesa nacional ou na segurança internacional; as
atividades cujo único objetivo resida na proteção contra catástrofes naturais; se a responsabilidade for
abrangida por convenções internacionais; se decorrentes de riscos nucleares; ou causados pelas atividades
abrangidas por Tratados da EU ou por incidentes ou atividades relativamente aos quais a
responsabilidade seja abrangida pelo âmbito de algum dos instrumentos internacionais;
O art. 3.º estabelece o regime da responsabilidade das pessoas coletivas, incidindo-a solidariamente sobre os
diretores, gerentes e administradores e estendendo-a à sociedade-mãe ou dominante nos casos de utilização
abusiva da personalidade jurídica ou fraude à lei.
O art. 4.º define o regime da comparticipação (responsabilidade solidária + direito de regresso recíproco), a
presunção da responsabilidade em partes iguais quando a participação não for individualizável. Para o
direito de regresso assente na responsabilidade subjetiva, presumem-se iguais as culpas dos responsáveis;
Os arts. 5.º e 6.º referem-se ao nexo de causalidade na apreciação da prova, elegendo a teoria da causalidade
adequada, incluindo as lesões ocasionadas por poluição de carácter difuso desde que exista nexo de
causalidade entre os danos e as atividades lesivas;
A teoria da causalidade adequada impõe, num primeiro momento, a existência de um facto naturalístico
concreto, condicionante de um dano sofrido, para que este seja reparado; e, num segundo momento, que o
facto concreto apurado seja, em geral e abstrato, adequado e apropriado para provocar o dano;
A nossa lei adotou a formulação negativa (mais ampla) da teoria da causalidade adequada, segundo a qual o
facto que atuou como condição do dano só não deverá ser considerado causa adequada do mesmo se, dada a
sua natureza geral e em face das regras de experiência comum, se mostrar indiferente para a verificação do
efeito;
A responsabilidade civil extracontratual do Estado e das entidades públicas, por factos ilícitos, com o
consequente dever de indemnização dos lesados, assenta na verificação cumulativa dos seguintes
pressupostos:
o O facto (acto de conteúdo positivo ou negativo) traduzido numa conduta voluntária de um órgão ou
seu agente, no exercício das suas funções e por causa delas;
o A ilicitude, que advém da ofensa, por esse facto, de direitos de terceiros ou de disposições legais que
se destinam a proteger interesses alheios;
o A culpa, como nexo de imputação ético-jurídico que liga o facto à vontade do agente, a título de
dolo ou de negligência;
o O dano, lesão ou prejuízo de ordem patrimonial ou não patrimonial, produzido na esfera jurídica de
terceiros;
o O nexo de causalidade entre o facto (ato ou omissão) e o dano, a apurar segundo a teoria da
causalidade adequada;
O art. 563.º do CC traduz a consagração da teoria da causalidade adequada, adoptando-se, em regra, no
domínio da responsabilidade civil por factos ilícitos, a formulação negativa dessa teoria (formulação de
Enneccerus-Lehmann), à luz da qual é de excluir a responsabilidade quando o facto era de todo indiferente
para a produção do dano concretamente ocorrido, e só se tornou uma condição dele por virtude de outras
circunstâncias, sendo pois inadequado para o dano em questão;
Estribado no art. 41.º do LBA – a quem confere exequibilidade – o art. 7.º regula a responsabilidade
objetiva recorrendo à identificação dos operadores de atividades objetivamente perigosas no Anexo III do
diploma;
O art. 8.º e 9.º dispõem sobre a responsabilidade subjetiva transpondo para o domínio do ambiente a lógica
civilista geral;
O art. 10.º impede a dupla reparação – norma essencial dada a existência de um regime (aparentemente)
duplicado de responsabilização civil e administrativa: os lesados não poderão invocar a responsabilidade
civil quando os danos já tenham sido reparados através da responsabilidade administrativa (mas a inversa
não é verdadeira);
m) ‘’medidas de prevenção’’ quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato ou omissão que
tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao máximo esses
danos;
n) ‘’medidas de reparação’’ qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter provisório, com
o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados ou fornecer uma
alternativa equivalente a esses recursos ou serviços;
Os arts. 11.º a 21.º estabelecem um regime de prevenção e de reparação do dano ecológico por via
administrativa que o diploma apelida de ‘’responsabilidade administrativa’’
Os dois regimes não se excluem, antes convivem, quer na responsabilidade objetiva (art. 12.º/2) quer na
subjetiva (art. 13.º/2);
Trata-se de um procedimento administrativo especial, sob a autoridade da APA (art. 29.º), que cumpre a
verdadeira transposição da Diretiva 2004/34/CE e atualiza o direito português em matéria de dano
ecológico;
A Administração é o garante da tarefa partilhada da defesa do estado de direito ambiental;
O art. 11.º um longo rol de definições jus-ambientais que tem a virtude de esclarecer dúvidas inevitáveis,
mas, também, ostenta o perigo de se cristalizarem face à velocidade com que este tipo de ‘’noções técnico-
científicas embrulhadas em direito’’ tendem a evoluir;
Saliente-se, pela negativa, o disposto no 11.º/I/e/iii, quando se fala em ‘’danos causados ao solo’’ como
‘’qualquer contaminação que crie risco significativo para a saúde humana’’ – escapa à noção de dano
ecológico e repristina tempos antigos…
Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 26
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Exigir que o operador forneça informações sobre a ameaça iminente de danos ambientais ou suspeita dessa
ameaça;
Exigir que o operador adote as medidas de prevenção necessárias;
Dar ao operador instruções obrigatórias quanto às medidas de prevenção necessárias, ou se for o caso,
revogá-las;
Executar subsidiariamente e a expensas do operador responsável, as medidas de prevenção necessárias,
designadamente quando, não obstante as medidas que o operador tenha adoptado, a ameaça iminente de
dano ambiental não tenha desaparecido ou, ainda, quando a gravidade e as consequências dos eventuais
danos assim o justifiquem;
Medidas de reparação – art. 15.º - são obrigatórias (n.º2)
Como último recurso, pode a autoridade competente executar, ela própria, as medidas de prevenção e
reparação – art. 17.º
O interessado pode solicitar à autoridade competente um pedido de intervenção – art 18.º
Os custos cabem ao operador – regra, art. 19.º; atenção ao papel do FA – art. 23.º
Exceção – art. 20.º
IGAOT (Insperação-Geral)
Autoridade concretamente competente
GNR (serviços de ambiente)
Contra-Ordenações
São todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima;
A coima é a sanção típica das contra-ordenações que ainda podem ser acrescidas de sanções acessórias;
A distinção entre crime e contra-ordenações assenta na diferente natureza dos bens jurídicos tutelados – há
uma menor ‘’ressonância ética’’ das contra-ordenações;
No direito ambiental coexistem contra-ordenações:
o Muito graves (art. 26.º/1)
o Graves (art. 26.º/2)
o Leves (art. 26.º/3)
Prazos - Artigo 32.º - Os prazos previstos no presente decreto-lei são contínuos, não se suspendendo em
qualquer circunstância;
Prescrição – Artigo 33.º - Consideram-se prescritos os danos causados por quaisquer emissões, acontecimentos
ou incidentes que hajam decorrido há mais de 30 anos sobre a efetivação do mesmo;
Interpenetrações, confusões e anacronismos – Carla Amado Gomes defende que o capítulo II deveria ser
tido por não escrito, já que não se diferencia do regime geral do CC e não merece lugar num regime de
prevenção e reparação de dano ecológico;
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O capítulo II é redundante face à legislação anterior – só o dano ecológico requer regime específico;
A sua lógica não está presente na Diretiva que o DL diz transpor;
Atrapalha a noção de dano ecológico com a de dano ambiental, retirando uma aborrecida androginia que
tem minado esta matéria – falhanço na correção da sua ambiguidade;
Levanta confusões, já que pode induzir no erro que a responsabilidade pela prevenção e reparação do dano é
da Administração – mas é do operador;
Atrai ruído indesejável face à responsabilidade do Estado e entidades públicas;
O conceito ‘’atividades ocupacionais’’ do art. 2.º/1 denota previsão insuficiente – Amado Gomes quer
estender o regime de reparação do anexo V às atividades não empresarializadas;
Com a LBA alterou-se o paradigma que remetia genericamente esta matéria para os tribunais comuns;
A expressão ‘’foro competente’’ obriga à identificação do tipo de relação jurídica presente: se esta revestir
cariz administrativo predominante serão competentes os tribunais administrativos, já que passaram a ser o
foro preferencial dos litígios ambientais por via do disposto no ETAF;
Por natureza, o dano ecológico é público, o que implica a propositura de ações especiais e comuns e o uso
de meios cautelares no foro administrativo seja qual for a qualidade do operador – tal como ações populares
neste âmbito;
Os tribunais administrativos não conhecerão de litígios emergentes de direitos individuais ou resultantes de
contra-ordenações;
O dano ambiental pessoal e patrimonial em que o titular lesado pretende o ressarcimento do dano (ou a sua
evitação) será competência do foro cível desde que a lesão não estampe natureza pública;
Conclusões
A responsabilidade por danos ecológicos representa uma evolução no instituto geral juridificando a ideia de
responsabilidade intergeracional (CRP, 66.º/2/d);
Passou-se da responsabilidade-sanção para a responsabilidade-indemnização; e desta, muito por causa do
direito do ambiente para a responsabilidade-antecipação;
Aplica-se a lógica da prevenção/precaução para resguardar o património ecológico comum da humanidade;
Julgamos que o legislador andou bem ao não estabelecer uma presunção de inversão de ónus da prova
contra o operador – baseada na prevenção/precaução – pois tal presunção inexiste na Diretiva que o diploma
transpõe;
Genericamente, o DL n.º147/2008 constitui um esforço louvável de transposição e harmonização da
legislação europeia no seio do direito português;
Resistem imbróglios herdados do regime anterior e da suposta lógica da tradição jurídica nacional que,
sobretudo aqui, é inaplicável;
As nossas dúvidas acerca da pouca viabilidade deste regime firmam-se na sua inadequação quer ao perfil do
operador nacional quer ao da Administração sempre pronta a complicar quando encontra uma brecha para o
poder fazer;
Powerpoint 9
Vertente Repressiva – (A propósito da Responsabilidade Civil) Excede a vertente reparatória e deve transmitir
um especial juízo de censura social que se traduzirá numa sanção administrativa ou penal.
Diretiva 2008/99CE – Veio exigir a criminalização de ilícitos ambientais devido ao crescimento da consciência
ambiental e devido à verificação de alguma ineficácia das sanções administrativas (coimas). Note-se que
quando uma empresa não tem meios para pagar as coimas estas não lhes podem ser exigidas.
Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 28
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O surgimento do direito penal no ambiente não afastou o direito administrativo sancionatório: estes
complementam-se. E para além do disposto no DL n.º147/2008 (responsabilidade civil), o regime das CO
resulta da Lei Quadro das Contraordenações Ambientais – Lei n.º50/2006, de 29 de agosto – ver arts. 8.º, 11.º,
21.º, 23.º, 30.º, 32.º 38.º, 40.º; Note-se que as contraordenações cabem aos tribunais comuns (reserva tendencial
e não absoluta, Ac. TC 522/2008)
Os crimes ambientais constam dos artigos 279.º, 279.º-A; 280.º e 281.º do Código Penal em articulação com
o art. 11.º/2. Depois existem os crimes com efeitos ambientais – art. 272.º - incêndios, explosões e outras
condutas especialmente perigosas; art. 273.º - energia nuclear; art. 274.º - incêndio florestal;
O direito penal não está vocacionado para abranger todas as lesões aos bens juridicamente protegidos –
apenas regula a violação dos valores fundamentais. Assim, falamos da proteção penal como última ratio da
guarida jurídica que os bens tutelados pelo direito auferem. Portanto, a proteção penal de valores ambientais
passou a ser exigida quando estes se revelaram como essenciais e sine qua non para a sociedade e,
consequentemente, para o direito.
Em direito penal, em regra, há dois tipos de crime: o crime de dano e o crime de perigo:
Crime de dano – existe quando é produzida uma lesão efetiva do bem jurídico protegido;
Crime de perigo – é aquele em que é suficiente que exista a ameaça de lesão de um bem jurídico protegido
para que sejam punidas as condutas que criaram o perigo para os interesses penalmente protegidos,
independentemente da verificação efetiva de um dano;
o Crime de perigo abstrato – em que é suficiente que uma determinada ação seja susceptível de
colocar em perigo um interesse protegido para que exista punição – não requer um comportamento
individualizado sobre a vítima;
o Crime de perigo concreto – tem como requisito a prática de um comportamento individualizado
que ponha em perigo um bem jurídico – a ação violadora do agente figura, por si só, um perigo para
um interesse ou bem jurídico penalmente protegido;
Crimes ambientais são crimes de dano ou de perigo? A doutrina penalista portuguesa anda em
divergência polémica há anos sobre se os crimes ambientais são de perigo (Canotilho) porque o elemento
típico é a desobediência ou crimes de dano (Germano Marques Silva);
Contudo, também há uma posição intermédia: serão crimes de dano, mas com uma componente de
desobediência (Souto Moura);
Conclusões:
Em vários tipos legais de crime, como no art. 279.º, a proteção penal versa uma noção ambiental antiga e já
ultrapassada – a antropocêntrica (já não é tanto assim no art. 279.º-A.
O ambiente ainda é visto como um conjunto de fatores exógenos que servem o ser humano e não como a
imperiosa necessidade de salvaguardar os sistemas que suportam os sistemas de vida, nomeadamente a
biodiversidade.
E que só a proteção da biodiversidade global poderá servir a qualidade de vida humana como parte do todo
e não como o seu fim exclusivo.
Perguntas-Modelo
Princípio do Poluidor-Pagador / Princípio do Utilizador-Pagador
De facto, ambos os princípios constituem princípios materiais de ambiente e ambicionam uma gestão racional
dos recursos. Contudo, estes apresentação distinções entre si: o princípio do poluidor-pagador faz o poluidor
arcar com os custos da sua atividade eco-poluente e da introdução de medidas com vista ao combate das
ameaças e agressões ao ambiente (artigo 3.º/d da Lei de Bases do Ambiente). Deste modo, quem beneficia de
uma atividade causadora de danos ambientais deve ser responsável pelos prejuízos perpetuados, por via fiscal.
Contudo, surge um paradoxo: quem paga pode poluir. Por sua vez, o princípio do utilizador-pagador impõe ao
utente o suporte dos custos da utilização dos recursos e da recuperação proporcional dos custos associados à sua
disponibilização (artigo 3.º/e da Lei de Bases do Ambiente). Portanto, o objetivo é racionalizar o uso dos
recursos pelos cidadãos, permitindo ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização de recursos
(artigo 66.º/2/h da Constituição da República Portuguesa). Em suma, o princípio do poluidor-pagador é dotado
de uma vertente sancionatória e repressiva, ao passo que o princípio do utilizador-pagador é dotado de uma
vertente racional.
O Pacto Ecológico Europeu designa a nova estratégia da Europa, que visa transformar as suas lógicas de
produção, de crescimento e de existência geral, mantendo e incrementado a qualidade de vida dos cidadãos
europeus. Neste sentido, é conveniente referir que este pacto detém algumas medidas de sustentabilidade,
nomeadamente a fronteira do carbono. Esta surge relacionada com a lógica do produto desde a matéria-prima
até ao produto final: se não forem observadas as regras para a produção, o produto será taxado.
O regime jurídico da AIA (RAIA) é uma lei essencial para a operacionalização e efetivação do direito do
ambiente. Este traduz-se num procedimento administrativo em que a autoridade competente emana uma
declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental). Note-se que este pressupõe uma fase preliminar
facultativa da AIA: art. 12.º/1 – ‘’o proponente pode apresentar previamente ao início do procedimento de AIA,
uma PDA (Proposta de Definição do Âmbito) do EIA. Assim, esta fase prévia visa consolidar a confiança dos
proponentes no seu projeto e pode permitir saltar etapas do procedimento, dando logo origem a parecer final da
autoridade da AIA.
O direito europeu encetou um caminho de concentrar os regimes das várias autorizações ou licenças com
suscetibilidade de afetação dos valores ambientais numa só figura: a licença ambiental – regime de emissões
industriais aplicável à prevenção e ao controlo integrados da poluição, bem como as regras destinadas a evitar e
ou reduzir as emissões para o ar, a água e o solo e a produção de resíduos; Por sua vez, a licença ambiental
pressupõe a licença ambiental padronizada: licença ou autorização que incorpora condições técnicas
padronizadas por tipo de atividade prevista no presente decreto-lei e aprovadas por despacho dos membros do
Governo responsáveis pela área técnica em causa e do ambiente e que dispensa permissão administrativa nesse
domínio, substituída por termos de responsabilidade de cumprimento de todas aquelas condições técnicas
padronizadas; (art.3.º/jj do DL n.º127/2013, de 30 de agosto);
Dano Ecológico
De facto, as contraordenações e os crimes ambientais são ambos atos ilícitos que perpetuam efeitos danos ao
ambiente. Contudo, estes são distintos entre si. Designamos por contraordenação o facto censurável e ilícito
correspondente à violação de disposições legais e regulamentares em matéria de ambiente, que consagrem
direitos e deveres, para os quais existe uma coima em caso de incumprimento (art. 1.º/2 da Lei Quadro das
Contra-Ordenações Ambientais: Lei n.º50/2006, de 29 de agosto). Por sua vez, um crime ambiental designa
qualquer ato que infrinja o direito do ambiente e cause danos ou riscos graves para o ambiente ou à saúde
humana. São exemplos de crimes ambientais: a emissão ou descarga ilegal de substâncias/resíduos na
atmosfera, água e solos e o comércio ilegal de espécies selvagens.
Princípio da Informação
De facto, o princípio da informação constitui um dos princípios das políticas públicas ambientais. Este obriga
ao envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, ambicionando uma maior consciência coletiva neste
âmbito e assegurando aos cidadãos o direito de intervir nas políticas públicas ambientais (artigo 4.º/e da Lei de
Bases do Ambiente). Neste sentido, é conveniente referir o artigo 7.º/1 da mesma lei, que reconhece a todos ‘’o
direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente protegidos em matéria de ambiente’’.
Portanto, é indubitável que a informação e a participação são elementos integradores e qua non da cidadania
ambiental.
Princípio da Responsabilidade
Efetivamente, o princípio da responsabilidade constitui um dos princípios materiais de ambiente. Este impõe a
responsabilização de todos aqueles que direta ou indiretamente, seja por dolo ou negligência, causem danos ao
ambiente. Neste sentido, cabe ao Estado o papel de sancionador, nomeadamente através de indemnizações
(artigo 3.º/f da Lei de Bases do Ambiente). Note-se que este princípio implica todas as formas de
responsabilidade: penal, civil, administrativa e disciplinar.
A Lei Climática Europeia decorreu da proposta da Comissão de março de 2020, com a pretensão de ser o
veículo jurídico do Pacto Ecológico Europeu. Note-se que esta ambiciosa assegurar que todas as políticas
europeias e todos os setores da economia e da sociedade contribuam para os objetivos da União Europeia em
matéria de ambiente (transversalidade). Em suma, esta lei pretende tornar o caminho para a neutralidade
climática vinculativo e irreversível.
‘’A dispensa da avaliação de impacte ambiental constitui um extravio do princípio da prevenção que
pode ser perigosa.’’
Para efetuar um comentário fundamentado acerca do excerto é necessário definir os conceitos em questão: o
regime da avaliação de impacte ambiental (RAIA) e o princípio da prevenção. A RAIA é uma lei essencial para
a operacionalização e efetivação do direito do ambiente, que se traduz num procedimento administrativo em
que a autoridade competente emana uma declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental). Por sua vez, o
princípio da prevenção é um princípio material de ambiente, que obriga à adoção de medidas antecipatórias,
com o objetivo de minorar os impactes adversos no ambiente (artigo 3.º/c da Lei de Bases do Ambiente).
Assim, em sentido restrito, pretende evitar perigos imediatos e concretos e, em sentido amplo, pretende afastar
riscos futuros. Neste seguimento, é possível concluirmos que a dispensa da avaliação de impacte ambiental
(AIA) pode constituir um extravio ao princípio da prevenção, na medida em que esta designa um instrumento
de carácter preventivo da política do ambiente (artigo 2.º/d da RAIA). Deste modo, a AIA revela-se crucial à
antecipação de possíveis danos e efeitos desastrosos para o ambiente, sendo um instrumento indispensável à
preservação ambiental.
‘’A Comissão de Avaliação é um órgão had hoc, que tem um papel fundamental na realização da
instrução da AIA’’
A AIA designa um instrumento de carácter preventivo da política do ambiente, estando prescrita no artigo 2.º/d
da RAIA. Note-se que no DL n.º151-B/2013 constam várias entidades intervenientes neste âmbito,
nomeadamente a Comissão de Avaliação (artigo 6.º/c). Esta é um órgão had hoc (criado para um único
propósito, sendo destituído após a prossecução deste) e tem um papel fundamental na realização da AIA porque
é indispensável ao funcionamento desta: emite pareceres técnicos sobre a PDA do EIA; procede à verificação
do EIA e emite pareceres técnicos sobre a AIA e o DIA – artigo 9.º do DL n.º151-B/2013.
‘’O Direito do ambiente português é essencialmente constituído por normas de direito da União
Europeia. E o que sobra é, sobretudo, direito internacional.’’
Efetivamente, é correto afirmar que o direito do ambiente português é essencialmente direito europeu: este
nasceu do direito internacional e ganhou eficácia na ordem jurídica interna através da ação do Estado,
nomeadamente através da 1ª Lei de Bases, em 1987.
De forma a garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação do ambiente, assim como
a gestão racional dos recursos, a lei portuguesa estabelece um conjunto de princípios materiais do ambiente
(artigo 3.º da LBA): o princípio do desenvolvimento sustentável, o princípio da responsabilidade intra e
intergeracional, o princípio da prevenção e da precaução, o princípio do poluidor-pagador, o princípio do
utilizador-pagador, o princípio da responsabilidade e o princípio da recuperação.
Princípio do desenvolvimento sustentável: art. 3.º/a LBA + dever imputado aos Estados no desenvolvimento de
todas as suas políticas públicas + na LBA surge como base e prisma interpretativo de todos os princípios
seguintes + obriga à fundamentação ecológica das decisões económicas: serão inconstitucionais as decisões
muito gravosas para o ambiente;
Princípio da responsabilidade intra e intergeracional: art. 3.º/b da LBA + todas as nossas ações afetam o
ambiente e repercutem-se na qualidade ambiental das gerações futuras; assim, as nossas ações individuais e as
politicas públicas deverão ambicionar o menor dano possível; + deve-se manter a possibilidade de escolha da
geração futura quanto à utilização dos recursos naturais;
Princípio da prevenção e da precaução: art. 3.º/c da LBA + em sentido restrito, pretende evitar perigos
imediatos e concretos; em sentido amplo, pretende afastar riscos futuros;
Princípio do poluidor-pagador: art. 3.º/d da LBA + quem beneficia de uma atitude eco-poluente deve ser
responsável pelos prejuízos ambientais por via fiscal + surge como um paradoxo: quem paga pode poluir
Princípio do utilizador pagador: art. 3.º/e da LBA + o objetivo é racionalizar o uso do recurso pelos cidadãos +
permite ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização dos recursos (art. 66.º/2/h da CRP)
Princípio da responsabilidade: art. 3.º/f da LBA + implica todas as formas de responsabilidade: civil, penal,
administrativa e disciplinar;
Princípio da recuperação: art. 3.º/g da LBA + o agente deve proceder à restauração natural, sendo que a
restauração natural será a mais amiga possível do ambiente e pode cumular-se com a restituição por
equivalente;