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Resumos - Direito do Ambiente

Direito do Ambiente (Universidade do Minho)

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Direito do Ambiente
 Desde as últimas décadas do século XX, foram-se evidenciando linhas mestras daquilo a que se
convencionou chamar de Modernidade (Lyotard, Habermas). Contudo, para alguns autores estaremos na
pós-modernidade e, para outros, estaremos na tardo-modernidade. Mas, seja qual for o nome atribuído, é
indubitável que na época contemporânea assistimos ao desfazer de bastiões da era antecedente.

 A Modernidade constitui-se a partir do século XV e consolidou-se em todos os domínios existenciais e do


pensamento a partir do século XVIII. Note-se que esta ganhou força no século XIX com a industrialização e
com o constitucionalismo moderno. Além disso, manteve-se e adaptou-se à superação do individualismo, à
consagração do ideal do coletivo, ao Estado Social de Direito e aos totalitarismos do século XX.

 A Modernidade tem lógicas essenciais: visão antropocêntrica, razão, contratualismo social, lógica do
progresso, dicotomia individualismo vs. coletivismo e crença nos vetores exatos da ciência e da tecnologia. Já
no direito, esta tem em consideração o Direito dos Estados, os direitos humanos (a partir da revolução francesa)
e o legalismo.

 Por sua vez, a Pós-Modernidade designa a transição aportada pela constatação da insuficiência das bases da
Modernidade para explicar e reger a época contemporânea. Neste âmbito, surgem controvérsias:

 o fim exclusivo da razão


 a improficiência do debate entre individualismo e coletivismo
 a ascensão de lógicas do direito universal
 a decadência da lei
 o emergir de novos direitos
 o bio-centrismo
 assim, é correto afirmar que o Ambiente é parte integrante desta visão de transição.

O Ambiente e o Novo Direito


Efetivamente, o Ambiente é um elemento sintomático, integrante e estruturante da mudança profunda que o
Direito tem atravessado. Atualmente, o sistema jurídico tende para o universal, para o direito dos grandes
espaços, para soluções adaptáveis e moldáveis às contínuas transformações da realidade e não para esquemas
alicerçados em dogmas legais. Surgem, portanto, acordos internacionais alargados, dá-se a revitalização da
jurisprudência e a renovação de soluções consuetudinárias, nomeadamente os negócios internacionais, o
comércio eletrónico e o mercado high tech.

Soft e Hard Law


O Direito do Ambiente gerou-se num contexto internacional complexo em que os Estados resistiram em abdicar
de parcelas da sua soberania, revelando duas vertentes: soft law e hard law.
Soft Law
 disposições não-obrigatórias
 declarações de princípios
 normas programáticas que visam harmonizar as questões entre Estados

Hard Law – direito vinculante que impõe soluções nas ‘’áreas comuns’’ dos Estados, ou seja, aquelas que
excedem as áreas de soberania, nomeadamente os Oceanos e a Antártida.
Origens do Direito do Ambiente

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O Direito Internacional do Ambiente, mesmo num entendimento embrionário, é uma criação recente (século XIX). De
facto, a primeira preocupação incidiu sobre a limitação dos recursos naturais: neste contexto, assumiram relevância uma
série de decisões de tribunais arbitrais que regularam con昀氀itos fronteiriços com impactos ambientais e, no século XX,
atribuiu-se importância ao papel do TIJ. // Evolução:
 1.º Período – desde o ‘’início’’ até 1945
 2.º Período – desde 1945 até à Conferência de Estocolmo (1972)
 3.º Período – desde Estocolmo até ao Rio (1992)
 4.º Período – do Rio até Paris (2015)
 5.º Período – Paris, Contestação e PEE (Contra-Reforma Europeia) (2016-2021)

1.º Período (desde o ‘’início’’ até 1945)


 Convenção de Paris de 1867
 Convenção de Belgrado de 1902 (recursos pesqueiros)
 Convenção de Paris de 1902 (proteção de aves úteis para a agricultura)
 Convenções de Washington de 1911 (proteção de focas para a indústria das peles)
 Convenção de Londres de 1900 (+1933) – proteção da vida selvagem inofensiva ao Homem
 Criação do primeiro parque natural do Mundo (Yellowstone, 1872)
 Tratado EUA-Canadá (1909) sobre rios fronteiriços em que se prevenia a contaminação
 Smelter Trail Case (1938-41), EUA-Canadá, em que um tribunal arbitral disse que: «…nenhum Estado tem
o direito de permitir atividades no seu território que causem danos, por emissões, no território de outro
Estado…»

2.º Período (1945-1972)


 Criação da ONU (1945)
 Conferência UNCCUR de 1949 – conferência sobre conservação e utilização dos recursos naturais), que
afirmou a competência da ONU nesta matéria
 Convenção de Ramsar (1971) – primeiro tratado ambiental moderno de proteção das espécies (no caso,
espécies aquáticas)
 TIJ – decisão de 9 de abril de 1949, Reino Unido vs. Albânia (Corfu)
 Decisão arbitral Lago Lanoux de 1956, Espanha vs. França
 NEPA (National Environmental Policy Act) de 1969 – pioneiro em direito ambiental contemporâneo
 Ano da Proteção da Natureza – criado pela ONU, em 197

3.º Período
 Conferência de Estocolmo – 114 Estados acordaram medidas de proteção da natureza, até aí inexistentes,
tendo sido a primeira cimeira do planeta.
 Declaração de Estocolmo – 25 princípios, sendo a Magna Carta do direito ambiental moderno
 Plano de Ação para o Meio Ambiente – 109 recomendações que formataram o direito ambiente moderno
(recursos, deveres, educação)
 UNEP (1972) – Recomendação para a criação de entidades internacionais do Ambiente
 CITIES (1973-1975) – Tratado sobre o comércio internacional de espécies ameaçadas de fauna e flora
silvestre
 Carta Mundial da Natureza (1982) – Aprovada pela Assembleia-Geral da ONU
 Protocolo de Montreal (1987) – Protocolo para a proteção da camada de ozono, que reuniu 190 países
mais a CEE (UE)

4.º Período (1992 até Paris, 2015)

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 Conferência do Rio de 1992 (Relatório Brundtland):


o 27 princípios acerca do desenvolvimento ambientalmente sustentável
o Agenda 21 (Programa Global para o Desenvolvimento no século XXI), não vinculante
o Convenção sobre diversidade biológica
o Princípios sobre gestão e conservação das florestas
 CDS (1993) – Comissão de desenvolvimento sustentável, sob a égide da ONU
 Protocolo de Quioto (1997) – (55% + 55%): calendário de limites nas emissões de gases efeito-estufa de
menos 5,2% em relação a 1990; note-se que as limitações são diferenciadas entre os 38 países mais
poluentes; além disso, este gerou graves problemas políticos e acusações em relação aos países asiáticos em
desenvolvimento;
 Joanesburgo (2002) – considerada um falhanço em comparação com o Rio, era chamada de ‘’Rio + 10’’;
não existiu uma declaração nem uma carta de princípios; incidiu sobre o combate à pobreza e a
desigualdade de desenvolvimento entre Estados
 Copenhaga (2009) – foi a continuação da desilusão de Joanesburgo e dos erros políticos de Quioto: acordo
frouxo que não obteve unanimidade; este não contém compromissos vinculativos, tendo o objetivo de
reduzir a temperatura em 2ºC (mera recomendação); esqueceram-se da redução do CO2; SNOWDEN;

5.º Período – Acordo de Paris (2015)


Acordo de Paris

 Correspondeu a um anseio da consciência mundial liderado pelos alertas da Ciência e guiado pela
diplomacia francesa;
 Foi antecipado pela Plataforma de Durban (2011) – obter um instrumento vinculativo e abrangente contra as
alterações climáticas.
 Objetivos:
o Temperatura global abaixo de 2ºC, acima dos níveis pré-industriais e nunca acima de 1,5ºC
(relatórios do painel intergovernamental para as alterações climáticas)
o Estratégias de adaptação às alterações climáticas e reduzir gases efeitos-estufa
o Fundos financeiros que o possibilitem

 Paris a entardecer…

 Crescimento político do negacionismo


 Debate crispado, populista e que desdenha a ciência
 O debate ambiental transformou-se num combate irrazoável de Apóstolos, extremado e sem pontos de
convergência, feito de desdém sobre os adquiridos científicos, aproveitado por populistas que só pensam em
ganhar o combate eleitoral
 Afunilamento da discussão na falsa dicotomia Desenvolvimento vs. Ambiente
 EUA-Trump saem do Acordo; Brasil ameaça, mas não sai; Acordos bilaterais entre países para utilização
dos recursos numa perspetiva economicista
 Impasse à vista…

O Acordo de Paris foi realizado na COP 21 (2015)

 Depois não se deram mais avanços especiais sob a égide da ONU:


o COP 22 – Marraquexe (2016)
o COP 23 – Bona (2018)
o COP 24 – Katowice (2018)
o COP 25 – Madrid (2019) – Especialmente problemática: era para ser realizada no Brasil, mas este
país recusou; Posteriormente, passou para o Chile, que não foi capaz. E acabou por acontecer em
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Espanha, tendo-se notabilizado por espetáculos político-circenses, que só cavaram o fosso entre os
apóstolos a favor e contra o Ambiente.

 RPIAC 21 – Os Relatórios do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, designadamente o


último (conhecido a agosto 21) realizado por mais de 230 cientistas, de 66 nacionalidades, com base em
14 000 estudos publicados, traçam um quadro muito negativo:
o A temperatura global já ultrapassa os 1,5ºC graus centígrados, em comparação com a era pré-
industrial, até 2030 – 10 anos antes da estimativa anterior do IPCC (subirá 2,7 graus em 2100)
o A percentagem de absorção do dióxido de carbono está a enfraquecer
o Nível dos oceanos sobe mais do que o previsto
o Metano (CH4) – segundo gás com efeito de estufa mais importante, depois do C02. As
concentrações de metano na atmosfera (produção de gás, mineração, eliminação de resíduos e gado)
são as mais altas em 800 000 anos. Além disso, o metano tem um poder de aquecimento muito maior
do que o CO2, mas um período de permanência na atmosfera mais curto.
o Atlantic Meridional Reversal Circulation (AMOC), um complexo sistema de correntes oceânicas
que regulam o calor entre os trópicos e o hemisfério norte está a desacelerar, uma tendência que
muito provavelmente continuará ao longo do século.

 Ainda no 5.º Período, é necessário referir a atuação da Europa, nomeadamente o sonho de Ursula von der
Leyen para os primeiros 100 dias da sua Comissão: a contra-reforma europeia no ambiente:

 European Green Deal – Pacto Ecológico Europeu, que ambiciona uma alteração fundamental das
lógicas do desenvolvimento;
 Lei Europeia do Clima e a transição justa – a Declaração do ‘’historiador’’ Timmermans;
 A transição digital;

 Pandemia do COVID-19: Esta atinge a Europa em finais de janeiro de 2020. Numa primeira fase do
confinamento (março-maio 2020) atingiu todos os países da UE e perturbou gravemente os sistemas de saúde
de alguns países europeus, nomeadamente a Itália, Espanha e França, evidenciando-se efeitos económicos
devastadores. Já a segunda vaga (a partir de outubro de 2020) foi enfrentada com os ensinamentos adquiridos
na primavera, mas não foi possível evitar os prejuízos económicos e sociais.

 Primeiramente, deu-se um debate dicotómico entre Ambiente e recuperação financeira. Depois, seguiu-se
um consenso assinalável entre a recuperação verde, aproveitando a estratégia do PEE- European Green Deal.
Note-se que o plano de recuperação europeu (Recovery Plan for Europe) torna a proteção do Ambiente e o
combate às alterações climáticas num elemento fundamental e imprescindível.

COP 26 – Glasgow Nov 2021

 Registou-se um empenho muito sério da diplomacia britânica;


 Objetivos políticos internos (pós-brexit) misturam-se com os globais;
 Obetivos:
o Reafirmar as metas de Paris
o Emissões zero de gases de efeito-estufa a 2050
o Ajudar os países já afetados
o Restaurar ecossistemas
o Repensar a agricultura
o Mobilizar recursos financeiros (1000 $bi por ano)
o Colaboração ativa de governos – Livro de Regras do Acordo de Paris

Conclusões sobre o tempo que passa:


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 A luta contra as alterações climáticas é um vetor fundamental das políticas públicas, mas só está a ser
levado a sério na UE;
 O Acordo de Paris ainda não foi implementado e o modelo de aplicação será discutido 6 anos depois…
 Os EUA voltaram a Paris mas, para além da retórica, não se percebeu se tentarão liderar a luta contra as
alterações climáticas;
 A China diz que sim mas faz o oposto (centrais a carvão)
 O Ambiente é condição sine qua non dos Planos de Recuperação da crise económica provocada pela Covid;
 Possui (para já) um largo consenso dos Governos europeus – aceitação dessa condição para receber fundos
não teve polémica;
 Ainda se vêem as estratégias ambientais como algo que se tem de fazer desde que não prejudique
demasiado os interesses de cada Estado-Membro;
 Dado o cariz identitário da UE (democracia, carácter social e inclusivo), a chave para a força política
necessária reside na opinião pública europeia;

Nascimento e Autonomia do Direito do Ambiente


 Nasceu como subsistema do Direito Administrativo, tendo em conta que se entendia que o seu núcleo duro
decorria da ação da Administração Pública (no seu sentido orgânico). Note-se que, aparentemente, o artigo
9.º/e da Constituição dará razão a essa concepção;
 Contudo, uma leitura mais atenta da norma constitucional, assim como dos autores que mais têm
desenvolvido estas matérias, desmente essa visão de exclusividade administrativa;

As preocupações com a saúde ambiental do planeta cresceram desmesuradamente na 2ª metade do século XX,
revelando-se uma das principais preocupações sociais e políticas do século XXI. Neste sentido, os direitos
internacional, europeu e interno espalharam essa extraordinária redimensionação;

 Portanto, o Direito do Ambiente (DA) nasceu no seio do Direito Administrativo, mas as suas lógicas
essenciais já não se confundem plenamente com este. Do mesmo modo que o DA se diferencia de outras suas
subespécies como o direito do urbanismo, direito do património cultural, direito da paisagem ou outros
subsistemas afins.

 Além disso, é importante referir que o DA tem uma razão de ser própria e uma lógica de existir
inconfundível: assegurar a preservação e as qualidades dos componentes ambientes naturais e impor aos seus
utilizadores princípios de gestão racional. Note-se que esta essência específica ganha particular relevância
perante a emergência das alterações climáticas.

O DA portugês é direito europeu

 O DA nasce do Direito Internacional e ganhou eficácia nas ordens jurídicas internas através da ação do
Estado (direito administrativo).
 No caso português, o DA iniciou um percurso autónomo a partir de 1987 (primeira Lei de Bases do
Ambiente) e ganhou foro quando a União Europeia o conseguiu moldar como uma das suas principais
prioridades;
 Mais de 90% das leis nacionais de DA são direito europeu;

Direito Constitucional do Ambiente

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 A Constituição de 1822 (art. 223.º/v) dizia para as Câmaras Municipais procederem ao plantio de árvores
nos terrenos de sua pertença – mais incentivo rural do que o embrião de preocupações ambientais.
 A Carta (1826), os Atos Adicionais (1852) e a Constituição de 1911 representaram a mesma lógica bucólica,
paisagística e agrícola;
 Quase um século depois, a Constituição de 1933 (art. 52.º) falava em ‘’proteção dos monumentos naturais’’
– mais interesses estéticos e culturais do que ambientais;
 Só com a atual CRP de 1976, no art. 66.º, se constitucionalizou o Ambiente pela primeira vez no seu sentido
próprio (aproximadamente).
 Note-se que foi só com a revisão de 1982 que se deu dimensão ao art. 66.º inserindo a ‘’proteção ambiental
como tarefa fundamental do Estado no art. 9.º/d/e:
o Artigo 9.º d) promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os
portugueses, bem como a efetivação de direitos económicos e ambientais, mediante a transformação
e modernização das estruturas económicas e sociais; e) proteger e valorizar o património cultural do
povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um
correto ordenamento do território; (NOTA: ver o art. 66.º atual, revisto em 1989 e em 2003)
 Momentos referenciais:
o 1986 – Portugal adere à CEE (atual UE) num momento em que o Ambiente se começa a destacar
enquanto preocupação social primordial
o 1987 – Surge a primeira Lei de Bases do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de abril
o 2014 – Surge a segunda Lei de Bases do Ambiente – Lei n.º19/2014, de 14 de abril (hoje em vigor)

Direito Internacional do Ambiente

 Nos EUA, surgiu o NEPA (National Environment Policy Act, 1969), adotado por alguns Estados federados
mas não pela Constituição Federal;
 Na Alemanha a proteção ambiental vem da mesma altura mas só foi constitucionalizada em 1994;
 No Brasil, a Lei 6.938, que foi exemplo para muitas ordens jurídicas – constitucionalização em 1988 (art.
225.º)
 A França seguiu um percurso distinto: lei de valor reforçado (2004) com 10 princípios fundamentais
(Decálogo), Charte de l’environnement, que foi constitucionalizada em 2005;

Considerações sobre o atual art. 66.º da CRP

 Para Carla Amado Gomes, este é apenas uma ‘’retórica simbólica e politicamente correta’’, sem grandes
efeitos práticos e que gera confusões;
 Além disso, esta considera que o n.º 1 do art 66.º da CRP está imerso numa ‘’errância conceptual’’, tendo
em conta que se trata de uma noção antropocêntrica: o ambiente seria sempre uma noção conexionada com
o bem-estar das pessoas;
 Quanto ao n.º 2, Carla Amado Gomes considera que este é um conjunto de normas imprecisas e
amalgamadas, que confunde a resposta aos conceitos essenciais: indefinição do bem jurídico ‘’ambiente’’;
Ainda neste âmbito, Gomes Canotilho refere que ‘’não é Ambiente é Ambiance…’’
 Vasco Pereira da Silva afirma que uma revisão constitucional clarificadora destes conceitos ambientais é
urgente;
 Gomes Canotilho considera que o texto constitucional ainda padece de uma pré-compreensão
antropocêntrica do ambiente, na qual se deve proteger a Natureza por esta constituir um bem instrumental
para o Homem poder dela usufruir; Assim, urge superar essa visão para se passar a uma pré-compreensão
ecocêntrica em que o ambiente é um fim em si mesmo e cujo pressuposto e fundamento seja a
‘’consideração valorativa do Homem enquanto parte integrante da Natureza’’
 A tendência atual é uma vertente impositiva: cada cidadão tem deveres (diferenciados por atividade) em
razão do seu impacto no ambiente – lógica da Charte Constitutionelle de l’Environnement (2005)

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 A boa interpretação do preceito constitucional (atualista) resulta da interpretação sistemática com:


o Tratados e Convenções internacionais ambientais de que Portugal faz parte;
o Bloco de legalidade do direito europeu em matéria ambiental (neste momento, sobretudo com a Lei
Climática Europeia e o PEC de onde esta brotou)
o Lei de Bases do Ambiente de 2014

NOTA: ver artigo 191.º/1/2 do TL (ex-artigos 174.º TUE e 175.º TUE); artigo 192.º/2, TL (ex-artigo 174.º/TUE); artigo 193.º (ex-artigo 176.º TUE)

Princípios de Direito do Ambiente


Lei de Bases do Ambiente – Lei n.º 19/2014, de 14 de abril (LBA)

Uma Constituição que ficou para trás…

 A Constituição ambiental portuguesa (art. 66.º), apesar de precursora em 1976, cedo se viu desatualizada
face à evolução das lógicas e percepções do direito internacional e europeu do ambiente, bem como perante
a crescente consciencialização dos cidadãos em matérias de proteção do ambiente
 Tentou-se, então, colmatar essa divergência em 1987, logo depois da adesão de Portugal às Comunidades
Europeias (1986), com a primeira Lei de Bases do Ambiente – Lei 11/87, de 7 de abril

Desarticulação entre a CRP e o Direito do Ambiente

 A ideia primordial era a de alcançar uma revisão constitucional capaz e coerente. Contudo, nunca se
conseguiu o consenso político suficiente, nem na revisão de 1989 nem na revisão de 1997
 A legislação portuguesa de ambiente foi-se construindo sob o guarda-chuva da LBA e, sobretudo, à custa
dos contributos do direito europeu e dos Tratados, Convenções e Declarações Internacionais, que Portugal
subscreveu ou foi parte
 Outros países, europeus ou não, tiveram o mesmo problema: desarticulação entre as bases constitucionais e
uma nova área do direito, transversal e disruptiva, que se ia construindo a uma velocidade vertiginosa

O Caso Francês – Charte de l’environnement como Lei Constitucional – A França resolveu a questão com
uma Lei de 2004, que foi incorporada na Constituição em 2005: a Charte de l’environnement. Note-se que esta
foi dotada de 10 princípios-base que dão sentido lógico a todas as leis francesas.

Lei de Bases do Ambiente de 1987 – A Principiologia Atualizada

 A primeira LBA, Lei n.º 11/87, de 7 de abril cedo careceu de atualizações que tornassem a ordem jurídica
ambiental coerente e eficaz.
 Até 2014, o direito português conheceu três compreensões logicamente distintas e divergentes do direito do
ambiente: a constitucional, a legislação ordinária e a internacional e europeia.
 Claro que as leis e regulamentos nacionais, quanto ao seu conteúdo material, foram decisavamente
influenciados pelo direito internacional e, sobretudo, pelo direito europeu originário e derivado.

Lei de Bases do Ambiente de 2014 – Lei n.º 19/2014, de 14 de abril

Estruturada da seguinte forma:

 Objetivos – art. 2.º  Âmbito – arts. 9.º - 12.º


 Princípios materiais – art. 3.º  Conciliação – art. 13.º
 Princípios das políticas públicas – art. 4.º  Instrumentos – arts. 14.º - 22.º
 Direitos e deveres - arts. 5.º - 8.º

 Art. 2.º Objetivos da política de ambiente (bases e prismas interpretativos de todos os princípios) 1 - A
política de ambiente visa a efetivação dos direitos ambientais através da promoção do desenvolvimento
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sustentável, suportada na gestão adequada do ambiente, em particular dos ecossistemas e dos recursos naturais,
contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade de baixo carbono e uma «economia verde», racional e
eficiente na utilização dos recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria progressiva da qualidade de
vida dos cidadãos.

 Art. 2.º Objetivos da política de ambiente 2 - Compete ao Estado a realização da política de ambiente,
tanto através da ação direta dos seus órgãos e agentes nos diversos níveis de decisão local, regional, nacional,
europeia e internacional, como através da mobilização e da coordenação de todos os cidadãos e forças sociais,
num processo participado e assente no pleno exercício da cidadania ambiental.

 Tarefa fundamental do Estado cfr. CRP art. 9.º, alíneas d)/e)


 O Estado mobiliza e coordena a cidadania ambiental – eventual paradoxo.
 A defesa e a proteção do ambiente constitui um dever de todos nas suas ações pessoais, profissionais,
privadas ou públicas, e em todos os âmbitos de atuação de qualquer um

 Artigo 3.º - Princípios Materiais de Ambiente

 Princípio do Desenvolvimento Sustentável


 Princípio da Responsabilidade Intra e Intergeracional
 Princípio da Prevenção e da Precaução
 Princípio do Poluidor-Pagador
 Princípio do Utilizador-Pagador
 Princípio da Responsabilidade
 Princípio da Recuperação

Princípio do Desenvolvimento Sustentável

 Declaração de Estocolmo de 1972; Carta da Natureza de 1982; Rio 1993; CRP, art. 66.º/2;
 É um dever ambiental imputado aos Estados no desenvolvimento de todas as suas políticas públicas;
 Visa a conciliação/harmonização do desenvolvimento económico com a preservação do ambiente;
 Na LBA surge como a base e prisma interpretativo de todos os princípios seguintes, particularmente o
princípio da responsabilidade intergeracional (com o qual quase confunde na interpretação literal da norma;
 Obriga à fundamentação ecológica das decisões económicas – serão inconstitucionais as decisões muito
gravosas para o ambiente;

 Note-se que, Carla Amado Gomes faz uma crítica severa a esta seleção de princípios do art. 3.º da LBA

 Afirma que o princípio primordial deveria ser o princípio da prevenção


 Considera que o princípio do desenvolvimento sustentável é difuso e seria uma mera ‘’equação de
ponderação circunstanciada e conjuntural do interesse de preservação ambiental (…) destituída de
condições de operacionalização real’’;
 Na sua perspetiva, o momento presente exige um novo princípio: o princípio da sustentabilidade ambiental
e dos recursos, dividido em sustentabilidade ecológica e social;
 Acredita que o princípio da responsabilidade intra e intergeracional está a ser posto em causa –
‘’impossibilidade conceptual’’

Princípio da Responsabilidade Intra e Intergeracional

 Obriga à utilização e ao aproveitamento dos recursos naturais e humanos de força racional e equilibrada, a
fim de garantir a sua preservação a presentes e futuras gerações;
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o Todas as nossas ações afetam o ambiente e a pegada repercute-se na qualidade ambiental das
gerações futuras. Assim, as nossas ações individuais, bem como as políticas públicas deverão ser
sempre pautadas pela ideia do menor dano possível;
o Implica a não assunção de projetos benéficos a curto/médio prazo mas potencialmente perigosos no
futuro, tal como por exemplo o projeto nuclear;
 Deveres formulados num juízo comparativo entre a qualidade ambiental de que beneficia a geração atual e
aquela que está obrigada a manter para a geração futura
o Manutenção da possibilidade de escolha da geração futura quanto à utilização dos recursos naturais
o Conservação da qualidade dos recursos naturais
o Garantia do acesso futuro não-discriminatório a esses recursos naturais

Princípio da Prevenção/Precaução

 Consiste na capacidade de antecipação de situações potencialmente perigosas, naturais ou humanas, que


ponham em risco o ambiente. Este visa a adoção dos meios antecipatórios adequados para afastar a
verificação do perigo (torna insuficiente a mera reação).
 Em sentido restrito, pretende evitar perigos imediatos e concretos;
 Em sentido amplo, pretende afastar riscos futuros;
 Este princípio obriga o Estado a uma antecipação proativa ‘’prioritariamente na fonte’’ (art. 191.º/2 TFUE)
e exige um juízo de prognose administrativa (discricionariedade, teoria da folga) – p.ex, um juízo
probabiliístico;

NOTA: ‘’Prevention’’ e ‘’precaution’’ têm significados distintos em inglês, mas não tanto assim nas línguas latinas: a
prevenção diz respeito a perigos imediatos e com grau de probabilidade muito acentuado; já a precaução relaciona-se com
riscos futuros e determinados. Mas, maioritariamente, hoje, defende-se que a precaução é a prevenção amplificada:
permite a atuação dos poderes públicos e a restrição de direitos dos cidadãos sem que a verificação do dano ambiental
esteja revelada com o elevado grau de certeza – sempre com critérios científicos de razoabilidade e de bom senso.

Princípio do Poluidor-Pagador

 Obriga o responsável pela poluição a assumir os custos tanto da atividade poluente como da introdução de
medidas internas de prevenção e controle necessárias para combater as ameaças e agressões ao ambiente;
 Art. 191.º/2, TL (ex-art. 174.º/2 TUE) e art. 66.º/2/h da CRP
 Ou seja, quem beneficia de uma atividade eco-poluente deve ser responsável pelos prejuízos ambientais por
reconstrução natura por via fiscal;
 Contudo, deste surge um eventual paradoxo: quem paga pode poluir;

Princípio do Utilizador-Pagador

 Obriga o utente de serviços públicos a suportar os custos da utilização dos recursos, assim como da
recuperação proporcional dos custos associados à sua disponibilização, visando a respetiva utilização
racional;
o Quem usufrui dos recursos (não estará necessariamente a poluir) deve custear a sua utilização;
o O objetivo é racionalizar o uso dos recursos pelos cidadãos;
o Permite ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização de recursos (art. 66.º/2/h CRP)

Princípio da Responsabilidade

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 Obriga à responsabilização de todos os que direta ou indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem
ameaças ou danos ao ambiente, cabendo ao Estado a aplicação das sanções devidas, não estando excluída a
possibilidade de indemnização nos termos da lei;
o Implica toda e qualquer forma de responsabilidade: penal, civil, administrativa, disciplinar;
o Não requer a efetivação da ameaça (dano ambiental), mas apenas a sua constatação;
o O Estado é o sancionador – mas o que fazer quando o responsável é o próprio Estado?

Princípio da Recuperação

 Obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado do ambiente tal como se encontrava
anteriormente à ocorrência do facto danoso;
o Um dos princípios base da responsabilidade civil é o da ‘’restauração natural’’ – o agente deve
recolocar a situação no preciso status em que esta se encontrava antes da verificação do dano -
contudo, este princípio é de muito rara e difícil aplicação em direito do ambiente;
o A restauração será a possível (a mais amiga do ambiente) e pode cumular-se com a restituição por
equivalente (pagamento de indemnização)

 Artigo 4.º - Princípios das Políticas Públicas Ambientais

 A separação dos princípios materiais do ambiente (art. 3.º) e dos princípios das políticas públicas ambientais
(art. 4.º) é muito criticada quer no que respeita à sua ratio, quer no elenco dos princípios que compõem cada
uma das vertentes;
 Os primeiros regerão toda a atuação pública e privada no ambiente; E os segundos regerão as lógicas de
atuação do Estado e dos demais poderes públicos na condução da sua atuação;
 Em bom rigor, a sua área de incidência pode confundir-se porque ambos vinculam o Estado, que tem o
poder de conformar os privados às suas preocupações essenciais.
o Princípio da Transversalidade e da Integração
o Princípio da Cooperação Internacional
o Princípio do Conhecimento e da Ciência
o Princípio da Educação Ambiental
o Princípio da Informação e da Participação

Princípio da Transversalidade e Integração

 Obriga à integração das exigências de proteção do ambiente na definição e execução das demais políticas
globais e sectoriais, de modo a promover o desenvolvimento sustentável;
o Constituem um filtro e um prisma inafastável de qualquer política pública, independentemente da
área ou da conexão mais remota com o ambiente
o Assume uma relação direta com o princípio do desenvolvimento sustentável

Princípio da Cooperação Internacional

 Obriga à procura de soluções concertadas com outros países e organizações internacionais no sentido da
promoção do ambiente e do desenvolvimento sustentável;
o Os Tratados internacionais impõem um dever de concertação das soluções comuns para problemas
globais
o Implica o consenso de soluções com os Estados, com organizações supranacionais e abre porta à
cooperação com ONGs
o Também assume uma relação direta com o princípio do desenvolvimento sustentável

Princípio do Conhecimento e da Ciência

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 Obrigam a que o diagnóstico e as soluções dos problemas ambientais devam resultar da convergência dos
saberes sociais com os conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo por base dados rigorosos, emanados
de fontes fidedignas e isentas;
o Princípio base das políticas públicas, que não se podem pautar por emoções, sensações ou
conveniências políticas – atual vírus do direito do ambiente;
o Os dados dos problemas e a elaboração de soluções terão de ser enquadrados em dados científicos
credíveis acima dos interesses e dos propósitos laterais;

Princípio da Educação Ambiental

 Obriga a políticas pedagógicas viradas para a tomada de consciência ambiental, apostando na educação para
o desenvolvimento sustentável e dotando os cidadãos de competências ambientais num processo contínuo,
que promove a cidadania participativa e apela à responsabilização, designadamente através do voluntariado
e do mecenato ambiental, tendo em vista a proteção e a melhoria do ambiente em toda a sua dimensão
humana;
o Princípio que decorre da Declaração de Estocolmo, bem como do art. 66.º/2/g da CRP
o Provavelmente, aquele que melhor foi implementado nas últimas décadas e que está na raiz da
prioridade do ambiente na consciência coletiva

Princípio da Informação e Participação

 Obrigam ao envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, privilegiando a divulgação e a partilha de
dados e estudos, a adoção de ações de monitorização das políticas, o fomento de uma cultura de
transparência e de responsabilidade, na busca de um elevado grau de respeito dos valores ambientais pela
comunidade, ao mesmo tempo que assegura aos cidadãos o direito pleno de intervir na elaboração e no
acompanhamento da aplicação das políticas ambientais.
 Informação e Participação são elementos integradores e qua non do conceito de cidadania ambiental;
 Decorre do direito geral à informação dos interessados (CPA), mas implica um mais elevado grau de
informação administrativa, dado que o ‘’interessado’’ pode ser qualquer cidadão (LBA
 Corolário do ‘’direito de defesa’’ – LBA, art. 7.º
 Traduz-se num direito procedimental – CPA, LBA, RAIA;
 Possibilita, também, a intervenção dos tribunais (ex: ação popular) – ‘’tutela plena e efetiva dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos’’ – LBA, art. 7.º/1;

Artigo 7.º - Direitos Processuais em Matéria de Ambiente

1. A todos é reconhecido o direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente protegidos
em matéria de ambiente.
2. Em especial, os referidos direitos processuais incluem, nomeadamente:
a) O direito de ação para a defesa de direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos, assim como
para o exercício do direito de ação pública e de ação popular;
b) O direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação de violações de bens e valores ambientais da
forma mais célere possível;
c) O direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça ou dano ao ambiente;

Artigo 8.º - Deveres Ambientais

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1. O direito ao ambiente está indissociavelmente ligado ao dever de o proteger, de o preservar e de o respeitar,


de forma a assegurar o desenvolvimento sustentável a longo prazo, nomeadamente para as gerações futuras.
2. A cidadania ambiental consiste no dever de contribuir para a criação de um ambiente sadio e
ecologicamente equilibrado e, na ótica do uso eficiente dos recursos e tendo em vista a progressiva melhoria
da qualidade de vida, para a sua proteção e preservação.

 crítica: predominância da ação do Estado e a menorização do papel do cidadão – seria desejável um maior
equilíbrio.

Pacto Ecológico Europeu


 Na presidência de Ursula von der Leyen iniciou-se um plano para o futuro intitulado ‘’Uma União mais
Ambiciosa’’, apresentando-se metas concretas a alcançar nos primeiros 100 dias:

 Pacto Ecológico Europeu


 Uma economia ao serviço das pessoas
 Preparar a Europa para a era digital

 Apesar de se ter alcançado um acordo na Cimeira de Paris (2015), cedo se percebeu que esse resultado tinha
sido forçado pela pressão mediática e da opinião pública e não correspondia à vontade real dos Estados
signatários. No fundo, este tratou-se de um acordo para ser exibido por todos os intervenientes (diplomacia
francesa, China, EUA e Obama nos últimos meses do seu mandato, etc.), mas não tanto para ser cumprido.
Portanto, o facto de o Ambiente e a questão das alterações climáticas se terem tornado um dos ingredientes
comuns do mercado político, conduziu a várias encenações performativas por parte dos Estados e das ONGs.
Além disso, é conveniente referir que os atores principais estavam irremediavelmente extremados:

 De um lado, os adeptos do radicalismo ambiental – visam uma mudança total do modo de vida, sem
recurso aos combustíveis fósseis ou às matérias-primas compostas e industrializadas. Estes quase que
clamam pelo regresso a uma era pré-industrial (Green Deal do partido democrata norte-americano);
 De outro, os negacionistas, que viam a questão ambiental como uma armadilha política e interpretaram as
isenções oferecidas aos países em vias de desenvolvimento como artifícios para colocar os EUA e algumas
economias europeias numa posição dependente dos países emergentes, designadamente a China;

 O Ambiente torna-se, cada vez mais, num combate de apóstolos e ruidoso, em que ninguém queria ouvir
opiniões contrárias às suas. E os Estados, além da retórica política, agiam ou ficavam inertes consoante as suas
próprias agendas políticas internas: a França afirma-se ambientalista mas subsidia iniciativas de empresas
francesas de destruição da floresta amazónica; a UE apoia projetos desastrosos em países do 3.º mundo; a
China, pouco antes de Paris, aderiu às preocupações ambientais, mas em 2/3 do seu território inexistem
políticas mínimas nessa matéria;

 Neste seguimento, falharam várias Cimeiras ambientais e cedo se percebeu que o acordo de Paris teria o
mesmo fim material de irrelevância e não cumprimento. Além disso, a saída dos EUA do acordo em 2017
(devido à promessa eleitoral de Trump de 2016), as ameaças do Brasil e o desinteresse de um conjunto de
países que tinham aceitado os objetivos de Paris em 2015 criaram a sensação internacional de mais uma
tentativa frustrada, que deixaria o esforço contra as alterações climáticas desprovido de sentido e de futuro.

 Mas, apesar da proposta de Ursula ter sido encarada com ceticismo (a meta dos 100 dias não ajudou à sua
credibilização), esta foi cumprida: foi apresentado um plano estratégico ambiental que inclui 4 elementos
fundamentais: PEE/European Green Deal; Declaração Timmermans; Roteiro de ações (roadmap); Lei Climática
Europeia (projeto de regulamento);

Pacto Ecológico Europeu

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 O combate às alterações climáticas é assumido como o desafio determinante da nossa geração, cuja resposta
a Comissão Europeia decidiu tomar nas suas mãos;
 O PEE consiste numa nova estratégia da Europa, que visa transformar as suas lógicas de produção, de
crescimento e de existência geral, mantendo e incrementando a qualidade de vida dos cidadãos europeus.
Deste modo, colocar-se-ia a Europa num plano irrenunciável de sociedade justa, próspera, dotada de uma
economia competitiva e verdadeiramente eficiente na gestão e utilização dos recursos;
 Fins do PEE:
o Neutralidade climática – atingir a não-emissão de gases de efeito de estufa em 2050;
o Separação da lógica causal entre crescimento económico e utilização de recursos – este último
propósito é uma ambição civilizacional, já que nunca na nossa civilização, em espaços económicos
alargados (que não sejam cidades-Estado ou países de reduzida dimensão) foi ensaiado com êxito o
corte do cordão umbilical entre o crescimento da riqueza e a utilização de recursos;
o Não deixar ninguém para trás.
 Objetivos agregados:
o Preservação do capital natural da UE
o Saúde e bem-estar (qualidade de vida) dos cidadãos europeus
o As mudanças terão de ser justas e inclusivas (equilíbrio)
o Atenção especial à diversidade territorial e à especificidade das indústrias e trabalhadores
o Ou seja, o PEE quer agregar os europeus nas suas diferenças, com a participação das autoridades
europeias, estatais, regionais e locais;
 Pressupostos: o que é necessário?
o Orientação europeia quanto às mudanças climáticas, que não poderá ignorar os direitos dos
consumidores e trabalhadores;
o Requer um investimento financeiro massivo;
o Pressupõe um esforço global e transversal – todas as áreas da economia e o modo como encaramos a
nossa existência serão transformados paulatinamente;
o A médio/longo prazo terá de incluir o resto do mundo por arrastamento – a UE influencia e deve dar
o exemplo, mas a transformação global da sociedade pressupõe que o resto do mundo deverá
acompanhar estas mudanças;
 Conteúdo:
o Transformar a economia e a sociedade – reduzir emissões, gerar emprego e crescimento, combater
a pobreza energética, reduzir a dependência energética externa, melhorar a saúde e melhorar o bem-
estar;
o Transportes sustentáveis para todos – planos para reduzir as emissões automóveis;
o Liderar a terceira revolução industrial – novos mercados para indústrias não poluentes;
eletrificação da economia e maior utilização de energia de fontes renováveis; mecanismo para
garantir que as empresas que importam produtos para a UE também paguem pelas emissões de
carbono; criação de empregos verdes no setor da construção;
o Despoluir o nosso sistema energético – reduzir para 55% as emissões de gases de efeito estufa até
2030; 40% é a nova meta para as energias renováveis para 2030; incentivos na tributação dos
produtos energéticos;
o Renovar os edifícios, adequando-os a estilos de vida mais ecológicos – os Estados-Membros
devem renovar, pelo menos, 3% da superfície total do conjunto de edifícios públicos; os EM devem
fixar um valor de 49% de utilização de energias renováveis nos edifícios para 2030;
o Trabalhar com a natureza para proteger o planeta e a saúde humana – recuperação das
florestas, dos solos e das zonas humidades, o que aumentará a absorção de CO2;
o Ação climática a nível mundial

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o Ação climática a nível mundial – O PEE foi um exemplo positivo, tendo inspirando alguns
parceiros da UE a fixar as suas próprias data-limite para alcançar a neutralidade climática,
nomeadamente a Coreia do Sul; Além disso, este pacto tem o objetivo de provar que é possível
combater a emergência climática e, neste sentido, quem quiser negociar com a UE terá de se sujeitar,
ao longo do tempo, às regras ambientais europeias;

PEE – Dois desafios gémeos:

 Transformação Verde – O PEE é a nova estratégia de crescimento da Europa e tem com objetivo essencial
torná-la no primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050.
 Transformação Digital – As tecnologias digitais estão a mudar o rosto da indústria e a forma como
desenvolvemos atividades económicas. Estas permitem aos operadores económicos serem mais proativos,
proporcionam novas competências aos trabalhadores e apoiam a descarbonização da nossa economia.

PEE – Plano de Economia Circular Sustentável

 Plano de produtos sustentáveis quer nos materiais quer na sua utilização, que priorizará a utilização de
materiais reciclados e a sua reutilização antes da reciclagem;
 Serão adotados novos modelos de negócio com foco na prevenção face aos danos ambientais possíveis;
 Existirá um reforço da responsabilidade ambiental;
 Será dada particular atenção aos setores de utilização intensiva de recursos como têxteis, construção,
eletrónica e plásticos – continuação da estratégia dos plásticos de 2018 da Comissão com especial atenção
aos microplásticos;
 Incluirá a oferta de um leque de escolhas aos consumidores quanto à utilização dos produtos mais amigos
do ambiente;
 Promoção da informação credível, sendo esta essencial para as escolhas dos consumidores, evitando o
‘’green washing’’

PEE – Smart Mobility: Nova estratégia da Comissão no setor dos transportes

 Reduzir as emissões de gás de efeito-estufa neste setor em 90% até 2050


 Forte impulso no transporte multimodalidedade
 Fim da subsidiação de transportes de combustíveis fósseis
 Preocupações especiais no setor marítimo e aeronáutico

PEE – Fim dos Combustíveis Fósseis

 Revisão da legislação sobre combustíveis em veículos automóveis, visando atingir o nível de emissões zero
a partir de 2025;
 Especial atenção à navegação (poluição nos portos) e aeronáutica (novos aeroportos com mais exigências);

PEE – Estratégia ‘’from fark to fork’’

 Entre 2021-2027, a Política Agrícola Comum, no seu orçamento, deverá contribuir 40% para o ambiente
 A Política Comum das Pescas, através do Fundo de Pescas, contribuirá 30%
 A agricultura e a pecuária europeias deverão ser um modelo de sustentabilidade com mudanças de práticas e
processo produtivos
 Planos estratégicos de redução dos pesticidas, fertilizantes e antibióticos

PEE – Convenção sobre Diversidade Biológica (2020)


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 Oportunidade para regular a perda de diversidade biológica a nível planetário


 A UE apresentará uma nova estratégia sobre biodiversidade até 2030 como vetor essencial dos EM nessa
Convenção e guia para as atuações próprias;
 Florestas, oceanos, biodiversidade e ‘’blue economy’’ serão um fator transversal das políticas europeias;

PEE – Mecanismo de Transição Justa

Embora todos os Estados-Membros, regiões e setores devam contribuir para a transição, a escala do desafio não
é a mesma para todos: o mecanismo para uma transição justa prestará apoio financeiro e prático para ajudar os
trabalhadores afetados e gerar os investimentos necessários a essas regiões.

PEE – I&I + Promessa Verde

 Os objetivos do Green Deal não serão atingidos com tecnologias convencionais – obrigam inovações
disruptivas e soluções ambientalmente sustentáveis;
 Escolas e universidades serão fatores fundamentais;
 Promessa verde – ‘’do no harm’’
o Todas as políticas da União, independentemente do setor, deverão obedecer às lógicas de
sustentabilidade do PEE
o Toda a legislação europeia terá de refletir isso mesmo
o Transversalidade total na ação dos vários organismos da UE

Lei Climática Europeia (projeto de regulamento europeu – março 2020)


 Decorreu da proposta da Comissão de março de 2020 com a pretensão de ser o veículo jurídico do PEE,
visando implementar os objetivos de transformação económica e ambiental, para que possa ser obtida a
neutralidade climática em 2050;
 Os Estados-Membros da UE deverão atingir o nível de emissões zero de gases de efeito-estufa, cortando as
emissões e investindo em tecnologia verde, que seja apta a proteger o ambiente;
 Esta Lei ambiciona assegurar que todas as políticas europeias contribuam para estes objetivos, incluindo
todos os setores da economia e da sociedade – transversalidade;
 Tornar o caminho para a neutralidade climática vinculativo e irreversível, seja quais forem os destinos
políticos no resto do Mundo e na Europa;
 Finalidades Principais:
o Perspetivar um caminho de longo prazo até ao encontro da neutralidade climática, através da
execução de todas as políticas europeias de um modo socialmente justo e com uma relação de custo-
eficiência ambientalmente favorável;
o Estabelecer uma meta mais ambiciosa em 2030, visando colocar a Europa num caminho responsável
de neutralidade climática até 2050;
o Criar um sistema de monitorização dos progressos nas diversas áreas e fomentar novas ações, caso
sejam necessárias;
o Providenciar previsibilidade para os investidores e outros agentes económicos;
o Assegurar a irreversibilidade da transição para a neutralidade climática;
 Objetivos:
o Atingir a meta de emissões zero de gases de efeito-estufa, tornando-a vinculativa;
o As instituições da UE e os Estados estão obrigados a tomar todas as medidas necessárias;
o A LCA inclui medidas de acompanhamento do progresso das ações e de ajustamentos que sejam
necessários, através de acordos climáticos existentes, relatórios e evidências científicas;
o Revisões quinquenais dos progressos, alicerçados nos resultados do Acordo de Paris;

Regime Jurídico da Avaliação de Impacte Ambiental


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(Decreto-Lei n.º 151-B/2013, com alterações)

AIA/DIA – O regime jurídico da AIA (RAIA) é uma lei essencial para a operacionalização e efetivação do
direito do ambiente. Este traduz-se num procedimento administrativo em que a autoridade competente emana
uma declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental) necessariamente prévia ao ato autorizativo final e
que constitui condição de validade intrínseca deste: note-se que a decisão final pode ser desfavorável, favorável
ou condicionalmente favorável (RAIA, art. 18.º/1);

 Objetivos:
o Do lado do proponente, obter uma posição antecipada da Administração acerca das suas opções
antes da obtenção da autorização final;
o Do lado da Administração, configurar toda a situação no mínimo sacrifício possível para o ambiente
– ideia do menor dano presente + futuro possível;
 Noções Básicas – art. 2.º
 d) ‘’Avaliação de impacte ambiental’’ ou ‘’AIA’’, instrumento de carácter preventivo da política de
ambiente, sustentado:
o Na elaboração de um estudo de impacte ambiental
o Na realização de consultas públicas e de consultas a entidades competentes em razão da matéria
o Na análise pelas autoridades competentes da informação apresentada no estudo e de eventual
informação suplementar fornecida pelo proponente ou decorrente das consultas efetuadas
o Na conclusão fundamentada pela autoridade de avaliação de impacte ambiental sobre os efeitos
significativos do projeto no ambiente, bem como a identificação e proposta de medidas que evitem,
minimizem ou compensem esses efeitos, tendo em vista uma decisão sobre a viabilidade da
execução de tais projetos e respetiva pós-avaliação;
 f) ‘’Decisão de verificação de conformidade ambiental de projeto de execução’’, a decisão, expressa ou
tácita, sobre a conformidade ambiental do projeto de execução com a declaração de impacte ambiental
emitida, em fase de anteprojeto ou estudo prévio;
 g) ‘’Declaração de impacte ambiental’’ ou ‘’DIA’’, decisão, expressa ou tácita, sobre a viabilidade
ambiental de um projeto, em fase de estudo prévio ou anteprojeto ou projeto de execução;
 j) ‘’Estudo de impacte ambiental ou ‘’EIA’’, documento elaborado pelo proponente no âmbito do
procedimento de AIA, que contém:
o Uma descrição sumária do projeto
o A identificação e avaliação dos impactes prováveis, positivos e negativos, que a realização do
projeto pode ter no ambiente
o A evolução previsível da situação de facto sem a realização do projeto
o As medidas de gestão ambiental destinadas a evitar, minimizar ou compensar os impactes negativos
esperados
o E um resumo não técnico destas informações
 k) ‘’Impacte Ambiental’’, conjunto das alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas no ambiente,
sobre determinados fatores, num determinado período de tempo e numa determinada área, resultantes da
realização de um projeto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse período de tempo e nessa área, se
esse projeto não viesse a ter lugar;
 n) ‘’Pós-avaliação’’, procedimento desenvolvido após a DIA ou a decisão sobre a conformidade
ambiental do projeto de execução, que visa avaliar a eficácia das medidas fixadas para evitar, minimizar
ou compensar os impactes negativos e potenciar os efeitos positivos, se necessário, nas fases de construção,
exploração e desativação, definindo, se necessário a adoção de novas medidas;

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 t) ‘’Resumo não técnico’’ ou ‘’RNT’’, documento que integra o EIA e o Relatório de Conformidade
Ambiental do Projeto de Execução e que tem como objetivo servir de suporte à participação pública,
descrevendo, de forma coerente e sintética, numa linguagem e com uma apresentação acessível à
generalidade do público, as informações constantes dos mesmos;
 d) Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução ou ‘’RECAPE’’, documento
elaborado pelo proponente no âmbito da verificação da conformidade do projeto de execução com a DIA
 Art. 1.º/2 – As decisões proferidas no procedimento de AIA, incluindo na fase de verificação da
conformidade ambiental do projeto de execução são prévias ao licenciamento ou autorização dos projetos
suscetíveis de provocar efeitos significativos no ambiente, nos termos do presente decreto-lei, devendo a
entidade licenciadora ou competente para a autorização do projeto indeferir o pedido de licenciamento ou
autorização sempre que não tenha sido previamente obtida decisão, expressa ou tácita, sobre a AIA;
 Âmbito de Aplicação – De acordo com os dispostos nos números 3 a 5 do artigo 1.º do RAIA, todos os
projetos suscetíveis de provocar efeitos significativos no ambiente estão sujeitos a AIA – esta é a regra.
Contudo, excetuam-se:
o Os estabelecimentos industriais a instalar em Zona Empresarial Responsável (ZER) não são sujeitos
a procedimento de AIA, no caso de o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da ZER ter incluído os
requisitos de informação necessários ao EIA do estabelecimento em causa – n.º6
o Projetos destinados unicamente à defesa nacional ou à proteção civil – n.º 7

 Pode, ainda, por iniciativa do proponente, ser pedida a dispensa de AIA, de acordo com o art. 4.º/1 – em
circunstâncias excecionais e devidamente fundamentadas, o licenciamento ou a autorização de um projeto pode,
por iniciativa do proponente e mediante despacho dos membros do Governo responsáveis pela área do ambiente
e da tutela do projeto, ser concedido com dispensa, total ou parcial, do procedimento de AIA.

 Art. 6.º Entidades Intervenientes – No âmbito da aplicação do presente decreto-lei, intervêm as seguintes
entidades:
o Entidade licenciadora ou competente para a autorização do projeto
o Autoridade de AIA: A Agência Portuguesa do Ambiente, I.P e as CCDRs
o Comissão de Avaliação (CA) – órgão ad hoc, que tem um papel fundamental na realização da
instrução (art. 9.º)
o Autoridade Nacional de AIA (normalmente a APA)
o Conselho Consultivo de AIA (CCAIA) – art. 10.º/4/5/6 – visa o acompanhamento abstrato
(genérico) da aplicação da RAIA e serve de órgão consultor da APA e do Governo;
o Peritos – art. 9.º/a – aqueles que cumpram os requisitos definidos por portaria do membro do
Governo responsável pela área do ambiente, sob proposta do grupo de pontos focais nas autoridades
de AIA e ouvido o CCAIA
o Grupo de pontos focais – art. 10.º/2 – sob a coordenação da autoridade nacional de AIA, é criado um
grupo de pontos focais, cuja composição é assegurada por representantes de todas as autoridades de
AIA – art. 10.º/3 – acompanhar a evolução das políticas e metodologias de AIA, bem como preparar
normas e documentos de orientação para uma aplicação harmonizada dos procedimentos adotados
no âmbito do presente regime jurídico;
 Contagem dos Prazos (art. 87.º CPA) – À contagem dos prazos são aplicáveis as seguintes regras: a) o prazo começa a correr
independentemente de quaisquer formalidades; b) não se inclui na contagem o dia em que ocorra o evento a partir do qual o prazo
começa a correr; c) o prazo fixado suspende-se nos sábados, domingos e feriados; d) na contagem dos prazos legalmente fixados em
mais de 6 meses, incluem-se os sábados domingos e feriados; é havido como prazo de um ou dois dias o designado, respetivamente,
por 24 ou 48h; o termo do prazo que coincida com dia em que o serviço perante o qual deva ser praticado o ato não esteja aberto ao
público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil seguinte; g) considera-se que o serviço não
está aberto ao público quando for concedida tolerância de ponto, total ou parcial.

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Fases do Procedimento de AIA

Fase Preliminar Facultativa – (art. 12.º/1 – ‘’o proponente pode apresentar previamente ao início do
procedimento de AIA, uma PDA (Proposta de Definição do Âmbito) do EIA

 art. 12.º/10 – ‘’a definição do âmbito do EIA vincula o proponente, a autoridade de AIA e as entidades
externas consultadas quanto ao conteúdo do EIA, pelo período de 2 anos, salvo quando se verifiquem, durante
este período, alterações circunstanciais de facto e direito que manifesta e substancialmente contrariem a
decisão’’  esta fase prévia visa consolidar a confiança dos proponentes no seu projeto e pode permitir saltar
etapas do procedimento, dando logo origem a parecer final da autoridade da AIA.

 Iniciativa (particular/pública) – Apresentação do pedido de deferimento do EIA à autoridade da AIA (art.


14.º/3)
 Instrução – apreciação técnica; parecer preliminar (Comissões de Avaliação)
o Apreciação da completude do EIA pela autoridade do AIA (art. 14.º/1/2) – pode dar origem a um
convite ao aperfeiçoamento; caso não seja assim feito no prazo o procedimento extingue-se.
o Constituição da Comissão de Avaliação (CA) (art. 14.º/4/5) – cm indicação dos representantes
(prazo 3 + 3 dias)
o CA afere a conformidade do EIA (30 dias): se for conforme o procedimento prossegue (art. 14.º/11);
pedido de aperfeiçoamento ou junção de documentos (art. 14.º/9); desconformidade que leva ao
indeferimento (art. 14.º/10)
o Se o procedimento prosseguir: consulta de entidades externas – prazo 20 dias (art. 14.º/11); consulta
pública – prazo 30 dias (art. 15.º); relatório da consulta pública – prazo de 7 dias após o final; A CA
elabora o parecer técnico final da AIA e envia-o à autoridade da AIA – prazo até 15 dias antes do fim
dos prazos do art. 19.º/2;
o Em seguida, a autoridade da AIA pode: reabrir nova conferência instrutória (art. 16.º/2 a 5) – vista
evitar o indeferimento provável e nestes casos o procedimento pode interromper-se até 6 meses (art.
16.º/3); ou emitir a proposta de DIA (art. 16.º/6)
 Audiência dos Interessados (art. 17.º) – discussão pública;
o Fase obrigatória – (regra) arts. 121.º e ss. CPA
o Pode reabrir-se uma mini-fase instrutória com as diligências complementares
o Parecer final
o Proposta de decisão (Autoridade do Ambiente/IA – APA)
 Decisão final/DIA
o Pós-avaliação e pós-procedimento (relação duradoura)
o Emissão da DIA (art. 18.º) – pode ser favorável, favorável condicionada ou desfavorável
o Prazos (art. 19.º) – geral: 100 dias; licenciamento industrial: 90 dias; especial: 70 dias (art. 19.º/2/c)
o Caso do deferimento tácito – a autoridade tem de o justificar (art. 19.º/4)
 Pós-Procedimento (art. 2.º/n e art. 26.º)
o Pós-avaliação – A autoridade do AIA deve ‘’dirigir e orientar a pós-avaliação do projeto, abrangendo
as condições do seu licenciamento ou autorização, construção, funcionamento, exploração e
desativação’’
o Monitorização – Relatórios periódicos da responsabilidade do proponente
o Auditorias – Auditores nomeados pela autoridade da AIA
o Acompanhamento Público – Exercício de cidadania e informação da autoridade da AIA
o Desativação – medidas de minimização dos impactes previsíveis

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Regime da Licença Ambiental (Emissões)


 O direito europeu encetou um caminho de concentrar os regimes das várias autorizações ou licenças com
suscetibilidade de afetação dos valores ambientais numa só figura: a licença ambiental – regime de
emissões industriais aplicável à prevenção e ao controlo integrados da poluição, bem como as regras
destinadas a evitar e ou reduzir as emissões para o ar, a água e o solo e a produção de resíduos;
 A licença ambiental (LA) é condição de validade da licença de exploração propriamente dita (LE) e esta, em
regra, será nula sem aquela (art. 11.º); Por sua vez, existindo licença ambiental prévia (regra) se a licença de
exploração da atividade for indeferida, a primeira caduca (art. 11.º/4 e 22.º/2/a)
 O órgão competente é a APA (art. 4.º/1/a) para as instalações e atividades descritas nessas normas
 A licença ambiental é dinâmica – o prazo regra de vigência são 10 anos renováveis (art. 21.º)
 É permanentemente atualizável, i.e. renovada no seu conteúdo (relação jurídico-ambiental duradoura) – art.
19.º/7
 Neste enquadramento, é essencial o papel das MTD (arts. 31.º a 33.º)
 Noções Essenciais (art. 3.º)
o hh) ‘’Licença’’, autorização para explorar a totalidade ou parte de uma instalação;
o ii) ‘’Licença ambiental’’ ou ‘’LA’’, decisão que visa garantir a prevenção e o controlo integrados
da poluição proveniente das instalações que desenvolvem uma ou mais atividades constantes do
anexo I, estabelecendo as medidas destinadas a evitar, ou se tal não for possível, a reduzir as
emissões para o ar, água e solo, a produção de resíduos e a poluição sonora, constituindo condição
necessária da exploração dessas instalações;
o jj) ‘’Licença padronizada’’, licença ou autorização que incorpora condições técnicas padronizadas
por tipo de atividade prevista no presente decreto-lei e aprovadas por despacho dos membros do
Governo responsáveis pela área técnica em causa e do ambiente e que dispensa permissão
administrativa nesse domínio, substituída por termos de responsabilidade de cumprimento de todas
aquelas condições técnicas padronizadas;
o nn) ‘’Norma de qualidade ambiental’’, conjunto de requisitos legais que devem ser satisfeitos
num dado momento por um determinado meio físico ou por uma parte específica do mesmo;
o rr) ‘’Poluição’’, a introdução direta ou indireta, em resultado de ação humana, de substâncias,
vibrações, calor ou ruído no ar, água ou solo, suscetíveis de prejudicar a saúde humana ou a
qualidade do ambiente e de causar deteriorações dos bens materiais ou deterioração ou entraves ao
usufruto do ambiente ou a outras utilizações legítimas deste último;
o ss) ‘’Público Interessado’’, público afetado ou suscetível de ser afetado pela tomada de uma
decisão, no âmbito dos procedimentos administrativos de emissão, renovação de uma licença ou
atualização das condições de licenciamento ou interessado por essa decisão, designadamente as
organizações não governamentais de ambiente;
o tt) ‘’Regras vinculativas gerais’’, VLE ou outras condições, pelo menos a nível setorial, que se
destinam a ser diretamente utilizadas na definição de condições de licenciamento;
o uu) ‘’Relatório de base’’, informação sobre o estado de contaminação do solo e das águas
subterrâneas por substâncias perigosas relevantes;
o zz) ‘’Responsável técnico ambiental’’, técnico designado pelo operador, competente para a gestão
ambiental da instalação de incineração e coincineração de resíduos e ou interlocutor preferencial
tanto durante o procedimento de licenciamento como para acompanhamento das licenças emitidas
ao abrigo do presente decreto-lei;
o kkk) ‘’Título de exploração’’, documento emitido pela entidade coordenadora competente que
habilita a exploração de instalações ou estabelecimentos sujeitos a procedimentos de licenciamento
ou autorização legalmente estabelecidos;

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o nnn) ‘’Valor limite de emissão’’ ou ‘’VLE’’, a massa, expressa em função de determinados


parâmetros específicos, a concentração ou o nível de emissão, que não deve ser excedido durante um
ou mais períodos determinados;

LA – Entidades Competentes

 A APA (art. 4.º/1)


1. Sem prejuízo das competências que lhe são especificamente atribuídas no presente decreto-lei, compete
à APA, I.P.:
a) A emissão de licença ambiental ou de incineração ou coincineração de resíduos;
b) Manter, atualizar e disponibilizar o registo das instalações que utilizam compostos orgânicos voláteis;
c) Comunicação e articulação com a União Europeia;
d) Disponibilizar informação ao público;
e) Receber e analisar os dados da monitorização das instalações abrangidas pelo regime de monitorização
em contínuo das emissões atmosféricas de, pelo menos, um poluente;
 As CCDRs (art. 4.º/2)
2. Sem prejuízo das competências que lhe são especificamente atribuídas no presente decreto-lei, compete
às Comissões de Coordenação e de Desenvolvimento Regional (CCDR):
a) Emitir parecer sobre as emissões atmosféricas no âmbito do procedimento de licenciamento das
instalações não abrangidas pela monitorização em contínuo, na sequência do envio do processo pela
entidade coordenadora do licenciamento;
b) Receber e analisar os dados da monitorização das instalações abrangidas pelo regime de monitorização
pontual, bem como os dados sobre o cumprimento do disposto no art. 100.º/2/3/4, no caso das
instalações não abrangidas pelo regime de monitorização em contínuo;
c) Enviar à APA, I.P., até 30 de junho de cada ano, a identificação das instalações abrangidas pelo capítulo
V, que reportaram o respetivo autocontrolo de compostos orgânicos voláteis, bem como a informação
relativa ao artigo 98.º
3. O disposto no presente artigo não prejudica as competências legalmente atribuídas às Direções
Regionais de Economia, à Direção-Geral de Energia e Geologia, às Direções Regionais de Agricultura e
Pescas, à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e à Direção-Geral da Saúde, no âmbito das
Operações de Gestão de Resíduos (OGR);
 Quem tem de ter LA? Responde o art. 5.º

Artigo 5.º Obrigação de titularidade de uma licença

1. As instalações que desenvolvem uma ou mais atividades previstas no anexo I, bem como as instalações de
combustão e as instalações de incineração de resíduos e de coincineração de resíduos, só podem ser
explorados após a emissão das licenças previstas no presente decreto-lei;
2. O titular de LA, emitida para as instalações que desenvolvem as atividades previstas no anexo I, é o único
responsável pelo desenvolvimento de todas as atividades, independentemente das outras entidades que
operem na mesma instalação e sem prejuízo do exercício do direito de regresso, quando aplicável.
 Formas da LA
o Licença prévia (regra)
o Uma só licença, quando a atividade principal é a gestão (incineração ou co-incineração) de resíduos
(art. 6.º/1)
o Licença ambiental padronizada, mediante despacho ministerial, operado sob responsabilidade (casos
do art. 8.)

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LA – Fases do Procedimento

 A situação regra acontece através do balcão único (art. 13.º) – que tem de ser coordenado com a LUA; Note-
se que a LA tem 7 fases:

 1. Iniciativa – Pedido em formulário eletrónico dirigido à entidade coordenadora que o redireciona à APA
no prazo de 3 dias (art. 35.º)
 2. Instrução
o Declaração de conformidade ou indeferimento liminar – 15 dias (art. 37.º)
o Avaliação técnica (38.º/1)
o Publicitação do pedido (art 39.º)
 3. Audiência dos interessados (regido pelo CPA, arts. 121.º-125.º)
 4. Decisão – Prazo 50 dias; AIA prévia é situação comum (art. 40.º/2) senão prazo até 80 dias (art. 40.º/1)
o Nesta fase podem dar-se 4 situações: deferimento expresso; indeferimento expresso (art. 40.º/6),
deferimento tácito (tem de ser certificado, art. 23.º/3) e indeferimento tácito/implícito – quando
nenhum dos casos anteriores se verifica, o que implica que o proponente terá de usar uma ação de
condenação para a prática de ato devido (arts. 66.º e ss. do CPTA)
 5. Publicitação da decisão fundamentada (arts. 18.º/1 e art. 30.º/6) – O foco deve ser dado às emissões
evitadas pelo licenciamento, relatórios que serviram de alicerce às MTD;
 6. Monitorização (art. 41.º/3/c/d e art. 93.º) – O operador deve realizar relatórios juntos da APA – se não o
fizer incorrerá numa contra-ordenação grave (art. 111.º/2/m)
 7. Desmantelamento (art. 42.º) – Logo à partida, este tipo de medidas devem estar previstas. Se o operador
lidar com substâncias perigosas (art. 3.º/ggg), deve apresentar um relatório de base e um plano de
desativação (na cessação das atividades);

 Contudo, esse objetivo tem encontrado obstáculos e não foi, ainda, atingido. Neste seguimento, em 2015, foi
criado a LUA (Licenciamento Único Ambiental, DL n.º75/2015, de 11 de maio), que visa obter a TUA (Título
Único Ambiental)

LUA – DL n.º 175/2015


 As preocupações jurídicas e administrativas de defesa do ambiente não devem resvalar num excesso de
tecnicidade e num ordálio burocrático para o operador, no enquadramento do princípio do desenvolvimento
sustentável e no da simplificação administrativa;
 A sucesão de procedimentos administrativos no início do século XXI ameaçou isso mesmo. Contudo,
verificou-se não estarem esgotadas as possibilidades de junção de fases e etapas procedimentais, agilizando
a decisão administrativa e poupando tempo a operador.
 Na exposição de motivos do Licenciamento Único Ambiental (LUA) diz-se:
o ‘’…a análise dos diversos regimes de licenciamento e controlo prévio em matéria de ambiente
permite identificar a articulação de procedimentos e a gestão da informação como fatores críticos
para o aumento da celeridade e da eficiência:
o i) a articulação dos procedimentos permite que os mesmos se desenvolvam em simultâneo, com base
num único pedido, sobre uma única plataforma informática;
o ii) a gestão da informação promove a clareza e uniformidade na definição de requisitos a cumprir,
evita duplicações desnecessárias de formalidades e assegura um conhecimento global e coerente do
estabelecimento ou atividade, em todas as suas dimensões, evitando omissões ou contradições.’’

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LUA – DL n.º175/2015
A ideia é concentrar o procedimento e a decisão na APA e nas CCDR, que já tinham à sua cura a maioria dos
procedimentos na área do ambiente: ‘’…os sucessivos processos de reestruturação dos serviços públicos
permitiram reunir num único organismo, a Agência Portuguesa do Ambiente, I.P (APA, I.P.), a maioria das
competências em matéria de licenciamento no domínio do ambiente, partilhadas ao nível regional com as
Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Esta circunstância constituiu uma
oportunidade irrenunciável de economia dos recursos afetos aos diversos procedimentos de licenciamento no
domínio do ambiente, de forma simultânea e global, com ganhos para os operadores económicos ao nível da
redução dos custos.’’

 O LUA traduz-se num procedimento de emissão de Título Único Ambiental (TUA), que constitui um título
único de todos os atos de licenciamento e de controlo prévio no domínio do ambiente aplicáveis ao pedido,
condensando toda a informação relativa aos requisitos aplicáveis ao estabelecimento ou atividade em
questão, em matéria de ambiente.
 O TUA inclui a informação de base da atividade ou instalação, disponibilizada de forma harmonizada para
todas as entidades intervenientes, sendo nele inscritas todas as licenças e autorizações concedidas, bem
como averbadas as vicissitudes jurídicas das mesmas, assegurando assim o histórico desse estabelecimento
ou atividade, em matéria de ambiente.
 O LUA funciona a partir da plataforma eletrónica Sistema Integrado de Licenciamento do Ambiente
(SILiAmb), à qual têm acesso todos os organismos intervenientes para efeitos de monitorização dos
procedimentos em curso, através da qual entram os pedidos de licenciamento no âmbito dos regimes
aplicáveis ao exercício das atividades económicas.
 Quando estejam em causa pedidos de licenciamento ou controlo prévio ambiental apresentados no âmbito
desses regimes, os pedidos são submetidos através do respetivo balcão eletrónico e encaminhados para o
SILiAmb, para tramitação do procedimento de emissão do TUA. O SILiAmb assegura a interoperabilidade
com a plataforma eletrónica do regime de licenciamento da atividade, transmitindo para a mesma o TUA,
atualizado com as licenças ambientais adquiridas.
 Âmbito de aplicação (art. 1.º)
o Da avaliação de impacte ambiental (RJAIA)
o De prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas
o De emissões industriais (REI)
o De comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa
o Da gestão de resíduos
o Dos títulos de utilização de recursos hídricos (TURH)
o Das operações de deposição de resíduos em aterro e as características técnicas e os requisitos gerais
a observar na conceção, licenciamento, construção, exploração, encerramento e pós-encerramento de
aterros
o Do regime jurídico do licenciamento da instalação e da exploração dos centros integrados de
recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos
o Dos procedimentos ambientais previstos no regime jurídico de gestão de resíduos das explorações
de depósitos minerais e de massas minerais
o Dos procedimentos ambientais de avaliação de incidências ambientais

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Procedimento do LUA

 A APA é a Autoridade Nacional da LUA (art. 6.º/1)


 Também é o interlocutor (art. 6.º/2) ‘’…para os contactos a estabelecer com a entidade coordenadora no
domínio do ambiente, com a entidade licenciadora no domínio do ambiente e com o requerente.’’
 A APA designa o gestor do procedimento (art. 5.º/3/e), que acompanha os pedidos de licenciamento, de
acordo com o art. 7.º, com competências alargadas de gestão das incidências mas não de decisão parcial ou
final;
 Podem existir Entidades Acreditadas (art. 8.º) que auxiliam a preparar a decisão;
 O pedido do TUA é realizado através da entrega do dossier único eletrónico (art. 12.º/1) no balcão único
(art. 13.º)
 Princípio da economia processual (art. 14.º/1): ‘’o requerente é dispensado de juntar os elementos que já
tenham sido apresentados no âmbito de procedimentos anteriores, enquanto os mesmos se mantiverem
válidos e atualizados.’’
 Emissão da TUA (art. 16.º)
o Pela entidade coordenadora, de acordo com o art. 16.º/1 e art. 5.º/4/g
o Pela autoridade nacional do LUA (art. 16.º/1)
 Está sujeito à Taxa Ambiental Única (art. 19.º), TAU, a efetuar à ANLUA;

Responsabilidade por Danos Ambientais


O esteio da responsabilidade civil reside no direito subjetivo ao ambiente consagrado na CRP (art. 66.º/1) e na
LBA. Contudo, nem a CRP nem a LBA cumprem a separação conceptual entre:

 Dano ambiental – dano pessoal e patrimonial de indivíduo ou grupo


 Dano ecológico – lesão na biodiversidade provocada por uma adulteração relevante do estado ou utilidades
de um bem ambiental natural

 A ação popular aglomera os interesses individuais homogéneos, a quem concede regime indemnizatório, e
os interesses de fruição de bens coletivos, a quem não admite direito à indemnização de forma direta;

 Os interesses individuais eram ressarcíveis através de uma ação inibitória do titular lesado – mas não os
interesses coletivos…

Pela LBA os autores populares e o MP podem propor ações inibitórias e deduzir pedidos de indemnização:

1. Os infratores são obrigados a remover as causas da infrações e a repor a situação anterior à mesma ou
equivalente, salvo o disposto n.º3 (…)
2. Em caso de não ser possível a reposição da situação anterior à infração, os infratores ficam obrigados ao
pagamento de uma indemnização especial a definir por legislação e à realização das obras necessárias à
minimização das consequências provocadas.’’  Contudo, os critérios legais não apontam para valoração
da lesão ecológica, para o equilíbrio do ecossistema, para o prejuízo geracional, etc.

Dano Ecológico/Ambiental

 O Dano consiste num prejuízo causado num qualquer bem jurídico – coisas ou direitos;
 A evolução do direito do ambiente proporcionou o surgimento do conceito de danos causados à natureza em
si, ao património natural e aos fundamentos da vida;
 Na doutrina e na legislação europeia passaram a coexistir vários conceitos diferenciados de danos
ambientais que trouxeram alguma confusão: dano ecológico puro; dano ecológico propriamente dito; danos
causados ao ambiente; danos no ambiente;
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 A legislação europeia (Diretiva n.º2004/34/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de abril)


entendeu resumir o conceito a um só genérico:
o O dano ambiental acontece quando um bem jurídico ecológico é perturbado ou quando um
determinado estado-dever de um componente do ambiente é alterado negativamente.
o Consequentemente, pela aplicação do princípio da prevenção, a verificação de um dano implica a
responsabilização do agente causador.
 Além disso, a Diretiva n.º2004/34/CE:
o Autonomiza e tenta cingir a sua aplicação ao dano ecológico: ‘’relevante, concreto, mensurável’’
com nexo de causalidade direta entre facto e dano;
o Responsabiliza os operadores públicos e privados por atividade lucrativa ou não;
o Baseia-se nos princípios do poluidor-pagador e da prevenção (salto epistemológico moderno
‘’precaução’’: perigos humanos + lesões atuais + futuras, com critérios científicos de razoabilidade e
de bom senso;
o Não abarca a indemnização por danos pessoais e patrimoniais nem a entrega daquelas a particulares
(colide com o art. 48.º/3 da LBA;
o Recomenda aos Estados a criação de fundos de garantia financeira para prevenção e reparação dos
danos ecológicos;

DL 147/2008, de 29 de julho

 O preâmbulo, reconhecendo as insuficiências do regime anterior, elucida as inovações legislativas,


praticamente explicitando a Diretiva 2004/34/CE;
 Defende o princípio da responsabilização dos cidadãos como o modo mais eficaz de proteger os bens
ambientes e consolidar o ‘’Estado de direito ambiental’’: ‘’cidadão verdadeiro zelador do ambiente’’

Papel dos Particulares

 ‘’O estudo dos instrumentos de tutela ambiental a partir da análise económica do direito tem revelado que,
sempre que os particulares disponham de mais e ou melhor informação do que as autoridades
administrativas relativamente a um estado de conservação ambiental ou quanto ao risco próprio das
atividades económicas, é preferível dotá-los de direitos indemnizatórios, investindo assim o cidadão na
qualidade de verdadeiro zelador do ambiente, de modo a obter uma alocação economicamente mais racional
dos recursos.’’

A Responsabilidade tem de evitar:

 A dispersão dos danos ambientais, em que o lesado, numa análise custo benefício, se vê desicentivado a
demandar o poluidor;
 A concausalidade na produção de danos, que em matéria ambiental conhece particular agudeza em razão do
carácter técnico e científico e é susceptível de impedir a efetivação da responsabilidade;
 O período de latência das causas dos danos ambientais, que leva a que um dano só se manifeste muito
depois da produção do(s) facto(s) que está na sua origem;
 A dificuldade técnica de provar o nexo de causalidade (uma causa é apta a produzir o dano) (e,
consequentemente, de o imputar ao respetivo autor);
 A questão de garantir que o poluidor tem a capacidade financeira suficiente para suportar os custos de
reparação e a internalização do custo social gerado;

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DL 147/2008, de 29 de julho

 Responsabilidade civil – ‘’obriga os operadores-poluidores a indemnizar os indivíduos;


 Responsabilidade administrativa – para prevenir e ‘’reparar os danos causados ao ambiente perante toda a
coletividade’’
 E refere a criação de instrumentos de garantia financeira que visam cumprir a responsabilidade ambiental
assumida pelos operadores – art. 22.º
 Responsabilidade Solidária – Também se consagra um regime de responsabilidade solidária, tanto entre
comparticipantes quanto entre as pessoas coletivas e os respetivos diretores, gerentes ou administradores, e
norteando a demonstração do nexo de causalidade para a preponderância de critérios de verosimilhança e de
probabilidade de o facto danoso ser apto a produzir a lesão verificada.

Disposições Gerais

 Seguindo o modelo da Diretiva 2004/34/CE, o art. 2.º define o seu âmbito de aplicação ‘’aos danos
ambientais, bem como às ameaças iminentes desses danos’’ se causadas por uma atividade ocupacional:
‘’económica, independentemente de seu carácter público ou privado, lucrativo ou não’’; Contudo, este não
se aplica se estes resultarem de: atos de conflito armado, hostilidades, guerra civil ou insurreição;
fenómenos naturais de carácter totalmente excepcional imprevisível ou que, ainda que previstos, sejam
inevitáveis; atividades cujo principal objetivo resida na defesa nacional ou na segurança internacional; as
atividades cujo único objetivo resida na proteção contra catástrofes naturais; se a responsabilidade for
abrangida por convenções internacionais; se decorrentes de riscos nucleares; ou causados pelas atividades
abrangidas por Tratados da EU ou por incidentes ou atividades relativamente aos quais a
responsabilidade seja abrangida pelo âmbito de algum dos instrumentos internacionais;
 O art. 3.º estabelece o regime da responsabilidade das pessoas coletivas, incidindo-a solidariamente sobre os
diretores, gerentes e administradores e estendendo-a à sociedade-mãe ou dominante nos casos de utilização
abusiva da personalidade jurídica ou fraude à lei.
 O art. 4.º define o regime da comparticipação (responsabilidade solidária + direito de regresso recíproco), a
presunção da responsabilidade em partes iguais quando a participação não for individualizável. Para o
direito de regresso assente na responsabilidade subjetiva, presumem-se iguais as culpas dos responsáveis;
 Os arts. 5.º e 6.º referem-se ao nexo de causalidade na apreciação da prova, elegendo a teoria da causalidade
adequada, incluindo as lesões ocasionadas por poluição de carácter difuso desde que exista nexo de
causalidade entre os danos e as atividades lesivas;

Acordão STJ 02.12.2008

 A teoria da causalidade adequada impõe, num primeiro momento, a existência de um facto naturalístico
concreto, condicionante de um dano sofrido, para que este seja reparado; e, num segundo momento, que o
facto concreto apurado seja, em geral e abstrato, adequado e apropriado para provocar o dano;
 A nossa lei adotou a formulação negativa (mais ampla) da teoria da causalidade adequada, segundo a qual o
facto que atuou como condição do dano só não deverá ser considerado causa adequada do mesmo se, dada a
sua natureza geral e em face das regras de experiência comum, se mostrar indiferente para a verificação do
efeito;
 A responsabilidade civil extracontratual do Estado e das entidades públicas, por factos ilícitos, com o
consequente dever de indemnização dos lesados, assenta na verificação cumulativa dos seguintes
pressupostos:
o O facto (acto de conteúdo positivo ou negativo) traduzido numa conduta voluntária de um órgão ou
seu agente, no exercício das suas funções e por causa delas;

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o A ilicitude, que advém da ofensa, por esse facto, de direitos de terceiros ou de disposições legais que
se destinam a proteger interesses alheios;
o A culpa, como nexo de imputação ético-jurídico que liga o facto à vontade do agente, a título de
dolo ou de negligência;
o O dano, lesão ou prejuízo de ordem patrimonial ou não patrimonial, produzido na esfera jurídica de
terceiros;
o O nexo de causalidade entre o facto (ato ou omissão) e o dano, a apurar segundo a teoria da
causalidade adequada;
 O art. 563.º do CC traduz a consagração da teoria da causalidade adequada, adoptando-se, em regra, no
domínio da responsabilidade civil por factos ilícitos, a formulação negativa dessa teoria (formulação de
Enneccerus-Lehmann), à luz da qual é de excluir a responsabilidade quando o facto era de todo indiferente
para a produção do dano concretamente ocorrido, e só se tornou uma condição dele por virtude de outras
circunstâncias, sendo pois inadequado para o dano em questão;
 Estribado no art. 41.º do LBA – a quem confere exequibilidade – o art. 7.º regula a responsabilidade
objetiva recorrendo à identificação dos operadores de atividades objetivamente perigosas no Anexo III do
diploma;
 O art. 8.º e 9.º dispõem sobre a responsabilidade subjetiva transpondo para o domínio do ambiente a lógica
civilista geral;
 O art. 10.º impede a dupla reparação – norma essencial dada a existência de um regime (aparentemente)
duplicado de responsabilização civil e administrativa: os lesados não poderão invocar a responsabilidade
civil quando os danos já tenham sido reparados através da responsabilidade administrativa (mas a inversa
não é verdadeira);

Responsabilidade Civil Ambiental

Prevenção + Reparação + Indemnização = art. 11.º

m) ‘’medidas de prevenção’’ quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato ou omissão que
tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao máximo esses
danos;

n) ‘’medidas de reparação’’ qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter provisório, com
o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados ou fornecer uma
alternativa equivalente a esses recursos ou serviços;

Capítulo III – resp. administrativa (DL 147/2008, de 29 de julho)

 Os arts. 11.º a 21.º estabelecem um regime de prevenção e de reparação do dano ecológico por via
administrativa que o diploma apelida de ‘’responsabilidade administrativa’’
 Os dois regimes não se excluem, antes convivem, quer na responsabilidade objetiva (art. 12.º/2) quer na
subjetiva (art. 13.º/2);
 Trata-se de um procedimento administrativo especial, sob a autoridade da APA (art. 29.º), que cumpre a
verdadeira transposição da Diretiva 2004/34/CE e atualiza o direito português em matéria de dano
ecológico;
 A Administração é o garante da tarefa partilhada da defesa do estado de direito ambiental;
 O art. 11.º um longo rol de definições jus-ambientais que tem a virtude de esclarecer dúvidas inevitáveis,
mas, também, ostenta o perigo de se cristalizarem face à velocidade com que este tipo de ‘’noções técnico-
científicas embrulhadas em direito’’ tendem a evoluir;
 Saliente-se, pela negativa, o disposto no 11.º/I/e/iii, quando se fala em ‘’danos causados ao solo’’ como
‘’qualquer contaminação que crie risco significativo para a saúde humana’’ – escapa à noção de dano
ecológico e repristina tempos antigos…
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 Art. 14.º - medidas de prevenção


 Deveres do operador são um ónus seu e não dependem da ação da autoridade administrativa (n.ºs 1 a 4)

Poderes da Autoridade Administrativa

 Exigir que o operador forneça informações sobre a ameaça iminente de danos ambientais ou suspeita dessa
ameaça;
 Exigir que o operador adote as medidas de prevenção necessárias;
 Dar ao operador instruções obrigatórias quanto às medidas de prevenção necessárias, ou se for o caso,
revogá-las;
 Executar subsidiariamente e a expensas do operador responsável, as medidas de prevenção necessárias,
designadamente quando, não obstante as medidas que o operador tenha adoptado, a ameaça iminente de
dano ambiental não tenha desaparecido ou, ainda, quando a gravidade e as consequências dos eventuais
danos assim o justifiquem;
 Medidas de reparação – art. 15.º - são obrigatórias (n.º2)
 Como último recurso, pode a autoridade competente executar, ela própria, as medidas de prevenção e
reparação – art. 17.º
 O interessado pode solicitar à autoridade competente um pedido de intervenção – art 18.º
 Os custos cabem ao operador – regra, art. 19.º; atenção ao papel do FA – art. 23.º
 Exceção – art. 20.º

Danos Transfronteiriços (art. 24.º)

 Dever de informação e de articulação das respostas


 Ação dos ministros do ambiente e MNE
 Papel da Comissão Europeia

Autoridades Envolvidas (art. 25.º)

 IGAOT (Insperação-Geral)
 Autoridade concretamente competente
 GNR (serviços de ambiente)

Contra-Ordenações

 São todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima;
 A coima é a sanção típica das contra-ordenações que ainda podem ser acrescidas de sanções acessórias;
 A distinção entre crime e contra-ordenações assenta na diferente natureza dos bens jurídicos tutelados – há
uma menor ‘’ressonância ética’’ das contra-ordenações;
 No direito ambiental coexistem contra-ordenações:
o Muito graves (art. 26.º/1)
o Graves (art. 26.º/2)
o Leves (art. 26.º/3)

Prazos - Artigo 32.º - Os prazos previstos no presente decreto-lei são contínuos, não se suspendendo em
qualquer circunstância;

Prescrição – Artigo 33.º - Consideram-se prescritos os danos causados por quaisquer emissões, acontecimentos
ou incidentes que hajam decorrido há mais de 30 anos sobre a efetivação do mesmo;

 Interpenetrações, confusões e anacronismos – Carla Amado Gomes defende que o capítulo II deveria ser
tido por não escrito, já que não se diferencia do regime geral do CC e não merece lugar num regime de
prevenção e reparação de dano ecológico;
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 O capítulo II é redundante face à legislação anterior – só o dano ecológico requer regime específico;
 A sua lógica não está presente na Diretiva que o DL diz transpor;
 Atrapalha a noção de dano ecológico com a de dano ambiental, retirando uma aborrecida androginia que
tem minado esta matéria – falhanço na correção da sua ambiguidade;
 Levanta confusões, já que pode induzir no erro que a responsabilidade pela prevenção e reparação do dano é
da Administração – mas é do operador;
 Atrai ruído indesejável face à responsabilidade do Estado e entidades públicas;
 O conceito ‘’atividades ocupacionais’’ do art. 2.º/1 denota previsão insuficiente – Amado Gomes quer
estender o regime de reparação do anexo V às atividades não empresarializadas;

Tutela Judicial (ainda) repartida

 Com a LBA alterou-se o paradigma que remetia genericamente esta matéria para os tribunais comuns;
 A expressão ‘’foro competente’’ obriga à identificação do tipo de relação jurídica presente: se esta revestir
cariz administrativo predominante serão competentes os tribunais administrativos, já que passaram a ser o
foro preferencial dos litígios ambientais por via do disposto no ETAF;
 Por natureza, o dano ecológico é público, o que implica a propositura de ações especiais e comuns e o uso
de meios cautelares no foro administrativo seja qual for a qualidade do operador – tal como ações populares
neste âmbito;
 Os tribunais administrativos não conhecerão de litígios emergentes de direitos individuais ou resultantes de
contra-ordenações;
 O dano ambiental pessoal e patrimonial em que o titular lesado pretende o ressarcimento do dano (ou a sua
evitação) será competência do foro cível desde que a lesão não estampe natureza pública;

Conclusões

 A responsabilidade por danos ecológicos representa uma evolução no instituto geral juridificando a ideia de
responsabilidade intergeracional (CRP, 66.º/2/d);
 Passou-se da responsabilidade-sanção para a responsabilidade-indemnização; e desta, muito por causa do
direito do ambiente para a responsabilidade-antecipação;
 Aplica-se a lógica da prevenção/precaução para resguardar o património ecológico comum da humanidade;
 Julgamos que o legislador andou bem ao não estabelecer uma presunção de inversão de ónus da prova
contra o operador – baseada na prevenção/precaução – pois tal presunção inexiste na Diretiva que o diploma
transpõe;
 Genericamente, o DL n.º147/2008 constitui um esforço louvável de transposição e harmonização da
legislação europeia no seio do direito português;
 Resistem imbróglios herdados do regime anterior e da suposta lógica da tradição jurídica nacional que,
sobretudo aqui, é inaplicável;
 As nossas dúvidas acerca da pouca viabilidade deste regime firmam-se na sua inadequação quer ao perfil do
operador nacional quer ao da Administração sempre pronta a complicar quando encontra uma brecha para o
poder fazer;

Powerpoint 9

Vertente Repressiva – (A propósito da Responsabilidade Civil) Excede a vertente reparatória e deve transmitir
um especial juízo de censura social que se traduzirá numa sanção administrativa ou penal.

Diretiva 2008/99CE – Veio exigir a criminalização de ilícitos ambientais devido ao crescimento da consciência
ambiental e devido à verificação de alguma ineficácia das sanções administrativas (coimas). Note-se que
quando uma empresa não tem meios para pagar as coimas estas não lhes podem ser exigidas.
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 O surgimento do direito penal no ambiente não afastou o direito administrativo sancionatório: estes
complementam-se. E para além do disposto no DL n.º147/2008 (responsabilidade civil), o regime das CO
resulta da Lei Quadro das Contraordenações Ambientais – Lei n.º50/2006, de 29 de agosto – ver arts. 8.º, 11.º,
21.º, 23.º, 30.º, 32.º 38.º, 40.º; Note-se que as contraordenações cabem aos tribunais comuns (reserva tendencial
e não absoluta, Ac. TC 522/2008)

 Os crimes ambientais constam dos artigos 279.º, 279.º-A; 280.º e 281.º do Código Penal em articulação com
o art. 11.º/2. Depois existem os crimes com efeitos ambientais – art. 272.º - incêndios, explosões e outras
condutas especialmente perigosas; art. 273.º - energia nuclear; art. 274.º - incêndio florestal;

 O direito penal não está vocacionado para abranger todas as lesões aos bens juridicamente protegidos –
apenas regula a violação dos valores fundamentais. Assim, falamos da proteção penal como última ratio da
guarida jurídica que os bens tutelados pelo direito auferem. Portanto, a proteção penal de valores ambientais
passou a ser exigida quando estes se revelaram como essenciais e sine qua non para a sociedade e,
consequentemente, para o direito.

 Em direito penal, em regra, há dois tipos de crime: o crime de dano e o crime de perigo:

 Crime de dano – existe quando é produzida uma lesão efetiva do bem jurídico protegido;
 Crime de perigo – é aquele em que é suficiente que exista a ameaça de lesão de um bem jurídico protegido
para que sejam punidas as condutas que criaram o perigo para os interesses penalmente protegidos,
independentemente da verificação efetiva de um dano;
o Crime de perigo abstrato – em que é suficiente que uma determinada ação seja susceptível de
colocar em perigo um interesse protegido para que exista punição – não requer um comportamento
individualizado sobre a vítima;
o Crime de perigo concreto – tem como requisito a prática de um comportamento individualizado
que ponha em perigo um bem jurídico – a ação violadora do agente figura, por si só, um perigo para
um interesse ou bem jurídico penalmente protegido;
  Crimes ambientais são crimes de dano ou de perigo? A doutrina penalista portuguesa anda em
divergência polémica há anos sobre se os crimes ambientais são de perigo (Canotilho) porque o elemento
típico é a desobediência ou crimes de dano (Germano Marques Silva);
 Contudo, também há uma posição intermédia: serão crimes de dano, mas com uma componente de
desobediência (Souto Moura);

Conclusões:

 Em vários tipos legais de crime, como no art. 279.º, a proteção penal versa uma noção ambiental antiga e já
ultrapassada – a antropocêntrica (já não é tanto assim no art. 279.º-A.
 O ambiente ainda é visto como um conjunto de fatores exógenos que servem o ser humano e não como a
imperiosa necessidade de salvaguardar os sistemas que suportam os sistemas de vida, nomeadamente a
biodiversidade.
 E que só a proteção da biodiversidade global poderá servir a qualidade de vida humana como parte do todo
e não como o seu fim exclusivo.

Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 29


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Perguntas-Modelo
Princípio do Poluidor-Pagador / Princípio do Utilizador-Pagador

De facto, ambos os princípios constituem princípios materiais de ambiente e ambicionam uma gestão racional
dos recursos. Contudo, estes apresentação distinções entre si: o princípio do poluidor-pagador faz o poluidor
arcar com os custos da sua atividade eco-poluente e da introdução de medidas com vista ao combate das
ameaças e agressões ao ambiente (artigo 3.º/d da Lei de Bases do Ambiente). Deste modo, quem beneficia de
uma atividade causadora de danos ambientais deve ser responsável pelos prejuízos perpetuados, por via fiscal.
Contudo, surge um paradoxo: quem paga pode poluir. Por sua vez, o princípio do utilizador-pagador impõe ao
utente o suporte dos custos da utilização dos recursos e da recuperação proporcional dos custos associados à sua
disponibilização (artigo 3.º/e da Lei de Bases do Ambiente). Portanto, o objetivo é racionalizar o uso dos
recursos pelos cidadãos, permitindo ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização de recursos
(artigo 66.º/2/h da Constituição da República Portuguesa). Em suma, o princípio do poluidor-pagador é dotado
de uma vertente sancionatória e repressiva, ao passo que o princípio do utilizador-pagador é dotado de uma
vertente racional.

Princípio da Sustentabilidade / Princípio do Desenvolvimento Sustentável

De facto, ambos os princípios ambicionam a preservação do ambiente e o equilíbrio entre o desenvolvimento


económico e a sustentabilidade ambiental. Contudo, estes apresentam distinções entre si: o princípio do
desenvolvimento sustentável incide sobre a preservação de recursos naturais, a capacidade de produção dos
ecossistemas a longo prazo, o ordenamento racional do território, a produção e o consumo sustentáveis de
energia, a salvaguarda da biodiversidade e o equilíbrio biológico (art. 3.º/a da Lei de Bases do Ambiente). Este
traduz-se num dever imputado aos Estados no desenvolvimento de todas as suas políticas públicas. Aliás, na
LBA, surge como base e prisma interpretativo de todos os princípios seguintes, obrigando à fundamentação
ecológica das decisões económicas: serão inconstitucionais as decisões muito gravosas para o ambiente. No
entanto, este tem sido alvo de críticas pela doutrina, levando ao surgimento de um novo princípio: o princípio
da sustentabilidade. Por exemplo, Carla Amado Gomes considera que o princípio do desenvolvimento
sustentável é difuso e destituído de condições de operacionalização real. Neste sentido, refere a importância do
princípio da sustentabilidade ambiental e dos recursos, que se subdivide em sustentabilidade ecológica e social.
Ou seja, o princípio da sustentabilidade é uma ambição e pretende-se que substitua o princípio do
desenvolvimento sustentável como lógica fundamental do ambiente.

Fronteira do Carbono no PEE

O Pacto Ecológico Europeu designa a nova estratégia da Europa, que visa transformar as suas lógicas de
produção, de crescimento e de existência geral, mantendo e incrementado a qualidade de vida dos cidadãos
europeus. Neste sentido, é conveniente referir que este pacto detém algumas medidas de sustentabilidade,
nomeadamente a fronteira do carbono. Esta surge relacionada com a lógica do produto desde a matéria-prima
até ao produto final: se não forem observadas as regras para a produção, o produto será taxado.

Fase Preliminar Facultativa da AIA

O regime jurídico da AIA (RAIA) é uma lei essencial para a operacionalização e efetivação do direito do
ambiente. Este traduz-se num procedimento administrativo em que a autoridade competente emana uma
declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental). Note-se que este pressupõe uma fase preliminar
facultativa da AIA: art. 12.º/1 – ‘’o proponente pode apresentar previamente ao início do procedimento de AIA,
uma PDA (Proposta de Definição do Âmbito) do EIA. Assim, esta fase prévia visa consolidar a confiança dos
proponentes no seu projeto e pode permitir saltar etapas do procedimento, dando logo origem a parecer final da
autoridade da AIA.

Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 30


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Licença Ambiental Padronizada

O direito europeu encetou um caminho de concentrar os regimes das várias autorizações ou licenças com
suscetibilidade de afetação dos valores ambientais numa só figura: a licença ambiental – regime de emissões
industriais aplicável à prevenção e ao controlo integrados da poluição, bem como as regras destinadas a evitar e
ou reduzir as emissões para o ar, a água e o solo e a produção de resíduos; Por sua vez, a licença ambiental
pressupõe a licença ambiental padronizada: licença ou autorização que incorpora condições técnicas
padronizadas por tipo de atividade prevista no presente decreto-lei e aprovadas por despacho dos membros do
Governo responsáveis pela área técnica em causa e do ambiente e que dispensa permissão administrativa nesse
domínio, substituída por termos de responsabilidade de cumprimento de todas aquelas condições técnicas
padronizadas; (art.3.º/jj do DL n.º127/2013, de 30 de agosto);

Dano Ecológico

Efetivamente, na doutrina e na legislação europeia coexistiam vários conceitos diferenciados de danos


ambientais. Neste seguimento, a Diretiva 2004/34/CE entendeu resumir o conceito a um só genérico: o dano
ecológico acontece quando um bem jurídico ecológico é perturbado ou quando um determinado estado-dever de
um componente do ambiente é alterado negativamente. Consequentemente, pela aplicação do princípio da
prevenção, a verificação de um dano implica a responsabilização do agente causador.

Contraordenações / Crime Ambiental

De facto, as contraordenações e os crimes ambientais são ambos atos ilícitos que perpetuam efeitos danos ao
ambiente. Contudo, estes são distintos entre si. Designamos por contraordenação o facto censurável e ilícito
correspondente à violação de disposições legais e regulamentares em matéria de ambiente, que consagrem
direitos e deveres, para os quais existe uma coima em caso de incumprimento (art. 1.º/2 da Lei Quadro das
Contra-Ordenações Ambientais: Lei n.º50/2006, de 29 de agosto). Por sua vez, um crime ambiental designa
qualquer ato que infrinja o direito do ambiente e cause danos ou riscos graves para o ambiente ou à saúde
humana. São exemplos de crimes ambientais: a emissão ou descarga ilegal de substâncias/resíduos na
atmosfera, água e solos e o comércio ilegal de espécies selvagens.

Princípio da Informação

De facto, o princípio da informação constitui um dos princípios das políticas públicas ambientais. Este obriga
ao envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, ambicionando uma maior consciência coletiva neste
âmbito e assegurando aos cidadãos o direito de intervir nas políticas públicas ambientais (artigo 4.º/e da Lei de
Bases do Ambiente). Neste sentido, é conveniente referir o artigo 7.º/1 da mesma lei, que reconhece a todos ‘’o
direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente protegidos em matéria de ambiente’’.
Portanto, é indubitável que a informação e a participação são elementos integradores e qua non da cidadania
ambiental.

Princípio da Responsabilidade

Efetivamente, o princípio da responsabilidade constitui um dos princípios materiais de ambiente. Este impõe a
responsabilização de todos aqueles que direta ou indiretamente, seja por dolo ou negligência, causem danos ao
ambiente. Neste sentido, cabe ao Estado o papel de sancionador, nomeadamente através de indemnizações
(artigo 3.º/f da Lei de Bases do Ambiente). Note-se que este princípio implica todas as formas de
responsabilidade: penal, civil, administrativa e disciplinar.

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Lei Climática Europeia

A Lei Climática Europeia decorreu da proposta da Comissão de março de 2020, com a pretensão de ser o
veículo jurídico do Pacto Ecológico Europeu. Note-se que esta ambiciosa assegurar que todas as políticas
europeias e todos os setores da economia e da sociedade contribuam para os objetivos da União Europeia em
matéria de ambiente (transversalidade). Em suma, esta lei pretende tornar o caminho para a neutralidade
climática vinculativo e irreversível.

Comente, desenvolvidamente, os seguintes excertos:

‘’A dispensa da avaliação de impacte ambiental constitui um extravio do princípio da prevenção que
pode ser perigosa.’’

Para efetuar um comentário fundamentado acerca do excerto é necessário definir os conceitos em questão: o
regime da avaliação de impacte ambiental (RAIA) e o princípio da prevenção. A RAIA é uma lei essencial para
a operacionalização e efetivação do direito do ambiente, que se traduz num procedimento administrativo em
que a autoridade competente emana uma declaração (DIA – Declaração de Impacte Ambiental). Por sua vez, o
princípio da prevenção é um princípio material de ambiente, que obriga à adoção de medidas antecipatórias,
com o objetivo de minorar os impactes adversos no ambiente (artigo 3.º/c da Lei de Bases do Ambiente).
Assim, em sentido restrito, pretende evitar perigos imediatos e concretos e, em sentido amplo, pretende afastar
riscos futuros. Neste seguimento, é possível concluirmos que a dispensa da avaliação de impacte ambiental
(AIA) pode constituir um extravio ao princípio da prevenção, na medida em que esta designa um instrumento
de carácter preventivo da política do ambiente (artigo 2.º/d da RAIA). Deste modo, a AIA revela-se crucial à
antecipação de possíveis danos e efeitos desastrosos para o ambiente, sendo um instrumento indispensável à
preservação ambiental.

‘’A Comissão de Avaliação é um órgão had hoc, que tem um papel fundamental na realização da
instrução da AIA’’

A AIA designa um instrumento de carácter preventivo da política do ambiente, estando prescrita no artigo 2.º/d
da RAIA. Note-se que no DL n.º151-B/2013 constam várias entidades intervenientes neste âmbito,
nomeadamente a Comissão de Avaliação (artigo 6.º/c). Esta é um órgão had hoc (criado para um único
propósito, sendo destituído após a prossecução deste) e tem um papel fundamental na realização da AIA porque
é indispensável ao funcionamento desta: emite pareceres técnicos sobre a PDA do EIA; procede à verificação
do EIA e emite pareceres técnicos sobre a AIA e o DIA – artigo 9.º do DL n.º151-B/2013.

‘’A responsabilidade civil ambiental funda-se em prevenção, reparação e indemnização’’

De facto, é indubitável que a responsabilidade civil ambiental obriga os operadores-poluidores a indemnizar os


indivíduos. E, alicerçado à indemnização, surge a prevenção e reparação: neste âmbito, existem medidas de
prevenção (medidas adotadas em resposta a um facto, seja positivo ou negativo, que causou ameaça de danos
ambientais, com o intuito de previnir ou minimizar o máximo possível de dano (art. 11.º/m do DL 147/2008); e
existem medidas de reparação, que consistem em qualquer ação ou conjunto de ações, incluindo medidas de
carácter provisório, com a ambição de reparar ou reconstituir os recursos naturais e os serviços danificados (art.
11.º/n do DL 147/2008);

‘’O Direito do ambiente português é essencialmente constituído por normas de direito da União
Europeia. E o que sobra é, sobretudo, direito internacional.’’

Efetivamente, é correto afirmar que o direito do ambiente português é essencialmente direito europeu: este
nasceu do direito internacional e ganhou eficácia na ordem jurídica interna através da ação do Estado,
nomeadamente através da 1ª Lei de Bases, em 1987.

Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 32


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‘’Descreva os princípios materiais do ambiente português e refira a sua relevância.’’

De forma a garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação do ambiente, assim como
a gestão racional dos recursos, a lei portuguesa estabelece um conjunto de princípios materiais do ambiente
(artigo 3.º da LBA): o princípio do desenvolvimento sustentável, o princípio da responsabilidade intra e
intergeracional, o princípio da prevenção e da precaução, o princípio do poluidor-pagador, o princípio do
utilizador-pagador, o princípio da responsabilidade e o princípio da recuperação.

Princípio do desenvolvimento sustentável: art. 3.º/a LBA + dever imputado aos Estados no desenvolvimento de
todas as suas políticas públicas + na LBA surge como base e prisma interpretativo de todos os princípios
seguintes + obriga à fundamentação ecológica das decisões económicas: serão inconstitucionais as decisões
muito gravosas para o ambiente;

Princípio da responsabilidade intra e intergeracional: art. 3.º/b da LBA + todas as nossas ações afetam o
ambiente e repercutem-se na qualidade ambiental das gerações futuras; assim, as nossas ações individuais e as
politicas públicas deverão ambicionar o menor dano possível; + deve-se manter a possibilidade de escolha da
geração futura quanto à utilização dos recursos naturais;

Princípio da prevenção e da precaução: art. 3.º/c da LBA + em sentido restrito, pretende evitar perigos
imediatos e concretos; em sentido amplo, pretende afastar riscos futuros;

Princípio do poluidor-pagador: art. 3.º/d da LBA + quem beneficia de uma atitude eco-poluente deve ser
responsável pelos prejuízos ambientais por via fiscal + surge como um paradoxo: quem paga pode poluir

Princípio do utilizador pagador: art. 3.º/e da LBA + o objetivo é racionalizar o uso do recurso pelos cidadãos +
permite ao Estado a cobrança de taxas e a ação fiscal pela utilização dos recursos (art. 66.º/2/h da CRP)

Princípio da responsabilidade: art. 3.º/f da LBA + implica todas as formas de responsabilidade: civil, penal,
administrativa e disciplinar;

Princípio da recuperação: art. 3.º/g da LBA + o agente deve proceder à restauração natural, sendo que a
restauração natural será a mais amiga possível do ambiente e pode cumular-se com a restituição por
equivalente;

Rafael Magalhães 2021-2022 Universidade do Minho 33


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