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O BARROCO BRASILEIRO

História da Arte II
2020/2021

Luísa Brites Ferreira 13432


Marta Rebelo 12545
Sarah Cianflone Pripas 13178
ÍNDICE

o Pré colonização________________________________________ 2

o Contrarreforma, missões jesuítas e imersão do barroco______ 2


o Literatura________________________________________ 4
o Música__________________________________________ 5
o Teatro___________________________________________ 5
o
o As invasões europeias em território do Brasil Colonial_______ 6
o Inglesas_________________________________________ 7
o Francesas_______________________________________ 8
o Holandesas______________________________________ 9

o Escolas Regionais_____________________________________ 12

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Pré colonização

Para melhor compreender a criação artística no Brasil referente aos séculos


XVII e XVIII é preciso retornar ao contexto histórico da pré-colonização.

Antes da chegada dos europeus ao Brasil já havia vestígios de produção


artística, essencialmente através de peças de cerâmica, pinturas corporais,
máscaras, mas também da tecelagem, da música, da dança… Este tipo de arte é
então conhecido como Arte Indígena. Variando de tribo para tribo, as artes
praticadas no brasil na época eram muitas e muito diversificadas, assumindo
diferentes formas e facetas dependendo da localização e da tradição do grupo que a
produzia.

Como exemplos de tribos indígenas surgem nomes como Marajoara,


Xinguana, Guarani, Tupi, Kalapalo, entre outros… cuja tradição artística nos chega
aos dias de hoje.

Cultura Tupi a fazer Cestaria Pintura Corporal Kalapalo

Cerâmica Marajoara

A partir do século XVI, dá-se, no entanto, o início da colonização do Brasil


pelos portugueses e outros movimentos por parte da Europa que vieram a
influenciar toda a criação artística a partir de então.

Contrarreforma, missões jesuítas e imersão do barroco

Simultaneamente ao decorrer da colonização e inseridas no contexto da


Contrarreforma Católica (fortemente praticada pelos portugueses) deram-se as
missões Jesuítas, nascidas da ordem religiosa da “Companhia de Jesus”. Estas
missões foram povoados indígenas criados e administrados por padres jesuítas cujo
principal objetivo era criar uma sociedade em que se instalassem os benefícios e
qualidades da sociedade cristã europeia. Deste modo, os jesuítas desenvolveram

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técnicas de contacto e proximidade com os índios de modo a mais facilmente
comunicarem a sua doutrina e assim os catequizarem. Assim, a igreja procurava a
persuasão e pregação da sua doutrina pela exuberância e requinte e o Barroco foi a
corrente que se assumiu primeiramente no Brasil colonial, seguindo a corrente
vigente na Europa– a qual caracterizava-se pela sobreposição do emocional;
exploração de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas,
colunas retorcidas, efeitos ilusionistas de profundidade; a ligação entre a arquitetura
e escultura; e também valorização das cores.

Para além de ter assumido a sua expressão nas artes visuais, o Barroco teve
ainda implicações no campo da arquitetura, da música e da literatura, destacando-
se pela arte sacra e de meios como a pintura, talha dourada e escultura.

A primeira manifestação de vestígios barrocos, ainda misturadas ao estilo


gótico e românico, encontra-se na arte missionária dos Sete Povos das Missões na
região da Bacia do Prata. Lá, há um século e meio, os índios Guarani
desenvolveram um amplo processo de arte baseado no modelo europeu de missões
missionárias. Além do mais, as primeiras manifestações do espírito barroco no
restante do país estão
presentes em fachadas e
frontões, mas principalmente na
decoração de algumas igrejas,
também em meados do século
XVII. A talha barroca dourada
em ouro, de estilo português,
espalha-se pela Igreja e
Mosteiro de São Bento do Rio
de Janeiro, construída entre
1633 e 1691.

Sete Povos das Missões - Bacia do Prata

No século XVII, a igreja desempenhou um importante papel como mecenas


da arte colonial. Desde meados do século XVI, as várias ordens religiosas
(Beneditinos, Carmelitas, Franciscanos e Jesuítas) instaladas no Brasil
desenvolveram uma arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes monumental, com
fachadas e plantas retilíneas de grande simplicidade decorativa, o que condiz com o
gosto de maneiristas europeus.

Somente quando as associações leigas (confrarias, irmandades e ordens


terceiras) assumiram a liderança no patrocínio da criação artística no século XVIII,

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momento em que as ordens religiosas veem seu poder enfraquecido, é que o
barroco se fraciona em escolas regionais, sobretudo no Nordeste e Sudeste do país.

Dentre os artistas desse período sobressai o artista Aleijadinho, nascido em


1730, em Vila Rica Minas Gerais, Antônio Francisco Lisboa, ficou conhecido assim
devido à uma doença degenerativa, que o deformou, mas apesar dela foi um
notável escultor, entalhador e arquiteto. A obra de Aleijadinho e diversos artistas da
época, com a amálgama de elementos populares e eruditos produzidos nas
confrarias artesanais, ajuda a estabelecer diversos estilos, ressuscitando, por
exemplo, formas do gótico tardio alemão. Ao nível da sua biografia e formação
artística pouco se sabe, sendo que, ao que tudo indica, grande parte da sua
aprendizagem no campo artístico teve como influências o seu pai, arquiteto de
grande relevância na época e o desenhista e pintor João Gomes Batista.

Seguindo o contexto já mencionado no


Brasil, muitas construções religiosas começaram a
ganhar espaço nas cidades de Minas Gerais e foi
neste ambiente que o Aleijadinho se destacou
como grande projetista e escultor. Assim, a sua
obra assume um caráter sobretudo religioso, sendo
que é possível enunciar no campo da escultura
obras como “Os Doze Profetas”; a “Nossa Senhora
da Piedade”; no campo da arquitetura a projeção da
“Igreja de São Francisco de Assis”; a fachada da
“Igreja de São João D’el-rei”, entre outras…

Detalhe da obra “Os Doze Profetas” de Aleijadinho

É, finalmente, de salientar o facto de que, apesar da sua condição e de todo


o preconceito de que fora alvo na época, Aleijadinho simbolizou um
grande marco naquela que foi a Arte Colonial Brasileira, sendo hoje destacado
como um dos principais artistas da época.

Literatura

Já no contexto da literatura brasileira produzida durante o Barroco, os textos


refletem elementos rebuscados e extravagantes, onde são valorizados os detalhes
em um jogo de contrastes ou contraponto. Mas também, há uma certa escassez,
facto que se deve ao desejo dos colonizadores de ter à sua mercê um povo cuja
educação não era conveniente. Há, no entanto, vestígios de literatura nos seios

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mais ricos, em que havia o luxo de se poder estudar na metrópole. Assim, o que se
pôde desenvolver neste contexto a nível literário seguiu as mesmas linhas daquela
que era a Literatura barroca no resto da Europa, pontuada por uma retórica
exuberante, um gosto por figuras de estilo e uma procura de sinestesia.
No campo da poesia, há a destacar o nome do Gregório de Matos, cuja
poesia exercia um papel sobretudo satírico e penetrante na religião, na filosofia e no
amor.
Referente à prosa, importa mencionar, a título de exemplo, o nome de um
importante missionário e pregador: o padre António Vieira, cuja oratória, marcada
pelos seus sermões fortemente direcionados à pregação do cristianismo, também
serviram causas políticas do seu tempo, como as defesas dos índios e das colónias.
António Vieira foi, pois, o principal expoente desta corrente na época, sendo que
dentre dos seus sermões há a destacar o “Primeiro Domingo da Quaresma”, o
“Sermão 14 do Rosário”, o “Sermão da Sexagésima” … em que é manifestada a
defesa dos nativos da escravatura.

Música

No que respeita à música também pouco nos chega aos dias de hoje, sendo
que do Barroco nativo apenas obras notáveis sobreviveram apesar de a literatura
dar conta da intensa atividade musical do Brasil na época. É também sabido que as
primeiras manifestações musicais (assim como das restantes artes) estavam
relacionadas com a igreja, em particular com a catequese, pelo que estas contavam
com a participação ativa dos índios que usavam essencialmente o canto homofónico
(várias vozes em uníssono). Posteriormente, passou a existir o instrumental
composto por flautas e violas de arame e mais tarde, surgiram os coros, orquestras
e escolas. À semelhança do que acontecia na Europas, as formas de música sacra
cultivadas no Brasil eram praticadas no contexto de missas, ladainhas, motetos,
salmos, responsórios, hinos, entre outros, e assim como as outras artes da época,
tinham uma natureza funcional, visando estimular a devoção de os fiéis.
Há assim, a anotar vários nomes importantes neste campo como o mestre de
capela em São Luís, Manuel da Motta Botelho; Agostinho de Santa Monica, autor de
mais de 40 missas; Caetano de Melo de Jesus, entre outros

Teatro

Novamente, com o intuito de catequizar os nativos, o teatro foi um género


artístico que marcou presença na época e as primeiras manifestações ocorrem na
transição do maneirismo para o barroco. José de Anchiete é, neste contexto, a

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personalidade de mais relevância, tendo sido o maior dramaturgo do século XVI no
Brasil. As suas tramas eram, pois, alusivas, por exemplo, à Paixão de Cristo e eram
caracterizadas por um já reconhecido nível de ecletismo.
O palco destas obras era geralmente o espaço ao ar livre, nas praças das
igrejas ou até mesmo durante as procissões, com o auxílio de cenários montados
em carros alegóricos e adereços como fantoches, imagens sagradas…
Aquando da estabilização e enriquecimento da colónia, o teatro profano começa a
ganhar terreno e assim se dá início à construção de casas de espetáculos ao longo
do litoral e em algumas províncias do interior (como Ouro Preto e Mariana).

Regressando a um panorama geral, as artes (maioritariamente governadas


pelas igrejas barrocas coloniais) foram marcadas por um contraste entre a relativa
simplicidade de seus exteriores e as ricas decorações interiores, simbolizando
dessa forma a virtude do recolhimento, requisito necessário à alma cristã. Esses
primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo “nacional português”, sem
grandes variações nas diversas regiões. Após esse período, com influência da
população miscigenada que começava a se formar no Brasil e as invasões
estrangeiras, ocorre um desenvolvimento de artes e por conseguinte das escolas
regionais.

As invasões europeias em território do Brasil Colonial

Como foi mencionado anteriormente, outros movimentos europeus tiveram


implicações na arte, sendo importante referir os ataques estrangeiros dos quais o
Brasil foi vítima, que variaram desde meras piratarias - que visavam saquear
localidades litorais - até invasões em maior escala (corsários), com o objetivo de
conquistar definitivamente partes do território brasileiro. Estas tentativas de
ocupações procuravam resolver questões fronteiriças entre Portugal e Espanha nas
suas regiões coloniais. Por vezes, outras potências europeias – tais como França,
Inglaterra e, particularmente, Holanda – procuravam contestar os domínios ibéricos*
sobre o Novo Mundo.
Assim sendo é fundamental entender este panorama das invasões em
território colonial para que se entenda essencialmente o Barroco Brasileiro, fruto de
influências europeias e adaptações locais, não esquecendo que o contexto em que
o Barroco se desenvolveu na colónia era completamente distinto daquele a que lhe
deu origem na Europa.
O conhecimento que a Europa do século XVIII foi acumulando sobre os
aspetos coloniais brasileiros foi um processo lento e as informações foram
corrigidas à medida que a ciência europeia (extremamente importante para o Século
das Luzes) se corrigia, visto que procuravam um conhecimento mais preciso acerca

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do Brasil. Aspetos como a sua geografia, a sua fauna e flora e os comportamentos
do povo eram registados com a maior precisão possível através de uma observação
e contacto direto com a natureza e os indígenas, como tanto profetizava o
iluminismo.

*Em 1580, o império português foi incorporado a Espanha, inaugurando a União Ibérica. Esta coligação
descontentou países como França e Holanda, que, para enfraquecer os ibéricos, passaram a investir
persistentemente em invasões como tentativas de contestar a situação considerada ilegítima pelos restantes
territórios da Europa.

As invasões inglesas

Os primeiros registos de ataques ingleses datam a partir do século XVI


(1530-1532) com William Hawkins, no entanto as invasões inglesas intensificam-se
na segunda metade do século quando os conflitos entre católicos e protestantes se
tornaram intensos em Inglaterra e os mercadores aproveitando-se da situação
determinam assim a entrada de navegadores e comerciantes ingleses no Atlântico
Sul. Deste modo, a chegada dos ingleses à costa brasileira fez parte de um projeto
de expansão marítima e é caracterizado por fortes relações económicas.
No século XVIII, Século das Luzes, as informações sobre as invasões inglesas eram
registadas por documentos textuais, ilustrativos e cartográficos sempre em contacto
direto com o meio natural e os elementos que o compunham, dando, por exemplo,
primazia à ilustração científica. Dito isto, alguns dos viajantes nestes navios tinham
intuitos unicamente científicos como por exemplo James Cook, Joseph Banks e
Charles Solander. No entanto, impedidos de desembarcar do navio Endeavour (por
serem confundidos por contrabandistas e piratas) a natureza brasileira rica e exótica
foi registada por Banks através de viagens secretas a terra e dos vegetais e animais
que entravam a bordo para o fornecimento da cozinha. De acordo com John
Hawkesworth, autor de An account of the voyages undertaken by the order of his
Present Majesty for Making Discoveries (Londres, 1773), Banks teria conseguido
registar cerca de 320 espécies vegetais.

Clerodendrum paniculatum pagoda flower Labiatae (à esquerda) Leea rubra vitaceae (à direita), Joseph Banks

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Como podemos observar na figura, para representar espécies cientificamente
é necessário conhecer o público às quais as ilustrações se destinam, visto que será
determinante em relação ao que será preciso desenhar, qual a técnica, a
composição, os detalhes a ser evidenciados já que se elabora uma peça de
comunicação visual. Para que seja possível uma comunicação clara e eficaz é
necessária a criação de um repertório – um vocabulário para que a mensagem seja
transmitida ao público que a observa, requerendo clareza, concisão e correção; um
processo que foi atingido no século XVIII graças
à observação e representação direta com a
natureza, neste caso brasileira.
Foi graças aos roteiros, diários de viagens,
mapas de marinheiros, corsários e piratas que
percorreram o litoral brasileiro durante o século
XVIII e os registos produzidos por George Anson,
James Cook, Joseph Banks, Charles Solander,
Sydney Parkinson e Arthur Bowes Smith que foi
possível corrigir a geografia do globo terrestre,
diminuir os perigos da navegação e tornar mais
conhecidos os costumes, artes e produtos da
colónia brasileira.

Aguarela da espécie Banksia integrifolia de Sydney Parkinson


pertencente ao Florilegium de Joseph Banks

As invasões francesas

As invasões francesas iniciaram-se entre 1554 e 1555 e, inicialmente,


ocuparam o Rio de Janeiro. Além do intuito comercial, as terras férteis da região
também atraíram os franceses, que ali estabeleceram a chamada França Antártica.
Graças às disputas religiosas que dividiam os franceses, (católicos e protestantes)
iniciou-se uma incursão ao litoral do sudeste brasileiro onde procuraram ocupar
outras ilhas na Guanabara. Em 1567, as suas tropas portuguesas derrotaram a linha
de frente francesa.
Em meados de 1612, uma nova invasão nas regiões do norte e nordeste,
estendeu-se até a região amazónica (ainda desconhecida em parte pelos
portugueses) e, principalmente à capitania do Maranhão. Na região, foi fundada a
França Equinocial, que perdurou até 1615, quando os franceses foram derrotados
por grupos portugueses.

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Antigo cartão-postal do Maranhão, Frans Post, 1645

No início do século XVIII, com uma melhor comunicação interna estabelecida,


começaram a circular nos ateliês do país diversos tratados teóricos e manuais
práticos europeus sobre arte. A partir de 1760 observou-se uma penetração da
influência francesa, originando uma outra derivação, mais elegante, variada e leve,
o chamado Rocaille, que floresceu mais evidente nas igrejas de Minas Gerais.
Nestes ramos de influências diversificadas encontram-se até elementos de estilos já
“ultrapassados” como o gótico e o renascentista. É do resultado de todos estes
cruzamentos que nasceu o original, eclético e por vezes contraditório Barroco que
hoje se vê materializado em praticamente todo o litoral do país e em grande parte
do seu interior. Já na segunda metade do século XVIII passou a predominar a
influência francesa, gerando uma derivação Rocaille, mais leve e elegante e mais
aberta, cujo maior esplendor foi atingido em Minas Gerais.

As invasões holandesas

As invasões holandesas no Brasil sucederam-se ao longo do século XVII e


tiveram como apogeu a invasão e ocupação de Pernambuco. A ocupação
holandesa no Nordeste do país estendeu-se de 1630 a 1654.
O governador Maurício de Nassau administrou a colónia holandesa no Nordeste do
Brasil, com a capital em Recife, de 1637 a 1643. Como humanista, estimulou as
artes e as ciências, sendo assim um incentivador das investigações nas áreas da
história natural, da botânica e da zoologia dos trópicos. A fauna e a flora foram,
exaustivamente, tidas como objetos de pesquisa; ordenou construir um observatório
astronómico, um jardim botânico e trouxe com ele uma comitiva de cientistas e
artistas da pintura flamenga, além disso, foi sob a sua orientação que o arquiteto
Pieter Post projetou a construção da Cidade Maurícia e os palácios e prédios
administrativos.

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Vista da Cidade Maurícia, Recife. Frans Post, 1657

Por não serem católicos, os artistas puderam facilmente dedicar-se a temas


profanos. Foram os primeiros artistas no Brasil e na América a abordar a paisagem,
os tipos étnicos, a fauna e a flora como temáticas artísticas, tendo sido verdadeiros
repórteres do século XVII.
O caráter simbólico e subjetivo que as pinturas e desenhos possuem permite
transcender o conteúdo descritivo científico, tornando-se sensível como obra de
arte.
Um dos pintores mais relevantes desta comitiva era Frans J. Post (de 24
anos), residente em Recife entre 1637 e 1644 que tinha como principal tarefa
documentar paisagens, tomando apontamentos de portos e fortificações. É
considerado o primeiro paisagista a trabalhar nas Américas.
Foi autor de cerca de 150 obras e tinha o hábito de pintar pequenas figuras
para funcionarem como pontos de atração nas obras, deixando-as mais
interessantes.

Panorama Brasileiro, Frans Post, 1652

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Paisagem Brasileira com uma Casa em Construção, Frans Post, c.1655-1660

Vista da Ilha de Itamaracá no Brasil, Frans Post, 1637

Outro dos artistas era Albert Eckhout (26 anos)


que esteve no Brasil entre 1637 e 1644. No período em
que esteve no Nordeste brasileiro desenvolveu uma
intensa atividade como documentarista da fauna e da
flora e como pintor do povo, dos seus costumes e
tradições. Nesse período, produziu cerca de 400
desenhos e esboços a óleo.

Índia Tarairiu (Tapuia), Albert Eckhout, 1641

Os personagens retratados obedecem a um esquema estrutural


predominante: são representados solitários, no meio da exuberante vegetação
vertical tropical. No entanto, um quadro que foge à regra é Dança Tarairiu, que
ilustra um grupo de Tapuias (indígenas) num ato cerimonial a dançar, que

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representa a preparação para o confronto com o inimigo. A obra é dotada de um
grande realismo e perceção de movimento.

Dança Tarairiu, Albert Eckhout

Os trabalhos de Eckhout contribuíram para que os europeus se


interessassem e fascinassem pelo Brasil, pela sua vegetação, espécies, povo,
costumes e cultura.

Escolas Regionais

Com toda influência estrangeira distribuída pelo território, o Brasil,


principalmente Sul e Nordeste, divide-se em estilos próprios definidos de acordo
com as regiões, chamadas assim as Escolas Regionais:

As escolas do nordeste do país, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará, ainda


no ciclo do açúcar, produziram uma arte barroca notável, principalmente pela pintura
nas igrejas - que demonstravam grande riqueza, em contraste com aqueles que
nelas trabalhavam e que estavam sujeitos à catequização. A arquitetura e a arte
tiveram não só grande influência portuguesa, e consequentemente italiana, mas
também influência holandesa e inglesa pelas invasões da colônia; além da
influência cultural de seus próprios construtores – indígenas e africanos.
As igrejas mais célebres da época são Nossa Senhora da Lapa na Bahia, Capela
Dourada da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência em
Pernambuco e a Igreja de São Francisco Xavier na região do Maranhão e Pará. Por
conseguinte, os mais importantes artistas foram: na Bahia, o artista frei Eusébio da
Soledade de Matos, irmão de Gregório de Matos, foi fundador da escola de pintura
da Bahia; Carlos Belleville, francês que trabalhou como escultor e pintor em igrejas

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trazendo a escola europeia, mas com muitos detalhes orientais da época a qual
viveu na China e José Teófilo de Jesus foi um dos mais ilustres pintores dessa
escola. Já em Pernambuco, José Pinhão de Matos, José Elói e João de Deus
Sepúlveda foram grandes artistas da região. No Maranhão e Pará, os dois principais
artistas foram Luís Correia e Agostinho Rodrigues pelas pinturas nas igrejas; e
também Joaquim José Codina e José Joaquim Freire, os renomados aguarelistas
que trabalharam nas expedições amazônicas.

Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência

Sem título, Eusébio da Soledade de Matos

Pintura de Carlos Belleville no teto do Seminário Nossa Senhora de Belém

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Aguarelas do catálogo de pintura, realizadas na expedição à amazónia, feita por Joaquim José Codina e José Joaquim Freire

Para mais, as escolas do sudeste e sul do país foram importantíssimas,


principalmente após o ciclo do ouro e a mudança do eixo econômico brasileiro.
Também se caracterizam acima de tudo pela pintura em igrejas, arte
essencialmente influenciada pelos colonos portugueses, pelos invasores franceses
e pelos povos escravizados, indígenas e africanos.

A escola mais importante do sudeste barroco foi a de Minas Gerais, a qual


era o centro do ciclo do ouro e diamante pela exploração de minas em Ouro Preto e
Diamantina. A arte foi sobretudo patrocinada pela Igreja, e nomeadamente tentou
imitar as escolas litorâneas do Nordeste, entretanto sem a integração da arquitetura,
e com um estilo mais dramático e pesado; os principais artistas dessa escola foram
Aleijadinho, um dos maiores escultores brasileiros, para além dos pintores e
decoradores José Soares de Araújo, João Batista de Figueiredo e João
Nepomuceno Correia e Castro. Outra grande escola foi a do Rio de Janeiro,
conhecida também como Escola Fluminense, caracterizada pela influência francesa
e a pintura de igrejas e palácios; com destaque para os artistas Caetano da Costa
Coelho e José de Oliveira Rosa. Finalmente, a última escola influente foi a de São
Paulo, a qual dispõe de decorações em estilo similar ao grotesco do Maneirismo
italiano; e na pintura e arte sobressaem os artistas frei Jesuíno do Monte Carmel,
Joaquim José de Miranda e João Pedro, o Mulato, autores de guaches e aquarelas
que fixam tipos populares e cenas históricas, num perfil ingênuo – diferente da
maior parte da arte produzida nas outras escolas.

Igreja de S. Francisco da Penitência, Rio de Janeiro

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João Pedro, o Mulato,
“Água sinha do Paraguai”

Igreja de Nossa Senhora da aparecida Diamantina


José Soares de Araújo

Em síntese, os séculos XVII e XVIII foram o início da arte brasileira pós


colonização, um período de grandes tensões entre metrópole e colônia, nesse
momento com a escravatura instaurada, os índios demonstravam resistência à
expansão da colonização e a colônia sofreu invasões de diferentes povos. Dessa
forma, o Barroco no Brasil expressou todas essas contradições e tensões, além das
diversas influências que o mesmo sofria naquela época; mas a técnica rudimentar
utilizada pelos escravos e índios, principalmente nas artes plásticas, levou o Barroco
no Brasil a ser considerado pobre quando comparado ao europeu. Porém, foram
essas características que deram originalidade e multiplicidade às obras barrocas
nacionais.

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