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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO


DISCIPLINA: Direito Financeiro
SEMESTRE/ANO: 1º semestre/2022
PROFESSOR: Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho

1ª Apostila (resumo de aulas) da disciplina Direito Financeiro


Unidade 1 – “Atividade Financeira do Estado”

O Nascimento do Estado. Conceito de Estado. Atividade Financeira do Estado: Histórico


e Conceito. Necessidades individuais, coletivas e públicas. As Três Dimensões, as
características e finalidades da Atividade Financeira do Estado.

O nascimento do Estado. O Homem é um animal político (Aristóteles), precisa viver


em agrupamento, em sociedade, para satisfazer as suas necessidades, mas para que
fosse possível a convivência social, ele precisou de uma entidade com força superior
bastante para fazer as regras de conduta, para constituir o direito e para realizar o bem-
comum (a promoção do bem estar e o pleno desenvolvimento das potencialidades
humanas, bem como o estímulo à compreensão e à prática de valores espirituais),
nascendo, daí, o Estado, que não deixa de ser uma grande associação, existente para
o atingimento de certos fins concernentes aos interesses da própria coletividade.

Atividade Política estatal: Nas palavras de Celso Ribeiro Bastos (in Curso de direito
financeiro e de direito tributário, 7ª edição, SP: Saraiva, 1999, p. 3): “É a atividade
política que determina a escolha dos objetivos que devem ser perseguidos
prioritariamente, visto que não é possível querer-se atingi-los, a todos,
simultaneamente, em razão da escassez dos meios financeiros. Fundamentalmente o
Estado dispõe daquilo que arrecada na sociedade, no mais das vezes, de forma
coercitiva.”

A expressão finanças públicas pode significar a atividade financeira do Estado, a ciência


que lida com essa atividade (Ciência das Públicas) ou o objeto de várias ciências que
tratam com essa atividade estatal.

Conceito de Estado. Nação politicamente organizada; entidade política formada de


população, território e governo soberano.
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Para cumprir a sua finalidade de realizar o bem-comum, precisa o Estado realizar


atividade financeira.
Pequeno histórico sobre a atividade financeira do Estado. Antigamente, quando a
figura do monarca se confundia com a do Estado, supria-se as necessidades do Estado,
além da utilização do patrimônio estatal, através de requisições de bens privados, da
imposição de serviços prestados gratuitamente pelos súditos, ou através de
recompensas das guerras de conquista impostas aos vencidos. Posteriormente, o
Estado moderno passou a realizar atividades financeiras da maneira hoje conhecida.

Nos séculos XVIII e XIX, coincidindo com o pensamento liberal, predominava a ideia do
Estado liberal, o Estado mínimo - O Estado Polícia. Pregava-se a neutralidade das
finanças públicas através do equilíbrio orçamentário. O Estado só podia gastar o que
arrecadava e em seus serviços inerentes, essenciais (segurança pública, prestação da
justiça, defesa do País contra eventual ataque externo, etc.). Caracterizava-se
principalmente o Estado pela não intervenção na economia, baseado na concepção de
que as leis financeiras e econômicas, as chamadas leis do mercado eram inerentemente
boas e imutáveis, razão pela qual os desajustes econômicos se recomporiam por si
mesmo.

No século XX, especialmente após a segunda guerra mundial, surge a idéia do Estado
Liberal-Social, o Estado Previdência, o Welfare State. Percebe-se o papel extrafiscal
dos tributos e dos orçamentos, surgindo o Estado intervencionista. Vê-se o déficit
orçamentário como instrumento de política econômica. Aceita-se a intervenção do
Estado na economia diretamente ou através do planejamento econômico e no campo
social. Ganha destaque as finanças funcionais.

Os principais motivos pelos quais o Estado passou a intervir e, portanto, crescendo,


passou a gastar mais e precisar, ainda, de mais recursos ou empréstimos para custear
as suas necessidades: 1º) as grandes oscilações econômicas, existindo períodos de
grande riqueza e produtividade e períodos de depressão; 2º) o desemprego nos
períodos de depressão, causador de tensões sociais; 3º) as guerras; 4º) o progresso
tecnológico, ou seja, os efeitos cada vez mais intensos das descobertas científicas e de
suas aplicações; 5º) os efeitos originados da revolução industrial, com o agravamento
da situação dos trabalhadores, e, ultimamente, da revolução da informática.

No século XXI, embora não seja mais possível o retorno às finanças neutras, porque
sempre alguma influência a atividade financeira do Estado irá exercer, mesmo porque
as necessidades públicas atuais, no regime democrático, reclamam a participação e a
intervenção do Estado, daí não poder o Estado descurar os seus fins sociais (se assim
não for, o partido, que esteja no governo, tem mais possibilidades de perder futuras
eleições), o fato é que se retorna às concepções mais tradicionais, com a saída do
Estado da economia, e volta-se a preservar o quanto possível o respeito às leis de

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mercado e a considerar importante o equilíbrio orçamentário e a contenção dos gastos


públicos, no sentido de que o passivo não seja coberto com a emissão de moeda,
porque aí reside uma das causas do fenômeno inflacionário. Portanto, a tendência é
retornar o Estado a desempenhar apenas atividades a ele inerentes e a utilização
moderada do orçamento, para evitar profundas distorções na economia.

Conceito da atividade financeira do Estado: O conjunto de atos que o Estado pratica


na obtenção, gestão e na aplicação dos recursos necessários à consecução de seus
fins, ou seja, a realização do bem comum.

Conceito de necessidades públicas. Dentre as várias necessidades coletivas (de


determinados grupos) e necessidades gerais (conjunto das necessidades individuais
homogêneas), cabe ao Estado selecionar politicamente quais as que poderão ser
satisfeitas, inserindo-as no ordenamento jurídico, disciplinando-as em níveis
constitucional e legal, tendo em vista as necessidades são em grande número e os
recursos para os gastos públicos são escassos. Estas necessidades politicamente
escolhidas, para serem satisfeitas, são transformadas em necessidades públicas.

As três dimensões do fenômeno financeiro: a obtenção, o ingresso de recursos; a


sua gestão ou administração, e, ao final, a aplicação dos recursos, a despesa, a
realização de gastos, todas voltadas ao atendimento das necessidades públicas.

As características da atividade financeira do Estado: a presença de pessoa jurídica


de direito público; a instrumentalidade; lida com recursos monetários pertinentes aos
entes públicos, com o dinheiro.
A presença de pessoa jurídica de direito público. Sem que os recursos obtidos, a gestão
deles e a despesas sejam da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,
suas autarquias e fundações públicas, nós não estaremos diante de finanças públicas.
Cabe lembrar que o Supremo Tribunal Federal considerou formalmente
inconstitucionais os Decretos-leis 2.445/88 e 2.449/88, os quais alteraram a legislação
do PIS, por ofensa ao preceptivo do art. 55, II, da Constituição Federal pretérita, sob a
fundamentação de que sua receita é carreada para um fundo pertencente aos
trabalhadores, razão pela qual não se incluía no conceito restrito de “finanças públicas”.

Como ensina BASTOS (opus citatum, p. 8): “Fica excluída da atividade financeira do
Estado a desenvolvida por pessoas de direito privado no exercício de função ou serviço
público [empresas públicas, sociedades de economia mista, concessionárias de
serviços públicos]. ... a qualidade da pessoa que a desempenha, por não ser ela mesma
de direito público, exclui a qualificação de atividade financeira. Dentro desta, recai,
portanto, só a levada a efeito por pessoas a quem não se recusa a qualificação de
públicas: a União, os Estados-membros, os Municípios, Distrito Federal e as suas
respectivas autarquias [e fundações públicas].”

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A Instrumentalidade. A atividade financeira do Estado existe para tornar possível outras


atividades relacionadas com os fins últimos do Estado. Esta característica não fica
comprometida mesmo naquelas hipóteses em que, por meio de atividade financeira, o
Estado intervém na economia.

Mesmo aqui, o que interessa ao Direito Financeiro é tão somente os aspectos de


ingresso ou saída de recursos. Os fins econômicos buscados fazem parte do Direito
Econômico.

Lida com recursos monetários. Incluídas as operações que envolvam títulos públicos,
como também aquelas que têm por objeto créditos ou débitos.

Os fins da atividade financeira do Estado: Do ponto de vista fiscal, são os de


proporcionar recursos econômicos para o custeio da manutenção e funcionamento do
Estado.

A extrafiscalidade: É considerada uma das finalidades da atividade financeira do


Estado, obter receita pública e gerar gastos públicos com o fito que ultrapassa o mero
custeio de atividades inerentes do Estado, mas visando a custear a intervenção do
Estado na economia e no campo social.
IPI (IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS), IOF (IMPOSTO SOBRE OP.
FINANCEIRAS), IE (IMPOSTO SOBRE EXPORTAÇÃO)
Bibliografia

- ABRAHAM, Marcus. Curso de direito financeiro brasileiro, 4ª edição, Rio de


Janeiro: Forense, 2017.
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- FERRAZ, Luciano. GODOI, Marciano Seabra. SPAGNOL, Werther Botelho.
Curso de direito financeiro e tributário, 2ª edição, Belo Horizonte: Editora
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- HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário, 30ª ed. São Paulo, SP: Atlas,
2021.
- LEITE, Harrison. Manual de direito financeiro, 9ª edição, Salvador: Ed.
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- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 1, 1ª
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- MARTINS, Ives Gandra da Silva. Tratado de direito financeiro, volume 2, 2ª
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- MACHADO JR. J. Teixeira; REIS, H. da Costa. A Lei 4.320 comentada, 31ª
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- PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro Esquematizado, 7ª ed., Rio de
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- RAMOS FILHO, Carlos Alberto de Moraes. Direito financeiro esquematizado,
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- SARAIVA FILHO. Oswaldo Othon de Pontes. Apostilas (resumo de aulas) de
Direito Financeiro.
- TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário, 20ª. Edição,
Rio de Janeiro: Editora Processo, 2018.

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