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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

República da Guiné - Bissau

Ministério da Educação Nacional

Faculdade de Direito de Bissau

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Regente: Me Braima N'Dami

Assistente: Dra. Aniri Bandeira

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Aula do dia 14.10.2019

Manual Base: Professor Sousa Franco

As finanças públicas tanto no sentido objetivo como no subjetivo

preocupa em Estudar as formas como o Estado capta e afeta os recursos

públicos para a satisfação dos interesses da coletividade. Portanto, o

Estado fá-lo recorrendo ao jus imperri (poder de autoridade) lançando

mão aos impostos no sentido deste ser forçoso o seu cumprimento,

porque o Estado não negoceia a aplicação dos impostos obrigando o

contribuinte a cumprir. Os impostos resultam de uma decisão unilateral

do Estado.

Dizia Aristóteles que o que é do interesse coletivo é o que é mais

menosprezado, porque o homem tende a preocupar-se com a

satisfação dos seus interesses particulares.

Nas finanças públicas as taxas não se confundem com os impostos, Em

princípio as taxas pressupõem uma contrapartida.

Finanças privadas são aspetos puramente monetários, em fim é o que

fazemos no nosso dia-a-dia arrecadando receitas para a satisfação dos

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nossos interesses particulares.

Aula do dia 15.10.2019

INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS

CONCEITO DE FINANÇAS PÚBLICAS

Noção Preliminar; Finanças públicas e Finanças Privadas

Finanças Públicas exige a separação do conceito de Finanças Privadas

Finanças Privadas - Por finanças privadas entende-se os aspetos

tipicamente monetários do financiamento de uma economia ou dos

problemas relacionados com a moeda e o crédito ou mais restritamente

pelos mercados financeiros (que são encarados como o local onde se

transacionam os títulos de créditos a médio e longo prazo).

Diferentemente as finanças públicas designam a atividade económica

de um ente público com o propósito de afetar bens a satisfação de

necessidades que lhe estão confiadas com base nos poderes que lhe são

confiados. Isto é, tem a preocupação de captar recursos e afetar esses

recursos para a satisfação dos interesses da coletividade.

O FENÓMENO FINANCEIRO

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NOÇÕES GERAIS

PRINCIPAIS ACEPÇÕES DA EXPRESSÃO «FINAÇAS

PÚBLICAS»

A expressão finanças públicas envolve três sentidos, designadamente:

1- Finanças públicas em sentido orgânico: aqui fala-se em finanças

públicas para se designar conjunto de órgãos de Estado (por exemplo

ministério das finanças) ou de outras entidades públicas a quem compete

gerir os recursos económicos disponíveis para a satisfação de

necessidades sociais.

2 - Finanças públicas em sentido objetivo: atividade concreta através da

qual o Estado ou outra entidade pública afeta bens (recursos) económicos

à satisfação das necessidades sociais.

3 - Finanças públicas em sentido subjetivo: diz respeito a disciplina

científica que estuda os princípios e regras que regem a atividade do

Estado com o fim de satisfazer as necessidades que lhe estão confiadas.

No fundo tem que ver com a própria cadeira denominada de finanças

públicas.

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Fenômeno financeiro: representa o Estado de relação económica entre

as pessoas e instituições sociais por um lado, e o Estado do outro lado.

Aula do dia 18.10.2019

Sumário: A ECONOMIA DO FENOMENO FINANCEIRO:

ECONOMIA PRIVADA, SOCIAL E PÚBLICA

A atuação económica das pessoas, dos grupos e da sociedade pode ser

exercida de diferentes formas. Em alguns casos achamo-nos perante

indivíduos, famílias ou organizações de base contratual que, na produção,

no consumo, na repartição ou ainda na circulação, atuam como

organizações de mera base contratual na satisfação das respetivas

necessidades segundo critérios essencialmente individuais. Trata-se da

economia privada, em regra contratual.

SEGUNDA FORMA - COOPERATIVA (ECONOMIA SOCIAL)

Outras vezes, estamos perante organizações que visam satisfazer

necessidades segundo a lógica de grupo ou chamada a lógica cooperativa,

recorrendo a disciplina institucional interna do grupo mas sem

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possibilidade de recorrer a mecanismos coativos externos. São exemplos

da economia comunitária, cooperativa ou coletiva.

*Aqui a lógica é cooperativa e não privada propriamente mas podem ter

regulamentos internos que podem sancionar as pessoas que infringirem as

regras internamente isto é, são vinculativas apenas aos membros da

organização cooperativa. Nas cooperativas o propósito não é obtenção de

lucros.

Enfim, as pessoas podem associar-se em organizações políticas, que

visam o interesse geral de sujeitos indeterminados, indo assim para além

de simples satisfação de necessidades sociais comuns. Por isso recorrem a

poderes de autoridade no sentido duplo:

1º sentido- da produção de perceitos sociais obrigatórios (leis) que

impendem sobre todos, mesmo para quem não participou na respectiva

elaboração.

2º sentido - resulta da possibilidade de recorrer se necessário a coação por

parte dos órgãos da instituição. Temos assim a chamada economia

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pública, que assenta a partida, na existência de uma solidariedade

organizada e dotados de poder político.

Na economia pública temos um número indeterminado de pessoas e a

atuação do Estado é baseada no princípio da solidariedade e não na

obtenção de lucros visto que o «Estado é uma pessoa de bem». Apesar de

em algumas situações o Estado atua na lógica do mercado permitindo o

Estado obter ganhos e que depois são partilhados para a comunidade afim

de poderem sentir o efeito útil dos ganhos obtidos pelo Estado.

Aula do dia 21.10.2019

Sumário: O PODER E A ECONOMIA:

ORDENAÇÃO, INTERVENÇÃO E ATUAÇÃO ECONÓMICAS

São as três formas da relação entre o poder e a economia que podemos

encontrar em todos os países independentemente do sistema económico

vigente.

*Quando se fala da ordenação estamos a pensar sobretudo na perspectiva

do legislador, no sentido de permitir efetivamente perceber-se como o

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poder quer que a economia seja organizada porque é o poder político que

traça qual o rumo que a economia deve seguir traçando o quadro geral

para o desenvolvimento da economia.

ORDENAÇÃO ECONÓMICA

Cabe aos poderes públicos estabelecer quadro geral que toda a atividade

económica deve obedecer (contendo a filosofia traçada pelo próprio

Estado). A máquina política e administrativa, em larga parte procede

assim a definição do enquadramento da vida económica, designadamente

de natureza jurídica e social bem como a estrutura da atividade

económica e condiciona a atuação dos agentes económicos. No fundo

consiste no estabelecimento das regras para condicionar os sujeitos

económicos.

Obs: Se a filosofia do quadro jurídico for liberal veremos uma pouca

intervenção do Estado na economia.

*Um primeiro aspeto desta ordenação resulta naturalmente da definição e

execução de uma doutrina ou política económica e social seguida pelo

Estado: abstencionista, liberal, socialista, comunista etc.

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Se a filosofia for abstencionista a tendência do estado é abster-se de

intervir nas atividades económicas.

INTERVENÇÃO ECONÓMICA

A intervenção económica é o modelo que visa alterar concretamente o

que seria a atividade livre e normal dos sujeitos económicos. Portanto, a

intervenção económica pressupõe antes a liberdade de atuação

económica. O Estado procura apenas modificar a atuação normal ou

comportamento dos sujeitos económicos por via de política económica.

Obs: a intervenção do Estado acontece de diversas formas...

ATUAÇÃO ECONÓMICA

Aqui o Estado ele próprio desenvolve política de sociedade - uma

atividade enquanto sujeito económico e social.

Em todos os tempos na história da humanidade encontramos zonas de

atividade económica ligadas com os fins e funções do Estado e que foram

exercidos pelo próprio. Exemplo: áreas como de segurança, justiça e

bem-estar implicam em termos efetivos a administração de diversos bens

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raros a qual de “per si" é a atividade económica.

DIFERENÇA ENTRE A INTERVENÇÃO E A ATUAÇÃO

ECONÓMICA

Na intervenção económica o Estado toma medidas para alterar o

comportamento dos sujeitos económicos.

Na atuação económica tem que ver em termos restritos com à cobrança

dos impostos que depois são canalizados para a satisfação dos interesses

da coletividade.

NB: a questão ligada a segurança conclui-se que é uma atividade

económica porque na verdade o Estado cobra os impostos e depois

canaliza-os para as áreas ligadas a segurança do Estado.

Aula do dia 25.10.2019

Sumário: ATIVIDADE FINANCEIRA

A atividade financeira: corresponde a utilização de meios económicos

(meios objetivamente raros susceptíveis de aplicações alternativas)

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por entidades públicas ou pela própria comunidade com o propósito

de satisfazer necessidades comuns. Noção dada pelo professor Sousa

Franco.

Problema do Mosquito portador de paludismo: como combaté-lo?

Ele propõe as seguintes soluções:

- não sair de casa;

- não sair de casa mas colocar ar condicionado tornando a casa mais

confortável;

- sair de casa mas usando repelentes;

- uso de repelentes no jardim de casa por exemplo;

Obs: todas essas soluções alternativas não são 100% eficazes.

Salvo pulverização aérea que é mais eficaz e custoso. Mas a questão que

se coloca é quem é que vai custear a pulverização aérea?

O Estado ou outra entidade pública pode porque tem meios coercivos a

seu favor, e pode direta ou indiretamente recuperar os custos daquele

investimento por meio dos impostos.

Antes da tomada de grandes decisões económicas há sempre questões que

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são levantadas por exemplo:

- porque são certas atividades prosseguidas pela ação coletiva privada e

outras pela ação coletiva pública?

- como se decide sobre a quantidade do bem coletivo público a produzir e

sobre a quantidade de recursos a atentar-lhe?

- como distribuir os custos da provisão de bens coletivos entre os

membros da coletividade?

- como são tomadas as decisões coletivas, a partir das preferências

individuais?

- como são distribuídos os benefícios e os custos?

A OTIMIZAÇÃO SOCIAL E SEUS CRITÉRIOS TEÓRICOS

A questão geral que se levanta para atingir essa otimização ou bem-estar

social é: porque é que há necessidades que são satisfeitas pela

comunidade (ou pelo Estado), ao passo que outras o são pelas pessoas

e pelos grupos?

R: a resposta irá depender do tipo de economia em vigor num país. Ser

for numa economia de mercado a resposta é dada pelo próprio mercado.

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*Numa economia de mercado o Estado atua em última ratio.

Mas se for numa economia dirigida (planificada) quem vai responder

essas questões é o Estado porque o Estado aqui substitui o próprio

mercado.

Obs: Os bens produzidos fora do mercado isso leva-nos a reconhecer a

incapacidade ou falhas do mercado. Portanto se existir falhas o Estado

intervém.

Isso em primeira linha pressupõe que temos que estar numa sociedade

politicamente organizada (Estado). Esta é uma das condições essenciais

para a teoria que defende a otimização social;

Competição entre os diferentes atores que intervêm no mercado. (No

fundo os atores são rivais entre si); mais ou menos é o que acontece nas

sociedades capitalistas onde em primeira linha preocupa-se com a

satisfação dos interesses individuais afastando-se o princípio da

solidariedade, que a atitude do Estado em relação a provisão de bens

disponíveis seja passiva - não ativa.

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Que a afetação de recursos nessa sociedade se faz através dos mercados

livres tendencialmente em concorrência pura e perfeita.

Obs: quando os vendedores competem entre si isso poderá provocar a

produção de bens em melhores qualidades.

Aula do dia 29.10.2019

Sumário: A ECONOMIA DE BEM-ESTAR

A luz da economia de bem-estar que tem como pressupostos o

individualismo, racionalismo e hedonismo, fornece a melhor base de

análise das situações em que o mercado não é capaz de satisfazer da

melhor maneira possível os interesses de todos os membros de uma

comunidade. Ela explica teoricamente as regras para a formulação de

juízo de valor (que nunca pode derivar diretamente e apenas de juízos de

realidade: regra de Hume).

Sobre situações globais e finais de economia. Por outras palavras, é uma

concepção que aponta para o equilíbrio que não é mecanicista e nem

moralista, o que é chamado pelo Rawls de equilíbrio reflexivo.

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Obs: Essa teoria de bem-estar é uma teoria que aposta firmemente no

individualismo, racionalismo (razão) e no hedonismo (filosofia que

surgiu na Grécia antiga e significa hedona, prazer ou vontade) e o bem

supremo para eles deve ser a satisfação da nossa vontade.

Para estes autores o Estado tem que fazer as pessoas perceberem as suas

decisões sem que no entanto tenha que usar mecanismos extras de

intimidação ou condicionamento para impor as pessoas por exemplo a

pagarem impostos. Qualquer coisa que vai contra a vontade das pessoas

estaria-se a violar o direito dessas pessoas. Portanto, segundo eles, o

Estado tem que pautar pelo equilíbrio reflexivo.

* TEORIA DE PIGOU (em relação a teoria de bem-estar)

Ele aplicou critérios de bem-estar aos estudos de distribuição de recursos

entre setor público e privado - como entre os sujeitos da economia em

geral, partindo do pressuposto que cada indivíduo recebe utilidades da

utilização ou consumo dos bens públicos, e o pagamento de impostos

para financiar bens é uma desutilidade para os indivíduos, pois, são

obrigados a sacrificar o consumo privado para pagar os impostos.

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Para cada pessoa o ponto ótimo de oferta de bens públicos é o ponto em

que a utilidade marginal dos bens públicos é igual a desutilidade

marginal do imposto: se pagasse mais impostos, a sua utilidade marginal

implicava mais sacrifício do que benefício obtido dos bens públicos; se

pagasse menos impostos, então a utilidade do último bem privado

corresponderia a desutilidade marginal do bem público que obtinha. Este

princípio aplicado a todos os indivíduos, regerá a afetação ótima dos

recursos individuais entre bens privados e bens públicos.

*No fundo quer mostrar que deve existir um ponto de equilíbrio

entre aquilo que pagamos e o serviço público prestado pelo Estado.

Caso contrário estaríamos em desutilidade.

Desutilidade: corresponde ao esforço ou sacrifício.

Desutilidade marginal: é o último sacrifício.

CRÍTICAS À TEORIA DE PIGOU

1ª limitação: toma a utilidade em termos cardinais e não apenas ordinais;

* (não faz sentido estarmos a enumerar as utilidades dos serviços

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públicos prestados pelo Estado);

2ª admite que as apreciações subjetivas são comparáveis; * (não levou em

conta que a apreciação que as pessoas fazem do serviço público que o

Estado presta são incomparáveis porque a apreciação é subjetiva, varia de

indivíduo para indivíduo);

3ª não fornece nenhum mecanismo de agregação de ótimos individuais

para determinar um ótimo social; * Para atingirmos o ótimo social

teríamos que fazer o somatório dos ótimos individuais para podermos

atingir o ótimo social, facto que não foi revelado na teoria do PIGOU.

Mas mesmo assim não seria possível atingirmos o verdadeiro ótimo

social porque desde logo as apreciações individuais são subjetivas.

Para PIGOU a distribuição do sacrifício entre os indivíduos assentaria em

duas ideias principais:

Iª O máximo do bem-estar social resultaria da igualdade entre todos,

porque só assim seriam iguais todas as satisfações marginais de todos os

indivíduos;

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IIª A distribuição de carga fiscal deve basear-se nos princípios de que

todos os indivíduos devem ser tratados da mesma forma.

Tanto a primeira ideia como a segunda não são exequíveis numa

sociedade. A primeira ideia poderia colocar em risco a liberdade e

tornaria impossível a manutenção de níveis elevados de poupança.

A segunda ideia ao concretizar-se obrigaria a que as situações desiguais

fossem comparáveis e é sobejamente defendido que o sacrifício fiscal

deve ser repartido de acordo com a capacidade contributiva de cada

cidadão.

Portanto deve-se tratar as situações iguais de forma igual e as situações

diferentes de forma diferente.

Aula do dia 01.11.2019

Sumário: TEORIA DE PARETO

Este autor, na sua pesquisa, deu apenas uma explicação para a mera

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definição de critérios de melhoria do bem-estar («eficiencia económica»)

em relação às situações anteriores, como efeito de decisões económicas

pontuais (ótimo relativo ou ótimo de PARETO).

Para os clássicos, o bem-estar comum era a mera soma de utilidades

individuais:

Quanto maior fosse (utilidades individuais) maior ele seria (neste caso, o

bem-estar).

PARETO e BARONE formularam uma concepção do bem-estar relativo,

segundo a qual numa dada situação a determinação do bem-estar

assentaria nos seguintes pressupostos:

1º cada pessoa é o melhor juiz do seu próprio bem-estar;

2º o bem-estar social é função apenas do bem-estar de cada um dos

membros da sociedade;

3º se o bem-estar de uma pessoa é melhor na situação X do que na

situação Y, e se o bem-estar de todos os outros não é menor em nenhuma

das duas, então o bem-estar social é maior na situação X do que na

situação Y.

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Obs: o pressuposto base é sempre o bem-estar individual.

Generalizando este critério, pode dizer-se que é relativamente eficiente

em termos paretianos, qualquer melhoria do bem-estar que não afete a

situação dos restantes membros da sociedade; uma situação que

corretamente não pode dizer-se ótima e eficiente quando não for possível

nenhuma melhoria na situação de qualquer dos membros sem prejudicar

os restantes.

Conforme esse critério, o êxito de uma situação é atingido se, e

somente se, for impossível aumentar a utilidade de uma pessoa sem

reduzir a utilidade de outra.

*Se as situações dos demais não é pior, para o PARETO o bem-estar é

eficiente.

Aula do dia 05.11.2019

Sumário: CAUSAS DA INCAPACIDADE DO MERCADO

Primeira situação da incapacidade do mercado

Bens coletivos ou bens puramente públicos: são bens que para um

determinado nível de existência ou provisão do bem, a utilização por uma

pessoa não prejudica minimamente a sua utilização por qualquer outra.

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Ex: Caso de um farol, da defesa nacional, patrulha costeira, do

funcionamento dos órgãos de soberania. * Porque há determinados bens

que têm que estar ao alcance de todos mesmo que a sua produção não seja

suficiente para todos ou na sua plenitude mas de certa forma as pessoas

sentem o reflexo disso, porque as pessoas em certa medida não se

sacrificam para obtenção de determinados serviços prestados pelo Estado.

Por exemplo o caso da Segurança.

Ao contrário, os bens individuais ou puramente privados se são

consumidos por uma pessoa em determinada quantidade não podem ser

consumidos por outra.

Ex: o pão que o A come não pode ser consumido por B.

Sumário:

CARACTERÍSTICAS TÍPICAS DOS BENS COLETIVOS

1ª são bens que são por natureza proporcionadores de utilidades

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indivisíveis e proporcionam satisfação passivas; Ex: iluminação pública

(se eu tiver a tirar a utilidade dessa iluminação não posso impedir que

outra também o tire).

2ª em regra, são bens não exclusivos; (pode haver maior ou menor

exclusão ainda que artificial).

3ª são bens não emulativos, que significa que os seus utilizadores não

entram em concorrência para conseguir a sua utilização; Ex: Segurança

por parte da força de defesa e segurança.

*Essas características mostram claramente que esses bens não podem ser

produzidos por particulares porque esses tendem a procurar lucros

enquanto que o Estado preocuparia em satisfazer os interesses públicos.

CUSTOS DECRESCENTES E O EFEITO DO MONOPÓLIO

A produção dos bens é regida normalmente pela lei de proporções

definidas, segundo a qual existe um ponto ótimo nas combinações de

fatores produtivos em que os custos de produção por unidade é o mais

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

baixo possível com excepção de casos de melhoria por alteração da

própria combinação produtiva ou de melhor técnica, como as economias

de escala. Até ao ponto ótimo, os custos de produção são normalmente

decrescentes. Depois dele (ponto ótimo) entra-se na fase dos custos

crescentes isto é, o custo da unidade marginal.

*Se ultrapassar o tal ponto ótimo os custos a apartir daí vão aumentando.

*Se os custos de produção estiverem a decrescer, quem produz melhor e

tem mais condições para a produção faz com que este permaneça no

mercado obrigando deste modo o afastamento dos outros. Desde logo

quem controla o mercado vai começar a praticar atos com vista a

condicionar os consumidores.

AS EXTERNALIDADES E A ATIVIDADE PÚBLICA (OUTRA

CAUSA DE INCAPACIDADE DE MERCADO).

A interdependência entre as pessoas em sociedade gera situações difíceis

de regular: na verdade as decisões de um consumidor ou de um produtor

refletem-se por vezes positiva ou negativamente sobre outras pessoas que

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

com elas nada têm que ver, proporcionado-lhes utilidades externas

(benefícios) ou impondo-lhes desutilidades externas (custos)

Aula do dia 11.11.2019

Sumário:

PROVISÃO (distribuição) PÚBLICA DE BENS (Como forma de

suprir a incapacidade do mercado).

a) FORMAS DE SUPRIR AS INCAPACIDADES DE MERCADO.

Com o propósito de garantir níveis aceitáveis de bem-estar social, admite-

se atuações corretivas e supletivas dos sujeitos económicos não

dominados pela lógica do mercado.

*Quer dizer que determinadas entidades públicas (por exemplo o

ESTADO) é uma entidade que não atua em funções das regras do

mercado porque aqui os sujeitos económicos privados quando atuam é

para obterem lucros, mas o Estado visa outros fins (por exemplo a

satisfação dos interesses da coletividade) apesar de em algumas situações

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

ele atua como um ente privado. O Estado enquanto entidade que

interpreta as necessidades da coletividade atua por forma a corrigir as

falhas do mercado.

*Ao fazer a provisão dos bens o Estado tem que pensar nos domínios

da segurança,* saúde, justiça, segurança social etc...porque o Estado

não pode abdicar dessas responsabilidades com o fundamento na

lógica do mercado.

A provisão pública de bens tem que ver com a atividade que o Estado faz

com vista a garantir necessariamente que as pessoas em situações

precárias tenham acesso à esses bens e serviços públicos essenciais para a

vida dos cidadãos. *

A questão de segurança deve ser deixada integralmente ao critério do

Estado.

FINANÇAS, DOUTRINA E SISTEMAS ECONÓMICOS

SISTEMAS E ESTRUTURA

*Conforme as estruturas podemos interpretar duma ou outra forma o

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

sistema econômico de um determinado país.

A atividade financeira configura-se de forma diferente consoante o

sistema econômico e social em que se concretiza.

Sistema econômico em geral - quando se fala de sistemas económicos

em geral pensamos em formas típicas de organização e funcionamento da

sociedade em geral e da atividade económica em particular. * Isto é,

maneira como opera a organização e funcionamento numa sociedade, mas

quando se fala dos sistemas económicos tem que ver com a forma como

uma economia está estruturada e funciona.

Sistemas abstractos: por um sistema abstrato nós podemos entender

como um tipo ideal de organização e funcionamento de uma sociedade

centrada em duas ideias fundamentais: a primeira ideia fundamental é a

ideia da economia livre ou descentralizada, a segunda ideia é da

economia de direção central total.

NB: Estes sistemas são influenciados pela doutrina.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

*Durante a revolução industrial passamos a ter dois grandes sistemas em

afronta que são: sistema capitalista (aqui é presente a ideia da economia

livre) e coletivista (em que está presente as ideias da direção central).

Sistema concreto: é tipo de organização e funcionamento da atividade

económica suficientemente diferenciado dos outros e aplicável em

diferentes estruturas.

*Ou seja quando estamos a falar de capitalismo por exemplo, estamos a

falar de um sistema em concreto, porque é aplicável em qualquer latitude

e pode ter sucesso se for aplicado de forma conviniente em qualquer

estrutura de um país.

CARACTERÍSTICAS TIPICAS DO SISTEMA CAPITALISTA

a) Existência de um conjunto de instituições jurídico-sociais típicas

(capital e empresa);

b) existência de um conjunto de princípios e leis económicas

fundamentais (propriedade privada (que o Estado é obrigado a respeitar)

iniciativa privada (também fundamental dentro do sistema capitalista

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

(liberdade de contratar, liberdade de formar empresa, liberdade de

trabalho);

c) é móbil específico (obtenção de lucro).

Aula do dia 15.11.2019

OS REGIMES ECONÓMICOS E AS DOUTRINAS

Como ficou assente na aula passada, as estruturas em que os sistemas são

aplicados, são bastante diferentes entre si por um lado, por outro lado, a

articulação entre o poder político e a atividade económica pode fazer-se

também de maneiras diferentes. O que pode originar diferenças a nível do

funcionamento do sistema, que podem ser designados de regimes

económicos.

*Regime económico pode ser também definido como sendo a forma

como o poder político se relaciona diretamente com a economia.

O professor Felipe Falcão entende que é difícil emplementar o

capitalismo na Guiné Bissau...

No sistema capitalista destacam-se dois tipos de regimes económicos

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

fundamentais que são: LIBERALISMO E INTERVENCIONISMO no

sentido lato.

Liberalismo: deve existir multiplicidade de direitos económicos dos

sujeitos económicos num determinado mercado, relegando o Estado para

o segundo plano onde o assento tônico é apontado aos indivíduos.

No intervencionismo: o Estado é que dita as regras (normas jurídicas) e

condiciona o funcionamento do mercado ou atuação dos sujeitos

económicos. O Estado pode até criar uma entidade pública para atuar em

determinados setores por exemplo: energia, exploração petrolífera-

PETROGUIN o caso da Guiné-Bissau etc...

Numa economia do mercado, o mercado é que ordena, o Estado não

altera de forma alguma o funcionamento do mercado.

Fala-se de intervencionismo mesmo dentro do sistema capitalista.

*Dentro da intervenção económica temos a Ordenação e a intervenção no

sentido restrito.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

DOUTRINAS

A partir do século XIX, surgiram muitas doutrinas que passamos a citar:

 Individualismo - (enquadra-se e muito no capitalismo, tem assento

tônico na proteção do indivíduo), o Estado serve como um meio de

prossecução dos fins individuais agregados contratualmente;

 Concepções solidaristas - (doutrina que influencia o sistema

socialista)

 Doutrinas organicistas - (encontramos os seus traços nos sistemas

socialistas, a sociedade deve ser organizada com base nas ideias

defendidas pelo Estado. A ideia base aqui é de mostrar que deve

existir uma organização ou entidade suprema que vai organizar o

resto das estruturas não sendo o mercado a organizar).

 Doutrina do transpersonalismo social (mostra que o Estado está

acima de qualquer indivíduo ou instituição social, esta ideia pode

ser encontrada muito presente no marxismo ou comunismo).

Aula do dia 18.11.2019

LIBERALISMO E FINANÇAS NEUTRAS

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Podemos distinguir quatro perspectivas fundamentais dentro do

liberalismo em relação as finanças públicas:

1º - Privatização da economia: que significa que ao Estado compete

apenas criar as condições que permitam a sociedade manter-se organizada

e estável, defendendo a propriedade privada e a iniciativa privada.

*O estado reduzia-se a funções tradicionais: segurança, justiça

etc...cobrança dos impostos... do resto deveria ser desenvolvida pela

iniciativa privada com o intuito de garantir a melhor competitividade e

consequentemente a produtividade.

2º - Setor público reduzido: é reduzido substancialmente

comparativamente aos períodos históricos anteriores, desfazendo-se o

Estado de muitas atividades que vinha desenvolvendo. No geral, no

liberalismo o Estado não pode ir além dos 10 a 15% do produto nacional.

O que significa que cabe essencialmente aos privados a criação da

riqueza. No domínio produtivo o Estado abandonou até atividades

produtivas que tradicionalmente vinha exercendo e reduziu o seu

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

património, que aumentara durante o mercantilismo.

*Isto é, em termos da riqueza produzida o Estado não pode ir além dos

15%, por outras palavras quer dizer que 85% fica nas mãos dos

particulares.

Esta ideia está relacionada à primeira perspetiva.

Hoje em dia, os países Europeus que foram muito influenciados pela

doutrina liberal os seus cidadãos são muito sufocados com as cargas

fiscais (impostos). Ex: Reino Unido, Inglaterra, França etc...

Há quem diga que os impostos elevados não ajudam no crescimento

económico, apesar de outros entenderem o contrário.

3º - Princípio do mínimo: segundo esse princípio, qualitativa e

quantitativamente, a atividade financeira (para arrecadar receitas) deve

reduzir-se ao mínimo indispensável, absorvendo a menor parcela possível

do rendimento nacional.

*O estado não pode absorver grande quantidade da riqueza produzida.

4º - simplicidade das finanças públicas: de acordo com essa

perspectiva, o Estado cobra apenas a administração tradicional de uma

33
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

maneira uniforme e homogénea não se justificando por isso a criação de

empresas públicas, de administrações autónomas ou complexos regimes

de especialização financeira.

*Ou seja temos aqui uma característica essencial do pensamento liberal

em que se defendem que as finanças públicas têm que ser bem simples.

Por causa dessa ideia de simplicidade o Estado não podia ter empresas

públicas (que depois não saberá gerir convinientemente) e nem criar

estruturas autónomas porque estes comportam regimes jurídicos

complexos, muito menos entrar em engenharias financeiras complicadas

segundo esta perspectiva.

Ainda essa perspectiva entende que o Estado tinha que ser neutro ou seja

abster-se das atividades económicas, deixando essas atividades aos

privados. Portanto as finanças tinham que ser neutras, permitindo que o

Estado atue apenas como um mero espectador.

Portanto aqui o mercado é que substitui o Estado.

A TRANSIÇÃO PARA AS FINANÇAS INTERVENCIONISTAS

34
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Principais fatores de mutação:

1º a evolução interna das economias liberais: uma das razões tem que

ver com os próprios partidos trabalhistas ou partidos de esquerda que

começaram a lançar exigências ao Estado no sentido deste desempenhar

um papel mais ativo.

A ideia do Estado ter mais recursos por forma a alimentar as forças

armadas e se um Estado for muito livre como é que podia sustentar as

forças armadas? Portanto o Estado tem que exercer atividades lucrativas

porque a modernização das forças armadas exigia mais meios e recurso

por parte do Estado.

2º surgimento de movimentos doutrinais e teóricos como de John M.

Kanes e Wicksell (da escola de Stocolmo)

Estes movimentos começaram exigir do Estado outro papel, as igrejas

também começaram a precionar mais o Estado no sentido de satisfazer os

mais necessitados e promover a igualdade social.

3º existência de factos marcantes da evolução económica do século

XXI:

35
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

primeiro facto marcante é a primeira GM que representou um enorme

esforço militar em economia de guerra e forçou o Estado a assumir a

orientação da economia numa clara rutura com o liberalismo.

No período pós guerra, caracterizado por uma depressão e instabilidade

sobretudo na Europa.

Outro aspecto que podemos chamar a colação é a crise de 1929 e a

consequente depressão com enorme volume de desempregados e o sub-

aproveitamento dos fatores de produção.

Segunda GM com o reforço de blocos socialistas e a necessidade de

maior intervenção do Estado para garantir a reconstrução da Europa.

INTERVENCIONISMO FINANCEIRO E AS FINANCAS ATIVAS

a) O intervencionismo e o dirigismo

Na fase do capitalismo tardio, tal como designou o Werner Sombart, o

conceito do intervencionismo Estadual correspondente a doutrina

segundo a qual o Estado tenta corrigir as falhas do mercado em todas as

suas dimensões, alterando os aspetos ineficazes, injustos e inconvinientes,

mas sem alterar os princípios fundamentais do sistema do mercado.

36
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

*No fundo é o que temos no intervencionismo. O Estado tem um papel

muito mais ativo condicionando a atuação dos sujeitos económicos.

No dirigismo económico, o Estado propõe determinados objetivos

globais que hão de guiar a atuação de todos os sujeitos económicos.

* Temos aqui uma diferença qualitativa entre o intervencionismo e o

dirigismo. No INTERVENCIONISMO temos apenas a ideia de correção

que o Estado é chamado a efetuar mas quando se fala do dirigismo o

Estado tem um papel muito mais ativo, porque fixa metas ou objetivos

que todos devem seguir (privados) incluindo ele próprio - Estado.

Mas tudo isto é no âmbito de um sistema capitalista não coletivista.

Nesta fase, as finanças públicas passam a ter uma função mais ativa

diferentemente do princípio da privatização da economia que inculca a

ideia de subordinação do setor público ao privado. Em síntese pode dizer-

se que as finanças públicas ganham autonomia e o Estado passa a

satisfazer mais as necessidades coletivas fora das necessidades

tradicionais.

37
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

* Nas finanças Ativas O Estado passa a ter uma posição preponderante

por causa das necessidades que visa satisfazer passando a assumir outras

missões que não limitam apenas na satisfação das necessidades que são

tradicionais.

b) Equilíbrio entre a economia pública e privada;

*O Estado deixa de ser aquele mínimo tal como defendiam os liberais.

c) regra do ótimo;

Ao contrário da regra do mínimo, o critério definidor do setor público

estabelece-se em obediência à regra do ótimo no sentido de que o Estado

tenta satisfazer mais necessidades procurando atingir o ótimo social.

d) Dimensão crescente do setor público;

O setor público passa a abarcar entre 30 a 50% do rendimento nacional.

* O Estado tende a absorver mais riquezas produzidas, passando a ser um

Estado mais ativo e detentor de empresas públicas.

e) Pluralidade e complexidade do setor público;

38
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Nesta fase o setor público alarga-se consideravelmente, multiplicam-se as

empresas públicas, cresce o peso dos impostos e aumenta também o

recurso aos empréstimos públicos: as finanças estaduais, que eram

simples, assumem crescente complexidade, pelas novas funções que

assumem.

f) A integração entre a economia e finanças

Os liberais defendiam o contrário mas aqui a economia integra as

finanças.

g) As finanças passam a ser funcionais e ativas

O Estado abandona a posição de neutralidade e passa a influenciar o

comportamento dos privados.

h) Afirmação predominante dos direitos económicos e sociais;

I) ressurgimento do património;

j) saturação fiscal.

39
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Aula do dia 22.11.2019

SISTEMA ECONÓMICO COLECTIVISTA

GENERALIDADES

Caracterizam os sistemas colectivos três traços tais como: a apropriação

pública dos meios de produção, o papel central do plano como super-

lei e o interesse estatal, a solidariedade e o bem-estar colectivo como

motivações dominantes.

O caso paradigmático é o da URSS – União das Repúblicas Socialistas

Soviéticas, onde por o Estado ser o principal produtor pergunta-se ser

correcto falar da fronteira entre actividade financeira e economia privada.

A resposta afirmativa decorre de se reconhecer que se justifica a distinção

entre o sector público administrativo e o sector público produtivo, entre o

orçamento e a actividade empresarial do Estado.

Embora as instituições sejam idênticas às dos sistemas capitalistas as

funções diferem e passamos a estudá-las.

40
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

FUNÇÕES DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS

A primeira função dos instrumentos financeiros, na fase revolucionária de

implementação do socialismo, é a de desapropriação.

Na fase de transição os instrumentos financeiros visam assegurar

actividades colectivas essenciais não produtivas, o equilíbrio sectorial e

regional na distribuição dos recursos; o orçamento funciona como

instrumento da execução do plano e de canalização de recursos estéreis

para o funcionamento das actividades públicas ou socialmente úteis.

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DOS INSTRUMENTOS

FINANCEIROS

Podem apontar-se como características fundamentais dos instrumentos

financeiros:

a) A relevância do orçamento na execução do plano;

b) Relevo das receitas patrimoniais;

c) Reduzida pressão social;

41
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

d) Equilíbrio orçamental.

FINANÇAS PÚBLICAS E SISTEMAS COLETIVISTAS

Os sistemas coletivistas do século XX podem caracterizar-se por três

grandes traços:

 Apreensão pública pública dos meios de produção (com o

desaparecimento tendencial da propriedade privada);

 A subordinação vinculada ao plano;

 A existência de motivações dominantes de interesse estatal,

solidariedade social e o bem-estar coletivo.

* Apreensão pública dos meios de produção: esta é a característica

presente em todo os sistemas coletivistas do século.

Estes sistemas tiveram força na África depois da colonização. Aqui

desaparece tendencialmente a propriedade.

Ao contrário do que acontece no capitalismo em que o estado só vai

poder assumir aquilo que é desprezado pelos privados.

O Estado nacionaliza os principais meios de produção. Por isso, que se

disse que aqui há uma tendência de desaparecimento, aliás, a destruição

da propriedade privada.

42
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

VINCULAÇÃO OBRIGATÓRIA AO PLANO ECONÔMICO

TRAÇADO PELO ESTADO

Aqui todos são obrigados a seguir o plano económico que o Estado traça.

Quer dizer, este é um plano que vincula que os privados como as

públicas.

Tudo gira em termos de plano.

MOTIVAÇÕES DOMINANTES

Aqui ao contrário do que acontece no capitalismo que é de ganhar lucro,

no coletivismo as motivações é a solidariedade social. O móbil específico

do coletivismo é a solidariedade social.

FUNÇÕES DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS

Na fase revolucionária d implantação do socialismo os instrumentos

financeiros apresentavam-se como um meio idóneo para desapropriar...

Aula do dia 25.11.2019

O ESTADO E O SETOR PÚBLICO

O termo Estado refere-se a qualquer país soberano, com estrutura própria,

politicamente organizada, bem como designa o conjunto das instituições

43
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

que controlam e administram uma nação. É uma instituição organizada

política, social e juridicamente, ocupando um território ... normalmente

onde a lei máxima é a constituição escrita, dirigida por um governo

também possuindo soberania reconhecida interna e externamente.

Setor público é uma parte do Estado que lida com a produção,

distribuição e entrega de bens e serviços por e para o governo ou para os

seus cidadãos.

Há serviços que o setor público coloca a disposição da comunidade a

título gratuito.

Ex: serviços de consulta gratuita às crianças até uma determinada idade.

Também há serviços que o setor público coloca a disposição da

comunidade a título quase gratuito. Ex: o caso das prestações pagas na

FDB em comparação ao que se pratica em certas universidades privadas.

Ainda presta serviços comercializáveis.

Ex: EAGB

44
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

O professor Sousa Franco define o setor público em das perspectivas:

1º em sentido objetivo: concebe-o como conjunto de atividades

económicas de qualquer natureza, exercida pelas entidades públicas

(Estado, associações e instituições públicas quer assentes na

representatividade e na descentralização democrática, quer resultantes da

funcionalidade tecnocrática e da desconcentração por eficiência.

2º em sentido subjetivo: já em sentido subjetivo o setor público é visto

pelo professor Sousa Franco como conjunto homogéneo de agentes

económicos que desenvolvem as atividades económicas atrás referidas.

SUB-SETORES INSTITUCIONAIS

- Setor público-administrativo ou Administração central

- Segurança social

- Setor empresarial do Estado

Administração central: é conjunto de instituições e serviços que apoiam

tarefas de um órgão central normalmente com características de decisão.

Ex: governo.

45
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

A administração central pode ser vista em duas perpetivas:

1ª na perpetiva administrativa;

2ª na perpetiva de contabilidade nacional.

Na primeira perspetiva, ela diz respeito a pessoa coletiva Estado e aos

seus órgãos centrais.

Na segunda perpetiva, a administração central refere-se a produção e

consumo público de bens e serviços produzidos pelos órgãos políticos e

pela administração pública incluindo as respetivas entidades autónomas

com exclusão das unidades de produção organizadas em moldes

empresariais e da coletividade do âmbito territorial inferior ao nacional.

Artigos 8º e 9º do decreto nº 5/2010 regulamento geral de contabilidade

pública.

A administração central do Estado constitui o núcleo principal do setor

público. Ela está subordinada ao OGE e as suas contas são registradas na

conta geral do Estado.

A responsabilidade pelas respetivas decisões em matéria financeira, cabe

46
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

ao ministro das Finanças e ao ministro da respetivo pilogo (área). Cfr

Artigos 8º e 9º do decreto nº 5/2010 regulamento geral de contabilidade

pública.

SEGURANÇA SOCIAL

A segurança social é um sistema que pretende assegurar os direitos

básicos dos cidadãos bem como igual oportunidade, bem-estar e coesão

social a todos os nacionais ou estrangeiras que exerçam profissão ou

residam no país.

O Professor Sousa Franco define o risco social como probabilidade de

verificação de eventos danosos. Ele assentua que o risco social são

aqueles riscos a que se encontram sujeitos os membros da sociedade ou

para alguns, apenas os trabalhadores - quanto a redução ou diminuição de

condições para angariarem por si próprio os meios de subsistência.

A tipificação dos riscos sociais varia de país para país, a convenção 102

da OIT refere a nove tipo de riscos com diferença a sua cobertura.

1- cuidados de doenças e suas compensações;

2- desemprego;

47
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

3- velhice;

4- acidente de trabalho;

5- doenças profissionais;

6- maternidade;

7- invalidez;

8- morte;

9- encargos familiares.

Para cobrir estes riscos muitas pessoas recorriam as companhias de

seguro.

São três as concepções dominantes em matéria da segurança social:

Primeira, universalista;

Segunda, laborista;

Terceira, assistencialista.

CONCEPÇÃO UNIVERSALISTA

É aquela que procura garantir o direito a proteção social à todos os

cidadãos independentemente da sua atividade laboral ou da sua

contribuição anterior, basta residir num país;

48
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Esta concepção teve origem no relatório Beveridge, segundo ele, a

segurança social deve ser geral para cobrir todas as situações de carência

social, deve ser integral por via dos sistemas de Estado, deve ser acessível

a todos os cidadãos, e ser gratuito.

Cfr. Artigo 4 e 5 lei de enquadramento de proteção social.

CONCEPÇÃO LABORISTA / TRABALHISTA

Para esta concepção, quem deve beneficiar do direito a segurança social

são os trabalhadores.

REQUISITOS

- ser trabalhador;

- estar inscrito no sistema;

- contribuir para o funcionamento do sistema.

Esta concepção teve origem na revolução industrial. O chanceler Alemão

Bismarck, tornou-se pioneiro nesta realização que regulamentava o

seguro de doença, seguro contra acidentes de trabalho, é o seguro de

invalidez e velhice em 15.06.1883, 06.07.1884, 22.06.1889

respetivamente.

49
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Cfr. Artigos 17, 19 e 24 da lei de enquadramento de proteção social.

Aula do dia 03.12.2019

CONCEPÇÃO ASSISTENCIALISTA

Esta concepção reconhece o direito a segurança social apenas aos

indivíduos que se encontram numa situação de carência, devendo

para o efeito solicitar a proteção social e fazer prova da sua situação.

Esta concepção teve origem nas ações de caridade inicialmente

desenvolvida pelas instituições religiosas em benefício dos pobres.

Cfr. Artigo 7º/1 lei de enquadramento de proteção social.

Cfr. Artigos 5º, 26º/1 (concepção universalista) e 46º (concepção

trabalhista) CRGB

SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO

Cfr artigo 1º Decreto 55/93 (Legislação de capa verde)

Obs: não existe sociedade anónima de responsabilidade limitada tal como

é previsto na redação do nº 3 do artigo 1º do diploma em causa.

Cfr. Artigo 10º Acto uniforme do direito comercial geral

Forma de extinção artigo 48 decreto 55/93

50
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

06.12.2019

AUTARQUIAS LOCAIS

Autarquias locais são entidades públicas que desenvolvem a sua ação

sobre uma parte definida do território, visando a prossecução de

interesses próprios da população aí residente. A palavra autarquia vem do

grego, que significa autocomandar-se.

As autarquias gozam da autonomia administrativa, patrimonial e

financeira, apesar disso não são subtraídas da estrutura do Estado. Ou seja

não faz nascer um outro Estado dentro do próprio Estado.

Artigo 105 de CRGB.

Lei base das autarquias locais (lei nº 5/96)

Autonomia financeira das autarquias locais - Lei nº7 96 de 09 de

dezembro.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS GUINEENSE

As instituições financeiras podem ser divididas em duas categorias:

Primeira, instituições financeiras de enquadramento;

Segunda, instituições financeiras instrumental.

51
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE ENQUADRAMENTO - são

todas aquelas que determinam como se forma e se executa a vontade

política estadual no restrito cumprimento da sua estrutura interna na

relação com a sociedade e respeito com direitos fundamentais. (Formação

e execução da vontade política do Estado)

O professor Eugenio Morreira, na sua tese de mestrado, fez uma critica a

esta noção de instituições financeiras por esta apenas apontar as questões

ligadas a formação e execução da vontade política do Estado por entender

que tinha que levar em conta o aspecto de controlo em que podíamos

enquadrar o tribunal de contas.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA INSTRUMENTAL - define os meios

financeiros do Estado disponíveis para a satisfação das necessidades da

coletividade.

TIPOS DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE

ENQUADRAMENTO

- constituição financeira : é um título ou capítulo da constituição em que

52
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

estão previstas as regras do direito financeiro, tais como os ritos e as

competências para elaboração e aprovação do orçamento.

Cfr. Artigo 85/1/g/m; artigo 100/1/c.

Obs: procurar lei eleitoral, código de administração autárquica e

regulamento de justiça fiscal.

A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

O professor Sousa Franco em relação a esta matéria, fala de três

tendências:

Primeira, a autonomização - nesta há uma diferenciação da organização

financeira e diferenciação dos órgãos da atividade financeira;

Nao integram uma única estrutura.

Segunda, especialização - nesta, a sociedade decide criar órgãos

especializados e vocacionados especificamente para a matéria de gestão

financeira.

Terceira, unificação ou integração - nesta, os órgãos da administração

financeira integram mesma estrutura orgânica, complexa e estrutural.

Obs: Tendência usada na Guiné-Bissau.

53
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

TRIBUNAL FINANCEIRO

Cfr. Artigo 121/2/b CRGB, 10, 11 e 12 do regulamento de justiça fiscal.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INSTRUMENTAIS

Património público - para Sousa Franco, em sentido amplo património é

constituído por bens aptos a satisfação dos interesses económicos do seu

titular.

Em termos jurídicos, o património é a totalidade de direitos e obrigações

suscetíveis de avaliação pecuniária.

Ativos: são os valores

Passivos: Responsabilidades do Estado.

Artigo 11 e 12 da CRGB.

O património é bicéfalo, podemos encontrar bens e responsabilidades.

Porquê?

O TESOURO PÚBLICO

Centraliza todas as receitas e despesas do Estado.

A função do tesouro público é o movimento dos fundos que são

efetuados.

54
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

CRÉDITO PÚBLICO

Trata-se de um processo financeiro consistente em vários métodos de

obtenção de dinheiro pelo Estado, sob condição de devolver em geral,

acrescido de juros e dentro de determinado prazo estabelecido.

O recurso ao crédito hoje em dia é uma forma dos Estados poderem

captar financiamentos.

Aula do dia 09.12.2019

O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO

NOÇÃO

O orçamento do Estado é uma previsão, em regra anual, que fixa as

despesas a realizar pelo Estado, as receitas para a sua cobertura e

encorpora a autorização e os limites do exercício dos poderes financeiros

pela administração. Definição avançada pelo Professor Sousa Franco.

Fala-se da previsão de receitas e despesas do Estado durante o período de

um ano.

Praticamente todos os autores apontam que orçamento começou a ganhar

55
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

força durante o período liberal.

Hoje em dia para ser chamado de orçamento é necessário que seja

aprovado pela assembleia onde estão os representantes do povo, diferente

de épocas anteriores em que bastava-se apenas a vontade do monarca

para termos o OGE.

O Estado tem que organizar e saber quais as despesas que vai realizar

durante um ano.

Em regra o Estado tem que prever todas as receitas e despesas para o

período de um ano, apesar de poder haver situações excepcionais.

O Estado na elaboração de um orçamento tem que fazer um estudo prévio

além de efetuar comparações com os orçamentos anteriores.

Se surgir uma despesa exorbitante com a qual o Estado não previa o

Estado pode lançar mão ao orçamento retificativo.

REGRAS E PRINCÍPIOS ORÇAMENTAIS

Lei 3/87 de 09 de junho

Essas regras determinam os procedimentos que o estado tem que

prosseguir durante a elaboração, aprovação, execução, fiscalização...

56
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Primeira regra ou princípio orçamental é a ANUALIDADE (artigo 2º lei

de enquadramento orçamental - Lei nº 3/87): segundo esta regra, o

orçamento geral de Estado tem uma vigência anual, refere-se ao ano

Económico, o qual pode ou não coincidir com o ano civil. Entre nós

coincide com o ano civil.

Cá na Guiné-Bissau, à semelhança do que sucede na maioria dos países,

as receitas e as despesas são orçamentadas para o período compreendido

entre 1 de janeiro e 31 de dezembro, o qual coincide com o ano civil.

Por exemplo: nos Estados Unidos da América e na Inglaterra, pelo

contrário, o ano Económico já não coincide com o ano civil.

Cfr. Artigo 8 da referida lei 3/87 de 09 de junho. Segundo essa lei de

enquadramento orçamental a proposta de lei do OGE deve ser entregue

em princípio até o dia 15 de dezembro.

Obs: o OGE sai em forma da lei.

Lei nº1/2015 artigo 58/1, 2

PRINCÍPIO DA PLENITUDE ORÇAMENTAL

57
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

O princípio da plenitude orçamental significa que o orçamento deverá

único e universal, nele devendo inscrever-se todas as receitas e todas as

despesas.

Este princípio tem duas regras distintas mas encruzariadas e

complementares - a da unidade e da universalidade.

Estas visam evitar que escape à autorização política, na fase de previsão,

ao controle político e administrativo, na fase de execução e à

responsabilização jurisdicional e parlamentar, na fase de prestação de

contas, uma quantidade significativa de fundos públicos, por efeito da

desorçamentação das despesas e receitas públicas.

São regras que conferem maior abrangência, racionalidade e

transparência ao orçamento.

REGRA DE UNIDADE E UNIVERSALIDADE

REGRA DE UNIDADE

A regra de unidade impõe que exista um único orçamento. O carácter

unitário do orçamento não é absoluto; há exceção em relação às

autarquias local cujos orçamentos são elaborados, aprovados e

58
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

executados autonomamente. Cfr. Artigo 3º/1, primeira parte da lei

nº3/87; Esta determinação dos custos e previsão das receitas, de modo

autónomo, garante eficácia, flexibilidade de gestão e eficácia na

cobrança de receitas.

No entanto, a unicidade do orçamento torna-o mais claro, simples e de

fácil análise, necessária para uma adequada e consciente fiscalização

prévia das receitas e das despesas pelo órgão constitucionalmente

competente - a ANP.

REGRA DE UNIVERSALIDADE

Significa que o OGE deve compreender todas as receitas e despesas da

administração central, incluindo as receitas e despesas dos serviços e

fundos autónomos. Artigo3/1, segunda parte da lei 3/87.

O objetivo principal da existência das autarquias locais tem que ver com a

preocupação da descentralização.

O orçamento da autarquia é aprovado pelos órgãos autárquicos.

As despesas e receitas das autarquias local têm que constar do mapa

anexo do OGE.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

REGRA DA COMPENSAÇÃO OU DO ORÇAMENTO BRUTO

Esta regra decorre da regra de universalidade. Ela impõe que todas as

receitas sejam inscritas no orçamento geral do Estado pela importância

integral, sem dedução das despesas que concorreram na arrecadação das

respetivas receitas. Por exemplo, os encargos de cobrança.

As receitas têm que ser inscritas integralmente no OGE.

Porque o objetivo aqui é garantir maior controlo possível.

Cfr. Artigo 4º ss da lei 3/87.

Há uma previsão das receitas que cada ministério por exemplo faz ou seja

é uma previsão por setores...

13.12.2019

REGRA DA NÃO CONSIGNAÇÃO

Da conjugação da regra da unidade e da universalidade resulta que

nenhuma receita pode afetar-se à cobertura específica de determinada

despesa. Ou seja, esta regra impõe a não afetação de produto de quaisquer

receitas à cobertura de determinadas despesas que cabe ao governo

realizar. Salvo se por virtude da autonomia financeira ou de uma razão

especial, a lei expressamente determine a afetação de certas receitas para

60
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

a cobertura de determinadas despesas.

Artigo 5º da lei de enquadramento orçamental.

*No fundo vem mostrar a sequência do que tínhamos dito em relação a

unidade do orçamento.

Todas as receitas que constam é para cobrir todas as despesas

previamente definidas pelo governo.

No fundo esta regra vem proibir por causa de transparência, o governo de

consignar determinadas receitas para cobrir determinadas despesas.

REGRA DA ESPECIFICAÇÃO

A regra da especificação determina que o orçamento geral do Estado

especifique suficientemente as receitas e as despesas previstas. Artigo 6º

lei de enquadramento orçamental.

*No orçamento geral do Estado o governo tem que especificar cada

receita e cada despesa e não deve existir coisas secretas, por questão de

transparência.

Mas se existir uma razão especial para uma questão de segurança

61
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

nacional e não especificar uma determinada fatia o governo tem que fazer

uma proposta à ANP sobre o assunto. Facto previsto no nº 2 do artigo 6º

da lei de enquadramento orçamental.

Cfr. Artigo 7º/1 lei de enquadramento orçamental.

REGRA DA PUBLICIDADE

Como lei em sentido formal que o orçamento é, deve, como requisito de

validade, ser publicado no boletim oficial.

Como lei especial exige-se que para além da publicação ela tenha a

necessária publicidade.

06.01.2020

EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL À LUZ DO PENSAMENTO

CLÁSSICO

O primeiro critério clássico predominante no século passado era bastante

rigoroso e restrito na medida em que considerava-se existir equilíbrio

quando os rendimentos normais cobrissem todas as despesas.

De acordo com este critério os rendimentos normais são aqueles

62
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

resultantes da venda do património de Estado;

Ou da cobrança dos impostos.

O rendimento resultante de empréstimos (créditos em situações normais)

não faz parte do rendimento normal salvo em casos extremamente

necessários por exemplo: causa de salvação nacional, tais seriam os

relativos à guerra ou calamidade pública.

Segundo critério clássico: CRITÉRIO DO ATIVO DA

TESOURARIA

Corresponde a uma revisão do pensamento clássico, que inspirou de

forma determinante a prática financeira. Hoje é a base da prática de

muitos países como é o caso dos EUA, onde o empréstimo só é

admissível com manutenção do equilíbrio orçamental no caso de se

destinar ao pagamento de outro empréstimo anteriormente contraído; nos

outros casos, o recurso ao crédito desequilibra o orçamento.

A distinção chave para esta classificação reside na diferença entre as

receitas e despesas efetivas e não efetivas.

63
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Despesa efetiva é aquela que representa uma efetiva diminuição do valor

do património da tesouraria (património monetário);

Enquanto que a despesa não efetiva será aquela que, embora diminuindo

o património da tesouraria, provoca nele um acréscimo de montante

idêntico.

Para a primeira situação pode-se dar exemplo do pagamento de salário

aos funcionários; (despesa efetiva)

Para a segunda situação pode-se dar o exemplo de pagamento de uma

dívida.

De acordo com este pensamento para haver equilíbrio as despesas

efetivas só podem ser financiadas por receitas efetivas.

As despesas não efetivas podem ser financiadas por receitas efetivas, e

também poderão ser cobertas por receitas não efetivas.

Fora destes critérios teríamos um orçamento desequilíbrado.

RESUMO

Para este critério, o orçamento considera-se equilibrado quando haja

igualdade entre despesas efetivas e receitas efetivas, admitindo-se o

crédito público apenas aplicado no pagamento da dívida pública.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Doutro modo, a utilização do crédito para cobertura de despesas efetivas,

conduziria a um défice.

TERCEIRO CRITÉRIO CLÁSSICO, CRITÉRIO DO

EQUILÍBRIO DO ORÇAMENTO ORDINÁRIO

Corresponde ao último sentido em que evolui o pensamento clássico e

assenta na distinção entre receitas e despesas ordinárias e

extraordinárias.

A este propósito, foram formulados diversos critérios:

Segundo um desses critérios, despesas ordinárias são aquelas que se

repetem (renováveis), ainda que haja variação do seu montante

(quantidade) em todos os orçamentos, e receitas ordinárias são também

aquelas que se repetem em todos os orçamentos ainda que há a variação

do seu montante.

Ou seja, são ordinárias as receitas e as despesas que são renováveis

ou que se repetem qualitativamente em todos os orçamentos podendo

a variação dizer respeito aos quantitativos.

Ex: estas despesas e receitas são presentes em todos os orçamentos.

Estes podem variar, pode em cada ano, aumentar ou diminuir o número

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

dos contribuintes. Também número dos funcionários.

DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS

São aquelas cuja natureza não determina a necessidade da sua realização

em todos os anos.

RECEITAS EXTRAORDINÁRIAS

São aquelas que não se cobram necessariamente ou por natureza em todos

os anos.

CONCLUSÃO

Segundo este critério, um orçamento é equilibrado quando as despesas

ordinárias são cobertas pelas receitas ordinárias, e as extraordinárias

podem ser cobertas pelo excedente de receita ordinária e pelas

extraordinárias.

CRÍTICAS A ESSE CRITÉRIO

Este critério não alia a sua clareza e simplicidade ao rigor, que não tem,

devido a sua elasticidade, que permite deturpações na aplicação uma vez

que deixa a escolha dos meios de financiamento ao arbítrio dos governos,

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

protegidos pela qualificação concreta das receitas e despesas (podendo

qualificar-se de extraordinários gastos perfeitamente enquadráveis em

ordinários).

*A dificuldade desse critério reside na sua concretização prática, na

medida em que, por exemplo, naa generalidade dos países o recurso a

empréstimos se repete normalmente ano pós ano, e se fosse por essa

lógica diríamos que as receitas provenientes de empréstimos são receitas

ordinárias.

O governo vai so mercado, emite títulos de crédito.

Contribuição: predial, industrial, urbana

São os impostos frequentes no nosso OGE.

Aula do dia 13.01.2020

PREPARAÇÃO PARA A ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO

GERAL DO ESTADO

O orçamento geral do Estado é uma provisão das receitas e despesas do

Estado. Como toda a previsão, o governo tem que fazer a previsão com

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

sinceridade (Princípio da sinceridade - artigo 30 lei nº2/2015. Contar com

o último, penúltimo orçamento elaborado, levar em conta os princípios e

as leis etc...

A preparação e aprovação do orçamento segue, no essencial o processo

legislativo normal, com as particularidades que lhe são inerentes que

resultam da sua natureza de ato-plano (no sentido de que situa-se entre o

Orçamento de Estado e os planos económico-sociais do mesmo Estado) e

de meio de controlo executivo e as especialidades da lei-travão, prazos,

vigência anual, exclusiva iniciativa do governo, vinculação parlamentar

de votar o orçamento.

Refere-se a vinculação de votar e não a vinculação de aprovar, não

obstante haja defensores do entendimento de que é um dever que

impende sobre a ANP aprovar o orçamento e que a sua não aprovação

significaria um ato de paralisação do Estado, equivalente a um golpe de

Estado (SOUSA FRANCO) ou a um voto de não confiança ao Governo.

*O governo elabora a proposta de orçamento que depois será apresentada

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

ao parlamento para a sua aprovação.

Se o OGE não for aprovado o governo pode recorrer ao orçamento

anterior.

Cada ministério faz a elaboração de lista de receitas que contam e que

poderão entrar no OGE.

Partindo do pressuposto das experiências anteriores na elaboração dos

orçamentos.

Pegar o penúltimo orçamento e fazer as devidas correções. Ex: caso da

alteração dos impostos...observar se houve aumento de subsídios por

exemplo.

O governo tem a obrigação de apresentar a proposta de lei do orçamento.

Artigo 52 lei de enquadramento.

Na elaboração do orçamento, o governo tem que ter em atenção várias

situações para não elaborar um orçamento desequilibrado.

Resumindo: Para elaborar o orçamento do Estado, o governo conta

necessariamente com os orçamentos anteriores;

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Cfr. Artigo 9º, 10º ss da lei de enquadramento orçamental.

Artigo 10º da lei de enquadramento orçamental. Se existir défice o

governo tem que contar qual é a fonte de financiamento com a qual conta

para poder fazer cobertura a défice em causa.

Portanto, isso exige uma certa clareza por parte do governo.

Cfr. Artigo 15 da lei de enquadramento orçamental de 1987.

Se eventualmente o orçamento não for aprovada, entra em vigor o

orçamento do ano anterior.

Regra de duodécimos? De acordo com as regras de duodécimos se for

chumbado a proposta do orçamento no parlamento o governo recorre ao

orçamento anterior para o aplicar durante aquele período de 90 dias que

tem para apresentar uma nova proposta. Segundo as regras de

duodécimos, o governo terá um campo de aplicação do orçamento muito

limitado porque terá que cumprir estritamente o orçamento anterior sem

obstruir a possibilidade de adequá-la ao tempo tendo em conta as

situações. A totalidade das receitas que o governo tem, provinientes da

previsão do orçamento anterior é que serve de referência para o cálculo e

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

determinação do valor que o governo deverá gastar ao longo de cada mês

por exemplo. A regra do duodécimo foi pensada para não haver uma

válvula de escape ou estrangulamento.

Com base na regra do duodécimo, o governo pode fazer o seguinte:

Divide o total das receitas existentes do orçamento anterior pelos meses

que tem pela frente, daí saberá quanto é que deverá gastar por mês.

Cfr. Artigos 55 da lei de enquadramento de 87, artigos 58 e 61 lei de

enquadramento de orçamental de 2015.

EXECUÇÃO ORÇAMENTAL

Artigo 14 capítulo IIIº lei de enquadramento orçamental de 1987.

O governo tem que cuidar para poder cumprir rigorosamente os trâmites

previstos no orçamento aprovado pela ANP.

O governo tem que ser racional na gestão da coisa pública, cumprindo a

vontade dos representantes do povo.

Aula do dia 14.01.2020

CONTINUAÇÃO, EXECUÇÃO ORÇAMENTAL

Pode ser definida, como um conjunto de atos e operações materiais de

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

administração financeira praticados para as receitas e realizar as despesas

inscritas ou para providenciar ao respetivo ajustamento. Artigo 14º LEO

de 1987 de 9 de junho.

O governo pratica um conjunto de atos materiais.

O governo terá que obedecer os vários Princípios entre os quais o da

tipicidade. Este princípio decorre do próprio Princípio da legalidade,

portanto o governo tem que obedecer estritamente o que estiver previsto

no próprio orçamento geral do Estado.

A execução orçamental está vinculada ao princípio da legalidade e da

tipicidade.

*Na execução orçamental o governo é obrigado a respeitar o princípio da

tipicidade e o da legalidade. Se o governo quiser fazer depois um

ajustamento, terá que seguir toda a tramitação para apresentar uma nova

proposta, aquilo que o legislador chama de orçamento retificativo. Cfr.

Artigo 18º (alteração orçamental) LEO de 1987 de 09 de junho.

O respeito do princípio da legalidade e da tipicidade diz respeito a ambos

os lados, isto é, tanto do lado das receitas assim como do lado das

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

despesas.

Cfr. Artigos 15º (Princípio da legalidade das receitas); e 16º (Princípio da

legalidade das despesas) da LEO de 1987 de 9 de junho.

NB: o governo pode fazer alguns ajustamentos no orçamento inicialmente

previsto.

O orçamento retificativo não acontece apenas nas situações em que o

governo chegue a conclusão de que houve um erro em determinar as

previsões que o governo tinha feito. Cfr artigo 48 LEO/2015. + Artigo 18

lei nº 3/87 de 9 junho

É possível haver alteração do orçamento também nas situações de

despesas e não apenas de receitas.

Diferença considerável em relação as previsões das receitas que o

governo fez.

Cfr. Artigo 47 LEO/2015

Aula do dia 17.01.2020

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

FISCALIZAÇÃO E RESPONSABILIDADES ORÇAMENTAIS

Em relação a fiscalização ORÇAMENTAL, de acordo com a nossa lei de

enquadramento orçamental, temos três tipos de fiscalização:

- fiscalização administrativa; Cfr. Artigo 19/1 da lei nº 3/87. (O governo

é quem compete fazer essa fiscalização por intermédio de todos os

ministérios.

- fiscalização jurisdicional; Artigo 19/2 lei nº 3/87 (o tribunal de contas

tem um papel muito importante no momento anterior a execução do

OGE). Vide Artigo 12 da lei nº7/92 de 27 de novembro. Lei orgânica do

tribunal de contas. (Fiscalização jurisdicional prévia)

Decreto 51/85 de 30 de Dezembro mostra a composição da conta geral do

Estado.

- fiscalização política: é feita pela ANP como sendo o órgão que aprova

a conta geral do Estado. Artigo 21 da lei nº3/87

Cfr. Artigo 74 ss da lei de enquadramento orçamental de 2015.

Quem controla a execução orçamental?

R: Os controladores financeiros dependem do ministro responsável pelas

finanças e são nomeados por este ou por sua iniciativa junto dos

ordenadores. Cfr. Artigo 69 ss da LEO/2015.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

EFEITOS DE CONTRAÇÃO DE DÍVIDAS PÚBLICAS NO

PLANO ECONÓMICO

Quando se fala dos efeitos de dívida pública, podemos abordá-lo em

diferentes perspetivas:

Primeira, perspetiva negativa: se o Estado contrai dívida junto aos

credores para investir, numa perspectiva económica, isso limita acesso ao

crédito por parte de outros potenciais investidores ou particulares

interessados em crédito.

Efeito negativo do recurso ao crédito por parte do Estado - se o Estado

não cumprir com o prazo de reembolso cria prejuízo à economia e a

atividade económica dos particulares. Isso terá o impacto na economia

real.

Exemplo da solução que um Estado podia encontrar se fosse um Estado

com soberania monetária:

Primeira solução: para o Estado pagar a dívida contraída, podia proceder

com o aumento dos impostos;

- Consequência disso em termos económicos: os particulares podem ter

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

prejuízo noutro domínio, podem retrair investimentos e até consumos,

isso poderá afetar negativamente a economia.

Segunda solução: fazer amortização da dívida pública com base na

emissão da moeda. Isto pode operar-se sem imiscuir-se na vida dos

particulares.

- Consequência: se o Estado decidir emitir moeda podemos ter muita

massa monetária em circulação e isso poderá provocar o aumento de

consumo, subida de preço e consequentemente a inflação.

Obs: a emissão da moeda não é a solução para investimento público.

EFEITOS DA DÍVIDA PÚBLICA NO PLANO SOCIAL E

POLÍTICO

O peso da dívida pública pode ter consequências para gerações futuras

nos seguintes termos:

1 - a dívida externa constitui ónus para as gerações futuras; As

dividas públicas normalmente são dívidas a longo prazo, portanto a

geração futura poderá estar a pagar uma coisa da qual não tiraram

benefícios. Cálculo das taxas de juros: Pagar as taxas de juros

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

2 - a dívida interna pode constituir ónus para geração presente ou

para as futuras gerações.

A dimensão política - Tem que ver com o facto de Estado estar limitado

em relação aos investidores que são cidadãos de outros países. Trata-se

mais de dívidas a curto prazo e a geração presente poderá arcar com o

pagamento dessas dívidas e se o Estado não tiver condição para pagar a

dívida, pode protelar essas dívidas para um momento posterior.

Obs: o Estado deverá canalizar o crédito obtido por intermédio da dívida

externa para os setores produtivos.

Cfr. Esta matéria no manual de José Joaquim Teixeira Ribeiro.

Aula do dia 21.01.2020

DÍVIDA PÚBLICA

Quando se fala da dívida pública, ocorre sempre que o Estado recorre ao

empréstimo (crédito) porque o Estado é uma entidade pública por

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

excelência.

CLASSIFICAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA

Quando se fala da divida pública temos a necessidade de distinguir duas

realidades:

Dívida interna e dívida externa.

Dívida interna: quando o Estado recorre aos credores internos.

Dívida externa: quando o Estado recorre aos credores externos.

Se o Estado recorrer aos credores externos, as consequências são várias,

diferente do caso em que o Estado recorre aos credores internos. O

Estado faz este recurso por intermédio da emissão de título de dívidas.

Principais diferenças que existem entre recorrer a dívida interna e

externa:

As dívidas internas são geralmente satisfeitas em moeda nacional,

diferentemente da dívida externa.

* Quando o Estado recorre aos credores interno, esses credores financiam

o Estado em moeda nacional.

Geralmente na dívida externa não é o Estado é que determina a moeda

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

com a qual pretende pagar mas sim o credor é que indica a moeda da sua

confiança e que é aceite internacionalmente, essa moeda poderá não ser a

moeda do credor. O credor toma esta iniciativa para evitar futuras perdas

em caso de desvalorização da moeda.

CONSEQUÊNCIAS DA DÍVIDA

- A dívida externa não assegura ao Estado devedor o benefício da

desvalorização da moeda;

* O Estado não tem qualquer possibilidade de desvalorizar a sua moeda,

até porque não é benéfico para o Estado devedor.

- A dívida externa, ao contrário da dívida interna, pode agravar o défice

da balança de pagamento, colocando o país em situação complicada para

honrar os seus compromissos internacionais.

*Porque na balança de pagamento (documento contabilístico em que se

mostra todas as operações que são efectuadas entre os residentes e não

residentes de um determinado país dentro de um certo período de tempo,

em regra dentro de um ano) haverá sempre um saldo negativo

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

demonstrando efetivamente a situação da fragilidade em que o Estado se

encontra. Isso poderá efetivamente pôr em causa as futuras dívidas que o

Estado poderá pretender beneficiar.

- a outra consequência é de ordem política.

Porque na dívida interna, geralmente os credores são cidadãos do Estado

devedor e sobre eles o Estado goza de soberania diferentemente da dívida

externa em que temos cidadãos doutros países onde o Estado não exerce

soberania qualquer sobre eles. Isto é, não estão sujeitos a soberania do

Estado devedor. Importa destacar que estes cidadãos são defendidos pelos

seus respectivos Estados.

Aula do dia 24.01.2020

CONTINUAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA

DÍVIDA FUNDADA vs DIVIDA FLUTUANTE

A dívida fundada é aquela que resulta dos empréstimos perpétuos e de

empréstimos temporários a médio e a longo prazo.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

É chamada de dívida fundada porque quando surgiu há séculos em

Inglaterra, o Estado criava um fundo para cobrir os encargos de

amortização da dívida sempre que contraísse uma dívida. *É fundada

porque há um fundo criado com o objetivo de amortizar as dívidas.

Ex: dívida a curto prazo: dívidas mais ou menos que vão até um ano.

A médio prazo vão até cinco ou mais anos.

Obs: são apenas exemplos para facilitar a compreensão, não é que

rigorosamente estamos perante uma ou outra dívida só quando se está

dentro desse período temporal de um ou de cinco anos.

Empréstimos perpétuos: São aqueles empréstimos que não têm prazo

para o Estado liquidar as suas dívidas, tem é, o Estado, que pagar os

juros.

Dívida flutuante: é aquela que resulta de empréstimos temporários a

curto prazo. Tais empréstimos foram concebidos para resolver os

desequilíbrios temporários da tesouraria. A dívida flutuante quer dizer

uma dívida que flutua, pode surgir num determinado momento e noutro

desaparecer.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA

Existem três grandes sistemas de amortização da dívida que são:

A) anuidades obrigatórias;

B) Caixas de amortizações;

C) Saldos orçamentais.

SITEMA DE ANUIDADES OBRIGATÓRIAS

Anuidades obrigatórias: neste caso, preceitua-se legalmente que o Estado

tem a obrigação de inscrever anualmente, no orçamento geral do Estado,

uma verba, com o propósito de amortizar uma dívida contraída.

*O Estado quando prepara o OGE já conta com a dívida contraída

anteriormente. Só será possível neste sistema amortizar a dívida em causa

se existir o saldo orçamental. (Caso em que existe superávit orçamental).

Anualmente o Estado é obrigado a pôr a disposição aquele montante

correspondente a dívida no OGE.

Obs: Este é o sistema usado na Guiné-Bissau.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

SISTEMA DE CAIXA

Sistema de caixas de amortização: neste sistema o Estado cria a caixa e

dá-lhe autonomia financeira para proceder a compra da dívida pública.

Os títulos comprados podem ficar a disposição da caixa para render juros

ou podem ser por ela destruídos.

O primeiro tipo foi imaginado por um financista inglês do século XVIII

chamado PRICE. Este senhor acreditou no poder reprodutivo de juros.

No fundo, o Estado cria uma caixa e dá-lhe autonomia financeira, entrega

esta estrutura (serviço autónomo) um determinado montante inicial em

dinheiro para gerir, isto é, será utilizado para a compra de títulos de

dívidas para poder efetivamente render juros.

Críticas: não há nenhum poder reprodutivo de juros;

Aula do dia 28.01.2020

CONTINUAÇÃO, CRITÉRIO DOS SALDOS ORÇAMENTAIS

SISTEMA DE SALDOS ORÇAMENTAIS

Saldos orçamentais: neste sistema, o Estado reembolsa dívida mediante

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

os saldos orçamentais que a execução do orçamento lhe proporciona. Ou

seja, o Estado procede ao reembolso dependendo de excedentes de

receitas efetivas sobre as despesas efetivas.

*Se as receitas efetivas conseguirem cobrir as despesas efetivas mesmo

assim existir saldos, o saldo é encaminhado para o pagamento da dívida.

Para este sistema só se admite o pagamento da dívida existindo saldo

orçamental após a execução do orçamento.

A AMORTIZAÇÃO AUTOMÁTICA ATRAVÉS DA

DEMOCRATIZAÇÃO DA DÍVIDA

Este sistema foi concebido e defendido por De Viti de Marco, Italiano -

que defende que o Estado não deveria preocupar-se com a questão da

amortização da dívida interna porque a dívida pública interna tende a

amortizar-se automáticamente, pois reparte-se por diferentes classes

existentes na sociedade.

Daí fez a seguinte divisão de classes sociais:

a) Classe dos capitalistas;

b) Classe dos proprietários;

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

c) Classe dos trabalhadores.

Para sustentar a sua teoria, disse que, se o Estado precisar de dinheiro

pode contrair dividas junto aos capitalistas mediante o pagamento de

juros, daí o Estado tem que pensar em como pagar a dívida contraída aos

capitalistas. Este autor propõe que o Estado tem que aumentar os

impostos na proporção do montante da dívida contraída porque todas as

classes que havia citado pagam impostos.

Mas a classe dos capitalistas despendem menos sacrifícios

comparativamente às outras classes.

Em relação ao proprietários que são aqueles que têm capital imobilizado

(casas, terrenos): estes vão comprar títulos de dívidas junto aos

capitalistas e vão passando ganhar juros com o pagamento da dívida pelo

Estado.

Classe dos trabalhadores que são aqueles que trabalham por conta de

outrem. Estes, com o passar do tempo, passaram a realizar a mesma

atividade que a classe dos proprietários, isto é, compram títulos de

dívidas nas mãos dos capitalistas para poderem beneficiar dos juros.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

No fundo, todo o mundo acaba por assumir o pagamento da dívida

pública. Ou seja todos acabam por pagar.

CRÍTICAS

1- os factos não mostram que os títulos da dívida pública tendem a chegar

às mãos de todos os contribuintes e nem se quer mostram que os

contribuintes, adquirentes de títulos, tendam a comprá-los de modo a

obterem de juros quando pagam impostos para o serviço da dívida;

2 - não há proporcionalidade entre os juros recebidos e os impostos

pagos.

** Críticas: De Viti pensou que a dívida pública é suportada da mesma

maneira por todas as classes, ou seja nem todas as classes pagam

impostos;

- Mesmo para classe dos capitalistas, quando compram os títulos não

pensam no pagamento dos impostos, mas sim pensando num

investimento não no pagamento de menos impostos;

- Não há proporcionalidade entre os juros que se vai receber e o montante

dos impostos que se vai pagar.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Aula do dia 03.02.2020

RECEITAS PATRIMONIAIS

São receitas que resultam da administração do património do Estado ou

da disposição de elementos do seu ativo e que não tenha carácter

tributário.

Cfr. 202, 205, 206 CC

As receitas patrimoniais podem resultar do património mobiliário e do

património imobiliário.

Receitas do património imobiliário:

património rural; No património rural inclui-se a floresta e tudo o que se

pode encontrar na floresta.

Património predial urbano - edifício que o Estado tem. Há edifícios do

Estado que dão receitas e há aqueles que não dão.

Património do uso coletivo - estradas, pontes etc..

PATRIMÓNIO MOBILIÁRIO

Património financial: São juros que o Estado recebe nas situações em

que concede empréstimos;

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Património empresarial: compra das ações...que possibilite ao Estado

associar-se à empresa contituindo-se uma sociedade mista e as receitas

provenientes desta sociedade para o benefício do Estado constituem o

sem PATRIMÓNIO.

Aula do dia 04.02.2020

Património obrigacional: são todos os patrimónios do Estado

constituídos por crédito.

Património duradouro: são bens que duram para além do período

normal do orçamento. Ex: carros...

Património não duradouro: é aquele que não dura para além do período

orçamental do Estado em condições normais.

Exemplos: Combustíveis

Património de uso e património de rendimento

Património de uso: São de uso, todos aqueles que prestam utilidade

mediante simples utilização por parte dos cidadãos, pode ser gratuita ou

onerosa.

Património de rendimento: são aqueles que geram rendimento para o

88
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Estado.

Ex: campo de futebol.

Au!a do dia 07.02.2020

IMPOSTOS: CONCEITO E FUNÇÕES

Conceito: prestação pecuniária, unilateral, definitiva e coativa.

ELEMENTOS DO IMPOSTO:

1 Prestação; (para mostrar o caráter real dos impostos, estamos perante

uma relação obrigacional. Do lado ativo temos - o Estado e do lado

passivo - os contribuintes.

2 Pecuniária; é uma prestação que se faz em dinheiro.

3 Unilateral; (o Estado quando cobra impostos não vai negociar, ele fixa

abstractamente e ponto final - o contribuinte não pode exigir uma

contraprestação tal como acontece no caso das taxas). É unilateral porque

o Estado é que fixa.

4 Definitiva: o contribuinte não tem direito a reembolso, nem pode exigir

a indemnização pelo sacrifício que consentiu.

5 Coativa. No sentido de ser obrigatório, se o sujeito estiver nas

condições abstractamente determinada é obrigado cumprir, pois estamos

89
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

perante uma prestação ex-lége (decorre da própria lei).

Os impostos São a maior fonte de arrecadação das receitas do Estado.

TÉCNICA FISCAL E SUAS FASES

Conceito da técnica fiscal avançado por professor SOUSA FRANCO:

segundo ele, a técnica fiscal é o processo juridico-financeiro, mediante

o qual se define como é configurado e repartido entre os membros da

sociedade o sacrifício fiscal e como se adapta a formulação genérica

do sacrifício fiscal ao caso concreto, até a efetiva percepção da receita

que, paga por cada contribuinte, ingressa no cofre do Estado.

* Mostra nesta noção que o que o Estado faz é fixar abstractamente

primeiro - Fase estática (fixa abstractamente em que condições vai cobrar

imposto). Este conceito mostra como é que dinheiro vai ser cobrado e

como entra no cofre do Estado.

FASES DA TÉCNICA FISCAL

1ª FASE - Fase estática: corresponde a definição abstrata da

configuração do sacrifício fiscal, descrevendo as circunstâncias

90
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

(incidência) e repartição da carga fiscal.

* Fixa as condições em que a pessoa estando nela, é obrigada a cumprir

com o pagamento dos impostos. É estática porque abstratamente o Estado

já fixou.

2ª FASE - Fase dinâmica: corresponde ao conjunto de operações lavadas

a cabo pela administração fiscal com vista a fazer entrar o dinheiro no

cofre do Estado, abrangendo por isso os trabalhos da verificação, da

cobrança e da arrecadação dos montantes.

* Na primeira fase o Estado legisla, mas nesta fase o Estado manda as

pessoas no terreno para ver que pessoas estão nas condições previamente

determinadas na primeira fase a fim de cobrá-los o imposto.

Esta é a fase em que se concretiza o que abstratamente tinha sido fixado

na lei.

IMPOSTOS BASEADOS NA RIQUEZA E IMPOSTOS

91
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

INDEPENDENTES DA RIQUEZA

Os impostos baseados na riqueza são estabelecidos tendo em conta a

riqueza do contribuinte.

Ex: imposto profissional. Procurar código do imposto profissional.

Os impostos que são independentes da riqueza não considera o

rendimento como fator principal.

Ex: imposto de selo.

IMPOSTOS PESSOAIS VS IMPOSTOS REAIS

IMPOSTOS REAIS: São aqueles que atendem apenas a natureza e o

valor da coisa independentemente da situação pessoal do seu titular.

IMPOSTO PESSOAL: São aqueles que embora tributando rendimento

ou património, procuram levar em conta a situação pessoal do

contribuinte. Leva em consideração o estado civil ou familiar do

contribuinte.

Todos os outros códigos de imposto parcelar tributam sobre o

imposto real excepto o código de imposto complementar.

92
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

IMPOSTOS

Existem três critérios para a distinção dos impostos diretos e indiretos:

Critério Administrativo: de acordo com este critério, o imposto será

direto quando atingir diretamente a riqueza e será indireto quando atingir

indiretamente a riqueza. Considera-se que nos impostos diretos, os nomes

dos contribuintes constam num roll nominativo, o que não existe nos

indiretos.

CRÍTICA

Nem sempre este roll nominativo existe, por isso este critério não é

seguro.

CRITÉRIO JURÍDICO

Este critério é defednido por Otto Maya

O imposto direto é aquele em que a cobrança é precedida de um processo

administrativo de lançamento e liquidação. Através de lançamento e

liquidação já se consegue determinar quem é o sujeito ativo e passivo, o

quanto a pagar e o rendimento.

Os impostos são indiretos quando é dispensável estes processos.

93
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

CRÍTICAS

Há casos em que o imposto é indireto mas existem tais processos

anteriormente citados.

Primeira fase de pagamento do IGV.

CRITÉRIO ECONÔMICO FINANCEIRO

Este define o imposto direto e indireto de duas formas:

1º O imposto é direto quando atingir a riqueza de forma direta, tributando

situações que correspondem a um ser ou estar. Ao passo que o imposto

indireto atinge a riqueza de forma indireta tributando operações que

consistem num fazer.

2º é o chamado critério de repercussão fiscal

Este critério considera os impostos indiretos aqueles que são susceptíveis

de repercussão fiscal.

São diretos aqueles em que a repercussão não é possível.

Repercussão neste contexto significa a possibilidade que alguém tem de

fazer com que através dos mecanismos de mercado que o encargo seja

suportado por outra pessoa.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

CRÍTICA

1 - A primeira fragilidade que este critério apresenta é que há situações

em que os impostos diretos são repercutiveis.

2 - a repercussão depende das condições de encargo. Se o encargo não

funcionar, se não haver concorrência no mercado, este critério não vinca.

A distinção principal é Ver a forma como a riqueza é atingida se é de

forma direta ou indireta.

IMPOSTOS PROGRESSIVOS, REGRESSIVOS E

PROPORCIONAIS

IMPOSTOS PROGRESSIVOS - São impostos cujo valor é fixado em

percentagens variáveis e crescentes a medida que aumenta a matéria

coletável.

Um dos exemplos de impostos progressivos é o imposto profissional.

IMPOSTOS REGRESSIVOS são aqueles em que a percentagem

diminui a medida em que a matéria coletável diminui.

IMPOSTO PROPORCIONAL: São aqueles que têm por base uma

95
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

única taxa. É constante seja qual for o valor da matéria coletável.

Obs: No nosso sistema, a taxa é progressiva.

Aula do dia 11.02.2020

IMPOSTOS ESPECIFICOS E AD-VALOREM

Impostos específicos ensidem sobre quantificações físicas tais como:

- A quantidade;

- O volume;

- Ou peso de determinados bens ou mercadorias.

Ex: IGV

Impostos ad-valorem encidem sobre o valor do rendimento, património

ou consumo do sujeito passivo.

Não estando prevista qualquer alteração das taxas dos impostos uma vez

que a base tributável enside apenas sobre o valor em causa. Ex: Imposto

de SISA - SERVIÇOS DE IMPOSTOS DE SUA ALTEZA.

ITBI - IMPOSTOS SOBRE A TRANSMISSAO DE BENS

IMOBILIÁRIOS. EM PORTUGAL.

96
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

IMPOSTOS DE OBRIGAÇÃO ÚNICA E IMPOSTOS DE BASE

TEMPORAL

Os impostos de obrigação única, são aqueles em que a tributação resulta

de situações não continuada que respeitam aos atos ou factos ocasionais.

Ex: Imposto de SISA. Compra de uma casa...paga-se apenas naquela

situação em que se compra a casa, isto é, paga-se apenas uma única vez.

Imposto de base temporal: são aqueles que periodicamente se renovam

por sucessivos períodos de tributação.

Ex: imposto profissional.

Aula do 14.02.2020

TAXAS, CONCEITO e FUNDAMENTOS

Conceito da taxa: podemos definir a taxa como sendo uma prestação

tributária, que pressupõe ou origina uma contraprestação, resultante de

uma relação concreta (que pode ser ou não benefício) entre o contribuinte

e um bem ou serviço público.

Esta é a noção dada pelo professor Sousa Franco.

97
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

*De acordo com esta noção, não se pode dizer que se trata de um

benefício em concreto porque a contraprestação pode não resultar num

benefício em concreto.

Há uma relação concreta entre o contribuinte e o serviço público.

Utilização de um bem público- ato de utilização que dá origem de pagar a

taxa.

As taxas também fazem parte das receitas fiscais.

FUNDAMENTOS PARA A COBRANÇA DAS TAXAS

Resulta de uma relação concreta do cidadão com o serviço público como

acontece nas custas judiciais;

Utilização de um bem de domínio público;

Remoção de um obstáculo jurídico.

Para a fixação de taxa tem que ser vista dois princípios:

1 - garantir o princípio de livre acesso ou desfavorecer o seu uso

imoderado (abusivo) - Princípio de oportunidade e conveniência;

*Porque o propósito é garantir que todas as pessoas tenham acesso a

determinados serviços. Ex: acesso ao serviço de polícia.

98
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

2 - a justa repartição dos encargos públicos (Princípio do rendimento

fiscal e da justiça distributiva).

Às vezes, o Estado quer garantir uma redistribuição justa e equitativa

entre os membros de uma determinada comunidade. É o que acontece no

caso dos registos obrigatórios ex: registo predial, registo de automóveis...

CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS

As contribuições especiais têm como fundamento o benefício

individualizado, reflexamente resultante da atuação de um sujeito

público.

Nb: as contribuições especiais não têm um regime jurídico a parte ou

autonomizado tal como as taxas.

A contribuição especial é cobrada porque há um benefício

individualizado que a pessoa retira da atuação de um ente público.

Ex: sobrevalorização de imóveis numa determinada zona graças a

construção de autoestrada ou outra infraestrutura que permitiu a tal

sobrevalorização dos imóveis em causa. Em virtude deste facto, o Estado

pode cobrar uma contribuição especial por forma a garantir uma

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

redistribuição.

Por outras palavras, a contribuição especial decorre de uma atividade

estadual que ocasional ou indiretamente produz uma satisfação

individual.

Aula do dia 17.02.2020

TRIBUTOS PARA-FISCAIS ou PARA-FINANÇAS

TRIBUTOS que não obedecem as regras orçamentais, ou seja não

respeitam aos procedimentos que outros impostos são vinculados e

obrigados a seguir.

Contribuição para a segurança social é o exemplo que se dá dos tributos

PARA-FISCAIS.

Nb: é obrigatório a contribuição da segurança social.

Aula do dia 18.02.2020

RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL COM OUTROS RAMOS DE

DIREITO

A primeira relação que aqui vamos analisar é a relação entre o direito

fiscal e o direito constitucional.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

A relação basea-se na chamada “constituição fiscal" onde temos dois

grandes segmentos.

Primeiro segmento, que é clássico, e que pode ser designado de bases

constitucionais de impostos, concretizado fundamentalmente na ideia do

Estado fiscal, no princípio da legalidade fiscal ou da capacidade

contributiva.

O segundo segmento, reside nos principais impostos consagrados nas leis

ordinárias materializado à luz da constituição.

Com base nesses segmentos que podemos afirmar que há uma relação

entre o Direito fiscal e o Direito constitucional.

Cfr. Artigo 86/d CRGB

No direito fiscal podemos apontar duas perpetivas de legalidade:

Perpetiva formal artigo 86/d CRGB

Perpetiva material aferir a capacidade contributiva resultante do primeiro

segmento mencionado supra.

Obs: Esta relação é compreensível partindo do pressuposto de que a

101
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Constituição é a mater legis.

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E O DIREITO

ADMINISTRATIVO

Esta relação basea-se no facto de o Direito fiscal ser um sub-ramo do

Direito administrativo, donde decorre grande parte dos institutos do

Direito fiscal, quer em matéria da organização administrativa fiscal, quer

em sede da atividade administrativa fiscal e da organização judiciária

fiscal (referindo-se neste caso o tribunal fiscal).

Isto é assim porque múltiplos aspectos do Direito Administrativo fiscal

encontram-se regulados no Direito Administrativo. Assim, a organização

dos serviços, as suas atribuições e competências, as formas de

descentração (engloba descentralização e desconcentração) dos serviços,

a relação do emprego público dos seus funcionários, todas as funções

administrativas indispensáveis ao funcionamento da máquina

administrativa.

A forma como os funcionários se relacionam não é a invenção do direito

102
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

fiscal mas sim do Direito administrativo.

* As relações do Direito fiscal com o Direito Administrativo devem-se ao

facto de a atividade financeira implicar o funcionamento dos órgãos que

se enquadram na administração pública.

Aula do dia 21.02.2020

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E O DIREITO PRIVADO

CONCRETAMENTE O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

A relação principal é na mesma senda em relação as outras ciências.

Numa relação obrigacional as partes são credor e devedor, este conceito

de credor e devedor também existe no direito fiscal.

Por exemplo na âmbito dos impostos, do lado do credor temos o Estado e

do lado do devedor temos os contribuintes.

Nas autarquias locais temos os munícipes que cobram determinadas taxas

e munícipes pagam - devedores.

Essa relação obrigacional não foi inventada no direito fiscal.

Tal como no direito das obrigações há deveres assessórios que não têm

nada que ver com a própria obrigação principal. Isso também acontece no

103
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

âmbito do pagamento dos impostos, por exemplo o dever de colaborar.

A relação que de facto podemos estabelecer aqui é que, determinados

institutos do direito das obrigações são os mesmos no âmbito do direito

fiscal. Como havia referido anteriormente, Credor e Devedor.

Aula do dia 28.03.2020

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIREITO PENAL

Costuma-se dizer a propósito que a primeira relação existente entre esses

dois ramos de direito reside no facto de direito penal se construir e

desenvolver em torno do valor da liberdade e o direito fiscal em torno do

valor da propriedade.

Outra relação entre esses dois ramos de direito reside também no facto de

no direito fiscal também existir normas cuja função é a de qualificar

certos comportamentos, traduzidos em ações ou omissões, dos

contribuintes ou de terceiros como infrações, estabelecendo as

correspondentes sanções. Ou seja, o direito fiscal íntegra no seu seio um

setor de diretor sancionatório - o chamado direito penal fiscal.

104
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Um outro ponto de relacionamento entre os dois, encontrámo-lo na

tributação de rendimentos provinientes de atividades ilícitas, por exemplo

a tributação sobre os rendimentos mesmo quando provinientes de atos

ilícitos.

*Na doutrina costuma-se dizer que esses dois ramos de direito são ramos

de direito gêmeos.

Gêmeos porque nasceram em torno de grandes princípios nomeadamente

o princípio da liberdade e o da propriedade.

Em caso do direito fiscal gravita em torno do direito de propriedade.

O direito fiscal tem também normas de cariz sancionatórias tal como o

direito penal.

Aula do dia 02.03.2020

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIP

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIREITO

COMUNITÁRIO

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIP

A relação que podemos estabelecer aqui, basea-se no facto de direito

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

internacional público conter normas fiscais resultantes de convenções

internacionais que vinculam os Estados envolvidos. Em caso de violação

dessas normas os Estados incumpridores podem ser responsabilizados.

No fundo essas convenções contém um conjunto de normas em materia

fiscal e envolvem vários ordenamentos jurídicos, pois são convenções

multilaterais.

No direito fiscal temos um conjunto de normas e se essas normas vão

contra uma norma resultante da convenção, a norma interna fica

derrogada.

Normas fiscais internacionais são normas fiscais resultantes de uma

convenção.

*Apenas vai se cobrar impostos as empresas no país onde a empresa tiver

a sua residência fixa por forma a evitar a dupla tributação.

RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL E DIREITO COMUNITÁRIO

Muitos autores não consideram o direito comunitário como um ramo de

direito autónomo do Direito Internacional Público.

106
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

A relação aqui basicamente centra-se na existência de conjunto de normas

de direito fiscal tanto no plano nacional assim como no plano

comunitário. Pois é uma fonte de rendimento no plano comunitário, na

medida em que os Estados partes, retiram determinada percentagem dos

impostos que efetivamente não vão para os cofres do Estado mas sim são

canalizados para a comunidade.

Portanto no direito comunitário também temos normas do Direito fiscal,

neste caso, refere-se ao Direito fiscal comunitário.

Aula do dia 03.03.2020

ORDENAMENTO JURIDICO FISCAL: AS FONTES

1 - A CONSTITUIÇÃO - numa perspectiva de hierarquia, a constituição é

a primeira das fontes ou modos de revelação das normas jurídico-fiscais -

a chamada constituição fiscal isto é, conjunto de princípios que

disciplinam ao mais alto nível a imposição de sacrifício fiscal dos

contribuintes.

* A nossa constituição da República concretamente no artigo 86º/d -

107
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Princípio da legalidade.

A questão do princípio da legalidade na verdade resulta de uma conquista

do povo. Com o tempo, devido a essas conquistas alcançadas, o executivo

foi obrigado a respeitar o princípio da legalidade mas numa perpetiva

essencialmente formal.

Mas esta tendência foi mudando gradualmente para uma perpetiva

fundamentalmente material do princípio da legalidade.

A principal fonte de Direito fiscal é a constituição.

2- LEIS ORDINÁRIAS EM MATÉRIAS FISCAIS

No caso da Guiné Bissau, temos um conjunto de leis ordinárias mas que

infelizmente não vamos abordar na sua totalidade. Entre elas vamos aqui

destacar as seguintes:

Contribuição industrial, contribuição predial Urbana, imposto

profissional, imposto de capitais, imposto de selos, imposto geral sobre

vendas etc...

3- A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA.

Tem que se ter em conta o princípio da segurança jurídica como sendo

108
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

um princípio basilar do direito.

Aula do dia 10.03.2020

BENEFICIO FISCAL - EXCEPÇÃO AO PRINCÍPIO DA

GENERALIDADE OU UNIVERSALIDADE DOS IMPOSTOS

O Estado incentiva os particulares a participarem no aumento da

produção, produtividade e da melhoria de vida das populações.

Todos os benefícios fiscais atinentes a produção, produtividade e

melhoria de vida da população é benefício fiscal estrito senso.

Os benefícios fiscais em primeira mão, têm que emanar das leis gerais e

abstractas.

*Os benefícios fiscais podem ser concedidas tanto às pessoas coletivas

assim como as pessoas singulares. Caso efetivar-se, essa pessoa por um

determinado período de tempo fica isenta de pagar um determinado tipo

de imposto durante esse período.

A ANP é que determina os requisitos para se conceder os benefícios

fiscais.

109
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

CONFERIR CÓDIGO DE IMPOSTO PROFISSIONAL E CODIGO DE

INVESTIMENTO

MÍNIMO DE EXISTÊNCIA

Corresponde a parcela de rendimento que é indispensável a sobrevivência

da pessoa.

O fundamento do mínimo de existência está no Estado social e com base

na ideia da dignidade da pessoa humana.

Obs: a capacidade contributiva é aferida a partir do rendimento da pessoa.

Aula do dia 13.03.2020

PRINCIPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Este princípio está implícito na ideia Estado de direito democrático

previsto no artigo 3º da CRGB.

Impõe-se ao legislador em dois sentidos:

1º não adopção de normas retroativas desfavoráveis;

2º a restrição da livre revogabilidade e alteração das leis fiscais favoráveis

aos contribuintes.

Este princípio deve existir não apenas no Direito fiscal mas sim também

110
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

nos outros ramos de Direito. Pois é um princípio transversal de Direito.

Este princípio visa garantir certeza às pessoas.

RESPEITO PELOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS

FUNDAMENTAIS

O direito dos impostos não está de todo imune às influências de direitos

fundamentais. É em homenagem a certos direitos e liberdades

fundamentais que algumas constituições estabeleceram que o poder de

criar impostos ficará a cargo do povo.

Depois, a ideia da intangibilidade da dignidade da pessoa humana ao

permitir que os contribuintes não paguem impostos quando os montantes

que têm a disposição sejam insignificantes.

O sistema fiscal tenta também encontrar um justo equilíbrio entre a

eficácia fiscal e a proteção dos direitos e interesses dos contribuintes, a

justiça social, assegurar a igualdade de oportunidades, e operar as

necessárias correções das desigualdades na distribuição de riqueza e do

rendimento através da política fiscal.

PRINCÍPIO DA CONSIDERAÇÃO FISCAL DE FAMÍLIA

111
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Aula do dia 16.03.2020

PANORAMA GERAL DO DIREITO FISCAL GUINEENSE

Apesar de proclamação unilateral da nssa independência a 24.09.1973, o

direito que vigorou no período colonial manteve-se em vigor por força da

lei 1/73 de 24 de setembro.

Como se vê, com a referida lei todo o direito anterior, incluindo o fiscal,

que não contrariava a soberania do direito fiscal manteve-se intacto.

Assim, ocorreu a receção material do grosso do sistema fiscal ao qual

figuravam os impostos parcelares, formalmente dispersos por diferentes

diplomas de natureza real, com taxas progressivas, que incidiam sobre os

rendimentos dos sujeitos passivos e o imposto complementar, que

incidiam sobre os rendimentos globais produzidos no território nacional e

que tem subjacente a ideia de reparar as carências dos impostos

parcelares.

Evidencia-se do exposto que o direito fiscal colonial, apesar de ser um

conjunto sólido de normas e de Princípios jurídicos, não incluía num

112
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

único diploma todo o elenco da disciplina jurídica da realidade fiscal. Foi

esta a realidade transposta e que mantém ainda viva a sua essência.

A REFORMA FISCAL GUINEENSE

A Guiné Bissau conheceu em 1983/84 e em 1997 reformas fiscais. A dita

reforma, sobretudo ocorrida em 1983/ 84 ... Com clarividência que a

percepção académica da reforma difere substancialmente da política.

Segundo afirma Pitta Cunha é difícil definir exatamente o que se entende

por reforma fiscal. Os políticos podem dizer que “pequenas medidas

podem ser uma reforma fiscal" porque lhes convém exaltar o sentido

dado as mesmas medidas, ou invés, que “medidas profundas são uma

reforma fiscal", porque não querem que elas sejam nem demasiado

evendentes. Mas, os académicos têm uma resposta diferente e muito mais

consistente. Para eles, a reforma fiscal traduz-se em “alterações

fundamentais no sistema fiscal instituído no país (...)".

A REFORMA FISCAL DE 1997

Em 1997, houve uma certa inovação no nosso sistema fiscal, com a

introdução de imposto geral sobre vendas e serviços (IGV) através da lei

113
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

nº 16/97 de 31 de Março que, segundo consta do preâmbulo “vem

preencher uma lacuna que se vinha fazendo sentir no nosso ordenamento

jurídico-tributário nacional, apoiando o país no movimento de integração

económica regional e internacional".

Trata-se de um imposto não cumulativo, “ad-valorem" e plurifase,

podendo o sujeito passivo proceder a dedução do imposto suportada nas

fases anteriores, desde que sejam seguidos nos trâmites legais. Art. 3º.

O IGV visa atingir a globalidade do consumo, através de tributação de

todos os bens e serviços ainda que estes, num primeiro momento sejam

limitados aos bens mais relevantes e que permitam uma efetiva

fiscalização.

Introduziu-se também o imposto especial de consumo, recaindo sobre

determinados produtos e mercadorias transacionadas, nomeadamente,

águas gasosas e refrigerantes, cervejas, álcool e bebidas alcoólicas,

produtos petrolíferos, tabaco, viaturas, pólvoras, explosivos, produtos-

pirotécnicos.

O Legislador tomou ainda a opção de atribuir a duas autoridades fiscais

diferentes em matéria de liquidação e cobrança deste imposto, consoante

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

se trata de uma mercadoria importada ou de produção nacional, a Direção

Geral das Alfândegas através da respectiva declaração aduaneira (bilhete

de despacho da mercadoria sempre que os produtos sejam importados nos

termos do nº1 do artigo 3º do código do Impostos Especial sobre o

Consumo (IEC) e a Direção geral de Contribuição e Impostos, tratando-se

de mercadorias de produção nacional, artigo 3º/2 IEC.

Aula do dia 17.03.2020

CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A

CONTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL

A contribuição industrial guineense constitui também um legado de

colonização, à semelhança de úteis impostos parcelares e trata-se de um

imposto cujo regime jurídico consta da decreto 39/83 de 31 de Dezembro.

Importa sublinhar contudo, que, apesar de ser também um imposto

parcelar irreal, distingue-se fundamentalmente dos outros porque incide

sobre o resultado da ação organizada de coordenação dos fatores pelas

empresas; ou seja, sobre lucro e sobre os rendimentos produzidos por tal

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

ação organizada e coordenada.

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