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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020

Aluno Bacar Alfino Mané

República da Guiné - Bissau


Ministério da Educação Nacional
Faculdade de Direito de Bissau

Regente: Me Braima N'Dami


Assistente: Dra. Aniri Bandeira

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Aula do dia 14.10.2019

Manual Base: Professor Sousa Franco

As finanças públicas tanto no sentido objetivo como no subjetivo preocupa em Estudar as


formas como o Estado capta e afeta os recursos públicos para a satisfação dos interesses da
coletividade. Portanto, o Estado fá-lo recorrendo ao jus imperri (poder de autoridade)
lançando mão aos impostos no sentido deste ser forçoso o seu cumprimento, porque o Estado
não negoceia a aplicação dos impostos obrigando o contribuinte a cumprir. Os impostos
resultam de uma decisão unilateral do Estado.

Dizia Aristóteles que o que é do interesse coletivo é o que é mais menosprezado, porque o
homem tende a preocupar-se com a satisfação dos seus interesses particulares.

Nas finanças públicas as taxas não se confundem com os impostos, Em princípio as taxas
pressupõem uma contrapartida.

Finanças privadas são aspetos puramente monetários, em fim é o que fazemos no nosso dia-a-
dia arrecadando receitas para a satisfação dos nossos interesses particulares.

Aula do dia 15.10.2019


INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS
CONCEITO DE FINANÇAS PÚBLICAS

Noção Preliminar; Finanças públicas e Finanças Privadas


Finanças Públicas exige a separação do conceito de Finanças Privadas

Finanças Privadas - Por finanças privadas entende-se os aspetos tipicamente monetários


do financiamento de uma economia ou dos problemas relacionados com a moeda e o
crédito ou mais restritamente pelos mercados financeiros (que são encarados como o local
onde se transacionam os títulos de créditos a médio e longo prazo).
Diferentemente as finanças públicas designam a atividade económica de um ente público
com o propósito de afetar bens a satisfação de necessidades que lhe estão confiadas com base
nos poderes que lhe são confiados. Isto é, tem a preocupação de captar recursos e afetar esses
recursos para a satisfação dos interesses da coletividade.

O FENÓMENO FINANCEIRO
NOÇÕES GERAIS

PRINCIPAIS ACEPÇÕES DA EXPRESSÃO «FINAÇAS PÚBLICAS»

A expressão finanças públicas envolve três sentidos, designadamente:

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Aluno Bacar Alfino Mané

1- Finanças públicas em sentido orgânico: aqui fala-se em finanças públicas para se


designar conjunto de órgãos de Estado (por exemplo ministério das finanças) ou de outras
entidades públicas a quem compete gerir os recursos económicos disponíveis para a satisfação
de necessidades sociais.

2 - Finanças públicas em sentido objetivo: atividade concreta através da qual o Estado ou


outra entidade pública afeta bens (recursos) económicos à satisfação das necessidades sociais.

3 - Finanças públicas em sentido subjetivo: diz respeito a disciplina científica que estuda os
princípios e regras que regem a atividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades
que lhe estão confiadas. No fundo tem que ver com a própria cadeira denominada de finanças
públicas.

Fenômeno financeiro: representa o Estado de relação económica entre as pessoas e


instituições sociais por um lado, e o Estado do outro lado.

Aula do dia 18.10.2019


Sumário: A ECONOMIA DO FENOMENO FINANCEIRO:
ECONOMIA PRIVADA, SOCIAL E PÚBLICA
A atuação económica das pessoas, dos grupos e da sociedade pode ser exercida de diferentes
formas. Em alguns casos achamo-nos perante indivíduos, famílias ou organizações de base
contratual que, na produção, no consumo, na repartição ou ainda na circulação, atuam como
organizações de mera base contratual na satisfação das respetivas necessidades segundo
critérios essencialmente individuais. Trata-se da economia privada, em regra contratual.

SEGUNDA FORMA - COOPERATIVA (ECONOMIA SOCIAL)


Outras vezes, estamos perante organizações que visam satisfazer necessidades segundo a
lógica de grupo ou chamada a lógica cooperativa, recorrendo a disciplina institucional interna
do grupo mas sem possibilidade de recorrer a mecanismos coativos externos. São exemplos
da economia comunitária, cooperativa ou coletiva.

*Aqui a lógica é cooperativa e não privada propriamente mas podem ter regulamentos
internos que podem sancionar as pessoas que infringirem as regras internamente isto é, são
vinculativas apenas aos membros da organização cooperativa. Nas cooperativas o propósito
não é obtenção de lucros.

Enfim, as pessoas podem associar-se em organizações políticas, que visam o interesse


geral de sujeitos indeterminados, indo assim para além de simples satisfação de necessidades
sociais comuns. Por isso recorrem a poderes de autoridade no sentido duplo:

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1º sentido- da produção de perceitos sociais obrigatórios (leis) que impendem sobre todos,
mesmo para quem não participou na respectiva elaboração.

2º sentido - resulta da possibilidade de recorrer se necessário a coação por parte dos órgãos da
instituição. Temos assim a chamada economia pública, que assenta a partida, na existência de
uma solidariedade organizada e dotados de poder político.

Na economia pública temos um número indeterminado de pessoas e a atuação do Estado é


baseada no princípio da solidariedade e não na obtenção de lucros visto que o «Estado é uma
pessoa de bem». Apesar de em algumas situações o Estado atua na lógica do mercado
permitindo o Estado obter ganhos e que depois são partilhados para a comunidade afim de
poderem sentir o efeito útil dos ganhos obtidos pelo Estado.

Aula do dia 21.10.2019


Sumário: O PODER E A ECONOMIA:
ORDENAÇÃO, INTERVENÇÃO E ATUAÇÃO ECONÓMICAS
São as três formas da relação entre o poder e a economia que podemos encontrar em todos os
países independentemente do sistema económico vigente.

*Quando se fala da ordenação estamos a pensar sobretudo na perspectiva do legislador, no


sentido de permitir efetivamente perceber-se como o poder quer que a economia seja
organizada porque é o poder político que traça qual o rumo que a economia deve seguir
traçando o quadro geral para o desenvolvimento da economia.

ORDENAÇÃO ECONÓMICA
Cabe aos poderes públicos estabelecer quadro geral que toda a atividade económica deve
obedecer (contendo a filosofia traçada pelo próprio Estado). A máquina política e
administrativa, em larga parte procede assim a definição do enquadramento da vida
económica, designadamente de natureza jurídica e social bem como a estrutura da atividade
económica e condiciona a atuação dos agentes económicos. No fundo consiste no
estabelecimento das regras para condicionar os sujeitos económicos.
Obs: Se a filosofia do quadro jurídico for liberal veremos uma pouca intervenção do Estado
na economia.

*Um primeiro aspeto desta ordenação resulta naturalmente da definição e execução de uma
doutrina ou política económica e social seguida pelo Estado: abstencionista, liberal, socialista,
comunista etc.

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Se a filosofia for abstencionista a tendência do estado é abster-se de intervir nas atividades


económicas.

INTERVENÇÃO ECONÓMICA
A intervenção económica é o modelo que visa alterar concretamente o que seria a atividade
livre e normal dos sujeitos económicos. Portanto, a intervenção económica pressupõe antes a
liberdade de atuação económica. O Estado procura apenas modificar a atuação normal ou
comportamento dos sujeitos económicos por via de política económica.
Obs: a intervenção do Estado acontece de diversas formas...

ATUAÇÃO ECONÓMICA
Aqui o Estado ele próprio desenvolve política de sociedade - uma atividade enquanto
sujeito económico e social.
Em todos os tempos na história da humanidade encontramos zonas de atividade económica
ligadas com os fins e funções do Estado e que foram exercidos pelo próprio. Exemplo: áreas
como de segurança, justiça e bem-estar implicam em termos efetivos a administração de
diversos bens raros a qual de “per si" é a atividade económica.

DIFERENÇA ENTRE A INTERVENÇÃO E A ATUAÇÃO ECONÓMICA


Na intervenção económica o Estado toma medidas para alterar o comportamento dos
sujeitos económicos.
Na atuação económica tem que ver em termos restritos com à cobrança dos impostos que
depois são canalizados para a satisfação dos interesses da coletividade.

NB: a questão ligada a segurança conclui-se que é uma atividade económica porque na
verdade o Estado cobra os impostos e depois canaliza-os para as áreas ligadas a segurança do
Estado.

Aula do dia 25.10.2019


Sumário: ATIVIDADE FINANCEIRA

A atividade financeira: corresponde a utilização de meios económicos (meios


objetivamente raros susceptíveis de aplicações alternativas) por entidades públicas ou
pela própria comunidade com o propósito de satisfazer necessidades comuns. Noção
dada pelo professor Sousa Franco.

Problema do Mosquito portador de paludismo: como combaté-lo?


Ele propõe as seguintes soluções:
- não sair de casa;

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- não sair de casa mas colocar ar condicionado tornando a casa mais confortável;
- sair de casa mas usando repelentes;
- uso de repelentes no jardim de casa por exemplo;
Obs: todas essas soluções alternativas não são 100% eficazes.
Salvo pulverização aérea que é mais eficaz e custoso. Mas a questão que se coloca é quem é
que vai custear a pulverização aérea?

O Estado ou outra entidade pública pode porque tem meios coercivos a seu favor, e pode
direta ou indiretamente recuperar os custos daquele investimento por meio dos impostos.

Antes da tomada de grandes decisões económicas há sempre questões que são levantadas por
exemplo:
- porque são certas atividades prosseguidas pela ação coletiva privada e outras pela ação
coletiva pública?
- como se decide sobre a quantidade do bem coletivo público a produzir e sobre a quantidade
de recursos a atentar-lhe?
- como distribuir os custos da provisão de bens coletivos entre os membros da coletividade?
- como são tomadas as decisões coletivas, a partir das preferências individuais?
- como são distribuídos os benefícios e os custos?

A OTIMIZAÇÃO SOCIAL E SEUS CRITÉRIOS TEÓRICOS


A questão geral que se levanta para atingir essa otimização ou bem-estar social é: porque é
que há necessidades que são satisfeitas pela comunidade (ou pelo Estado), ao passo que
outras o são pelas pessoas e pelos grupos?
R: a resposta irá depender do tipo de economia em vigor num país. Ser for numa economia de
mercado a resposta é dada pelo próprio mercado.

*Numa economia de mercado o Estado atua em última ratio.


Mas se for numa economia dirigida (planificada) quem vai responder essas questões é o
Estado porque o Estado aqui substitui o próprio mercado.

Obs: Os bens produzidos fora do mercado isso leva-nos a reconhecer a incapacidade ou falhas
do mercado. Portanto se existir falhas o Estado intervém.

Isso em primeira linha pressupõe que temos que estar numa sociedade politicamente
organizada (Estado). Esta é uma das condições essenciais para a teoria que defende a
otimização social;

Competição entre os diferentes atores que intervêm no mercado. (No fundo os atores são

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rivais entre si); mais ou menos é o que acontece nas sociedades capitalistas onde em primeira
linha preocupa-se com a satisfação dos interesses individuais afastando-se o princípio da
solidariedade, que a atitude do Estado em relação a provisão de bens disponíveis seja passiva
- não ativa.
Que a afetação de recursos nessa sociedade se faz através dos mercados livres
tendencialmente em concorrência pura e perfeita.

Obs: quando os vendedores competem entre si isso poderá provocar a produção de bens em
melhores qualidades.

Aula do dia 29.10.2019


Sumário: A ECONOMIA DE BEM-ESTAR

A luz da economia de bem-estar que tem como pressupostos o individualismo, racionalismo


e hedonismo, fornece a melhor base de análise das situações em que o mercado não é capaz
de satisfazer da melhor maneira possível os interesses de todos os membros de uma
comunidade. Ela explica teoricamente as regras para a formulação de juízo de valor (que
nunca pode derivar diretamente e apenas de juízos de realidade: regra de Hume).
Sobre situações globais e finais de economia. Por outras palavras, é uma concepção que
aponta para o equilíbrio que não é mecanicista e nem moralista, o que é chamado pelo Rawls
de equilíbrio reflexivo.

Obs: Essa teoria de bem-estar é uma teoria que aposta firmemente no individualismo,
racionalismo (razão) e no hedonismo (filosofia que surgiu na Grécia antiga e significa
hedona, prazer ou vontade) e o bem supremo para eles deve ser a satisfação da nossa vontade.
Para estes autores o Estado tem que fazer as pessoas perceberem as suas decisões sem que no
entanto tenha que usar mecanismos extras de intimidação ou condicionamento para impor as
pessoas por exemplo a pagarem impostos. Qualquer coisa que vai contra a vontade das
pessoas estaria-se a violar o direito dessas pessoas. Portanto, segundo eles, o Estado tem que
pautar pelo equilíbrio reflexivo.

* TEORIA DE PIGOU (em relação a teoria de bem-estar)


Ele aplicou critérios de bem-estar aos estudos de distribuição de recursos entre setor público e
privado - como entre os sujeitos da economia em geral, partindo do pressuposto que cada
indivíduo recebe utilidades da utilização ou consumo dos bens públicos, e o pagamento de
impostos para financiar bens é uma desutilidade para os indivíduos, pois, são obrigados a
sacrificar o consumo privado para pagar os impostos.
Para cada pessoa o ponto ótimo de oferta de bens públicos é o ponto em que a utilidade

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marginal dos bens públicos é igual a desutilidade marginal do imposto: se pagasse mais
impostos, a sua utilidade marginal implicava mais sacrifício do que benefício obtido dos bens
públicos; se pagasse menos impostos, então a utilidade do último bem privado corresponderia
a desutilidade marginal do bem público que obtinha. Este princípio aplicado a todos os
indivíduos, regerá a afetação ótima dos recursos individuais entre bens privados e bens
públicos.

*No fundo quer mostrar que deve existir um ponto de equilíbrio entre aquilo que
pagamos e o serviço público prestado pelo Estado. Caso contrário estaríamos em
desutilidade.

Desutilidade: corresponde ao esforço ou sacrifício.


Desutilidade marginal: é o último sacrifício.

CRÍTICAS À TEORIA DE PIGOU


1ª limitação: toma a utilidade em termos cardinais e não apenas ordinais; * (não faz sentido
estarmos a enumerar as utilidades dos serviços públicos prestados pelo Estado);

2ª admite que as apreciações subjetivas são comparáveis; * (não levou em conta que a
apreciação que as pessoas fazem do serviço público que o Estado presta são incomparáveis
porque a apreciação é subjetiva, varia de indivíduo para indivíduo);

3ª não fornece nenhum mecanismo de agregação de ótimos individuais para determinar um


ótimo social; * Para atingirmos o ótimo social teríamos que fazer o somatório dos ótimos
individuais para podermos atingir o ótimo social, facto que não foi revelado na teoria do
PIGOU. Mas mesmo assim não seria possível atingirmos o verdadeiro ótimo social porque
desde logo as apreciações individuais são subjetivas.

Para PIGOU a distribuição do sacrifício entre os indivíduos assentaria em duas ideias


principais:
Iª O máximo do bem-estar social resultaria da igualdade entre todos, porque só assim seriam
iguais todas as satisfações marginais de todos os indivíduos;

IIª A distribuição de carga fiscal deve basear-se nos princípios de que todos os indivíduos
devem ser tratados da mesma forma.
Tanto a primeira ideia como a segunda não são exequíveis numa sociedade. A primeira ideia
poderia colocar em risco a liberdade e tornaria impossível a manutenção de níveis elevados de
poupança.

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A segunda ideia ao concretizar-se obrigaria a que as situações desiguais fossem comparáveis e


é sobejamente defendido que o sacrifício fiscal deve ser repartido de acordo com a capacidade
contributiva de cada cidadão.
Portanto deve-se tratar as situações iguais de forma igual e as situações diferentes de forma
diferente.

Aula do dia 01.11.2019


Sumário: TEORIA DE PARETO

Este autor, na sua pesquisa, deu apenas uma explicação para a mera definição de critérios de
melhoria do bem-estar («eficiencia económica») em relação às situações anteriores, como
efeito de decisões económicas pontuais (ótimo relativo ou ótimo de PARETO).
Para os clássicos, o bem-estar comum era a mera soma de utilidades individuais:
Quanto maior fosse (utilidades individuais) maior ele seria (neste caso, o bem-estar).
PARETO e BARONE formularam uma concepção do bem-estar relativo, segundo a qual
numa dada situação a determinação do bem-estar assentaria nos seguintes pressupostos:

1º cada pessoa é o melhor juiz do seu próprio bem-estar;


2º o bem-estar social é função apenas do bem-estar de cada um dos membros da sociedade;
3º se o bem-estar de uma pessoa é melhor na situação X do que na situação Y, e se o bem-
estar de todos os outros não é menor em nenhuma das duas, então o bem-estar social é maior
na situação X do que na situação Y.

Obs: o pressuposto base é sempre o bem-estar individual.


Generalizando este critério, pode dizer-se que é relativamente eficiente em termos paretianos,
qualquer melhoria do bem-estar que não afete a situação dos restantes membros da sociedade;
uma situação que corretamente não pode dizer-se ótima e eficiente quando não for possível
nenhuma melhoria na situação de qualquer dos membros sem prejudicar os restantes.
Conforme esse critério, o êxito de uma situação é atingido se, e somente se, for
impossível aumentar a utilidade de uma pessoa sem reduzir a utilidade de outra.
*Se as situações dos demais não é pior, para o PARETO o bem-estar é eficiente.

Aula do dia 05.11.2019


Sumário: CAUSAS DA INCAPACIDADE DO MERCADO
Primeira situação da incapacidade do mercado
Bens coletivos ou bens puramente públicos: são bens que para um determinado nível de

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existência ou provisão do bem, a utilização por uma pessoa não prejudica minimamente a sua
utilização por qualquer outra. Ex: Caso de um farol, da defesa nacional, patrulha costeira, do
funcionamento dos órgãos de soberania. * Porque há determinados bens que têm que estar ao
alcance de todos mesmo que a sua produção não seja suficiente para todos ou na sua plenitude
mas de certa forma as pessoas sentem o reflexo disso, porque as pessoas em certa medida não
se sacrificam para obtenção de determinados serviços prestados pelo Estado. Por exemplo o
caso da Segurança.

Ao contrário, os bens individuais ou puramente privados se são consumidos por uma pessoa
em determinada quantidade não podem ser consumidos por outra.
Ex: o pão que o A come não pode ser consumido por B.

Sumário:
CARACTERÍSTICAS TÍPICAS DOS BENS COLETIVOS

1ª são bens que são por natureza proporcionadores de utilidades indivisíveis e proporcionam
satisfação passivas; Ex: iluminação pública (se eu tiver a tirar a utilidade dessa iluminação
não posso impedir que outra também o tire).

2ª em regra, são bens não exclusivos; (pode haver maior ou menor exclusão ainda que
artificial).

3ª são bens não emulativos que significa que os seus utilizadores não entram em concorrência
para conseguir a sua utilização; Ex: Segurança por parte da força de defesa e segurança.

*Essas características mostram claramente que esses bens não podem ser produzidos por
particulares porque esses tendem a procurar lucros enquanto que o Estado preocuparia em
satisfazer os interesses públicos.

CUSTOS DECRESCENTES E O EFEITO DO MONOPÓLIO


A produção dos bens é regida normalmente pela lei de proporções definidas, segundo a qual
existe um ponto ótimo nas combinações de fatores produtivos em que os custos de produção
por unidade é o mais baixo possível com excepção de casos de melhoria por alteração da
própria combinação produtiva ou de melhor técnica, como as economias de escala. Até ao
ponto ótimo, os custos de produção são normalmente decrescentes. Depois dele (ponto ótimo)
entra-se na fase dos custos crescentes isto é, o custo da unidade marginal.

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*Se ultrapassar o tal ponto ótimo os custos a apartir daí vão aumentando.

*Se os custos de produção estiverem a decrescer, quem produz melhor e tem mais condições
para a produção faz com que este permaneça no mercado obrigando deste modo o
afastamento dos outros. Desde logo quem controla o mercado vai começar a praticar atos com
vista a condicionar os consumidores.

AS EXTERNALIDADES E A ATIVIDADE PÚBLICA (OUTRA CAUSA DE


INCAPACIDADE DE MERCADO).

A interdependência entre as pessoas em sociedade gera situações difíceis de regular: na


verdade as decisões de um consumidor ou de um produtor refletem-se por vezes positiva ou
negativamente sobre outras pessoas que com elas nada têm que ver, proporcionado-lhes
utilidades externas (benefícios) ou impondo-lhes desutilidades externas (custos)

Aula do dia 11.11.2019

Sumário:
PROVISÃO (distribuição) PÚBLICA DE BENS (Como forma de suprir a incapacidade do
mercado).

a) FORMAS DE SUPRIR AS INCAPACIDADES DE MERCADO.


Com o propósito de garantir níveis aceitáveis de bem-estar social, admite-se atuações
corretivas e supletivas dos sujeitos económicos não dominados pela lógica do mercado.

*Quer dizer que determinadas entidades públicas (por exemplo o ESTADO) é uma entidade
que não atua em funções das regras do mercado porque aqui os sujeitos económicos privados
quando atuam é para obterem lucros, mas o Estado visa outros fins (por exemplo a satisfação
dos interesses da coletividade) apesar de em algumas situações ele atua como um ente
privado. O Estado enquanto entidade que interpreta as necessidades da coletividade atua por
forma a corrigir as falhas do mercado.

*Ao fazer a provisão dos bens o Estado tem que pensar nos domínios da segurança,*
saúde, justiça, segurança social etc...porque o Estado não pode abdicar dessas
responsabilidades com o fundamento na lógica do mercado.
A provisão pública de bens tem que ver com a atividade que o Estado faz com vista a garantir
necessariamente que as pessoas em situações precárias tenham acesso à esses bens e serviços
públicos essenciais para a vida dos cidadãos. *

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A questão de segurança deve ser deixada integralmente ao critério do Estado.

FINANÇAS, DOUTRINA E SISTEMAS ECONÓMICOS

SISTEMAS E ESTRUTURA
*Conforme as estruturas podemos interpretar duma ou outra forma o sistema econômico de
um determinado país.

A atividade financeira configura-se de forma diferente consoante o sistema econômico e


social em que se concretiza.
Sistema econômico em geral - quando se fala de sistemas económicos em geral pensa-se em
formas típicas de organização e funcionamento da sociedade em geral e da atividade
económica em particular. * Isto é, maneira como opera a organização e funcionamento numa
sociedade, mas quando se fala dos sistemas económicos tem que ver com a forma como uma
economia está estruturada e funciona.

Sistemas abstractos: por um sistema abstrato nós podemos entender como um tipo ideal de
organização e funcionamento de uma sociedade centrada em duas ideias fundamentais: a
primeira ideia fundamental é a ideia da economia livre ou descentralizada, a segunda ideia
é da economia de direção central total.

NB: Estes sistemas são influenciados pela doutrina.

*Durante a revolução industrial passamos a ter dois grandes sistemas em afronta que são:
sistema capitalista (aqui é presente a ideia da economia livre) e coletivista (em que está
presente as ideias da direção central).

Sistema concreto: é tipo de organização e funcionamento da atividade económica


suficientemente diferenciado dos outros e aplicável em diferentes estruturas.

*Ou seja quando estamos a falar de capitalismo por exemplo, estamos a falar de um sistema
em concreto, porque é aplicável em qualquer latitude e pode ter sucesso se for aplicado de
forma conviniente em qualquer estrutura de um país.

CARACTERÍSTICAS TIPICAS DO SISTEMA CAPITALISTA


a) Existência de um conjunto de instituições jurídico-sociais típicas (capital e empresa);
b) existência de um conjunto de princípios e leis económicas fundamentais (propriedade
privada (que o Estado é obrigado a respeitar) iniciativa privada (também fundamental dentro
do sistema capitalista (liberdade de contratar, liberdade de formar empresa, liberdade de

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trabalho);
c) é móbil específico (obtenção de lucro).

Aula do dia 15.11.2019


OS REGIMES ECONÓMICOS E AS DOUTRINAS
Como ficou assente na aula passada, as estruturas em que os sistemas são aplicados, são
bastante diferentes entre si por um lado, por outro lado, a articulação entre o poder político e a
atividade económica pode fazer-se também de maneiras diferentes. O que pode originar
diferenças a nível do funcionamento do sistema, que podem ser designados de regimes
económicos.

*Regime económico pode ser também definido como sendo a forma como o poder político se
relaciona diretamente com a economia.
O professor Felipe Falcão entende que é difícil emplementar o capitalismo na Guiné Bissau...

No sistema capitalista destacam-se dois tipos de regimes económicos fundamentais que são:
LIBERALISMO E INTERVENCIONISMO no sentido lato.

Liberalismo: deve existir multiplicidade de direitos económicos dos sujeitos económicos


num determinado mercado, relegando o Estado para o segundo plano onde o assento tônico é
apontado aos indivíduos.

No intervencionismo: o Estado é que dita as regras (normas jurídicas) e condiciona o


funcionamento do mercado ou atuação dos sujeitos económicos. O Estado pode até criar uma
entidade pública para atuar em determinados setores por exemplo: energia, exploração
petrolífera-PETROGUIN o caso da Guiné-Bissau etc...
Numa economia do mercado, o mercado é que ordena, o Estado não altera de forma alguma o
funcionamento do mercado.

Fala-se de intervencionismo mesmo dentro do sistema capitalista.


*Dentro da intervenção económica temos a Ordenação e a intervenção no sentido restrito.

DOUTRINAS
A partir do século XIX, surgiram muitas doutrinas que passamos a citar:
 Individualismo - (enquadra-se e muito no capitalismo, tem assento tônico na
proteção do indivíduo), o Estado serve como um meio de prossecução dos fins
individuais agregados contratualmente;
 Concepções solidaristas - (doutrina que influencia o sistema socialista)
 Doutrinas organicistas - (encontramos os seus traços nos sistemas socialistas, a

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sociedade deve ser organizada com base nas ideias defendidas pelo Estado. A ideia
base aqui é de mostrar que deve existir uma organização ou entidade suprema que vai
organizar o resto das estruturas não sendo o mercado a organizar).
 Doutrina do transpersonalismo social (mostra que o Estado está acima de qualquer
indivíduo ou instituição social, esta ideia pode ser encontrada muito presente no
marxismo ou comunismo).

Aula do dia 18.11.2019


LIBERALISMO E FINANÇAS NEUTRAS

Podemos distinguir quatro perspectivas fundamentais dentro do liberalismo em relação as


finanças públicas:

1º - Privatização da economia: que significa que ao Estado compete apenas criar as


condições que permitam a sociedade manter-se organizada e estável, defendendo a
propriedade privada e a iniciativa privada.
*O estado reduzia-se a funções tradicionais: segurança, justiça etc...cobrança dos impostos...
do resto deveria ser desenvolvida pela iniciativa privada com o intuito de garantir a melhor
competitividade e consequentemente a produtividade.

2º - Setor público reduzido: é reduzido substancialmente comparativamente aos períodos


históricos anteriores, desfazendo-se o Estado de muitas atividades que vinha desenvolvendo.
No geral, no liberalismo o Estado não pode ir além dos 10 a 15% do produto nacional. O que
significa que cabe essencialmente aos privados a criação da riqueza. No domínio produtivo o
Estado abandonou até atividades produtivas que tradicionalmente vinha exercendo e reduziu o
seu património, que aumentara durante o mercantilismo.

*Isto é, em termos da riqueza produzida o Estado não pode ir além dos 15%, por outras
palavras quer dizer que 85% fica nas mãos dos particulares.
Esta ideia está relacionada à primeira perspetiva.
Hoje em dia, os países Europeus que foram muito influenciados pela doutrina liberal os seus
cidadãos são muito sufocados com as cargas fiscais (impostos). Ex: Reino Unido, Inglaterra,
França etc...
Há quem diga que os impostos elevados não ajudam no crescimento económico, apesar de
outros entenderem o contrário.

3º - Princípio do mínimo: segundo esse princípio, qualitativa e quantitativamente, a

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atividade financeira (para arrecadar receitas) deve reduzir-se ao mínimo indispensável,


absorvendo a menor parcela possível do rendimento nacional.
*O estado não pode absorver grande quantidade da riqueza produzida.

4º - simplicidade das finanças públicas: de acordo com essa perspectiva, o Estado cobra
apenas a administração tradicional de uma maneira uniforme e homogénea não se justificando
por isso a criação de empresas públicas, de administrações autónomas ou complexos regimes
de especialização financeira.

*Ou seja temos aqui uma característica essencial do pensamento liberal em que se defendem
que as finanças públicas têm que ser bem simples. Por causa dessa ideia de simplicidade o
Estado não podia ter empresas públicas (que depois não saberá gerir convinientemente) e nem
criar estruturas autónomas porque estes comportam regimes jurídicos complexos, muito
menos entrar em engenharias financeiras complicadas segundo esta perspectiva.
Ainda essa perspectiva entende que o Estado tinha que ser neutro ou seja abster-se das
atividades económicas, deixando essas atividades aos privados. Portanto as finanças tinham
que ser neutras, permitindo que o Estado atue apenas como um mero espectador.

Portanto aqui o mercado é que substitui o Estado.

A TRANSIÇÃO PARA AS FINANÇAS INTERVENCIONISTAS


Principais fatores de mutação:
1º a evolução interna das economias liberais: uma das razões tem que ver com os próprios
partidos trabalhistas ou partidos de esquerda que começaram a lançar exigências ao Estado no
sentido deste desempenhar um papel mais ativo.
A ideia do Estado ter mais recursos por forma a alimentar as forças armadas e se um Estado
for muito livre como é que podia sustentar as forças armadas? Portanto o Estado tem que
exercer atividades lucrativas porque a modernização das forças armadas exigia mais meios e
recurso por parte do Estado.

2º surgimento de movimentos doutrinais e teóricos como de John M. Kanes e Wicksell


(da escola de Stocolmo)
Estes movimentos começaram exigir do Estado outro papel, as igrejas também começaram a
precionar mais o Estado no sentido de satisfazer os mais necessitados e promover a igualdade
social.

3º existência de factos marcantes da evolução económica do século XXI:


primeiro facto marcante é a primeira GM que representou um enorme esforço militar em

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economia de guerra e forçou o Estado a assumir a orientação da economia numa clara rutura
com o liberalismo.
No período pós guerra, caracterizado por uma depressão e instabilidade sobretudo na Europa.
Outro aspecto que podemos chamar a colação é a crise de 1929 e a consequente depressão
com enorme volume de desempregados e o sub-aproveitamento dos fatores de produção.
Segunda GM com o reforço de blocos socialistas e a necessidade de maior intervenção do
Estado para garantir a reconstrução da Europa.

INTERVENCIONISMO FINANCEIRO E AS FINANCAS ATIVAS

a) O intervencionismo e o dirigismo
Na fase do capitalismo tardio, tal como designou o Werner Sombart, o conceito do
intervencionismo Estadual correspondente a doutrina segundo a qual o Estado tenta corrigir
as falhas do mercado em todas as suas dimensões, alterando os aspetos ineficazes, injustos e
inconvinientes, mas sem alterar os princípios fundamentais do sistema do mercado.

*No fundo é o que temos no intervencionismo.


O Estado tem um papel muito mais ativo condicionando a atuação dos sujeitos económicos.

No dirigismo económico, o Estado propõe determinados objetivos globais que hão de guiar a
atuação de todos os sujeitos económicos.
* Temos aqui uma diferença qualitativa entre o intervencionismo e o dirigismo. No
INTERVENCIONISMO temos apenas a ideia de correção que o Estado é chamado a efetuar
mas quando se fala do dirigismo o Estado tem um papel muito mais ativo, porque fixa metas
ou objetivos que todos devem seguir (privados) incluindo ele próprio - Estado.
Mas tudo isto é no âmbito de um sistema capitalista não coletivista.

Nesta fase, as finanças públicas passam a ter uma função mais ativa diferentemente do
princípio da privatização da economia que inculca a ideia de subordinação do setor público ao
privado. Em síntese pode dizer-se que as finanças públicas ganham autonomia e o Estado
passa a satisfazer mais as necessidades coletivas fora das necessidades tradicionais.

* Nas finanças Ativas O Estado passa a ter uma posição preponderante por causa das
necessidades que visa satisfazer passando a assumir outras missões que não limitam apenas na
satisfação das necessidades que são tradicionais.

b) Equilíbrio entre a economia pública e privada;


*O Estado deixa de ser aquele mínimo tal como defendiam os liberais.

16
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

c) regra do ótimo;
Ao contrário da regra do mínimo, o critério definidor do setor público estabelece-se em
obediência à regra do ótimo no sentido de que o Estado tenta satisfazer mais necessidades
procurando atingir o ótimo social.

d) Dimensão crescente do setor público;


O setor público passa a abarcar entre 30 a 50% do rendimento nacional.
* O Estado tende a absorver mais riquezas produzidas, passando a ser um Estado mais ativo e
detentor de empresas públicas.

e) Pluralidade e complexidade do setor público;


Nesta fase o setor público alarga-se consideravelmente, multiplicam-se as empresas públicas,
cresce o peso dos impostos e aumenta também o recurso aos empréstimos públicos: as
finanças estaduais, que eram simples, assumem crescente complexidade, pelas novas funções
que assumem.

f) A integração entre a economia e finanças


Os liberais defendiam o contrário mas aqui a economia integra as finanças.

g) As finanças passam a ser funcionais e ativas


O Estado abandona a posição de neutralidade e passa a influenciar o comportamento dos
privados.

h) Afirmação predominante dos direitos económicos e sociais;


I) Ressurgimento do património;
j) Saturação fiscal.

Aula do dia 22.11.2019


SISTEMA ECONÓMICO COLECTIVISTA

GENERALIDADES
Caracterizam os sistemas colectivos três traços tais como: a apropriação pública dos meios
de produção, o papel central do plano como super-lei e o interesse estatal, a
solidariedade e o bem-estar colectivo como motivações dominantes.

17
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

O caso paradigmático é o da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, onde por o
Estado ser o principal produtor pergunta-se ser correcto falar da fronteira entre actividade
financeira e economia privada. A resposta afirmativa decorre de se reconhecer que se justifica
a distinção entre o sector público administrativo e o sector público produtivo, entre o
orçamento e a actividade empresarial do Estado.

Embora as instituições sejam idênticas às dos sistemas capitalistas as funções diferem e


passamos a estudá-las.

FUNÇÕES DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS


A primeira função dos instrumentos financeiros, na fase revolucionária de implementação do
socialismo, é a de desapropriação.

Na fase de transição os instrumentos financeiros visam assegurar actividades colectivas


essenciais não produtivas, o equilíbrio sectorial e regional na distribuição dos recursos; o
orçamento funciona como instrumento da execução do plano e de canalização de recursos
estéreis para o funcionamento das actividades públicas ou socialmente úteis.

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS

Podem apontar-se como características fundamentais dos instrumentos financeiros:


a) A relevância do orçamento na execução do plano;
b) Relevo das receitas patrimoniais;
c) Reduzida pressão social;
d) Equilíbrio orçamental.

FINANÇAS PÚBLICAS E SISTEMAS COLETIVISTAS


Os sistemas coletivistas do século XX podem caracterizar-se por três grandes traços:
 Apreensão pública dos meios de produção (com o desaparecimento tendencial da
propriedade privada);
 A subordinação vinculada ao plano;
 A existência de motivações dominantes de interesse estatal, solidariedade social e o
bem-estar coletivo.
* Apreensão pública dos meios de produção: esta é a característica presente em todo os
sistemas coletivistas do século.
Estes sistemas tiveram força na África depois da colonização. Aqui desaparece
tendencialmente a propriedade.
Ao contrário do que acontece no capitalismo em que o estado só vai poder assumir aquilo que

18
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

é desprezado pelos privados.


O Estado nacionaliza os principais meios de produção. Por isso, que se disse que aqui há uma
tendência de desaparecimento, aliás, a destruição da propriedade privada.

VINCULAÇÃO OBRIGATÓRIA AO PLANO ECONÔMICO TRAÇADO PELO


ESTADO
Aqui todos são obrigados a seguir o plano económico que o Estado traça. Quer dizer, este é
um plano que vincula que os privados como as públicas.
Tudo gira em termos de plano.

MOTIVAÇÕES DOMINANTES
Aqui ao contrário do que acontece no capitalismo que é de ganhar lucro, no coletivismo as
motivações é a solidariedade social. O móbil específico do coletivismo é a solidariedade
social.

FUNÇÕES DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS


Na fase revolucionária d implantação do socialismo os instrumentos financeiros
apresentavam-se como um meio idóneo para desapropriar...

Aula do dia 25.11.2019


O ESTADO E O SETOR PÚBLICO

O termo Estado refere-se a qualquer país soberano, com estrutura própria, politicamente
organizada, bem como designa o conjunto das instituições que controlam e administram uma
nação. É uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando um território ...
normalmente onde a lei máxima é a constituição escrita, dirigida por um governo também
possuindo soberania reconhecida interna e externamente.

Setor público é uma parte do Estado que lida com a produção, distribuição e entrega de bens
e serviços por e para o governo ou para os seus cidadãos.

Há serviços que o setor público coloca a disposição da comunidade a título gratuito.


Ex: serviços de consulta gratuita às crianças até uma determinada idade.

Também há serviços que o setor público coloca a disposição da comunidade a título quase
gratuito. Ex: o caso das prestações paga na FDB em comparação ao que se pratica em certas
universidades privadas.

Ainda presta serviços comercializáveis.

19
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Ex: EAGB

O professor Sousa Franco define o setor público em duas perspectivas:


1º Em sentido objetivo: concebe-o como conjunto das atividades económicas de qualquer
natureza exercidas pelas entidades públicas (Estado, associações e instituições públicas, quer
assentes na representatividade e na descentralização democrática, quer resultantes da
funcionalidade-tecnocrática e da desconcentração por eficiência).

2º Em sentido subjetivo: já em sentido subjetivo o setor público é visto pelo professor Sousa
Franco como conjunto homogéneo (uniforme ou parecido) de agentes económicos que
desenvolvem as atividades económicas atrás referidas excepto os trabalhadores do setor
público, que integram, como tais, o setor privado da economia.

SUBSETORES INSTITUCIONAIS
- Setor público-administrativo ou Administração central
- Segurança social
- Setor empresarial do Estado

Administração central: é conjunto de instituições e serviços que apoiam tarefas de um órgão


central normalmente com características de decisão.
Ex: governo.
A administração central pode ser vista em duas perpetivas:
1ª Na perpetiva administrativa;
2ª Na perpetiva de contabilidade nacional.

Na primeira perspetiva, ela diz respeito a pessoa coletiva Estado e aos seus órgãos centrais.
Na segunda perpetiva, a administração central refere-se a produção e consumo público de
bens e serviços produzidos pelos órgãos políticos e pela administração pública incluindo as
respetivas entidades autónomas com exclusão das unidades de produção organizadas em
moldes empresariais e da coletividade do âmbito territorial inferior ao nacional.

Artigos 8º e 9º do decreto nº 5/2010 regulamento geral de contabilidade pública.

A administração central do Estado constitui o núcleo principal do setor público. Ela está
subordinada ao OGE e as suas contas são registradas na conta geral do Estado.
A responsabilidade pelas respetivas decisões em matéria financeira cabe ao ministro das
Finanças e ao ministro do respetivo pilogo (área). Cfr Artigos 8º e 9º do decreto nº 5/2010
regulamento geral de contabilidade pública.

20
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

SEGURANÇA SOCIAL
A segurança social é um sistema que pretende assegurar os direitos básicos dos cidadãos bem
como igual oportunidade, bem-estar e coesão social a todos os nacionais ou estrangeiras que
exerçam profissão ou residam no país.

O Professor Sousa Franco define o risco social como probabilidade de verificação de eventos
danosos. Este autor acentua que o risco social são aqueles riscos a que se encontram sujeitos
os membros da sociedade ou para alguns, apenas os trabalhadores - quanto a redução ou
diminuição de condições para angariarem por si próprio os meios de subsistência.
A tipificação dos riscos sociais varia de país para país, a convenção 102 da OIT refere a nove
tipos de riscos com diferença à sua cobertura.

1- Cuidados de doenças e suas compensações;


2- Desemprego;
3- Velhice;
4- Acidente de trabalho;
5- Doenças profissionais;
6- Maternidade;
7- Invalidez;
8- Morte;
9- Encargos familiares.

Para cobrir estes riscos muitas pessoas recorriam as companhias de seguro.

São três as concepções dominantes em matéria da segurança social:


Primeira, universalista;
Segunda, laborista;
Terceira, assistencialista.

CONCEPÇÃO UNIVERSALISTA
É aquela que procura garantir o direito à proteção social a todos os cidadãos
independentemente da sua atividade laboral ou da sua contribuição anterior, basta residir num
país;
Esta concepção teve origem no relatório Beveridge, segundo ele, a segurança social deve ser
geral para cobrir todas as situações de carência social, deve ser integral por via dos sistemas
de Estado, deve ser acessível a todos os cidadãos, e ser gratuito.
Cfr. Artigo 4 e 5 lei de enquadramento de proteção social.

CONCEPÇÃO LABORISTA / TRABALHISTA

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Para esta concepção, quem deve beneficiar do direito a segurança social são os trabalhadores.
REQUISITOS
- Ser trabalhador;
- Estar inscrito no sistema;
- Contribuir para o funcionamento do sistema.
Obs: Dúvida! – Até que ponto um trabalhador pode contribuir para o funcionamento do
sistema?

Esta concepção teve origem na revolução industrial. O chanceler Alemão Bismarck tornou-se
pioneiro nesta realização que regulamentava o seguro de doença, seguro contra acidentes de
trabalho, e o seguro de invalidez e velhice em 15 de junho de 1883, 06 de julho de 1884 e 22
de junho de 1889 respetivamente.

Cfr. Artigos 17, 19 e 24 da lei de enquadramento de proteção social.

Aula do dia 03.12.2019


CONCEPÇÃO ASSISTENCIALISTA
Esta concepção reconhece o direito a segurança social apenas aos indivíduos que se
encontram numa situação de carência, devendo para o efeito solicitar a proteção social e fazer
prova da sua situação.
Esta concepção teve origem nas ações de caridade inicialmente desenvolvida pelas
instituições religiosas em benefício dos pobres.
Cfr. Artigo 7º/1 lei de enquadramento de proteção social.

Cfr. Artigos 5º, 26º/1 (concepção universalista) e 46º (concepção trabalhista) CRGB

SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO


Cfr artigo 1º Decreto 55/93 (Legislação de capa verde)
Obs: não existe sociedade anónima de responsabilidade limitada tal como é previsto na
redação do nº 3 do artigo 1º do diploma em causa.
Cfr. Artigo 10º Acto uniforme do direito comercial geral
Forma de extinção artigo 48 do decreto 55/93

06.12.2019
AUTARQUIAS LOCAIS
Autarquias locais são entidades públicas que desenvolvem a sua ação sobre uma parte
definida do território, visando a prossecução de interesses próprios da população aí residente.
A palavra autarquia vem do grego, que significa auto comandar-se.
As autarquias gozam da autonomia administrativa, patrimonial e financeira, apesar disso não

22
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

são subtraídas da estrutura do Estado. Ou seja não faz nascer um outro Estado dentro do
próprio Estado.
Artigo 105 de CRGB.

Lei base das autarquias local (lei nº 5/96)


Autonomia financeira das autarquias local - Lei nº7/96 de 09 de dezembro.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS GUINEENSE


As instituições financeiras podem ser divididas em duas categorias:
Primeira, instituições financeiras de enquadramento;
Segunda, instituições financeiras instrumental.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE ENQUADRAMENTO


São todas aquelas que determinam como se forma e se executa a vontade política estadual no
restrito cumprimento da sua estrutura interna na relação com a sociedade e respeito com
direitos fundamentais. (Formação e execução da vontade política do Estado).

O professor Eugénio Morreira, na sua tese de mestrado, fez uma crítica a esta noção de
instituições financeiras por esta apenas apontar as questões ligadas a formação e execução da
vontade política do Estado, por entender que tinha que levar em conta o aspecto de controlo
em que podíamos enquadrar o tribunal de contas.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA INSTRUMENTAL


Define os meios financeiros do Estado disponíveis para a satisfação das necessidades da
coletividade.

TIPOS DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE ENQUADRAMENTO


- Constituição financeira: é um título ou capítulo da constituição em que estão previstas as
regras do direito financeiro, tais como os ritos e as competências para elaboração e aprovação
do orçamento.
Cfr. Artigo 85/1/g/m; 100/1/c ambos da CRGB.
Obs: procurar lei eleitoral, código de administração autárquica e regulamento de justiça fiscal.

A ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
O professor Sousa Franco em relação a esta matéria fala de três tendências:
Primeira, a autonomização - nesta há uma diferenciação da organização financeira e
diferenciação dos órgãos da atividade financeira;
Não integram uma única estrutura.
Segunda, especialização - nesta, a sociedade decide criar órgãos especializados e

23
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

vocacionados especificamente para a matéria de gestão financeira.


Terceira, unificação ou integração - nesta, os órgãos da administração financeira integram
mesma estrutura orgânica, complexa e estrutural. Obs: Tendência usada na Guiné-Bissau.

TRIBUNAL FINANCEIRO
Cfr. Artigo 121/2/b CRGB, 10, 11 e 12 do regulamento de justiça fiscal.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INSTRUMENTAIS


Património público - para Sousa Franco, em sentido amplo, património é constituído por
bens aptos a satisfação dos interesses económicos do seu titular.
Em termos jurídicos, o património é a totalidade de direitos e obrigações suscetíveis de
avaliação pecuniária.
Ativos: são os valores
Passivos: Responsabilidades do Estado.
Artigo 11 e 12 da CRGB.

O património é bicéfalo, podemos encontrar bens e responsabilidades.


Porquê?

O TESOURO PÚBLICO
Centraliza todas as receitas e despesas do Estado.
A função do tesouro público é o movimento dos fundos que são efetuados.

CRÉDITO PÚBLICO
Trata-se de um processo financeiro consistente em vários métodos de obtenção de dinheiro
pelo Estado, sob condição de devolver em geral, acrescido de juros e dentro de determinado
prazo estabelecido.
O recurso ao crédito hoje em dia é uma forma dos Estados poderem captar financiamentos.

Aula do dia 09.12.2019


O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
Fala-se da previsão de receitas e despesas do Estado durante o período de um ano.
Praticamente todos os autores apontam que orçamento começou a ganhar força durante o
período liberal.
Hoje em dia, para ser chamado de orçamento é necessário que seja aprovado pela Assembleia
onde estão os representantes do povo, diferente de épocas anteriores em que bastava apenas a
vontade do monarca para termos o OGE.

24
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

O Estado tem que organizar e saber quais as despesas que vai realizar durante um ano.
Em regra, o Estado tem que prever todas as receitas e despesas para o período de um ano,
apesar de poder haver situações excepcionais.
O Estado na elaboração de um orçamento tem que fazer um estudo prévio além de efetuar
comparações com os orçamentos anteriores.

Se surgir uma despesa exorbitante com a qual o Estado não previa o Estado pode lançar
mão ao orçamento retificativo.

REGRAS E PRINCÍPIOS ORÇAMENTAIS


Lei 3/87 de 09 de junho
Essas regras determinam os procedimentos que o Estado tem que prosseguir durante a
elaboração, aprovação, execução e fiscalização do OGE.

Primeira regra ou princípio orçamental é a anualidade (artigo 2º lei de enquadramento


orçamental): segundo esta regra, o orçamento geral de Estado é anual e o ano econômico
entre nós coincide com o ano civil.
Significa que o OGE é elaborado para vigorar no período de um ano, o ano aqui começa-se a
contar a partir de janeiro.
Cfr. Artigo 8 da referida lei 3/87 de 09 de junho. Segundo essa lei de enquadramento
orçamental a proposta de lei do OGE deve ser entregue em princípio até o dia 15 de
dezembro.
Obs: o OGE sai em forma da lei.
Lei nº1/2015 artigo 58/1, 2

REGRA DE UNIDADE E UNIVERSALIDADE


Regra de unidade: a regra de unidade impõe que exista um único orçamento, exceptuando
orçamento da administração local. Artigo 3º/1, primeira parte da lei nº3/87;
Regra de universalidade: Significa que o OGE deve compreender todas as receitas e
despesas da administração central, incluindo as receitas e despesas dos serviços e fundos
autónomos. Artigo 3º /1, segunda parte.
O objetivo principal da existência das autarquias locais tem que ver com a preocupação da
descentralização.
O orçamento da autarquia é aprovado pelos órgãos autárquicos.
As despesas e receitas das autarquias locais têm que constar do mapa anexo do OGE.

ORÇAMENTO BRUTO: Significa que todas as refeições são escritas no orçamento geral do
Estado pela importância integral, sem dedução das despesas que concorreram na arrecadação
das respetivas receitas.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

As receitas têm que ser inscritas integralmente no OGE.


Porque o objetivo aqui é garantir maior controlo possível.
Cfr. Artigo 4º ss da lei 3/87.
Há uma previsão das receitas que cada ministério por exemplo faz ou seja é uma previsão por
setores...

Aula do dia 13.12.2019


REGRA DA NÃO CONSIGNAÇÃO
Esta regra impõe a não afetação de produto de quaisquer receitas à cobertura de determinadas
despesas que cabe ao governo realizar, salvo, se por virtude da autonomia financeira ou de
uma razão especial a lei expressamente determine a afetação de certas receitas para a
cobertura de determinadas despesas.
Artigo 5º da lei de enquadramento orçamental.

*No fundo vem mostrar a sequência do que tínhamos dito em relação a unidade do
orçamento.
Todas as receitas que constam são para cobrir todas as despesas previamente definidas pelo
governo.
No fundo esta regra vem proibir por causa de transparência, o governo de consignar
determinadas receitas para cobrir determinadas despesas.

REGRA DA ESPECIFICAÇÃO
A regra da especificação determina que o orçamento geral do Estado especifique
suficientemente as receitas e as despesas previstas. Artigo 6º lei de enquadramento
orçamental.

*No orçamento geral do Estado o governo tem que especificar cada receita e cada despesa e
não deve existir coisas secretas, por questão de transparência.
Mas se existir uma razão especial para uma questão de segurança nacional e não especificar
uma determinada fatia, o governo tem que fazer uma proposta à ANP sobre o assunto. Facto
previsto no nº 2 do artigo 6º da lei de enquadramento orçamental.

Cfr. Artigo 7º/1 lei de enquadramento orçamental.

REGRA DA PUBLICIDADE
Esta regra decorre da própria natureza da lei, sendo assim carece de publicação o Orçamento
Geral de Estado no boletim oficial.

Aula do dia 06.01.2020

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL À LUZ DO PENSAMENTO CLÁSSICO


O primeiro critério clássico predominante no século passado era bastante rigoroso e restrito na
medida em que se considerava existir equilíbrio quando os rendimentos normais cobrissem
todas as despesas.

De acordo com este critério os rendimentos normais são aqueles resultantes da venda do
património de Estado;
Ou da cobrança dos impostos.

O rendimento resultante de empréstimos (créditos em situações normais) não faz parte do


rendimento normal salvo em casos extremamente necessários por exemplo: causa de salvação
nacional em casos de calamidade por Exemplo.

Segundo critério clássico: CRITÉRIO DO ATIVO DA TESOURARIA - corresponde a


uma revisão do pensamento clássico, que inspirou de forma determinante a prática financeira.
Hoje é a base da prática de muitos países como é o caso dos EUA, onde o empréstimo só é
admissível com manutenção do equilíbrio orçamental no caso de se destinar ao pagamento de
outro empréstimo anteriormente contraído; nos outros casos, o recurso ao crédito desequilibra
o orçamento.
A distinção chave para esta classificação reside na diferença entre as receitas e despesas
efetivas e não efetivas.

Despesa efetiva é aquela que representa uma efetiva diminuição do valor do património da
tesouraria (património monetário);
Ao passo que a despesa não efetiva será aquela que, embora diminuindo o património da
tesouraria, provoca nele um acréscimo de montante idêntico.
Para a primeira situação pode-se dar exemplo do pagamento de salário aos funcionários;
(despesa efetiva)
Para a segunda situação pode-se dar o exemplo de pagamento de uma dívida.
De acordo com este pensamento para haver equilíbrio as despesas efetivas só podem ser
financiadas por receitas efetivas.
As despesas não efetivas podem ser financiadas por receitas efetivas, e também poderão ser
cobertas por receitas não efetivas.
Fora destes critérios teríamos um orçamento desequilibrado.

TERCEIRO CRITÉRIO CLÁSSICO, CRITÉRIO DO EQUILÍBRIO DO


ORÇAMENTO ORDINÁRIO
Corresponde ao último sentido em que evolui o pensamento clássico e assenta na distinção

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
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entre receitas e despesas ordinárias e extraordinárias.


A este propósito, formuladas diversos critérios:
Segundo um desses critérios, despesas ordinárias são aquelas que se repetem, ainda que haja
variação do seu montante em todos os orçamentos, e receitas ordinárias são também aquelas
que se repetem em todos os orçamentos ainda que há a variação do seu montante.
Ex: estás despesas e receitas são presentes em todos os orçamentos.
Estes podem variar, pode em cada ano, aumentar ou diminuir o número dos contribuintes.
Também número dos funcionários.

DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS
São aquelas cuja natureza não determina a necessidade da sua realização em todos os anos.

RECEITAS EXTRAORDINÁRIAS
São aquelas que não se cobram necessariamente ou por natureza em todos os anos.

CRÍTICAS A ESSE CRITÉRIO


A dificuldade desse critério reside na sua concretização prática, na medida em que, por
exemplo, naa generalidade dos países o recurso a empréstimos se repete normalmente ano pós
ano, e se fosse por essa lógica diríamos que as receitas provenientes de empréstimos são
receitas ordinárias.

O governo vai so mercado, emite títulos de crédito.


Contribuição: predial, industrial, urbana
São os impostos frequentes no nosso OGE.

Aula do dia 13.01.2020


PREPARAÇÃO PARA A ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
O orçamento geral do estado é uma provisão das receitas e despesas do Estado. Como toda a
previsão, o governo tem que fazer a previsão com sinceridade (Princípio da sinceridade -
artigo 30 lei de enquadramento). Contar com o último, penúltimo orçamento elaborado, levar
em conta os princípios e as leis etc...

O governo elabora a proposta de orçamento que depois será apresentada ao parlamento para a
sua aprovação.
Se o OGE não for aprovado o governo pode recorrer ao orçamento anterior.

Cada ministério faz a elaboração de lista de receitas que contam e que poderão entrar no
OGE.
Partindo do pressuposto das experiências anteriores na elaboração dos orçamentos.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Pegar o penúltimo orçamento e fazer as devidas correções. Ex: caso da alteração dos
impostos...observar de houve aumento de subsídios por exemplo.
O governo tem a obrigação de apresentar a proposta de lei do orçamento. Artigo 52 lei de
enquadramento.

Na elaboração do orçamento, o governo tem que ter em atenção várias situações para não
elaborar um orçamento desequilibrado.

Resumindo: para elaborar o orçamento do Estado, o governo conta necessariamente com os


orçamentos anteriores;
Cfr. Artigo 9º, 10º ss da lei de enquadramento orçamental.
Artigo 10º da lei de enquadramento orçamental. Se existir défice o governo tem que contar
qual é a fonte de financiamento com a qual conta para poder fazer cobertura a défice em
causa.
Portanto, isso exige uma certa clareza por parte do governo.

Cfr. Artigo 15 da lei de enquadramento orçamental de 1987.

Se eventualmente o orçamento não for aprovado, entra em vigor o orçamento do ano anterior.

Regra de duodécimos? De acordo com as regras de duodécimos se for chumbado a proposta


do orçamento no parlamento, o governo recorre ao orçamento anterior para o aplicar durante
aquele período de 90 dias que tem para apresentar uma nova proposta. Segundo as regras de
duodécimos, o governo terá um campo de aplicação do orçamento muito limitado porque terá
que cumprir estritamente o orçamento anterior sem obstruir a possibilidade de adequá-la ao
longo do tempo tendo em conta as situações. A totalidade das receitas que o governo tem
provenientes da previsão do orçamento anterior é que serve de referência para o cálculo e
determinação do valor que o governo deverá gastar ao longo de cada mês por exemplo. A
regra do duodécimo foi pensada para não haver uma válvula de escape ou estrangulamento.
Com base na regra do duodécimo, o governo pode fazer o seguinte: divide o total das receitas
existentes do orçamento anterior pelos meses que tem pela frente, daí saberá quanto é que
deverá gastar por mês.
Cfr. Artigos 55 da lei de enquadramento de 87, artigos 58 e 61 lei de enquadramento de
orçamental de 2015.

EXECUÇÃO ORÇAMENTAL
Artigo 14 capítulo IIIº lei de enquadramento orçamental de 1987.
O governo tem que cuidar para poder cumprir rigorosamente os trâmites previstos no

29
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

orçamento aprovado pela ANP.


O governo tem que ser racional na gestão da coisa pública, cumprindo a vontade dos
representantes do povo.

Aula do dia 14.01.2020


EXECUÇÃO ORCAMENTAL
Pode ser definida, como um conjunto de atos e operações materiais de administração
financeira praticados para as receitas e realizar as despesas inscritas ou para providenciar ao
respetivo ajustamento. Artigo 14º LEO de 1987 de 9 de junho.

O governo pratica um conjunto de atos materiais.


O governo terá que obedecer os vários Princípios entre os quais o da tipicidade. Este princípio
da tipicidade decorre do próprio Princípio da legalidade. Portanto o governo tem que
obedecer estritamente o que estiver previsto no próprio orçamento geral do Estado.
A execução orçamental está vinculada ao princípio da legalidade e da tipicidade.

*Na execução orçamental o governo é obrigado a respeitar o princípio da tipicidade e o da


legalidade. Se o governo quiser fazer depois um ajustamento, terá que seguir toda a
tramitação para apresentar uma nova proposta, aquilo que o legislador chama de orçamento
retificativo. Cfr. Artigo 18º (alteração orçamental) LEO de 1987 de 09 de junho.
O respeito do princípio da legalidade e da tipicidade é de respeitar ambos os lados, isto é,
tanto do lado das receitas assim como do lado das despesas.

Cfr. Artigos 15 e 16 da LEO de 1987 de 9 de junho.

NB: o governo pode fazer alguns ajustamentos no orçamento inicialmente previsto.

O orçamento retificativo não acontece apenas nas situações em que o governo chegue a
conclusão de que houve um erro em determinar as previsões que o governo tinha feito. Cfr
artigo 48 LEO/2015. + Artigo 18 lei nº 3/87 de 9 junho
É possível haver alteração do orçamento também nas situações de despesas e não apenas de
receitas.

Diferença considerável em relação as previsões das receitas que o governo fez.


Cfr. Artigo 47 LEO/2015

Aula do dia 17.01.2020


FISCALIZAÇÃO E RESPONSABILIDADES ORÇAMENTAIS
Em relação à fiscalização ORÇAMENTAL, de acordo com a nossa lei de enquadramento

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

orçamental, temos três tipos de fiscalização:


- Fiscalização administrativa; Cfr. Artigo 19/1 da lei nº 3/87. (O governo é quem compete
fazer essa fiscalização por intermédio de todos os ministérios.
- Fiscalização jurisdicional; Artigo 19/2 lei nº 3/87 (o tribunal de contas tem um papel muito
importante no momento anterior à execução do OGE). Vide Artigo 12 da lei nº7/92 de 27 de
novembro. Lei orgânica do tribunal de contas. (Fiscalização jurisdicional prévia).
Decreto 51/85 de 30 de Dezembro mostra a composição da conta geral do Estado.

- Fiscalização política: é feita pela ANP como sendo o órgão que aprova a conta geral do
Estado. Artigo 21 da lei nº3/87
Cfr. Artigo 74 ss da lei de enquadramento orçamental de 2015.
Quem controla a execução orçamental?
Cfr. Artigo 69 se dá LEO/2015.

EFEITOS DE CONTRAÇÃO DE DÍVIDAS PÚBLICAS NO PLANO ECONÓMICO


Quando se fala dos efeitos de dívida pública, podemos abordá-lo em diferentes perspetivas:
Primeira, perspetiva - negativa: se o Estado contrai dívida junto aos credores para investir,
numa perspectiva económica, isso limita acesso ao crédito por parte de outros potenciais
investidores ou particulares interessados em crédito.
Efeito negativo do recurso ao crédito por parte do Estado - se o Estado não cumprir com o
prazo de reembolso cria prejuízo à economia e a atividade económica dos particulares. Isso
terá o impacto na economia real.

Exemplo da solução que um Estado podia encontrar se fosse um Estado com soberania
monetária
Primeira solução: para o Estado pagar a dívida contraída, podia proceder com o aumento
dos impostos;
Consequência disso em termos económicos: os particulares podem ter prejuízo noutro
domínio, podem retrair investimentos e até consumos, isso poderá afetar negativamente a
economia.

Segunda solução: fazer amortização da dívida pública com base na emissão da moeda. Isto
pode operar-se sem se imiscuir na vida dos particulares.
Consequência: se o Estado decidir emitir moeda podemos ter muita massa monetária em
circulação e isso poderá provocar o aumento de consumo, subida de preço e
consequentemente a inflação.
Obs: a emissão da moeda não é a solução para investimento público.

EFEITOS DA DÍVIDA PÚBLICA NO PLANO SOCIAL E POLÍTICO

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

O peso da dívida pública pode ter consequências para gerações futuras nos seguintes termos:
1 - A dívida externa constitui ónus para as gerações futuras; As dívidas públicas normalmente
são dívidas a longo prazo, portanto a geração futura poderá estar a pagar uma coisa da qual
não tiraram benefícios. Cálculo das taxas de juros: Pagar as taxas de juros
2 - A dívida interna pode constituir ónus para geração presente ou para as futuras.
A dimensão política - Tem que ver com o facto de Estado estar limitado em relação aos
investidores que são cidadãos de outros países. Trata-se mais de dívidas a curto prazo e a
geração presente poderá arcar com o pagamento dessas dívidas e se o Estado não tiver
condição para pagar a dívida, pode protelar essas dívidas para um momento posterior.

Obs: o Estado deverá canalizar o crédito obtido por intermédio da dívida externa para os
setores produtivos.
Cfr. Esta matéria no manual de José Joaquim Teixeira Ribeiro.

Aula do dia 21.01.2020


DÍVIDA PÚBLICA
Quando se fala da dívida pública, ocorre sempre que o Estado recorre ao empréstimo (crédito)
porque o Estado é uma entidade pública por excelência.

CLASSIFICAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA


Quando se fala da divida pública temos a necessidade de distinguir duas realidades:
Dívida interna e dívida externa.

Dívida interna: quando o Estado recorre aos credores internos.


Dívida externa: quando o Estado recorre aos credores externos.
Se o Estado recorrer aos credores externos, as consequências são várias, diferente do caso em
que o Estado recorre aos credores internos. O Estado faz este recurso por intermédio da
emissão do título de dívidas.

Principais diferenças que existem entre recorrer a dívida interna e externa:


As dívidas internas são geralmente satisfeitas em moeda nacional, diferentemente da dívida
externa.

* Quando o Estadão recorre aos credores interno, esses credores financiam o Estado em
moeda nacional.

32
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Geralmente, na dívida externa, não é o Estado quem determina a moeda a qual pretende
pagar, mas sim o credor é que indica a moeda da sua confiança e que é aceite
internacionalmente, essa moeda poderá não ser a moeda do credor. O credor toma esta
iniciativa para evitar futuras perdas em caso de desvalorização da moeda.

CONSEQUÊNCIAS DA DÍVIDA
- A dívida externa não assegura ao Estado devedor o benefício da desvalorização da moeda;
* O Estado não tem qualquer possibilidade de desvalorizar a sua moeda, até porque não é
benéfico para o Estado devedor.

- A dívida externa, ao contrário da dívida interna, pode agravar o défice da balança de


pagamento, colocando o país em situação complicada para honrar os seus compromissos
internacionais.

*Porque na balança de pagamento (documento contabilístico) haverá sempre um saldo


negativo demonstrando efetivamente a situação da fragilidade em que o Estado se encontra.
Isso poderá efetivamente pôr em causa as futuras dívidas que o Estado poderá pretender
beneficiar.

- A outra consequência é de ordem política.


Porque na dívida interna, geralmente os credores são cidadãos do Estado devedor e sobre eles
o Estado goza de soberania, diferentemente da dívida externa em que temos cidadãos doutros
países onde o Estado não exerce qualquer soberania sobre eles. Isto é, não estão sujeitos à
soberania do Estado devedor. Importa destacar que estes cidadãos são defendidos pelos seus
respectivos Estados.

Aula do dia 24.01.2020


CONTINUAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA
DÍVIDA FUNDADA vs DIVIDA FLUTUANTE

A dívida fundada é aquela que resulta dos empréstimos perpétuos e de empréstimos


temporários a médio e a longo prazo.
É chamada de dívida fundada porque quando surgiu há séculos em Inglaterra, o Estado criava
um fundo para cobrir os encargos de amortização da dívida sempre que contraísse uma dívida.
*É fundada porque há um fundo criado com o objetivo de amortizar as dívidas.
Ex: dívida a curto prazo: dívidas mais ou menos que vão até um ano.
A médio prazo vão até cinco ou mais anos.

33
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Empréstimos perpétuos: São aqueles empréstimos que não têm prazo para o Estado liquidar
as suas dívidas, tem é o Estado que pagar os juros.

Dívida flutuante: é aquela que resulta de empréstimos temporários a curto prazo. Tais
empréstimos foram concebidos para resolver os desequilíbrios temporários da tesouraria. A
dívida flutuante quer dizer uma dívida que flutua, pode surgir num determinado momento e
noutro desaparecer.

SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA


Existem três grandes sistemas que são:
A) Anuidades obrigatórias;
B) Caixas de amortizações;
C) Saldos orçamentais.

SITEMA DE ANUIDADES OBRIGATÓRIAS


Anuidades obrigatórias: neste caso, preceitua-se legalmente que o Estado tem a obrigação de
inscrever anualmente, no orçamento geral do Estado, uma verba, com o propósito de
amortizar uma dívida contraída.

*O Estado quando prepara o OGE já conta com a dívida contraída anteriormente. Só será
possível neste sistema amortizar a dívida em causa se existir o saldo orçamental. (Caso em
que existe superávit orçamental). Anualmente o Estado é obrigado a pôr a disposição aquele
montante correspondente a dívida no OGE.

Obs: Este é o sistema usado na Guiné-Bissau.

SISTEMA DE CAIXA
Sistema de caixas de amortização: neste sistema o Estado cria a caixa e dá-lhe autonomia
financeira para proceder a compra da dívida pública.
Os títulos comprados podem ficar à disposição da caixa para render juros ou podem ser por
ela destruídos.
O primeiro tipo foi imaginado por um financista inglês do século XVIII chamado PRICE.
Este senhor acreditou no poder reprodutivo de juros.

No fundo Estado cria uma caixa e dá-lhe autonomia financeira, entrega esta estrutura (serviço
autónomo) um determinado montante inicial em dinheiro para gerir, isto é, será utilizado para
a compra de títulos de dívidas para poder efetivamente render juros.

Críticas: não há nenhum poder reprodutivo de juros;

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Aula do dia 28.01.2020


CONTINUAÇÃO, CRITÉRIO DOS SALDOS ORÇAMENTAIS

SISTEMA DE SALDOS ORÇAMENTAIS


Saldos orçamentais: neste sistema, o Estado reembolsa dívida mediante os saldos orçamentais
que a execução do orçamento lhe proporciona. Ou seja, o Estado procede ao reembolso
dependendo de excedentes de receitas efetivas sobre as despesas efetivas.

*Se as receita efetivas conseguirem cobrir as despesas efetivas mesmo assim existir saldos, o
saldo é encaminhado para o pagamento da dívida. Para este sistema só se admite o pagamento
da dívida existindo saldo orçamental após a execução do orçamento.

A AMORTIZAÇÃO AUTOMÁTICA ATRAVÉS DA DEMOCRATIZAÇÃO DA


DÍVIDA
Este sistema foi concebido e defendido por De Vite di Marco, Italiano - que defende que o
Estado não deveria preocupar-se com a questão da amortização da dívida interna porque a
dívida pública interna tende a amortizar-se automaticamente, pois reparte-se por diferentes
classes existentes na sociedade.
Daí fez a seguinte divisão de classes sociais:
Classe dos capitalistas;
Classe dos proprietários;
Classe dos trabalhadores.

Para sustentar a sua teoria, disse que se o Estado precisar de dinheiro pode contrair dívidas
junto aos capitalistas mediante o pagamento de juros, daí o Estado tem que pensar em como
pagar a dívida contraída aos capitalistas. Este autor propõe que o Estado tem que aumentar os
impostos na proporção do montante da dívida contraída porque todas as classes que havia
citado pagam impostos.
Mas a classe dos capitalistas despendem menos sacrifícios comparativamente às outras
classes.

Em relação aos proprietários que são aqueles que têm capital imobilizado (casas, terrenos):
estes vão comprar títulos de dívidas junto aos capitalistas e vão passando ganhar juros com o
pagamento da dívida pelo Estado.

Classe dos trabalhadores que são aqueles que trabalham por conta de outrem. Estes, com o
passar do tempo, passaram a realizar a mesma atividade que a classe dos proprietários, isto é,
compram títulos de dívidas nas mãos dos capitalistas para poderem beneficiar dos juros.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

No fundo, todo o mundo acaba por assumir o pagamento da dívida pública. Ou seja todos
acabam por pagar.

CRÍTICAS
1- Os factos não mostram que os títulos da dívida pública tendem a chegar às mãos de todos
os contribuintes e nem se quer mostram que os contribuintes, adquirentes de títulos tendam a
comprá-los de modo a obterem os juros quando pagam impostos para o serviço da dívida;

2 - Não há proporcionalidade entre os juros recebidos e os impostos pagos.

** Críticas: De Vite pensou que a dívida pública é suportada da mesma maneira por todas as
classes, ou seja nem todas as classes pagam impostos;
- Mesmo para classe dos capitalistas, quando compram os títulos não pensam no pagamento
dos impostos, mas sim pensando num investimento não no pagamento de menos impostos;
- Não há proporcionalidade entre os juros que se vai receber e o montante dos impostos que se
vai pagar.

Aula do dia 03.02.2020


RECEITAS PATRIMONIAIS
São receitas que resultam da administração do património do Estado ou da disposição de
elementos do seu ativo e que não tenha carácter tributário.
Cfr. 202, 205, 206 CC

As receitas patrimoniais podem resultar do património mobiliário e do património imobiliário.


Receitas do património imobiliário:
Património rural. No património rural inclui-se a floresta e tudo o que se pode encontrar na
floresta.
Património predial urbano - edifício que o Estado tem. Há edifícios do Estado que dão
receitas e há aqueles que não dão.
Património do uso coletivo - estradas, pontes etc..

PATRIMÓNIO MOBILIÁRIO
Património financial: são juros que o Estado recebe nas situações em que concede
empréstimos;

Património empresarial: compra das ações...que possibilite ao Estado associar-se à empresa


contituindo-se uma sociedade mista e as receitas provenientes desta sociedade para o
benefício do Estado constituem o sem PATRIMÓNIO.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Aula do dia
Património ou obrigacional: são todos os patrimónios do Estado constituídos por crédito.
Património duradouro: são bens que duram para além do período normal do orçamento. Ex:
carros...
Património não duradouro: é aquele que não dura para além do período orçamental do Estado
em condições normais.
Exemplos: Combustíveis

Património de uso e património de rendimento


Património de uso: São de uso todos aqueles que prestam utilidade mediante simples
utilização por parte dos cidadãos pode ser gratuita ou onerosa.
Património de rendimento: são aqueles que geram rendimento para o Estado.
Ex: campo de futebol.

Au!a do dia 07.02.2020


IMPOSTOS: CONCEITO E FUNÇÕES
Conceito: prestação pecuniária, unilateral, definitiva e costura.

ELEMENTOS DO IMPOSTO:
1 Prestação; (para mostrar o caráter real dos impostos, estamos perante uma relação
obrigacional. Do lado ativo temos - o Estado e do lado passivo - os contribuintes.
2 Pecuniária; é uma prestação que se faz em dinheiro.
3 Unilateral; (o Estado quando cobra impostos não vai negociar, ele fixa abstractamente e
ponto final - o contribuinte não pode exigir uma contraprestação tal como acontece no caso
das taxas). É unilateral porque o Estado é que fixa.
4 Definitiva: o contribuinte não tem direito a reembolso, nem pode exigir a indemnização
pelo sacrifício que consentiu.
5 Coativa. No sentido de ser obrigatório. Se o sujeito estiver nas condições abstractamente
determinada é obrigado cumprir, pois estamos perante uma prestação ex-lége (decorre da
própria lei).

Os impostos São maior fonte de arrecadação das receitas do Estado.

TÉCNICA FISCAL E SUAS FASES


Conceito da técnica fiscal avançada por professor SOUSA FRANCO: segundo ele, a técnica
fiscal é o processo juridico-financeiro, mediante o qual se define como é configurado e
repartido entre os membros da sociedade o sacrifício fiscal e como se adapta a formulação
genérica do sacrifício fiscal ao caso concreto, até a efetiva percepção da receita que, paga por

37
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

cada contribuinte, ingressa no cofre do Estado.


* Mostra nesta noção que o que o Estado faz é fixar abstractamente primeiro - Fase estática
(fixa abstractamente em que condições vai cobrar imposto). Este conceito mostra como é que
dinheiro vai ser cobrado e como entra no cofre do Estado.

FASES DA TÉCNICA FISCAL


1ª FASE - Fase estática: corresponde a definição abstrata da configuração do sacrifício fiscal,
descrevendo as circunstâncias (incidência) e repartição da carga fiscal.
* Fixa as condições em que a pessoa estando nela, é obrigada a cumprir com o pagamento dos
impostos. É estática porque abstratamente o Estado já fixou.

2ª FASE - Fase dinâmica: corresponde ao conjunto de operações lavadas a cabo pela


administração fiscal com vista a fazer entrar o dinheiro no cofre do Estado, abrangendo por
isso os trabalhos da verificação, da cobrança e da arrecadação dos montantes.

* Na primeira fase o Estado legisla, mas nesta fase o Estado manda as pessoas no terreno para
ver que pessoas estão nas condições previamente determinadas na primeira fase a fim de
cobrá-los o imposto.
Esta é a fase em que se concretiza o que abstratamente teria sedo fixado na lei.

IMPOSTOS BASEADOS NA RIQUEZA E IMPOSTOS INDEPENDENTES DA RIQUEZA


Os impostos baseados na riqueza são estabelecidos tendo em conta a riqueza do contribuinte.
Ex: imposto profissional. Procurar código do imposto profissional.
Os impostos que são independentes da riqueza não considera o rendimento como fator
principal.
Ex: imposto de selo.

IMPOSTOS PESSOAIS VS IMPOSTOS REAIS


IMPOSTOS REAIS: São aqueles que atendem apenas a natureza e o valor da coisa
independentemente da situação pessoal do seu titular.

IMPOSTO PESSOAL: São aqueles que embora tributando rendimento ou património


procuram levar em conta a situação pessoal do contribuinte. Leva em consideração o estado
civil ou familiar do contribuinte.

Todos os outros códigos de imposto parcelar tributam sobre o imposto real excepto o código
de imposto complementar

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

IMPOSTOS
Existem três critérios para a distinção dos impostos diretos e indiretos:
Critério Administrativo: de acordo com este critério, o imposto será direto quando atingir
diretamente a riqueza e será indireto quando atingir indiretamente a riqueza. Considera-se que
nos impostos diretos, os nomes dos contribuintes constam num roll nominativo, o que não
existe nos indiretos.

CRÍTICA
Nem sempre este roll nominativo existe, por isso este critério não é seguro.

CRITÉRIO JURÍDICO
Este critério é defednido por Otto Maya
O imposto direto e aquele em que a cobrança precedida de um processo administrativo de
lançamento e liquidação. Através de lançamento e liquidação já se consegue determinar quem
é o sujeito ativo e passivo, o quanto a pagar e o rendimento.
Os impostos são indiretos quando é dispensável estes processos.

CRÍTICAS
Há casos em que o imposto é indireto mas existem tais processos anteriormente citados.
Primeira fase de pagamento da IGV.

CRITÉRIO ECONÔMICO FINANCEIRO


Este define o imposto direto e indireto de duas formas:
1º O imposto é direto quando atingir a riqueza de forma direta, tributando situações que
correspondem a um ser ou estar. Ao passo que o imposto indireto atinge a riqueza de forma
indireta tributando operações que consistem num fazer.

2º É o chamado critério de repercussão fiscal


Este critério considera os impostos indiretos são aqueles que são susceptíveis de repercussão
fiscal.
São diretos aqueles em que a repercussão não é possível.
Repercussão neste contexto significa a possibilidade que alguém tem de fazer com que
através dos mecanismos de mercado que o encargo seja suportado por outra pessoa.

CRÍTICA
1 - A primeira fragilidade que este critério apresenta é que há situações em que os impostos
diretos são repercutiveis.
2 - a repercussão depende das condições de encargo. Se o encargo não funcionar, se não haver

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

concorrência no mercado, este critério não vinca.

A distinção principal é Ver a forma como a riqueza é atingida se é de forma direta ou indireta.

IMPOSTOS PROGRESSIVOS, REGRESSIVOS E PROPORCIONAIS


IMPOSTOS PROGRESSIVOS - São impostos cujo valor é fixado em percentagens variáveis
e crescentes a medida que aumenta a matéria coletável.
Um dos exemplos de impostos progressivos é o imposto profissional.

IMPOSTOS REGRESSIVOS são aqueles em que a percentagem diminui a medida em que a


matéria coletável aumenta.
IMPOSTO PROPORCIONAL: São aqueles que têm por base uma única taxa. É constante
seja qual for o valor da matéria coletável.

Mas no nosso sistema, a taxa é progressiva.


Aula do dia 11.02.2020
IMPOSTOS ESPECIFICOS E AD-VALOREM
Impostos específicos ensidem sobre quantificações físicas tais como:
- A quantidade;
- O volume;
- Ou peso de determinados bens ou mercadorias.
Ex: IGV

Impostos ad-valorem ensidem sobre o valor do rendimento, património ou consumo do sujeito


passivo.
Não estando prevista qualquer alteração das taxas dos impostos uma vez que a base tributável
enside apenas sobre o valor em causa. Ex: Imposto de CISA - SERVIÇOS DE IMPOSTOS
DE SUA ALTEZA.
ITBI - IMPOSTOS SOBRE A TRANSMISSAO DE BENS IMOBILIÁRIOS. EM
PORTUGAL.

IMPOSTOS DE OBRIGAÇÃO ÚNICA E IMPOSTOS DE BASE TEMPORAL


Os impostos de obrigação única, são aqueles em que a tributação resulta de situações não
continuada que respeitam aos atos ou factos ocasionais. Ex: Imposto de CISA. Compra de
uma casa...paga-se apenas naquela situação em que compra a casa, isto é, paga-se apenas uma
única vez.

Imposto de base temporal: são aqueles que periodicamente se renovam por sucessivos
períodos de tributação.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Ex: imposto profissional.

Aula do 14.02.2020
TAXAS, CONCEITO
Conceito da taxa: podemos definir a taxa como sendo uma prestação tributária, que pressupõe
ou origina uma contraprestação, resultante de uma relação concreta (que pode ser ou não
benefício) entre o contribuinte é um bem ou serviço público.
Esta é a noção dada pelo professor Sousa Franco.

*De acordo com esta noção, não se pode dizer que se trata de um benefício em concreto
porque a contraprestação pode não resultar num benefício em concreto.
Há uma relação concreta entre o contribuinte e o serviço público.
Utilização de um bem público- ato de utilização que dá origem de pagar a taxa.

As taxas também fazem parte das receitas fiscais.

FUNDAMENTOS PARA A COBRANÇA DAS TAXAS


Resulta de uma relação concreta do cidadão com o serviço público como acontece nas custas
judiciais;
Utilização de um bem de domínio público;
Remoção de um obstáculo jurídico.

Para a fixação de taxa tem que ser vista dois princípios:


1 - garantir o princípio de livre acesso ou desfavorecer o seu uso imoderado (abusivo) -
Princípio de oportunidade e conveniência;
*Porque o propósito é garantir que todas as pessoas tenham acesso a determinados serviços.
Ex: acesso ao serviço de polícia.

2 - A justa repartição dos encargos públicos (Princípio do rendimento fiscal e da justiça


distributiva).
As vezes o estado quer garantir u a redistribuição justa e equitativa entre os membros de uma
determinada comunidade. É o que acontece no caso dos registos obrigatórios ex: registo
predial, registo de automóveis...

CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS
As contribuições especiais têm como fundamento o benefício individualizado, reflexamente
resultante da atuação de um sujeito público.
Nb: as contribuições especiais não têm um regime jurídico a parte ou autonomizado tal como
as taxas.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

A contribuição especial é cobrada porque há um benefício individualizado que a pessoa retira


da atuação de um ente público.
Ex: sobrevalorização de imóveis numa determinada zona graças a construção de autoestrada
ou outra infraestrutura que permitiu a tal sobrevalorização dos imóveis em causa. Em virtude
deste facto, o Estado pode cobrar uma contribuição especial por forma a garantir uma
redistribuição.

Aula do dia 17.02.2020


TRIBUTOS PARA-FISCAIS ou PARA-FINANÇAS
TRIBUTOS que não obedecem as regras orçamentais, ou seja não respeitam aos
procedimentos que outros impostos são vinculados e obrigados a seguir.
Contribuição para a segurança social é o exemplo que se dá dos tributos PARA-FISCAIS.

Nb: é obrigatório a contribuição da segurança social.

Aula do dia 18.02.2020


RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL COM OUTROS RAMOS DE DIREITO
A primeira relação que aqui vamos analisar é a relação entre o direito fiscal e o direito
constitucional.
A relação basea-se na chamada “constituição fiscal" onde temos dois grandes segmentos.
Primeiro segmento que é clássico, que pode ser designado de bases constitucionais de
impostos, concretizado fundamentalmente na ideia do Estado fiscal, no princípio da
legalidade fiscal ou da capacidade contributiva.
O segundo segmento, reside nos principais impostos consagrados nas leis ordinárias
materializado à luz da constituição.

Com base nesses segmentos que podemos afirmar que há uma relação entre o Direito fiscal e
o Direito constitucional.
Cfr. Artigo 86/d CRGB

No direito fiscal podemos apontar duas perpetivas de legalidade:


Perpetiva formal artigo 86/d CRGB
Perpetiva material aferir a capacidade contributiva resultante do primeiro segmento
mencionado supra.

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E O DIREITO ADMINISTRATIVO


Esta relação basea-se no facto de o Direito fiscal ser um sub-ramo do Direito administrativo,
donde decorre grande parte dos institutos do Direito fiscal, quer em matéria da organização
administrativa fiscal, quer em sede da atividade administrativa fiscal e da organização

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

judiciária fiscal (referindo-se neste caso o tribunal fiscal).

Isto é assim porque múltiplos aspectos do Direito Administrativo fiscal encontram-se


regulados no Direito Administrativo. Assim, a organização dos serviços, as suas atribuições e
competências, as formas de descentração (engloba descentralização e desconcentração) dos
serviços, a relação do emprego público dos seus funcionários, todas as funções
administrativas indispensáveis ao funcionamento da máquina administrativa.

A forma como os funcionários se relacionam não é a invenção do direito fiscal mas sim do
Direito administrativo.

Aula do dia 21.02.2020


RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E O DIREITO PRIVADO
CONCRETAMENTE O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

A relação principal é na mesma senda em relação as outras ciências.


Numa relação obrigacional as partes são credor e devedor, este conceito de credor e devedor
também existe no direito fiscal.
Por exemplo no âmbito dos impostos, do lado do credor temos o Estado e do lado do devedor
temos os contribuintes.
Nas autarquias locais temos os munícipes que cobram determinadas taxas e munícipes pagam
- devedores.
Essa relação obrigacional não foi inventada no direito fiscal.

Tal como no direito das obrigações há deveres assessoria que não têm nada que ver com a
própria obrigação principal. Isso também acontece no âmbito do pagamento dos impostos, por
exemplo o dever de colaborar.

A relação que de facto podemos estabelecer aqui é que, determinados institutos do direito das
obrigações são os mesmos no âmbito do direito fiscal. Como havia referido anteriormente,
Credor e Devedor.

Aula do dia 28.03.2020


Relação entre o direito fiscal e direito penal
Costuma-se dizer a propósito que a primeira dica relação existente entre esses dois ramos de
direito reside no facto de direito penal se construir e desenvolver em torno do valor da
liberdade e o direito fiscal em torno do valor da propriedade.
Outra relação entre dois ramos de direito reside também no facto de no direito fiscal também
existir normas cuja função é a de qualificar certos comportamentos, traduzidos em ações ou

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

omissões, dos contribuintes ou de terceiros como infrações, estabelecendo as correspondentes


sanções. Ou seja, o direito fiscal íntegra no seu seio um setor de diretor sancionatório - o
chamado direito penal fiscal.

Um outro ponto de relacionamento entre os dois pode ser encontrado na tributação de


rendimentos provenientes de atividades ilícitas, por exemplo a tributação sobre os
rendimentos mesmo quando provenientes de atos ilícitos.

*Na doutrina costuma-se dizer que esses dois ramos de direito são ramos de direito gêmeos.
Gêmeos porque nasceram em torno de grandes princípios nomeadamente o princípio da
liberdade e da propriedade.
Em caso do direito fiscal gravita em torno do direito de propriedade.
O direito fiscal tem também normas de cariz sancionatórias tal como o direito penal.

Aula do dia 02.03.2020


RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIP
RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIREITO COMUNITÁRIO

RELAÇÃO ENTRE O DIREITO FISCAL E DIP


A relação que podemos estabelecer aqui, basea-se no facto de direito internacional público
conter normas fiscais resultantes de convenções internacionais que vinculam os Estados
envolvidos. Em caso de violação dessas normas os Estados incumpridores podem ser
responsabilizados.

No fundo, essas convenções contêm um conjunto de normas em materia fiscal e envolvem


vários ordenamentos jurídicos, pois são convenções multilaterais.
No direito fiscal temos um conjunto de normas e se essas normas vão contra uma norma
resultante da convenção, a norma interna fica derrogada.

Normas fiscais internacionais são normas fiscais resultantes de uma convenção.


*Apenas vai se cobrar impostos as empresas onde a empresa tiver a sua residência fixa por
forma a evitar a dupla tributação.

RELAÇÃO DO DIREITO FISCAL E DIREITO COMUNITÁRIO


Muitos autores não consideram o direito comunitário como um ramo de direito autónomo do
Direito Internacional Público.
A relação aqui basicamente centra-se na existencia de conjunto de normas de direito fiscal
tanto no plano nacional assim como no plano comunitário. Pois é uma fonte de rendimento no
plano comunitário, na medida em que os Estados partes, retiram determinada percentagem

44
APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

dos impostos que efetivamente não vão para os cofres do Estado mas sim são canalizados
para a comunidade.

Portanto no direito comunitário também temos normas do Direito fiscal, neste caso, refere-se
ao Direito fiscal comunitário.

Aula do dia 03.03.2020


ORDENAMENTO JURIDICO FISCAL: AS FONTES
1 - A CONSTITUIÇÃO - numa perspectiva de hierarquia, a constituição e a primeira das
fontes ou modos de revelação das normas jurídico-fiscais - a chamada constituição fiscal, isto
é, conjunto de princípios que disciplinam ao mais alto nível a imposição de sacrifício fiscal
dos contribuintes.

* A nossa constituição da República concretamente no artigo 86º/d - Princípio da legalidade.


A questão do princípio da legalidade na verdade resulta de uma conquista do povo. Com o
tempo, devido a essas conquistas alcançadas, o executivo foi obrigado a respeitar o princípio
da legalidade mas numa perpetiva essencialmente formal.
Mas esta tendência foi mudando gradualmente para uma perpetiva fundamentalmente
material do princípio da legalidade.
A principal fonte de Direito fiscal é a constituição.

2- LEIS ORDINÁRIAS EM MATÉRIAS FISCAIS


No caso da Guiné Bissau temos um conjunto de leis ordinárias mas que infelizmente não
vamos abordar na sua totalidade. Entre elas vamos aqui destacar as seguintes:
Contribuição industrial, contribuição predial Urbana, imposto profissional, imposto de
capitais, imposto de selos, imposto geral sobre vendas etc...

3- A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA.
Tem que se ter em conta o princípio da segurança jurídica como sendo um princípio basilar do
direito.

Aula do dia 10.03.2020


BENEFICIO FISCAL - Excepção ao princípio da generalidade ou universalidade dos
impostos
O Estado incentiva os particulares a participarem no aumento da produção, produtividade e da
melhoria de vida das populações.
Todos os benefícios fiscais atinentes a produção, produtividade e melhoria de vida da
população é benefício fiscal estrito senso.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Os benefícios fiscais em primeira mão têm que emanar das leis gerais e abstractas.

*Os benefícios fiscais podem ser concedidas tanto às pessoas coletivas assim como as pessoas
singulares. Caso efetivar-se essa pessoa por um determinado período de tempo fica isenta de
pagar um determinado tipo de imposto durante esse período.
A ANP é que determina os requisitos para se conceder os benefícios fiscais.
CONFERIR CÓDIGO DE IMPOSTO PROFISSIONAL E CODIGO DE INVESTIMENTO

MÍNIMO DE EXISTÊNCIA
Corresponde a parcela de rendimento que é indispensável a sobrevivência da pessoa.
O fundamento do mínimo de existência está no Estado social e com base na ideia da
dignidade da pessoa humana.

Obs: a capacidade contributiva é aferida a partir do rendimento da pessoa.

Aula do dia 13.03.2020


PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA
Este princípio está implícito na ideia estado de direito democrático previsto no artigo 3º da
CRGB.
Impõe-se o legislador em dois sentidos:
1º Não adopção de normas retroativas desfavoráveis;
2º A restrição da livre revogabilidade e alteração das leis fiscais favoráveis aos contribuintes.
Este princípio deve existir não apenas no Direito fiscal mas sim também nos outros ramos de
Direito. Pois é um princípio transversal de Direito.
Este princípio visa garantir certeza às pessoas.

RESPEITO PELOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


O direito dos impostos não está de todo imune às influências de direitos fundamentais. É em
homenagem a certos direitos e liberdades fundamentais que algumas constituições
estabeleceram que o poder de criar impostos ficará a cargo do povo.
Depois, a ideia da intangibilidade da dignidade da pessoa humana ao permitir que os
contribuintes não paguem impostos quando os montantes que têm a disposição sejam
insignificantes.
O sistema fiscal tenta também encontrar um justo equilíbrio entre a eficácia fiscal e a proteção
dos direitos e interesses dos c
a justiça social, assegurar a igualdade de oportunidades, e operar as necessárias correções das
desigualdades na distribuição de riqueza e do rendimento através da política fiscal.

PRINCÍPIO DA CONSIDERAÇÃO FISCAL DE FAMÍLIA

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Aula do dia 16.03.2020


PANORAMA DO DIREITO FISCAL GUINEENSE

A REFORMA FISCAL DE 1997


Em 1997, houve uma certa inovação no nosso sistema fiscal, com a introdução de imposto
geral sobre vendas e serviços (IGV) através da lei nº 16/97 de 31 de Março que, segundo
consta do preâmbulo “vem preencher uma lacuna que se vinha fazendo sentir no nosso
ordenamento jurídico-tributário nacional, apoiando o país no movimento de integração
económica regional e internacional".
Trata-se de um imposto não cumulativo, “ad-valorem" e plurifase, podendo o sujeito passivo
proceder a dedução do imposto suportada nas fases anteriores, desde que sejam seguidos nos
trâmites legais. Art. 3º.
O IGV visa atingir a globalidade do consumo, através de tributação de todos os bens e
serviços ainda que estes, num primeiro momento sejam limitados aos bens mais relevantes e
que permitam uma efetiva fiscalização.
Introduziu-se também o imposto especial de consumo, recaindo sobre determinados produtos
e mercadorias transacionadas, nomeadamente, águas gasosas e refrigerantes, cervejas, álcool
e bebidas alcoólicas, produtos petrolíferos, tabaco, viaturas, pólvoras, explosivos, produtos-
pirotécnicos.

O Legislador tomou ainda a opção de atribuir a duas autoridades fiscais diferentes em matéria
de liquidação e cobrança deste imposto, consoante se trata de uma mercadoria importada ou
de produção nacional, a Direção Geral das Alfândegas através da respectiva declaração
aduaneira (bilhete de despacho da mercadoria sempre que os produtos sejam importados nos
termos do nº1 do artigo 3º do código do Impostos Especial sobre o Consumo (IEC) e a
Direção geral de Contribuição e Impostos, tratando-se de mercadorias de produção nacional,
artigo 3º/2 IEC.

Aula do dia 1.9.2º2º


A contribuição industrial à semelhança de outros impostos parcelares é também uma herança
da época colonial portuguesa.
Está previso no Decreto numero 39/83 de 31 de dezembro.
Código da contribuição industrial.

A contribuição industrial incide essencialmente sobre os lucros.

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

Incidência objetiva:
O foco da administração fiscal é a existência de rendimentos atribuídos pelo exercício de uma
atividade que pode ser tanto de natureza comercial assim como de natureza industrial. Ambas
as situações podem ser encontradas no âmbito da contribuição industrial.

A razão de cobrar imposto é o facto de Bacar naquela atividade comercial ganhar um


rendimento. (atividade de natureza comercial).

Cfr. Artigo 2º Código de contribuição industrial (CCI).

Aqui há uma máxima de que não há lucro sem tributação.


Na perspetiva de administração fiscal qual é o lapso de tempo necessário para tributar a
realização de uma determinada atividade?

A resposta à essa questão resulta da segunda parte do artigo 1º CCI.


A atividade pode ter carater permanente ou acidental.
Ainda que a pessoa tenha desenvolvida atividade por apenas um dia, ainda assim ela é
obrigada a pagar imposto.

Incidencia subjetiva:
Resulta do artigo 4º CCI.
Onde consta que os sujeitos passivos desse imposto são todas as pessoas singulares e
coletivas, titulares de rendimentos resultantes das atividades de natureza comercial ou
industrial.
Considera-se ainda que sujeitos passivos da contribuição industrial, as pessoas singulares ou
coletivas que não obstantes residirem no estrangeiro, auferem rendimentos disponibilizados
por empresas residentes no país. Cfr art. 4º/3 CCI.

Obs: a Guin
Apenas são cobrados impostos pelos rendimentos de atividades realizadas no nosso território.

Como é que se determina a matéria coletada (a quantidade de imposto que a pessoa deve
pagar)?
Para a determinação da matéria coletável, o legislador determinou dois grupos de
contribuintes. Um grupo que é chamado de grupo A e outro grupo B. cfr. Artigo 18 CCI e
artigo 11 CCI.

O artigo 11 tem o chamado de princípio de tributação do rendimento real.


Na nossa constituição não consagrou este princípio tal como noutros países como Portugal

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APONTAMENTOS DE FINANÇAS PÚBLICAS & DIREITO FISCAL 2019/2020
Aluno Bacar Alfino Mané

por exemplo.

O princípio de tributação do rendimento real significa cobrar imposto em função do lucro que
o contribuinte obtiver.

Quais as pessoas que são obrigadas a pagar com base nesse princípio?
R: são as pessoas que têm a contabilidade devidamente organizada (contribuintes do grupo
A). Cfr. Artigo 11 CCI.
Mesmo que a pessoa não tenha a contabilidade devidamente organizada mas mesmo assim é
tributada… presumivelmente real de acordo com os livros de registo.

Aula do dia 04.09.2020

CONTINUAÇÃO

O lucro do contribuinte arrecadado num certo ano.


Para professor Cazalta Nabais não passa de uma concretização… duma explicação da
capacidade contributiva e da igualdade fiscal…os quais como é fácil de ver … serão
observados no seu mais alto nível se a tributação do rendimento … incidir sobre o rendimento
real.

- há aqui dois princípios importantes a ter em conta:


O princípio da capacidade contributiva e o princípio da justiça fiscal.

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