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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE

Cursos de Contabilidade e Auditoria, Contabilidade e Fiscalidade, Contabilidade Pública e


Autárquica

FINANÇAS PÚBLICAS

1. Introdução a Finanças Públicas

Falar de finanças, é falar de meios ou instrumentos financeiros, que são o dinheiro (fundos) e os
créditos; os meios financeiros que têm de se adquirir e servem para se utilizar na compra de
produtos/bens e serviços ou como reserva de valor.

As Finanças Públicas compreendem a globalidade de todos os processos e respectivas operações de


planeamento e administração financeira do Estado que garantam a captação, mobilização, alocação,
controlo e registo dos recursos públicos (internos e externos) e a sua aplicação em programas,
actividades ou património de Instituições dos Sectores Público e Privado do Estado, incluindo o
respectivo controlo e prestação de contas, com vista à:

 Prossecução de fins de interesse público ou privado do Estado;


 Satisfação de necessidades colectivas (imediatas e mediatas); e
 Promoção do crescimento económico inclusivo, em prol do desenvolvimento integrado local,
nacional e regional.

O que é Finanças Públicas?

Finanças Públicas são as actividades económicas através do qual o estado ou outro ente público afecta
bens económicos1 para a satisfação de certas necessidades sociais.

Quando surgem as Finanças Públicas?

As Finanças Públicas surgem como consequência da incapacidade do mercado em prover bens e


serviços para a satisfação das necessidades colectivas.

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Bem económico - é aquele que a sua oferta tem preço e é um bem escasso ao contrário do bem livre.

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Entende-se como necessidade colectiva as carências comuns sentidas por uma colectividade.

O exemplo disso são a falta de estradas para a circulação de pessoas e bens, a falta de Escolas Públicas
onde as crianças possam estudar, a falta de protecção dos Cidadãos. A função de prover bens e serviços
públicos é exclusiva do estado.

Por quê da existência de Finanças Públicas?

As Finanças Públicas surgem como necessidade de gestão de coisa pública, porque o estado emprega
dinheiro para realizar as suas actividades.

A Actividade Financeira Pública, para poder ser desenvolvida supõe que se tenham tomado decisões
financeiras e que exista um substrato organizacional e humano que não só as haja preparar como as vá
executar.

1.1 Objecto do estudo das Finanças Públicas

O objecto do estudo das Finanças Públicas abrange o estudo de todos aspectos que envolvem a
aquisição e a utilização de recursos económicos, pelo estado com vista alcançar determinados níveis
de emprego, crescimento económico, desenvolvimento e de distribuição de rendimento, através de
bens e prestação de serviços.

1.2 Objectivo de Finanças Públicas

O Objectivo de Finanças Públicas é o estudo da actividade fiscal, ou seja aquela desempenhada pelos
poderes públicos com o propósito de obter e aplicar recursos para realizar despesas e investimento dos
Serviços Públicos. Assim a política Fiscal orienta-se em duas direcções:

a) Política Tributária que se materialize na capitação de recursos para atendimento das funções
da administração pública;

b) Política Orçamental que pretende atingir objectivos que podem ser assim sumarizados:
 Eficiência na afectação de recursos;
 Distribuição adequada de rendimentos;
 Estabilidade económica;
 Crescimento e desenvolvimento económico.

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(i) Eficiência na afectação de recursos

Um dos vectores da actividade financeira do Estado é a execução de programas de despesas que


constituem a aplicação de recursos a determinados sectores e agentes económicos com vista a alcançar
os objectivos pré – determinados.

(ii) Distribuição adequada de rendimentos

Para garantir uma distribuição adequada de rendimento os Estado intervêm através de Finanças
Públicas em dois sentidos:

 Primeiro subtraindo parte dos rendimentos individuais e empresariais, através do sistema de


tributação;

 Segundo, aplicando as receitas obtidas em programas de despesas que beneficiam, directa ou


indirectamente a população e as empresas.

(iii) Estabilidade económica

O Estado está privilegiadamente colocado para regular o fluxo circular do Produto e do rendimento
Nacional, e neste contexto adoptar os meios para anular possíveis e indesejadas flutuações.

(iv) Crescimento e desenvolvimento económico

O crescimento económico, que em termos reais é avaliado pelo crescimento real do PIB à um ritmo
maior que o crescimento populacional, devera ser um dos objectivos da política económica dos
Governos e da actividade financeira do estado.

O desenvolvimento económico é no essencial, um processo dinâmico visando alcançar a progressiva


redução dos desequilíbrios entre regiões e na distribuição do rendimento nacional.

1.3 Missão das Finanças Públicas

A Missão das Finanças Públicas é garantir a captação, mobilização, alocação, controlo e aplicação
prudente, criteriosa, eficiente e transparente dos recursos públicos com vista a satisfazer as
necessidades de interesse público e promover o crescimento económico inclusivo e o desenvolvimento
harmonioso e sustentável do País.

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1.4 Principais acepções da expressão “Finanças Públicas”

A expressão Finanças Públicas pode ser utilizada em três sentidos diferentes, a saber:

 Sentido orgânico – conjunto de órgãos do Estado ou de outro ente público que tem por
função gerir os recursos económicos destinados a satisfazer determinadas necessidades
sociais; (p. ex.: Ministério das Finanças).

 Sentido objectivo – designam a actividade em si desenvolvida pelo Estado ou outro ente


público com vista à afectação dos meios económicos necessários à satisfação de
determinadas necessidades sociais.

 Sentido subjectivo – Refere-se a disciplina científica que estuda os princípios e regras que
regem a actividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que lhe estão confiadas.

No segundo e terceiros sentidos, tende-se modernamente a designar-se por Economia Pública, quer
esta forma de actividade económica, quer o ramo de Economia que a estuda.

Em suma: O que nos leva a estudar as Finanças Públicas é, fundamentalmente, a existência de uma
actividade financeira pública, que se traduz em obter receitas para a realização de despesas com vista
à satisfação de necessidades colectivas.

1.5 Fenómeno Financeiro

As entidades públicas, ao satisfazerem as necessidades que lhes estão confiadas, utilizam bens
económicos, desenvolvendo uma actividade na natureza económica. Assim, fala-se em fenómeno
financeiro procura exprimir justamente essa utilização de meios financeiros próprios para a satisfação
das necessidades comuns. Igualmente, representa o estado das relações económicas entre as pessoas e
instituições sociais, por um lado, e o Estado, do outro com essas instituições. Sendo o fenómeno
financeiro, fenómeno social pode ser encarado sob muitas perspectivas. As mais importantes são: (1)
a política, (2) a económica, e (3) a jurídica.

1.5.1 Perspectiva Política do Fenómeno Financeiro

A Perspectiva Política do Fenómeno Financeiro – compreende (a) Finanças Públicas e Poder Politico,
(b) as Comunidades Religiosas (para leitura), (c) as Organizações Internacionais (para leitura), e (d)
as Instituições infra-estatais.

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(a) Finanças Publicas e Poder Político – o fenómeno financeiro, tal como hoje o conhecemos,
pressupõe é um processo socialmente organizado e, em regra, coactivo de interpretação e
satisfação das necessidades públicas, em função do bem comum da comunidade considerada.
Trata-se, pois, de um fenómeno cuja base é social, (no sentido de que pressupõe a existência de
uma sociedade) e que implica ainda mais a organização dessa sociedade em comunidade politica,
com existência de uma diferenciação entre governantes e governados e exercício do poder
politico pelos governantes.

Na base da actividade financeira encontram-se dois pressupostos:

(1) A existência de necessidades sociais, ou seja necessidades que resultam da própria vida em
sociedade e que são sentidas pelos indivíduos enquanto elementos integrantes da sociedade
e sentidas, ainda, pela própria sociedade em si.

(2) A existência de um processo pelo qual são definidas as necessidades que irão ser satisfeitas,
de acordo com a hierarquia estabelecida, afectados os recursos à sua satisfação e impostas as
opções aos elementos da sociedade (indivíduos e grupos).

(b) Comunidades Religiosas – existem no âmbito das comunidades religiosas fenómenos que se
assemelham, pelo menos formalmente aos fenómenos financeiros. Numa dupla perspectiva:
satisfação das necessidades colectivas e financiamento do funcionamento das instituições. Estas
comunidades funcionam à base de comparticipação dos fieis, quer através de doações
espontâneas, quer do pagamento de determinadas taxas em troca de serviços, sem no entanto,
sem recorrer à coacção.

(c) Organizações Internacionais – o problema de particular actualidade é o de saber se o fenómeno


financeiro se restringe ao quadro estatal ou se existem para além do Estado fenómenos
financeiros próprios da comunidade internacional, nomeadamente nas organizações
internacionais. A indagação sobre a existência de fenómenos extra-estatais não se confundem
com o reconhecimento forçoso de que existem regras internacionais que se fazem sentir sobre a
actividade financeira interna do Estado, como sejam os tratados e convenções internacional
relativos à tributação e luta contra a evasão fiscal.

Trata-se de saber se na vida das organizações internacionais existem, de facto, fenómenos


financeiros. Em princípio, pela sua própria existência e funcionamento, as organizações

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internacionais implicam que haja formas de financiamento e processos internos que se podem
aproximar daqueles que são prática corrente dos Estados. Enquanto esse financiamento for
assegurado através das contribuições voluntárias do Estados Membros, como sucede nas Nações
Unidas, por exemplo, não existe qualquer elemento que nos permite dizer que estamos perante
os fenómenos financeiros. No entanto, o desenvolvimento moderno de organizações
supranacionais veio introduzir novos elementos na questão, na medida em que veio nalguns
casos atribuir-se a essas organizações um poder que se exerce dentro das fronteiras dos Estados
Membros e lhes permite entrar em relação com os cidadãos de cada país; por exemplo,
Organização Internacional dos Transportadores (OIT) vs Organizações Nacionais de
Transportadores (ONT) geram receitas próprias, com estas receitas podem pagar uma
percentagem na OIT. Assim, aumenta o volume financeiro dos recursos afectos a organizações
internacionais e qualitativamente, surgem fenómenos financeiros próprios no seu âmbito
(finanças supranacionais).

(d) Instituições infra-estatais – seria impensável que o Estado chamasse a si a totalidade de


satisfação das necessidades públicas; e mais ou menos em todos países existem áreas que estão
afectas a outros entes públicos. No país, para além do Estado, encontramos outras entidades que
exercem uma verdadeira actividade financeira pública. Assim, no seio da Administração Pública
podemos encontrar serviços com autonomia administrativa e financeira que movimentam somas
avultadas de fundos são os casos de empresas públicas e autarquias locais e institutos nacionais
e outros entes equiparados.

1.5.2 Perspectiva Económica do Fenómeno Financeiro

A Perspectiva Económica do Fenómeno Financeiro – compreende (a) economia privada, social e


pública, (b) o poder e a economia, ordenação económica, intervenção económica e actuação
económica do Estado.

(a) Economia privada, social e pública – a actuação económica das pessoas, dos grupos e da
sociedade pode ser exercida de diversas formas. Em alguns casos, deparamo-nos perante
indivíduos, famílias ou organizações de base contratual que na produção, no consumo, na
repartição ou na circulação actuam como unidades individuais ou como organizações de base
contratual, na satisfação das respectivas necessidades, segundo critérios predominantemente
individuais. Trata-se de economia privada, em regra contratual. Outras vezes, deparamo-nos,

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também, com organizações que visam satisfazer necessidades, segundo uma lógica cooperativa
ou colectiva, recorrendo à disciplina institucional interna do grupo, mas sem a possibilidade
de recorrer a mecanismos de coacção externa. Por exemplo, as tradicionais formas de
comportamento económico comunitário, as novas modalidades de unidades cooperativas ou
autogestionárias, as instituições não contratuais. Estas formas de organização económica
constituem exemplos da economia comunitária, cooperativa ou colectiva. Finalmente temos a
economia pública (sujeito actual e importante: é o Estado) quando as pessoas podem associar-
se em organizações políticas, nas quais tem por fim o interesse geral de sujeitos
indeterminados, indo para além da simples satisfação de necessidades comuns sociais. Para tal
se socorrem de poderes de autoridade – no duplo sentido da produção de preceitos sociais
obrigatórios, mesmo para quem não participou na respectiva elaboração, e da possibilidade de
recorrer, se necessário, à coacção por parte dos órgãos da instituição.

A economia privada baseia-se no livre comportamento dos agentes económicos e em


equilíbrios, parciais e gerais, por eles livremente estabelecidos, de acordo com os seus
interesses próprios confrontados com transparência e medido por referências comuns – os
preços formados em mercados. Tem como instrumentos fundamentais os contratos e como
instituição básica de apropriação dos bens, produtivos ou de consumo, a propriedade privada.

A economia social assenta na solidariedade, organizada em grupos de diversa dimensão e nível


económico, na liberdade de comportamentos das pessoas e dos grupos, na combinação da
propriedade privada com a propriedade social e comunitária, na cooperação organizada (mais
livremente ou com maior peso dos interesses sociais); ela pode integrar instrumentos de
racionalidade e solidariedade orgânica diversificadas, que combinam o individualismo com o
solidarismo, nos seus diversos matizes.

A economia pública assenta, à partida, na existência de uma solidariedade organizada e dotada


de poder político – portanto, da coacção máxima social – à escala da colectividade ou de
subsistemas do sistema social, numa lógica de direcção económica planeada, com formas de
apropriação dos bens pela sociedade através dos seus órgãos políticos e juízos colectivos de
utilidade; estes impõem-se do centro (órgãos de decisão politica) para a preferia (membros da
sociedade), seja qual for a forma de designação e o critério de funcionamento interno da
entidade pública considerada.

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(b) O poder e a economia – é importante entender a relação entre o poder político (modelo ou
padrão da organização do Estado) e actividade económica, entendida como o processo
orgânico de satisfação das necessidades humanas mediante a afectação de bens materiais raros
ou escassos a fins alternativos tais como individuais ou sociais, privados, comunitários ou
públicos. Esta relação pode ser de três tipos principais, a saber: (1) a ordenação económica; (2)
a intervenção económica e (3) a actuação económica pública.

(1) A ordenação económica – corresponde a primeira função da máquina político-


administrativa, à qual compete proceder a definição de quadro geral de natureza jurídica
e social em que se vai desenvolver a actividade económica. Resulta da própria definição
de uma política ou doutrina económica e social do Estado, que se pode inspirar, por
exemplo, nas filosofias abstencionista2, liberal, socialista, comunista, etc. e por essa via
estabelecer os contornos da actividade económica.

Os princípios inspiradores concretizam-se na Constituição Económica que compreende ao


conjunto de varias normas, às quais há-de obedecer toda a vida económico-social, e na
Legislação Económica que se consubstancia na produção das normas jurídicas que aspiram
regulamentar a ordenação económica.

O Estado pode ainda, ao abrigo da sua função ordenadora da vida económica, produzir
directivas gerais e específicas. No que concerne a directivas gerais que não demarcam os
quadros fundamentais de toda a vida económica, mas a ela se subordinam, seja para toda a
actividade económica, seja para certos sectores, tipos de actividade ou conjunto de relações
económico-sociais gerais e permanentes, regulando de forma directa, por exemplo, um
sector ou uma área de actividade. As directivas gerais podem abranger as instituições
gerais (nas áreas de produção, do consumo, dos instrumentos reguladores – mercados e
plano -, da circulação de bens – moeda e crédito -, dos mercados de factores de produção,
de repartição de rendimento e das relações internacionais). E, as directivas especificas
orientam a funcionalidade sectorial, por exemplo, agricultura, industria, comércio e outros
serviços.

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Abstenção económica do Estado – o Estado tende a não exercer funções de regulamentação e intervenção sobre a
actividade económica, para deixar agir espontaneamente a livre concorrência. Toda a orientação económica é dominada
pela preocupação de não modificar o comportamento normal dos sujeitos económicos privados, abstendo-se quanto
possível de interferir sobre eles ao desenrolar o seu comportamento próprio (actividade económica)

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(2) A intervenção económica do Estado acontece quando utiliza os instrumentos monetários
ou financeiros de que pode lançar mão dentro dos parâmetros gerais previamente definidos
na sua função ordenadora da vida económica. Supondo que o Estado considera indesejável
que se produzam mais tecidos de fibras sintéticas. O Estado pode intervir da seguinte
maneira:

a. Pode evitar que se abram mais fabricas;


b. Poderá baixar o preço dos têxteis, implicando a falência de algumas unidades
fabris, e (2) outras podem retrair a produção;
c. Poderá restringir o crédito ao sector;
d. Poderá afixar quotas do mercado; ou
e. Restringir a produção de fabricas e
f. Etc.

Neste contexto, o Estado recorre ao seu poder para modificar o comportamento de sujeitos
económicos (não alterando os quadros gerais da actividade económica); e isso pode resultar
de disposições directas limitativas, como por exemplo, de restrições financeiras, do
agravamento de impostos, de simples movimento de forte persuasão, ou coação psicológica
(particularmente quando existem crises graves), ou de muitas outras formas indirectas.

A intervenção económica do Estado, como vimos, pode ser directa ou indirecta, e


representa a relação mais flexível, diversificada e variada entre o Estado e a actividade
económica. De referir que, o Estado ao intervir, fá-lo, sem modificar os quadros gerais, da
actividade económica, e sem tão-pouco tomar decisões relativas à utilização de bens e
satisfação de necessidades sociais ou estaduais, isto quer dizer o Estado não assume-se
como sujeito económico.

(3) A actuação económica do Estado - O Estado pode, como “forma” de organização política
da sociedade, desenvolver uma actividade de sujeito económico colectivo ou social,
comunidade e das pessoas.

Em todos os tempos existiram efectivamente zonas da actividade económica que, por serem
conexas com as próprias funções do Estado, foram por ele exercidas (desde que existe o
Estado). Essas zonas são a Justiça, a Defesa, a Segurança Pública, a Administração Civil e
outros Serviços afins, que só o Estado pode satisfazer. Quando o Estado presta serviços

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está a desenvolver uma actividade económica na medida em que se trata de serviços uteis
e “pagos” por taxas ou impostos, que implicam decisões quanto à afectacao de bens ou
meios económicos raros, e de serviços que têm custos e implicam o uso de bens
económicos.

Para além das zonas consideradas, anteriormente, existem outras áreas de actividades que
o Estado chamou a si prestar, variando de país para país, como, por exemplo: os correios e
telecomunicações, certas modalidades de créditos, a rádio e televisão (por vezes em
concorrência com os privados).

Resumindo: em todos os casos vistos designam-se por actividade económica directa do


Estado, quando o próprio Estado actua como agente ou sujeito económico, formulando
escolhas ou opções económicos no interesse de comunidade que lhe cumpre satisfazer.

Exemplificando as relações entre as modalidades têm-se:

Como formas de ordenação, pode referir-se as disposições constitucionais que se referem


à actividade económica; a legislação sobre os sectores institucionais de produção; a
legislação sobre sociedades comercias.

No que diz respeito a intervenção, de referir, por exemplo, a realização de compras pelo
Estado para facilitar o combate à depressão económica; a constituição de empresas públicas
com o fim de promover o desenvolvimento económico; o tabelamento de preços (por
exemplo, combustíveis), adopção de medidas anti-inflacionárias, a acção psicológica da
persuasão dos industriais para estimular o aparecimento de novas indústrias; a aprovação
de um Plano Económico e social pelo Parlamento sob proposta do Executivo.

Na sua actuação económica, o Estado cobra imposto e realiza despesa; dispõe de edifícios,
de florestas, de recursos minerais; tem acções e obrigações de que é titular; contrai e
reembolsa empréstimos; vende o seu património; etc.

Nenhum dos comportamentos acima referidos exclui um do outro são cumuláveis. Assim,
a actuação do Estado pode ser uma forma de intervenção, por um lado, e por outro pode
não o ser, a ordenação económica pode assumir-se como mera forma de intervenção
generalizada, e até pode ser tomada como meio de criação de bens.

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1.6 Conceitos de Finanças Públicas e Finanças Privadas

Finanças Públicas – é o estudo das relações financeiras ligadas a formação (angariação), aplicação e
o controlo dos recursos financeiros pelas entidades públicas, com vista a satisfação das necessidades
em bens e serviços públicos, isto é, a actividade financeira das entidades públicas.

Finanças Privadas - compreendem aspectos tipicamente monetários do financiamento de uma


economia, abrange problemas relacionados com a moeda e créditos ou, mais restritamente, os
mercados financeiros onde se transaccionam activos representados por títulos a médio e a longo
prazos.

1.6.1 Diferenças entre Finanças Públicas e Privadas

A actividade financeira das entidades públicas enquadra-se nas Finanças Públicas enquanto a
actividade das pessoas singulares e colectivas privadas se considera no âmbito das Finanças Privadas.
As finanças Públicas distinguem-se claramente das privadas quanto ao fim que prosseguem quer
quanto aos meio utilizados.

a) Quanto aos meios utilizados:

As Finanças Públicas, utilizam meios de financiamentos obtidos através do exercício do poder de


coação. Para dizer que, os recursos das finanças Públicas advêm das contribuições autoritariamente
imposta pelo estado aos cidadãos, isto é, o estado coage ao cidadão a contribuir, sob a forma genérica
de tributos, enquanto, as Finanças Privadas utiliza meios de financiamentos provenientes da troca
dos bens e serviços produzidos no mercado, isto é, os recursos que resultam dos preços pagos pelos
cidadãos, estabelecidos segundo uma forma negocial.

b) Quanto ao objectivo (seu fim):

As Finanças Públicas providenciam bens e serviços para satisfazer necessidades públicas, isto é,
satisfação das necessidades colectivas da sociedade; enquanto, as Finanças Privadas providenciam
bens e serviços que colocam no mercado destinados a satisfazer necessidades individuais ou
particulares (privadas).

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c) Quanto às relações entre Receitas e Despesas

As Finanças Privadas, são as receitas que determinam as despesas. Uma entidade privada não pode
efectuar mais despesas do que o montante que prevê arrecadar com a venda do seu bem/ serviço.
Enquanto, as Finanças Públicas, aparentemente são as despesas que determinam as receitas, mas, há
que ter em conta que o Estado determina as receitas e as despesas em função do que pretende atingir.

1.7 Processos das Finanças Públicas

Designa-se de Processo de Finanças Públicas ao conjunto estruturado de funções, actividades,


operações e respectivos procedimentos e responsabilidades pela sua execução, de forma padronizada
e em cada componente ou subsistema específico de Finanças Públicas, que concorra para a
prossecução da Missão das Finanças Públicas, em geral, ou de uma ou mais partes específicas das
Finanças Públicas, em particular.

Os diversos processos de Finanças Públicas classificam-se em Primários, Associados, Influentes e de


Suporte, atribuindo-se-lhes, respectivamente, os seguintes entendimentos:

 Processos Primários, os processos que intervêm e contribuem directamente na implementação


e prossecução da Missão das Finanças Públicas;

 Processos Associados, os processos que têm ou podem surtir impactos ou efeitos financeiros
sistémicos na cadeia de valor e na prossecução dos objectivos de Processos Primários e da
Missão das Finanças Públicas;
 Processos Influentes, os processos que, ainda que as suas actividades decorram fora do sistema
ou da cadeia de valor das Finanças Públicas, os seus efeitos têm ou determinam algum impacto
significativo na gestão das Finanças Públicas, podendo implicar a reorientação ou o desvio de
aplicação de recursos para se atender a situações concretas ou a efeitos decorrentes da sua
ocorrência.
 Processos de Suporte, são aqueles processos instrumentais e cuja intervenção ou contributo é
indispensável para a viabilização ou facilitação da implementação da missão das Finanças
Públicas, na sua cadeia de valor.

1.8 Definição do Governo

O Governo entende que as finanças públicas representam a fotografia das transacções financeiras do
governo. Estas transacções incluem a colecta de receitas através da política tributária ou outras fontes
de receitas, assim como a despesa orçamental e as operações financeiras que não são consideradas

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despesas mas são executadas pelo governo. Por exemplo: o recebimento de um empréstimo ou
donativo externo que financia o orçamento. Inclui-se nesta definição as operações do governo central
e as dos governos provinciais, a gestão da divida pública e a gestão de activos do Estado da economia.

As contas das empresas públicas e dos governos autárquicos não fazem parte das finanças públicas.
Embora a legislação referente a Conta Geral do Estado, o encerramento das contas do Estado devem
incluir balanços gerais das empresas públicas e dos governos autárquicos.

1.9 Conceito de Dinheiros Públicos

Os Dinheiros Públicos – são todos os fluxos anuais de fundos e de valores equiparados,


movimentados, durante o período financeiro, no âmbito do Sector Público Administrativo,
nomeadamente, pela Administração Central, Provincial, Distrital, pelos fundos e serviços autónomos,
pela segurança social, pelas autarquias locais, em principio, no quadro dos respectivos orçamentos
anuais independentemente da sua origem ou destino.

São, igualmente, dinheiros públicos, todos os fluxos de fundos e valores equiparados, movimentados,
possuídos, pelo sector público empresarial, independentemente da sua origem e do seu destino.

Notas suplementares

1. Para efeitos de entendimento dos dinheiros como públicos é indiferente o facto de terem sido
gerados ou despendidos no estrangeiro; por exemplo as receitas e despesas consulares.
2. Os dinheiros públicos não perdem a sua natureza pública pelo simples facto de serem
transferidos para beneficiários privados, exteriores ao sector público.

1.10 Detenção de fundos públicos

As entidades públicas que devem possuir ou deter os dinheiros públicos são: o Estado, as instituições
públicas, as autarquias locais, as empresas públicas, ou outros organismos ou entidades devidamente
autorizados.

1.11 Actividade Financeira Pública ou Economia Pública

O fenómeno financeiro é um tipo cientificamente definido de fenómeno social. Na verdade, faz parte
da vida social e pode ser objecto de uma análise segundo a óptica própria das diversas ciências sociais:
do Direito, se for encarado na perspectiva dos valores de justiça e das normas que se propõe a regula-
los; da Economia, se encarado como forma de afectação de recursos materiais e financeiros escassos

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a fins alternativos; a Ciência Politica se for como forma de exercício do poder em geral; ou politico
em especial; da Psicologia, se for encarado nos aspectos de psicologia individual e social; e da
Sociologia, se for concebido na sua essência pura e mais geral de fenómeno social.

A actividade financeira pública ou economia pública - compreende a actuação económica directa do


Estado através de utilização dos meios económicos raros susceptíveis de aplicações alternativas por
entidades públicas ou pela própria comunidade, a fim de satisfazer necessidades comuns.

Tomemos, um exemplo. Imaginemos que há uma praga de mosquitos, portadores de malária, numa
colectividade, e que os membros da comunidade pretendem exterminar os insectos. Para isso, as
alternativas possíveis são as seguintes:

1) Não sair de casa para não ser picado por nenhum mosquito. Excepto se algum mosquito entrar
em casa, a solução será eficiente; tem porém um inconveniente de os residentes da área não
poderem se deslocar fora da casa. O custo directo desta alternativa é quase nulo; mas ela tem
o grande contra de impedir a actividade normal das pessoas.

2) A comunidade fica em casa instala-se ar condicionados e assim melhoram as condições de vida


e de trabalho. O custo seria mais elevado: 55.000,00Mt. E, o mesmo inconveniente continua a
de não permitir a comunidade de desenvolver as suas actividades normais.

3) A comunidade pode sair de casa; usando cremes ou outros processos de protecção contra os
mosquitos (redes mosquiteiras). O incómodo pode ser grande, e a eficácia da solução é
razoável, mas ela é barata: 800,00Mt. E permita às pessoas fazerem a sua vida fora da casa.

4) Pode-se utilizar um nebulizador ou extintor no jardim de cada um dos residentes, afastando um


pouco mais os mosquitos infectados. A eficácia é duvidosa e o custo mais elevado: 5.500,00Mt.

5) Nenhuma destas soluções elimina o mal na origem: os mosquitos continuarão a existir e a


multiplicarem-se. A única solução totalmente eficiente será a pulverização aérea dos seus
viveiros com pesticidas adequados: esta solução custará, por hipótese, 250.000,00Mt. (frete de
uma avioneta e aquisição de produtos químicos).

A escolha entre estas diferentes soluções técnicas – que não são equivalentes mas todas minimizam o
problema de combater mosquitos causadores de malária – depende das possibilidades orçamentais
(constrangimentos orçamental) de cada pessoa e dos inconvenientes pessoais de cada uma delas. Para
a generalidade, a alternativa 5 seria desejável, mas estaria acima das possibilidades orçamentais de

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cada um. As outras quatro alternativas seriam escolhidas consoante o custo e os orçamentos de cada
um: os mais pobres teriam acesso apenas a alternativa 1; outros disporiam de outras alternativas.

A acção individual tem, em regra, acesso às quatro primeiras soluções alternativas. Na verdade, a
quinta solução, ainda que estivesse ao alcance dos recursos económicos de algum particular muito
rico, sempre possibilitaria a “boleia” ou “borla” de todos os outros: estes tirariam o mesmo proveito
que o financiador da iniciativa, mas de graça, enquanto este a pagou por inteiro. Ou então, para ela
poderão associar-se os vizinhos, empreendendo um acção comum: mas quem garante que todos
queiram contribuir, admitindo que algum tome por si a incitativa, de modo parcialmente altruísta? A
verdade é que, sem fazer nada, os vizinhos que nada gastaram tiram o mesmo benefício da extinção
dos mosquitos; e, mesmo ficando mal vistos, podem não gastar nada, utilizando – por “boleia” ou “à
borla” – os benefícios gerados pelas acções dos outros. E pode suceder que os poucos que aceitarem
pagar ou cooperar de outra forma, acabariam por achar o custo tão caro que isso os levaria a desistirem
por não poderem financiar a acção necessária.

A acção pública mostra-se a mais adequada, pois, é a que é empreendida por entidades públicas:
entidades dotadas de poder de autoridade, obrigadas à prossecução de fins gerais da colectividade e
representativas dos seus membros, com base institucional que não é necessariamente a da
voluntariedade de associação (embora possa sê-lo em associações publicas livres). Este conjunto de
actividade constitui o cerne da economia pública (em sentido amplo, abrangendo as actividades de
ordenação, intervenção ou actuação económica publica); ou em sentido restrito, abrangendo somente
a actuação económica publica (do lado de obtenção de recursos – finanças públicas stricto sensu).

1.12 Actividade financeira como forma de satisfação de necessidades

Os intervenientes da Economia são todos agentes que intervém na economia exercendo pelo menos
uma actividade económica (Produção, Distribuição e Consumo)

Empresa – todo conjunto organizado de recursos financeiros, materiais e humanos actuando na


produção de bens e serviços que satisfazem necessidades, cujo principal objectivo é a maximização
do lucro.

Famílias – São os principais demandantes de bens e serviços produzidos pelas empresas e são em
simultâneo a mão-de-obra das mesmas.

Estado – é o agente regulador da economia, com o intuito de satisfazer as necessidades colectivas.

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Necessidade - É o estado de carência ou insatisfação pela ausência de consumo de um bem ou serviço.

O Estado, ao desenvolver a sua actividade age ou actua para satisfazer um conjunto de necessidades
comuns. Assim, é pelo tipo de necessidades e pela forma como são satisfeitas que se pode caracterizar
a actividade financeira.

1.13 Classificação das Necessidades

› Primária
› Importância
› Secundária

› Económicas
Necessidades › Custo
› Livres

› Individuais
› Abrangência

› Colectivas

1.14 Traços Fundamenais das Necessidades

As necessidades podem ser caracterizadas por três traços fundamentais:

1) Necessidades sociais
2) Necessidades públicas
3) Necessidades de satisfação passivas

Necessidades sociais – são aquelas que resultam necessariamente da vida em sociedade e são sentidas
pela sociedade no seu conjunto, ou como um todo.

Necessidades públicas – são aquelas cuja satisfação é feita pela actuação do Estado ou de outros entes
públicos.

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Necessidades de satisfação passivas – são aquelas cuja satisfação se faz pela mera existência dos bens,
e não exigem, qualquer actividade do consumidor. Por exemplo: a necessidade de defesa do território.
Os habitantes de determinado país sentem a necessidade de estar permanentemente defendidos ou
protegidos contra possíveis ataques externos, mediante o serviço de exército. Daí a razão de criação
de exército, e que basta que esse serviço tenha sido criado, para que todos o utilizem, isto é, para que
todos satisfaçam a sua necessidade de defesa do território.

1.15 Necessidades financeiras como necessidades públicas

O que permite caracterizar uma necessidade como publica é a forma por que é satisfeita. E, a
circunstância de ser satisfeita pelo Estado ou por outro ente publico. Quanto a forma de satisfação,
assume-se a satisfação privada, que pode ser através de criação de bens, da prestação de serviços ou
de utilização de bens. Quanto a circunstâncias de estas necessidades serem satisfeitas pelo Estado ou
outro ente publico, tem importantes consequências (1) a possibilidade de uso de coação na
determinação das necessidades, como na escolha dos processos de financiamentos (a obtenção de
recursos para satisfazer as necessidades). Para isso vai implicar a imposição de um sacrifício
patrimonial aos particulares; e (2) os critérios de opção são distintos. Embora possa haver decisões
politicas, em geral o processo da decisão financeira obedecer aos critérios que orientam em geral o
sistema económico-social.

Necessidades de satisfação passiva

As necessidades de satisfação passiva não assenta num mecanismo de procura; o seu financiamento
faz-se por imposição de um sacrifício ao património dos particulares. São os casos de segurança
pública, a defesa nacional, a administração civil e outros serviços. É ao Estado que cumpre a
responsabilidade de assegurar a satisfação.

Necessidades de satisfação activa

As Necessidades de satisfação activa são aquelas cuja satisfação exigem uma certa actividade do
consumidor. Por exemplo: a necessidade de alimentação. Para uma pessoa se alimentar, não basta que
os bens existam, que mantimentos tenham sido produzidos; é preciso que a pessoa os procure, que
desenvolva uma actividade para os utilizar. Estas assentam no mecanismo de troca (procura e oferta
no mercado) no qual o critério objectivo do valor é o preço de bens ou serviços.

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1.16 Circunstâncias de Satisfação

Activa (princípio de exclusão): o produtor dos bens pode exigir um preço pela utilização desses bens.
Aí, vigora, o princípio da exclusão: o preço exclui os que não podem ou não estão em condições de
pagar. Por exemplo: o padeiro que fabricou o pão, ao marcar o preço impede quem quer comer o pão
sem ter pago previamente. Isso permite lhe, através da venda, cobrir as despesas da produção.

Passiva (princípio de inexclusão), o produtor dos bens já não pode exigir pela utilização dos bens
preço nenhum. Imagine-se que alguém se recordou de organizar o serviço do exército. Desde que o
serviço existe, passa a ser utilizado por todos sem pagamento de qualquer preço. O indivíduo que criou
o serviço de exército não beneficia do princípio de exclusão: vê-se impossibilitado de obter o mínimo
pagamento dos utentes ou utilizadores desse serviço e fica com as despesas integralmente a seu cargo.

1.17 Critérios de satisfação pública de necessidades sociais

Vários critérios têm procurado definir objectivamente critérios de racionalidade económicas, que
explicassem as opções formuladas antes ou para além de qualquer decisão politica. De todas teorias,
um critério que importa reter é o dos bens públicos ou bens colectivos. Os bens públicos tem uma
natureza que implica uma alternativa ou não existem, e afecta o bem-estar geral; ou só pode ser
produzido por entes públicos. Tomemos os seguintes exemplos:

(1) O farol de navegação marítima, a sua criação e funcionamento é incompatível com as regras do
mercado e, no entanto, a sua necessidade é sentida por todos os que fazem a navegação costeira. As
utilidades que ele presta não podem ser imputadas a um determinado agente económico que possa
como tal pagar a sua criação ou funcionamento. E,

(2) Um interesse egoísta chega para financiar o uso de um bem, mas não pode vedar a sua utilização
pelos outros: o caminho municipal que dá acessos à quinta do Sr. Mungoi, financiado pelo dono da
quinta, é acessível a todos, além de ser considerado beneficiário, fica compensado pelo proveito que
tira do caminho. Todavia, isto só sucederá com pessoas altruístas e com bens cujo custo de produção
ou provisão não seja excessivamente elevado. Pode ainda suceder que vários interessados se associem
para construir o caminho de acesso às suas quintas, mas não poderão, se se tratar de vias públicas,
vedar a utilização a outros pelo que alguns se sentirão tentados a não participar, beneficiando-se da
obra comum; ou então tentarão cobrar uma portagem, ou vedar o acesso aos outros – o que só pode
ser o Estado a consentir ou impor.

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Provisão Pública de Bens consiste no fornecimento de bens ou serviços através de prestação de
serviços públicos com vista a proporcionar maior bem-estar económico e social. A provisão pode
assumir o carácter duradoiro (património do Estado) ou anual (despesas públicas).

Há uma diversidade de bens. Segundo Finanças Públicas, os bens classificam-se em:

 Bens Públicos,
 Bens Privados e
 Bens Sem-Públicos.

Assim, entende-se por um Bem Público um bem cujos benefícios são usufruídos por toda
comunidade de modo indivisível, independentemente da vontade de um qualquer indivíduo querer ou
não consumir o bem público.

Bens públicos ou bens colectivos são aqueles em que, para um determinado nível de existência ou
provisão do bem, a sua utilização por uma pessoa não prejudica minimamente a utilização por qualquer
outra. Ex.: estradas, hospitais públicos, escolas públicas, defesa nacional, etc.

É o caso de um farol, da defesa nacional, do serviço de patrulha policial ou patrulha costeira, do


funcionamento geral dos órgãos de soberania, caminho municipal que dá acesso a quinta do Sr.
Beltrano.

Bens públicos propriamente ditos (puros) – são os que se limitam a satisfazer as necessidades
colectivas. O consumo destes bens por um indivíduo não afecta o seu acesso por outro. Todos
usufruem dos bens e não há como o governo mensurar o quanto cada indivíduo o usa e assim tributá-
lo, podendo ser usados mesmo por aquele que não é tributado. Ex.: iluminação pública.

Bens privados são aqueles produzidos por Entidades Privadas e que para sua aquisição, o produtor
exige o pagamento de um preço, excluindo todos os que não querem pagar. Estes bens satisfazem as
necessidades individuais ou pessoais. Ainda pode-se definir:

Bem privado é aquele que não pode ser compartilhado por todos. Há concorrência entre os indivíduos.
O direito de propriedade não permite que todos tenham acesso ao bem.

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Bens semi-públicos são aqueles produzidos por uma colectividade de carácter público ou privado
podendo ser gratuitos, parcial ou totalmente custeados pelos utilizadores. Por outra:

Bem semi-publico - é aquele que pode ser oferecido tanto pelo Governo quanto pelo sector privado.
O governo o oferece para tentar reduzir as desigualdades de acesso. E, em alguns casos, há uma
selecção para possibilitar o acesso ao bem, atendem ao princípio de exclusão ou seja excluem do
usufruto aqueles que não pagam. Ex: serviços de Educação e Saúde.

Aspecto importante:

 Um bem público não é necessariamente propriedade do Estado.


 É público no sentido de estar inteiramente disponível para toda a gente.

1.18 Características de bens públicos ou bens colectivos

a) Prestam pela sua própria natureza, utilidades indivisíveis todos os indivíduos têm acesso aos
bens públicos à mesma disponibilidade, isto é, os bens públicos não são susceptíveis de serem
utilizados por um só indivíduo isoladamente. Ex.: a iluminação pública.
b) São bens não exclusivos, significa que não é possível privar ninguém da sua utilização. Ex.: o
Estado de segurança nacional que é garantido pelo exército e pela polícia é usufruído por todos
sem nenhuma exclusão; e
c) São bens não emulativos – significa que os sujeitos não entram em concorrência para
conseguir a sua utilização.

1.19 Provisão dos Bens Públicos e Bens Privados

Bens Públicos:
 Os bens públicos/colectivos são normalmente fornecidos por entidades públicas;
 Pode haver provisão conjunta ou por iniciativa comum de bens colectivos por entidades
públicas e privadas, caso em que, em regra, a decisão fundamental será pública, contando
com a colaboração privada;
 Satisfazem as necessidades colectivas
 São produzidos por entidades públicas
 São custeados por via coativa ou pelo pagamento de um preço igual ao custo do produto

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 Não há concorrência entre os consumidores para a aquisição do bem.
 O mercado não os pode produzir
 Não se pode limitar a sua utilização ao um só sujeito.
 Em contrapartida é extremamente difícil excluir alguém dos benefícios de segurança
interna ou defesa nacional, só para mencionar estes dois exemplos.

Bens Privados:

 Os bens privados são fornecidos por entidades privadas;


 Pode haver bens/serviços individuais objecto de provisão mista (caso muito frequente:
parcerias público-privado);
 A generalidade dos bens individuais tende a ser objecto de provisão privada;
 Satisfazem as necessidades individuais;
 São produzidos por agentes privados;
 Implicam concorrência entre os consumidores;
 Pagamento do preço fixado pelo mercado entre os produtores e consumidores.

Bens semi-públicos

 São produzidos pela colectividade pública ou privado;


 Satisfazem necessidades independentes da procura dos consumidores;
 Podem ser gratuitos, parcial ou totalmente custeados pelos utilizadores.

Resumindo: consoante a entidade que oferece os bens ou serviços, consideraremos de bens públicos,
nos casos de bens oferecidos por entidades públicas; de bens privados, nos casos de bens oferecidos
por entidade privadas e de bens semi-públicos nos casos em que há provisão conjunta ou por iniciativa
comum de bens colectivos por entidades públicas e privadas.

A provisão dos bens públicos pode e deve ser feita pelo Estado por diversas razões:

 O Estado tem uma perspectiva de interesse geral,

 O Estado tem perspectiva temporal ilimitada e uma capacidade de risco superior à dos outros
grupos ou associações contratuais.

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 O Estado dispõe de autoridade para impor regras da utilização dos bens patrimoniais e seu
funcionamento (coacção, no seu aspecto sociológico); e

 O Estado tem por via de regra, em cada comunidade, dimensão que lhe possibilita empreender
esforços que não estão ao alcance de instituições ou pessoas privadas e que a comunidade em si
não pode resolver com êxito.

1.20 Actuação Financeira do Estado

As Formas de Actuação Financeira do Estado assumem dois momentos importantes a destacar:

A provisão do bem nas condições adequadas à obtenção da satisfação óptima: significa prestar
serviços públicos ou colocando bens à disposição da colectividade, com carácter duradouro
(património do Estado: edifícios, equipamentos, terra, etc.) ou em cada ano (despesas públicas);

Deve observar-se que em casos se trata de actividades sem as quais não haveria Estado; a defesa do
prestígio e autoridade do Estado pode levar a proibição de exércitos privados mas não a serviços
privado de segurança; já que a sua existência fornecem bens/serviços privados a par do bem público
da segurança.

Obtenção dos recursos necessários para assegurar a provisão dos bens através de financiamentos:
receitas públicas (impostos), créditos e donativos.

1.21 Função do Estado

Os elementos constituintes do Estado são:

- Povo

- Território

- Poder Político

Definição do Estado: conjunto de pessoas, ou agregado populacional (que possui cultura, costumes,
hábitos, passado histórico e língua comuns) que se fixa num determinado território e aí exerce o poder
político.

A divisão moderna das funções do Estado é a seguinte:

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a) Funções Políticas – através destas o Estado garante os interesses superiores da Nação, gerindo
a administração pública, e aplicando os recursos na satisfação das necessidades colectivas e
promovendo a paz. O Estado dispõe, portanto, de múltiplas instituições como as polícias, os
tribunais ou o exército.

b) Funções Sociais – O Estado promove a melhoria das condições de vida e de bem-estar da


população. A garantia de acesso gratuito a serviços essenciais aos segmentos da população
mais carenciados (justiça, saúde, educação, etc), correcção das desigualdades sociais,
segurança social, fazem parte destas funções.

c) Funções Económicas – intervindo mais ou menos numa economia moderna, espera-se do


Estado que:

 Afecte criteriosamente os escassos recursos da economia;


 Estabilize a economia e garanta o seu bom funcionamento,
 Defina as regras jurídicas que regulamentam a vida económica,
 Promova o crescimento e o desenvolvimento económico.

1.22 Externalidades, Bens Públicos e outras Falhas de Mercado

Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produção de um determinado bem afetam os


consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos não são considerados no preço
de mercado do bem em questão. Portanto, existe uma externalidade, quando a acção de consumo,
producão ou outra realizada por um agente económico, afecta significativamente o bem-estar de outro
agente e, esse efeito não é transferido através do sistema de preços. Há vários tipos de externalidades:

o No consumo e na produção;
o Envolvendo poucos ou muitos agentes;
o Positivas ou negativas;
o Unidireccionais ou bidireccionais, etc.

Assim, por exemplo, empresa de fundição de alumínio (MOZAL), ao provocar chuvas ácidas,
prejudica o ambiente e sobre tudo a colheita dos agricultores da vizinhança. Esse tipo de poluição
representa um custo externo porque é a agricultura, e não a indústria poluidora, que sofre os danos
causados pelas chuvas ácidas. Estes danos não são considerados no cálculo dos custos industriais, que
inclui itens como matéria-prima, salários e juros. Portanto, os custos privados, nesse caso, são

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inferiores aos custos impostos à colectividade e, por consequência, o nível de produção da indústria é
maior do que aquele que seria socialmente desejável.

Já a educação gera externalidades positivas porque os membros de uma sociedade e, não somente os
estudantes, auferem os diversos benefícios gerados pela existência de uma população mais educada e
que não são contabilizados pelo mercado.

Externalidades Negativas

Vamos agora considerar o caso de um bem ou serviço que envolva a geração de externalidades
negativas. Esse é o caso, por exemplo, dos custos da empresa de fundição de alumínio (MOZAL), que
não está levando em conta os efeitos negativos da poluição. O custo total dessa actividade, para a
sociedade, inclui tanto os custos privados da produção de alumínio como os danos causados pelas
externalidades (custos externos) aos agricultores e cidadãos que polulam a região de Beluluane.

Externalidades Positivas

Em presença de externalidades positivas, os níveis de produção, associados ao equilíbrio de mercado,


são inferiores àqueles que seriam socialmente ótimos. Assim, por exemplo, a expansão da educação
básica gera benefícios para a sociedade que extrapolam os benefícios auferidos pelos estudantes e suas
famílias. Esses benefícios externos não são considerados na decisão privada de frequentar a escola
porque os estudantes não são compensados pelas vantagens usufruídas pelo resto da coletividade,
decorrente de sua decisão de estudar.

1.23 Finanças Públicas como Instrumentos da Política Económica

a) Função do Estado

Existem três funções do sector público numa economia mista contemporânea: afectação, distribuição
e estabilização.

A função de afectação tem por objectivo:

 Promover a afectação eficiente dos recursos


 Assegurar os fundamentos do funcionamento dos mercados (direitos de propriedade etc.);
 Ultrapassar os fracassos do mercado (provisão de bens públicos, correcção das
externalidades, lidar com assimétrica da informação).

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Uma das áreas de intervenção do sector público é a da provisão de bens e serviços públicos que,
sendo desejados pelos cidadãos, não encontram provisão através do funcionamento dos mercados.

A função distribuição tem por objectivo:

 Promover uma sociedade mais justa


 Igualdade de oportunidades – assegurar a todos os cidadãos o acesso a certos bens e serviços
considerados meritórios (cuidados básicos de saúde, ensino básico, defesa, etc.)
 Desigualdade de rendimentos – alterar a distribuição de rendimentos resultante do mercado.

A distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade é, em grande parte, uma herança do passado,
na medida em que determina a distribuição de direitos de propriedade entre os agentes económicos.

A função de Estabilização tem por objectivo principal o seguinte:

 Promover a estabilização macroeconómica da economia, ao nível de:


 Emprego;
 Estabilidade de preços;
 Equilíbrio de contas existentes e;
 Crescimento económico.

A função de estabilização tem por objectivo, promover a estabilização macroeconómica da economia,


de forma a contribuir para o crescimento sustentado da economia, para níveis de emprego elevados,
para uma estabilidade de preços e para um equilíbrio das contas externas.

b) Actividade financeira do Estado

A actividade financeira e seus critérios finalistas compreendem (1) os princípios doutrinários e


políticas da actividade financeira, e (2) funções de sistema financeiro.

1) Os princípios doutrinários e políticas da actividade financeira – a actividade financeira numa


economia descentralizada de mercado, não deixa de ser regida por critérios essencialmente
políticos, significa que as decisões políticas estão em primeiro plano embora se observe o
primeiro de racionalidade económica. Por tanto, os critérios doutrinários e ideológicas se
fazem presente no desenvolvimento da vida social, particularmente no campo económico.

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As decisões políticas são profundamente influenciadas pela época histórica em que ocorrem, e
sujeitam-se a um princípio de equilíbrio entre bens públicos e bens privados, tendentes a
definir, em cada sociedade, os óptimos sociais de previsão relativa dos bens públicos e de
dimensão global do sector publico, nomeadamente o sacrifício imposto pelo Estado através da
tributação, que é nas sociedades modernas o melhor índice sintético da relação público-
privada.

Opções de sistemas: temos correntes de pensamento a considerar (i) Milton Friedman e F. Von
Hayek defendem que a socialização operada pelo crescimento do sector público e das
necessidades satisfeitas de forma pública põe em risco os valores liberais, e (ii) Joseph
Schumpeter mostrou como a evolução da organização empresarial se orientava no sentido de
instauração evolutiva de uma certa forma de socialismo, pela gradual transformação interna do
capitalismo.

Tudo depende, de opções de princípios e de fins gerais que eles ditam à actividade financeira;
a pretensão de apresentar explicações científicas compatíveis com o comportamento do Estado
na sociedade industrial não dispensa de ter como enquadramento doutrinário ou ideológico de
uma teoria que, não obstante, ser necessário ajustar a uma dada realidade. Há por certo,
argumentos teoricamente fundados: o mercado orienta a produção com eficiência, mas não
distribui a riqueza com justiça; as soluções globais são, sempre no campo de doutrinas e no
plano de ideias e politicas.

2) Funções do Sistema Financeiro – Richard Musgrave e Sousa Franco identificaram três funções
do sistema financeiro: (i) afectação de recursos; (ii) distribuição de riqueza; e (iii) objectivos
macroeconómicos (estabilização, crescimento e reformas estruturais).

i. Afectação de recursos – significa atribuição eficiente de recursos sociais apropriados


pelo Estado à provisão de bens públicos, incluindo a função segurança do Estado.
ii. Distribuição de riqueza – significa atribuição, de acordo com os critérios adoptados,
dos recursos existentes entre os membros da sociedade

iii. Objectivos macroeconómicos – designadamente:

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 Estabilização: manutenção de um nível satisfatório da actividade económica,
assegurando a expansão equilíbrio, a plena utilização de recursos e a estabilidade
da moeda que passa pela adopção de medidas apropriadas, por exemplo o
controlo de inflação.
 Crescimento e reformas estruturais: aumento do potencial produtivo nacional,
garantindo assim a manutenção ou intensificação da expansão em períodos
longos, outras formas de remodelação das estruturas económicas e sociais.

1.24 Os meios de financiamento dos bens públicos

Os bens públicos são financiados por três tipos de receitas públicas, nomeadamente, as receitas
patrimoniais, as receitas tributárias e as receitas creditícias.

a) Receitas patrimoniais – são valores que o estado recebe pela prestação de serviços, venda de
bens e produtos sob o seu domínio ou pela utilização individual do património público. As
receitas patrimoniais são voluntárias, pois surgem da manifestação de vontade de um
determinado indivíduo em usufruir de um produto, bem ou serviço que esteja sob domínio do
estado.

b) Receitas tributárias (impostos e taxas) – são valores provenientes do cumprimento de


obrigações impostas por lei aos cidadãos. São, portanto, receitas coativas.

Os impostos – são prestações coativas, unilaterais, sem fins de punição, que são impostas aos
indivíduos em relação aos quais se verificam certos pressupostos, previstos na lei e que
exprimem determinadas situações de riqueza.

As taxas – são prestações do mesmo tipo que os impostos mas que se diferem daqueles pelo
facto de que os particulares a quem são exigidas auferem uma determinada utilidade
relacionada com o funcionamento de um serviço ou utilização de um bem.

c) Receitas creditícias – são resultantes dos empréstimos contraídos pelo estado para cobrir
défices orçamentais ou de tesouraria, ou ainda para esterilizar o poder de compra e combater a
inflação. Podem ser portanto, receitas voluntárias ou coativas.

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2. Finanças Públicas, Clássicas e Modernas

Os sistemas financeiros dependem do regime económico. No capitalismo encontramos dois regimes:

A) Liberalismo (Finanças Clássicas)


- Reduzido peso do poder público na actividade económica
- Liberdade dos múltiplos sujeitos individuais

B) Intervencionismo (Finanças Modernas)


- Maior coordenação e intervenção do poder politico na economia, respeitando, no
entanto, a iniciativa/ propriedade privada.

2.1 Características fundamentais do modelo capitalista liberal (Finanças Clássicas)

a) A privatização da economia

A economia era totalmente privada, competindo ao Estado criar condições para manter a sociedade
organizada e estável e a propriedade privada por si, se defendia. Eram funções do Estado, a defesa,
segurança, administração geral e manutenção da ordem, quando muito, a prestação de outros serviços
que não interessassem ao capital privado.

b) O princípio do mínimo da actividade económica pública

Tanto em quantidade como em qualidade, a actividade financeira estatal deve-se reduzir ao mínimo
imprescindível de modo a absorver o mínimo de rendimento nacional e restringindo-se as actividades
básicas de autoridade e administração.

c) Neutralidade financeira

Há uma neutralidade entre a actividade financeira e a económica. A actividade financeira é organizada


de forma a não perturbar nem destroçar a actividade económica privada e nem deve propôr finalidades
de alteração ou comando de actividade económica privada.

d) Importância dos impostos e os sistemas fiscais

A receita típica do liberalismo é o imposto. O período das Finanças clássicas é o período das Finanças
tributárias. O imposto garantia um peso devido a redução do património estatal, aumento da
importância da riqueza imobiliária do conjunto do rendimento nacional e ainda generalização da ideia

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de que o imposto é dever de cidadania. Os sistemas fiscais típicos do liberalismo assentam na ideia de
justiça meramente formal.

e) Equilíbrio Orçamental

Era o princípio orientador da actividade liberal. Para os clássicos, este equilíbrio orçamental
significava que as despesas totais devem ser cobertas pelas receitas normais (impostos e receitas
patrimoniais) e o recurso ao empréstimo seria excepção em caso de guerra.

Resumindo:

As Finanças clássicas correspondem a fase de puro liberalismo económico e reflectem todas as suas
preocupações, designadamente a restrição do papel do Estado e o elogio da actuação da iniciativa
privada como instrumento fundamental da actividade económica. As duas características fundamentais
de liberalismo económico são:

- Reduzida dimensão do sector público:


- Abstenção económica estadual.

2.2 Transição para as Finanças Modernas

A transição das finanças neutrais para as finanças modernas ou intervencionistas foi determinada pelos
seguintes factores:

a) A passagem do sufrágio de censitário a universal – o voto passa a ser garantido não só pelas
classes possuidoras mas também pela classe operária e para conquistar o voto desta última
classe, o governo no poder cria certos benefícios que aumentam a despesa pública,
nomeadamente a instrução e a assistência médica gratuitas entre outros, abrindo-se deste modo
o caminho para o alargamento do sector público;

b) O reconhecimento pelos clássicos de que a distribuição da riqueza, exclusivamente fundada no


funcionamento do mercado, não era a mais desejável do ponto de vista do equilíbrio geral;

c) A existência de muitos monopólios e oligopólios, o que levou à subida de preços, aumentou a


necessidade da intervenção do estado como regulador e como agente económico, dedicando-
se a actividades que exigiam grandes quantidades de capital e que pudessem concorrer com as
grandes organizações monopolistas.

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d) Após os efeitos nefastos das guerras, os liberais sentiram já a necessidade de que o estado lhes
garantisse a paz, liberdade e segurança.

e) O surgimento de novas teorias económicas com maior ênfases nas de Keynes, que defendiam
a existência de um “estado do bem-estar” (welfare state), reafirmando a necessidade da
intervenção do governo com vista a corrigir os desequilíbrios, dos quais o subemprego era a
manifestação mais visível. Foi com estas teorias que se desenvolveu a ideia de que o recurso
ao empréstimo e à emissão da moeda em certas circunstâncias podia ser benéfico à economia.

2.3 As finanças intervencionistas ou modernas

As Finanças Intervencionistas ou activas – têm a sua génese nas teorias keynesianas dos anos 30 do
séc. XX e defendiam políticas económicas com vista à construção de um “estado do bem-estar social”
– (Well fare state).

Princípios fundamentais das finanças intervencionistas

a) A regra do mínimo é substituída pela regra do estado óptimo – o estado procura, com a sua
intervenção directa, suprir as falhas do mercado;

b) Alargamento do sector público, motivado pelas novas funções assumidas pelo estado;

c) O estado passa a intervir directamente na economia, abandonando o seu papel abstencionista e


assumindo um papel de relevo na actividade económica.

2.4 Finanças Públicas Modernas

As finanças modernas são fruto dos regimes económicos intervencionais e dirigistas. Esta é a razão de
ordem. A dimensão crescente dos actos públicos é uma das características das finanças modernas a
qual passa a resolver parcelas que se situam entre 30 a 50% do rendimento nacional. Alarga-se o
património estatal, multiplicam-se as empresas públicas e o peso do imposto cresce.

As finanças tornam-se activas, pois passam a ter uma atitude e uma prática interveniente. Com o
crescimento do papel do Estado na actividade económica, a actividade privada fica restringida e
condicionada.

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Ao contrário do sistema liberal, há uma integração entre a economia e finanças estando sujeitas à
intreracção das mesmas forças e princípios.

As finanças públicas abandonam o ideal de neutralidade e passam a ser utilizadas como instrumento
das políticas económicas e sociais – ou seja, surgem as políticas financeiras. E também alguns aspectos
jurídicos próprios do liberalismo como é o caso das garantias individuais que sofrem alterações. O
imposto ganha maior importância e surgem as receitas, provenientes do património mobiliário
estadual.

Portanto, nas finanças modernas o imposto tem tanta importância como nas clássicas; mas ele passa a
ser utilizado como instrumento de politica económica ou de politica social servindo, por exemplo, para
redistribuir a riqueza.

2.5 Factores Críticos ao Sucesso de um Sistema de Finanças Públicas Moderno

De entre os aspectos que o Governo, o Estado e os actores do mercado em geral devem assumir como
factores críticos para o sucesso de um sistema de Finanças Públicas efectivo, levando em conta o seu
próprio contexto e estágio de desenvolvimento económico e social nacional, e para os quais os
processos de suporte e de governação devem concentrar maior atenção e esforços, figuram os
seguintes:

 Assegurar um domínio interno total, efectivo e duradoura de gestão e de execução das operações
de Finanças Públicas e de uma Administração Financeira do Estado adequada ao contexto da
tendência à modernização e globalização do mundo actual;

 Assegurar que as transformações organizacionais sejam suportadas por tecnologias de


informação e comunicação e prossigam os benefícios económicos e sociais desejados e garantir
a escolha e implementação de tecnologias apropriadas e a gestão adequada de mudanças
organizacionais e comportamentais para esse efeito requeridas;

 Assegurar que as transformações se realizem de forma controlada e sistémica, gradual,


coordenada, coerente e contemplando, adequadamente, os papéis e estágios de maturidade de
cada instituição e aliadas a prioridades estratégicas do Governo e com uma clara Visão de
Desenvolvimento e das Finanças Públicas; e

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 Assegurar a valorização da profissionalização dos recursos humanos e uma capacidade política,
organizacional, técnica e tecnológica compatível com a capacidade económico-financeira e à
altura de promover e viabilizar a implementação de reformas institucionais e comportamentais
que se mostrem necessárias ao longo do processo desenvolvimento da gestão das Finanças
Públicas e do respectivo sistema no seu todo.

2.6 Conclusão

Os bens públicos, apesar da indivisibilidade que lhes é característica, podem prestar utilidades
individuais. É o caso dos bens semi-públicos.

Importa salientar que o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou oneroso, conforme for
estabelecido por meio da lei da pessoa jurídica à qual o bem pertencer. Ex: o uso do zoológico é
oneroso.

A introdução das receitas tributárias como meio de financiamento dos bens públicos deveu-se
essencialmente à insuficiência das receitas patrimoniais, as quais tornaram-se muito mais baixas desde
a afirmação do liberalismo. Hoje em dia, as receitas tributárias apresentam a parte mais significativa
das receitas públicas e em Moçambique apresentaram um aumento considerável desde o último
trimestre do ano passado.

A intervenção do estado no domínio económico é muito importante, não só em questões de regulação


e controlo, mas também para a criação e execução de políticas de distribuição do rendimento que
reduzam as desigualdades sociais.

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