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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE

CONTABILIDADE PÚBLICA

TRAÇOS FUNDAMENTAIS DAS NECESSIDADES

Necessidades sociais – são aquelas que resultam necessariamente da vida em sociedade e são
sentidas pela sociedade no seu conjunto, ou como um todo.

As necessidades sociais estão ligadas a sua sobrevivência (alimentação, saúde e habitação e


depois segue transporte, vestuário e cultura).

Necessidades públicas – são aquelas cuja satisfação é feita pela actuação do Estado ou de outros
entes públicos.

Necessidades Publicas visam a satisfação regular e contínua das necessidades colectivas


(educacao, etc)

Necessidades de satisfação passivas – são aquelas cuja satisfação se faz pela mera existência
dos bens, e não exigem, qualquer actividade do consumidor. Tomemos como exemplo a
necessidade de defesa do território. Os habitantes de determinado país sentem a necessidade de
o ter permanentemente defendidos ou protegidos contra possíveis ataques externos, mediante o
serviço de exército.

Daí a razão de criação de exército, e que basta que esse serviço tenha sido criado, para que todos
o utilizem, isto é, para que todos satisfaçam a sua necessidade de defesa do território. As
necessidades de satisfação passiva não assentam num mecanismo de procura; o seu
financiamento faz-se por imposição de um sacrifício ao património dos particulares.

Necessidades de satisfação activa – são aquelas cuja satisfação exigem uma certa actividade
do consumidor.

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Exemplo, a necessidade de alimentação. Para uma pessoa se alimentar, não basta que os bens
existam, que mantimentos tenham sido produzidos; é preciso que a pessoa os procure, que
desenvolva, uma actividade para os utilizar.

Circunstâncias de Satisfação

Activa (princípio de exclusão): o produtor dos bens pode exigir um preço pela utilização
desses bens. Aí, vigora, o princípio da exclusão: o preço exclui os que não podem ou não estão
em condições de pagar. Por exemplo o padeiro que fabricou o pão, ao marcar o preço impede
quem quer comer o pão sem ter pago previamente. Isso permite lhe, através da venda, cobrir as
despesas da produção.

Passiva (princípio de inexclusão), o produtor dos bens já não pode exigir pela utilização dos
bens preço nenhum. Imagine-se que alguém se recordou de organizar o serviço do exército.
Desde que o serviço existe, passa a ser utilizado por todos sem pagamento de qualquer preço.
O indivíduo que criou o serviço de exército não beneficia do princípio de exclusão: vê-se
impossibilitado de obter o mínimo pagamento dos utentes ou utilizadores desse serviço e fica
com as despesas integralmente a seu cargo.

Provisão Pública de Bens

As incapacidades do mercado obrigam pois, para haver níveis aceitáveis de bem-estar social, a
actuações correctivas e supletivas de sujeitos económicos não dominados pela lógica do
mercado.

Provisão Pública de Bens consiste no fornecimento de bens ou serviços através de prestação


de serviços públicos com vista a proporcionar maior bem-estar económico e social. A provisão
pode assumir o carácter duradoiro (património do Estado) ou anual (despesas públicas).

Bens públicos ou bens colectivos são aqueles em que, para um determinado nível de existência
ou provisão do bem, a sua utilização por uma pessoa não prejudica minimamente a utilização
por qualquer outra:

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É o caso de um farol, da defesa nacional, do serviço de patrulha policial ou patrulha costeira,
do funcionamento geral dos órgãos de soberania, caminho municipal que dá acesso a quinta do
Sr. Beltrano.

Características de bens públicos ou bens colectivos

 Prestam pela sua própria natureza, utilidades indivisíveis;


 São bens não exclusivos, significa que não é possível privar ninguém da sua utilização;
e
 São bens não emulativos – significa que os sujeitos não entram em concorrência para
conseguir a sua utilização.

A provisão dos bens públicos pode e deve ser feita pelo Estado por diversas razões:

 O Estado tem uma perspectiva de interesse geral,


 O Estado tem perspectiva temporal ilimitada e uma capacidade de risco superior à dos
outros grupos ou associações contratuais.
 O Estado dispõe de autoridade para impor regras da utilização dos bens patrimoniais e seu
funcionamento (coacção, no seu aspecto sociológico); e
 O Estado tem por via de regra, em cada comunidade, dimensão que lhe possibilita
empreender esforços que não estão ao alcance de instituições ou pessoas privadas e que a
comunidade em si não pode resolver com êxito.

Actuação Financeira do Estado

As Formas de Actuação Financeira do Estado assumem dois momentos importantes a destacar:

A provisão do bem nas condições adequadas à obtenção da satisfação óptima: significa prestar
serviços públicos ou colocando bens à disposição da colectividade, com carácter duradouro
(património do Estado: edifícios, equipamentos, terra, etc.) ou em cada ano (despesas públicas);

Deve observar-se que em casos se trata de actividades sem as quais não haveria Estado; a defesa
do prestígio e autoridade do Estado pode levar a proibição de exércitos privados mas não a

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serviços privado de segurança; já que a sua existência fornecem bens/serviços privados a par do
bem público da segurança.

Obtenção dos recursos necessários para assegurar a provisão dos bens através de
financiamentos: receitas públicas (impostos), créditos e donativos.

Bens públicos e bens privados

 Os bens públicos/colectivos são normalmente fornecidos por entidades públicas;


 Pode haver bens colectivos excepcionalmente produzidos por entidades privadas
como tais, por altruísmo ou interesse próprio (utilidade individual conjunta;
mecenato);
 Pode haver provisão conjunta ou por iniciativa comum de bens colectivos por
entidades públicas e privadas, caso em que, em regra, a decisão fundamental será
pública, contando com a colaboração privada.

 Os bens privados são fornecidos por entidades privadas; e


 Os bens mistos são fornecidos por iniciativa comum: entidades públicas e privadas.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO ESTADO

Falar de finanças, é falar de meios ou instrumentos financeiros, que são o dinheiro (fundos) e os
créditos; os meios financeiros que têm de se adquirir e servem para se utilizar na compra de
produtos/bens e serviços ou como reserva de valor.

Finanças Públicas – designam a actividade económica de um ente público tendente a afectar bens
à satisfação de necessidades que lhe estão confiadas.

O objectivo das finanças públicas abrange o estudo de todos os aspectos que envolvem a utilização
pelo sector público, de recursos económicos tendo em vista alcançar adequados níveis de emprego,
crescimento e desenvolvimento e de distribuição do rendimento através de bens ou da prestação
de serviços.

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Finanças Privadas - compreendem aspectos tipicamente monetários do financiamento de uma
economia, abrange problemas relacionados com a moeda e créditos ou, mais restritamente, os
mercados financeiros onde se transaccionam activos representados por títulos a médio e a longo
prazo.

Dinheiros Públicos – são todos os fluxos anuais de fundos e de valores equiparados,


movimentados, durante o período financeiro, no âmbito do Sector Público Administrativo,
nomeadamente, pela Administração Central, Provincial, Distrital, pelos fundos e serviços
autónomos, pela segurança social, pelas autarquias locais, em princípio, no quadro dos
respectivos orçamentos anuais independentemente da sua origem ou destino.

São, igualmente, dinheiros públicos, todos os fluxos de fundos e valores equiparados,


movimentados, possuídos, pelo sector público empresarial, independentemente da sua origem
e do seu destino.

As entidades públicas que devem possuir ou deter os dinheiros públicos são o Estado, as
instituições públicas, as autarquias locais, as empresas públicas, ou outros organismos ou
entidades devidamente autorizados.

O núcleo central das finanças públicas é a actividade financeira que consistem na satisfação de
necessidades colectivas – da sociedade ou de Estado – mediante à afectação pelo poder político
ou administrativo de bens e serviços adequados.

Acepções de «finanças públicas»

A expressão finanças públicas pode ser utilizada em três sentidos fundamentais:

(a) Sentido orgânico - Fala-se de finanças públicas para designar o conjunto dos órgãos do
Estado ou de outro ente público (incluindo a parte respectiva da Administração Pública) a quem
compete gerir os recursos económicos destinados a satisfação de certas necessidades sociais (p.
ex. Ministério das Finanças).

(b) Sentido objectivo - Designa a actividade através da qual o Estado ou outro ente público
afecta bens económicos a satisfação de certas necessidades sociais.

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(c) Sentido subjectivo - Refere a disciplina cientifica que estuda os princípios e regras que
regem a actividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que lhe estão confiadas.

No segundo e no terceiro sentidos, tende-se modernamente a designar por Economia Pública,


quer esta forma de actividade económica, quer o ramo da Economia que a estuda, sobretudo
quando o faz de uma perspectiva predominantemente dedutiva, teórica ou analítica e em termos
reais. Preferimos designar por Finanças Públicas o estudo deste fenómeno, quando e feito numa
óptica de economia aplicada, fundamentalmente segundo métodos indutivos e institucionais e
em valores monetários (não reais).

Actividade Financeira

A actividade financeira pública ou economia pública compreende a actuação económica directa


do Estado através de utilização dos meios económicos raros susceptíveis de aplicações
alternativas por entidades públicas ou pela própria comunidade, a fim de satisfazer necessidades
comuns.

FINANÇAS PÚBLICAS, CLÁSSICAS E MODERNAS

Os sistemas financeiros dependem do regime económico. No capitalismo encontramos dois


regimes:

A) Liberalismo ( Finanças Clássicas)

- Reduzido peso do poder público na actividade económica


- Liberdade dos múltiplos sujeitos individuais

B) Intervencionismo ( Finanças Modernas )

- Maior coordenação e intervenção do poder politico na economia,


respeitando, no entanto, a iniciativa/ propriedade privada.

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Características fundamentais do modelo capitalista liberal ( Finanças Clássicas)

a) A privatização da economia

A economia era totalmente privada,competindo ao Estado criar condições para manter a


sociedade organizada e estável e a propriedade privada por si, se defendia. Eram funções do
Estado, a defesa, seguranca, administração geral e manutenção da ordem, quando muito, a
prestação de outros serviços que não interessassem ao capital privado.

b) O principio do mínimo da actividade económica pública

Tanto em quantidade como em qualidade, a actividade financeira estatal deve-se reduzir ao


mínimo imprescindível de modo a absorver o mínimo de rendimento nacional e
restringindo-se as actividades básicas de autoridade e administração.

c) Neutralidade financeira

Há uma neutralidade entre a actividade financeira e a económica. A actividade financeira é


organizada de forma a não perturbar nem destroçar a actividade económica privada e nem
deve propôr finalidades de alteração ou comando de actividade económica privada.

d) Importância dos impostos e os sistemas fiscais

A receita típica do liberalismo é o imposto. O período das Finanças clássicas é o período


das Finanças tributárias. O imposto garantia um peso devido a redução do património estatal,
aumento da importância da riqueza imobiliária do conjunto do rendimento nacional e ainda
generalização da ideia de que o imposto é dever de cidadania. Os sistemas fiscais típicos do
liberalismo assentam na ideia de justiça meramente formal.

e) Equilibrio Orçamental

Era o princípio orientador da actividade liberal. Para os clássicos, este equilibrio orçamental
significava que as despesas totais devem ser cobertas pelas receitas normais (impostos e
receitas patrimoniais ) e o recurso ao empréstimo seria excepção em caso de guerra.

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Resumindo:

As Finanças clássicas correspondem a fase de puro liberalismo económico e reflectem todas


as suas preocupações, designadamente a restrição do papel do Estado e o elogio da actuação
da iniciativa privada como instrumento fundamental da actividade económica. As duas
caracteristicas fundamentais de liberalismo económico são:

- Reduzida dimensão do sector público:

- Abstenção económica estadual.

Transição para as Finanças Modernas


A transição das finanças clássicas para as finanças modernas resulta de vários
acontecimentos próprios da evolução das economias liberais. Isto veio justificar um maior
peso do Estado na direcção da vida económica. Podem ser apontados como motivos de
viragem os movimentos doutrinais, as guerras que obrigam o maior esforço militar e os
consequentes gastos financeiros por parte do Estado, a depressão económica (crise de 1929)
que resultou em enorme desemprego e mesmo a 2˚ guerra Mundial.

A partir daqui o Estado passa a ter um maior peso e as formas de intervenção são
quantitativas e qualitativamente diversas. Surge o intervencionalismo e o dirigismo,
reforçando assim o papel crescente do próprio Estado.

Entre as suas finalidades, pode-se apontar a necessidade de fazer face à prioridades de


carácter social (caracteristicas das funções dos modernos Estados de Bem-Estar), à
estabilização da conjuntura e crescimento económico e às correcções estruturais.

Finanças Públicas Modernas

As finanças modernas são fruto dos regimes económicos intervencionais e dirigistas. Esta é
a razão de ordem. A dimensão crescente dos actos públicos é uma das características das
finanças modernas a qual passa a resolver parcelas que se situam entre 30 a 50% do

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rendimento nacional. Alarga-se o património estatal, multiplicam-se as empresas públicas e
o peso do imposto cresce.

As finanças tornam-se activas, pois passam a ter uma atitude e uma prática interveniente.
Com o crescimento do papel do Estado na actividade económica , a actividade privada fica
restringida e condicionada.

Ao contrário do sistema liberal, há uma integração entre a economia e finanças estando


sujeitas à intreracção das mesmas forças e princípios.

As finanças públicas abandonam o ideal de neutralidade e passam a ser utilizadas como


instrumento das politicas económicas e sociais – ou seja, surgem as políticas financeiras. E
também alguns aspectos jurídicos próprios do liberalismo como é o caso das garantias
individuais que sofrem alterações. O imposto ganha maior importância e surgem as receitas,
provenientes do património mobiliário estadual.

Portanto, nas finanças modernas o imposto tem tanta importância como nas clássicas; mas
ele passa a ser utilizado como instrumento de politica económica ou de politica social
servindo, por exemplo, para redistribuir a riqueza.

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