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MODELO DE APOIO À

VIDA INDEPENDENTE:
MUDANÇAS E IMPACTOS
SOCIAIS

RELATÓRIO
Centro de Apoio à Vida Este trabalho é o resultado da sistematização e
Independente da ADM Estrela compilação de dados recolhidos durante a
Guarda | Belmonte | Covilhã | Fundão execução do Projeto-Piloto Modelo de Apoio à
Junho de 2023 Vida Independente, visando apresentar
conclusões e estratégias, tendo como pano de
fundo o impacto social do Projeto.
Ação de
Sensibilização
Guarda | 29 de
Maio de 2019
09 Introdução
10 Apresentação
13 Descrição do Projeto

Í 15 Diagnóstico de Necessidades
17 Atividades Previstas

19 Funcionamento e Estruturas de Apoio

20 Ações de Formação

N 22 Encontros, Seminários, Ações de Divulgação

24 Conceção do Produto Final

27 Recursos Humanos

29 Matriz de Impacto

D 35 Atividades Desenvolvidas | Resultados


37 Funcionamento e Estruturas de Apoio

43 Ações de Formação

47 Encontros, Seminários, Ações de Divulgação

I 55
53 Conceção do Produto Final

Testemunhos
56 Pessoas Destinatárias de Assistência Pessoal

C
78 Assistentes Pessoais

104 Familiares

114 Centros de Apoio à Vida Independente

120 Avaliação de Impacto | Sumário Executivo

E 138 Conclusões
141 Funcionamento e Estruturas de Apoio

150 Ações de Capacitação e de Sensibilização

155 Aperfeiçoamento e Expansão

169 Notas Finais


171 Agradecimentos

05
03 DE DEZEMBRO DE 2019
Apresentação do CAVI da ADM Estrela no dia
Internacional da Pessoa com Deficiência | Covilhã
Introdução
NOTAS PRÉVIAS
O presente trabalho é o resultado da sistematização e
compilação de dados recolhidos durante a execução do Projeto-
Piloto Modelo de Apoio à Vida Independente, cofinanciado pelo
Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, tendo como
Organismo Intermédio o Instituto Nacional para a Reabilitação, IP.

Trata-se de um documento que visa, sobretudo, contribuir com


propostas e estratégias para o futuro deste Modelo de Apoio à
Vida Independente, mas também retratar, de forma fiel, o
caminho trilhado até este ponto, destacando, por fim, o impacto
social obtido.

Em janeiro de 2019, com grande determinação e espírito de


missão, o CAVI da ADM Estrela deu início à sua atividade.
Encontrávamo-nos, naquela data, longe de imaginar que o
caminho percorrido até ao início da assistência pessoal, em maio
de 2019, viria a ser o melhor preditor de tudo aquilo que nos
aguardava: um permanente desafio aos nossos limites, às nossas
crenças e capacidades, que se reconforta e renova com as
pequenas coisas que se mostram maiores do que a nossa própria
vida.

O mundo enfrentou uma pandemia, mas o Projeto persistiu.


Orgulhamo-nos de ser inteiros no nosso trabalho, de não
abdicarmos dos valores, princípios e pressupostos que nos
orientam, obrigando-nos a redescobrir diariamente o lugar do
outro, num esforço disciplinado de contribuir para a
consolidação, melhoria e desenvolvimento deste Modelo de Apoio
à Vida Independente que – estamos certos – se constitui como o
início de um processo inclusivo e participativo, que lança as
bases para a transformação social que queremos e que seremos.

PONTO DE PARTIDA
Em janeiro de 2019, o CAVI da ADM Estrela
propôs-se a apoiar 10 pessoas, no Concelho da
Guarda. Atualmente, são 19 as pessoas
apoiadas por este CAVI, nos Concelhos da
Guarda, Belmonte, Covilhã e Fundão.

09
Modelo de Apoio à Vida Independente
Fonte: www.inr.pt/vida-independente

MAVI | Apresentação
O Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, aprova o
programa "Modelo de Apoio à Vida Independente"
(MAVI), define as regras e condições aplicáveis ao
desenvolvimento da atividade de assistência pessoal,
de criação, de organização, de reconhecimento e de
funcionamento de Centros de Apoio à Vida
Independente (CAVI), bem como os requisitos de
elegibilidade e o regime de concessão dos apoios
técnicos e financeiros dos projetos-piloto de assistência
pessoal.

O programa MAVI assenta na disponibilização de


assistência pessoal a pessoas com deficiência ou
incapacidade, pelos CAVI, em contextos diversos, para
a realização de atividades de vida diária e de mediação
que estas, em razão das limitações decorrentes da sua
interação com as condições do meio, não possam
realizar por si próprias.
217 929 500
O programa MAVI, cofinanciado pelo Programa
inr@inr.mtsss.pt Operacional Inclusão Social e Emprego, no âmbito da
Av. Conde de Valbom, 63 tipologia 3.18, tem como objetivo específico constituir-
1069-178 Lisboa se como instrumento de garantia às pessoas com
www.inr.pt deficiência ou incapacidade das condições de acesso
para o exercício dos seus direitos de cidadania e para
participação nos diversos contextos de vida em
igualdade com os demais.

10
ADM Estrela - Associação Social e Desenvolvimento
Fonte: www.admestrela.pt

ADM | Apresentação
A ADM Estrela – Associação Social e Desenvolvimento é
uma IPSS – Instituição Particular de Solidariedade
Social – fundada em dezembro de 1989, com sede em
Vale de Estrela – Guarda, reconhecida como pessoa
coletiva de utilidade pública e ONG PD – Organização
Não Governamental para Pessoas com Deficiência.
Tem como princípios a solidariedade social, a promoção
e o desenvolvimento de atividades sociais de
beneficência, de inclusão social e comunitária, da
igualdade de oportunidades entre homens e mulheres,
da saúde, de educação, formação e aperfeiçoamento
profissional.
A ADM Estrela pretende assumir um papel social de
reconhecido valor no que respeita ao apoio junto das
populações que apresentam maior vulnerabilidade
social e tem vindo a aumentar a sua oferta no que
279 221 579 concerne ao apoio social e intervenção junto das
populações.
admestrela@admestrela.pt
Atualmente, a ADM Estrela desenvolve a sua atividade
Tv. da Rua da Fontinha, nº 14
nos territórios de Guarda, Pinhel, Castelo Branco,
6300-569 Guarda
Manteigas e Lisboa, abrangendo as mais diversas áreas
www.admestrela.pt
de intervenção: Infância e Juventude, Pessoas Idosas,
facebook.com\admestrela Pessoas com Deficiência ou Incapacidade, Educação,
Formação Profissional e Empreendedorismo, Família,
youtube.com\@admestrela2841
Comunidade e Intervenção Social e Cooperação
instagram.com\@admestrela Internacional e Desenvolvimento, beneficiando mais de
400 pessoas em todos os seus territórios.

11
Equipa Técnica do CAVI
Ângelo Miguel Barata | Sónia Barata | Joana Jorge (sub.)

CAVI | Apresentação
O CAVI da ADM Estrela disponibiliza assistência
pessoal a 19 pessoas, distribuídas pelos Concelhos de
Guarda (14), Covilhã (3), Belmonte (1) e Fundão (1),
maioritariamente, com alterações das funções
motoras (12) e com uma média de apoio semanal de
31horas, asseguradas por 19 assistentes pessoais.

A Equipa Técnica do CAVI é constituída pelo Psicólogo


Ângelo Miguel Barata (Coordenador) e pela Técnica
Superior de Educação Especial e Reabilitação, Sónia
Barata (Técnica), que garantem a gestão,
coordenação e apoio da assistência pessoal, em
estreita observância dos princípios consignados pelo
Modelo de Apoio à Vida Independente.

A honrosa missão que nos foi outorgada de conduzir a


bom-porto este Projeto-piloto e que concorre com os
966 943 782
princípios e valores da ADM Estrela, compromete-nos
cavi@admestrela.pt com as pessoas que apoiamos, com os valores da Vida
Tv. da Rua da Fontinha, nº 14 Independente e da Convenção sobre os Direitos das
6300-569 Guarda
Pessoas com Deficiência, e lança-nos para o futuro
www.admestrela.pt com otimismo, responsabilidade e renovada
esperança numa sociedade mais justa e igualitária.

12
DESCRIÇÃO DO
PROJETO
Esta secção do trabalho visa apresentar o
diagnóstico de necessidades a partir do qual se
estruturou o projeto, bem como as diferentes
atividades programadas e metas inicialmente
estabelecidas.
DIAGNÓSTICO DE
NECESSIDADES
Fontes: Carta Social - www.cartasocial.pt
| Diagnóstico Social do Concelho da Guarda – www.cm-guarda.pt
| Plano de Desenvolvimento Social da Guarda - www.cm-guarda.pt

A nível distrital, é evidente o


número reduzido de respostas
para pessoas com deficiência
que facilitem e promovam a
vida independente.

Em 2015, o Diagnóstico Social da Guarda identificava as


principais problemáticas ao nível das pessoas com deficiência e
incapacidade, destacando a falta de inserção laboral de
pessoas com deficiência e as insuficiências ao nível de
apoios/medidas de promoção da autonomia e da qualidade de
vida.
Com efeito, em 2018, à data da candidatura, no Concelho da
Guarda, as respostas para pessoas com deficiência resumiam-
se a três Centros de Atividades Ocupacionais (105 pessoas; na
anterior designação), três Lares Residenciais (64 pessoas), uma
Residência Autónoma (5 pessoas), e um Serviço de Apoio
Domiciliário – deficiência (15 pessoas). Ao nível do distrito,
verificavam-se 14 Centros de Atividades Ocupacionais, com 441
pessoas, 11 lares Residenciais, com um total de 287 pessoas,
duas Residências Autónomas com um total de 10 pessoas e um
Serviço de Apoio Domiciliário para 15 pessoas.
O Plano de Desenvolvimento Social do Concelho da Guarda
identificava, de resto, a necessidade de promover a inclusão
social, autonomia e qualidade de vida das pessoas com
deficiência destacando, entre outros, o objetivo de sensibilizar
as comunidades para os direitos das pessoas com deficiência,
de melhorar as respostas oferecidas para esta população e de
apoiar a empregabilidade das pessoas com deficiência.
Em suma, estava claro o alinhamento entre as necessidades do
distrito e as potencialidades oferecidas pelo Modelo de Apoio à
Vida Independente.

15
Atividades previstas
São financiadas as atividades decorrentes do exercício das atribuições dos Centros de Apoio à Vida
Independente, no âmbito da organização e funcionamento dos serviços de assistência pessoal (nº 2 do
Artigo 21º do DL nº 129/2017, de 9 de outubro), concretizadas em atividades com a classificação infra.

ATIVIDADES INÍCIO CONCLUSÃO*

FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS JANEIRO DE 2019 JUNHO DE 2023


DE APOIO
Atividades de suporte à estrutura, CONCLUÍDO
financiamento e avaliação

AÇÕES DE FORMAÇÃO MAIO DE 2019 JUNHO DE 2023


Ações de Capacitação de Assistentes
Pessoais CONCLUÍDO

ENCONTROS, SEMINÁRIOS, AÇÕES


DE DIVULGAÇÃO JANEIRO DE 2019 JUNHO DE 2023
Iniciativas de divulgação e difusão dos
princípios do MAVI
CONCLUÍDO

CONCEÇÃO DO PRODUTO FINAL ABRIL DE 2022 JUNHO DE 2023


Sistematização de dados para
apresentação de propostas e estratégias CONCLUÍDO

*nos termos da última alteração ao Projeto inicial


17
Funcionamento e
Estruturas de Apoio
Esta atividade previa todo o suporte à estrutura, funcionamento e avaliação do
Centro de Apoio à Vida Independente, a saber:
Elaboração de toda a documentação de apoio e suporte;
Realização de reuniões com entidades parceiras;
Recrutamento e seleção de candidatos a assistentes pessoais;
Recrutamento e seleção das pessoas a apoiar;
Preparação de ações de divulgação, sensibilização e debate sobre a vida
independente;
Preparação de ações de formação inicial e adicional para assistentes
pessoais;
Avaliação diagnóstica das necessidades e serviços a prestar;
Elaboração, execução, monitorização e avaliação dos Planos Individualizados
de Assistência Pessoal;
Preparação de encontros interpares e de seminários;
Avaliação de resultados e da satisfação;
Elaboração das planificações e relatórios de execução e prospeção de novos
projetos/apoios para manutenção da assistência pessoal e alargamento da
resposta.

Metas
Concretizar 10 Planos
Constituir uma bolsa de 40
Individualizados de
assistentes pessoais
Assistência Pessoal

Disponibilizar assistência
pessoal para 10 pessoas

Constituição da Equipa do
Contratar 10 assistentes CAVI com dois técnicos,
pessoais com formação em Gestão e
Psicologia

19
AÇÕES DE
FORMAÇÃO
Esta atividade engloba todos os conteúdos
relacionados com a formação de assistentes
pessoais, designadamente, as ações de formação
inicial e de formação contínua de assistentes
pessoais, com base no pressuposto da criação de
uma Bolsa de 40 Assistentes Pessoais.

Trata-se de uma atividade focada na capacitação dos/as assistentes pessoais e


na promoção dos conceitos e princípios do paradigma da Vida Independente,
procurando contribuir para a maximização da autodeterminação,
independência, participação e qualidade de vida das pessoas apoiadas.

A formação foi programada com recurso a formadores inscritos na bolsa de


formadores do Instituto Nacional para a Reabilitação, IP (INR, IP) e nos termos
definidos pelo Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro e alterado pelo
Decreto-Lei nº 27/2019, de 14 de fevereiro, bem como pela Deliberação nº
9/2017 (Conteúdos Formativos) do Conselho Diretivo do INR, IP.

Metas
Realizar duas ações de Ajustar os conteúdos
formação inicial (50h) para formativos à realidade do
20 formandos/as cada CAVI

Realizar o levantamento
das necessidades
formativas

Realizar duas ações de Contratar formadores/as


formação adicional (25h) inscritos na base de
para 10 formando/as cada formadores/as do INR, IP

20
Encontros, Seminários,
Workshops, Ações de
Divulgação
O Projeto incluía iniciativas nas tipologias de Ação de
Sensibilização, divulgação e debate sobre vida independente,
Encontros de Benchmarking, Seminários e Encontros
Interpares, com os seguintes objetivos:
Ações de sensibilização - divulgar o projeto e difundir os
seus princípios orientadores, alcançando grupos
estratégicos fundamentais para a promoção da
autodeterminação, participação e inclusão das pessoas com
deficiência.
Encontros de Benchmarking - promover o diagnóstico de
necessidades, partilha de conhecimentos, mobilização de
recursos e definição de estratégias para melhoria das
condições e promoção da vida independente.
Encontros interpares - método de partilha de
experiências, de aprendizagem e de
resolução de problemas na condução da
assistência pessoal. Ação de Sensibilização sobre o MAVI | UBI - 2023
Seminários - apresentar as conclusões e Locução realizada por pessoas com deficiência
estratégias, incluindo o testemunho de
pessoas apoiadas e/ou suas famílias.

Metas
Realizar dois
Seminários

Promover três Ações


de Sensibilização

Realizar seis
Promover cinco
Encontros de
Encontros Interpares
Benchmarking

22
Conceção do
Produto Final
No âmbito desta atividade encontrava-se programada a
sistematização e compilação dos dados, necessidades,
observações, conclusões, iniciativas, estratégias e propostas
que viessem a ser recolhidos nas diferentes atividades do Projeto e,
designadamente, no contexto dos Seminários e Ações de
Sensibilização, nos Encontros de Benchmarking e de Interpares.

Esta atividade visa, deste modo, sistematizar os resultados do projeto


num suporte documental que facilite a compreensão do mesmo e das
necessidades, servindo de base para outras iniciativas, enquanto
evidência e impulso para mobilizar e inspirar os diferentes stakeholders
na defesa e aplicação de boas práticas sobre autodeterminação, vida
independente e acessibilidade para todos/as.

Metas
Compilar e sistematizar
Editar e reproduzir um
dados de cada uma das
documento final
atividades

Obter contributo de
pessoas destinatárias de
assistência pessoal

Reunir contributos de
Recolher informação de
equipa(s) técnica(s) e/ou
assistentes pessoais
outros parceiros

24
Cartaz do 1º Recrutamento de Assistentes Pessoais
Abril de 2019

Cartaz do 2º Recrutamento de AP
Setembro de 2019

Cartaz do 3º Recrutamento de AP
Março de 2021

Cartaz do 4º Recrutamento de AP
Outubro de 2021
Cartaz do 5º Recrutamento de AP
Janeiro de 2022

Cartaz do 6º Recrutamento de AP
Abril de 2022

Cartaz do 7º Recrutamento de AP
Junho de 2022

Cartaz do 8º Recrutamento de AP
Novembro de 2022
José Carlos Correia
Gestor | Coordenador do CAVI (janeiro a abril de 2019)

Ângelo Miguel Barata


Psicólogo | Técnico (janeiro a abril 2019)
Psicólogo | Coordenador do CAVI (desde abril de 2019)

Sónia Duarte Barata


Técnica Superior de Reabilitação | Técnica (desde abril 2019)

Joana Jorge
Socióloga | Técnica (agosto de 2022 a abril de 2023)

RECURSOS HUMANOS
Para execução das atividades previstas e nos termos do Decreto-Lei nº 129/2017, de 9
de outubro, foram afetos dois técnicos à Operação com diferentes qualificações
académicas e profissionais e com importante background e know-how na área de
trabalho objeto de candidatura.
Fruto de contingências internas e externas à Organização, o Projeto contou com a
colaboração de quatro técnicos/as distintos/as.

27
Matriz de
Impacto
Encontro
Interpares
Guarda | Julho de
2020
Matriz de Impacto
COM O OBJETIVO DE COMPREENDER OS
RESULTADOS DO PROJETO, O CAVI
PROPÔS-SE A AVALIAR O IMPACTO
SOCIAL DO MAVI.
Para melhor compreensão dos resultados e identificação de
oportunidades e mais-valias, o CAVI propôs-se avaliar o impacto
do MAVI nos diferentes stakeholders.
Os resultados obtidos irão permitir reforçar a transparência e a
corresponsabilização de todos os stakeholders, fornecendo
informações essenciais para a sensibilização de todos/as para
as questões da inclusão e da vida independente.
A partir do Modelo Teórico da Teoria da Mudança, estabeleceu-
se a inclusão social das pessoas com deficiência como desafio
central para este Projeto, segundo a hipótese de impacto de
que, se desenvolvermos (1) atividades de assistência pessoal
que contribuam para reduzir ou minimizar a dependência das
pessoas com diversidade funcional face a terceiros, bem como
para incrementar as oportunidades de acesso a serviços,
formação e emprego e (2) ações de sensibilização e de
benchmarking que contribuam para uma mudança de
paradigma na abordagem da diversidade funcional e (3)
atividades interpares que contribuam para consolidar o
sentimento de pertença social e identificar necessidades na
comunidade; então, teremos (1) mais oportunidades de acesso a
serviços, emprego e formação, (2) mudança de mentalidades na
visão sobre a pessoa com deficiência, (3) pessoas com
deficiência mais autodeterminadas e, como tal, conseguiremos
promover a inclusão social das pessoas com deficiência.

AVALIAÇÃO DE IMPACTO
A avaliação do impacto social permitirá
compreender se os resultados esperados foram
alcançados e se o impacto pretendido foi,
efetivamente, conseguido. Os resultados desta
avaliação serão detalhados após a descrição
das atividades desenvolvidas.

32
Matriz de Impacto

MUDANÇAS
RECURSOS ATIVIDADES RESULTADOS IMPACTO
INTERMÉDIAS

Recursos Humanos Assistência Pessoal Aumento das respostas Maior participação social
(comunitárias) para dos cidadãos com
(Equipa Técnica;

pessoas com deficiência deficiência


Assistentes Pessoais) Grupos Interpares



Aumento da rede de Integração
Pessoas Ações de suporte socioprofissional das Inclusão Social

pessoas com deficiência
Destinatárias de Sensibilização e Independência na gestão

das Pessoas com


Assistência Pessoal Seminários da vida diária Cidadãos com deficiência Deficiência

mais autodeterminados

Mais oportunidades de

Parcerias com rede Ações de acesso a serviços Melhoria no bem-estar


social do Concelho Benchmarking
socioemocional das
pessoas apoiadas

Consciência aumentada
para uma sociedade

Infraestruturas e Redução de
inclusiva
Equipamentos institucionalizações

33
Atividades
Desenvolvidas
| Resultados
Esta secção do trabalho visa apresentar as
atividades desenvolvidas, nas diferentes tipologias
da Operação, e os respetivos resultados, no que
respeita ao cumprimento das metas
estabelecidas.
Funcionamento e
Estruturas de Apoio
RESULTADOS

As atividades inerentes ao funcionamento e estruturas A documentação de apoio e suporte foi


de apoio do CAVI tiveram o seu início em janeiro de elaborada de acordo com as melhores
2019, com a operacionalização de toda a práticas de revisão sistemática e de melhoria
documentação de apoio e suporte, incluindo contínua do desempenho e nos termos do
Regulamento Interno do CAVI e modelos documentais enquadramento normativo estabelecido.
de funcionamento das estruturas e processos
individuais. Os processos de recrutamento e de seleção
de assistentes pessoais e de pessoas
Ao mesmo tempo, iniciaram-se os primeiros processos destinatárias de assistência pessoal foram
de recrutamento e de seleção de pessoas destinatárias divulgados por diferentes canais,
de assistência pessoal e de assistentes pessoais. designadamente, via mailing institucional
para as IPSS do distrito, serviços de saúde,
Para inscrição no CAVI, a pessoa candidata a forças de segurança, câmaras municipais,
destinatária de assistência pessoal deve proceder à através da colocação de cartazes em locais
sua inscrição nas instalações do CAVI, fazendo prova de estilo, publicitação no site e redes sociais,
de declarações ou, alternativamente, efetuar a sua pré- visitas de divulgação e distribuição de
inscrição através da área criada no site da ADM Estrela, material em clínicas de fisioterapia e
para agendamento de avaliação pela equipa técnica reabilitação, bem como por meio de contacto
do CAVI. telefónico com parceiros estratégicos e outros
stakeholders (agentes de desporto adaptado,
Este processo, assim como o recrutamento e seleção
potenciais destinatários/as e agentes
de assistentes pessoais, são melhor explicados a
educativos) e, ainda, ações de benchmarking.
seguir.
37
Funcionamento e
Estruturas de Apoio
RESULTADOS

RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE
PESSOAS DESTINATÁRIAS
RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE
| CONDIÇÕES DE ADMISSÃO
Cumpridas as condições de elegibilidade
ASSISTENTES PESSOAIS
elencadas pelo Art.º 10º do DL nº 129/2017,
O processo de recrutamento e seleção de assistentes
consideram-se como condições de admissão ao
pessoais conheceu duas formas distintas:
serviço de assistência pessoal disponibilizado pelo
Até abril de 2021, o recrutamento de assistentes
CAVI da ADM Estrela (1) a vontade expressa da
pessoais funcionava mediante a publicação,
pessoa, (2) residência no Concelho da Guarda
durante determinado período, da receção de
(exceções previstas em Regulamento Interno) e (3)
candidaturas para a função de assistente pessoal.
necessidade de assistência pessoal
De seguida, os/as candidatos/as eram sujeitos/as
a uma entrevista de seleção e avaliação de
| PROCESSO DE AVALIAÇÃO/SELEÇÃO competências, após a qual eram integrados/as em
formação inicial e, posteriormente, colocados/as
A Equipa Técnica do CAVI, por intermédio de
em Bolsa de Assistentes Pessoais, à consideração
entrevista(s) e com recurso à Escala CANS,
da pessoa destinatária de assistência pessoal para
procede à avaliação das condições de
escolha de assistente pessoal.
elegibilidade, de admissão e respetivos critérios,
A partir de abril de 2021, em face da necessidade
para decisão do processo de admissão.
de otimizar a seleção de assistentes pessoais pela
Encontrando-se cumpridas todas as condições, a
pessoa destinatária de assistência pessoal, o
pessoa candidata é admitida e é elaborado, com o
processo de receção de candidaturas passou a
apoio do CAVI, o Plano Individualizado de
estar aberto em permanência. Após receção da
Assistência Pessoal.
candidatura, o CAVI envia um formulário ao
candidato para preenchimento de dados e
construção de perfil. Após receção do formulário
preenchido, o/a candidato/a integra a Bolsa de
Recrutamento e, mediante as necessidades e de
acordo com os perfis, pelo menos três
candidatos/as são colocados à consideração da
pessoa destinatária para escolha e indicação de
um/a para formação inicial.
É sempre obrigatório o cumprimento das condições
previstas pelos nº 2 e nº 6, do Art.º 14º do DL nº
129/2017, de 9 de outubro.

38
Funcionamento e
Estruturas de Apoio
RESULTADOS

RECEÇÃO DE INSCRIÇÕES
As inscrições são aceites durante
todo o ano e as correspondentes
admissões efetuadas nos limites
do definido pelo projeto-piloto.

LISTA DE CRITÉRIOS DE
INSCRIÇÕES ADMISSÃO
Os candidatos com No processo de
condições de admissão, admissão são tidos em
mas que não seja conta, por pontuação e
possível admitir, por ponderação obtida, os
inexistência de vaga, seguintes critérios:
ficam automaticamente necessidade de apoio;
inscritos na Lista de situação socioeconómica;
Inscrições, pelo período risco de isolamento/
de duração do MAVI. exclusão pessoal/social.
Atualmente, aguardam
admissão 24
candidatos/as.

39
Funcionamento e
Estruturas de Apoio |
Resultados em Números
O CAVI da ADM Estrela apoiou um total de 21 pessoas, desde
maio de 2019, tendo sido contratadas 33 assistentes pessoais.

8 Processos de R&S de Assistentes Pessoais | 353 Candidaturas |


98 Entrevistas de Seleção | 73 Assistentes Pessoais em Bolsa

160 Inscrições | 21 Pessoas apoiadas | 73200horas de assistência


pessoal disponibilizada

141 Avaliações de Satisfação | 125 PIAP executados | 19 PIAP


em Execução

Caraterização das Pessoas Destinatárias Caraterização de Assistentes Pessoais


19 Pessoas apoiadas | Média de 53 anos de 20 Assistentes pessoais sob contrato |
idade | Média de 31 horas de apoio/semana | 14 Média de 39 anos de idade | Média
residentes em Guarda, 1 Belmonte, 3 Covilhã, 1 de 33horas de trabalho/semana |
Fundão | 12 Pessoas com alteração das 16 residentes em Guarda, 3 Covilhã, 1 Fundão |
funções motoras, 3 com alterações 7 Licenciadas, 7 com Ensino Secundário, 1
neuromusculares | 2 com alterações da visão, 2 Mestrado, 1 Bacharel, 4 com Nível III
com alterações cognitivas

Avaliação
As metas estabelecidas no domínio da atividade de "Funcionamento e Estruturas de
Apoio" foram alcançadas com sucesso e superadas nos diferentes itens, com recurso
a dois técnicos na Equipa do CAVI:
Constituiu-se uma Bolsa de 73 Assistentes Pessoais (meta = 40);
Foram executados e finalizados 125 Planos Individualizados de Assistência
Pessoal (meta = 10 PIAP);
21 Pessoas beneficiaram de assistência pessoal, num máximo de 19 pessoas em
simultâneo (meta = 10/19);
Contrataram-se 33 assistentes pessoais, num máximo de 21 em simultâneo (meta
= 10/19).

Dados de execução com


referência a abril de 2023

40
Funcionamento e
Estruturas de Apoio |
Resultados e Propostas
A avaliação dos resultados obtidos da execução da atividade é significativamente
positiva. Com efeito, as mais-valias do Modelo de Apoio à Vida Independente
superam largamente os seus constrangimentos, os quais devem, não obstante, ser
devidamente analisados e considerados. Nesta secção, apresentamos um resumo
das principais conclusões e respetivas propostas de melhoria, em relação a um
Modelo que é funcional, flexível e responde a uma necessidade previamente não
respondida. Deixamos para o capítulo das conclusões uma reflexão mais
sustentada sobre os tópicos ora apresentados.

PRINCIPAIS MAIS-VALIAS DO MAVI PRINCIPAIS CONSTRANGIMENTOS


Assistência pessoal é uma resposta Impossibilidade de acumulação de
essencial e uma questão de direitos apoios, nomeadamente, CACI,
humanos; Residência Autónoma, complemento
A assistência pessoal é essencial para por dependência é um
a independência de muitas pessoas constrangimento que deve ser revisto;
com deficiência, independentemente Bolsa de assistentes pessoais é
da tipologia de deficiência ou limitada, devendo avaliar-se a
incapacidade; possibilidade de um modelo
A assistência pessoal contribui para a financiado/comparticipado que
melhoria da qualidade de vida das assegure uma maior disponibilidade
pessoas com deficiência; de pessoas em bolsa para responder
O MAVI, através da disponibilização de às situações imprevistas (baixas
assistência pessoal, é uma resposta médicas, abandono do posto de
inovadora; trabalho);
Assistência pessoal contribui para a Limitação das horas de apoio e
maior participação das pessoas com pessoas apoiadas por CAVI deve ser
deficiência na comunidade; revista ou flexibilizada, pelo menos,
MAVI promove a autodeterminação como resposta temporária a situações
das pessoas com deficiência; de emergência ou descanso de
A possibilidade de a pessoa cuidadores informais;
destinatária selecionar o/a seu/sua Financiamento de determinadas
assistente pessoal é um fator muito atividades deve ser flexibilizada (ex.:
positivo e essencial. ida esporádica ao cinema, táxi)
Modelo quase exclusivamente
centrado na assistência pessoal
41
Funcionamento e
Estruturas de Apoio
RESULTADOS E PROPOSTAS

PROPOSTAS E REFLEXÕES
Modelo com intermediação do CAVI parece ser a melhor solução, no entanto, cremos
que não deve ser limitada a opção da pessoa com deficiência, devendo ser
considerada a possibilidade de um modelo híbrido ou de contratação direta.
Regulamentação da profissão de assistente pessoal é indispensável para o bom
funcionamento do futuro Modelo, podendo responder a várias fragilidades que se
encontram identificadas.
Monitorização da assistência pessoal deve ser melhorada, com recurso, por exemplo,
a novas tecnologias.
As diferentes limitações merecem revisão: de idade; de acumulação de apoios; de
tipologia de diversidade funcional (incluir situações de dependência funcional); de
horas de apoio, etc.
O Modelo de Financiamento suscita inúmeras questões relativas à sustentabilidade:
qual o papel do Estado? deve existir comparticipação pela pessoa destinatária? com
que critérios? com que implicações? em que tipo de atividades ou circunstâncias?
Frequência das visitas de acompanhamento (INR, IP) deve ser aumentada,
atendendo à fase de implementação em que nos encontramos.
Remuneração de AP’s e Equipa Técnica deverá ser objeto de revisão.
Qual o contributo do MAVI para a melhoria das acessibilidades? e da mobilidade?
Frota MAVI é uma possibilidade?
Bolsa de assistentes pessoais encontra-se constrangida, entre outros, por rácios de
formação inicial.
Literatura sobre Vida Independente em Portugal é ainda muito limitada.

42
AÇÕES DE FORMAÇÃO | RESULTADOS
As ações de formação previstas inicialmente foram largamente superadas, em função das
contingências macrossistémicas colocadas à execução do Projeto, como são exemplo o
contexto pandémico de COVID-19 e as flutuações de mão-de-obra no mercado de trabalho,
mas também por fatores intrínsecos à natureza do MAVI, isto é, de modo a facilitar a seleção
do/a assistente pessoal pela pessoa destinatária de assistência pessoal.

No que respeita às ações de formação inicial, foram desenvolvidas treze ações para assistentes
pessoais, das quais resultou uma bolsa de 73 assistentes pessoais. As ações tiveram lugar com
recurso a formadores inscritos na bolsa de formadores do INR, IP e nos termos definidos pelo
Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro e alterado pelo Decreto-Lei nº 27/2019, de 14 de
fevereiro, bem como pela Deliberação nº 9/2017 do Conselho Diretivo do INR, IP. e contaram
com testemunhos de pessoas destinatárias de assistência pessoal.

CONTEÚDOS FORMATIVOS AJUSTÁVEIS


No que concerne aos conteúdos formativos ajustáveis à realidade
do CAVI, identificou-se a necessidade de introduzir as subunidades
de sensibilização sobre recursos específicos de apoio para doenças
neuromusculares, comunicação alternativa, orientação e
mobilidade em tetra e paraplegias e deficiências visuais (Unidade
IV), bem como cuidados específicos a adotar em situações de
traqueostomia, de algaliação e de transferência e mobilização
(Unidade V).
COVID-19 E FLEXIBILIZAÇÃO DA FORMAÇÃO
Atendendo às limitações impostas quer pelo contexto pandémico de
COVID-19, quer pela gestão de assistência pessoal, as formações
do ano de 2021, 2022 e 2023 foram realizadas em formato b-
learning.

43
AÇÕES DE FORMAÇÃO Semana da Vida Independente
RESULTADOS EM NÚMEROS

FORMAÇÃO INICIAL

FORMAÇÃO CONTÍNUA

Ações
Datas
13 ações realizadas
Maio de 2019
Dezembro de 2019 Formandas Volume de Formação
Abril de 2021 18 Assistentes Pessoais 900horas
Junho de 2021
Julho de 2021 AVALIAÇÃO
Setembro de 2021
As metas estabelecidas no domínio da
Dezembro de 2021
atividade de "Ações de Formação" foram
Volume de Formação Fevereiro de 2022 cumpridas com sucesso:
3800horas Março de 2022 Desenvolveram-se 13 ações de formação
Maio de 2022 inicial (meta = 2/9);
Julho de 2022 Ajustaram-se os conteúdos formativos de
Dezembro de 2022 acordo com a realidade do CAVI;
Março de 2023 Em setembro de 2020, realizou-se o
levantamento de necessidades formativas;
Contrataram-se 5 formadores/as inscritos
na base de formadores do INR, IP;
Formandos/as Ministraram-se 50horas de formação
73 Assistentes Pessoais adicional para 18 assistentes pessoais.

44
AÇÕES DE FORMAÇÃO
RESULTADOS E PROPOSTAS
A avaliação dos resultados obtidos da execução
da atividade é significativamente positiva. No
entanto, este é um aspeto particularmente
sensível, que carece de revisão.

PROPOSTAS E REFLEXÕES
A formação é um aspeto crítico para o desenvolvimento pessoal e profissional das
assistentes pessoais. A formação inicial é especialmente importante para socializar as
assistentes pessoais com os valores da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, com o MAVI e com a filosofia da Vida Independente.
O feedback recebido dos/as formandos/as e formadores/as é francamente positivo.
A formação deve também ser dirigida para pessoas destinatárias e pessoas em
coabitação ou outras pessoas significativas, sob a forma de ação de capacitação.
A modalidade de formação e-learning é uma mais-valia, permitindo um melhor
ajustamento entre a pessoa escolhida e o perfil definido pela pessoa destinatária, no
entanto, importa agilizar estes procedimentos para resposta a emergências.
Uniformização da formação, por exemplo, através da sua centralização num único
organismo pode ser uma mais-valia, facilitando, inclusive, a análise de um modelo
comparticipado para a bolsa de assistentes pessoais.
O número de horas de formação inicial parece ajustado à necessidade, pese embora os
conteúdos ajustáveis a cada CAVI devessem ter uma maior preponderância, de modo a
facilitar formação em contexto real de trabalho.
Participação das pessoas destinatárias de assistência pessoal no processo de
formação é um fator importante para aumentar a qualidade da formação.
Rácio/limite de formandos é um constrangimento que merece ser revisto.

45
ENCONTROS,
SEMINÁRIOS,
AÇÕES DE DIVULGAÇÃO
V ENCONTRO INTERPARES | 30 DE MAIO DE 2023 RESULTADOS

AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO
O CAVI deu início às ações de sensibilização em maio
de 2019, tendo-se seguido uma nova ação desta
tipologia em março de 2023 e, por último, em maio de As Ações de Sensibilização reuniram mais de
2023. 300 participantes, de entre pessoas com
As ações de sensibilização constituíram-se como diversidade funcional e famílias, entidades
marcos importantes na difusão dos princípios locais nas áreas da reabilitação, saúde,
orientadores do MAVI, permitindo divulgar o projeto e serviços sociais, emprego, educação e
alcançar grupos estratégicos fundamentais para a autarquias, nas cidades da Guarda e Covilhã.
promoção da autodeterminação, participação e
inclusão das pessoas com deficiência

ENCONTROS DE BENCHMARKING
Os encontros de benchmarking começaram a ser Os encontros de benchmarking foram
realizados em fevereiro de 2019, com diferentes importantes facilitadores no diagnóstico de
entidades locais das áreas sociais, da saúde, necessidades locais, mas também na partilha
reabilitação e municípios. Estes encontros, nove no de conhecimentos, na definição de
total, foram especialmente importantes numa fase estratégias e mobilização dos recursos
inicial do projeto, possibilitando maximizar a sua existentes para melhoria das condições e
divulgação. promoção da vida independente.

47
ENCONTROS,
SEMINÁRIOS,
AÇÕES DE DIVULGAÇÃO
RESULTADOS

SEMINÁRIOS
Os dois seminários foram programados para os meses
de maio e junho de 2023, com o objetivo de destacar os
trabalhos protagonizados pelas pessoas com
deficiência, com testemunhos de especialistas e de ENCONTROS INTERPARES
académicos, bem como de pessoas destinatárias de Os encontros interpares, para pessoas com
assistência pessoal, e com a finalidade de despertar deficiência, tiveram início em julho de 2020 e término
consciências para as questões da inclusão, muito em junho de 2023.
especificamente, das acessibilidades e da
representatividade, divulgando simultaneamente os Foram realizados cinco encontros, com um total de
resultados do projeto. 114 participantes, os quais partilharam experiências
e boas práticas, com vista à resolução de problemas
OUTRAS ATIVIDADES na condução da assistência pessoal e na execução
do Projeto.
Ao longo da execução do projeto, o CAVI foi convidado
a participar de diferentes iniciativas, com o objetivo de
Os encontros, dinamizados por pessoas externas à
divulgar o Modelo de Apoio à Vida Independente.
equipa técnica do CAVI, constituíram-se como
Destacam-se, a par dos contributos para a newsletter
oportunidades de aprendizagem e de partilha,
do MAVI, promovida pelo INR, IP, as seguintes
contando com a presença de pessoas destinatárias
participações:
de assistência pessoal do CAVI da ADM Estrela, mas
03 de dezembro de 2019 | Apresentação do MAVI, em
também de outros CAVI (Zona Centro e Alto Alentejo)
iniciativa promovida pelo CLAS da Covilhã
e, inclusive, de técnicos/as e outros especialistas em
03 de dezembro de 2020 | Participação no I Encontro
temáticas de interesse comum, designadamente,
de CAVI da Região Centro, promovido pelo CAVI
com a colaboração da Equipa Técnica do
Cavalo Azul
Ambulatório da Associação de Paralisia Cerebral de
12 de maio de 2021 | Participação no Ciclo de Webinars
Viseu, a qual prestou informações importantes sobre
"Boas Práticas do Modelo de Apoio À Vida
a aquisição de ajudas técnicas e produtos de apoio.
Independente", promovido pelo INR, IP
13 de julho de 2022 | Participação na “Conferência
Em função do contexto pandémico, a maioria dos
Pública de Divulgação da Avaliação Intercalar do
encontros foi realizada por meios telemáticos o que,
Modelo de Apoio à Vida Independente em Portugal",
não obstante as desvantagens inerentes a estes
promovida pelo INR, IP
métodos, permitiu levar estes encontros até um
17 de fevereiro de 2023 | Participação no webinar
maior número de pessoas com deficiência.
"Promover a mobilidade e autonomia", dinamizado
pelo Agrupamento de Escolas do Gavião
7 de junho de 2023 | Participação no II Encontro do
CAVI do CERE

48
ENCONTROS,
SEMINÁRIOS,
AÇÕES DE DIVULGAÇÃO
RESULTADOS EM NÚMEROS

ENCONTROS DE BENCHMARKING
Realizaram-se 9 encontros de
benchmarking (meta=6), que
totalizaram:
76 participantes
49 Instituições representadas

AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO

Realizaram-se 3 Ações de
Sensibilização (meta=3), que totalizaram:
293 participantes
80 instituições representadas

ENCONTROS INTERPARES

Realizaram-se 5 encontros interpares


(meta=5), que totalizaram:
114 participantes
10 CAVI representados

SEMINÁRIOS

Realizaram-se 2 seminários
(meta=2), que totalizaram:
105 participantes
22 instituições representadas

49
ENCONTROS, SEMINÁRIOS, AÇÕES DE DIVULGAÇÃO
PROPOSTAS E REFLEXÕES
A atividade "Encontros, Seminários, Workshops, Ações de
Divulgação" assumiu relevante preponderância no sucesso da
execução do projeto e permitiu recolher importantes contributos
e propostas para o futuro. Contabilizaram-se 588 participantes e
161 Instituições nas diferentes tipologias de atividades.

ENCONTROS DE BENCHMARKING Principais reflexões


Importantes para fornecer uma base conceptual comum e alinhar os participantes com os
princípios e objetivos da Vida Independente. Compreensão mais alargada dos desafios
enfrentados pelas pessoas com deficiência e identificação de necessidades específicas dos
territórios. Complementaridade entre projetos e respostas, alargando o alcance do projeto e
materializando a importância da colaboração e articulação entre diferentes entidades,
nomeadamente, através da sinalização de potenciais destinatários e divulgação do MAVI.
Identificação de barreiras, com ênfase nos desafios com a interioridade e dispersão
territorial, com a mobilidade e acessibilidades. Reconhecimento das limitações do projeto,
como o limite de horas e constrangimentos associados à bolsa de assistentes pessoais.
Preocupações com a sustentabilidade do projeto. Reconhecimento das potencialidades do
MAVI, nomeadamente, como resposta de autonomização.

ENCONTROS INTERPARES Principais reflexões

Oportunidades para conhecer e participar no planeamento de atividades do CAVI,


realinhando objetivos. Para partilhar histórias, experiências e dificuldades na gestão da
assistência pessoal. Para fortalecer redes de apoio e debater necessidades específicas
relacionadas com a mobilidade e acessibilidades. Identificação de fragilidades (limites de
horas, acumulação de apoios, formação e carreira de assistentes pessoais) e
potencialidades do projeto. Interpares como estratégia efetiva no contexto do MAVI.

AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO/SEMINÁRIOS Principais reflexões


Importantes contributos para aumentar a consciência e o conhecimento sobre o Projeto e
sobre a diversidade funcional, desafiando estereótipos e preconceitos, e promovendo uma
visão mais positiva das pessoas com deficiência. Marcos importantes na difusão dos
princípios orientadores do MAVI, com demonstrações reais dos resultados positivos da
inclusão socioprofissional de pessoas com deficiência. Os participantes reconheceram a
importância dos assuntos discutidos para a promoção da autodeterminação, participação e
inclusão das pessoas com deficiência nas diferentes esferas da sociedade. Colaboração e
parceria com diferentes organizações da sociedade civil, demonstraram a importância da
união de esforços para alcançar resultados significativos na inclusão social.

50
Primeira Ação de
Benchmarking
Guarda | 6 de
fevereiro de 2019
Conceção do Produto
Final
SEMANA DA VIDA INDEPENDENTE | APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS RESULTADOS

A "Conceção do Produto Final" é uma parte integrante Para a execução do Produto Final, que
do projeto, que teve como objetivo sistematizar e consiste no suporte documental aqui
compilar os dados, necessidades, observações, apresentado, adotou-se uma abordagem
conclusões, iniciativas, estratégias e propostas abrangente e sistemática que implicou a
recolhidas ao longo das diferentes tipologias da organização e revisão cuidadosa de todas as
Operação, incluindo o Funcionamento e Estruturas de informações recolhidas – através de
Apoio, Ações de Formação e Seminários, Ações de instrumentos diversos (ex.: inquéritos, registos,
Sensibilização, Encontros de Benchmarking e de observação direta e indireta) – durante o
Interpares. projeto, de modo a garantir que todos os
dados relevantes pudessem ser
considerados.
Este suporte documental foi estruturado para facilitar a
compreensão do projeto e das necessidades
A análise dos dados permitiu-nos identificar
identificadas, na expectativa de servir como base para
as ameaças e oportunidades, os pontos fortes
futuras iniciativas, fornecendo evidências tangíveis e
e a melhorar do projeto, resultando em
um impulso inspirador para mobilizar e envolver os
conclusões significativas que aqui tentamos
diversos stakeholders envolvidos na defesa e promoção
reproduzir. Com efeito, as conclusões,
dos valores consagrados pela Convenção sobre os
observações e propostas constantes deste
Direitos das Pessoas com Deficiência.
documento procuram criar soluções realistas
e viáveis, que possam ser implementadas de
forma eficaz no contexto de promoção da
vida independente em Portugal.

53
CONCEÇÃO DO
PRODUTO FINAL
RESULTADOS EM NÚMEROS

3 Tipologias de
Atividades Compiladas
e Sistematizadas

Reunidos testemunhos
Reunidos contributos de 17 pessoas Recolhida informação
de vários parceiros e destinatárias de de 16 assistentes
CAVI da Zona Centro assistência pessoal pessoais

1 Produto Final
Editado e Reproduzido

AVALIAÇÃO
As metas estabelecidas no domínio da atividade de "Conceção do Produto Final"
foram atingidas com sucesso, na medida em que o presente documento integra
os diferentes elementos acima expostos.
Importa, no entanto, referir que, de modo a garantir que os números apresentados
não se resumam a um cumprimento abstrato de objetivos, procedeu-se,
adicionalmente, à avaliação do impacto social do projeto, a qual integra
igualmente o presente suporte documental.

54
Testemunhos

Nesta secção são apresentados testemunhos


enviados por pessoas destinatárias, assistentes
pessoais e familiares de pessoas destinatárias de
assistência pessoal, organizados por temáticas.
Pessoas
Destinatárias de
Assistência
Pessoal

Quais os aspetos mais positivos que identifica


na sua experiência no projeto mavi?
(excertos)
Cristiana Nave
25 anos

O projeto piloto, MAVI, veio possibilitar a minha transição para a


vida independente. Apoiada por este projeto, mais especificamente
pelo CAVI sediado na ADM Estrela, sou apoiada pelas assistentes pessoais
Ana Paula e Ernesta.
As assistentes pessoais têm tido um papel fundamental na minha vida. A
sua orientação e acompanhamento nas tarefas do dia a dia tem sido
constante e, por isso, sinto-me capaz de realizar atividades que antes não
fazia. Por vezes ainda sinto alguns medos. No entanto, a segurança que as
assistentes pessoais me transmitem tem contribuído para aumentar a
minha autoconfiança. (…) O projeto MAVI permitiu a minha transição para
a vida independente. Desejo continuar a ser apoiada por este projeto que
tem a capacidade de mudar vidas. Obrigada por esta oportunidade.

Maria Luísa Rebelo


25 anos

Ao surgir o projeto MAVI, com a figura de uma assistente


pessoal, o que parecia difícil e quase impossível foi ficando mais
próximo de ser possível. (…) Desejava viver sozinha, mas sentia medo.
Era tudo muito diferente da realidade que eu conhecia, 20 anos a viver numa
instituição. A casa foi ficando pronta e os meus medos não desapareciam. No
entanto, o desejo de iniciar a nova etapa fazia com que os receios
desaparecessem. (…) O acompanhamento prestado pelas assistentes pessoais
foi desde sempre muito importante. Foi fácil o relacionamento. Ter a certeza
que a Ana Paula e a Ernesta me acompanhavam nas tarefas que eu não sabia
realizar sozinha permitiu aumentar a minha confiança e tranquilidade. Com o
decorrer do tempo foi possível criar rotinas. A orientação dada pelas minhas
assistentes pessoais nas tarefas do dia-a-dia tem permitido que me sinta mais
autónoma. Sem elas não seria possível esta evolução.

57
Jesuíno Joaquim
91 anos

O projeto MAVI foi muito importante para tornar a minha vida


mais facilitada e feliz. O apoio da ADM (Célia) tem sido
essencial na minha vida. Tem aumentado a minha qualidade
de vida e bem-estar. É um projeto exemplar para facilitar a
vida das pessoas com deficiência.

Ângela Cordeiro
49 anos
Antes tinha que contar sempre com o apoio da minha mãe.
Agora consigo deslocar-me sozinha, ter momentos de lazer e
maior apoio nas tarefas domésticas. (…) Agora sinto-me mais
concretizada nos meus objetivos, sinto-me mais apoiada e com
maior segurança. (…) Antes tinha uma vida solitária, isolava-me
muito em casa…faz-me sentir não tão apática e mais disposta
a fazer as coisas…sair de casa.

José de Almeida
87 anos
A assistente Célia ajuda-me a ter a máxima autonomia possível,
auxiliando na locomoção (levantar da cama, sentar na cadeira
de rodas e deslocar), higiene pessoal, preparação das refeições e
limpeza da casa. Ao nível da saúde, acompanha-me a todas as
consultas, análises clínicas e outros exames. A sua presença permite
que os meus familiares mantenham as suas atividades profissionais e
estejam mais tranquilos já que ela apoia-me em todas estas
necessidades básicas. Tendo incapacidade motora e idade
avançada, gostaria muito de poder continuar com esta preciosa
ajuda, pois só assim, poderei ter algum conforto e bem-estar.

58
Eduardo Antunes
79 anos
Em boa hora foi encontrado este tipo de apoio, do qual beneficio
desde janeiro de 2022. (…) O trabalho com a minha AP é da maior
importância. Tenho um plano de funcionamento que é respeitado com
rigor. Sendo eu uma pessoa dependente dos outros, preciso da assistente
pessoal sempre a meu lado. (…) Do desempenho da Raquel, só posso dizer
que é o melhor. (…) Quando olho para trás no tempo, penso como estaria
degradada a minha condição física se não tivesse este tipo de apoio!
Ainda que de casa tivesse o melhor acompanhamento, veria sempre a
minha condição física diminuída. Numa avaliação geral deste Projeto de
Apoio à Vida Independente, posso dizer que ganhei movimentos que perdi
com todo o processo de internamento, desenvolvi autonomia ao nível do
raciocínio, memória e agilidade mental e ainda que não consolidada,
elevei a minha autoestima. Contudo, sei que tenho muito para evoluir, já
que foi muito o que perdi. (…)Quero, acima de tudo, acreditar, que este
projeto não acabe e que possa alargar a sua ação a mais beneficiados
que dele precisem. Agradeço aos grandes promotores toda a resiliência a
ele dispensada.

Ruy Freiria
63 anos

Apareceu no momento certo. Tinha como principal expectativa


o apoio em deslocações, nas dificuldades diárias (refeições,
fisioterapia, caminhadas) e até na própria companhia. (…) Se não tivesse
assistência, neste momento já não saía de casa porque as minhas
probabilidades de queda são grandes.

59
Lurdes Prior
50 anos

A principal expectativa era poder continuar a viver em minha casa.


Antes usufruía de apoio domiciliário que consistia em levantar, higiene,
almoço…faziam as coisas e iam embora. Não era suficiente. Não me
davam apoio nas deslocações, nem nas atividades de lazer (…)
O projeto possibilitou-me continuar no meu espaço, poder fazer o que me
apetece e ter apoio para deslocações e momentos de lazer. (...) Apareceu
no momento em que precisei, que foi quando fiquei mais dependente.

Rita Dias
42 anos

Quando me falaram do projecto CAVI eu pensava que era uma


coisa e saiu-me outra. Eu não me encontrava bem de saúde e
imaginei uma coisa, por isso reagi um bocado mal. Depois compreendi que
era uma forma de me tornar mais independente dos meus pais,
principalmente da minha mãe, da qual eu dependia bastante.
Uma das vantagens que este projecto me deu foi uma boa companhia e os
meus pais podem fazer as suas coisas despreocupados pois eu estava
acompanhada. (…) O meu dia-a-dia é diferente porque estou entretida
desde idas ao cinema, equitação, natação, museu, passear, ver montras.....
com ela faço trabalhos manuais que não fazia, como pintar telas, que
descobri que adoro e me relaxa.
A minha vida mudou e por isso agradeço ao CAVI e principalmente a minha
assistente pessoal e um agradecimento especial ao Engenheiro Gomes que
sem me conhecer me apresentou o projecto.

60
Maria Salete Vaz
61 anos

Graças à assistente pessoal estou viva (…) com a Ana [assistente


pessoal] fui-me construindo novamente. Comecei a desenvolver
competências novamente. Comecei a pintar, a ir à fisioterapia, à piscina,
(…) tudo o que eu quero fazer, posso fazer. [A assistente pessoal] Foi
fazendo com que eu conseguisse sair de casa novamente. A assistente
pessoal teve um papel ativo e fundamental na minha reconstrução. (…)
Este projeto é fundamental para todos. Não pode acabar. Melhorou a
minha autonomia e independência dentro e fora de casa.

José Miguel Marques


25 anos
A principal expectativa era ter mais acompanhamento de
uma terceira pessoa, para libertar o meu pai e os meus
avós (…) acabei por ter alguém para me acompanhar nos estudos,
na fisioterapia, em atividades de lazer, poder participar em férias..

Mário Fonseca
63 anos

As expectativas iniciais eram boas, mesmo não tendo as horas


que eu pretendia. A minha vida sem este apoio era de solidão,
assim tenho mais apoio.

61
Liseta Marques
61 anos

Este apoio permitiu-me ser mais autónoma e não estar


constantemente dependente das pessoas à minha volta. Tornou-me
mais independente…sinto que libertei muito as pessoas de quem estava
dependente, porque elas também têm vida própria. (...)
Antes de ter assistência não lia jornais e livros (por não ter aparelhos que
auxiliassem a leitura) e isso foi algo que sempre gostei de fazer. A minha
capacidade de memorizar foi ficando cada vez pior e como perdi a
sensibilidade de braile, foi-me impossível fazer essas coisas. (...)
O principal apoio foi na rua, porque na estação não me consigo orientar
sozinha, por não me ter sido feito o reconhecimento, e a AP ajudou-me
nisso. Permitiu-me também ir tomar café, fazer caminhadas, coisas que
me ajudam a aliviar o stress depois de estar sete horas sentada numa
cadeira.

João Taborda
30 anos

Este apoio permitiu-me ter mais autonomia e não estar dependente


da família ou dos colegas na minha higiene. Se não tivesse AP ainda
estaria em casa da minha mãe. Possibilitou-me ter uma vida independente, ter
a minha casa, sem ter que estar dependente de ninguém (…) e isso fez-me
perceber as dificuldades e desafios da vida. (…)Com a assistência posso
deslocar-me ao escritório [trabalho], gerir o meu tempo de melhor forma,
sobrando-me tempo para fazer compras, lazer, convívio. (…) O balanço do
projeto é extremamente positivo e superou muito as minhas expectativas.

62
António Castro Fernandes
68 anos

[As expectativas iniciais eram de] melhoria da deslocação, tanto


no exterior como no interior da habitação, acompanhado, situação
que se encontra cumprida integralmente. [Sem este apoio, a minha vida]
era certamente, monótona, sem qualquer tipo de vontade própria para
realizar tarefas. [A relação com a assistente pessoal] tem sido franca,
aberta e de respeito. Uma pessoa em que se pode confiar plenamente. (…)
Só tenho a referir que a A.P. tem tido uma postura de resiliente, capaz de
ultrapassar os obstáculos que lhe são colocados. [Os principais resultados
ou experiências positivas] Resultam da postura e da vivência da A.P. bons
resultados, que merecem serem louvados, tanto a nível do assistido, como
do CAVI e da ADM Estrela.

Victor Clemente
57 anos

Desde o início as minhas expectativas relativamente ao projecto


em questão não eram muito positivas, pois estava reticente em
abrir o meu mundo a pessoas estranhas. (...) A minha vida sem este
apoio seria uma vida muito mais dependente da boa vontade de alguém
disponível para me ajudar em tarefas do qual não consigo desempenhar
sozinho. Um dos principais resultados que se destacou ao longo deste
projecto foi a possibilidade de ultrapassar os obstáculos diários sem
necessidade de pedir auxilio a terceiros. (…) O Balanço desta
experiencia é bastante positivo, que superou bastante as minhas
expectativas.
De uma forma geral o programa está bastante equilibrado e não
encontro de momento necessidades de melhoramento.

63
João Pena Fonseca
52 anos

A chegada do projeto foi o virar de uma página na minha vida


(…) apercebi-me que a falta dos amigos chegados podia ser
colmatada com a assistência pessoal. Agora não preciso pedir ajuda
a ninguém para fazer a minha vida em casa e fora de casa (…), com a
ajuda do CAVI posso fazer o que quero e quando quero, sem ter que
estar a pedir a ninguém.

64
Pessoas Destinatárias de Assistência Pessoal

O que tem a dizer sobre a formação e seleção de


assistentes pessoais?
(Excertos)
António Castro Fernandes
68 anos

O escrutínio, relativamente à assistente pessoal, teve por base


a apresentação; a simpatia; a experiência demonstrada e a
educação.

Eduardo Antunes
79 anos

Feita a seleção da assistente pessoal através de entrevista, e,


iniciado o seu trabalho, começo a dar conta que (…) tinha
escolhido bem a pessoa que tinha em casa para me ajudar.

José Miguel Marques


25 anos

Sinto que nenhuma AP estava realmente preparada para este


tipo de funções. (…) Era importante as pessoas [destinatárias
de assistência pessoal] terem um papel mais ativo na
preparação das assistentes. Existir uma parte mais prática
antes de virem trabalhar.

Lurdes Prior
50 anos

Sentia que, no início, todas [AP] tinham medo de me agarrar,


transferir, com medo que me magoassem. (…) Era importante
que a formação tivesse uma parte teórica e outra presencial,
com a presença de outra assistente que já conheça a minha
situação.

67
Maria Luísa Rebelo
25 anos
O processo de seleção da assistente pessoal não foi de todo
fácil. Quando conheci a Ana Paula e a Ernesta senti simpatia e
confiança. Percebi que eram as pessoas certas para me
ajudarem na nova etapa da minha vida.

Mário Fonseca
63 anos

Em relação á seleção da assistente pessoal foi boa, porque fui


eu que pude escolher.. A relação com a assistente pessoal tem
sido, ao fim ao cabo, uma relação de amizade.

Rita Dias
42 anos

Em relação à entrevista e seleção da minha assistente eu não


participei diretamente [representante legal]. O facto da minha
assistente ser da minha idade ajudou muito na adaptação pois
ela era uma desconhecida que passou a entrar diariamente na
minha casa.

Victor Clemente
57 anos

A selecção da Assistente destacou-se pela percepção da


simplicidade, voluntarismo e capacidades da pessoa em causa
para as tarefas a desempenhar. A minha relação com a
assistente pessoal, é uma relação boa, superando largamente
as minhas expectativas e desta forma encontro-me bastante
satisfeito.

68
Pessoas Destinatárias de Assistência Pessoal

Que desafios, constrangimentos ou aspetos


menos positivos sentiu?
(excertos)
Victor Clemente
57 anos

No que toca aos desafios na assistência pessoal, a minha


maior dificuldade inicialmente passava por induzir na
assistente as minhas verdadeiras incapacidades e
necessidades.

Ruy Freiria
63 anos
O principal desafio foi aceitar que uma pessoa estranha visse
a minha vida particular. Tive que me esforçar para criar alguns
laços com as assistentes.

Rita Dias
42 anos

Com o tempo [a assistente pessoal] tornou-se uma pessoa


próxima com a qual desabafo e ela faz me ver as coisas
noutras perspectivas, às vezes "cai-me mal", mas depois de
pensar um pouco consigo compreender e aceito bem. [apoio
na tomada de decisão]

Mário Fonseca
63 anos

Os principais desafios são quando são novas assistentes ainda


demoram a interagir. As dificuldades na assistência pessoal é
quando a assistente pessoal vai de férias ou estar doente, não
haver pessoal para ficar com o mesmo horário que ela, ter que haver
mudanças de horários que para mim não é o mais conveniente. Os
aspectos positivos são muitos, o que deve melhorar é: eu ter um aumento
de horas, haver pessoal para as férias e faltas da assistente pessoal que
está comigo e com o mesmo horário dela, e continuar a ter a mesma
assistente pessoal nos acompanhamento nas deslocações ao médico.

70
Maria Salete Vaz
61 anos
O que mais tive dificuldade foi aceitar que necessitava da
ajuda. (…) [Deviam existir] Mais atividades para falar das nossas
vivências, daquilo que mudou nas nossas vidas e o que
adquirimos com o apoio da assistência.

Maria Luísa Rebelo


25 anos

Em certas situações não estamos de acordo [apoio na tomada


de decisão]. Conversamos, colocamos as nossas opiniões e
depois é possível tomar as melhores decisões.

Liseta Marques
61 anos

Deposito muita confiança na Assistente Pessoal, como se fosse da


minha família e se eu perceber que a pessoa é honesta e de
confiança, é muito fácil construir uma relação com a pessoa…lidar
com o estado de espírito dela às vezes é um desafio.

Lurdes Prior
50 anos

Não me ligo muito à pessoa [AP] porque sei que pode ir


embora a qualquer momento

71
José Miguel Marques
25 anos

No início os meus avós estavam mais reticentes em ter alguém


na casa deles.

João Pena Fonseca


52 anos
Uma das principais dificuldades que sinto são as substituições
[de assistentes pessoais] por pessoas que nunca fizeram este
tipo de tarefas [transferências], pelo risco de queda e outras
questões de segurança (…) Era importante que o projeto
disponibilizasse transporte porque, na minha condição, deixo
de ir a sítios que gostaria por falta de transporte.

Eduardo Antunes
79 anos

Com o passar do tempo, também reconheço que podia muito


bem ter solicitado mais horas, já que nos diziam sempre que era
possível o reajuste para menos tempo. Parecia-me a mim, que
podia não me sentir à-vontade com este apoio prestado,
contrariei a minha esposa e optei por um tempo de apoio mais
reduzido.

Cristiana Nave
25 anos

Às vezes não estamos de acordo [Apoio na tomada de decisão].


Conversamos sobre todos os assuntos e as assistentes pessoais
têm sempre como resolver os problemas que vão surgindo.

72
António Castro Fernandes
68 anos

(…) Há que salientar a redução de horário, tempo esse que


nunca nos foi dado, sem qualquer explicação. No período de
férias da A.P. existe uma grande dificuldade do preenchimento
do horário. Item que poderia ser melhorado com outra A.P.

Ângela Cordeiro
49 anos
O maior medo era não me conseguir adaptar por já estar há
muito tempo sozinha. Percebi logo na entrevista que [a AP] era
alegre e não tinha preconceitos.

73
Pessoas Destinatárias de Assistência Pessoal

O que tem a dizer sobre a atuação do cavi?


(Excertos)
Victor Clemente
57 anos

No que toca a minha relação com o CAVI, esta sempre foi


muito boa e estes sempre se encontraram disponíveis para
resolver qualquer tipo de problemas.

António Castro Fernandes


68 anos

É justo salientar a atitude dos técnicos do CAVI que se


disponibilizaram a resolver as situações da melhor forma e
disponibilidade.

Liseta Marques
61 anos

Para mim o CAVI é uma instituição que tem os seus


funcionários, e por sua vez, estes têm que ter
responsabilidades… e por isso acho que deve existir o CAVI,
alguém responsável para poder orientar os “ses” e “vontades”
das assistentes pessoais.

Mário Fonseca
63 anos

A relação e intervenção do CAVI é positiva, ajudam-me


sempre que preciso.

Rita Dias
42 anos

A minha relação com CAVI é positiva pois sempre foram


compreensivos com a minha situação e não tenho nada a
apontar de mal.

75
Ângela Cordeiro
49 anos
Sinto-me apoiada pelo CAVI e a minha vida mudou muito.

Eduardo Antunes
79 anos

Em primeiro lugar, quero falar das pessoas que direcionam


este Projeto de Apoio à Vida Independente: O Ângelo, a Sónia
e mais tarde a Joana, são, quanto a mim, as pessoas certas no
lugar certo. Com todos eles, temos a mais saudável relação.
Um empenho muito dedicado à causa é toda a ideia que eu
tenho deles, como pessoas ativas do projeto.

Maria Luísa Rebelo


25 anos

O CAVI na pessoa da Joana e do Ângelo tem prestado todo o


apoio. Sinto-me apoiada e com a certeza que as pessoas
intervenientes neste projeto tudo têm feito para que me sinta
bem. Desejo que o projeto MAVI tenha continuidade, para
continuar a ter o apoio de que necessito e que outras pessoas
possam ser apoiadas.

Cristiana Nave
25 anos

A Joana e o Ângelo, que representam o CAVI, têm correspondido


a todas as minhas expectativas. Sempre disponíveis para
esclarecer qualquer dúvida e sempre com sugestões para que
tudo corra pelo melhor.

76
Assistentes
Pessoais

Quais os aspetos mais positivos que identifica


na sua experiência no projeto mavi?
(excertos)
Carina Rodrigues
34 anos
O aspecto mais positivo é, sem dúvida alguma, a mudança radical
que a assistência pessoal trouxe para a vida dos utentes. Na minha
vida essa mudança foi também bastante significativa pois mexeu com
a minha maneira de ser de uma forma positiva, algo que tenho como
muito valioso. (…) Sinto que o que estamos a fazer com a assistência
pessoal é do mais nobre que pode haver. É promover a dignidade
humana, o direito de todos poderem estar ao comando da própria
vida, é dar a independência e liberdade que tantos achamos
garantida mas que para outros é uma realidade muitas vezes utópica.
Sinto-me bastante orgulhosa por poder fazer parte de bonito
projecto, que esperamos que esteja cá para ficar.

Raquel Costa
36 anos

Desde já, o Projecto em causa no meu ponto de vista é de


grande relevância na inclusão de pessoas com deficiência ou
incapacidade o que o torna seriamente gratificante. Como
Assistente Pessoal, sinto que dou um grande contributo na
sociedade, no apoio e auxilio destas pessoas. (…) Espero
fielmente que nunca termine!

Sandra Barreiros
46 anos

O essencial deste projeto é que nós estamos ali com um


propósito auxiliar o utente na sua vida diária para que possam
ter qualidade de vida e realmente uma VIDA INDEPENDENTE.

79
Rita Santos
49 anos
A seleção sendo feita pelos assistidos é boa, porque é o assistido que
está a escolher o seu "parceiro" nesta caminhada e eu tento fazer o
melhor "serviço" nesta escolha, para não o deixar ficar mal.

Tatiana Feiteira
26 anos

Trabalhar como Assistente Pessoal é qualquer coisa de


especial. É saber que somos úteis, que todos os dias podemos
auxiliar alguém a ter uma vida melhor, mais integrada e com
menos obstáculos.

Dinora Antunes
40 anos

O método de seleção foi realizado com as preferências do


utente: foi realizada uma entrevista com mais duas assistentes
e ele escolheu a que mais se adaptava com as características
do mesmo. Eu fui a escolhida. (…) Desde o primeiro dia que
entrei na casa, fui acolhida quase como uma filha. Fui logo
muito bem tratada tanto pelos avós como pelo pai, o que
ajudou a criar uma relação de cumplicidade entre todos,
especialmente com o Zé (utente), que é possível afirmar que
"até já nos percebemos com o olhar".

80
Ana Patrícia Matos
36 anos
Ter a capacidade de intervir e facilitar as atividades diárias de
alguém é assim tornar a sua vida um pouco mais fácil é algo que me
acrescenta e me torna um ser humano mais atento, sensível e
empático. Tenho plena noção que nós, assistentes, fazemos a
diferença para as pessoas que apoiamos.

Ana Madeira
50 anos

No meu ponto de vista o projeto foi uma lufada de ar fresco,


para as diversas pessoas com incapacidade, foi o reduzir de
muitos limites existentes constantes e diários. Foi dar-lhes
independência, braços e pernas para andar. Sem ter de
sobrecarregar familiares. E terem de novo objetivos e
esperança e alguém em quem confiar para os ajudar. Poderem
aproveitar da melhor forma continuar a ter uma vida social e
produtiva na sociedade. Sentirem -se novamente integrados
na sociedade um pouco mais aliviados e com mais liberdade.
Para mim tem sido um enriquecimento e uma aprendizagem
diária de variadíssimas formas. Fez-me ver o valor de coisas
simples que devem ser mais vividas e valorizadas e que não é
preciso muito para fazer diferença na vida de alguém.

Cleidimira Cruz
27 anos

Quanto ao processo de recrutamento penso que foi muito


interessante de ver a pessoa destinatária puder escolher a
pessoa com quem gostaria de lidar no dia-a-dia.

81
Ana Paula Gomes
55 anos
Penso que existirem associações que desenvolvam este tipo de
projetos e que deem estas formações é uma mais-valia e
extremamente necessário para se conseguir ajudar um maior número
de pessoas com algum tipo de limitações a terem uma maior e melhor
qualidade de vida.

Sandra Peixoto
46 anos

A minha chegada permitiu que a beneficiária realizasse um


conjunto de atividades para ocupar o seu tempo, libertando
assim os seus pais para os seus afazeres, dando-lhes uma
liberdade extra. Esta experiência foi positiva pois tenho
tentado cumprir todos os meus objetivos definidos pela minha
beneficiária. Em relação à família, acho que posso afirmar que
também tem sido positivo para eles.

Célia Frias
35 anos

Estou com pessoas que requerem muito do meu estado


emocional visto que são pessoas com uma idade avançada e
debilitados e sem dúvida que todos os dias ao final do dia
penso em missão cumprida porque têm aquele apoio que não
existe em lado nenhum. O MAVI é sem dúvida dos melhores
projetos quer a nível pessoal, de ajuda e acima de tudo
compreensão e bem estar das pessoas

82
Ernesta Parreira
58 anos
Aquando do primeiro contacto com a Luísa Rebelo, pessoa
destinatária, senti que esta forma de recrutamento e de seleção era
diferenciador. A Luísa fez a sua apresentação. Colocou dúvidas,
partilhou medos e fragilidades. A interação deu-se de uma forma
bastante natural. Decorridos alguns dias fui contactada pelo
coordenador do CAVI para me comunicar que a Luísa me tinha
escolhido. O facto de me sentir escolhida criou em mim um enorme
sentido de missão.

Ana Paula Silveira


52 anos

Participar do projeto MAVI foi um divisor de águas em meu


percurso profissional em Portugal. O MAVI é um projeto
fantástico e muito importante na vida de pessoas que
necessitam ter uma vida independente de acordo com as suas
limitações.

Andreia Santos
38 anos

O Projeto MAVI é um dos melhores projetos que poderia existir.


Permite que as pessoas beneficiárias, sejam independentes, estejam
nas suas casas, fazendo com que se sintam mais à vontade para que
possam ter uma “vida própria”. Permite realizar alguns dos seus sonhos,
porque muitas de elas estavam privadas de certas atividades pessoais,
como uma simples ida à rua, por falta de assistência ou os familiares não
conseguirem ou mesmo porque não tinham ninguém e através da
assistência pessoal conseguem realizar esses pequenos sonhos e que
beneficiem de um dia a dia com mais autonomia e confiança. (…) É muito
gratificante poder trabalhar em casa das pessoas beneficiárias (...)
Obrigado pela oportunidade, pelo acolhimento, pela equipa e por me
deixarem fazer parte deste Projeto.

83
Rosa Filipe
37 anos

Tive o enorme privilégio de ser assistente de várias pessoas, todas


elas com incapacidades diferentes e socialmente diferentes, aqui
eu sinto como faço diferença na independência de alguém e
sentir o alívio das pessoas que partilham o mesmo lar podendo
assim retomarem a sua vida social e profissional.
Todo o projeto é um sonho para as pessoas que por si só não são
capazes de ultrapassar as barreiras físicas desde o poder de
escolha entre várias assistentes, o que lhes confere poder e
autonomia, á sua verdadeira independência e possibilidade de
voltarem a sentir-se livres, independentes, autónomos, úteis e
incluídos na sociedade.

84
Assistentes Pessoais

O que tem a dizer sobre a formação inicial?


(Excertos)
Cleidimira Cruz
27 anos

A formação permitiu-me adquirir mais conhecimentos que


foram importantes para o desenvolvimento de competências
durante o percurso profissional.

Ana Paula Gomes


55 anos

A formação que fiz pelo CAVI foi de extrema importância, pois


deu-me todas as ferramentas necessárias realizar o meu
trabalho da melhor forma possível.

Célia Frias
35 anos

A formação foi uma aprendizagem incrível que uma pessoa


leva para a vida e cada dia é uma aprendizagem.

Dinora Antunes
40 anos
A formação foi produtiva, de forma que me deu novas
ferramentas para lidar com aspetos relacionados com a
higiene, a maneira de transferir o utente da cama para a
cadeira de rodas e vice-versa, e outras tarefas necessárias.

87
Ana Madeira
50 anos

Penso que o processo de recrutamento seleção e formação deveriam


ser mais alargados e detalhados, vendo melhor as competências,
aptidão e preparação para situações vividas e abertura dos
problemas que possam surgir. Ver as dificuldades de cada pessoa
incapacitada especificamente e haver uma preparação melhor e
perceber o à vontade de parte a parte no terreno, de modo a facilitar
o trabalho diário, e ter logo uma perceção se a pessoa está
preparada e à vontade, com a presença dos CAVI, para também
perceberem melhor a necessidade e dificuldades que surgem em
cada caso específico.

Rita Santos
49 anos

O processo de formação inicial foi de 50horas, o que ao meu


ver, foi o suficiente, claro que ficou muitos temas por abordar,
mas só no ativo é que se aprende a ser um bom assistente
pessoal, no dia a dia.

Ernesta Parreira
58 anos
A formação inicial, preparada e ministrada de forma exemplar,
proporcionou-me um conhecimento mais concreto do projeto
MAVI. Deu resposta a alguns medos e receios. Outros
teimavam em permanecer, mas em simultâneo despertava a
vontade de iniciar funções.

88
Tatiana Feiteira
26 anos

A formação dá-nos vários conhecimentos necessários para


começar, no entanto, quando chega o dia de início tudo
parece diferente. Quando é realizada a formação, não
sabemos especificamente quais deficiências vamos encontrar
enquanto Assistentes Pessoais e com o decorrer dos primeiros
dias vamos aprendendo cada vez mais.

Ana Paula Silveira


52 anos

O curso preparatório para assistente pessoal foi muito


importante, com profissionais de alto conhecimento na área.

Raquel Costa
36 anos

O meu parecer relativamente à formação é que foi bastante


interessante e informativa. No entanto, para este tipo de
serviços a formação deveria ser mais personalizada e
elucidativa. Ou seja, devia ser facultado formação de
primeiros socorros; informação mais aprofundada dos
diferentes tipos de patologias, essencialmente as associadas
aos beneficiários do projeto; como lidar com situações em
casos de emergência; fornecimento de histórico mais
detalhado do beneficiário do qual iremos prestar assistência
de forma a facultar um serviço mais personalizado e rigoroso;
entre outros.

89
Sandra Barreiros
46 anos

A minha experiência neste Projeto iniciou-se com um período de


formação, que na minha opinião foi curto, nesta formação
obtivemos uma noção geral do Modelo de Apoio à Vida
Independente, com alguns dos conceitos mais relevantes e também
algumas noções de algumas tarefas que iriamos realizar na prática.
(..)apesar de ter apreendido vários conceitos na Formação Inicial,
só na prática é que se consegue aprender realmente.

Carina Rodrigues
34 anos

(...) Iniciei a formação em Maio de 2019.


A formação, apesar de ter sido a um ritmo intensivo, foi
bastante interessante, dada por formadores excelentes e
acessíveis ao conhecimento transmitido.
Abordaram-se temas importantes do ponto de vista ético, mas
ficou aquém no que toca à questão prática em relação às
necessidades reais de cuidados
terapêuticos/conforto/prevenção/etc. dos utentes.
Creio ser fundamental a formação ministrar conteúdos práticos
básicos como primeiros socorros, transferências,
posicionamentos, mobilizações, técnicas de alimentação,
acompanhamento de invisuais, etc.
Técnicas e aprendizagens essenciais para que os assistentes
pessoais possam desempenhar as tarefas diárias com mais
segurança, conhecimento e profissionalismo.

90
Andreia Santos
38 anos

A formação inicial foi deveras importantíssima em diversos


aspetos… aprender mais sobre diferentes tipos de incapacidades,
aprender a “lidar com as diferenças”, com os conflitos e as
frustrações, com desafios diferentes e acima de tudo com a
importância da autonomia para as pessoas destinatárias. Ter a
capacidade de conseguir ultrapassar dificuldades e problemas
que poderiam surgir.
Uma falha relativamente à formação, na minha opinião, foi a falta
de formação prática. Por mais importante que a formação teórica
seja, só praticando é que nos apercebemos das dificuldades que
nos surgem e como lidar com os diferentes tipos de
incapacidades. Só no “tereno” é que conseguimos ultrapassar os
nossos medos e receios. Algo que deveria ser melhorado ou
mesmo acrescentado nas formações, é aprender a lidar com
pessoas invisuais.

91
Assistentes Pessoais

Que desafios, constrangimentos ou aspetos


menos positivos sentiu?
(excertos)
Rita Santos
49 anos

Em relação ao processo de recrutamento como assistente pessoal foi


um processo um pouco lento, pois estive algum tempo com poucas
horas, mas a longo prazo consegui ter 36 horas semanais o que para
mim é muito positivo. (…) a ideia que uma assistente pessoal é uma
empregada de limpeza.

Cleidimira Cruz
27 anos

É importante melhorar a substituição durante as férias.

Sandra Peixoto
46 anos
De início foi mentalmente muito exigente, obrigando-me a uma
ginástica para conseguir que ela visse as situações na
perspetiva do outro, neste caso os pais, nem sempre com
sucesso tive que dar o meu melhor todos os dias. Devo
confessar que cheguei a equacionar desistir, mas como não
faz parte da minha natureza reinventei-me.

Carina Rodrigues
34 anos

O que creio haver a melhorar são questões laborais no que


toca às assistentes (contratos de trabalho com mais
condições), alterar funcionamento da gestão de horas para
abranger mais pessoas que necessitam muito de assistência.

94
Ana Madeira
50 anos

Apoio monetário para quem faz várias deslocações diárias e kms para
fora da cidade ou pagar um subsidio de transporte, melhorar o
subsidio de alimentação, ver a situação de quem trabalha aos fins de
semana e feriados e horas noturnas.

Ana Patrícia Matos


36 anos

Tem sido uma caminhada muitas vezes difícil em termos


emocionais, mas muito gratificante ao mesmo tempo para mim
como pessoa e profissional. (…) Ao início, a adaptação ao
espaço uma da outra pode ter sido um pouco constrangedor,
mas com o passar do tempo temos conseguido equilibrar e
respeitar os limites uma da outra de forma a haver sempre uma
interação saudável. Crescemos juntas!!!

Ana Paula Silveira


52 anos

Ser assistente pessoal é um grande desafio, principalmente com


certas características dos assistidos. É orientar, auxiliar e mediar
sempre visando o melhor para o outro.
Obviamente nem sempre passamos por experiência positivas, algumas
vezes nos deparamos com situações em que a nossa experiência de
vida não é considerada, pela vontade própria do assistido, e temos
que acatar essa decisão, e são nesses momentos em que acredito
que o projeto faz sentido, pois a intenção é fazer a pessoa ter uma
vida independente e isso inclui erros e acertos, partindo de suas
próprias decisões.

95
Tatiana Feiteira
26 anos

Sendo um projeto piloto, deu para verificar que existem


pequenas coisas a melhorar, nomeadamente medidas mais
justas no caso da/o Assistente Pessoal ser impossibilitada/o de
trabalhar a pedido de dispensa da pessoa assistida, bem como
a questão dos horários e transporte no que concerne ao
acompanhamento da mesma ao local de trabalho. A questão
de substituição em períodos de férias também deve ser um
assunto a ter em atenção, nomeadamente em locais mais
afastados da instituição. .

Raquel Costa
36 anos
Inicialmente há sempre dúvidas e receios ao trabalhar com
pessoas “desconhecidas”, na sua própria casa. Nem tudo é
fácil, pois temos de nos adaptar às diferentes personalidades e
feitios, e por essa razão é importante sabermos ter uma
postura diferenciada perante cada pessoa.
Incentivos para convívios entre os membros do projeto para
auxiliar na socialização, confraternização e inclusão, como,
bilhetes para espetáculos/concertos. Apoio para incentivar as
pessoas apoiadas para convívios em cafés, passeios,
atividades ao ar livre, etc…
Devia haver uma parceria com a Câmara Municipal da
Guarda, para que os membros do Projeto, - assistentes e
pessoas assistidas- tenham acesso livre às piscinas Municipais.

96
Ernesta Parreira
58 anos

Promover a autodeterminação na Cristiana e na Luísa é um desafio,


exigente e, por isso, reconfortante. Cada conquista por pequena que
seja, ameniza e permite esquecer os momentos menos agradáveis que
inevitavelmente surgem da interação entre pessoas.

Sandra Barreiros
46 anos

É um desafio ajudar de forma pessoal e personalizada a


pessoa: auxiliar nas transferências, na higiene, no vestir/despir,
no levantar/deitar, na alimentação, na medicação, nas tarefas
domésticas, no trabalho, no exercício físico, nas deslocações
às compras, ao teatro, a concertos, ao café, aos serviços
médicos, ou outros locais.

Andreia Santos
38 anos

No início senti-me um pouco insegura, por “invadir” o espaço das


pessoas beneficiárias, mas que com o passar do tempo melhorou
e neste momento não me faz diferença alguma trabalhar nas
casas delas ou mesmo, ter que lidar com os familiares. É muito
bom ver a cada dia que passa os progressos e a felicidade
estampada no rosto de cada pessoa beneficiária. Para mim é um
orgulho imenso saber que fiz a diferença e que continuo a fazer a
diferença na vida deles e que um pequeno gesto para mim, à
pessoa beneficiária, é um grande passo e uma grande diferença.

97
Assistentes Pessoais

O que tem a dizer sobre a atuação do cavi?


(Excertos)
Raquel Costa
36 anos

(...) É importante afirmar que se tratava de um Projeto recente para


todos os intervenientes, tanto para os assistentes e beneficiários,
como para os membros CAVI e as dúvidas e receios sempre
estiveram presentes; pois se trata de um projeto que precisa de
constantes adaptações para prosperar. E mesmo com as dúvidas
iniciais, trabalho árduo e constante, o CAVI da ADM Estrela sempre
mostrou muita capacidade de orientar/administrar da melhor
forma possível, com as ferramentas disponíveis. Mostraram
disponibilidade, apoio na resolução de problemas, empatia pelos
intervenientes, entre outros. Assim, é de destacar o trabalho árduo
e esforço dos membros do CAVI ao longo deste percurso e como
lidaram com as mais diversas situações. Sempre me senti bastante
confortável para falar com o CAVI sobre os mais diversos assuntos
e dúvidas e é gratificante o seu reconhecimento pelo trabalho
realizado, compreensão e apoio constante.

Rita Santos
49 anos

A relação com o CAVI, penso ser uma relação positiva, claro


que como humana tenho falhas como qualquer humano, mas
tento fazer o meu melhor. Mas a intervenção do CAVI podia
ser um pouco mais ativa, ir mais a casa das pessoas apoiadas,
estar um pouco mais no " terreno" para ver o trabalho da
assistente.

Ana Paula Silveira


52 anos

O apoio do Ângelo e da Joana, além de todos os


colaboradores que fazem parte do projeto fizeram e fazem
dessa experiência um sucesso na minha opinião

99
Ana Madeira
50 anos

Em relação ao CAVI no meu ver penso que deveriam estar mais


presentes também no terreno, acompanhar mais, estarem mais
integrados no nosso trabalho e por vezes verem algumas
dificuldades que surgem. Terem uma abertura melhor connosco
por vezes facilitaria.

Sandra Barreiros
46 anos
O auxílio do CAVI foi também essencial, nomeadamente nas
avaliações (nas quais se dá o feedback de como decorrem as
situações com o utente), e também é a entidade empregadora
a qual tratou de forma exemplar todos os assuntos
relacionados com o exercício desta nova profissão.

Tatiana Feiteira
26 anos

(...) Contamos também com o suporte da equipa do CAVI, que


em momentos de dúvidas ou quaisquer problemas que estejam
a existir no momento, se mostram disponíveis para ajudar e
aconselhar.
Considero bastante importante este projeto, pois deu
esperança de que um dia tudo será acessível para todos!

Carina Rodrigues
34 anos
Sobre a relação com o CAVI não há nada a apontar pois
sempre senti abertura por parte da equipa técnica para
resolver todos os problemas/situações que foram surgindo ao
longo destes 4 anos de ligação.

100
Ana Patrícia Matos
36 anos

Relativamente à equipa que nos dirige e nos apoia, nada tenho a


apontar a não ser que estiveram e intervieram sempre
positivamente em todas as questões, dúvidas e necessidades que
senti. Este projeto foi para mim uma mudança de vida e da visão
que tinha sobre ela.

Dinora Antunes
40 anos

Sempre que há algum problema, a equipa CAVI está sempre


disponível para nos ajudar a ultrapassar os obstáculos. Não
tenho absolutamente nada a apontar a essa equipa - 5
estrelas.

Ernesta Parreira
58 anos

A relação com o CAVI, tem-se revelado de extrema importância na


operacionalização do todo o processo. As suas respostas e
permanente disponibilidade transmitem segurança, confiança e a
certeza de que o projeto MAVI faz a diferença na vida das pessoas
que nas diferentes vertentes o integram.

Sandra Peixoto
46 anos

A minha relação com os elementos do CAVI não tenho nada a


afirmar de negativo pois sempre estiveram presentes quando
necessário ou solicitado com uma simpatia e compreensão
sem esquecer o seu profissionalismo, o meu OBRIGADO.

101
Andreia Santos
38 anos

Quanto ao CAVI, esteve presente quando precisei, atenderam às


minhas necessidades, ajudaram no que puderam. O menos
positivo e que deveriam melhorar, relativamente às pessoas
benificiárias, são as visitas serem mais recorrentes, deveria existir
mais comunicação/informação do que se está/irá passar e
quando se vai conhecer pela primeira vez, deveriam tentar
sempre estar presentes, apesar de às vezes isso não ser possível.

Rosa Filipe
37 anos

Eu como assistente pessoal sou grata pela oportunidade de fazer


parte deste projeto e pelo apoio de toda a equipa CAVI.

102
Familiares de
Pessoas
Destinatárias de
Assistência
Pessoal

Quais os aspetos mais positivos que identifica


na experiência do/a Seu/Sua Familiar no
projeto mavi?
(excertos)
Cecília Santos
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Penso que este projeto é de uma extrema importância uma vez


que apoia as pessoas que manifestam algumas dificuldades na
sua vida diária, permitindo-lhes ter alguma independência. (…)
O Rui beneficiou muito com o acompanhamento (…) Este
projeto permitiu que o Rui não permanecesse sempre em casa,
podendo sair com a assistente não só em pequenos passeios
como também sempre que ele precisa de tratar de alguns
assuntos pessoais. Também em termos psicológicos é
importante.

João Vaz
Filho de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

O CAVI revolucionou a vida da minha mãe e, por


consequência, a minha. Com a assistência pessoal, a minha
mãe passou a ter como única limitação a sua condição, mas
deixou de ter limites para viver a sua vida. (…) Graças à
assistência pessoal, a minha mãe tem possibilidade de ter
acesso aos seus tratamentos sem que eu ou as minhas irmãs
tenhamos que fazer ginástica de agenda e sem que ela tenha
que abdicar de alguma especialidade por ser mesmo
impossível conciliar tudo. Passou também a poder, de forma
independente, fazer outro tipo de atividades que faziam parte
do dia a dia (…) No inverno, vai diariamente às piscinas (…) No
verão, prefere as praias fluviais, possibilitando, graças à
assistência, ir acompanhada pelo meu sobrinho (uma criança
de 8 anos). Além do acompanhamento e do apoio em tarefas
que, de outra forma, a minha mãe ficaria impossibilitada de
fazer, há ainda que referir outra vertente que, na minha
opinião, é importantíssima na assistência pessoal: O apoio
emocional.

105
Maria Guiomar
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Julgo este projeto muito bem pensado e muito bem


coordenado. Ainda assim, os serviços internos e de gestão
terão conhecimento das necessidades de todos os casos. Eu
não sou conhecedora senão das necessidades do meu marido.

Mariana Dias
Mãe de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Nunca imaginei que uma ida ao supermercado trouxesse algo


tão bom. Decorria o ano de 2019, que estava a ser complicado
devido a uma descompensação psíquica da minha filha, no
momento certo encontrei a pessoa certa [no supermercado]
que me deu conhecimento do projeto CAVI.
No princípio fiquei desconfiada, apreensiva, pois era novidade
e as condições boas de mais para acreditar. Lá diz o velho
ditado " quando a esmola é grande o santo desconfia ". (...)
Fomos contactados pelo CAVI para nos deslocarmos às
instalações da ADM Estrela para a entrevista das candidatas.
As candidatas que nos foram propostas eram três que
achamos com perfil adequado às nossas necessidades. A
escolha foi difícil, mas acabamos por optar pela assistente que
reunia mais experiência.

Paulo Marques
Pai de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Houve algumas mudanças na rotina, agora tem alguém que o


acompanha à fisioterapia e à universidade, algo que nos
preocupava bastante. (…) O projeto MAVI assumiu uma grande
importância nas nossas vidas.

106
Familiares de Pessoas Destinatárias de Assistência
Pessoal

Que comentários tem sobre os outros membros


do projeto (CAVI, Assistentes pessoais)?
(Excertos)
Cecília Santos
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Relativamente à primeira assistente, que ficou sensivelmente


um ano, o Rui criou laços de amizade e de confiança que
ainda hoje recordamos. Posteriormente tivemos duas
assistentes que não criaram laços pois permaneceram pouco
tempo. A atual assistente presta apoio há cerca de três meses
e, neste período, temos tido uma boa relação estando a
sedimentar-se os laços de confiança e de amizade.

Mariana Dias
Mãe de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Em relação aos elementos do CAVI não tenho nada a dizer


pois sempre se mostraram atentos e acima de tudo disponível
para qualquer assunto. Estamos gratos por isso.

Maria Guiomar
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

(…) Posso dizer que a A.P. se ambientou muito bem no quadro


de necessidades. E nós também nos sentimos felizes com a
Raquel desde o primeiro momento! Tanto eu, quanto o marido,
sentimos hoje, que a Raquel é uma pessoa muito importante na
vida condicionada de quem perdeu a autonomia que tinha,
ainda que ao tempo, sentisse já uma relativa fragilidade de
origem neuro muscular!

108
Familiares de Pessoas Destinatárias de Assistência
Pessoal

Quais os principais constrangimentos que


identifica da sua experiência no projeto?
(excertos)
Maria Guiomar
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Em janeiro de 2022, teve início o apoio com a Assistente


Pessoal previamente selecionada por nós. Havia algum receio
que esta não se enquadrasse de modo desejável naquilo que
eram as suas competências no ambiente que a esperava. (…)
Dos aspetos a melhorar, não tenho muito a dizer a não ser o
desejo de mais horas, por forma a que o meu marido possa
evoluir mais na sua autonomia. (…) Desejo que este Projeto
tenha a dimensão desejada, tão abrangente quanto possível,
para poder contemplar um número maior de pessoas que dele
possam precisar. Ainda assim, aqueles que se encontram
limitados todos os dias na sua dependência, precisam de se
sentir seguros e contar com uma assistência sem prazo! Ser
beneficiário deste projeto é muito bom para nós. No entanto,
contar com este apoio efetivo em que de projeto passem os
beneficiários a ser sujeitos ativos sem estarem a pensar na
caducidade de um projeto é sem reservas o desejável.

Cecília Santos
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

No início, houve alguma renitência já que não é agradável a


invasão do “nosso espaço” e da nossa privacidade por um
estranho. No entanto, após alguma convivência verificámos
que se estabeleceu alguma ligação com as assistentes.

110
Familiares de Pessoas Destinatárias de Assistência
Pessoal

Quais os aspetos mais positivos que identifica


para si ou para a sua família com o mavi?
(excertos)
João Vaz
Filho de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Para mim, pessoalmente, a assistência pessoal permitiu um


alívio das minhas responsabilidades, possibilitando, também a
mim, uma maior independência. Agora consigo ir jantar fora
descansado, consigo marcar compromissos para o fim de
semana sabendo que não terei de os cancelar e posso ter mais
tempo para passar comigo próprio. Além disso, este alívio
melhorou a minha relação com a minha mãe, uma vez que
agora, parte do tempo que precisava de destinar, por exemplo,
a acompanhá-la a consultas, utilizo agora a fazer outro tipo de
atividades em conjunto que ambos apreciamos mais, como
passear, ir a restaurantes ou ir ao cinema. (…)
Por tudo o que já foi descrito, faço uma avaliação muito
positiva deste projeto e deixo o desejo sincero de que
continue. A Sra. Secretária de Estado da Inclusão, Dra. Ana
Sofia Antunes, revelou que este projeto foi o 2º projeto com
maior impacto social a nível europeu, mas para mim, para a
minha família e certamente para a família de todos os
destinatários, não conseguimos conceber outro projeto que
pudesse ter um impacto mais significativo nas nossas vidas.

Maria Guiomar
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

O período que o Eduardo está com apoio da A.P., é aquele em


que eu posso tratar de assuntos inadiáveis, com segurança e
tranquilidade. Sinto hoje que este apoio diário que o marido
recebe, nos proporciona uma qualidade de vida melhorada a
ele enquanto pessoa a cuidar e a mim enquanto cuidadora
permanente.

112
Cecília Santos
Esposa de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

No meu caso familiar, ao apoiarem o meu marido, sinto que


tenho “os meus olhos” quando não estou. Estando
profissionalmente na vida ativa, tenho muita dificuldade em
acompanhar o meu marido em todos os momentos do seu dia a
dia, nomeadamente no meu horário laboral.

Mariana Dias
Mãe de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Com o projeto CAVI reconheço que nos deu mais


independência e segurança à nossa vida familiar.

Paulo Marques
Pai de Pessoa Destinatária de Assistência Pessoal

Até à vinda da assistente pessoal, todo o apoio que era dado


ao José Miguel era feito por mim e pelos avós paternos. No
entanto, eu trabalho e o meu emprego não me permite ter
horários, o que me não me deixa estar sempre presente ao
longo do dia e os avós já têm uma idade avançada, limitando,
assim, a ajuda que eles lhe podem dar.
Com a chegada da assistente pessoal, eu pude ficar mais
aliviado, tanto a nível físico como psicológico, pois sei que
caso o meu filho precise de alguma coisa, tem alguém que o
auxilie. (…) Caso não existisse [Projeto MAVI], eu teria de
deixar de trabalhar, ou então teria que pôr o meu filho numa
instituição, algo que foi posto de parte devido às capacidades
que eu ainda tenho para tomar conta dele. Espero mesmo que
este projecto não termine e que possa ajudar mais pessoas
como nos ajuda a nós.

113
Centros de
Apoio à Vida
Independente

MAVI E Cooperação entre equipas técnicas


CAVI da Associação de Paralisia Cerebral de Viseu
Equipa Técnica

Nesta caminhada, na implementação do Modelo de Apoio à Vida


Independente (MAVI), enquanto membros de uma Equipa Técnica,
temos consciência que muito caminho ainda existe a percorrer,
sobretudo ao nível de mudança de mentalidades, inclusive a
desmistificação do que é a Vida Independente. Todos temos
Direitos, mas também temos deveres. Não fundamentar os
assistencialismos, ter autodeterminação acarreta tomadas de
decisão e liberdade de escolha, mas tal, implica estar
devidamente informado para fazer escolhas conscientes,
assumindo as consequências das mesmas.
Temos a certeza que apesar deste Projeto Piloto se reger por
regras e princípios norteadores iguais a nível Nacional, nenhum
CAVI o executou nos mesmos moldes, sinal que a entrega a este
trabalho revela em todos nós Equipas Técnicas o respeito pela
diversidade humana, independentemente da condição física ou
psicológica.
Contudo ninguém vive isolado numa ilha, vivemos numa aldeia
global, ameaçados pela inteligência artificial e cada vez mais, faz
sentido a partilha de experiências, sejam boas ou más.
Considerando o feito por um grande número de CAVI, desabafos,
partilha de ideias, conselhos/ sugestões, todos crescemos um
pouco uns com os outros, não faria sentido ser de outra forma,
sem concorrência para ver quem faz mais ou melhor, mas sim
fazer o melhor mediante as necessidades/ estruturas que cada um
tinha à disposição.
Tal como o lema da Associação de Paralisia Cerebral de Viseu
(APCV) «Todas as Pessoas Contam», foi esse o sentimento no
nosso coração, não importa se estávamos no meio do oceano em
barquinhos de remos de plástico, madeira ou aço, a verdade é só
uma remamos todos na mesma direção e chegamos a bom porto,
o qual nos devemos orgulhar, a continuidade será mais um
processo. O nosso bem-haja.

115
CAVI da APPACDM da Figueira da Foz
Equipa Técnica

Reconhecendo a importância do caminho para a


independência e equidade de oportunidades, gostaríamos de
manifestar a nossa admiração e gratidão pela entreajuda
estabelecida entre os nossos CAVI´s.
A parceria na troca de boas práticas, procedimentos e dilemas
éticos, fez-nos crescer e garantiu-nos o sucesso na
implementação dos projetos pilotos. De realçar a
disponibilidade, entrega e dinamismo da Equipa Técnica do
CAVI da ADM Estrela que permitiu a construção de uma base
sólida na persecução da autodeterminação da pessoa com
deficiência ou incapacidade.

CAVI Horizontes | CERCIESPINHO


Equipa Técnica

Ao longo deste projeto, a colaboração e a cooperação com os


vários Centros de Apoio à vida Independente, tem-se
demonstrado para nós de extrema importância, porque nos
permite abraçar a mudança, oferecer pontos de vistas
diferentes que culminam numa aprendizagem. Esta
colaboração, é essencial, sendo um elemento facilitador que
permite estabelecer relações interpessoais, entre equipas que
se encontram geograficamente dispersas e com realidades
diferentes, e desta forma alcançar os objetivos em comum.

116
CAVI da APS de Fornos de Algodres
Equipa Técnica

Após todos estes meses de atividade chega-se a um momento de transição que


nos leva a refletir sobre todas as práticas implementadas durante os mesmos.
Embora seja irrefutável a importância do Modelo de Apoio a Vida
Independente, desenvolvido pelos Centros de Apoio à Vida Independente junto
de pessoas com deficiência e incapacidade, tem sido um caminho desafiante e
de ajustamento. Consideramos que um dos maiores desafios é mesmo a
implementação do MAVI, de acordo com os seus pressupostos, em específico
do entendimento desse modelo por todos os seus intervenientes, desde
destinatário/as aos/às assistentes pessoais, uma vez que ainda nos
encontramos muito ligados ao paradigma do “assistencialismo”. Facto é que,
esta visão assistencialista, leva-nos a uma série de constrangimentos na
implementação do MAVI, nomeadamente: aproveitamento excessivo da
assistência pessoal, confusão de papeis (principalmente a dificuldade em
manter relações estritamente profissionais). A mudança de mentalidades é por
isso considerada urgente, pese embora seja algo que acontece gradualmente e
efetivamente esse caminho encontra-se a ser trilhado.
Ao nível da gestão, o recrutamento e seleção de assistentes pessoais bem
como o seu processo formativo inicial têm sido algo complexas.
Nomeadamente, nesta zona do país, tem sido difícil a contratação de pessoas
que efetivamente tenham o perfil indicado para a assistência pessoal, aliás
poderíamos dizer mesmo que, ao nível social, é um desafio para as instituições
contratar. Essencialmente existe pouca oferta de pessoas com perfil e pouca
disponibilidade horária das mesmas. No que concerne à formação inicial, a
mesma estando ao cargo dos CAVI´s, acabam por não ter uma linha condutora,
por mais que até possam ter módulos predefinidos, consideramos que se
ganharia se a formação inicial fosse ministrada apenas por um organismo e que
incidisse em questões transversais da assistência pessoal.
Nesta fase do projeto, seria benéfico ainda haver ainda uma sistematização,
homogeneização e atualização de procedimentos, atendendo que o projeto
será transformado numa resposta social, bem como, um maior conhecimento
legislativo sobre as diferentes realidades territoriais e respetivas necessidades.
Não obstante as dificuldades sentidas é de realçar a importância dos CAVI´s e
de todo o percurso que tem sido desenvolvido. Acreditamos que está a ser
criada uma resposta social diferenciadora e inclusiva, fazendo a diferença na
vida das pessoas com deficiência e incapacidade que querem levar uma vida
mais independente e efetivamente inclusiva.

117
CAVI do Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento
Equipa Técnica

Na nossa opinião e, mediante a nossa experiência, a articulação


estreita entre os CAVI´s permite, numa primeira instância, a
partilha de boas práticas inerentes ao funcionamento e gestão
da Equipa CAVI. Para além disso, a relação de proximidade com
outros CAVI ́s fomenta ainda o sentimento de parceria, de missão
conjunta, de olhar para o mesmo propósito de Vida
Independente, sempre com a segurança de que temos outras
equipas disponíveis para discutir e evoluir sempre com o MAVI
refletido no nosso espelho de trabalho.
Por outro lado, sempre que um CAVI – destinatários, assistentes
pessoais, equipa técnica – se disponibiliza para a partilha pública
de vivências relacionadas com a vertente prática do MAVI e,
articula, quer na sua comunidade local, quer na área de
abrangência de outros CAVI ́s, dá-se mais um passo importante
no âmbito da capacitação e sensibilização de toda a sociedade.
Graças a este esforço de proximidade dos CAVI´s, o MAVI e o
conceito de Vida Independente também ficam mais próximos de
outras pessoas, porque lhes é dada a oportunidade de os
compreender de uma forma mais real, abrangente, simples e
impactante, com relatos na primeira pessoa, repletos de toda a
importância e normalidade que qualquer vida tem.
Como refere o slogan do nosso CAVI, somente "Uma sociedade
mais próxima…”, dotada de respostas não só diversificadas, mas
direcionadas para todos os perfis individuais, poderá representar
um suporte real para que todo e qualquer cidadão possa ser,
verdadeiramente, "...Um Cidadão Mais Independente". Ou seja,
acreditamos que apenas com o esforço conjunto das várias áreas
da sociedade, será possível uma maior e melhor inclusão da
pessoa com deficiência.

118
CAVICENTRO | ACAPO
Equipa Técnica

Desde o início do projeto-piloto, a colaboração entre CAVI´s tem sido


uma mais valia na concretização dos objetivos do MAVI. Consideramos
que o trabalho em rede, a partilha de conhecimentos e reflexões
traduzem-se tanto no debate da temática da Vida Independente, bem
como na melhora e qualidade de serviços de assistência pessoal.
Apresentamos como exemplos os encontros interpares entre equipas
técnicas de CAVI´s, atividades conjuntas de divulgação dos projetos-
piloto, conferências, seminários e ações de sensibilização. Na gestão
de funcionamento dos CAVI´s, o trabalho em parceria no processo de
recrutamentos/formação de Assistentes Pessoais, bem como a partilha
de conhecimentos permitiu uma otimização de recursos de acordo com
as necessidades identificadas.

119
Avaliação de
Impacto
Nesta secção são apresentados os resultados da avaliação de impacto,
realizada de forma independente. A avaliação está apresentada sob a
forma de sumário executivo, tentando compreender o significado de
terem sido alcançadas as metas a que o CAVI da ADM Estrela se
propôs. O estudo completo da avaliação de impacto está disponível
para consulta no site da ADM Estrela.
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
SEMANA DA VIDA INDEPENDENTE | 31 DE MAIO DE 2023 NOTA INTRODUTÓRIA

As pessoas com deficiência têm enfrentado, ao longo da história, diversas formas de discriminação e
exclusão, independentemente do lugar onde se encontram. Infelizmente, este grupo encontra-se entre os
mais vulneráveis e marginalizados em todas as sociedades, mesmo nas mais desenvolvidas. Dados e
estudos sociais têm evidenciado a difícil situação das pessoas com deficiência em relação à pobreza,
emprego, participação social, acesso aos seus direitos de cidadania e qualidade de vida. No entanto, um
novo paradigma de vida independente tem vindo a emergir como uma forma de mudar esta situação e
permitir que as pessoas com deficiência possam ter uma maior autonomia e participação na sociedade.
O projeto Modelo de Apoio à Vida Independe (MAVI), que visa a promoção da inclusão social das
pessoas com deficiência através da implementação de um modelo de assistência pessoal baseado na
vida independente, insere-se neste novo paradigma que enfatiza a importância da autonomia, da
autodeterminação e da participação plena e efetiva na sociedade por parte das pessoas com
deficiência, possibilitando-lhes o direito de decidir sobre as suas próprias vidas e ter acesso a serviços e
apoios que lhes permitam viver de forma independente. Estes objetivos estão alinhados com os princípios
fundamentais do projeto, que incluem a universalidade, autodeterminação, individualização,
funcionalidade dos apoios, inclusão, cidadania, participação e igualdade de oportunidades (Artigo 4º do
Decreto-Lei n.º 129/2017, de 9 de outubro).
Partindo de uma abordagem centrada na pessoa e nas suas necessidades individualizadas, aspirações de
cidadania, sonhos e ambições, este projeto tornou-se fundamental para suprir a necessidade de
respostas diferenciadas numa ampla variedade de situações, disponibilizando assistência pessoal através
dos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI), que por sua vez, são uma componente fundamental
na implementação do projeto MAVI em Portugal. São responsáveis pela gestão e organização da
assistência pessoal, desde a seleção e formação dos assistentes pessoais, até ao planeamento das ações
e avaliação dos serviços prestados, incluindo a elaboração de planos individualizados de assistência
pessoal.

122
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) NOTA INTRODUTÓRIA

Através deste projeto, os destinatários têm a oportunidade de


participar ativamente na definição da forma como a assistência
pessoal é prestada e de avaliar o desempenho dos assistentes
pessoais, assegurando assim o seu direito a uma vida
independente e autónoma.
Com a participação da sociedade e o compromisso coletivo com
a inclusão e a igualdade, o projeto visa proporcionar condições
para que as pessoas com deficiência possam exercer plenamente
sua autonomia e participação na sociedade. Neste contexto, a
avaliação de impacto social do projeto é uma ferramenta crucial
para a compreensão dos efeitos reais que um projeto tem na
sociedade e nas pessoas envolvidas. Esta permite avaliar se os
objetivos foram atingidos, se houve benefícios tangíveis para os
beneficiários e se os recursos foram mobilizados de maneira
eficiente.
Com vista a avaliar o impacto deste projeto, o presente sumário
apresenta os resultados do estudo de impacto do projeto piloto
MAVI do Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI) da ADM
Estrela - Associação Social e Desenvolvimento. Este documento
faz parte de um processo independente, externo ao CAVI e
retrospetivo, de recolha e tratamento de informação, desde o
início do projeto, tendo sido aplicado, em maio de 2023, um
questionário que avaliou a perceção junto dos stakeholders
intervenientes do projeto, que visa compreender as mais-valias
que este projeto teve nos vários intervenientes, identificar as áreas
onde pode haver espaço para melhorias na continuidade do
projeto, contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e
projetos futuros que promovam a inclusão social das pessoas com
deficiência.

123
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO

Analisa-se o projeto piloto MAVI, a partir da lógica explicativa utilizada pela Teoria da Mudança (TdM),
esquematizando a cadeia causal que lhe está subjacente, de forma a explicar “como” e “porquê” se
espera que as realizações em curso produzirão os efeitos previstos (Dionizio e Rodrigues, 2022). Ao
utilizar esta teoria, a avaliação de impacto procura mapear e analisar a cadeia causal proposta pela
teoria, examinando a conexão entre as atividades realizadas, as mudanças intermédias alcançadas e
os resultados finais esperados.
Desta forma, cada objetivo de avaliação deve estar alinhado com os resultados esperados da Teoria da
Mudança subjacente ao MAVI e deve ser mensurável e viável de ser avaliado. Ao definir e mensurar
esses objetivos, é possível identificar as áreas em que o projeto é bem-sucedido e aquelas que
carecem de melhorias para garantir a continuidade e sustentabilidade do projeto. Neste caso em
específico, estabeleceu-se a inclusão social das pessoas com deficiência como desafio central para o
CAVI da ADM Estrela, partindo da hipótese de impacto de que, se desenvolvermos (1) atividades de
assistência pessoal que contribuam para reduzir ou minimizar a dependência das pessoas com
diversidade funcional face a terceiros, bem como para incrementar as oportunidades de acesso a
serviços, formação e emprego; (2) ações de sensibilização, seminários, encontros interpares e de
benchmarking que contribuam para uma mudança de paradigma na abordagem da diversidade
funcional; (3) atividades interpares que contribuam para consolidar o sentimento de pertença social e
identificar necessidades na comunidade; então, teremos (a) mais oportunidades de acesso a serviços,
emprego e formação, (b) mudança de mentalidades na visão sobre a pessoa com deficiência, (c)
pessoas com deficiência mais autodeterminadas. Desta forma, conseguir-se-á promover a inclusão
social das pessoas com deficiência na comunidade.

Assim, tendo em vista a importância da TdM como


etapa inicial do processo de avaliação de impacto, o
presente estudo procura responder à seguinte
questão de partida: "Em que medida as atividades de
assistência pessoal, as ações de sensibilização,
seminários e encontros interpares e benchmarking
promoveram a inclusão social das pessoas com
deficiência, proporcionando mais oportunidades de
acesso a serviços, emprego e formação, mudança de
mentalidade na visão sobre a pessoa com deficiência
e maior autodeterminação das pessoas com
deficiência?"

124
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO

Na Matriz de Avaliação definimos como objetivo geral avaliar o impacto do Projeto MAVI do CAVI
da ADM Estrela, junto de Destinatários/as, Assistentes Pessoais e Familiares, por meio de atividades
de assistência pessoal, ações de sensibilização, seminários e encontros interpares e de
benchmarking.

Desse objetivo geral resultaram os seguintes objetivos específicos que permitirão avaliar a perceção
junto de cada um dos stakeholders intervenientes do projeto:
1. Analisar o impacto das atividades de assistência pessoal na redução da dependência das
pessoas com diversidade funcional face a terceiros e no aumento de oportunidades de acesso
a serviços, formação e emprego.
2. Analisar o impacto das ações de sensibilização e seminários, dos encontros interpares e de
benchmarking promovidos pelo CAVI, na conscientização e promoção de uma abordagem
inclusiva da diversidade funcional na sociedade.
3. Analisar o contributo dos encontros interpares promovidos pelo CAVI na consolidação do
sentimento de pertença social e identificação necessidades específicas da comunidade das
pessoas com deficiência.

Com este estudo, que concretizamos neste sumário executivo, pretende-se realizar uma análise que
possibilite a sistematização de um conjunto de recomendações para a adequação e otimização da
resposta às necessidades das pessoas com deficiência.

125
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para efetivar a avaliação, recorreu-se essencialmente a duas técnicas


de recolha de dados: consultas documentais de elementos produzidos
pela equipa do CAVI e questionário de perceção sobre o projeto
aplicado aos destinatários, assistentes pessoais e familiares.
Consultas documentais realizadas junto da equipa do CAVI
obtendo-se dados recolhidos por questionários de participação e
satisfação relativos ao número de participantes por atividade
desenvolvida, principais tópicos abordados, sugestões e respetivas
conclusões. Essa análise documental proporcionou uma visão
retrospetiva dos resultados e impactos do Projeto da ADM Estrela
desde o seu início, em 2019.
Questionário dirigido aos destinatários, aos assistentes pessoais e
outro aos familiares, com o objetivo de avaliar a perceção dos três
grupos sobre diversos aspetos do projeto.
Assim sendo, foram aplicados três questionários para cada um dos
grupos em estudo. A elaboração dos questionários teve por base as
iniciativas do projeto piloto MAVI que seriam objeto de análise e
avaliação por parte dos inquiridos. A partir daí, elaboraram-se as
questões específicas a cada grupo e as comuns, com o objetivo de
comparar a perceção dos diferentes intervenientes sobre as iniciativas
do MAVI e a avaliação que fazem das mesmas.
Definidos os grupos a inquirir, os mesmos foram contactados em dois
momentos diferentes. Primeiramente, para a recolha de dados, foi
solicitada informação administrativa (contactos individuais) ao
coordenador do CAVI e foi obtida igualmente informação referente às
pessoas, que devido à sua incapacidade/tipo de limitação, não
conseguiam de forma autónoma pronunciar-se. Em termos de
aplicação do questionário, foi decidido que o mesmo seria
disponibilizado via correio eletrónico, através de um link enviado aos
destinatários, assistentes pessoais e familiares e que o apelo ao
preenchimento do mesmo fosse sendo feito durante a semana em que
o questionário esteve disponível no mês de maio (07/05 a 12/05).
Relativamente aos destinatários foram esclarecidos de que só deveriam
responder os que o pudessem fazer em primeira pessoa, sem a
interferência de terceiros, como familiares ou representantes legais, o
que não significa a impossibilidade de conceder ajuda no processo de
preenchimento, mas sim a não aceitação de alguém responder pelo
destinatário.

126
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Essa medida foi tomada para garantir uma recolha de informações mais precisas e fidedignas por parte
dos próprios destinatários do projeto que tivessem algum tipo de condicionamento.
Assim, este estudo combina a análise documental retrospetiva com a aplicação de instrumentos de
avaliação para preencher lacunas de informação e fornecer uma compreensão abrangente do impacto
do Projeto MAVI executado pelo CAVI da ADM Estrela.
Do universo de 51 pessoas, obtiveram-se 44 respostas, distribuídas da seguinte forma: 16 destinatários
da assistência pessoal, 17 assistentes pessoais e 11 familiares. No caso dos assistentes pessoais, o número
de respostas ficou muito próximo da população, como se constata na tabela infra. No entanto, em
relação aos familiares dos destinatários da assistência pessoal, foram recebidas apenas 11 respostas,
correspondendo a 78,5% do universo total de 14 familiares indicados.

O facto de existirem 3 grupos diferentes de participantes permitirá uma análise mais


abrangente e aprofundada dos impactos do MAVI, considerando as diferentes
perspetivas e experiências. Para análise estatística das respostas recorreu-se ao
programa estatístico Satistical Package for Social (SPSS), seguindo uma análise
descritiva que foi complementada com a análise de satisfação das atividades
realizadas no âmbito do Projeto, visando identificar relações entre os constructos
avaliados.

127
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
PRINCIPAIS RESULTADOS

Com base na análise da caracterização sociodemográfica dos destinatários, verificou-se uma leve
predominância do sexo masculino, representando 56,3% dos destinatários, em comparação aos 43,8%
do sexo feminino. A faixa etária mais representativa situa-se entre os 20 e 30 anos, correspondendo a
25% dos destinatários, sendo que o destinatário mais novo detém 25 anos e o mais velho 91 anos.
Quanto à composição do agregado familiar, destaca-se que 37,5% dos destinatários vivem com os pais
e/ou familiares, 12,5% residem com o cônjuge e/ou companheiro/a, enquanto 31,3% vivem sozinhos. A
maioria dos destinatários beneficia de assistência há mais de dois anos, usufruindo de cerca de vinte e
uma a trinta horas semanais. No que diz respeito às limitações ou alterações dos destinatários, a função
motora foi a mais prevalente, afetando a maioria dos participantes, seguida por dificuldades na
mobilidade e manipulação, alterações visuais e cognitivas. Essas informações são fundamentais para
orientar a prestação de assistência individualizada, garantindo a inclusão e o bem-estar dos
destinatários do projeto MAVI.

Ações de Sensibilização e Outros Encontros

O bom desempenho do CAVI é confirmado, entre outros domínios, pela satisfação evidenciada pelos
destinatários no que ao apoio prestado na seleção/contratação do/a assistente pessoal diz respeito,
considerando o suporte adequado (87,5%). Esta perceção que é corroborada pelos dados de satisfação
global nos anos de 2020, 2021 e 2022, destacando as seguintes dimensões: disponibilidade para
atender e esclarecer questões, em tempo útil, facilitação da resolução de problemas e apoio quando
necessário, com médias consistentemente elevados a variar entre os 4,5 e os 4,9 (máx. 5). Quando
questionados sobre se as horas de assistência pessoal que detêm correspondem às suas necessidades,
metade dos destinatários confirma estarem ajustadas às suas necessidades. No entanto, 50% gostariam
de ver alterado no futuro o número de horas de assistência, assim como os familiares consideram que os
destinatários carecem de mais tempo de apoio (91%). No que diz respeito à finalidade da assistência,
observa-se que é no âmbito das deslocações que maior número de pessoas é apoiada, seguido da
higiene, alimentação, manutenção da saúde e cuidados pessoais e assistência doméstica.

128
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PRINCIPAIS RESULTADOS

A caracterização sociodemográfica das assistentes pessoais revela uma amostra


composta exclusivamente por mulheres, o que reflete a teoria da feminização dos
cuidados e que tanto pode ser explicada pela associação social das mulheres ao
papel de cuidadora, quanto pela preferência individual dos destinatários por
assistentes femininas. Quanto às idades, observa-se uma média de 41,29 anos,
com uma faixa etária predominante entre 46 e 55 anos. A inclusão de assistentes
desempregadas (41,2%) no projeto MAVI demonstra o impacto positivo na vida
desses profissionais, oferecendo oportunidades de trabalho e promovendo a
inclusão social.
A análise das características dos 11 familiares revela que a maioria (63,6%) é do
sexo feminino, sugerindo uma possível sobrecarga de trabalho e responsabilidade
das mulheres nessa função de cuidado. Quanto à faixa etária dos familiares, a
maioria (45,45%) está entre 61 e 80 anos, o que pode indicar maior probabilidade
de enfrentar problemas de saúde e/ou limitação física, afetando sua capacidade
de fornecer cuidados adequados. Em relação ao estado civil, a maioria afirma ser
casada (54,5%), podendo influenciar a dinâmica familiar e a disponibilidade de
recursos de apoio, impactando o cuidado no contexto do projeto MAVI. Além
disso, a maioria dos familiares (54,5%) reside com o destinatário da assistência
pessoal, o que proporciona uma compreensão direta das mudanças e melhorias
na vida diária da pessoa com deficiência. Quanto ao grau de parentesco, a
maioria dos familiares afirma ser pai ou mãe da pessoa destinatária da
assistência pessoal (45,5%), revelando um forte vínculo familiar e a
responsabilidade emocional associada aos cuidados com os filhos.
Os resultados obtidos evidenciam os contributos da assistência pessoal em todo o
contexto analisado. Tanto os destinatários, quanto os assistentes e familiares
reconhecem de forma unânime o impacto positivo desse serviço na maior
facilidade na realização das atividades, na melhoria da qualidade de vida,
confiança e autoestima, na melhoria do bem-estar socio emocional, bem como
através de uma maior autodeterminação em relação à sua própria vida. Através
da assistência pessoal, os destinatários reconhecem uma maior liberdade na
tomada de decisões e na gestão de suas próprias vidas, o que se reflete no
aumento da participação ativa na sociedade. Esses resultados corroboram a
importância e eficácia da assistência pessoal como uma intervenção que permite
a autodeterminação dos indivíduos com deficiência, proporcionando-lhes maior
controle sobre as suas vidas e promovendo a igualdade de oportunidades.

129
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PRINCIPAIS RESULTADOS

Começando pelos destinatários, estes relataram uma maior autonomia e controle em várias áreas
do seu dia-a-dia, abrangendo desde atividades relacionadas com a “higiene, alimentação, saúde,
cuidados pessoais”, até ao apoio em atividade de “lazer” e “tomada de decisões”. Além disso, o
apoio individualizado fornecido pelas assistentes pessoais permitiu que os destinatários realizassem
essas atividades de forma autónoma, proporcionando-lhes maior controlo sobre as suas rotinas,
escolhas e decisões relacionadas à sua vida diária.
Também as vantagens identificadas para e pelos familiares, são reveladoras de que a assistência
pessoal tem claramente implicações muito positivas na dinâmica familiar, ao proporcionar uma
redução da sua carga física e emocional, alívio na sobrecarga de tarefas, tempo de qualidade com
o seu familiar bem como a normalização de rotinas. Os destinatários consideram a assistência
pessoal indispensável e concordam - como corroborado pela tendência de melhoria na satisfação
dos destinatários ao longo dos três anos avaliados - que o MAVI trouxe mudanças significativas
para a sua vida.
As assistentes pessoais demonstram um pleno
reconhecimento do impacto efetivo da assistência pessoal,
reconhecendo que o trabalho desempenhado por elas tem
um forte impacto na vida das pessoas que apoiam,
especialmente no que diz respeito à promoção da
independência. A grande maioria de assistentes (70,6%)
expressam o sentimento de que a sua assistência contribui
significativamente para uma maior independência dos
indivíduos em diversas situações. Esse sentimento é
consistente com os resultados obtidos no estudo,
reforçando o valor e a importância da profissão de
assistente pessoal. É notável que todas as assistentes
pessoais reconhecem a profissionalização da profissão,
demonstrando um alto nível de consciência e apreço pela
função no apoio às pessoas com deficiência.
Além disso, a grande maioria dos assistentes pessoais (88,
2%) relata uma maior realização profissional ao trabalhar
nessa área. Nesta perspetiva, também esse sentimento de
reconhecimento se refletiu na elevada satisfação com a
qualidade do relacionamento interpessoal entre as
diferentes partes.

130
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PRINCIPAIS RESULTADOS

De maneira semelhante, os destinatários e os seus familiares também relatam


elevados níveis de satisfação com a relação estabelecida com os assistentes
pessoais, reconhecendo o seu contributo para a melhoria da qualidade de vida e
promoção da autonomia. É importante destacar que a maioria das assistentes
pessoais possui mais de dois anos de experiência profissional, maioritariamente
em regime de tempo integral ou próximo disso, com uma carga horária semanal
de 31 a 40 horas. Isso evidencia a estabilidade e o comprometimento dos
assistentes pessoais no exercício das suas atividades, perspetivando a sua
continuidade e consistência no suporte prestado aos destinatários.
Além dos desafios relacionados com as funções dos/as Assistentes Pessoais,
surge a questão da formação desses profissionais, que muitas vezes enfrentam
uma preparação insuficiente para lidar com o contexto real de assistência
pessoal. No contexto do plano formativo, as assistentes pessoais revelam
necessidade de mais formação, ao considerar que nem sempre estão preparadas
suficientemente para o contexto real de trabalho. Isto indica a necessidade de
investir na melhoria da formação, a fim de responder às necessidades dos
destinatários e exigências e desafios do trabalho que prestam. É relevante
salientar que uma percentagem significativa (76,1%) das assistentes pessoais
expressa insatisfação em relação à remuneração, considerando-a injusta. Além
disso, 29,4% das profissionais consideram o tipo de contrato de trabalho como
inadequado. Estes dados refletem a perceção dos assistentes pessoais sobre
aspetos importantes relacionados com as condições de trabalho, refletindo a
necessidade de procurar estratégias de melhorias na remuneração e na natureza
dos contratos, para promover uma maior proteção e reconhecimento dessa
profissão essencial.
Relativamente às atividades propostas e realizadas no âmbito do projeto (ações
de sensibilização, seminários, encontros interpares e de benchmarking), podemos
concluir que, de forma geral, os destinatários e assistentes pessoais que
participaram nessas atividades têm uma perceção positiva do impacto dessas
iniciativas, na mudança de atitudes e mentalidades em relação às pessoas com
deficiência. A análise dos dados da perceção sobre o contributo das duas ações
de sensibilização e o feedback fornecido pelos participantes demonstraram uma
tendência consistente dessa avaliação positiva. Tanto a primeira ação, realizada
em 2019, quanto as iniciativas subsequentes, obtiveram níveis de satisfação muito
elevados, demonstrando uma perceção bastante positiva dos participantes,
destacando vários pontos fortes das atividades, incluindo a organização, as
temáticas abordadas e a qualidade e relevância das intervenções.

131
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PRINCIPAIS RESULTADOS

Os resultados encorajadores corroboram o impacto positivo das ações de sensibilização na


divulgação dos princípios e objetivos do projeto MAVI, na promoção da inclusão social e na
consciência aumentada para uma sociedade inclusiva em relação à diversidade funcional. A
adesão significativa por parte dos destinatários demonstra o interesse e envolvimento desses
indivíduos, enquanto os dados de satisfação e perceção evidenciam o contributo dessas iniciativas
para uma maior compreensão, aceitação e redução do estigma associados à deficiência. No
entanto, é importante salientar que uma parte significativa dos destinatários (43,8%) não teve a
oportunidade de participar nessas ações, o que pode indicar a necessidade de expandir e
diversificar os esforços de sensibilização e capacitação para alcançar um público mais alargado.
De acordo com os resultados apurados, os encontros interpares constituíram um espaço de grande
valia para a partilha de vivências, aquisição de conhecimentos e resolução de problemas
relacionados com a assistência pessoal. Cumprindo a meta estabelecida, foram realizados cinco
encontros interpares, promovendo e estimulando o crescimento pessoal e social dos participantes.
Através da consolidação do sentimento de pertença social, da criação de redes de apoio, da
participação ativa na identificação de necessidades e do fortalecimento da autodeterminação,
conforme previsto na matriz de impacto, estes encontros contribuíram para a promoção da inclusão
social e do bem-estar dos participantes.

Ao longo dos cinco encontros, realizados de 2019 a 2022, envolvendo diferentes agentes e
membros da comunidade, observou-se um crescente interesse e envolvimento por parte dos
participantes. A participação ativa de destinatários, assistentes pessoais e outros profissionais
evidencia o reconhecimento da importância desses encontros como espaços de partilha de
experiências e discussão sobre assuntos relacionados com a vida independente e assistência
pessoal. Além disso, também possibilitaram a identificação de necessidades comuns dentro da
comunidade. Através das reflexões, foram considerados temas relevantes, como o acesso a serviços
de saúde, inclusão no mercado de trabalho, adaptação de espaços públicos, entre outros,
permitindo que os participantes se conscientizassem das necessidades existentes e unissem
esforços para procurar soluções conjuntas. Relativamente à satisfação positiva manifestada pelos
participantes, os dados indicam que, ao longo dos encontros, esta foi consistentemente elevada. A
maioria dos participantes referiu estar muito satisfeito/a com a organização, pertinência do
encontro e dos assuntos abordados. Esse crescimento na satisfação concorre para sustentar a ideia
de que os encontros foram efetivos na promoção do sentimento de pertença e na identificação das
necessidades na comunidade.

132
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) PRINCIPAIS RESULTADOS

Os encontros de benchmarking parecem ter obtido grande


eficácia no diagnóstico de necessidades, na partilha de
conhecimentos, na mobilização de recursos e ainda na
definição de estratégias no sentido de melhorar as
condições e promover a vida independente. A realização
de nove encontros superou a meta inicialmente
estabelecida em candidatura (meta=6), permitindo uma
análise mais abrangente e aprofundada das necessidades
existentes. Esses encontros parecem ter facilitado um
ambiente de aprendizagem colaborativa, incentivando a
troca de experiências e a resolução conjunta de desafios
na disponibilização de assistência pessoal.
Por fim, os dados sugerem, em relação aos seminários, que
estes desempenharam um papel importante na
apresentação de estratégias e programas, além de
evidenciar a importância da inclusão por meio dos
testemunhos de pessoas apoiadas e/ou suas famílias. A
realização de dois seminários contribuiu para a divulgação
dos resultados alcançados pelo projeto MAVI e ainda para
a sensibilização sobre a importância do capacitismo e
formas de o desconstruir, representatividade,
acessibilidade e da inclusão social.
Considerando o conjunto dessas iniciativas, o elevado
número de participantes (588) e os resultados atribuídos a
cada uma, é evidente que as metas não só foram
alcançadas como ultrapassadas, sugerindo que o impacto
do projeto MAVI na sensibilização e conscientização sobre
a inclusão, na partilha de recursos e na promoção da vida
independente das pessoas com deficiência foi significativo.
Através das ações realizadas, parece ter sido fortalecida a
consciência coletiva sobre a importância da inclusão, da
partilha de boas práticas e estabelecimento de estratégias
participadas para a inclusão das pessoas com deficiência
na comunidade. Os dados demonstram ainda a
capacidade do CAVI em mobilizar e unir a comunidade em
torno do Projeto MAVI.

133
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos resultados obtidos no âmbito desta
avaliação de impacto, os quais se tem vindo a apresentar ao longo do
presente sumário, pode-se concluir que foram obtidas evidências de
contributos sólidos para a promoção da inclusão e melhoria das
condições de vida das pessoas com deficiência, que não só permitem
aferir o cumprimento de todos os pressupostos enunciados na matriz
de impacto subjacente ao projeto, como também sugerem que a
operacionalização de algumas as atividades foi além do esperado.
A avaliação revelou que as atividades em análise do Projeto tiveram
um impacto positivo na vida dos destinatários, introduzindo-lhes
mudanças significativas na sua vida e proporcionando-lhes uma clara
melhoria da autodeterminação e inclusão social da grande maioria
dos destinatários. Com o apoio adequado da assistência pessoal,
viram reduzida ou minimizada significativamente a sua dependência
familiar nas mais diversas atividades diárias, bem como viram
aumentada a frequência do seu acesso a serviços que se constituíam
como inacessíveis. Embora reconheçamos as limitações da amostra, os
resultados do estudo, revelam que o MAVI contribuiu de forma muito
positiva para responder e minimizar o principal problema social
identificado, a exclusão social das pessoas com deficiência, que se
revela na maior exposição a condições de precariedade económica,
de desemprego, de isolamento social, bem como no reduzido acesso a
serviços públicos e privados.
As mudanças ao nível da qualidade de vida familiar são reveladoras
de que a assistência pessoal tem claramente implicações muito
positivas para os familiares, ao proporcionar o seu descanso e o
tempo necessário à realização de atividades impossíveis de praticar
enquanto cuidador. As mais-valias identificadas para e pelas famílias
são claramente notórias em termos de normalização de rotinas, no
alívio de sobrecarga de tarefas e na viabilização de tempo de
qualidade com os seus familiares com deficiência.
Os dados apresentados foram demonstrando de forma inequívoca o
impacto positivo das ações realizadas no âmbito do projeto, ao
comprovar a sua capacidade de sensibilizar, capacitar, organizar e
envolver ativamente a comunidade em torno da temática da inclusão.
No entanto, no âmbito do projeto MAVI, que assenta numa abordagem
centrada na pessoa, é crucial considerar aspetos que contribuem para
a melhoria contínua e o sucesso futuro do projeto.

134
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Nesta lógica de pensamento, de forma a potenciar as suas forças, aproveitar as oportunidades,


colmatar as suas fraquezas e prevenir ameaças, apresentam-se as seguintes recomendações,
resultantes da informação recolhida no âmbito da presente avaliação e distribuídas pelas seguintes
dimensões:
Formação das famílias e das pessoas destinatárias sobre a gestão de assistência
pessoal: implementar um programa de formação inicial obrigatória tanto para os familiares dos
destinatários quanto para as pessoas destinatárias, abordando temas essenciais relacionados à
assistência pessoal, inclusão e recursos disponíveis. Essa formação capacitará os destinatários
na gestão ativa da assistência pessoal, socializando as famílias com os valores da vida
independente e promovendo a autonomia e a qualidade dos cuidados prestados.
Potenciar a Formação das Assistentes Pessoais: implementar um plano de formação
abrangente e diversificado para as Assistentes Pessoais no âmbito do projeto MAVI, visando
proporcionar-lhes uma preparação adequada para lidar com o contexto real de assistência
pessoal. Esse plano formativo deve incluir tanto aspetos teóricos quanto práticos, permitindo o
desenvolvimento de habilidades específicas para atender às necessidades individuais dos
destinatários.
Dificuldade de contratação e gestão do horário e condições de trabalho dos Assistentes
Pessoais: investir em estratégias de recrutamento e seleção de Assistentes Pessoais, bem como
implementar mecanismos de gestão de horários e condições de trabalho mais eficientes, a fim
de garantir a contratação de Assistentes Pessoais qualificados e a satisfação e estabilidade
desses profissionais. Isso pode incluir a implementação de um processo de contratação mais
ágil, a oferta de condições de trabalho atrativas e o estabelecimento de uma comunicação
efetiva entre o CAVI e os Assistentes Pessoais.
Complementaridade de respostas: promover a complementaridade dos apoios oferecidos,
estabelecendo parcerias com outras instituições e organizações, visando cobrir todas as
necessidades das pessoas com deficiência.
Articulação com o Centro de Atividades para a Capacitação e Inclusão (CACI): uma
regulamentação que permita a articulação e cooperação entre o MAVI e o CACI (acumulação
de apoios), incentivando a troca de conhecimentos, recursos e experiências, fortalecendo a
rede de apoio existente e garantindo uma abordagem mais abrangente e complementar, pode
ajudar a responder mais efetivamente às necessidades das pessoas com deficiência, alargando
o alcance do Projeto.

135
AVALIAÇÃO DE IMPACTO
(CONT.) CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Deslocações para pessoas destinatárias sem acesso a transporte:


desenvolver soluções e recursos para facilitar as deslocações de pessoas
destinatárias que não possuem acesso a transporte adequado. Isso pode
envolver a criação de parcerias com empresas de transporte adaptado, o
estabelecimento de um sistema de transporte compartilhado ou a
disponibilização de recursos financeiros para cobrir os custos das deslocações.
Esta medida de apoio à mobilidade poderá aumentar o acesso a serviços, com
importante impacto económico.
Bolsa de Assistentes Pessoais: implementar um sistema de monitorização
atualizado e um programa de capacitação contínua para os Assistentes
Pessoais em bolsa, além da realização de campanhas de divulgação e
sensibilização para atrair profissionais qualificados, fortalecendo a qualidade e
disponibilidade da assistência prestada.
Promoção do reconhecimento institucional da Assistência Pessoal como
profissão, por meio da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino
Profissional, com definição de competências e perfil profissional, visando
fortalecer a imagem e valorização da profissão e garantir melhores condições
de trabalho e qualidade no suporte oferecido aos destinatários do projeto
MAVI.
Promover a conscientização e empregabilidade através do Projeto MAVI:
estabelecer parcerias com instituições de ensino, como escolas e universidades,
para promover a conscientização sobre o projeto MAVI e incentivar a
empregabilidade de estudantes recém-formados. Essas parcerias podem incluir
a realização de workshops e acesso a formação inicial, proporcionando aos
estudantes a oportunidade de vivenciar o conceito de vida independente e
adquirir experiência prática na área da assistência pessoal.
Dispersão geográfica: é importante fortalecer e expandir o modelo do MAVI,
considerando a possibilidade de responder às necessidades dos destinatários
em toda o território nacional, de forma a proporcionar o acesso à assistência
pessoal a um maior número de pessoas, minimizando o volume de pessoas em
lista de espera.
Análise aprofundada do impacto do projeto MAVI para maximizar os
resultados: realizar uma análise mais aprofundada do impacto do projeto
MAVI, por meio da monitorização contínua e avaliação sistemática das ações
implementadas após os encontros benchmarking, junto dos parceiros envolvidos,
permitindo obter informações mais precisas sobre as mudanças efetivas
alcançadas e facilitar a identificação de áreas que possam ser melhoradas.

136
Conclusões

Nesta secção são apresentadas as principais


conclusões, propostas e estratégias para o futuro,
com base na experiência de 54 meses de
execução do projeto-piloto.
Conclusões
AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES E PROPOSTAS
DO TRABALHO DOS ÚLTIMOS 54 MESES
ENCONTRAM-SE AQUI RESUMIDAS
A presente secção do relatório tem como objetivo fornecer
uma visão abrangente das conclusões obtidas ao longo dos 54
meses de execução do MAVI, sistematizando as diretrizes e
recomendações para o futuro com base na seguinte
organização temática:

(1) Funcionamento e Estruturas de Apoio – inclui as conclusões


referentes a toda a atividade de suporte ao funcionamento e
avaliação dos Centros de Apoio à Vida Independente, com
recomendações para o fortalecimento das estruturas existentes
e propostas que visam assegurar a qualidade dos serviços
prestados e satisfação dos destinatários.

(2) Ações de Capacitação e de Sensibilização – inclui os


dados recolhidos ao longo do projeto-piloto, identificando
necessidades e oportunidades de melhoria. São apresentadas
propostas e estratégias para robustecimento desta área de
atuação, tendo em conta as necessidades e realidades
específicas de cada grupo-alvo.

(3) Aperfeiçoamento e Expansão – inclui as medidas,


estratégias, propostas e reflexões para o aperfeiçoamento e
expansão do Modelo atual, visando a consolidação de um
serviço ou sistema de apoio à vida independente mais eficaz e
abrangente.

FUTURO DO MODELO
Partindo dos resultados alcançados,
apresentam-se nesta secção diferentes
propostas e contributos para a consolidação de
um modelo mais robusto de vida independente.

140
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
As conclusões e recomendações contidas nesta secção dizem diretamente respeito a
toda a atividade e suporte ao funcionamento e avaliação dos Centros de Apoio à
Vida Independente.

1.1. Modelo de Avaliação da Qualidade dos Centros de Apoio à Vida Independente

O Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, instituiu o programa Modelo de Apoio à Vida


Independente, definindo, entre outros, as regras e condições aplicáveis ao desenvolvimento da
atividade de assistência pessoal, de criação, organização, funcionamento e reconhecimento de
Centros de Apoio à Vida Independente.

Ao longo dos 54 meses de execução do atual Projeto-piloto, foi possível observar, entre os diferentes
CAVI, diferentes formas de operar, adaptando-se, naturalmente, cada um dos CAVI, não só à
idiossincrasia da sua respetiva realidade territorial, mas também à heterogeneidade do grupo de
pessoas apoiadas.

Se, por um lado, é de enaltecer e valorizar a capacidade de adaptação dos CAVI às diferentes
circunstâncias e realidades, há, por outro lado, que atender às vantagens da criação de um Modelo de
Avaliação da Qualidade dos Centros de Apoio à Vida Independente. Com efeito, será o equilíbrio entre
a padronização e a flexibilidade que irá permitir um sistema mais eficiente, transparente e sensível à
diversidade, garantindo e sustentando o direito à vida independente e à inclusão de todas as pessoas
com deficiência.

Neste contexto, entendemos que a criação de um Modelo


de Avaliação da Qualidade dos CAVI será um passo
importante para garantir a qualidade do trabalho
desenvolvido, valorizando os serviços prestados em todo o
território nacional.

141
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
(Cont.) 1.1. Modelo de Avaliação da Qualidade dos Centros de Apoio à Vida
Independente

Resumidamente, propõe-se:
Garantia de qualidade dos serviços
a) O estabelecimento de diretrizes e orientações comuns permite a definição de critérios mínimos de
qualidade que alinhem os serviços prestados pelo CAVI com os princípios da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e, subsidiariamente, com o MAVI.
b) Os critérios e linhas orientadoras devem incidir sobre aspetos técnicos críticos, incluindo a formação
de recursos humanos, gestão do atendimento, gestão de recursos, critérios de acesso e acessibilidade,
entre outros.
c) A padronização de procedimentos pode facilitar a comunicação e contribuir para a celeridade dos
processos de apoio de assistência pessoal.

Estabelecimento de diretrizes de funcionamento e procedimentos operacionais


a) O desenvolvimento de diretrizes de funcionamento e procedimentos operacionais poderá contribuir
para maior clareza e transparência na organização e gestão interna dos CAVI.
b) As linhas de orientação podem contribuir para melhorar o processo de avaliação das necessidades
dos/as candidatos/as, de monitorização da assistência pessoal e de gestão de recursos, entre outros
aspetos relevantes.
d) A uniformização dos processos suprarreferidos contribui para o desenvolvimento de um sistema mais
eficiente e transparente, ao meso tempo que facilita a identificação de áreas de melhoria, bem como a
comunicação entre os CAVI.

Note-se, todavia, que o estabelecimento de linhas orientadoras comuns


não deve, em momento algum, significar a perda da riqueza aportada pela
diversidade existente nos CAVI. De facto, é importante que as diferentes
realidades territoriais sejam valorizadas, sem atentar contra as
necessidades específicas de cada uma das pessoas apoiadas. Ao
estabelecer diretrizes comuns deve sempre preservar-se a flexibilidade de
cada CAVI, de tal modo que possa responder adequadamente às
idiossincrasias que lhe assistem, garantindo serviços individualizados e
culturalmente situados, conforme superior interesse da pessoa destinatária
da assistência pessoal. A diversidade traz riqueza e inovação, não podendo Exposição de Mª Salete Vaz
ser desconsiderada. Semana da Vida Independente

Em suma, pese embora o estabelecimento de diretrizes e padrões comuns possa contribuir para a
qualidade do serviço prestado pelo CAVI, assegurando padrões de excelência, estamos em crer que
não existirá sistema mais eficiente, transparente, sensível e humano do que aquele que melhor traduzir a
autodeterminação da pessoa com deficiência.

142
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
1.2. Assistentes Pessoais – da contratação e remuneração

O Modelo de Apoio à Vida Independente materializou, entre outros, o direito das pessoas com
deficiência a dispor de um/a assistente pessoal (AP), de acordo com as suas necessidades
individualizadas. Este desiderato aporta à assistente pessoal significativas responsabilidades,
designadamente, a de compreender intimamente as necessidades e os desafios enfrentados pela
pessoa que apoia, cumprindo, simultaneamente, com uma conduta eticamente irrepreensível, sensível e
empática. A experiência de assistência pessoal requer uma capacidade de adaptação, de comunicação
e de promoção da autodeterminação do outro – entre outras competências e requisitos devidamente
definidas por Deliberação do Conselho Diretivo do INR,IP – que colocam a função de assistente pessoal
num patamar de nobreza ao qual apenas as pessoas verdadeiramente vocacionadas podem almejar.
Importa, pois, preservar, proteger e nutrir esta função inalienável de um Modelo que é, sobretudo, sobre
assistência pessoal e que – parece-nos – fruto de contingências várias, foi sofrendo um processo erosivo
ao longo dos 54 meses de execução do Projeto-piloto.
Atendendo à indiscutível importância de proteger a função de assistente pessoal, os aspetos da sua
contratação e remuneração revelam-se elementos centrais, para fazer face à crescente dificuldade de
contratar assistentes pessoais, agravada pelos desafios da interioridade e da dispersão geográfica que
este CAVI enfrenta.

143
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE
APOIO
(Cont.) 1.2. Assistentes Pessoais – da contratação e
remuneração

Sem opor nem contradizer o exposto e antes da apresentação


de propostas e de estratégias, parece-nos relevante explorar
os fatores que, ao longo do projeto-piloto podem ter
contribuído para fragilizar a função de assistente pessoal e,
por consequência, aumentar as dificuldades no recrutamento e
seleção de AP’s. O primeiro fator que deve ser considerado
relaciona-se com as condições macroeconómicas, que se
alteraram expressivamente desde o início do projeto-piloto, em
resultado de um contexto pandémico e, mais recentemente, em
função do cenário de Guerra em solo europeu. De facto, de
forma muito simples, não só o salário mínimo nacional
aumentou significativamente nos últimos 54 meses (de 600,00€
em 2019 para 760,00€ em 2023) e, com ele, o custo de vida,
como também a pandemia de COVID-19 produziu alterações
relevantes na abordagem das pessoas ao trabalho e, por
consequência, no mercado de trabalho, sem que o regime de
concessão dos apoios técnicos e financeiros dos projetos-
piloto de assistência pessoal conseguisse – por
constrangimentos de ordem técnica e financeira associados ao
cofinanciamento europeu – acompanhar e dar resposta
equitativa e proporcional, nomeadamente, em termos de
compensação remuneratória. O resultado foi o da redução da
atratividade da função de assistente pessoal, quer do ponto de
vista financeiro, quer social, mesmo considerando os elevados
índices de realização pessoal e profissional que a função
oferece, conforme demonstrado ora pela Avaliação Intercalar
do MAVI realizada pelo ISCTE, ora, especificamente, pela
avaliação de impacto levada a cabo por este CAVI.
A par do que se expõe e sem incluir nesta análise a
heterogeneidade de situações laborais que assistem às AP’s,
outros fatores concorreram para a fragilização da função de
assistente pessoal e que importam ser considerados e
analisados, como são os constrangimentos associados à
própria função de assistente pessoal, reduzindo a sua
Exposição fotográfica | João Pena atratividade.
Semana da Vida Independente 144
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
(Cont.) 1.2. Assistentes Pessoais – da contratação e remuneração

Com efeito, há que considerar que a função de assistente pessoal exige, em muitas circunstâncias,
elevada flexibilidade e disponibilidade horárias, nem sempre compatíveis com a vida familiar e pessoal
das AP. A somar ao exposto, trata-se de uma função não raras vezes exercida em tempo parcial (média
de 30horas de trabalho por semana no total das AP; apenas 33% das AP têm horário completo, de
40horas/semana) exigindo, por vezes, a deslocação das AP em viatura própria para zonas remotas,
para o exercício de trabalho de curta duração.

Acrescem a estes fatores a vulnerabilidade do posto de trabalho às condições da pessoa que é


apoiada – situação que não se verifica, por exemplo, no contexto de uma resposta social – a qual pode
estar sujeita, por exemplo, a internamentos ou podendo, efetivamente, abdicar de assistência pessoal,
bem como a própria modalidade de contratação oferecida (contrato de trabalho em regime de
comissão de serviço, por tempo indeterminado) e que não garante a segurança laboral que muitas
pessoas procuram. Importa, ainda, considerar outras questões que condicionam a disponibilidade de
assistentes pessoais, como os próprios requisitos e critérios mínimos exigidos para o exercício da função
– sem opor a boa intenção legislativa, designadamente, em termos de escolaridade mínima – e, ainda,
as exigências de perfil (de AP) apresentadas pelas pessoas destinatárias de assistência pessoal,
algumas vezes, incompatíveis com uma bolsa diminuta e agravada por questões de representatividade
de género (preferência marcada por assistentes pessoais do sexo feminino).

Subsumindo os diferentes constrangimentos apresentados, parece-nos importante começar por abordar


o primeiro problema, de ordem estruturante: é urgente e indispensável que se proceda à
regulamentação da profissão de assistente pessoal. Essa regulamentação é necessária para
estabelecer direitos e responsabilidades claras, garantindo um ambiente de trabalho adequado e com
uma clara definição e distinção de papéis em relação a outras funções. Simultaneamente, acreditamos,
a regulamentação ajudará a resolver fragilidades identificadas no sistema, promovendo a
profissionalização das assistentes pessoais, a qual deve incluir mecanismos de formação adaptados e
flexíveis, mas também de qualificação, tendo em vista a qualidade da assistência pessoal.
Naturalmente, a regulamentação da profissão de AP deve assegurar a atratividade e melhoria das
condições de trabalho, incluindo o estabelecimento de uma estrutura salarial competitiva, com
benefícios adicionais (ex.: complementaridade com uma frota MAVI). De facto, independentemente da
pertinência de outras ações conforme a seguir iremos expor, urge resolver este problema estruturante,
aumentando a atratividade da profissão.

145
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
(Cont.) 1.2. Assistentes Pessoais – da contratação e remuneração

Em suma, propõe-se:

Promover a regulamentação da profissão de assistente pessoal, estabelecendo padrões claros de


qualificação, direitos e responsabilidades dos profissionais, compatibilizando a função com os
princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Melhorar as condições de trabalho dos Assistentes Pessoais, garantindo uma estrutura salarial
atraente e benefícios adequados, atendendo, entre outras, às questões da mobilidade e da
segurança laboral e no trabalho.
Estabelecer e flexibilizar os mecanismos de profissionalização e de qualificação, garantindo
programas de formação específicos, de certificação profissional e de acesso a oportunidades de
desenvolvimento de carreira.
Investir em parcerias com instituições de ensino, organizações da sociedade civil e organizações de
pessoas com deficiência para desenvolver programas de formação, qualificação e capacitação.
Criar mecanismos de supervisão e de intervisão (rede colaborativa) e de melhoria da monitorização
da assistência pessoal, para garantir a qualidade da assistência pessoal e promover a melhoria
contínua.
Desenvolver e implementar campanhas de recrutamento abrangentes e
diversificadas para atração de candidatos.
Promover a divulgação de boas práticas e histórias de sucesso, por meio
de ações de sensibilização para a vida independente, com a
participação de assistentes pessoais.
Incluir as pessoas com deficiência, destinatários finais da assistência
pessoal, na definição das políticas de contratação e de formação de
assistentes pessoais, através de consultas e grupos de discussão.
Manter e reforçar o investimento em campanhas de sensibilização e
combate ao capacitismo, para promoção e valorização da assistência
pessoal.
Atribuir incentivos financeiros ou materiais (ex.: frota MAVI) para apoio
aos assistentes pessoais que laborem em zonas remotas/isoladas, para
colmatar os problemas da interioridade, dispersão territorial e
mobilidade.
Realizar avaliações regulares do Modelo (de Apoio à) Vida Independente
para identificação de oportunidades de melhoria.

Encontro Interpares
146
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
1.3. Disponibilidade/Bolsa de Assistentes Pessoais

A garantia da disponibilidade de assistentes pessoais revelou-se um dos principais constrangimentos a


serem enfrentados por este CAVI, ao longo dos 54 meses de execução deste projeto-piloto, e um dos
que mais fragiliza a efetividade de um Modelo que, conforme referido anteriormente, é, sobretudo, de
assistência pessoal.
Não admira, pois, que este seja um dos mais relevantes e críticos pontos a serem solucionados pelo
Modelo vindouro, sob pena de impedir o bom desenvolvimento, aplicabilidade e consecução dos
princípios da vida independente e da autodeterminação das pessoas com deficiência. De facto, existirá
sempre a necessidade de substituir assistentes pessoais por motivos mais ou menos (im)ponderáveis, mais
ou menos expectáveis, com o desafio de garantir o equilíbrio entre as necessidades, vontades e
preferências das pessoas destinatárias de assistência pessoal, no fundo, entre a autodeterminação
destas, e o respeito pela Lei (Código do Trabalho), pelas exigências, requisitos e critérios da função de
assistente pessoal, numa “luta contra o tempo”.
Encontrando-se perfeitamente reconhecida e identificada a necessidade de responder às necessidades
de contratação de assistentes pessoais, incluindo em situações de emergência (ex.: baixas das
assistentes pessoais ao serviço), coloca-se o desafio de como criar uma bolsa de assistentes pessoais
disponíveis, que facilite a correspondência adequada entre os utilizadores de assistência pessoal e os
profissionais disponíveis. Este CAVI cedo percebeu que a forma como havia concebido a criação da
bolsa de assistentes pessoais – recrutamento e seleção de assistentes pessoais, às quais garantiu
formação inicial, colocando as pessoas em bolsa, na expectativa de serem selecionadas por pessoas
destinatárias – não só não funcionava, por ausência de flexibilidade (aquelas pessoas não iriam ficar
“eternamente” na expectativa de trabalho), como podia condicionar a vontade e preferência das
pessoas destinatárias. Por esse motivo, foram flexibilizados os processos de recrutamento (passou a estar
aberto em permanência), de seleção (realizada desde o primeiro momento pela pessoa destinatária e
diferente do processo anterior, no qual a pessoa destinatária era convidada a escolher o/a assistente
pessoal de entre um grupo de pessoas pré-selecionadas) e de formação (disponibilizada online, apenas
para os/as candidatos/as selecionados/as pelo destinatário da assistência pessoal) de assistentes
pessoais o que, ainda assim, não suprimiu, na totalidade, a dificuldade de encontrar assistentes pessoais
disponíveis em bolsa para substituições mais ou menos temporárias, como aquelas que decorrerem de
férias e incapacidade temporária para o trabalho das assistentes pessoais ao serviço.

147
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
(Cont.) 1.3. Disponibilidade/Bolsa de Assistentes Pessoais

Neste contexto e considerando os problemas acrescidos pela


interioridade e pela dispersão territorial, considera-se
fundamental flexibilizar o modelo de contratação e de
formação de assistentes pessoais, atendendo às diversas
necessidades e contextos dos destinatários da assistência.
Assim, será relevante considerar a possibilidade de criação de
um modelo integrado de vida independente, baseado no
projeto de vida do destinatário de assistência pessoal (mais do
que no seu plano individualizado de assistência pessoal), o
qual poderá incluir a gestão de produtos de apoio, de ajudas
técnicas e tecnologia assistiva pelo CAVI, promovendo uma
abordagem híbrida, mais abrangente e flexível, que possa, de
acordo com a vontade da pessoa destinatária de assistência
pessoal, combinar a assistência pessoal formal com outros
apoios, como o apoio informal da família ou de auxiliares de
assistência pessoal. Esta possibilidade não só pode contribuir
para aumentar a disponibilidade de profissionais para
responder às necessidades das pessoas destinatárias, como
também favorecer a inclusão socioprofissional de pessoas com
deficiência em tarefas menos especializadas (auxiliares de
assistência pessoal), porém, essenciais para o dia-a-dia dos
utilizadores de assistência pessoal.

Nesta medida, somos a propor:


Estabelecimento de diretrizes claras para a criação e
gestão de uma bolsa de assistentes pessoais disponíveis,
com critérios de seleção transparentes e atualização
regular dos perfis dos profissionais, eventualmente
concentrados numa bolsa nacional.
Flexibilizar os processos de contratação de assistentes
pessoais, levando em consideração a realidade da
interioridade e dispersão territorial, através da adoção de
incentivos (incluindo a criação de frota MAVI ou parceria
com redes de transportes) e possibilidade de formação
total e excecional no posto de trabalho, mediante a
capacitação prévia das pessoas destinatárias.

148
Conclusões
1.FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS DE APOIO
(Cont.) 1.3. Disponibilidade/Bolsa de Assistentes Pessoais
Promoção de parcerias com organizações da sociedade civil, entidades locais, instituições de ensino e
organizações representativas das pessoas com deficiência para implementar programas de integração
profissional e de formação de assistentes pessoais.
Promover a troca de boas práticas entre os diferentes CAVI, visando otimizar a disponibilidade de AP.
Rever, periódica e sistematicamente, os modelos de contratação e de formação de assistentes pessoais,
levando em consideração as necessidades dos destinatários e as mudanças no contexto social e
legislativo.
Incentivar a participação ativa dos destinatários de assistência pessoal na definição de estratégias e
políticas relacionadas com a gestão da bolsa de assistentes pessoais.
Manter e reforçar o investimento em campanhas de sensibilização e de divulgação da vida independente
para, entre outros, promover a importância e o valor do trabalho de assistente pessoal, visando atrair mais
profissionais para o setor.
Desenvolver parcerias com universidades e instituições de ensino para integração dos temas da vida
independente e assistência pessoal nos currículos de formações associadas à saúde, serviço social e afins.
Estabelecer e priorizar canais de diálogo e de consulta com os destinatários de assistência pessoal,
associações de pessoas com deficiência e organizações representativas, para avaliar continuamente as
necessidades e ajustar as estratégias de disponibilidade de assistentes pessoais.

A par do exposto e, muito especificamente, no âmbito da proposta apresentada para a criação de um


modelo integrado de vida independente, deve considerar-se:
Promover a sensibilização, formação e capacitação de famílias (ou cuidadores informais) e auxiliares de
assistência pessoal, visando a integração de apoio informal como complemento à assistência formal.
Desenvolver programas de integração profissional para pessoas com deficiência, capacitando-as para
atuarem como assistentes pessoais (auxiliares), ampliando assim o número de profissionais disponíveis.
Fortalecer a articulação entre o CAVI e outras entidades responsáveis pela gestão de produtos de apoio
e ajudas técnicas, visando uma abordagem progressivamente integrada e eficiente.
Promover a gestão integrada de produtos de apoio, ajudas técnicas, tecnologia
assistiva, apoio à renda, obras para acessibilidade e incentivos à mobilidade,
por meio de protocolos e parcerias.
Estas propostas não anulam, contudo, a posição favorável deste CAVI
em relação à possibilidade de existência de um modelo híbrido de vida
independente, que permita a contratação direta pela pessoa
destinatária de assistência pessoal. De igual modo e, alternativamente,
estamos em crer que a centralização em uma ou mais entidades (de
âmbito nacional) da responsabilidade de formar e, por consequência,
dispor em bolsa de assistentes pessoais, pode contribuir para o
surgimento de soluções criativas que possibilitem que um/a assistente
pessoal beneficie de uma bolsa pecuniária mensal (subsídio), até à
colocação efetiva ou definitiva em trabalho.

149
Conclusões
2.AÇÕES DE CAPACITAÇÃO E DE SENSIBILIZAÇÃO
As ações de capacitação e de sensibilização assumem especial
importância à luz da mudança de paradigma a que assistimos. Nesta
medida, dentro desta temática, será importante que o modelo
vindouro tenha em consideração os dados recolhidos desta
experiência-piloto, melhorando os domínios da formação inicial de
assistentes pessoais, mas também respondendo às necessidades ora
identificadas relativas à capacitação e sensibilização de diferentes
stakeholders.

2.1. Formação Inicial Obrigatória

O Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, estabeleceu a obrigatoriedade


da frequência de formação inicial como critério para a contratação de
assistentes pessoais. Não obstante a decisão comprovadamente acertada
do legislador, a formação inicial de assistentes pessoais aporta inúmeros
desafios, na sua forma, duração e conteúdo, que importa analisar, para
identificação de oportunidades de melhoria.
Com efeito e conforme exposto na apresentação de resultados do presente
documento, a formação revelou-se um aspeto crítico para o
desenvolvimento pessoal e profissional das assistentes pessoais,
contribuindo diretamente para o sucesso desta experiência-piloto. Parece-
nos minimamente consensual que a formação inicial (e contínua) é um
momento essencial para a socialização das AP’s com os valores da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com o MAVI e
com a filosofia da Vida Independente, facilitando, simultaneamente, a
aquisição de competências para a promoção e respeito pela a
autodeterminação dos destinatários, ajudando-as a aplicar mais
eficazmente os princípios da inclusão, da igualdade de oportunidades e do
respeito pelos direitos humanos das pessoas com deficiência. Nesta
medida, verificou-se que o feedback recebido dos/as formandos/as e
formadores/as foi manifestamente positivo, indicando que a formação é
bem recebida e valorizada pelos envolvidos.
No que respeita à modalidade de formação e pese embora o formato e-
learning apresente sérias vantagens em termos de flexibilidade e
disponibilidade, parece-nos claro que uma modalidade mista (b-learning e
presencial) pode, mais facilmente cumprir com os objetivos a que se propõe
a formação inicial obrigatória.

150
Conclusões
2.AÇÕES DE CAPACITAÇÃO E DE SENSIBILIZAÇÃO
(Cont.) 2.1. Formação Inicial Obrigatória

Ainda assim, isto é, mesmo considerando que a formação e-learning permite um melhor ajustamento
entre a pessoa escolhida como AP e o perfil definido pela pessoa destinatária, garantindo maior
flexibilidade, tal não corrige em absoluto a necessidade de serem agilizados os procedimentos para
resposta a emergências, garantindo que a formação não seja um obstáculo, quando a assistência
pessoal é necessária no imediato.
Neste contexto, é importante referir que apesar de o número de horas de formação inicial (50horas) nos
parecer ajustado, na maioria das vezes, às necessidades, é importante que os conteúdos sejam
ajustáveis a cada contexto específico do CAVI e da pessoa destinatária de assistência pessoal,
proporcionando experiências práticas relevantes para as assistentes pessoais, em contexto real de
trabalho. É também neste sentido que importa, uma vez mais, colocar a pessoa com deficiência no
centro da ação: a sua participação no processo de formação aumenta a qualidade da formação,
permitindo uma abordagem mais personalizada e centrada nas necessidades individuais.
Assim, no futuro, será importante considerar que, apesar da uniformização da formação inicial,
potencialmente centralizada num único organismo, poder ser uma mais-valia – abertura da
possibilidade de modelos comparticipados para a bolsa de assistentes pessoais, maior eficiência na
gestão e garantia de qualidade da formação – com efeitos diretos sobre a disponibilidade de
assistentes pessoais, tal não deve, em nenhuma circunstância, desvalorizar a participação das pessoas
com deficiência na formação do seu próprio assistente pessoal.
No que concerne aos rácios e limites de formandos estabelecidos pelo Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de
outubro, acreditamos que é um constrangimento que merece ser suprimido, porquanto restringe e
compromete o acesso à formação (e ao trabalho) dos candidatos, não garantindo, nem contribuindo,
de modo algum, para a melhoria do processo.

151
Conclusões
2.AÇÕES DE CAPACITAÇÃO E DE
SENSIBILIZAÇÃO
(Cont.) 2.1. Formação Inicial Obrigatória

Com base no exposto e para suprimento das necessidades


identificadas por este CAVI, propomos:
Manter e melhorar o programa de formação inicial de
assistentes pessoais, mantendo a sua obrigatoriedade –
salvo raras exceções (de emergência) merecedoras de
flexibilização. Isso deve incluir conhecimentos sobre
direitos, ética, autonomia, acessibilidades, competências
práticas e tecnologias de apoio, entre outros, que
assegurem o alinhamento da formação com os valores e
princípios da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, bem como com a filosofia da Vida
Independente.
Garantir que a formação inicial seja ministrada por
formadores qualificados e com experiência relevante na
área da assistência pessoal e dos direitos das pessoas com
deficiência, por exemplo através da obrigatoriedade de
frequência de formação prévia nestas áreas – isso contribui
para a qualidade e credibilidade da formação.
Estabelecer mecanismos eficazes de avaliação e
monitorização da qualidade da formação, garantindo o
ajuste contínuo do programa com base no feedback
recebido.
Promover a atualização e formação contínuas das
assistentes pessoais, de acordo com necessidades
identificadas por estas e por pessoas destinatárias de
assistência pessoal.
Promover parcerias com instituições de ensino,
organizações da sociedade civil e organizações de pessoas
com deficiência para fortalecer a formação, promover a
partilha de conhecimentos e experiências e facilitar o
acesso a recursos e materiais educativos.
Assegurar a participação ativa das pessoas com
deficiência, das suas famílias e das organizações que as
representam no planeamento, implementação e avaliação
da formação de assistentes pessoais.

152
Conclusões
2.AÇÕES DE CAPACITAÇÃO E DE SENSIBILIZAÇÃO
2.2. Sensibilização sobre o papel do/a Assistente Pessoal

O MAVI representou um avanço significativo na garantia dos direitos e na promoção da autonomia e


vida independente das pessoas com deficiência em Portugal. Tratando-se de uma experiência-piloto
que inaugurou a existência do/a assistente pessoal no quadro legislativo português, subsistem,
naturalmente, após 54 meses de execução, algumas dúvidas e questões relativas ao papel do/a
assistente pessoal que carecem de esclarecimento, em prol do bom funcionamento e desenvolvimento
do(s) Modelo(s) vindouros.

Com efeito, embora a regulamentação da profissão de assistente pessoal possa contribuir para
dirimir uma parte substancial das dúvidas e questões relativas ao papel do/a assistente pessoal,
haverá ainda espaço para o investimento em sensibilização sobre o papel dos/as assistentes
pessoais, nos diferentes contextos que operam e em estreita observância das idiossincrasias das
pessoas que aqueles apoiam.

Deste modo, a par dos aspetos já anteriormente referidos sobre o papel do/a assistente pessoal,
consideramos importante:
Desenvolver campanhas de sensibilização abrangentes, para o público em geral e para pessoas
com deficiência/utilizadores de assistência pessoal, que contribuam para a aceitação e
consensualização do papel do/a assistente pessoal, atraindo mais pessoas para a profissão e
definindo os limites da assistência pessoal.
Promover o debate sobre os limites da assistência pessoal, distinguindo e lançando as bases para
o desenvolvimento de outras questões como, por exemplo, o direito à sexualidade e assistência
sexual.
Promover ações de capacitação para assistentes pessoais, pessoas com deficiência, familiares de
pessoas com deficiência e público em geral, em formatos inclusivos e acessíveis, incluindo as
temáticas da representatividade e acessibilidades (físicas e cognitivas).

153
Conclusões
2.AÇÕES DE CAPACITAÇÃO E DE SENSIBILIZAÇÃO
2.3. Capacitação de Stakeholders

O Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro foi um importante impulso para a materialização de direitos


essenciais das pessoas com deficiência, promovendo a sua autonomia e capacidade de controlar o
próprio destino. Ficou, no entanto, evidente que aquele impulso não foi proporcionalmente
acompanhado por todos os stakeholders, por exemplo, na compreensão e operacionalização do papel
do assistente pessoal.
Atendendo à importância daquela questão para o bom funcionamento de Modelo(s) próximo(s) e para
uma verdadeira participação das pessoas com deficiência nas diferentes esferas da sociedade, é
crucial assegurar a existência de recursos e de programas de capacitação que promovam a
compreensão dos princípios da vida independente, da autodeterminação e da assistência pessoal. Com
base neste pressuposto, propomos:
Desenvolver materiais e recursos informativos, acessíveis e abrangentes, que expliquem os princípios
da vida independente e da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Estes recursos
devem ser disponibilizados em diferentes formatos, e em diferentes plataformas de comunicação.
Criar programas de capacitação e de formação que ofereçam conhecimentos práticos sobre
autogestão e gestão da assistência pessoal, incluindo competências de comunicação, de defesa
dos direitos e tomada de decisão. Os programas devem ser adaptados e individualizados,
promovendo a participação ativa das pessoas destinatárias e das suas famílias.
Estabelecer parcerias com organizações de pessoas com deficiência e outras da sociedade civil,
com o objetivo de promover a troca de conhecimentos, cocriação de recursos educativos e a
colaboração em eventos de sensibilização e de capacitação.

Incluir famílias no processo de capacitação, reconhecendo o seu


papel fundamental e dotando-as de conhecimentos sobre a filosofia
da vida independente.
Melhorar os processos de monitorização de assistência pessoal, por
exemplo, através da utilização de novas tecnologias, estabelecendo
mecanismos de avaliação que permitam a identificação de áreas de
melhoria.
Manter e reforçar o investimento em ações de sensibilização e outras
(ex.: investigação científica) promotoras de literatura sobre vida
independente em Portugal, que contribuam para a desconstrução de
mitos e estereótipos sobre a deficiência, destacando a importância da
assistência pessoal na promoção da vida independente. A inclusão de
pessoas com deficiência como facilitadoras, promotoras e instrutoras Ação de Sensibilização
Maio de 2019
é um aspeto essencial para a valorização destas iniciativas.

154
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
3.1. Monitorização e Avaliação

O desenvolvimento e sustentabilidade de um novo Modelo (de apoio à) Vida Independente terá,


necessariamente, que assentar num sistema robusto de monitorização e de avaliação, participado pelas
pessoas com deficiência, de modo a garantir o acompanhamento do progresso e da eficácia do
programa. Um tal sistema, deve estar baseado em indicadores e metas claras, nos diferentes níveis de
análise (superiores e inferiores), permitindo uma observação rigorosa do impacto do mesmo junto dos
diferentes stakeholders.
Ao nível de análise da assistência pessoal, a utilização de novas tecnologias – aplicações móveis ou
plataformas online – pode contribuir para uma monitorização mais eficiente da assistência pessoal
prestada, com informações atualizadas “ao minuto” e mais precisas sobre o apoio recebido, atividades
realizadas e resultados alcançados.
Ao nível dos CAVI, é importante, conforme referido anteriormente, estabelecer parâmetros de qualidade
para os serviços prestados, com base em diretrizes e padrões comuns. A avaliação de desempenho dos
CAVI deve ser realizada regularmente, levando em consideração a satisfação das pessoas destinatárias, a
qualidade do apoio e o cumprimento dos objetivos estabelecidos, entre outros. Estas medidas de
monitorização e de avaliação permitem uma tomada de decisão informada, identificando áreas de
melhoria e promovendo a excelência no programa de apoio à vida independente, sem prejuízo da
participação ativa e (mais) regular das entidades de acompanhamento – Instituto Nacional para a
Reabilitação, IP – e de outros avaliadores externos ao programa. A par do exposto, é importante reforçar o
investimento na capacitação e formação dos técnicos do CAVI, visando quer a qualidade do trabalho
técnico, quer a atualização sobre vida independente e boas práticas de promoção da autodeterminação
das pessoas com deficiência.
Ao nível das estruturas de decisão e de financiamento, é importante manter o investimento na
monitorização e avaliação das atividades, recorrendo a avaliadores externos – como foi exemplo o ISCTE –
mas, simultaneamente, otimizando os recursos e instrumentos utilizados, sob pena de burocratização e
desumanização dos processos.
Estamos em crer que este tipo de abordagem irá contribuir para a transparência do
processo, oferecendo dados concretos e realistas que suportem ações de
sensibilização e advocacy junto dos decisores políticos.
Ao mesmo tempo que se reconhece a necessidade de investir em
campanhas de sensibilização para promover uma maior
compreensão sobre a importância do apoio à vida independente e
dos direitos das pessoas com deficiência, é igualmente importante
reconhecer-se que essa sensibilização terá mais força junto dos
decisores políticos quando sustentada em dados objetivos e
transparentes. Apenas então o advocacy cumprirá o seu objetivo na
defesa de políticas públicas que garantam recursos adequados e
acesso igualitário para todos os cidadãos.

155
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
3.2. Desenvolvimento de Redes de Apoio

O cumprimento e materialização dos princípios fundamentais da Convenção sobre


os Direitos das Pessoas com Deficiência convoca deveres coletivos que não podem
ser circunscritos à assistência pessoal. E assim é também com o Modelo de Apoio à
Vida Independente. De facto, para o pleno cumprimento dos princípios invocados
pelo MAVI, torna-se essencial o desenvolvimento de redes de apoio sólidas e
eficientes, que permitam a partilha de conhecimentos, boas práticas e colaboração
entre os Centros de Apoio à Vida Independente, pessoas destinatárias de
assistência pessoal e outros stakeholders envolvidos.
No caso do CAVI da ADM Estrela, é facilmente observável a preponderância das
iniciativas comunitárias no sucesso da execução da experiência-piloto,
contabilizando 588 participantes e 161 Instituições nas diferentes tipologias de
atividades (benchmarking, interpares, seminários e ações de sensibilização), as
quais permitiram recolher importantes contributos e propostas para o futuro,
deixando evidente o interesse e envolvimento da comunidade com o projeto.
Com efeito, os encontros de benchmarking desempenharam um papel fundamental
na criação de uma base conceptual comum e no alinhamento dos participantes com
os princípios e objetivos da Vida Independente. Além disso, estes encontros
proporcionaram uma compreensão mais ampla dos desafios enfrentados pelas
pessoas com deficiência e a identificação de necessidades específicas dos
territórios. O benchmarking também permitiu identificar a complementaridade entre
projetos e respostas, alargando o alcance do projeto e materializando a
importância da colaboração e articulação entre diferentes entidades. Estes
encontros permitiram a identificação de barreiras, como os desafios relacionados à
interioridade e à dispersão territorial, mobilidade e acessibilidades, bem como o
reconhecimento das limitações do projeto, como o limite de horas e os
constrangimentos associados à bolsa de assistentes pessoais. As preocupações com
a sustentabilidade do projeto também foram identificadas, assim como as
potencialidades (ex.: MAVI como resposta de autonomização).
No contexto das ações de sensibilização e seminários, foi possível obter contributos
importantes para o aumento da consciência e conhecimento sobre o projeto e sobre
a diversidade funcional. Desafiando estereótipos e preconceitos, essas ações
promoveram uma visão mais positiva das pessoas com deficiência, constituindo-se
como marcos importantes na difusão dos princípios orientadores do MAVI, através
de demonstrações reais dos resultados positivos da inclusão socioprofissional de
pessoas com deficiência.

156
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.2. Desenvolvimento de Redes de Apoio

Os participantes reconheceram a importância dos assuntos discutidos para a promoção da


autodeterminação, participação e inclusão das pessoas com deficiência nas diferentes esferas da
sociedade e a colaboração e parceria com diferentes organizações da sociedade civil revelou-se
recompensadora.

No que concerne à tipologia de encontros interpares, estes mostraram ser uma estratégia efetiva no
contexto do MAVI, proporcionando oportunidades para conhecer e participar no planeamento de
atividades dos CAVI, realinhando objetivos. Os encontros também serviram para partilhar histórias,
experiências e dificuldades na gestão da assistência pessoal, fortalecer redes de apoio e debater
necessidades específicas relacionadas com a mobilidade e acessibilidades. As reflexões obtidas
destacaram a identificação de fragilidades, como os limites de horas, a acumulação de apoios, a
formação e a carreira de assistentes pessoais, ao mesmo tempo que se reconheceram as
potencialidades e mais-valias do projeto.

Nesta medida, somos a propor:


Promoção de encontros, workshops e seminários regulares (ex.: definição de nº mínimo de
atividades/ano), para partilha de boas práticas, benchmarking e colaboração entre pessoas com
deficiência, CAVI e outros stakeholders. Estas atividades devem ser organizadas de forma
sistemática e planeada, visando a atualização contínua dos conhecimentos e a troca de
experiências.
Estabelecimento de redes colaborativas com organizações representativas das pessoas com
deficiência, entidades governamentais, organizações da sociedade civil e empresas com
responsabilidade social, para ampliar o alcance do projeto e garantir recursos adicionais para sua
sustentabilidade.
Nutrir e robustecer as redes de apoio existentes, formais e informais, promovendo a comunicação e
a cooperação entre organizações representativas das pessoas com deficiência, CAVI e outras
instituições, como centros de reabilitação, escolas, universidades, empresas e órgãos
governamentais. Isso permitirá a otimização de recursos, a identificação de sinergias e a
maximização dos resultados alcançados.
Investir na formação e capacitação do pessoal do CAVI, incluindo dirigentes associativos,
assistentes pessoais, gestores e técnicos dos CAVI, em temáticas relacionadas com as
acessibilidades (físicas e cognitivas), direitos das pessoas com deficiência, planeamento centrado
na pessoa e boas práticas de apoio à vida independente.

157
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.2. Desenvolvimento de Redes de Apoio

Desenvolver e estimular a produção de conhecimento científico sobre vida independente,


contribuindo para o desenho de soluções de acessibilidade e de mobilidade, que respondam, entre
outros, aos desafios da interioridade e dispersão geográfica.
Fortalecer a comunicação e divulgação, promovendo uma ampla divulgação das atividades e
resultados do projeto, através de diferentes canais e plataformas digitais, meios de comunicação
social e parcerias com influenciadores e organizações relevantes.
Implementar mecanismos de monitorização e avaliação contínua do projeto, conforme referido em
secções anteriores.

Os encontros interpares, de benchmarking, seminários, workshops e ações de divulgação e de


capacitação são, no nosso entendimento, de crucial importância para a difusão dos princípios da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, muito especialmente, no atual contexto de
mudança paradigmática. Acreditamos fortemente que este tipo de ações pode ter um contributo
decisivo na produção de mudanças intermédias de mentalidade, apoiando sucessivamente as
mudanças, orientações políticas e transformações sociais.

Em razão dos resultados ora expostos, fica evidente a importância de desenvolver e consolidar redes de
apoio sólidas e eficientes para a promoção da vida independente. O próximo modelo –
independentemente da sua forma – deve propor ações, boas práticas e estratégias que fortaleçam este
tipo de redes de apoio, envolvendo os diferentes atores sociais num movimento participativo e
participado pelas pessoas com deficiência.

Gabinete de Atendimento

158
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
3.3. Cobertura e Expansão

A melhoria da cobertura e expansão do Modelo atual, necessidade amplamente identificada, requer


a adoção de medidas e estratégias que, entre outros, permitam suprir os desafios da interioridade e
da dispersão geográfica, ao mesmo tempo que se garante o aumento do número de pessoas
apoiadas (e/ou flexibilização dos atuais limites de horas), sem prejudicar o equilíbrio e
sustentabilidade financeiros.

Neste âmbito, identificamos como necessário:

Promover a diminuição das Listas de Espera e aumento do nº de pessoas apoiadas


É imprescindível implementar medidas que contribuam para a redução das listas de espera existentes
– cujo número total nacional deve ser devidamente apurado pelos Organismos reguladores, como o
INR, IP – ora através da reformulação do Modelo (ex.: criação de um Modelo integrado de “serviços”
de vida independente que permita atender às necessidades das pessoas em lista de espera), ora
através do aumento do financiamento do projeto. Para garantir o sucesso desta intenção – que nos
parece premente – é importante otimizar os processos de avaliação e de triagem, garantindo uma
distribuição equitativa dos recursos disponíveis.

Superação dos desafios da interioridade e da dispersão geográfica


A resposta a esta necessidade requer o aumento do investimento – criação de frota MAVI, atribuição
de apoios às assistentes pessoais e/ou alargamento da rede de CAVI – mas também o
aproveitamento de tecnologias de comunicação e parcerias com organizações locais para resposta a
situações específicas. De facto, é importante não esquecer que existem outros recursos que podem
auxiliar a diminuição da dependência dos utilizadores de assistência pessoal que deverão ser
considerados (ex.: tecnologia assistiva). A criação de um modelo que integre no CAVI a gestão de
outros serviços (além da assistência pessoal) pode ser uma alternativa sólida.

159
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.3. Cobertura e Expansão

Garantir a sustentabilidade Financeira


Qual o preço de um direito? A sustentabilidade financeira,
sobretudo num país como Portugal, é sempre uma preocupação
central para garantir a continuidade de determinadas medidas
públicas. Não nos cabendo, no âmbito deste documento de
ordem técnica, tecer grandes elaborações ou propostas
tendentes à solução deste problema, parece-nos importante
que o Estado preveja a criação de fundos específicos para o
apoio à vida independente, mobilizando fundos nacionais e
europeus para o efeito, de forma direta (Estado ou pessoas
destinatárias) ou indireta (CAVI ou estruturas intermédias,
como municípios ou outras organização), preservando sempre a
garantia da continuidade deste apoio, assim como o controlo
sobre a gestão eficiente dos recursos disponíveis, com
transparência e monitorização rigorosa de despesas.

Flexibilizar os limites de horas de apoio estabelecidos


A revisão dos atuais limites de horas atribuídos a cada CAVI e
estabelecidos pelo Art.º 9º do Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de
outubro, devem ser revistos, levando em consideração as
necessidades individualizadas de cada pessoa destinatária de
assistência pessoal e os constrangimentos identificados. No
mínimo, é importante que se flexibilizem aqueles limites (para
atender a situações excecionais devidamente fundamentadas),
permitindo um apoio mais adequado e individualizado que
responda à autonomia e independência desejadas.

Fortalecimento da Rede de Parcerias


Conforme referido em secções anteriores, o fortalecimento da
rede de parcerias com organizações representativas das
pessoas com deficiência, organizações da sociedade civil,
instituições de ensino, empresas privadas e entidades
governamentais, podem facilitar o acesso a recursos adicionais
(incluindo financeiros), conhecimentos especializados e
oportunidades de capacitação, enriquecendo o Modelo e
ampliando seu impacto.

160
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.3. Cobertura e Expansão

Desenvolvimento de um Plano Nacional para a Vida Independente


A melhoria da cobertura e expansão do atual Modelo requer um processo participado que,
efetivamente, possa conduzir à materialização da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência. Nessa medida, a elaboração de um plano estratégico que defina metas
claras e objetivos para a expansão e melhoria do Modelo em todo o país, incluindo diretrizes
específicas em relação aos desafios da interioridade e da dispersão geográfica, pode, entre
outros, contribuir fortemente para a redução das listas de espera e aumento do alcance do
Modelo. A expansão do Modelo deve obedecer a critérios de razoabilidade, de forma
gradual, planeada e sustentada, considerando a capacidade de resposta do sistema, tanto
em termos de recursos humanos, quanto financeiros.

Elaboração de Planos Estratégicos


Em complemento da proposta anterior, é importante considerar-se a possibilidade de cada
uma das regiões do País proceder ao desenvolvimento de planos estratégicos que
identifiquem as metas, objetivos e ações necessárias para a expansão da vida independente.
Os planos, participados localmente, podem mais efetivamente traduzir as necessidades e
especificidades locais, identificando mais criteriosamente as necessidades da população, as
infraestruturas disponíveis e parcerias relevantes, para melhor sustentar a tomada de decisão.

161
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.3. Cobertura e Expansão

Investimento na promoção do Acesso Universal


Apesar da louvável intenção do Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, em garantir o
acesso ao projeto do maior número possível de pessoas com deficiência,
independentemente do tipo de deficiência, essa intenção necessita ser reforçada em
diferentes domínios. Por um lado, garantindo que mais pessoas possam beneficiar de
assistência pessoal e, por outro lado, prevendo, no próximo Modelo, incentivos concretos à
adaptação e acessibilidade de espaços físicos, disponibilização ou acesso a tecnologia
assistiva, produtos de apoio ou ajudas técnicas, acessibilidades cognitivas, etc. A criação de
um Modelo integrado, cocriado no âmbito de uma estratégia nacional participada para a
vida independente, pode ser um passo determinante para a concretização desta
oportunidade, contando com a colaboração das redes colaborativas representantes das
pessoas com deficiência.

Promoção e incentivo ao voluntariado


A promoção e incentivo a programas de voluntariado, desenvolvidos em articulação com as
redes de apoio local e participação, em primeiro plano das pessoas com deficiência, pode
ser um importante contributo para a difusão dos princípios da vida independente,
promovendo a inclusão social.

162
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
3.4. Acumulações e Limite Etário

Os dados e informações obtidos ao longo dos 54 meses de execução desta experiência-piloto,


levam-nos a concluir que as atuais restrições nas acumulações de apoios previstas pelo Artigo nº 38º
do Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, representam impedimentos significativos à inclusão de
determinados grupos de pessoas com deficiência, muito especificamente, em relação aquelas que
frequentam Centros de Atividades e Capacitação para Inclusão (CACI), Residência Autónoma ou
beneficiam de Complemento por dependência.
Se por um lado, no que respeita ao complemento por dependência, é
facilmente observável e, nessa medida, compreensível que os objetivos
enunciados para aquele apoio (cidadãos que se encontrem em situação de
dependência e que precisam da ajuda de outra pessoa para satisfazer as
necessidades básicas da vida quotidiana) se sobrepõem aos objetivos a
que se propõe a assistência pessoal – assim se verificando uma indesejável
duplicação de apoios – por outro lado, há que analisar criticamente a
finalidade do apoio por complemento por dependência. Com efeito,
estamos em crer que aquele apoio pecuniário atribuído à pessoa em
situação de dependência não tem, pelo menos numa parte substancial das
circunstâncias, como destino, o financiamento da ajuda de outra pessoa,
mas antes a aquisição de produtos e bens necessários aos cuidados
(extraordinários) do cidadão em situação de dependência, servindo, neste
contexto, como um apoio pecuniário compensatório. Em razão do exposto,
entendemos que a impossibilidade de acumular aquele apoio com o apoio
de assistência pessoal é iníqua e prejudicial, no entanto, acreditamos que a
DIVULGAÇÃO SEMANA DA VIDA INDEPENDENTE
correção deve ser feita a montante, isto é, melhor redefinindo os termos,
finalidades e objetivos do complemento por dependência.
No que concerne à impossibilidade de acumulação de assistência pessoal com a frequência de CACI,
é importante considerar que o CACI se trata de uma resposta com uma tipologia de funcionamento
diurno, em dias úteis, muitas vezes, com períodos de encerramento para férias. Basta, pois, atender
ao facto de que as necessidades das pessoas com deficiência, as suas vontades, desejos e
preferências não se circunscrevem a horários pré-determinados para facilmente se perceber que a
impossibilidade de acumular assistência pessoal com a frequência de CACI é uma medida limitadora
e promotora de exclusão. Naturalmente que não faria sentido – por razões de diversa ordem – que a
assistência pessoal tomasse lugar no contexto dos próprios CACI, porém, não é menos verdade – até
tomando em consideração o feedback obtido dos representantes legais de pessoas integradas em
CACI nos Encontros Interpares desenvolvidos – que a assistência pessoal pode constituir um
importante impulso para a promoção da autodeterminação, aumento do acesso a serviços e inclusão
comunitária das pessoas que se encontram em CACI, fora do horário de funcionamento desta
resposta. A assistência pessoal pode também – não devemos ignorá-lo apesar de não ser esse o seu
propósito – contribuir para o descanso dos cuidadores informais das pessoas integradas em CACI.

163
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.4. Acumulações e Limite Etário

A mesma argumentação se aplica às pessoas integradas em Residências Autónomas. Ou seja, se por um


lado os objetivos da assistência pessoal podem sobrepor-se aos objetivos daquela resposta social, não é
menos verdade que, em contextos e circunstâncias específicas, como por exemplo no apoio à tomada
de decisão, entre outras, a assistência pessoal pode ser um importante contributo para facilitar o acesso
das pessoas com deficiência a determinados serviços, ajudando a cumprir a sua autodeterminação.

Neste contexto de limitações e balizamentos do atual Modelo, importa ainda referir a questão da idade
mínima para benefício de assistência pessoal e da circunscrição da mesma ao contexto extraescolar.
Relativamente à idade mínima estabelecida no atual Modelo (16 anos) e reconhecendo que, não só a
literatura sobre vida independente é ainda muito limitada, como também a assistência pessoal em
idades precoces suscita questões de ordem ética muito relevantes, parece-nos que o estabelecimento
daquele limite é redutor e retira a criança com deficiência do centro da tomada de decisão.
Concorrentemente, é importante que seja claramente reconhecido que as necessidades de apoio à
autonomia através da assistência pessoal podem surgir em qualquer idade, mais ou menos precoce, não
podendo ser substituídas por apoios informais. Do mesmo modo, há que considerar, no que respeita ao
impedimento do usufruto de assistência pessoal no contexto escolar, que apesar do Estado, por
intermédio do Sistema Educativo Português, prever variados apoios para o estudante com deficiência no
contexto da Escola, esses apoios não se substituem à assistência pessoal. Sendo a escolaridade um
preceito obrigatório, pode até resultar como perverso ou contraproducente limitar a assistência pessoal
naquele contexto, a qual pode, inclusivamente, contribuir para a boa consecução dos objetivos da
Escola Inclusiva, no mínimo, flexibilizando essa possibilidade a contextos e situações específicas.

Seminário
"Capacitismo e
Representatividade"
31 de maio de 2023

164
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.4. Acumulações e Limite Etário

Posto isto, entendemos como relevante:

Reduzir ou flexibilizar o limite de idade mínima


A redução deste limite significa reconhecer que as necessidades de apoio à autonomia e
independência podem surgir em qualquer idade.

Flexibilizar a possibilidade de assistência pessoal em contexto escolar


A assistência pessoal durante o período escolar pode facilitar a participação plena e igualitária dos
alunos/destinatários de assistência pessoal nas atividades educativas ou outras, promovendo a inclusão
e a igualdade de oportunidades.

Eliminação ou flexibilização das restrições de acumulação de apoio


As restrições suprarreferidas representam obstáculos à vida independente e limitam as escolhas e as
oportunidades das pessoas com deficiência, conforme descrito anteriormente. É importante que as
pessoas com deficiência possam escolher as combinações de suporte que melhor atendam às suas
necessidades individualizadas, garantindo uma abordagem centrada na pessoa.

Garantir uma abordagem centrada na pessoa e no acesso universal


Assegurar a existência de um Modelo de vida independente acessível a todas as pessoas com
deficiência, independentemente de sua idade, tipo de deficiência ou localização geográfica.

165
Conclusões
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
3.5. Outras Considerações Relevantes

Como referido anteriormente e várias vezes comprovado de várias formas, é inegável que o Decreto-Lei
nº 129/2017, de 9 de outubro, representou um avanço significativo na promoção da independência e da
inclusão das pessoas com deficiência em Portugal. É, todavia, importante, neste contexto de mudança
paradigmática, que se analise criticamente esta experiência-piloto, identificando mais-valias e desafios
merecedores de atenção.
Nesta secção apresentamos alguns tópicos não abordados anteriormente e não necessariamente
relacionados de forma direta com a disponibilização de assistência pessoal, que nos parecem
importantes para o futuro de uma sociedade que se (re)quer inclusiva.
Remuneração das equipas técnicas dos CAVI
É necessário rever a remuneração das equipas técnicas dos Centros de Apoio à Vida Independente. A
falta de incentivos financeiros adequados pode afetar a qualidade e a disponibilidade dos serviços
prestados, comprometendo a eficácia do(s) futuro(s) Modelo(s). Garantir uma remuneração justa e
adequada para as equipas técnicas dos CAVI é reconhecer a importância do seu trabalho e da sua
experiência, retribuindo a dedicação e competência.
Considerar o alargamento do apoio para situações de dependência
É importante que se fortaleça o debate sobre a disponibilização de assistência pessoal para situações
de dependência e, não necessariamente, de deficiência. Se, por um lado, aquele potencial alargamento
aporta riscos para o efetivo entendimento da filosofia de vida independente (devendo, nessa medida,
ocorrer fora deste tipo de Modelos), por outro lado, o mesmo suscita importantes reflexões sobre a
inclusão e utilização de linguagem inclusiva. Será mais inclusivo conceptualizar as diferenças funcionais
como diversidade funcional? Quais as implicações?

Acesso equitativo para pessoas com deficiência auditiva


Perante a ausência de dados concretos e objetivos que nos ajudem a
compreender mais profundamente esta questão, é importante que se
reflita sobre se as pessoas com deficiência auditiva têm as mesmas
oportunidades de acesso à assistência pessoal que os demais
concidadãos. Garantir a acessibilidade comunicacional, por meio de
intérpretes de língua gestual portuguesa e de tecnologias assistivas, é
crucial para eliminar as barreiras e promover a inclusão e independência
das pessoas com esta tipologia de deficiência. Dadas as especificidades
desta população, devemos assegurar igualdade no acesso ao novo
Modelo, equacionando e/ou incentivando a criação de CAVI’s específicos
para este apoio, com atribuições na formação de intérpretes de língua
Ação de Sensibilização
gestual portuguesa. Maio de 2023

166
3.APERFEIÇOAMENTO E EXPANSÃO
(Cont.) 3.5. Outras Considerações Relevantes

Debate sobre assistência sexual


Num contexto de promoção da inclusão, é importante que a questão da assistência sexual para pessoas
com deficiência comece a ser debatida e analisada a nível nacional. É fundamental reconhecer a
importância da intimidade, sexualidade e afetividade para todas as pessoas, promovendo um ambiente
propício a este debate, com a participação de organizações representativas das pessoas com
deficiência, organizações da sociedade civil, profissionais de saúde, etc., que possam aportar
abordagens éticas e seguras.

167
NOTAS FINAIS
Ao longo dos cinquenta e quatro meses de execução do projeto-piloto Modelo de Apoio à Vida
Independente, consignado pelo Decreto-Lei nº 129/2017, de 9 de outubro, e conforme esperamos ter
conseguido transparecer ao longo deste trabalho, testemunhamos mudanças e transformações sociais
de grande impacto. Através de um Modelo inovador e abrangente, pudemos acompanhar de perto a
jornada rumo à independência e inclusão de variadas pessoas com deficiência, em estreita harmonia
com outras equipas técnicas talentosas e que nos inspiraram, assim como com as pessoas destinatárias
de assistência pessoal e assistentes pessoais, com as quais tanto aprendemos e erramos.
O MAVI trouxe consigo uma nova perspetiva sobre a pessoa com deficiência, desafiando paradigmas
preexistentes e promovendo – destemidamente – a igualdade de oportunidades. Por meio de uma
abordagem centrada na pessoa, reconhecemos e valorizamos as capacidades individuais, respeitando a
diversidade e o direito de cada indivíduo a exercer o seu próprio projeto de vida, a comandar o seu
próprio destino.
Uma das principais mudanças sociais operadas pelo MAVI foi, indubitavelmente, a ampliação das
possibilidades de escolha e participação ativa das pessoas com deficiência. O direito à assistência
pessoal permitiu que elas pudessem decidir sobre os cuidados e apoios necessários, construindo
relações de confiança e parceria com seus assistentes pessoais. Essa nova dinâmica fortaleceu o
empowerment, a autodeterminação e autonomia, rompendo com a dependência e a tutela – mais ou
menos assistencial, mais ou menos paternalista – que tantas vezes acompanham as pessoas com
deficiência.
Mas o MAVI carregou consigo mais. O MAVI, com todos os seus defeitos e virtudes, trouxe avanços
significativos para a inclusão social e comunitária. Através da promoção de ações de sensibilização,
benchmarking e outras, testemunhamos uma maior abertura e compreensão por parte dos diversos
setores da sociedade. As barreiras físicas, cognitivas, comunicacionais e atitudinais mantêm-se, mas
temos hoje mais ferramentas – e uma inesgotável força – para as enfrentar.
É importante ressaltar que o Modelo de Apoio à Vida Independente teve também um impacto
económico positivo. Ao oferecer mais oportunidades de participação às pessoas com deficiência, ao
criar postos de trabalho para assistentes pessoais, o MAVI contribuiu para a redução da taxa de
desemprego. Durante a nossa atividade pudemos assistir ao reconhecimento do potencial produtivo de
algumas das pessoas que apoiamos e a sua integração no mercado de trabalho, com a devida
adaptação do ambiente de trabalho, são ganhos inalienáveis da sociedade como um todo.
Neste momento de encerramento desta experiência-piloto, expressamos o nosso profundo
agradecimento pela honra e oportunidade que nos foi outorgada para sermos transformação social.
Enfrentamos desafios e superamos obstáculos, construímos caminhos. Esperamos que o nosso modesto
contributo, sistematizado neste produto final, possa auxiliar a ampliação e consolidação de um novo
Modelo, promotor da dignidade e do pleno exercício dos direitos de todas as pessoas.

169
Agradecimentos
Chegado o fim desta jornada, gostaríamos de expressar a nossa imensa gratidão a todos os intervenientes
que tornaram possível a execução deste Modelo de Apoio à Vida Independente.
Em primeiro lugar, agradecemos à Direção da ADM Estrela pela confiança, apoio e autonomia. Aos colegas
da ADM Estrela, pela paciência e disponibilidade para colaborar a todo o momento. Aprendemos juntos e
juntos seguiremos.
Estamos profundamente gratos a todas as Instituições parceiras que se encontraram connosco nesta jornada.
A partilha, participação e cooperação enriquecem-nos e permitiram-nos chegar mais longe. De entre as
instituições parceiras, gostaríamos de destacar todos os colegas de outros CAVI, que muito nos ajudaram com
as suas ideias, experiências e desabafos. É um orgulho poder caminhar convosco.
Às pessoas destinatárias de assistência pessoal, familiares e assistentes pessoais, expressamos o nosso
sentido agradecimento pela confiança, compromisso e apoio. Esperamos poder continuar a dar-vos resposta,
empenhados em sermos, cada dia, mais, cada dia, melhores.
Um agradecimento muito especial ao POISE (Programa Operacional Inclusão Social e Emprego), ao Instituto
Nacional para a Reabilitação, IP e à Sra. Secretária de Estado da Inclusão, Dra. Ana Sofia Antunes, pelo
apoio financeiro e institucional. Este projeto não poderia existir sem o V/ compromisso. A V/ contribuição
para uma sociedade melhor, mais inclusiva, é inestimável e não existem palavras que traduzam a extensão do
nosso agradecimento.
Por último, agradecemos a todos aqueles que participaram nas diferentes atividades do CAVI, que nos
deixaram entrar em sua casa, àqueles que acederam a partilhar o seu conhecimento, as suas experiências e
perspetivas., que nos deram um pouco (e tanto!) de si.
Este projeto é verdadeiramente um exemplo do que pode ser alcançado quando múltiplos atores trabalham
com compromisso por um propósito comum. Estamos gratos pela oportunidade de colaborar com pessoas e
organizações tão talentosas, dedicadas e inspiradoras.

Muito Obrigado!
Ângelo Miguel Barata | Sónia Duarte Barata
Centro de Apoio à Vida
Independente da ADM Estrela
Guarda | Belmonte | Covilhã | Fundão

966 943 782

cavi@admestrela.pt
Tv. da Rua da Fontinha, nº 14
6300-569 Guarda
www.admestrela.pt

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