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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADE


CURSO DE ECONOMIA
3º ANO PÓS-LABORAL
ECONOMIA DE DESENVOLVIMENTO

TRANSFORMAÇÃO AGRÍCOLA E DESENVOLVIMENTO RURAL

Beira, Agosto de 2021


UNIVERSIDADE ZAMBEZE
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADE
CURSO DE ECONOMIA
3º ANO PÓS-LABORAL
ECONOMIA DE DESENVOLVIMENTO

TRANSFORMAÇÃO AGRÍCOLA E DESENVOLVIMENTO RURAL

Discente:

Delson Renato Junqueiro

Docente:

Dr. Zidane

Beira, Agosto de 2021

1
ÍNDICE

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4

Objectivos do trabalho................................................................................................................4

Objectivo geral............................................................................................................................4

Objectivos específicos................................................................................................................4

1. TRANSFORMAÇÃO AGRÍCOLA E DESENVOLVIMENTO RURAL.............................5

1.1. CRESCIMENTO AGRÍCOLA: PROGRESSO DO SECTOR AGRÁRIO........................6

1.1.1. PRINCIPAIS DESAFIOS ACTUAIS..............................................................................8

Fraca Produtividade E Produção.................................................................................................9

Limitadas infra-estruturas e serviços para aceder ao mercado...................................................9

Inadequada utilização dos recursos naturais.............................................................................10

1.2. A ESTRUTURA DE SISTEMAS AGRÁRIOS NOS PAÍSES EM


DESENVOLVIMENTO...........................................................................................................10

1.3. A ECONOMIA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA..............................................11

Economia de desenvolvimento Agrícola em Moçambique......................................................13

1.4. POLÍTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA.........................................14

CONCLUSÃO..........................................................................................................................16

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................17

2
INTRODUÇÃO
A agricultura é um dos setores da economia que têm uma significativa participação no
mercado, a qual se evoluiu das monoculturas para as grandes diversificações de produção
encontradas nos dias de hoje.

Com isso, a agricultura vem crescendo consideravelmente, atingindo números altos e tendo
grande participação no PIB (Produto Interno Bruto) do nosso país. Os números crescem
significativamente e são reflexo do trabalho e dos melhores preços pagos internacionalmente
pelos produtos da agricultura moçambicana.

Ao longo das duas últimas décadas a agricultura dos países do capitalismo avançado conheceu
dois processos econômicos e sociais distintos que foram responsáveis pela configuração de
uma estrutura agrária diversificada e, segundo alguns autores, de características "dualistas".

Neste trabalho tratarei de analisar alguns aspectos das transformações que a estrutura agrária
dos países de em desenvolvimento, progressos e dificuldades actuais no sector agrário.

Objectivos do trabalho
O objetivo é discutir os temas propostos de trabalho na agricultura a partir do que na literatura
convencionou-se chamar de "pluriatividade". Farei algumas aproximações a este debate à luz
de uma bibliografia específica a partir da qual procuro contextualizar o problema e tratar de
entender como diferentes autores analisam a dinâmica e os resultados destes processos.

Objectivo geral
 Conhecer as transformações agrícolas e desenvolvimento rural.

Objectivos específicos
 Identificar o crescimento agrícola: progresso do sector agrário e principais desafios
actuais;
 Estruturar de sistemas agrários nos países em desenvolvimento;

3
 Estudar a Economia de desenvolvimento agrícola;
 Mencionar as políticas para o desenvolvimento agrícola;

1. TRANSFORMAÇÃO AGRÍCOLA E DESENVOLVIMENTO RURAL


As transformações ocorridas no setor agrário dos países do capitalismo desenvolvido tem sido
objeto de muita discussão o que, se por um lado, sugere a inexistência de consenso sobre
aspectos fundamentais de sua organização, por outro, faz crescer entre os "experts"
inquietações quanto ao futuro da produção agrícola e quanto a condição social e econômica
dos indivíduos neles envolvidos.

Não há consenso quanto a natureza das transformações na estrutura agrária e no processo de


produção agrícola atualmente em andamento. No entanto, como mostram alguns autores,
parece inconcebível analisar as transformações na agricultura moderna sem considerar as
mudanças de cunho global da economia capitalista (Kenney, et alii,1989).

No setor agrícola, estas transformações manifestam-se tanto pelo aumento do uso de trabalho
assalariado temporário (sobretudo nos momentos de pico da produção) quanto pela absorção
crescente da força de trabalho residente no meio rural pelos mercados de trabalho urbano-
indus riais. Serão cada v z mais numerosas as propriedades de agricultores onde algum
membro da família terá um emprego extra-agrícola ou dedicará algum tempo à atividades não
agrícolas; como o turismo rural, o artesanato, a prestação de serviços, etc. Isto coloca em
questão a unificação dos mercados de trabalho rural e urbano (Pugliese, 1988) e o
desaparecimento da dicotomia entre os espaços rural e urbano ao nível do acesso a bens de
consumo de origem industrial, das comunicações, da educação e da cultura. O espaço rural
deixa de ter como função exclusiva a produção agrícola e constitui-se num espaço
polissémico onde coexistem atividades econômicas de natureza diversa como a própria
agricultura, o comércio, o turismo rural, o ambientalismo, o lazer entre outros; sem que haja,
necessariamente, uma preponderância em termos de escala ou lucratividade. O conjunto
dessas atividades tem sido descrito como "neoruralismo" e "renascimento rural"(Mingione &
Pugliese, 1987; Font, 1988; e Kayser, 1988, 1991).

As transformações no mundo rural-agrícola serão ainda mais acentuadas se os processos de


"industrialização difusa" e de "descentralização das plantas industriais" (Reis, 1985, 1987;
Sarraceno, 1987 e outros) continuarem a se desenvolver nos ritmos atuais. Com eles, poderá
aumentar, proporcionalmente, a pluriatividade nos espaços rurais abrindo-se, cada vez mais,

4
novas possibilidades de reprodução da agricultura familiar e uma potencial ampliação da
divisão social do trabalho ao nível local e regional.

Além disso, ao nível interno da estrutura familiar de produção, ocorrem significativas


transformações na divisão sexual do trabalho através da "feminização da produção" (Pfeffer,
1989). É crescente o número de propriedades agrícolas onde a mulher tornou-se a principal
responsável pela execução das operações agrícolas. As alterações ocorridas na dinâmica
interna da reprodução familiar e na alocação de tarefas entre seus membros mudam de
posição, de acordo com a natureza da divisão sexual do trabalho da família. Isto é ainda mais
notável quando é o marido quem exerce um emprego fora da agricultura, ficando ao encargo
da esposa a organização e execução do trabalho na propriedade (Kada,1980 apud Buttel &
Gillespe,1984).

1.1. CRESCIMENTO AGRÍCOLA: PROGRESSO DO SECTOR AGRÁRIO


Longo período e políticas de colonização, a guerra civil e as estratégias de crescimento
económico ditaram a trajetória do desenvolvimento agrário. Historicamente, Moçambique
possui dois polos de desenvolvimento. Os portugueses alojaram-se na sua maioria no sul,
tornando esta região a mais urbanizada do país. As regiões centro e norte, que possuem maior
potencial agrícola, permaneceram menos urbanizadas. No período colonial, a exportação
agrícola era feita maioritariamente dos portos da região norte, deixando poucos incentivos
para o desenvolvimento de infra-estruturas ligando o sul ao resto do país. O final da guerra
civil que culminou com o acordo geral da paz em 1992 criou novas oportunidades para o
crescimento económico e a transformação do sector produtivo rural.

Moçambique sofreu uma série de transformações de políticas macroeconómicas. Antes


socialista, o país adoptou o Programa de Reestruturação Económica em 1987, passando deste
modo a ser um país de regime capitalista. Em 2001, o país adoptou o seu primeiro Plano de
Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA). Neste processo de mudanças
profundas na economia, maior atenção e investimento deveria ter ido para o sector agrário, o
que não aconteceu. A agricultura é a principal fonte de rendimento, empregando mais de 80%
da população e contribuindo cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) (INE, 2010).

5
Fonte: World Development Indicators (http://data.worldbank.org/country/mozambique.

A reestruturação económica e subsequentemente a adopção do PARPA resultou em elevado


crescimento económico, estimado em cerca de 7.5% por ano no período 2004 à 2010 (INE
2011). No período entre 1993 e 2008, Moçambique registou uma taxa de crescimento médio
anual do PIB de 8.2%, o que corresponde a uma das mais elevadas taxas de crescimento em
África (INE, 2010). Como é de esperar pela elevada proporção da população que o sector
emprega, a economia moçambicana está estreitamente ligada ao desempenho da agricultura.
Mas como a agricultura moçambicana é maioritariamente de sequeiro, a economia está
estreitamente ligada as condições climáticas de cada campanha agrícola (veja a variação no
crescimento do PIB, Figura 2).

O sector agrário teve uma taxa de crescimento ainda maior, estimada em 8.4%, mas tal
crescimento deveu-se principalmente a expansão de área de cultivo. O facto de mais de 80%
da população contribuir apenas um quarto do PIB mostra que a produtividade agrícola é
significativamente inferior a produtividade do sector não agrícola. Nesta secção, olhamos para
os desafios associados ao aumento da produtividade agrícola em Moçambique. Também
olhamos para o crescimento dos diversos sectores da economia. Moçambique registou um
elevado crescimento económico nos últimos 20 anos. Espera-se que a medida que um país
cresce economicamente, tanto a proporção da sua população empregue na agricultura assim
como a contribuição percentual do sector agrário no PIB decresçam. Deste modo, é pertinente
analisar a importância da agricultura como fonte de emprego, e a contribuição de cada sector
no PIB.
6
Esta secção analisa o progresso do sector agrário. Primeiro, a importância da agricultura como
fonte de emprego é tratada com maior detalhe. Segundo, far-se-á uma avaliação do progresso
em termos de diversificação de culturas e agro-processamento. Terceiro, será apresentada a
análise do crescimento de vários sectores da economia, e como a contribuição de cada sector
mudou ao longo do tempo. Mas antes de proceder com as análises mais detalhadas, vale a
pena discutir as fontes de dados disponíveis, e porquê a escolha de uma em detrimento de
outra fonte.

1.1.1. PRINCIPAIS DESAFIOS ACTUAIS


Como foi mencionado, Moçambique tem um alto potencial para o desenvolvimento do sector
agrário. Contudo o sector ainda enfrenta muitas limitações que precisam de ser abordadas de
maneira coerente ao longo do documento, e que se encontram a seguir agrupadas:

O aumento da produtividade agrícola afectaria a população Moçambicana através de vários


mecanismos. Primeiro, este pode reduzir a inflação mediante a redução da importação de
produtos agrícolas, que muitas vezes está sujeita ao aumento dos preços dos combustíveis no
mercado internacional (Arndt et al., 2008). Segundo, o aumento da produtividade, aliada a
melhores condições de armazenamento e processamento, pode aumentar a disponibilidade de
alimentos ao longo do ano, melhorando deste modo a segurança alimentar e nutricional das
famílias. Terceiro, combinado com o melhoramento de infra-estruturas de comercialização, o
aumento da produtividade resulta em maiores rendimentos familiares (Cunguara & Darnhofer,
2011). De salientar que o melhoramento de infra-estruturas é um grande desafio neste
processo, principalmente para escoar o excedente agrícola da zona norte do país para as
províncias deficitárias no sul de Moçambique.

Existem vários factores relacionados com a baixa produtividade agrícola, e abaixo passamos a
descrever alguns deles, mas de forma resumida. A discussão detalhada é reservada para as
secções seguintes sobre o progresso de cada pilar e os padrões das despesas públicas. Um dos
factores relacionados com a baixa produtividade é a desproporção na despesa pública alocada
à agricultura, relativamente aos outros sectores da economia.

O segundo factor associado à baixa produtividade agrícola é a fraca infra-estrutura de


estradas. Aquando da independência, Moçambique herdou um país com pobre infra-estrutura
de estradas, e esta foi ainda sabotada pela guerra civil, criando um ambiente desfavorável para

7
o desenvolvimento agrícola (Boughton et al., 2007). Nos últimos anos verifica-se algum
melhoramento de estradas, o que é testemunhado pela redução no tempo necessário para
viajar para as grandes cidades (Figura 6). Em 1997, aproximadamente 23% da população
vivia menos de 3 horas de uma cidade de mais de 50,000 habitantes, comparados com 40%
em 2007.

O terceiro factor relacionado à baixa produtividade é a saúde. Em Moçambique, o fraco


acesso da maioria da população aos serviços de saúde, aliado a altas taxas de fertilidade e
consequentemente elevadas taxas de dependência estão associados a baixa produtividade e a
elevados níveis de pobreza (Datt et al., 2000). O último trimestre do ano (Setembro a
Dezembro) constitui a época de menor disponibilidade alimentar, quando as reservas da
campanha anterior começam a escassear (Handa & Mlay, 2006). Por um lado, este é um
período pico em termos de operações agrícolas tais como a lavoura, sementeira e sacha. Um
estado nutricional debilitado devido a fome significa que algumas dessas operações agrícolas
podem, algumas vezes, ser efectuadas tardiamente, o que reduz a produtividade e produção
agrícola. Por outro lado, o período de Setembro a Dezembro coincide com a maior incidência
de casos de malária (Abellana, 2008), o que significa que, não só os camponeses vivem uma
crise fome neste período, mas também a incapacidade física (devido a malária) que é elevada.

Fraca Produtividade E Produção


O sector agrário em Moçambique caracteriza-se por uma baixa produção e um baixo
rendimento das culturas alimentares e das actividades pecuárias. A baixa produtividade deve-
se a vários factores, dos quais se destacam a baixa disponibilidade e acesso a insumos de
qualidade (sementes melhoradas, fertilizantes, insecticidas,…); insuficiente cobertura dos
serviços de extensão e sua inadequada ligação com os serviços de pesquisa; limitado
aproveitamento da água para a agricultura; infertilidade dos solos; e limitado acesso a crédito.

Limitadas infra-estruturas e serviços para aceder ao mercado


O sector familiar em Moçambique enfrenta graves problemas de acesso ao mercado. Os
elevados custos de transacção (elevadas margens entre o preço pago ao produtor e o preço de
mercado da produção do sector familiar, e entre o preço de importação dos insumos e o preço

8
destes ao consumidor) desincentivam a participação do sector familiar no mercado. Para
reduzir estes custos é necessário melhorar a rede rodoviária e as infra-estruturas de mercado.

Inadequada utilização dos recursos naturais


A utilização dos recursos naturais (terra, solos, água e florestas) de maneira sustentável é
essencial para o desenvolvimento da agricultura.

No que respeita à posse da terra, é necessário assegurar os direitos legalmente reconhecidos


da comunidade e dos beneficiários à terra e aos recursos naturais; melhorar o uso e
aproveitamento da terra com potencial para o desenvolvimento da agricultura, silvicultura e
pastorícia; e aumentar a área de terra com forma de posse reconhecida legalmente.

A degradação dos solos pela erosão, a redução da fertilidade natural, e o aumento da


salinização dos solos nas zonas costeiras são problemas que estão a ter um impacto muito
negativo no desenvolvimento do sector agrário.

1.2. A ESTRUTURA DE SISTEMAS AGRÁRIOS NOS PAÍSES EM


DESENVOLVIMENTO
A caracterização do sistema agrário de um país, região, município ou localidade rural é
geralmente realizada através da utilização de uma metodologia fundamentada em conceitos
elaborados a partir do enfoque sistêmico. A utilização dessa metodologia para caracterizar
uma determinada realidade justifica-se na medida em que os conceitos trabalhados nessa
metodologia podem explicar os mecanismos internos que orientam e condicionam o contexto
agrário dessa realidade. Nesse sentido, é preciso prestar atenção, pois esses mecanismos
internos, muitas vezes, dependem das propriedades dos elementos constitutivos (base), mas,
sobretudo, de suas inter-relações.

Para observar e analisar a propriedade rural como um sistema, implica considerá-la em um


conjunto, isto é, as inter-relações existentes entre seus elementos, para depois analisá-la em
suas partes. Procura-se conhecer o geral (por exemplo, a região em que estão localizadas as
propriedades rurais que queremos estudar) para melhor compreender o particular (por
exemplo, uma localidade rural ou até mesmo uma propriedade agrícola familiar).

9
De um modo geral, sistema é como um conjunto de elementos em interação dinâmica,
organizado em função de um objetivo (Lima et al., 1995). Aplicando-se essa definição, a
realidade é bastante complexa, pois ela é composta por categorias (atores) sociais que mantêm
relações entre si, como por exemplo: pequenos agricultores familiares (tradicionais e
assentados via reforma agrária), agricultores capitalistas (fazendeiros, estancieiros),
arrendatários, empregados assalariados, diaristas, atravessadores. Também não podemos
esquecer as organizações presentes no meio rural como, por exemplo, agroindústrias,
instituições financeiras, comércio local, setor público, organizações da sociedade civil, etc. É
nesse universo social que ocorrem as ações e reações que afetam direta ou indiretamente o
meio ambiente, a sociedade e a economia (INCRA/FAO, 1999).

Os factores humanos e naturais que conduzem as diferentes formas de trabalho com a terra
para a produção agrícola.

Os principais tipos de sistemas agrários nos países em desenvolvimento são:

 Agricultura tradicional;
 Agricultura moderna.

Este tipo de agricultura pratica-se em várias regiões do mundo como: nos países da África,
América latina e do sul e sudeste da Ásia onde o nível tecnológico e científico é muito baixo.

Características

1. É muito dependente das condições naturais (chuvas)


2. Pratica-se muitas vezes em explorações de pequenas dimensões.
3. É uma agricultura de subsistência esta é destinada ao consumo familiar.
4. Utiliza instrumentos agrícolas rudimentares (enxada, machado)
5. O trabalho é essencialmente manual recorrendo aos animais como forca de tração.
6. Pratica-se a policultura.
7. Usa adubação natural baseando nos restos de plantas e animais.
8. Apresenta baixo rendimento e baixa produtividade.
9. Pratica-se em exploração de tipo familiar ou trial.
10. Apresenta baixo volume de produção.

10
1.3. A ECONOMIA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA
A agricultura compõe o setor primário da economia, tornando-se uma prática primordial para
o desenvolvimento das sociedades.

A agricultura é uma prática econômica que consiste no uso dos solos para cultivo de vegetais
a fim de garantir a subsistência alimentar do ser humano, bem como produzir matérias-primas
que são transformadas em produtos secundários em outros campos da atividade econômica.
Trata-se de uma das formas principais de transformação do espaço geográfico, sendo uma das
mais antigas práticas realizadas na história.

A história da agricultura sugere que essa prática existe há mais de 12 mil anos, tendo sido
desenvolvida durante o período Neolítico, sendo um dos processos constitutivos das primeiras
civilizações, uma vez que todos os agrupamentos humanos já encontrados praticavam algum
tipo de manejo e cultivo dos solos.

Em tempos pretéritos, a humanidade era essencialmente nômade. Com o passar do tempo,


foram sendo desenvolvidas as primeiras técnicas de cultivo, elaboradas a partir do momento
em que o homem percebeu que algumas sementes, quando plantadas, germinavam e que
animais poderiam ser domesticados. Com isso, observou-se um lento processo de
sedentarização das práticas humanas, fruto das novas técnicas sobre o uso e apropriação do
meio natural. Nascia a agricultura e, com ela, desenvolviam-se as primeiras civilizações.

Portanto, podemos perceber que o meio rural sempre foi a atividade econômica mais
importante para a constituição e manutenção das sociedades. Quando as técnicas agrícolas
permitiam a existência de um excedente na produção, iniciavam-se as primeiras trocas
comerciais. Assim, é possível concluir que, inicialmente, todas as práticas rurais e urbanas
subordinavam-se ao campo.

No entanto, com o advento da industrialização e da modernidade, essa concepção foi


gradativamente se alterando. Cada vez menos as cidades dependiam do campo e cada vez
mais o campo dependia das cidades. As práticas agrícolas, mais modernas, mecanizaram-se e
passaram a depender das indústrias para o desenvolvimento do meio técnico.

Com o passar das três revoluções industriais, a prática da agricultura atual fundamenta-se em
procedimentos avançados, que denotam uma nova característica para o espaço geográfico,
classificado como meio técnico-científico informacional. Hoje, existem técnicas avançadas
em manejo dos solos, máquinas e colheitadeiras que realizam o trabalho de dezenas ou até

11
centenas de trabalhadores em uma velocidade maior, além de avanços propiciados pelo
desenvolvimento da biotecnologia. Isso significa que as práticas agrícolas cada vez mais se
subordinam à ciência e à produção de conhecimento.

Mas é importante salientar que não há somente técnicas modernas sobre o meio rural.
Podemos dizer que os diferentes tipos de avanços coexistem no espaço rural, embora as
grandes e mais desenvolvidas propriedades ocupem a maior parte do espaço. Existem
sistemas agrícolas modernos ao mesmo tempo em que existem formas de cultivos
tradicionais, como a agricultura orgânica, a itinerante e a de jardinagem.

A importância da agricultura é, assim, indiscutível, pois é a partir dela que se produzem os


alimentos e os produtos primários utilizados pelas indústrias, pelo comércio e pelo setor de
serviços, tornando-se a base para a manutenção da economia mundial.

Economia de desenvolvimento Agrícola em Moçambique


Moçambique tem sido um dos países da África com maior desempenho económico nos
últimos anos. O sector agrário é um pilar da economia nacional. Em 2010 contribuiu com
23% para o Produto Interno Bruto (INE). Para além disso, a agricultura emprega 90% da força
laboral feminina do país e 70% da força laboral masculina. Isto significa que 80% da
população activa do país está empregue no sector agrário.

A taxa de crescimento da agricultura para o PIB tem variado entre 5% e 11% (vide Figura 1
que mostra a evolução das taxa de crescimento do PIB e da taxa de crescimento da
contribuição do sector agrário para o PIB).

12
12 11.6

10.4
10

8.7
8.4
8.2
Crescimento Anual (%)

8 7.9 7.9
7.6
7.3
6.9
6.7
6.5
6
6
5.2 5.1

0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 Média
Ano

PIB PIBAg CAADP

Figura 1. Taxa de Crescimento da contribuição do sector agrário para o PIB. Fonte: INE.

Embora a contribuição média da agricultura para o PIB tenha diminuído nos últimos anos, isto
não significa necessariamente uma transformação estrutural do sector económico, mas deve-
se sobretudo à entrada em funcionamento de mega projectos como a MOZAL, o gás de Pande
e de Temane, e as areias pesadas de Moma. As contas nacionais (INE) indicam que a
contribuição do sector agrário para o PIB tem vindo a crescer.

As variações na taxa de crescimento do sector agrário reflectem sobretudo os efeitos das


variações climáticas, em particular as variações de pluviosidade de uma campanha para outra,
uma vez que mais de 98% das explorações agrícolas praticam agricultura de sequeiro. As
exportações agrícolas perfazem apenas 20% do total de exportações, uma cifra baixa se
olharmos para o potencial do sector. Apesar do considerável crescimento da produção
agrícola nos últimos anos, o país continua a ser um importador líquido de produtos agrícolas.

1.4. POLÍTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA


O termo político agrícola se refere a um conjunto de práticas que visam amparar e direcionar
o setor referente a economia rural e as atividades agropecuárias. Mais especificamente,
quando se fala em políticas agrícolas está se fazendo uma menção às políticas estatais que
promovem pesquisas no âmbito da agricultura e pecuária, facilidade no acesso a instrumentos
agrícolas, garantia de preços mínimos justos para os produtos destinado a esse tipo de
produção, assistência de crédito e implantação de medidas que buscam uma harmonia entre o
segmento agropecuário e o setor da indústria nacional. De maneira geral, a política agrícola
13
pode ser entendida como ações governamentais que por meio do estabelecimento,
modificação ou eliminação de leis promovam o estímulo ou desestímulo à produção rural.1

A Política Agrária e Estratégia de Implementação (PAEI) do Governo de Moçambique


promulgada em 1996, está ainda vigente. Constitui declaração da PAEI: “Desenvolver a
actividade agrária com vista a alcançar a segurança alimentar, através da produção
diversificada de produtos para o consumo, fornecimento à indústria nacional e para a
exportação, tendo como base a utilização sustentável dos recursos naturais e a garantia da
equidade social”. A PAEI enquadra a actividade agrária nos objectivos de desenvolvimento
económico de Moçambique em 4 áreas principais visando: 1) segurança alimentar; 2)
desenvolvimento económico sustentável; 3) redução das taxas de desemprego; e 4) redução
dos níveis de pobreza absoluta. Segundo a PAEI, a expansão da capacidade de produção e
melhoria da produtividade agrária depende de estratégias adequadas em relação aos seguintes
objectivos:

 Acesso à terra, planeamento e desenvolvimento do seu uso e aproveitamento;


 Produção de alimentos para atingir auto-suficiência e segurança alimentar;
 Produção para exportação contribuindo para o equilíbrio da balança de pagamentos;
 Reestruturação das empresas do sector agrário;
 Desenvolvimento de serviços eficientes de formação profissional, investigação e
extensão;
 Protecção de plantas e animais; e
 Desenvolvimento de infra-estruturas.

Para se alcançar a Visão do PEDSA (Plano Estratégico para o desenvolvimento do sector


agrário 2011-2020) deverão ser observados os seguintes princípios orientadores:

 Actuação ao longo da cadeia de valor, no Modelo de Agro-indústria.


 Abordagens diferenciadas a cada tipo de exploração.
 Parcerias Público Privadas - Existem várias oportunidades para uma intervenção
conjunta Governo/Sector Privado para melhorar a eficiência e reduzir custos ao longo
das cadeias de valor, aumentando assim as margens disponíveis.

1
SILVA, Iliane Jesuina da. Estado e agricultura no primeiro governo Vargas (1930-1945). 2010. 261 p. Tese
(doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia, Campinas, SP.
14
 Gestão sustentável de recursos naturais, de acordo com objectivos de desenvolvimento
económico, social e ambiental, com base em planos de maneio que equilibrem os
interesses comunitários, públicos e privados.
 Equilíbrio regional, para o qual a agricultura contribui através da criação de
oportunidades de desenvolvimento das potencialidades de cada local.
 Potenciado o papel da mulher nas actividades agrárias, contribuindo para um
desenvolvimento social e rural integrado e equitativo.
 Inovações tecnológicas e difusão de novas tecnologias para o aumento da produção e
produtividade, apoiadas por sistemas de formação dos produtores para aumentar as
suas capacidades de escolha, absorção e adaptação de tecnologia.
 Decisões baseadas em evidências assentes no uso de informação agrária e de sistemas
estatísticos harmonizados e produzidos com métodos universalmente aceites.
 Colaboração entre o sector público e todos os outros sectores envolvidos no
desenvolvimento do sector agrário, incluindo parcerias público-privadas, para
melhorar a eficiência e reduzir custos ao longo das cadeias de valor.

CONCLUSÃO
Desde o desenvolvimento das primeiras civilizações, a agricultura vem passando por
sucessivas transformações em suas formas, sobretudo com a evolução dos instrumentos e os
diferentes usos de suas técnicas. São as técnicas que propiciam as diferenciações ao longo do
espaço agrário e possibilitam a sua configuração e reconfiguração em diferentes formas com o
passar do tempo.

O crescimento agrícola depende de investimentos substanciais no sector. Um exemplo de tais


investimento é na área de agro-indústria (Benfica et al., 2002; Cunguara, Langyintuo &
Darnhofer, 2011). Porém, o impacto da agro-indústria pode variar de uma região ou província
para a outra. Um estudo relevante poderia procurar estimar o impacto de investimentos em
agro-indústria com base em características específicas de cada província, e o seu potencial
impacto directo e indirecto na redução da pobreza.

Este trabalho aborda o ponto da situação do sector agrário, com o objectivo de informar ao
CAADP sobre o progresso da agricultura, constrangimentos e oportunidades para o

15
crescimento agrário. O trabalho baseia-se em revisão bibliográfica de várias obras sobre a
agricultura moçambicana. A insistência na agricultura como uma força motriz na redução da
pobreza deve-se à importância do sector agrário no que concerne ao emprego, contribuição
para o PIB e o seu papel como uma das principais estratégias de sobrevivência no meio rural.
O acesso as actividades não agrícola é limitado pelo baixo nível educacional que caracteriza o
meio rural moçambicano.

BIBLIOGRAFIA
Arndt, C., James, R., and Simler, K. (2006) Has Economic Growth in Mozambique been
ProPoor?. Journal of African Economies, 15(4): 571-602.

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http://www.acismoz.com/wp-content/uploads/2017/06/Sector%20Agrario%20em
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MOSCA, João. 2010. Políticas Agrárias de(em) Moçambique (1975-2009). Escolar Editores.
Lisboa.

http://www.iese.ac.mz/lib/PPI/IESE-PPI/pastas/governacao/agricultura/
artigos_cientificos_imprensa/IMPACTOPOLITICA.pdf;

16
https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/agricultura.htm

https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/108970/1/v20n197.pdf.

INE (Instituto Nacional de Estatísticas) (2006) Inquérito Integrado à Força de Trabalho


(IFTRAB 2004/05). Maputo: Instituto Nacional de Estatísticas.

INE (Instituto Nacional de Estatísticas) (2010) Estatísticas de Moçambique. Maputo: Instituto


Nacional de Estatísticas.

MINAG, 2005. Estratégia de Género no Sector Agrário. Maputo: Ministério da Agricultura.

PEDSA (Plano Estratégico para o desenvolvimento do sector agrário) 2011-2020. Aprovado


na V Sessão do Conselho e Ministros, Maio de 2011.

PENA, Rodolfo F. Alves. "Agrossistemas"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/geografia/agrossistemas.htm. Acesso em 25 de agosto de 2021.

SILVA, Iliane Jesuina da. Estado e agricultura no primeiro governo Vargas (1930-1945).
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia, Campinas,
SP. 2010. 261 p.

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