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Tópico 10 - Agregados Macroeconômicos

Introdução

A Macroeconomia estuda os grandes processos da Economia nacional como um todo. Ela observa
as variáveis econômicas (oferta, demanda, preços, etc.) em termos agregados, ou seja, abrangendo
todos os agentes econômicos na escala de todo o território do país. Por isso, costuma-se falar nos
agregados macroeconômicos, que são as variáveis mais abrangentes da Economia. Produção,
emprego e desemprego, nível de preços e inflação, participação do Governo na economia,
exportações, importações, entrada e saída de capitais, taxa de câmbio: esses são os principais
aspectos abordados por esta subdivisão das Ciências Econômicas.

Existem inúmeras formas de se medir o desempenho de uma economia. Uma das maneiras mais
comum consiste em calcular o valor total de todos os bens e serviços produzidos pelo país. A
atividade produtiva, porém, requer a utilização de fatores produtivos - terra, trabalho, capital - que
devem ser remunerados quando utilizados. A totalidade dessa remuneração, que representa salários,
lucros, juros e aluguéis, também pode ser considerada um indicador de desempenho econômico.
Podemos ainda listar uma série de variáveis, como a poupança agregada, o nível de investimento do
país (também conhecido como formação bruta de capital fixo), saldo de transações do país com o
resto do mundo etc. Esses e outros conceitos macroeconômicos são mensurados a partir das Contas
Nacionais do país. A Contabilidade Nacional (ou Contabilidade Social, como preferem alguns) tem
como objetivo mensurar a totalidade das transações econômicas do país.

A Macroeconomia surgiu como ramo específico dos estudos econômicos a partir da obra do grande
economista John Maynard Keynes: a “Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, publicada
em 1936. Na qual se desenvolve a maior parte dos agregados macroeconômicos que são objeto de
estudo na Macroeconomia. Essa obra revolucionou as concepções tradicionais da Teoria
Econômica. A mensuração desses agregados, objetivo da Contabilidade Nacional, no entanto, teve
grande avanço a partir dos anos 40, tendo como referência os trabalhos de Simon Kuznets, Richard
Stone e Wassily W. Leontief.

O desenvolvimento dessas técnicas de mensuração tem contribuído de forma decisiva para a análise
macroeconômica, tornando possíveis testes empíricos e análises quantitativas ou mesmo
qualitativas mais próximas da realidade.

A principal corrente de ideias econômicas na época era a chamada escola neoclássica, surgida nos
fins do século XIX. Havia economistas críticos dessa escola – a começar pelos marxistas, mas
incluindo alguns outros economistas independentes –, porém o predomínio dos neoclássicos na
Ciência Econômica, nas universidades dos países avançados e entre os políticos e empresários, era
incontestável. Keynes apoiou-se na maioria das concepções básicas dos neoclássicos (e na
ortodoxia em geral), mas introduziu modificações fundamentais e criou uma maneira nova de
pensar nos problemas macroeconômicos.

O objetivo principal da obra keynesiana era explicar como era possível a existência de desemprego
em massa nas economias capitalistas desenvolvidas. Esse fato manifestou-se com a Grande
Depressão de 1929 e durou quase toda a década de 1930. A teoria neoclássica não tinha explicações
para o problema e propunha soluções que, na época, eram disparatadas. Keynes abordou a questão
de um novo ângulo e ofereceu respostas mais efetivas para enfrentar a situação. Suas sugestões
acabaram incorporadas ao corpo principal da Teoria Econômica e, nas três décadas seguintes à
Segunda Guerra Mundial (1939-45), tornaram-se o receituário comum nos países avançados.

Posto isto, apresentamos neste tópico os sistemas de contabilização dos agregados


macroeconômicos, quais sejam, os Sistemas de Contas Nacionais.

A Contabilidade Nacional

O estudo da Macroeconomia apoia-se no registro estatístico dos principais fluxos da produção e da


renda. Este registro (denominado Contabilidade Nacional) segue normas e princípios definidos,
cada vez mais uniformizados em escala internacional. A partir do impulso dado pela teoria
keynesiana, os países desenvolvidos e, a seguir, todos os países que se empenhavam na busca do
desenvolvimento econômico em moldes capitalistas, passaram a sistematizar esses registros na
segunda metade do século XX.

Os conceitos de Produto, Renda e Despesa Agregados representam importantes medidas de


desempenho econômico e bem estar da sociedade. O domínio desses conceitos constitui-se em um
pré-requisito para o entendimento adequado dos modelos macroeconômicos.

Produto Agregado (ou oferta agregada) é a soma de todos os valores de bens e serviços finais
produzidos na economia durante determinado período de tempo.

Nessa definição, três observações são necessárias. Em primeiro lugar, dada a impossibilidade de
somar quantidades de uma vasta variedade de bens e serviços, o produto de um país é calculado em
unidades monetárias. A segunda observação diz respeito ao caráter temporal da produção agregada.
Considerando que a atividade produtiva representa um fluxo que se processa ao longo do tempo, o
produto é medido em determinado período de tempo, geralmente durante o ano civil 1. Por último,
devemos incluir no cálculo do produto apenas bens e serviços finais para não incorrermos no erro
de dupla contagem, pois os bens finais incorporam os insumos intermediários, como matérias-
primas e componentes. Temos então:

Produto Agregado (Y) = soma do valor dos bens e serviço finais

Existe um procedimento alternativo para se contabilizar o produto, que não pela soma direta dos
bens e serviços finais produzidos. Tal procedimento consiste em contabilizar o produto por meio do
chamado valor adicionado, definido como o valor que foi, em cada etapa produtiva, acrescido ou
adicionado ao valor dos bens intermediários.

Suponhamos que nossa economia produza um único bem final, pão, por exemplo. Entretanto, para
produzir o pão são necessários trigo e farinha. Suponhamos ainda que o agricultor retire o trigo da
natureza sem nenhum custo com insumos. Assim, ele adiciona o valor de 10 reais e vende o trigo
para uma empresa processadora que transforma o trigo em farinha. Ao final desse processo, a
empresa adiciona um valor de 5 reais sobre o preço do trigo e vende a farinha para a padaria a 15
reais. A padaria, por sua vez, ao transformar o trigo em pão, adiciona um valor de 5 reais sobre o
valor da farinha e, portanto, vende o pão a 20 reais. Isto é, o produto dessa economia é igual a 20
reais. Representado a seguir:

Produto Intermediários Valor adicionado Valor do produto


Trigo 0 10 10
Farinha 10 5 15
Pão 15 5 20
Total 25 20 45

1
Ano civil é o período de 12 meses que corresponde a 365 dias do ano, contados a partir de 1 de Janeiro a 31 de
Dezembro.
Assim, o valor do Produto Agregado dessa economia é 20, que corresponde à produção do único
bem final dessa economia. Esse bem final já tem incorporado o valor dos produtos intermediários.

Valor do pão: 20 = 10 do trigo + 5 adicionado pela farinha + 5 adicionado pelo pão.

Esse valor pode também ser encontrado somando-se o valor adicionado em cada etapa do processo
produtivo.

Assim, há três maneiras de computar o valor total da produção de bens e serviços finais:

1) Somando diretamente o valor dos bens e serviços finais;


2) Somando o valor total da produção das empresas e descontando o valor total dos bens
intermediários; ou fazendo este procedimento passo-a-passo, isto é,
3) Calculando o valor de cada etapa do processo produtivo e descontando o que as empresas
pagaram aos fornecedores da etapa anterior (p. ex., matérias-primas) – esse procedimento é
chamado de cálculo pelo Valor Adicionado.

Outro importante conceito é o de Renda Agregada, que representa a remuneração dos fatores de
produção na economia. São os salários (remuneração do fator trabalho), juros (remuneração do
capital monetário), lucros (remuneração do risco incorrido pelo empresário) e aluguéis
(remuneração do proprietário do capital físico). Temos, então:

Renda Agregada (RA) = salários + juros + aluguéis + lucros (realizadas em um determinado


período de tempo).

Por último, temos o conceito de Despesa ou Demanda Agregada, que representa as compras de
bens e serviços finais.

Despesa Agregada (DA) = soma do valor de todas as compras de bens e serviços finais realizadas
em um determinado período de tempo.

Considerando uma economia hipotética, que seja fechada (isto é, sem relações com o exterior), sem
a presença do governo, e que produza apenas bens de consumo, a despesa agregada é dada por:

DA = C

onde: DA é a despesa agregada e C é a aquisição de bens de consumo pelas famílias (ou


simplesmente Consumo Agregado).

Fluxo Circular da Renda

Hipóteses:

1) Não existe governo (ausência de tributação ou subsídios);


2) Dois agentes básicos: famílias e empresas;
3) As empresas não produzem bens intermediários nem formam estoques;
4) As famílias gastam tudo o que recebem (não existe poupança);
5) Não existe comércio internacional.
Em uma economia capitalista, os agentes se relacionam economicamente por meio dos mercados.
Assim, temos dois mercados básicos:
1) Mercado de fatores: é o local onde são realizadas as transações de fatores de produção. As
famílias são proprietária da força de trabalho, da terra, dos recursos naturais, das máquinas,
equipamentos e edificações etc., que serão utilizados pelas empresas no processo de
produção; portanto, a compra desses fatores de produção pelas empresas é realizada no
mercado de fatores.
2) Mercado de produtos: é o local onde são realizadas as transações de bens e serviços finais.
As empresas são proprietárias dos bens finais adquiridos pelas famílias; portanto, a compra
de bens finais pelas famílias é realizada no mercado de produtos.

Assim, nesse fluxo simplificado:

1) As empresas, ao receberem os fatores de produção (trabalho, capital, recursos naturais),


pagam as famílias uma remuneração (salários, juros, lucros, aluguéis) pela utilização dos
mesmos, isto é, pagam uma RENDA.
2) As empresas, combinando estes fatores de produção, criam um conjunto de bens e serviços,
o PRODUTO, que será vendido às unidades familiares.
3) As famílias, ao adquirirem este produto realizam uma DESPESA.
Observando apenas pelo fluxo real, as famílias participam no mercado de fatores ofertando seus
fatores produtivos (trabalho, capital, recursos naturais, etc.) que serão adquiridos pelas empresas.
As empresas ao adquirirem esses fatores produtivos e utilizarem em seus processos de produção,
geram um conjunto de bens e serviços finais, isto é, geram um PRODUTO que será ofertado as
famílias no mercado de bens e serviços finais.

Observando apenas pelo fluxo monetário, as empresas ao comprarem os fatores produtivos das
famílias, pagam uma remuneração, isto é, uma RENDA. Essa renda será utilizada na compra de
bens e serviços finais pelas famílias, que ao realizarem essa compra estarão realizando uma
DESPESA.

As empresas ao receberem esse valor monetário, reinicia todo o processo.

Figura 1: Fluxo Circular da Renda, do Produto e da Despesa.

Mercado de Fatores
de Produção
Famílias Fluxo Real

Fluxo Monetário
Famílias Empresas

Mercado de Produtos

Assim, ao produzir os bens e serviços a serem fornecidas às famílias, as empresas utilizam os


fatores de produção fornecidos por essas famílias. Ao serem utilizados, os fatores são remunerados,
permitindo às famílias auferirem uma renda que é, inicialmente, destinada a aquisição dos bens e
serviços produzidos pelas empresas. Com base nesse fluxo, podemos estabelecer a identidade
macroeconômica básica:

Produto Agregado ≡ Despesa Agregada ≡ Renda Agregada

(valor da produção final) (despesa com o produto) (salários + lucros + juros + aluguéis)

Investimento Agregado

Até então, estamos trabalhando com uma economia simplificada, que só produz bens de consumo.
Contudo, as empresas produzem também bens de capital ou bens de investimento. Investimento é a
aquisição de bens de produção ou bens de capital que visa aumentar a capacidade produtiva da
economia e, portanto, a oferta de produtos no período seguinte. O investimento possui uma
importância fundamental na teoria macroeconômica, porque representa o fator-chave para o
crescimento e o desenvolvimento econômico.

Duas observações quanto ao conceito:

1) Deve ser observado que o Investimento Agregado é um conceito que envolve produtos
físicos. Assim, investir em ações, por exemplo, não é um investimento no sentido
econômico. Trata-se de uma transferência financeira, que não aumentou a capacidade
produtiva da economia. Agora, quando a empresa utiliza esse recurso ou parte dele para a
compra de equipamentos, por exemplo, temos um investimento no sentido macroeconômico
(a compra do equipamento, não a transação na Bolsa).
2) Uma segunda observação é que o investimento em ativos de segunda mão (máquinas e
equipamentos, imóveis) não entra no Investimento Agregado, pois, no fundo, é uma
transferência de ativos que se compensa: alguém “desinvestiu”. Esse bem já foi computado
como investimento no passado. Assim, se determinado empresário comprar essas máquinas
e equipamentos ou uma fábrica já existente, este não será considerado investimento, por que
não está ampliando a capacidade produtiva do país (e já foi computado nas contas
nacionais).
Por outro lado, se nenhum empresário comprar essa fábrica, mas ao invés disso comprar bens de
capital novos que gera o mesmo nível de produção da fábrica que fechou as portas, a capacidade
produtiva da economia aumenta. Isso ocorre pelo simples fato da capacidade produtiva da empresa
falida está disponível, embora não esteja sendo utilizada. Nesse caso, a economia estaria operando
com capacidade produtiva ociosa. Portanto, apenas investimento novo é considerado como
investimento de fato.
O investimento é composto pelo investimento em bens de capital2 (máquinas e imóveis) e pela
variação de estoques de produtos que não foram consumidos. Portanto:

IB = Investimento em Bens de Capital + Variação de Estoques

Formação de Capital Fixo: são bens que não desaparecem depois de uma única utilização.
Variação de estoques: são bens cujo consumo ou absorção futuros irão ocorrer uma única vez, ou
seja, contribuem apenas uma vez para aumentar a capacidade de oferta da economia.
2
Os bens de capital são chamados, nas Contas Nacionais, de Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF).
Suponha, por exemplo, que uma empresa produza certa quantidade de pães. Parte desses pães é
vendida para consumo e parte é destinada a formação de estoque. Em outras palavras, dado o
estoque inicial, dizemos que ocorreu a variação de estoques. Portanto, essa variação dos estoques
também é contabilizada como investimento.

Assim, por convenção, também denominamos Investimento o aumento dos estoques das empresas
(por analogia, a redução de estoques é um desinvestimento ou investimento negativo). Assim,
quando uma empresa realiza determinado volume de produção do qual apenas uma parte será
vendida, o restante (novo estoque) passa a ser considerado na Teoria Econômica como Investimento
– neste caso, um aumento na capacidade de consumo futuro.

Por outro lado, para se produzir esses pães é necessário fornos (máquinas). Estes, diferente dos
pães, não serão consumidos totalmente no período seguinte, mas será utilizado várias vezes até que
sejam substituídas por máquinas novas. Constituindo-se, assim, em investimento de capital fixo.

Mas, os fornos se desgastam ao longo do tempo. Esse desgaste natural do capital fixo é conhecido
como depreciação.

Assim, ao considerarmos o investimento no “modelo econômico”, podemos introduzir um novo


conceito: a depreciação. Os bens de capital não são, em geral, consumidos em um único período,
mas ao longo de vários períodos.

Depreciação: é a parcela dos bens de capital que é consumida a cada período produtivo, ou seja, é o
valor da parcela de máquinas e equipamentos desgastados pelo processo produtivo no período
anterior.

Desse modo, nem toda a produção de bens de capital corresponde a um novo investimento. Uma
parcela dessa produção destina-se a repor o que foi depreciado. Podemos então diferenciar o
Investimento Bruto (IB) do Investimento Líquido (IL), sendo que:

IL = IB – depreciação

A depreciação pode ser entendida tanto como o desgaste dos bens de capital que estão sendo
utilizados pelas empresas como os bens de capital que estão disponíveis, mas não estão sendo
utilizados no processo produtivo (dentre estes, os das empresas que estão em processo de falência e
que ainda não encontrou um comprador).

Poupança Agregada

Suponhamos também que as famílias não consomem toda sua renda. Parte é poupada. Poupança
Agregada é a parcela da Renda Agregada não consumida em um dado período. Podemos considerar
que a renda não consumida (a poupança) materializa-se na aquisição de títulos do sistema
financeiro. As empresas, ao emitirem tais títulos, tomam empréstimos no sistema financeiro, que
são recursos usados para financiar seus investimentos. Os recursos assim adquiridos pelas empresas
nada mais são do que a poupança realizada pelas famílias.

Sendo S = RA – C, podemos então obter as seguintes relações:

RA = C + S
DA = C + I
onde: RA = Renda Agregada; S é a Poupança Agregada; I o Investimento Agregado
A primeira relação mostra os destinos que as famílias dão à renda e a segunda, o destino que é dado
aos produtos gerados por esta economia.

De acordo com a identidade macroeconômica básica (produto = renda = despesa), temos que RA =
DA e, consequentemente:

C+S=C+I
S≡I

Ou seja, a poupança se iguala aos investimentos.

Esse modelo ainda está muito simplificado, pois não inclui nem o setor público nem o setor externo.
Notemos também que, à medida que tornamos mais complexa a economia ao incluir novos agentes
e variáveis, fica cada vez mais difícil e menos didático desenhar o fluxo circular da renda (imagine
a quantidade de setas quando incluímos governo, sistema financeiro, setor externo etc.). No entanto,
esse complexo fluxo que surge, à medida que nos aproximamos da realidade, é de extrema
importância para a compreensão dos modelos macroeconômicos. Contabilidade Nacional, por meio
do Sistema de Contas Nacionais, apresenta-se como importante alternativa ao fluxo circular da
renda. Vamos seguir introduzindo o governo e o setor externo no modelo apresentado.

Governo

O governo está presente em inúmeras atividades da economia, seja ofertando e consumindo bens e
serviços, seja regulamentando mercados. Por governo entendemos apenas as funções típicas do
Estado: administração direta, judiciário, legislativo, provisão de segurança nacional etc., que
dependem de dotação orçamentária. As empresas estatais, que oferecem bens e serviços no
mercado, cobrando um preço ou tarifa, não são diferenciadas na Contabilidade Nacional das
empresas privadas.

Assim, o governo tem por função prover os chamados “bens públicos” com recursos que provêm da
arrecadação de impostos3.

Podemos classificar os impostos arrecadados pelo governo em duas categorias:

i) Impostos diretos, que incidem diretamente sobre a renda (remuneração) gerada na


utilização dos fatores de produção, como o imposto de renda ou mesmo o IPTU e o
Imposto Territorial Rural, que incidem sobre a propriedade de certos fatores de
produção, e acabam representando uma dedução dos rendimentos destes fatores;
ii) Impostos indiretos, que incidem sobre as vendas dos bens e serviços e, assim,
indiretamente, significando uma dedução da renda das famílias, como o ICMS e o IPI.

Ao incluirmos o governo, estamos criando um novo destino para a renda das famílias que agora,
além de servir para o consumo e para a poupança, deve ser também destinada ao pagamento de
impostos (T), isto é:

RA = C + S + T

Além disso, devemos considerar os gastos públicos (G),4 que representam a aquisição de bens e

3
Entende-se por bens públicos aqueles bens que não podem ser providos pelo mecanismo de mercado, como justiça,
segurança nacional etc.
4
Na Contabilidade Social, diferenciam-se os conceitos de gastos do governo, que representa as despesas correntes
serviços pelo governo. Neste caso, a despesa agregada pode ser reescrita como:

DA = C + I + G

Sendo a Renda Agregada igual à Despesa Agregada (RA = DA) temos que:

S+T=I+G

Rearranjando os termos dessa última equação, temos que:

T–G ≡I–S

ou seja, sempre que houver déficit público, isto é, quando o governo gastar mais do que arrecada (G
> T), deverá ocorrer um excesso de poupança do setor privado para financiar o excesso de gasto do
governo, isto é, S > I, de modo que as contas públicas fiquem equilibradas (=0).

Renda Pessoal Disponível

O Consumo é um componente fundamental do PIB na ótica da despesa. As famílias consomem de


acordo com sua renda, o que significa que variações na Renda Nacional afetam o Consumo
agregado e, portanto, o PIB. O conceito fundamental, nesse caso, é a Renda Pessoal Disponível
(RPD), que mede a parcela da Renda Nacional que fica efetivamente com as pessoas.

Para chegar à RPD, partimos da Renda Real (PIB real) e deduzimos todas as parcelas não
distribuídas às famílias: os Lucros Retidos pelas empresas (não distribuídos aos acionistas); os
Impostos Diretos e as Contribuições Previdenciárias, FGTS e assemelhados, pagos pelas empresas.
Por outro lado, acrescentamos os pagamentos de transferências reais do governo ao setor
privado (aposentadorias e pensões, seguro-desemprego, bolsas, pagamento de juros da dívida
pública, etc.). Chegamos, assim, à Renda Pessoal Disponível (RPD). Assim, a RPD será igual:

RPD = RA – T + R

Onde T é a arrecadação do governo e R as transferências reais do governo ao setor privado.

Setor Externo

O Resto do Mundo são todos os agentes (famílias, empresas e governos) de outros países, também
chamados não residentes, que transacionam com os residentes do país.

Podemos dividir as transações com o exterior em duas categorias. A primeira representa as


realizadas com bens e serviços. São as exportações que correspondem à venda de parte de nossa
produção para o exterior e que constituem um elemento de demanda por produção interna; e as
importações que são aquisições de produção realizada em outros países.

A introdução do Resto do Mundo traz algumas alterações nas identidades macroeconômicas vistas
até agora. Sendo a despesa/demanda agregada igual ao produto/oferta agregada, então: Y = DA. No
entanto, a despesa não ocorre apenas com bens internos, mas também com bens importados. Do
mesmo modo, a oferta também é realizada por importações, além da produção doméstica. Assim, o
produto total (= produção/oferta interna (Y) + produção/oferta externa (M)) passa a incluir as
importações (M). A despesa agregada (DA) passa agora a incluir as despesas externas, ou seja, as

(custeio) e de capital da Administração Direta, e de gastos com transferências, que não se constituem em pagamentos da
atividade produtiva corrente, como bolsas de estudo, pagamentos de aposentadoria, pagamentos a ex-pracinhas etc.
exportações (X). Temos então:

Y + M (oferta interna + externa) = C + I + G + X (demanda interna + externa)

Por questões práticas, os agregados C, I, G e X, não excluem os componentes importados. Por


exemplo, no dispêndio total com Coca-Cola, parte é valor importado na forma de matérias-primas
não produzidas no país e sim no exterior, logo não faz parte da renda/produto nacional. Da mesma
forma, acontece com os demais dispêndios. Assim, podemos escrever o Produto agregado (Y)
nacional como:

Y (oferta interna) = C + I + G + X – M (demanda interna + demanda externa)

Essa é a principal expressão da macroeconomia.

Com a introdução do setor externo, temos as seguintes identidades:

RA = C + S + T

Que mostra como as famílias utilizam a renda Y que recebem (consumindo, poupando, pagando
impostos), ou seja, pela ótica da utilização da renda.

Temos também:

Y=C+I+G+X–M

Que revela como o produto é gasto, ou seja, pela ótica da distribuição das despesas, com base nos
agentes macroeconômicos: consumidores, governo e setor externo.

Igualando as duas identidades anteriores, temos:

C+I+G+X–M=C+S+T
I+G+X–M=S+T
(T – G) = (S – I) + (T – G)

Assim:

(T – G) = (S – I) + (X – M)
setor público (ou governo) setor privado setor externo

Nesta equação, vemos que o déficit público acaba sendo financiado pela poupança privada e/ou pela
poupança externa. Ou seja, o setor privado torna-se credor do governo (dívida pública interna) e o
setor externo torna-se credor do país (dívida externa, que pode ser pública e/ou privada).

O termo X – M também é chamado de balança comercial5. Assim, quando:

1) Se X – M = 0, isto significa que o saldo da balança comercial (SBC) está em equilíbrio.


2) Se X – M < 0, isto significa que o saldo da balança comercial está em déficit, sendo
necessário realizar empréstimos a outros países que tenham superavit nas contas externas.
3) Se X – M > 0, isto significa que o saldo da balança comercial apresenta um superávit, de
modo que esse país pode ser credor de países que se encontram em situação oposta.
5
O termo ( X - M ) , ainda também é chamado de exportações líquidos do setor externo, ou ainda transferências
líquidas de recursos ao exterior.
A segunda categoria de transações (RLEE) são as realizadas com fatores de produção. As empresas
sediadas no país podem utilizar trabalho e capital vindo do resto do mundo que devem ser
remunerados. Tal remuneração representa envio de renda para o exterior (REE), na forma de juros da
dívida externa, remessa de lucros, pagamentos de royalties e assistência técnica. Também pode
haver empresas de residentes que vendem trabalho e capital para entidades situadas no exterior, e
que recebem renda por essa venda (RRE). Renda líquida enviada ao exterior (RLEE) é a diferença
entre o que é pago por fatores de produção externos utilizados internamente (REE) e o que é
recebido do exterior por fatores de produção nacionais empregados em outros países (RRE). Isto é:

RLEE = REE – RRE

Assim, se RLEE > 0, o país envia mais renda do que recebe do exterior. Se RLEE < 0, o país recebe
mais renda do que envia.

Produto Nacional Bruto (PNB) e Produto Interno Bruto (PIB)

Ao incluirmos o setor externo, temos mais duas medidas de produto: Produto Interno Bruto (PIB) e
Produto Nacional Bruto (PNB). O Produto Interno Bruto diz respeito à produção cuja renda é
gerada dentro dos limites do território do país, seja ela de residentes ou não. Já o Produto Nacional
Bruto refere-se à produção cuja renda é de propriedade dos residentes do país, independentemente
se essa renda foi gerada em outro país. Assim, quando nos referimos ao Produto Interno Bruto,
estamos incluindo a Renda Líquida Enviada ao Exterior. O Produto Nacional Bruto representa a
diferença entre o Produto Interno Bruto e a Renda Líquida Enviada ao Exterior. Temos, assim, a
seguinte relação:

PIB = PNB + RLEE


PNB = PIB – RLEE

Ou

PIB = PNB + (REE – RRE)


PNB = PIB – (REE – RRE)

Parte da produção de uma economia num determinado período pode ter sido obtida com a utilização
de fatores de produção, cuja propriedade é de não-residentes no país (como capital físico, capital
monetário e tecnologia). Portanto, mesmo que a renda gerada por esses fatores de produção tenha
ocorrido dentro do país, ela não pode ser considerada do país, ou seja, não pode ser considerada
nacional, uma vez que deve ser enviada aos proprietários desses fatores que estão fora do país em
questão.

Do mesmo modo, fatores de produção de residentes podem estar sendo utilizados na produção e
geração de renda em outros países, criando-se assim o direito de a economia em questão receber
essa renda. Portanto, do ponto de vista agregada o que importa é o saldo líquido dessas operações.

Se o país envia mais renda líquida ao exterior do que recebe, num determinado período, significa
que esse país utilizou mais fatores de produção estrangeiro (de não-residentes) do que seus fatores
de produção foram utilizados por outros países.

Nesse caso, seu produto (ou renda) interno vai apresentar um valor maior do que seu produto (ou
renda) nacional.
PIB > PNB

Exemplo: PNB = 100 e a RLEE = 10

PIB = 100 + 10 = 110 então o PIB > PNB

Por outro lado, se o país recebe liquidamente renda do exterior, seu produto (ou renda) interno será
menor que seu produto (ou renda) nacional.

PIB < PNB

Exemplo: PNB = 100 e a RLEE = - 10

PIB = 100 - 10 = 90 então o PIB < PNB

Geralmente, os países mais avançados (mais desenvolvidos) encontram-se na segunda opção,


enquanto os países menos desenvolvidos encontram-se na primeira.

Os países desenvolvidos possuem maior disponibilidade de capital e encontram-se à frente dos


processos de inovação tecnológica. Assim, a possibilidade deles serem exportadores líquidos de
serviços e fatores (e, portanto, de receber renda líquida do exterior) é muito maior do que serem
importadores líquidos (ou seja, de enviar renda líquida ao exterior). O inverso ocorre com os países
menos desenvolvidos.

Portanto, podemos definir o PNB como sendo toda renda de propriedade dos residentes do país. E o
PIB, como a produção cuja renda é gerada dentro do território do país.

Produto Nacional e Interno Bruto Líquido

Como vimos, os bens de capital fazem parte do Produto (Nacional ou Interno). São bens finais
comprados por empresas, não por famílias. No entanto, uma parte desses bens irá apenas repor
aqueles equipamentos e máquinas que se desgastaram com o uso, ou seja, depreciaram-se. Assim, o
investimento realizado com o propósito de repor essa depreciação não se traduz na ampliação da
capacidade produtiva do país. Portanto, se descontarmos a depreciação, então o Produto estará
computando, além dos bens de consumo e serviços, apenas o acréscimo líquido de bens de capital –
ou seja, o incremento da capacidade de produção dessa economia. Desse modo, podemos agora
apresentar dois conceitos de produto: o Produto Nacional Líquido (PNL) e o Produto Interno
Líquido (PIL), que excluem a depreciação:

PNL = PNB – Depreciação


PIL = PIB – Depreciação

Produto a Preços de Mercado e Produto a Custo de Fatores

Com a introdução do governo, podemos chegar a dois outros conceitos de produto: o Produto a
custo de fatores (Pcf) e o Produto a preço de mercado (Ppm).

Os impostos indiretos, pois, estão embutidos no preço dos bens. Assim, tais impostos fazem com
que o preço de mercado de determinado bem seja maior do que seu custo de produção. Em outras
palavras, a existência dos impostos indiretos faz com que nem toda a receita proveniente da venda
da mercadoria vá para a remuneração dos fatores envolvidos no processo produtivo dessa
mercadoria. Por outro lado, alguns bens, costumam receber subsídios, isto é, o pagamento pelo
governo de parte dos custos de produção, fazendo com que o preço de venda seja menor do que a
remuneração dos fatores (salários, juros, aluguéis e lucros). Nesse sentido, o subsídio pode ser
considerado um imposto indireto negativo.

Quando incluímos, no cálculo do produto, os impostos indiretos e subtraímos os subsídios, estamos


trabalhando com o conceito de preço de mercado, que é o preço final pago pelo consumidor.
Quando excluímos os impostos indiretos e incluímos os subsídios, temos o conceito de custo de
fatores, isto é, o produto medido com base na soma dos salários, juros, aluguéis e lucros. Assim,
temos a seguinte relação:

PNBpm = PNBcf + impostos indiretos – subsídios


PNBcf = PNBpm – impostos indiretos + subsídios

Valores Nominais e Valores Reais

• Valores Nominais – valores medidos em preços do ano corrente. Diz-se nesta situação que
é medida a preços correntes, porque foi valorizada a preços correntes dos respectivos anos
analisados.
• Valores Reais – valores medidos em preços de determinado ano, permitindo a comparação
com a mesma variável noutros períodos de tempo. Diz-se nesta situação que é medida a
preços constantes, porque foi valorizada a preços constantes de um ano base.
• A diferença entre os valores nominais e reais deve-se à inflação que houve em determinado
período de tempo.
• Porque é importante diferenciar valores nominais de valores reais na contabilidade do
produto?
• Suponha por exemplo, que o PIB nominal em 2010 tenha sido de R$ 1 bilhão e que o PIB
nominal em 2013 tenha sido de R$ 2 bilhões.
• Então o PIB da economia cresceu 100% nesse período. Mas quanto desse crescimento é
derivado do aumento das quantidades e quanto é derivado do aumento de preços?
• Assim, para separar o efeito de preços do efeito quantidade sobre o PIB, é necessário retirar
a inflação dos valores correntes. Em outras palavras, é necessário transformar o PIB nominal
em PIB real. E isto é feito através do deflacionamento dos dados.

Para realizar o deflacionamento dos dados, precisamos utilizar um índice de preços. Considere o
Índice de preços de Laspeyres (IP) que é dado por:

  ( pi qb ) 
IP   100
  ( pb qb ) 

Onde IP é o índice de preços, pi é o preço do ano i; qb é a quantidade do ano base e pb é o preço do


ano base:

O deflacionamente dos dados pode ser realizado em quatro passos:

1) Calcular o valor de cada bem em cada ano.


2) Calcular o PIB nominal em cada ano.
3) Observar o ano base (que é dado) e calcular o índice de preços (nesse caso, considere o
índice de Laspeyres) para cada ano.
4) Encontrado o PIB nominal e o índice de preços, basta dividir o primeiro pelo segundo (e
multiplicar por 100) para encontrar o PIB real.
Para entender, considere uma economia com apenas três produtos (bens finais) com seus
respectivos valores para os anos conforme demonstrado na tabela abaixo. Utilizando o ano 0 (zero)
como base, calcule o índice de preços para cada ano e em seguida calcule o PIB real.

Produtos Ano 0 Ano 1 Ano 2


Bens finais Quantidade Preço Valor Quantidade Preço Valor Quantidade Preço Valor
1 22 12 264 20 18 360 18 20 360
2 43 8 344 40 15 600 36 12 432
3 35 20 700 32 25 800 34 22 748
PIB Nominal - - 1308 - - 1760 - - 1540

O valor é calculado através da multiplicação do preço com a quantidade. E o PIB nominal é a soma
de todos os valores dos bens e/ou serviços finais.

Seguindo os quatro passos, encontramos as seguintes respostas.

Tabela de resultados
Ano (a) Índice de PIB Nominal Taxa de (b) PIB real (c)
Preços (ano base crescimento (R$) Crescimento
= ano 0 = 100) do PIB real do PIB
nominal (%)
0 100,00 1308,00 - 1308,00 -
1 146,48 1760,00 34,56 1201,53 -8,14%
2 131,96 1540,00 -12,50 1167,02 -2,87%

Cálculo dos índices de preços para os anos 0, 1 e 2.

 12(22)  8(43)  20(35) 


IP0   100
 12(22)  8(43)  20(35) 
 1308 
IP0   100
 1308 
IP0  100

Então, no ano base, o valor do índice sempre será igual a 100. Calculando para os demais anos.
Levando em consideração que o denominador já foi calculado, sendo igual a 1308 R$, basta
calcular apenas o numerador da equação. Fazendo isso, temos:

 18(22)  15(43)  25(35)   20(22)  12(43)  22(35) 


IP1   100 IP2   100
 1308   1308 
 396  645  875   440  516  770 
IP1   100 IP2   100
 1308   1308 
 1916   1726 
IP1   100  146,48 IP2   100  131,96
 1308   1308 
Cálculo do PIB real para os anos 0, 1 e 2.

 (1308   (1760 
PIB real0   100  1308 PIB real1   100  1201,53
 100   146,48 

 (1540 
PIB real2   100  1167,02
 131,96 

Cálculo das taxas de crescimento do PIB nomina para os anos 1 e 2.

 (1760  1308 
Crescimento PIB nominal1   100  34,56%
 1308 

 (1540  1760 
Crescimento PIB nominal2   100  12,5%
 1766 

Cálculo das taxas de crescimento do PIB real para os anos 1 e 2.

 (1201,53  1308 
Crescimento PIB real1   100  8,14%
 1308 

 (1167,02  1201,53 
Crescimento PIB real2   100  2,87%
 1201,53 

FÓRMULAS UTILIZADAS

Índice de Laspeyres

  ( pi qb ) 
IP   100
  ( pb qb ) 

Deflacionar qualquer variável (nosso caso, transformar o PIB nominal em PIB real):

PIB real = PIB nominal (ano x) / índice de preços (ou deflator) (ano x)

Taxa de crescimento para qualquer variável (nosso caso, o PIB nominal e real):

 ( PIBt  PIBt 1 
Taxa de crescimento PIB nominal ou Realt   100
 PIBt 1 

Onde PIBt é o PIB do ano que se deseja calcular a taxa de crescimento do PIB nominal/real; PIBt-1 é
o PIB nominal/real do ano imediatamente anterior.

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