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Lino Adelino Mouzinho Tapahi

As Despesas Públicas Moçambicanas & Dívidas Públicas vs Dívidas Ocultas

Licenciatura em História Política e Gestão Pública

Universidade Pedagógica de Maputo

Maio 2022
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Lino Adelino Mouzinho Tapahi

3º Ano, HIPOGEP – Pós-Laboral

As Despesas Públicas Moçambicanas e Dívidas Públicas vs Dívidas Ocultas

Trabalho de Pesquisa a ser entregue na disciplina de


Finanças Públicas e Autárquicas para âmbito de
avaliação.

Docente: Dr. Fáuzio Fernandes

Universidade Pedagógica de Maputo

Maio 2022
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Índice

1. Introdução.................................................................................................................. 3

2. As despesas públicas Moçambicanas ........................................................................ 4

2.1. Estágios ou Fases da realização da despesa pública .............................................. 4

2.2. Normas e Procedimentos para realização das despesas públicas .......................... 5

2.3. Crescimento das despesas públicas ....................................................................... 5

3. Dívidas Públicas e Dívidas Ocultas .......................................................................... 7

3.1. Empresas envolvidas nas dívidas ocultas .............................................................. 8

3.1.1. EMATUM, SA – Empresa Moçambicana de Atum, Sociedade Anónima ........ 8

3.2. Impacto das Dívidas Ocultas ............................................................................... 11

4. Conclusão ................................................................................................................ 13

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 14


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1. Introdução

Nos termos do n.º 1 do artigo 15 da Lei n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro, que cria o
Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE), a Despesa Pública é todo o
dispêndio, pelo Estado, de recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua
proveniência ou natureza, com ressalva daqueles em que o beneficiário se encontra
obrigado à sua reposição.

O presente trabalho pretende analisar a questão das despesas públicas moçambicanas


bem como da questão das dívidas (públicas e ocultas). De forma específica, o trabalho
vai descrever todos os componentes e tudo que acontece nas despesas públicas e,
explicar como é que uma dívida passa de pública para oculta.

No que diz respeito à metodologia usada para a realização deste trabalho, há que
salientar que se usou a técnica de pesquisa bibliográfica baseada na navegação em
websites na busca de informações constantes no desenvolvimento do mesmo. O método
analítico-sintético ajudou na análise e sintetização do que foi lido nos materiais
pesquisados.

Finalmente, o presente trabalho apresenta a presente estrutura: (i) Introdução; (ii) As


despesas públicas moçambicanas; (iii) Dívidas Públicas vs Dívidas Ocultas; (iv)
Conclusões e Referências Bibliográficas.
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2. As despesas públicas Moçambicanas

De acordo com o Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2015


apresentados pelo Tribunal Administrativo, a Despesa Pública é o dispêndio, pelo
Estado, de recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua proveniência ou
natureza, com ressalva daquelas em que o beneficiário se encontra obrigado à reposição
dos mesmos.

O mesmo é afirmado nos termos do n.º 1 do artigo 15 da Lei n.º 9/2002, de 12 de


Fevereiro, que cria o Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE), onde
refere que a Despesa Pública é todo o dispêndio, pelo Estado, de recursos monetários ou
em espécie, seja qual for a sua proveniência ou natureza, com ressalva daqueles em que
o beneficiário se encontra obrigado à sua reposição.

De acordo com o n.º 2 do artigo acima indicado, constituem condições para a assunção
e realização da despesa, que ela seja legal, se encontre devidamente inscrita no
Orçamento do Estado aprovado, tenha cabimento na correspondente verba orçamental e
seja justificada quanto à sua economicidade, eficiência e eficácia.

A execução do Orçamento do Estado compete aos órgãos ou instituições que integram o


Subsistema da Contabilidade Pública, segundo dispõe a alínea c) do artigo 37 da mesma
lei.

De acordo com ANDRADE (2002:57) citado por JOÃO (2010), a contabilidade pública
só permite realizar despesas que estejam previamente autorizadas, por isso, além da
necessidade explícita, os órgãos fiscalizadores forçam os administradores dos recursos
públicos a planearem o seu orçamento o mais próximo possível da realidade, ou seja,
formalizar em relatórios, com estimativas de receitas e fixação das despesas, a fim de
cumprirem esse ditame legal.

2.1. Estágios ou Fases da realização da despesa pública

Segundo ANDRADE (2002:96) citado por JOÃO (2010) os estágios caracterizam


importantes funções da Administração Pública e devem ser adoptados com o objectivo
não só de assegurar a qualidade das operações, em termos de eficiência e eficácia, como
também para resguardar a administração de possíveis erros, fraudes ou desvios, de
modo a garantir transparência e fiabilidade dos actos dos dirigentes públicos.
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Segundo o nº 1 do artigo 30 da Lei nº 09/2002, de 12 de Fevereiro, a realização das


despesas compreende as três fases seguintes:

 Cabimento: acto administrativo de verificação, registo e cativo do valor do


encargo a assumir pelo Estado;
 Liquidação: apuramento do valor que efectivamente há a pagar e a emissão da
competente ordem de pagamento;
 Pagamento: entrega da importância em dinheiro ao titular do documento das
despesas.

2.2. Normas e Procedimentos para realização das despesas públicas

Segundo a Lei nº 09/2002, de 12 de Fevereiro, as normas a observar para a realização


das despesas públicas são as seguintes:

 Inscrever a despesa: a despesa tem que constar da relação de pagamentos e tem


que possuir uma origem;
 Legalidade da despesa: a despesa tem que possuir um enquadramento legal, ou
seja, é autorizada pela lei;
 Cabimento orçamental: a despesa tem que ter um orçamento para suportá-la;
 Liquidez: devem existir fundos para pagar a despesa.

Segundo o Relatório do TA (2015), na execução da Despesa são levados em conta os


Regulamentos do SISTAFE e da Contratação de Empreitada de Obras Públicas,
Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado e o Manual de Administração
Financeira e Procedimentos Contabilísticos (MAF).

Fazem ainda parte da legislação atinente à execução da despesa as Instruções de


Execução Obrigatória do Tribunal Administrativo, de 29 de Dezembro de 2008 e, por
último, as Instruções sobre a Execução do Orçamento do Estado, emitidas pela Direcção
Nacional de Contabilidade Pública, em 31 de Outubro de 2000.

2.3. Crescimento das despesas públicas

Segundo estudos feitos pelo economista Adolph Wagner verificou que quando a
produção percapita aumenta, as actividades do Estado e seus gastos aumentam em
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proporções maiores que o produto. Para explicar a lei de expansão das despesas
públicas, Wagner recorreu a três argumentos principais:

 Expansão das funções do governo relacionadas com a administração e segurança


devido a substituição das actividades privadas pelas públicas;

 Crescente necessidade de uma participação mais intensa do Estado nas funções


de protecção e legislação de forma a acompanhar o crescimento populacional e
urbanístico bem como a crescente complexidade da divisão de trabalho advinda do
processo de industrialização;

 Aumento da demanda em educação, recreação, cultura, saúde e serviços de bem-


estar em resultado do crescimento da renda (elasticidade renda da demanda).

Mourão (2004), reconhece a existência de outras determinantes da evolução das


despesas públicas para além das determinantes meramente económicas, podendo
considerar-se factores condicionantes e sociais. Dentre os condicionantes Musgrave,
cita os demográficos e as mudanças tecnológicas como sendo as que mais que afectam a
despesa pública. As alterações no volume absoluto bem como na estrutura etária da
população, são altamente influentes no montante das despesas públicas.

Nos últimos anos, nota-se que, em Moçambique, as despesas públicas aumentaram


devido à crise econômica provocada pelas dívidas insustentáveis que tiveram garantias
soberanas que fizeram com que o país sobrevivesse a custo próprio, isto é, através das
receitas internas. Assim, a crise gerada pelas dívidas ocultas fez com que haja o
aumento do custo de vida, a depreciação do metical face ao dólar norte americano,
cessação do apoio externo no orçamento do estado bem como o crescimento das
despesas públicas porque os materiais passaram a custar mais caros do que
anteriormente.
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3. Dívidas Públicas e Dívidas Ocultas

Os empréstimos são necessários quer para cobrir despesas inesperadas ou perdas de


receitas, como doenças ou de colheitas arruinadas, ou seja, é comum há milénios. O
capitalismo baseia-se em empréstimos para o investimento produtivo, como para uma
peça de maquinaria ou sistema de irrigação que produzirão maior receita para pagar o
empréstimo inicial. A maioria das grandes empresas e muitos países crescem com
dinheiro emprestado (Hanlon, 2012). De acordo com Louçã e Mortágua (2012, p.33),
“as dívidas são tão antigas como a relação económica entre as pessoas e a negociação e
cancelamento das dívidas. A dívida existe, portanto, desde os tempos imemoriais e
sempre foi mais do que o resultado de negociações entre dois camponeses, ou deles com
um comerciante”.

O Estado tem como responsabilidade definir orientações para garantir o bem-estar e


prosperidade da sua população (José, 2019). Através de políticas orçamentais e com o
surgimento do Estado Social no século XX, o investimento público é cada vez mais
recorrente e o endividamento público ganha relevância como instrumento financeiro
(José, 2019). No entanto, o endividamento público pode ter consequências diferentes.
Enquanto a dívida externa pode aumentar o acesso de um país aos recursos, a dívida
interna apenas transfere recursos dentro do país. Ou seja, quando um governo toma
dinheiro emprestado dos seus próprios cidadãos, vendendo títulos ou instrumentos de
crédito de longo prazo, é criada uma dívida interna. Como os bancos centrais dos países
em desenvolvimento não podem imprimir a moeda forte necessária para pagar a dívida
externa, o endividamento externo geralmente está associado a vulnerabilidades que
podem levar a crises de dívida (Panizza, 2008).

Com o alcance de níveis de Dívida Pública considerados sustentáveis, devido o alívio


da dívida referente aos programas do HIPC e do MADRI, fez com que tenha sido criado
condições no espaço fiscal que, em parte, foi usado para contração de nova dívida. Em
2015, a dívida estava avaliada em cerca de US$ 11,6 mil milhões, o que representava
um aumento de quase duas vezes e meia em quatro anos. Ou seja, o crescimento médio
anual da dívida foi a uma taxa quase três vezes e meia superior à taxa média anual de
crescimento do PIB corrente entre 2011 e 2015. Consequentemente, a dívida passou de
cerca de 37% para 76% do PIB, rácio aproximado ao de 2005, um ano antes de o país
beneficiar do MDRI.
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Moçambique teve um aumento da dívida interna “gigante” no montante de US$ 270


milhões para cerca de US$ 1,8 mil milhões entre os anos de 2006 e 2015 que representa
quase cerca de 200% de aumento da dívida interna. A dívida externa cresceu de US$ 3,2
mil milhões para cerca de US$ 10 mil milhões que representa quase um aumento de 500%.
O stock da dívida aumentou tendo consequências no crescimento exponencial da divida
interna e externa.

Além do aumento tanto da dívida interna e externa, a divida pública moçambicana teve um
aumento em cerca de 80% resultado de empréstimos a credores externos.

Por sua vez, o serviço da dívida externa acompanhou a evolução da Dívida Pública, de
2006 a 2010 o serviço da dívida praticamente decresceu. Mas a partir de 2011 o serviço
da dívida quase triplicou, de cerca de US$ 60 milhões para cerca de US$ 170 milhões
em 2014, estimando-se que em 2015 tenha atingido cerca de US$ 500 milhões (Banco
de Moçambique, vários anos apud Massarongo & Chichava, 2018).

Entre os anos de 2006 e 2015, retirando a dívida oculta, a dívida pública total
moçambicana foi dos US$ 3,5 mil milhões para mais de US$ 10 mil milhões, ou seja,
triplicou, tendo como consequência o aumento da dívida comercial de 300 milhões para
2,4 mil milhões de US$, fazendo com que a dívida pública representasse 34% do PIB
(Castel-Branco e Massarongo, 2016).

3.1. Empresas envolvidas nas dívidas ocultas

3.1.1. EMATUM, SA – Empresa Moçambicana de Atum, Sociedade Anónima

A EMATUM foi constituída por escritura pública de 2 de Agosto de 2013, sob forma de
sociedade anônima, com registo inicial no BR nº 71, III Série de 5 de Setembro de 2013,
registo actualizado no BR nº 111, III Série, de 16 de Setembro de 2016, regida pelo
Código Comercial, cujo capital é de 15 milhões de meticais, divididos em 15 mil
acções, com valor nominal de mil meticais cada, e cada sócio limita a sua
responsabilidade ao valor das acções subscritas. Assim sendo, são sócios da EMATUM:

 IGEPE – Instituto de Gestão das Participações do Estado com 5.100 acções,


equivalentes a 34% do capital total;
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 EMOPESCA – Empresa Moçambicana de Pesca, S.A., com 4950 acções,


equivalentes a 33% do capital total;

 GIPS – Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada, com 4950


acções, equivalentes a 33% do capital total.

A EMATUM tem sua sede na Cidade de Maputo, Avenida Amilcar Cabral nº 1512,
sendo de âmbito nacional.

A EMATUM tem como objecto realizar, entre outras, as seguintes actividades:

 actividade pesqueira do atum e de outros recursos pesqueiros, incluindo a pesca,


recepção, processamento, armazenamento, manuseamento, transito, comercialização,
importação e exportação desses produtos.

3.1.2. PROINDICUS, SA

A PROINDICUS foi constituída por escritura pública, como sociedade anónima, com
registo publicado no BR nº 2, III Série, 2º Suplemento, de 8 de Janeiro de 2013, regida
também por regras do Código Comercial, cujo capital subscrito e realizado é de 15
milhões de meticais, representado por 15 mil acções, com valor nominal de mil meticais
cada. São acionistas desta sociedade:

 MONTE BINGA, SA, sociedade anônima constituída em Dezembro de 2007,


com documentos constitutivos do registo publicados no BR sido despachados de forma
conjunto dos Ministros da Defesa Nacional e das Finanças o que levam a concluir que
se trata de uma sociedade anónima detida exclusivamente pelo Estado.

 GIPS – Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada, com 4950


acções, equivalentes a 33% do capital total.

A PROINDICUS tem como objecto social, entre outras finalidades:

 Concepção, financiamento, implementação e gestão de sistemas integrados de


segurança aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre;

 Consultoria, procurement, e fornecimento de equipamentos e acessórios;

 Prestação de serviços na área de segurança de infraestruturas;


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 Prestação de serviços na área de navegação aérea, espacial, marítima, lacustre,


fluvial e terrestre.

3.1.3. MAM – Mozambique Asset Management, SA

A MAM é uma sociedade anónima, constituída sob normas de Código Comercial, com
registo publicado no BR nº 29, III Série, Suplemento, de 10 de Abril de 2014, com sede
na Cidade de Maputo, exercendo as suas actividades em todo o território nacional. O
capital da sociedade integralmente subscrito e realizado é de 30 milhões de meticais,
representado por 30 mil acções de valor nominal de mil meticais cada uma. Esta
sociedade tem a seguinte estrutura societária:

 GIPS – Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada, com 98%


das acções do capital total;

 EMATUM – Empresa Moçambicana de Atum, constituída, por escritura pública,


possuindo uma participação de 1% de acções;

 PROINDICUS – com uma participação de 1% das acções.

A MAM, SA tem como finalidade, entre outras:

 prestação de serviços multiformes na área petrolífera, mineira, portuária e ferro-


portuária, incluindo a exploração, representação, comercialização, agenciamento,
importação e exportação.

As três empresas (EMAMTUM, PROINDICUS e MAM) são pertencentes ao sector


empresarial do Estado com direito privado e com uma estrutura societária
exclusivamente pública.

Os empréstimos concedidos às três empresas não foram concedidos ao Estado pelo


regime jurídico que regula a organização e funcionamento dessas sociedades
comerciais.

Para que as empresas fossem elegíveis para o credito era exigível que o Estado desse os
seus avales ou garantias de que em caso de inadimplemento ou atraso no pagamento das
prestações, este (Estado) faria pagamento no lugar dos devedores.
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Deste modo as três empresas e projectos foram vinculados, sendo que o director
executivo (CEO) de todas as três empresas é o administrador do SISE, António Carlos
do Rosário, neste momento nas mãos da justiça que julga 19 arguidos envolvidos nesse
escândalo financeiro. A Privinvest (foi responsável pela pelo fornecimento dos 24
navios de pesca e seis navio patrulha e fornecimento de equipamento para a EMATUM,
MAM e Proindicus) é o principal contratante nos contratos marítimos de Moçambique
(Hanlon, 2017a).

O problema inicial, assim como tinha acontecido uma década antes com os fundos de
desenvolvimento distrital de “7 milhões”, foi ter mantido em segredo dos doadores e do
FMI (Hanlon, 2017a). Mas os “7 milhões” tinham sido pelo menos uma única linha de
orçamento; isto (dívida ocultas) era muito mais grave porque não tinha sido incluído no
orçamento do Estado e as garantias não tinham sido aprovadas pelo parlamento. Em
meados de 2016, quando os detalhes dos três projetos ainda não tinham sido divulgados,
informações disponíveis sugeriram que os empréstimos tornaram-se num “guarda-
chuva” para compras substanciais de equipamento militar (Hanlon, 2017a). E houve
acusações de que os preços, por exemplo dos barcos de pesca, foram inflacionados para
permitir comissões para várias partes do acordo (Africa Confidential, 2016).

Foi assim que Moçambique mergulhou-se numa crise econômica que foi sentida por
todos os moçambicanos, principalmente os da baixa renda, com produtos da primeira
necessidade a disparar de preços e o país perdeu a confiança da FMI e o Banco Mundial
que cortaram o seu apoio directo ao orçamento do estado.

3.2. Impacto das Dívidas Ocultas

As consequências macroeconômicas das dividas ocultas e dos outros factores analisados


na actual conjuntura crítica são:

 Uma redução da taxa de crescimento projectada de 8% (2015) para 3,3%,


registada actualmente.
 Uma queda na ajuda externa, como percentagem do orçamento anual total, de
40% em 2013 para 25% em meados de 2016. Só no período de 2014/2015, houve uma
redução de 25%, em relação ao fluxo de ajuda externa de 2014. O congelamento do
apoio do FMI a Moçambique e do apoio orçamental dos PAP deixou um “buraco” de
400 milhões de USD.
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 A depreciação do valor da moeda nacional, o Metical (MZN), em relação ao


Rand sul-africano e ao USD, entre o final de Maio de 2015 e 2016, tendo desvalorizado
68,6% em relação ao USD. Isto implicou automaticamente um aumento do rácio dívida
externa/PIB, bem como um impacto negativo na conta corrente, já que as importações
de bens essenciais cotados em USD, incluindo alimentos, custaram pelo menos mais
70% do que nos anos anteriores, conduzindo a uma saída de RIL.
 O peso sobre as reservas de divisas e os preços de importação mais elevados,
levaram a um aumento da inflação de 2% (em Abril de 2014), para ligeiramente abaixo
de 20% (em Abril de 2016), tornando os alimentos básicos cada vez menos acessíveis as
camadas mais pobres da sociedade.
 A drástica redução das RIL, de 2,6 mil milhões de USD (em Julho de 2015) para
1,8 mil milhões (em Janeiro de 2016), diminuiu a capacidade de importação do país e
colocou o orçamento sob pressão, uma vez que as receitas médias anuais das
exportações também diminuíram 10% entre 2013 e 2016.
 Uma queda substancial do IDE entre 2013 e 2015, de 40% – ou 600 milhões de
USD, correspondendo a menos de 30% do rácio IDE/PIB. Entre 2013 e 2016, a
diminuição media anual das entradas de IDE foi de 26,6%.
 Uma queda significativa das despesas e receitas do governo, a partir de 2014.
 Uma crise socioeconômica generalizada, que leva a um aumento do
encerramento de empresas e do desemprego.

No inicio de 2017, cessou pelo menos a depreciação do MZN em relação as moedas


estrangeiras, bem como a saída dramática de RIL, devido as taxas de juros crescentes do
BM e a imposição de restrições a saída de divisas e a importação de bens não essenciais.
No entanto, foram causados danos “invisíveis” aos actores econômicos e a sociedade
em geral, que expressaram cada vez mais um voto de “desconfiança” na capacidade de
gestão econômica do governo.

O impacto está sendo ultrapassado gradualmente, visto que, com a detenção do Manuel
Chang em Dezembro de 2018 na África do Sul a pedido da justiça norte americana, e a
detenção de 19 arguidos acusados de lesar o Estado Moçambicano por terem se
beneficiado dos montantes das dívidas ocultas, o FMI anunciou recentemente a retoma
do financiamento ao orçamento do estado com mais de US $ 3800 milhões bem como o
Banco Mundial. Portanto, isso quer dizer que se esperam bons dias, daqui para frente.
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4. Conclusão

O presente trabalho pretendia analisar a questão das despesas públicas moçambicanas


bem como da questão das dívidas (públicas e ocultas). De forma específica, o trabalho
descreveu todos os componentes e tudo que acontece nas despesas públicas e, explicou
como é que uma dívida passa de pública para oculta.

Após a realização deste trabalho, foi possível concluir que:

 A Despesa Pública é o dispêndio, pelo Estado, de recursos monetários ou em


espécie, seja qual for a sua proveniência ou natureza, com ressalva daquelas em que o
beneficiário se encontra obrigado à reposição dos mesmos.
 Constituem condições para a assunção e realização da despesa, que ela seja
legal, se encontre devidamente inscrita no Orçamento do Estado aprovado, tenha
cabimento na correspondente verba orçamental e seja justificada quanto à sua
economicidade, eficiência e eficácia.
 Em Moçambique, as despesas públicas aumentaram devido à crise econômica
provocada pelas dívidas insustentáveis que tiveram garantias soberanas que fizeram
com que o país sobrevivesse a custo próprio, isto é, através das receitas internas.
 Na execução da Despesa são levados em conta os Regulamentos do SISTAFE e
da Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de
Serviços ao Estado e o Manual de Administração Financeira e Procedimentos
Contabilísticos (MAF).
 A dívida pública estava controlada até no momento em que o Estado deu
garantias às dívidas contraídas pelas empresas EMATUM, SA; PROINDICUS, SA;
MAM, SA que estas passaram a ser insustentáveis, pois foram adquiridas de forma
secreta sem a aprovação da Assembleia da República, FMI e Banco Mundial.
 O impacto das dívidas foi a crise que atingiu o pico no ano 2016 e, que
atualmente está sendo controlado pelo governo a partir do momento em que o FMI e o
BM voltam a apoiar directamente o Orçamento Geral do Estado.
 Esperam-se dias melhores na economia moçambicana, embora haja o terrorismo
que, também tenta retardar o desenvolvimento do país através de ataques à zona norte
do país.
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Referências Bibliográficas

Assembleia da República. Relatório Final da Comissão Parlamentar para averiguar a


situação da dívida pública. Maputo, 30 de Novembro de 2016

Banco Mundial. (2016). Atualidade Económica de Moçambique – Enfrentado Escolhas


Difíceis. Maputo.

Castel-Branco, C. & Massarongo, F. (2016). A Dívida Secreta Moçambicana: Impacto


sobre a Estrutura da Dívida e Consequências Económicas. IESE – Instituto de Estudos
Sociais e Económicos. Maputo.

CIP – Centro de Integridade Pública. (2019). Custos e Consequências das Dívidas


Ocultas. Maputo

FMO. (2016). Indignação em relação à crise da Dívida Pública de Moçambique.


Comunicado 22 de Abril de 2016. Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO).
Disponível em «http://www.fmo.org.mz/documentos/INDIGNACAO-SOCIEDADE-
CIVIL-CRISE-DA-DIVIDA.pdf» Acessado a 12 de Maio de 2022. Maputo. PP. 9.

Ferreira, A. J. R. A. (2021). Crise da Dívida Pública em Moçambique: Análise das


Causas e Propostas de Solução. Lisboa: ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa,
Dissertação de Mestrado. Acesso em 12 de Maio de 2022

João, F. A. (2010). Contabilização e Controlo das Despesas Públicas. O Caso da


Direcção da Indústria e Comércio da Cidade de Maputo. Maputo: UEM. Trabalho de
Fim do Curso de Licenciatura em Contabilidade e Finanças. Acesso em 12 de Maio de
2022

KOHAMA, Heilio. (2001). Contabilidade pública: Teoria e Prática. 8ª edição. São


Paulo: Atlas.

MOÇAMBIQUE. Lei n° 09/2002, de 12 de Fevereiro. Maputo.2002.

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