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1.

A Evolução das Teorias da Gestão

As teorias de gestão podem ser definidas por correntes ou abordagens. Cada uma
representa uma maneira específica de encarar a tarefa e as características do Trabalho de
Gestão.

Ao longo de mais de um século, muitos autores deram o seu contributo para identificar
formas eficazes e eficientes de organizar o trabalho e empresas, e tornar os gestores
mais eficazes nas suas funções.

Estes contributos distintos presidem à forma como as empresas actuam e se organizam.


Portanto, são diversas teorias da gestão que podem ser agrupadas em 4 grandes
categorias:

 Perspectiva Estrutural – Abordagem clássica (até o final dos anos 30);


 Perspectiva Humanista – Abordagem comportamental (até anos 50);
 Perspectiva Integrativa – Abordagem pragmática (até os finais dos anos 70).
 Perspectiva Contemporânea (Século XXI)

1.1. Perspectiva Estrutural – Abordagem Clássica

A abordagem clássica das teorias da gestão surge com as primeiras grandes empresas
industriais e estruturas públicas organizadas, num contexto em que as técnicas de
produção se encontravam pouco desenvolvidas e as condições de trabalho eram
precárias. Corresponde a uma perspectiva mecanicista das organizações, como
máquinas desenhadas para atingir objectivos, segundo a qual se pretende aumentar a
eficiência através de regras e procedimentos que se querem científicos e universais.
Tendo a sua visão racional e científica centrada na eficiência das organizações,
destacam-se três vertentes: gestão científica, princípios administrativos e
organização burocrática.

a) Gestão científica (Frederick Taylor, 1856-1915, Eng. Mecânico):

A Gestão Científica permitiu identificar as funções básicas da gestão das organizações e


desenvolveu princípios de orientação de projectos e de criação e gestão de grandes
organizações. Com ênfase nas tarefas, tem o seu principal enfoque na racionalização do
trabalho a nível operacional.
Principais características:

- Definição de normas e standards: cada tarefa é executada com um método


padronizado (one best way).
- Especialização das tarefas e especificação do modo de execução (tempo, custo) –
facilitar a substituição e baixar o custo.
- Os trabalhadores são seleccionados de acordo com as suas capacidades para a(s)
tarefa(s).
- Os trabalhadores são treinados para a(s) tarefa(s).
- O trabalho é planeado para minimizar ou eliminar interrupções.
- São atribuídos incentivos monetários por aumento da produção. Remuneração
em função do desempenho.
b) Princípios Administrativos (Henry Fayol, 1841-1925, Eng. Minas; Mary
Follet, 1868-1933 e Chester Barnard, 1868-1961):

Com Henry Fayol surge uma nova teoria, a dos Princípios Administrativos ou Teoria
Geral da Administração. Tendo uma visão global da empresa, Fayol sistematizou o
comportamento/acção dos gestores sobre a organização como e todo e definiu as
funções básicas da gestão – planeamento, organização, direcção e controlo – e ainda
seis funções organizacionais: técnica (produção de bens e serviços), comercial
(compra, venda e troca), financeira (procura e aplicação de capitais), segurança
(protecção de bens e pessoas), contabilística (informação sobre o desempenho
económico da empresa), administrativa (planeamento, organização, direcção e controlo
– com o objectivo de formular o programa de acção geral da empresa e coordenar
esforços). Fayol estipulou ainda os princípios da função gestão – qualidades físicas,
mentais e morais, formação genérica e específica e experiência – e os princípios da
função administrativa:

i. Divisão do trabalho: especialização do trabalhador.


ii. Responsabilidade dos gestores de acordo com a autoridade formal e informal
de que dispõem.
iii. Regras de disciplina e obediência claramente enunciadas.
iv. Unidade de comando: um subordinado deve receber ordens de um só superior.
v. Unidade de direcção: um grupo de actividades afins deve obedecer a um só
plano formulado por um único indivíduo.
vi. Subordinação do interesse particular ao interesse geral.
vii. Remuneração razoável para o empregado e empregador, em função da
produtividade (essencialmente pagamento à peça).
viii. Adequado nível de centralização das decisões.
ix. Hierarquia: uma única linha de autoridade, comunicação vertical.
x. Ordem: cada coisa em seu lugar e um lugar para cada coisa.
xi. Equidade: os gestores justos conseguem a devoção e a lealdade.
xii. Iniciativa: cabe à gestão inovar e incentivar os empregados à iniciativa.
xiii. Espirito de equipa: a moral elevada é essencial para a unidade da organização.

Para além de Fayol, também Follet e Barnard tiveram um importante papel na defesa da
teoria dos princípios administrativos. Mary Follet revelou a importância das metas e
causas comuns da organização, como meio para reduzir conflitos, conferiu uma maior
importância às pessoas do que às técnicas de engenharia no exercício da liderança e
realçou a importância da ética e da transferência de poder (empowerment) para as
pessoas. Chester Barnard introduziu o conceito de organização informal (cliques,
agrupamentos espontâneos dentro da organização formal) e a teoria da aceitação da
autoridade – as pessoas podem aceitar ou não a autoridade dependendo dos benefícios
ou prejuízos dessa atitude. Tanto Follet como Barnard podem ser considerados
percursores das teorias humanistas.

c) Organizações Burocráticas (Max Weber, 1864-1920, sociólogo, filósofo e


cientista político):

A teoria das organizações burocráticas, ou teoria burocrática, pode ser considerada uma
teoria regulamentarista. Como principal característica distingue-se o exercício do
controlo com base no conhecimento, estabelecendo-se três tipos de autoridade legítima:

- Autoridade racional-legal: legalidade de regras normativas e direitos dos que,


elevados a posições de autoridade, assumem o comando de acordo com essas regras.
- Autoridade tradicional: crença na bondade de tradições imemoriais e na
legitimidade e estatuto daqueles que exercem a autoridade.
- Autoridade carismática: devoção ao carácter, excepcionalidade e/ou heroísmo
de um indivíduo e aos padrões normativos por ele revelados.

Princípios da organização burocrática:


- Natureza da autoridade: capacidade profissional para avaliar códigos
abstractos e racionalizados.
- Procedimentos: exercício impessoal apoiado em regras e procedimentos
escritos.
- Relação de emprego: carreira de trabalho a tempo inteiro, separado da vida
privada e com compensação salarial.

De forma sintética, a teoria das organizações burocráticas estabelece uma divisão do


trabalho com uma definição clara da autoridade e responsabilidade, defende a selecção
de pessoal com base em qualificações técnicas e introduz uma hierarquia da autoridade,
aplicando regras e procedimentos para todos.

São registadas todas as decisões e actos administrativos e define-se uma separação entre
gestão e posse da propriedade.

São várias as ideias introduzidas pela teoria burocrática: estrutura organizacional,


visão das organizações como um sistema formal de relações, concepção mecanicista das
organizações, entre outras. A autoridade de cada indivíduo é delimitada pelas funções,
direitos e deveres do seu cargo e o conhecimento técnico é essencial para a máxima
eficiência. As organizações são sistemas fechados, com insensibilidade às necessidades
sociais dos seres humanos.

1.2. Perspectiva Humanista – Abordagem Comportamental

As abordagens humanistas, ou comportamentais, emergiram no fim do século XIX.


Com ênfase na compreensão do comportamento, das necessidades e das atitudes
das pessoas no trabalho, e não nas tarefas e no trabalho como anteriormente, visam
gerir factores psicológicos e sociais no trabalho para aumentar a produtividade e o bem
estar. Focam-se principalmente numa organização informal, na motivação, liderança,
comunicação e dinâmicas de grupo. Desta abordagem, destacam-se a perspectiva das
relações humanas e comportamentais.

Enquanto que a gestão científica se foca no ambiente físico do trabalho, as teorias


humanistas focam-se no ambiente social.
a) Movimento das relações humanas:

A teoria das relações humanas ocupa-se do indivíduo trabalhando em grupo, tendo em


vista a satisfação das necessidades básicas dos empregados como meio para o
aumento da produtividade. Defende que as tarefas devem ser concebidas por forma a
satisfazer os níveis mais elevados das necessidades dos trabalhadores e, assim, obter
destes a concretização de todo o seu potencial. Está relacionada com as teorias da
motivação de Abraham Maslow (hierarquia das necessidades) e de Douglas McGregor
(Teoria X e Teoria Y).

Segundo as teorias humanistas, as relações humanas são a variável fundamental nas


organizações. A principal motivação do indivíduo é estar com e ser reconhecido pelos
outros, o comportamento do indivíduo no ambiente laboral é determinado pelo grupo e
o grupo a que um indivíduo pertence é de natureza informal.

Estas teorias contribuíram para a melhor compreensão do factor humano, permitiram


reconhecer grupos informais como fonte de motivação individual e reconheceram a
importância dos canais de comunicação debaixo para cima. Os gestores devem conhecer
razões do comportamento dos trabalhadores e dos factores que os afectam. O papel dos
indivíduos é encarado como determinante no sucesso de uma organização.

b) Ciências Comportamentais:

A sociologia, psicologia, antropologia e economia são ciências através das quais se


procura compreender o comportamento das pessoas e as suas interacções no seio das
organizações. Por exemplo, o desenvolvimento organizacional é uma técnica baseada
nesta abordagem que tem ajudado as organizações a adaptar-se à mudança e ao
desenvolvimento das ‘organizações em aprendizagem’ (learning organization).

c) Estudos de Hawthorne e o Papel de Elton Mayo:

No âmbito da perspectiva das relações humanas foram realizados vários estudos, entre
eles os de Hawthorne e o de Elton Mayo. Elton Mayo (1880-1949), formado em
medicina e filosofia, foi pioneiro na aplicação de conceitos e metodologias da
psicologia ao estudo das organizações, tendo-se destacado na experiência realizada na
fábrica em Hawthorne, conduzindo a conclusões que constituem os fundamentos da
escola das relações humanas:
i. A integração social do indivíduo é determinante para o seu nível de
produtividade.
ii. Os trabalhadores estão mais dispostos a colaborar quando sentem que a gestão
está preocupada com as suas necessidades.
iii. O comportamento do indivíduo é determinado pelas regras do grupo, que incluem
padrões de produtividade e punição de fugas a essas regras.
iv. As organizações são compostas por diferentes grupos informais que não
coincidem necessariamente com a estrutura formal.

O comportamento dos indivíduos e dos grupos surgiu assim como um conceito


fundamental para explicar o funcionamento e desempenho das organizações.

1.3. Pespectiva Integrativa


a) Ciências da Gestão Quantitativa:

A partir dos anos 40, começou a ser utilizada a matemática, a estatística e outros
métodos quantitativos para a tomada de decisão e resolução de problemas complexos.
Destacam-se a investigação operacional (modelos matemáticos), a gestão das
operações (previsão, simulação e optimização aplicados a problemas reais) e as
tecnologias da informação (sistemas de informação – MIS).

A utilização das ciências exactas trouxe a possibilidade de quantificar variáveis ou


formular matematicamente certos fenómenos. Para uma boa gestão é necessária a
concepção de sistemas de informação e a utilização da investigação operacional em
domínios como o planeamento e o controlo.

Contudo, não se devem esperar respostas automáticas ou que se elimine o papel do


gestor como analista e intérprete dos resultados gerados informaticamente. Os principais
contributos desta abordagem relacionam-se com a possibilidade de tratar grandes
volumes de dados/informação e o desenvolvimento de técnicas de previsão e análise
de cenários. Porém, é dada pouca atenção aos aspectos humanos e regista-se uma
tendência para considerar apenas os aspectos da organização que possam ser traduzidos
em números.
b) Teoria dos Sistemas:

Um sistema é um conjunto de entidades interrelacionadas, funcionando como um todo,


para atingir um objectivo (purpose) comum. Considera-se um sistema aberto quendo
interage com o ambiente externo e fechado caso contrário. Na teoria dos sistemas, as
organizações são descritas como sistemas abertos caracterizados por entropia, sinergia e
interdependência de susbsistemas.

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