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DISCUSSÕES SOBRE O PRODUTO INTERNO VERDE NO BRASIL

Alexsandro Barreto Gois


Jorge Madeira Nogueira

Eixo Temático: Valoração e Economia Ambiental

RESUMO
Trata-se de revisão de literatura que teve como objetivo buscar estudos que propõem abordagens para
implantação e para cálculo do Produto Interno Bruto Verde (PIV) no Brasil. Assim procedendo,
sistematizamos os estudos realizados sobre as dimensões desse indicador e evidenciando os benefícios gerados
com a gestão de informação do capital natural brasileiro. Para a identificação dos estudos foram consultadas
as bases SCIELO, Scopus e Periódicos. Nessas bases, foram encontrados 2 artigos. Desses, apenas 1 abordava
aspectos relacionados ao PIV no Brasil. Por isso, outras buscas foram feitas em sites de eventos e premiações
científicas, sendo obtidos 3 artigos. No site de Premiação do SFB, foram identificados 3 artigos premiados nas
edições III, IV e VI, fazendo parte do tema específico “Produto Interno Bruto (PIB Verde)”. Os resultados
apontaram que a discussão sobre o PIV no Brasil é ainda muito incipiente, sendo perceptível pela dificuldade
de encontrar artigos sobre em bases de pesquisas. Destaca-se que as discussões quanto às florestas trazem
pressupostos distintos, como a adoção das contas satélites, do modelo do Marco Central da ONU e da MIP.
Dessa forma, as Contas Econômicas Ambientais (CEA) é a base estrutural para que se possa desenvolver o
cálculo do PIV no Brasil, sendo necessárias medidas para que se tenha um corpo técnico preparado para
sistematizar dados que subsidiem cada setor, como da água, floresta e energia.

Palavras-chave: Produto interno bruto; Produto interno verde; Contas econômicas ambientais.

INTRODUÇÃO
A riqueza do capital natural, tangível e intangível, do Brasil é sempre mencionada: 12% do
total de água doce existente no planeta; 14% das espécies de árvores, somando 60.065 (sessenta mil
sessenta e cinco) diferentes espécies, representando a ocupação de 61% do território nacional com
florestas, distribuídas por 6 biomas com características particulares; grande quantidade de minerais
como ferro, manganês e bauxita; 80% da produção de energia renovável, considerando apenas a
geração de energia elétrica. Diante de tudo isso, como conhecer o potencial do capital natural para o
incremento do bem estar da população brasileira? Para isso, é indispensável a realização do inventário
(quantificação), da valoração (qualificação) e da contabilização (registro) dessas riquezas naturais.
Nas ideias de BRASIL, ANA et al (2018), o Brasil é um dos maiores fornecedores de
alimentos e matérias-primas para todo o mundo. Cada vez mais, é imprescindível a conservação e
preservação dos biomas como o da Amazônia (REZENDE e MERLIN, 2003) e do Cerrado
(BUSTAMANTE et al, 2019) para o equilíbrio ecológico mundial. Conciliar os sistemas econômico
e ecológico é fundamental, até porque os dois sistemas se comunicam (RIBEIRO, 2005). Mas será
que todos têm o conhecimento das dimensões ambientais e a vinculação com a macroeconomia
brasileira? A necessidade de se conhecer as dimensões ambientais e suas vinculações
macroeconômicas traz a premência de inventariar, valorar e contabilizar o capital natural.
Para a correlação das dimensões ambientais com as questões macroeconômicas, é preciso
desenvolver um novo olhar para o indicador que mede o bem estar econômico, o famoso Produto
Interno Bruto - PIB (marrom), que quantifica a atividade econômica, representando a soma dos bens
e serviços finais produzidos em uma determinada região em um espaço de tempo.
“O PIB é o principal agregado macroeconômico do SCN e consiste no total da renda gerada
em determinado período ou, do ponto de vista da produção, no total de bens e serviços produzidos
em determinado período descontadas as despesas com insumos e serviços e somados os impostos
sobre produtos líquidos de subsídios” (IBGE, 2019). Há outros agregados macroeconômicos do SCN,
os quais são: a Renda Nacional Disponível Bruta (RNDB) e a Poupança Bruta. Ainda, tem-se
importantes indicadores, como as taxas de investimento e a taxa de poupança.
É perceptível que os elementos que são considerados no cálculo do PIB refletem a
evidenciação da geração de riqueza econômica e, de outro lado, apresentam a depreciação do capital
natural (VAN DEN BERGH, 2009). Apesar do PIB ser um indicador econômico, ele não consegue
medir o bem estar social da população, nem quantificar as riquezas do capital natural daquela nação.
Para que isso seja possível é preciso parametrizar os elementos do PIB com a depreciação do capital
natural, para que se possa caracterizar os elementos a serem inseridos no Produto Interno Bruto Verde
(PIB-Verde ou PIV). É por esse motivo que surge a ideia de se criar uma metodologia própria para o
cálculo do PIV, tendo em vista essa nova perspectiva. O PIV não é apenas uma necessidade de
conhecer, também é uma exigência legal, por meio da Lei nº 13.493, de 17 de outubro de 2017, que
criou o PIV e a necessidade de calcular o patrimônio ecológico nacional (OLIVEIRA, 2018).
Considerando o exposto, essa revisão de literatura justifica-se pela necessidade de conhecer
as discussões relacionadas com o impacto gerado pelo PIB no Meio Ambiente, os benefícios que
podem ser trazidos pelo cálculo do PIV e as iniciativas para a implantação do PIV no Brasil. Assim,
objetiva-se com este trabalho a sistematização de estudos realizados sobre as diversas dimensões do
indicador PIV, até os dias atuais, e evidenciando, consequentemente, os benefícios gerados com a
gestão de informação do capital natural brasileiro.

MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Este estudo constitui uma revisão de literatura de caráter analítico a respeito das discussões
quanto às perspectivas de abordagens, implantação e cálculo do PIV no Brasil, reunindo a
sistematização dos estudos realizados sobre as distintas dimensões desse indicador e evidenciando os
benefícios gerados com a gestão de informação do capital natural brasileiro.
A coleta de material bibliográfico foi realizada no período de 10 a 21 de junho de 2020, e
utilizou-se para a pesquisa as bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), SciVerse
Scopus (Scopus), Portal Periódicos CAPES (Periódicos), dentre outras bases. Não houve limitação
do período da publicação dos artigos. Para as pesquisas, em nenhuma das bases houve a limitação do
idioma na tentativa de obter quantidade relevante de referencial teórico.
Inicialmente, a busca de artigos científicos que se adequassem aos critérios de inclusão se deu
nas bases SCIELO e Scopus, utilizando-se das palavras Produto Interno Bruto, PIV, PIB Verde,
Contas Econômicas Ambientais. Como resultados, foram obtidos 2 artigos. Na base SCIELO foram
obtidos 2 artigos que versavam sobre as Contas Satélites Ambientais, um com abordagem na
Colômbia e outro em Antioquia. Posteriormente, realizou-se a pesquisa na base de dados Periódicos,
utilizando para isso também as seguintes palavras: Produto Interno Bruto, PIV, PIB Verde, Contas
Econômicas Ambientais. Assim, apenas 1 artigo foi encontrado com abordagem no Brasil, mas o PIV
teve só uma seção em sua discussão. Por isso, realizou-se outras buscas em sites de premiações e
eventos científicos. No site de Premiação do Serviço Florestal Brasileiro - SFB, foram identificados
3 artigos premiados nas edições III, IV e VI, todos os artigos fazem parte do tema específico “Produto
Interno Bruto (PIB Verde)” e possuem abordagem do PIV no Brasil. Dessa forma, destaca-se que, ao
final da pesquisa nas bases de dados citadas, foram encontrados 4 artigos que estavam aderentes à
abordagem desta pesquisa.
Após a seleção dos artigos conforme os critérios de inclusão previamente definidos, foram
seguidos, nessa ordem, os seguintes passos: leitura exploratória; leitura seletiva e escolha do material
que se adequam aos objetivos e tema deste estudo; e resumo dos artigos. Após estas etapas, constituiu-
se um corpus do estudo agrupando os temas mais abordados nas seguintes categorias: Produto Interno
Bruto versus Produto Interno Verde, Contas Econômicas Ambientais e o diálogo entre o SCN e o
SCEA para o cálculo do PIV.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sistematizando a contribuição de cada artigo encontrado, para relacionar com essa pesquisa,
observa-se que Sallem (2015) trouxe a conceituação e a modelagem de um arcabouço para as Contas
Satélite, especificamente no setor florestal, com o fim de oferecer, ao poder público e ao particular,
um subconjunto robusto de informações para a tomada de decisões e elaboração de políticas públicas
econômico ambientais simultaneamente indutoras do crescimento econômico e conservadoras do
ecossistema florestal, da biodiversidade e dos bens e serviços ambientais albergados pelas florestas.
Corrobora que a elaboração das Contas Satélite do setor florestal exige, secundária e
subsidiariamente, a pesquisa bibliográfica de trabalhos similares ao tema que ele estudou, e tem, como
limites estabelecidos, o levantamento de requisitos e o projeto do arcabouço dessas contas satélite,
seus componentes, interfaces e fronteiras conceituais, e absteu-se, naquele momento, no
aprofundamento dos aspectos correspondentes à implementação, tais como o mapeamento das
informações ambientais em bases de dados e o desenvolvimento ou incorporação de sistemas
informatizados.
Nascimento e Góes (2016) apresentaram a metodologia a ser adotada nas Contas Econômicas
Ambientais – Marco Central, no caso das Florestas, segundo os pressupostos desenvolvidos pela
Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (UNSD). Apresentaram as bases de dados, pesquisas e
estudos disponíveis no Brasil e que podem servir de insumo para essa atividade e ainda trouxeram
uma proposta de construção de uma plataforma institucional para a elaboração das Contas de Florestas
no Brasil. Isso permitiria a implementação de um sistema de contas satélites que possibilite ao Sistema
de Contas Nacionais incorporar essas dimensões, tais como as contas físicas e monetárias de florestas
e produtos madeireiros.
Já Toledo Neto (2019) demonstrou como é possível estimar de forma confiável e compatível
com a teoria econômica o PIB de setores econômicos não “contemplados” ou tratados de forma
isolada nos 56 setores econômicos cobertos pela Matriz de Insumo-Produto (MIP) de 2005, divulgada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável por definir a forma de
divulgação do PIB brasileiro. Ainda, sugeriu, no curto prazo, que o Serviço Florestal Brasileiro
criasse em seu corpo institucional uma unidade técnica de pesquisa econômica que fosse responsável
por implementar modelagem e disponibilizar Matrizes de Insumo-Produto na área florestal.
Martínez-Lagunes (2017) realizou estudo sobre as Contas Econômicas Ambientais da Água
(CEA-Água) em países que já implementaram ou têm estudos avançados, como é o caso da Austrália,
Colômbia, Guatemala e México. O intuito foi diagnosticar como é a estrutura adotada nesses países
e posteriormente sistematizar a estrutura básica para servir de moldura para a implementação das
CEA-Água no Brasil.

CONCLUSÃO
O produto das CEA irá proporcionar a construção de um novo indicador: o PIV, que
evidenciará o bem estar social e sustentável daquela nação, fazendo um contraponto com o PIB. Para
a construção desse indicador, será necessário realizar links com as informações sobre o estoque, oferta
e demanda dos recursos naturais. Hoje não há uma integração dos indicadores de desenvolvimento
sustentável, pois ainda não são adequadamente mensurados. No Brasil não há ainda todas as contas
econômicas ambientais, que são as contas satélites do sistema de contabilidade social que trabalham
da área ambiental, que podem ser derivados vários indicadores.
Os resultados desta pesquisa apontaram que a discussão sobre o PIV no Brasil é ainda
incipiente, sendo perceptível pela dificuldade de encontrar artigos sobre a temática em bases de
pesquisas. Dos 4 artigos encontrados, 1 abordava apenas discussão inicial sobre o PIV no Brasil, em
um tópico; e 3 discutem com aprofundamento a abordagem das CEA no âmbito das florestas no
Brasil. Destacam-se que as discussões quanto às CEA das florestas trazem pressupostos distintos,
como a adoção das contas satélites, do modelo do Marco Central da ONU e da MIP. Ainda, de todas
as dimensões a da Água é a que demonstra estar mais avançada, pois já tem publicações sobre as
CEA-Água evidenciando dados conjunturais da água no Brasil.
Assim, este trabalho objetivou a sistematização de estudos realizados sobre as diversas
dimensões do indicador PIV, até os dias atuais, e evidenciando, consequentemente, os benefícios
gerados com a gestão de informação do capital natural brasileiro. Dessa forma, as CEA são a base
estrutural para que se possa desenvolver o cálculo do PIV no Brasil, sendo necessárias medidas para
que se tenha um corpo técnico preparado para sistematizar dados que subsidiem cada setor, como da
água, floresta e energia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Agência Nacional de Águas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Secretaria de Recursos
Hídricos e Qualidade Ambiental. Contas econômicas ambientais da água no Brasil 2013–2015. -- Brasília:
ANA, 2018. Disponível em: <https://www.ana.gov.br/todos-os-documentos-do-portal/documentos-
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BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contas Nacionais. 2019. Disponível em:
<https://brasilemsintese.ibge.gov.br/contas-nacionais.html>. Acesso em: 8 set 2019.

MARTÍNEZ-LAGUNES, Ricardo. As contas econômicas ambientais da água: Lições aprendidas para


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SALLEM, M. A. S. Um arcabouço de contas econômicas ambientais para a mensuração da


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TOLEDO NETO, Edson Rodrigo. Alternativas para definição do PIB Florestal a partir do Sistema de
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VAN DEN BERGH, Jeroen C. J. M.. The GDP paradox. Journal of Economic Psychology 30 (2009) 117–
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