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Universidade Licungo
Beira
2021
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Temas Transversais II
Docente:
Universidade Licungo
Beira
2021
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................3
CONCEITOS..............................................................................................................................4
CONCLUSÃO..........................................................................................................................11
Referências Bibliográficas........................................................................................................12
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INTRODUÇÃO
As diferenças entre os sexos estão muitas vezes no centro de debates nos meios de
comunicação social ou nas conversas quotidianas e a produção científica sobre esta temática é
prolífica. As controvérsias acerca dessas diferenças e da sua origem têm, com efeito, uma
longa história, em que as crenças, e a motivação para manter essas crenças (Valentine, 2001),
têm, sem dúvida, um papel importante. As diferenças entre os sexos são, hoje em dia, ainda
muitas vezes evocadas para justificar práticas relacionadas com as posições desiguais que os
homens e as mulheres ocupam na sociedade (Poeschl, 2000, e Poeschl e Serôdio, 1998, por
exemplo) e as representações dos grupos sociais reflectem e influenciam o extenso mas estéril
debate científico sobre essa questão.
CONCEITOS
Em primeiro lugar é importante definir cada um desses conceitos já que, com frequência, eles
erroneamente são usados como sinônimos.
Gênero: Refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são o
resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças
sexuais.
Por Bruschini em o Tesauro para estudos de gênero, o conceito é exposto como sendo:
Por exemplo, as meninas são incentivadas a serem passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e
todos os brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe, dona de casa, e
consequentemente responsável por todas as tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos e da
casa. Ou seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer comida, de limpar a casa,
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tudo isto dentro do lar. Pelo contrário, os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles
jogam bola, brincam de carrinho, de guerra, etc. Ou seja, desde pequenos eles se dão conta
que pertencem ao grupo que tem poder. Até nos jogos os meninos comandam. Ninguém os
manda arrumarem a cama, ou lavarem a louça, eles são incentivados a serem fortes,
independentes, valentes.
A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher o
centro da sexualidade é a reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se
apresenta para as mulheres como algo sujo, vergonhoso, proibido. Os homens, ao contrário
das mulheres, recebem mensagens e são preparados para viver o prazer da sexualidade através
do seu corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem é sinal de
masculinidade. De um modo geral podemos dizer que as mulheres desde que nascem são
educadas para serem mães, para cuidar dos outros, para “dar prazer ao outro”. A sua
sexualidade é negada, reprimida e temida.
Outro dos eixos onde se constrói e se concretiza a desigualdade entre homens e mulheres é a
reprodução. A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de poder tem sido
controlado e tem determinado outros papéis diminuindo as possibilidades e limitando a vida
das mulheres em outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho.
O terceiro eixo é a divisão sexual do trabalho. Pelo fato biológico que a mulher é quem
engravida e dá de mamar, tem sido atribuído a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às
mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho
doméstico, desvalorizado pela sociedade e que deixava as mulheres “donas de casas”
limitadas ao mundo do lar; com menos possibilidade de educação, menos acesso à
informação, menos acesso à formação profissional, etc.
A situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres
está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades
ainda permanecem. Diferentes estudos mostram que em geral as mulheres ganham menos que
os homens em todos os campos, e que as mulheres têm menos possibilidades de obter um
cargo diretivo.
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A diferença de papéis entre homens e mulheres pode ser exemplificada na divisão sexual do
trabalho. Em muitas sociedades, as mulheres ficam a cargo do trabalho reprodutivo e do
ambiente privado (cuidar da casa e da família) e os homens a cargo do trabalho produtivo no
ambiente público (empreender, governar, conduzir a política e a economia).
Além disso, o que é considerado “coisa de mulher”, como ser emotivo, sensível, detalhista, é
desvalorizado, o que é considerado “coisa de homem”, como ser forte, viril, corajoso, é
valorizado. Isso se reflete em todos os campos da vida.
O trabalho doméstico, mesmo essencial, é considerado inferior e por isso não é remunerado
ou é mal remunerado. Cargos de liderança e decisão por vezes são considerados
incompatíveis com o “ser feminino”, e isso é um obstáculo para que mulheres chefiem
empresas, governem países, como no passado foi usado como justificativa para que não
pudessem votar.
Essas percepções aparentemente validadas pela natureza são, na verdade, concepções sociais
que limitavam, e ainda limitam, o campo de possibilidades das mulheres. A desigualdade de
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gênero passa pela classificação e discriminação de qualquer natureza associada ao fato de ser
homem ou ser mulher. As diferenças entre o masculino e feminino são instrumentalizadas
para controlar e cercear as possibilidades de quem se enquadra em cada grupo.
Embora esse fenômeno prejudique a todos, ele incide de maneira mais cruel sobre as mulheres
e projeta-se não só na mentalidade, cultura e relações mas também nas instituições e nos
aspectos materiais da existência. É uma desigualdade de poder, de acesso, de oportunidades,
de liberdade de escolha, de valoração, de prestígio etc. produzida nas relações de gênero, ou
seja, nas expectativas atribuídas ao ser masculino e ser feminino.
Quando nos referimos à história das mulheres, lembramos sempre que a representação da
diferença sexual deve pouco à ciência e quase tudo à política e à cultura. Diversos discursos
explicaram o feminino, e consequentemente o masculino. Discursos poderosos que se fazem
sentir ainda hoje. Os discursos de Platão a Freud atravessaram os tempos e instituíram a
definição de homem e de mulher e o papel que cabe socialmente a cada um.
Segundo ele, entre outras tantas diferenças, a mulher possui um cérebro menor que o homem
e como todo ser inferior, morre antes. Platão inaugura a “natureza feminina” que é
apresentada como uma evidência dada. O primeiro desvio é o nascimento de uma fêmea. Para
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Hipócrates a matriz (útero) que circula no corpo da mulher é a sede dos problemas, centro de
doenças femininas. A mulher é uma eterna doente.
O mito da criação inaugura os espaços público e privado, a sujeição inerente ao seu próprio
ser e o matrimônio e maternidade como as únicas vocações femininas. Segundo Michelle
Perrot, o catolicismo recusa obstinadamente a ordenação das mulheres. Isto se explica pela
História, pela ideia do pecado e da impureza feminina, pela angústia da carne, que atormenta
o pensamento dos padres da Igreja. Também pela transcendência do sagrado, que passa
justamente pela recusa da carne, da sexualidade e das mulheres (1998, p. 139).
Pode fazer-se remontar ao século XIX o debate sobre as diferenças entre os sexos, na medida
em que a sua origem é relacionada com as mudanças produzidas na sociedade ocidental pela
revolução industrial. Com efeito, e contrariamente à crença segundo a qual nos primeiros
grupos humanos os homens iam caçar enquanto as mulheres ficavam no acampamento para
cuidar das crianças, as tarefas eram mais partilhadas nessas sociedades do que em muitas
sociedades tecnologicamente mais avançadas (Nielsen, 1990). As mudanças provocadas pela
revolução industrial deviam, por um lado, acentuar a divisão dos papéis sociais entre homens
e mulheres e, por outro, incentivar a produção de teorias aptas a justificar as posições
desiguais dos sexos na estrutura social (cf. Poeschl, 2003b).
Vinte anos mais tarde, as diferenças entre homens e mulheres são explicitamente associadas
às esferas pública e privada, pela ligação que Parsons estabelece entre os temperamentos
masculino e feminino e os papéis masculino e feminino. Segundo Parsons (Parsons e Bales,
1956), o papel do homem é de natureza instrumental e o papel da mulher de natureza
expressiva. O desempenho destes papéis orienta as personalidades de modo que, tipicamente,
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o homem se focalize na realização de objectivos, iniba as suas emoções, aja em função do seu
interesse pessoal e estabeleça relações úteis para alcançar as suas metas, enquanto,
tipicamente, a mulher é sensível, compreensiva, flexível, se preocupa com as necessidades
afectivas da família, mostra as suas emoções e valoriza os outros pelas suas qualidades
pessoais (Lorenzi-Cioldi, 1994). Baseando-se no seu conhecimento do funcionamento dos
pequenos grupos, Parsons e Bales (1956) afirmam que um único membro da família não pode
conciliar os comportamentos expressivos e instrumentais; apoiando-se na análise transcultural
de Zelditch (1956) , declaram que a divisão dos papéis familiares é universalmente efectuada
em função do sexo; invocando, finalmente, a necessidade assumida pela teoria psicanalítica
de as crianças se identificarem com o progenitor do mesmo sexo, concluem que é desejável
uma clara divisão dos papéis.
CONCLUSÃO
Ao dar destaque às mudanças ocorridas na divisão do trabalho entre homens e mulheres (elas
que até então tinham participação igualitária no processo de produção para o consumo e com
o advento da monogamia e da propriedade privada foram especializadas no necessário
trabalho doméstico), o marxismo permitiu estabelecer relações entre a família, o trabalho e a
política. Mesmo sendo criticado por seus conceitos terem pouca capacidade de explicar, ou
melhor, analisar amplamente as relações no interior de outras instituições, foi o marxismo que
traçou o caminho pelo qual foram rompidas as barreiras de análise da vida feminina no núcleo
familiar. Ainda, desvenda as análises da esfera pública, ajudando na reconceituação das
definições convencionais da política, da economia, das relações de poder e processos de
mudança.
Por fim, após visualizarmos através do tempo a construção do entendimento sobre os gêneros,
conclui-se, parafraseando Guimarães (2005), que a mulher e o homem são construídos
socialmente, a partir de uma cultura historicamente situada no tempo e dentro de
circunstâncias possíveis, determinadas por essa temporalidade. Cada um, mulher e homem,
estão imersos em um mar de símbolos que se corporificam através dos comportamentos
impostos pela ética hegemônica. A identidade de gênero neste sentido influencia não somente
a visão que temos de nós mesmos, mas também, a visão e a expectativa que ou outros têm de
nós, influenciando as escolhas e oportunidades que nos são apresentadas a cada dia.
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Referências Bibliográficas
GUEDES, Nair Barbosa (1997), Gênero, relação desafiadora para movimentos sociais e
ongs. Dissertação de Mestrado. UFRJ.
HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila (1999), Estudos de Gênero no Brasil. In: O que ler na
Ciência Social Brasileira (1970-1995). Sociologia (Volume II). São Paulo:
Sumaré/ANPOCS.
-----. (1992), Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, Albertina de Oliveira;
BRUSCHINI, Cristina (org.) Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos.
SANTOS, José Alcides Figueiredo (2005), Classe social e desigualdade de gênero no Brasil.
Trabalho apresentado no XXIX Encontro Anual da ANPOCS, GT “Gênero na
Contemporaneidade".
SCOTT, Joan (1996), Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Recife: SOS
Corpo.