Você está na página 1de 14

Faustina Alberto Charles Vicente

Relações e Géneros (Diferenças entre homens e mulheres)

Universidade Licungo

Beira

2021
2

Faustina Alberto Charles Vicente

Relações e Géneros (Diferenças entre homens e mulheres)

Temas Transversais II

Licenciatura em Ensino Básico

Docente:

Dr. Bernardino Manuel

Universidade Licungo

Beira

2021
3

ÍNDICE

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................3

DIFERENÇAS DO HOMEM E MULHER NA RELAÇÃO DOS GÉNEROS........................4

CONCEITOS..............................................................................................................................4

Construção cultural das diferenças entre homens e mulheres....................................................5

Definição de desigualdade de gênero.........................................................................................7

Construção histórica das diferenças entre homens e mulheres...................................................8

Construção social das diferenças entre homens e mulheres.......................................................9

CONCLUSÃO..........................................................................................................................11

Referências Bibliográficas........................................................................................................12
3

INTRODUÇÃO

As diferenças entre os sexos estão muitas vezes no centro de debates nos meios de
comunicação social ou nas conversas quotidianas e a produção científica sobre esta temática é
prolífica. As controvérsias acerca dessas diferenças e da sua origem têm, com efeito, uma
longa história, em que as crenças, e a motivação para manter essas crenças (Valentine, 2001),
têm, sem dúvida, um papel importante. As diferenças entre os sexos são, hoje em dia, ainda
muitas vezes evocadas para justificar práticas relacionadas com as posições desiguais que os
homens e as mulheres ocupam na sociedade (Poeschl, 2000, e Poeschl e Serôdio, 1998, por
exemplo) e as representações dos grupos sociais reflectem e influenciam o extenso mas estéril
debate científico sobre essa questão.

Assim, segundo Terman (Terman e Miles, 1936), a mulher, tipicamente, diferencia-se do


homem pela riqueza das suas emoções, pela sua timidez, pela sua docilidade, pela sua
natureza ciumenta; preocupa-se com as relações com os outros e os afazeres domésticos,
enquanto o homem, tipicamente, se preocupa com os objectos mecânicos, as actividades
financeiras ou as actividades exteriores. Os trabalhos de Terman têm duas consequências
importantes: por um lado, conferem uma legitimidade científica à ideia de que existe uma
natureza masculina, oposta à natureza feminina; por outro, difundem a ideia de que a
conformidade ao temperamento do sexo de pertença é um indicador de saúde mental (Bem,
1993).
4

DIFERENÇAS DO HOMEM E MULHER NA RELAÇÃO DOS GÉNEROS

CONCEITOS

Em primeiro lugar é importante definir cada um desses conceitos já que, com frequência, eles
erroneamente são usados como sinônimos.

Sexo: Refere-se às características biológicas de homens e mulheres, ou seja, às características


específicas dos aparelhos reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos
caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios.

Gênero: Refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são o
resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças
sexuais.

Gênero é um conceito socialmente novo, historicamente fruto do movimento feminista


contemporâneo. Ainda é pouco debatido e aprofundado nos trabalhos acadêmicos de nosso
tempo. Mas as relações de gênero são tão antigas quanto à existência humana, tendo raízes
ainda mais profundas do que a formulação do movimento feminista. De fato, a novidade do
conceito é atribuída à construção social que torna desiguais homens e mulheres. Até então, o
corpo humano bastava para nos diferenciarmos. A priori, a utilização do conceito apresentou
um caráter de contraponto respondendo as interpretações biologistas que vinculam a diferença
sexual às posições sociais hierarquicamente diferentes entre mulheres e homens. O
entendimento moderno do mundo mudou esta configuração, principalmente a partir das
primeiras tentativas de superação das desigualdades sociais entre homens e mulheres.

Por Bruschini em o Tesauro para estudos de gênero, o conceito é exposto como sendo:

Princípio que transforma as diferenças biológicas entre os sexos em


desigualdades sociais, estruturando a sociedade sobre a assimetria das
relações entre homens e mulheres. Usar “gênero” para todas as referências de
ordem social ou cultural, e “sexo” para aquelas de ordem biológica.
(BRUSCHINI, 1998)

Os primeiros ensaios e estudos sobre as desigualdades entre homens e mulheres buscavam se


situar sobre o aspecto feminino, sobre seu corpo e sexualidade. As características biológicas,
entre elas a pouca força física e até mesmo o menor peso do cérebro, estavam no centro desta
concepção. Na tentativa de explicar que é da “natureza” feminina ser frágil e da “natureza”
masculina ser forte. Que o lugar “natural” da mulher é a casa, e o lugar “natural” do homem é
a rua. Esta naturalização da condição humana nada mais é do que uma resposta para
5

legitimação das desigualdades sociais. As condições e os lugares sociais são construções


históricas, variam no tempo. Não podem ser entendidos como naturais, prontos e acabados.
Nossas condições não são imutáveis. São históricas, e como tal, sexo também é uma invenção
histórica, ou melhor, uma invenção social.

Por Santos (2005) a diferenciação sexo/gênero entende os sistemas de gênero enquanto


mecanismos culturais elaborados para lidar com as diferenças de sexo e questões relativas à
reprodução social e biológica. Sexo seria relacionado com a identidade biológica do homem e
da mulher, e gênero relacionado aos aspectos socialmente construídos das diferenças
biológicas e sexuais. Esta distinção tem apoio na concepção de que as diferenças biológicas e
sexuais formam um substrato fixo sobre o qual são elaboradas as construções sociais de
gênero. Porém, há os que entendem que as diferenças biológicas sexuais são, em alguma
medida, socialmente construídas e historicamente variáveis. Na medida em que as pessoas
identificam determinadas características físicas do outro e, através delas classificam os
indivíduos em grupos, fica claro o desenvolvimento de um processo social.

“O sexo, a sexualidade e o corpo são experimentados, tornam-se


compreensíveis, por meio de processos e práticas sociais; eles são
constituídos através do gênero e, ao mesmo tempo, ajudam a constituir o
gênero” (ACKER, 1992 apud SANTOS, 2005).

Construção cultural das diferenças entre homens e mulheres

O papel do homem e da mulher é constituído culturalmente e muda conforme a sociedade e o


tempo. Esse papel começa a ser construído desde que o(a) bebê está na barriga da mãe,
quando a família de acordo à expectativa começa a preparar o enxoval de acordo ao sexo.
Dessa forma, cor de rosa para as meninas e azul para os meninos. Depois que nasce um bebê,
a primeira coisa que se identifica é o sexo: “menina ou menino” e a partir desse momento
começará a receber mensagens sobre o que a sociedade espera desta menina ou menino. Ou
seja, por ter genitais femininos ou masculinos, eles são ensinados pelo pai, mãe, família,
escola, mídia, sociedade em geral, diferentes modos de pensar, de sentir, de atuar.

Por exemplo, as meninas são incentivadas a serem passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e
todos os brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe, dona de casa, e
consequentemente responsável por todas as tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos e da
casa. Ou seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer comida, de limpar a casa,
6

tudo isto dentro do lar. Pelo contrário, os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles
jogam bola, brincam de carrinho, de guerra, etc. Ou seja, desde pequenos eles se dão conta
que pertencem ao grupo que tem poder. Até nos jogos os meninos comandam. Ninguém os
manda arrumarem a cama, ou lavarem a louça, eles são incentivados a serem fortes,
independentes, valentes.

As relações de gênero são produto de um processo pedagógico que se inicia no nascimento e


continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e
mulheres, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, a divisão
sexual do trabalho e o âmbito público/cidadania.

A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher o
centro da sexualidade é a reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se
apresenta para as mulheres como algo sujo, vergonhoso, proibido. Os homens, ao contrário
das mulheres, recebem mensagens e são preparados para viver o prazer da sexualidade através
do seu corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem é sinal de
masculinidade. De um modo geral podemos dizer que as mulheres desde que nascem são
educadas para serem mães, para cuidar dos outros, para “dar prazer ao outro”. A sua
sexualidade é negada, reprimida e temida.

Outro dos eixos onde se constrói e se concretiza a desigualdade entre homens e mulheres é a
reprodução. A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de poder tem sido
controlado e tem determinado outros papéis diminuindo as possibilidades e limitando a vida
das mulheres em outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho.

O terceiro eixo é a divisão sexual do trabalho. Pelo fato biológico que a mulher é quem
engravida e dá de mamar, tem sido atribuído a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às
mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho
doméstico, desvalorizado pela sociedade e que deixava as mulheres “donas de casas”
limitadas ao mundo do lar; com menos possibilidade de educação, menos acesso à
informação, menos acesso à formação profissional, etc.

A situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres
está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades
ainda permanecem. Diferentes estudos mostram que em geral as mulheres ganham menos que
os homens em todos os campos, e que as mulheres têm menos possibilidades de obter um
cargo diretivo.
7

Definição de desigualdade de gênero

O conceito de gênero é relativamente novo, fruto do movimento feminista. Sua contribuição


em mostrar que a construção do ser feminino e ser masculino não é biológica, mas social e
cultural, por meio de relações, ações e valorações, também serviu em grande medida para
desnaturalizar a desigualdade entre homens e mulheres.

A diferença de papéis entre homens e mulheres pode ser exemplificada na divisão sexual do
trabalho. Em muitas sociedades, as mulheres ficam a cargo do trabalho reprodutivo e do
ambiente privado (cuidar da casa e da família) e os homens a cargo do trabalho produtivo no
ambiente público (empreender, governar, conduzir a política e a economia).

A construção de masculinidade e feminilidade é aprendida desde o nascimento, envolve a


maneira de agir, sentir, falar e pensar. A diferenciação dá-se de maneira muito rígida e
hierárquica, isto é, há constrangimento e uma gama de punições para aquele que incorporar as
características do outro lado, por exemplo, homens emotivos podem ser considerados
“bananas” e mulheres que se portam com firmeza podem ser consideradas “machonas”, não
existe uma liberdade na formação para que meninos e meninas desenvolvam suas
potencialidades que estão culturalmente atreladas ao grupo oposto.

Além disso, o que é considerado “coisa de mulher”, como ser emotivo, sensível, detalhista, é
desvalorizado, o que é considerado “coisa de homem”, como ser forte, viril, corajoso, é
valorizado. Isso se reflete em todos os campos da vida.

O trabalho doméstico, mesmo essencial, é considerado inferior e por isso não é remunerado
ou é mal remunerado. Cargos de liderança e decisão por vezes são considerados
incompatíveis com o “ser feminino”, e isso é um obstáculo para que mulheres chefiem
empresas, governem países, como no passado foi usado como justificativa para que não
pudessem votar.

A legitimação da desigualdade entre homens e mulheres, em grande medida, justifica-se com


base em características físicas, diferenças hormonais, assim, a mulher é considerada mais
fraca, menos ágil, menos racional, portanto, apta a atividades menos complexas, possuidora
de um instinto maternal e, por isso, apta a ser cuidadora dos demais por vocação, como uma
missão que não carece ser reconhecida ou retribuída.

Essas percepções aparentemente validadas pela natureza são, na verdade, concepções sociais
que limitavam, e ainda limitam, o campo de possibilidades das mulheres. A desigualdade de
8

gênero passa pela classificação e discriminação de qualquer natureza associada ao fato de ser
homem ou ser mulher. As diferenças entre o masculino e feminino são instrumentalizadas
para controlar e cercear as possibilidades de quem se enquadra em cada grupo.

Embora esse fenômeno prejudique a todos, ele incide de maneira mais cruel sobre as mulheres
e projeta-se não só na mentalidade, cultura e relações mas também nas instituições e nos
aspectos materiais da existência. É uma desigualdade de poder, de acesso, de oportunidades,
de liberdade de escolha, de valoração, de prestígio etc. produzida nas relações de gênero, ou
seja, nas expectativas atribuídas ao ser masculino e ser feminino.

Construção histórica das diferenças entre homens e mulheres

Filósofos, médicos, psiquiatras, padres e pedagogos desenvolveram argumentos que atingiram


as mulheres. São elevadas à categoria de rainhas, de deusas, responsáveis pela sociedade; as
que se recusam a cumprir seus deveres, de esposa e mãe exemplar, são ameaçadas de serem
más e psicologicamente doentes. Todos esses discursos, incansavelmente repetidos, tiveram
um efeito decisivo sobre as mulheres.

Quando nos referimos à história das mulheres, lembramos sempre que a representação da
diferença sexual deve pouco à ciência e quase tudo à política e à cultura. Diversos discursos
explicaram o feminino, e consequentemente o masculino. Discursos poderosos que se fazem
sentir ainda hoje. Os discursos de Platão a Freud atravessaram os tempos e instituíram a
definição de homem e de mulher e o papel que cabe socialmente a cada um.

• Discurso grego – Se recuarmos no tempo à procura da construção inicial do discurso


da diferença entre homens e mulheres, chegaremos ao pensamento médico/filosófico
grego. Segundo este pensamento, a mulher possui uma “debilidade” natural e
congênita que legitima sua sujeição. Esta subordinação parecia fazer parte da ordem
natural das coisas. Aristóteles, ao analisar a diferença entre machos e fêmeas no
mundo animal, ao tomar como objeto de análise o homem e a mulher, transforma
diferença em desigualdade.

Segundo ele, entre outras tantas diferenças, a mulher possui um cérebro menor que o homem
e como todo ser inferior, morre antes. Platão inaugura a “natureza feminina” que é
apresentada como uma evidência dada. O primeiro desvio é o nascimento de uma fêmea. Para
9

Hipócrates a matriz (útero) que circula no corpo da mulher é a sede dos problemas, centro de
doenças femininas. A mulher é uma eterna doente.

• Discurso Judaico Cristão – A tradição cristã-judaica colaborou de maneira decisiva


para a inculcação da inferioridade da mulher. O relato da criação da mulher, bem
como a da sua parte na tentação de Adão e sua consequente condenação por Deus, tem
efeitos devastadores muito duradouros sobre a imagem da dignidade do feminino. No
relato mítico do Éden a mulher retirou a humanidade do paraíso, por isso terá como
castigo parir seus filhos com dor e ser dominada pelo marido, o que se revelará numa
constante vigilância sobre seus costumes e um rigoroso confinamento doméstico.

O mito da criação inaugura os espaços público e privado, a sujeição inerente ao seu próprio
ser e o matrimônio e maternidade como as únicas vocações femininas. Segundo Michelle
Perrot, o catolicismo recusa obstinadamente a ordenação das mulheres. Isto se explica pela
História, pela ideia do pecado e da impureza feminina, pela angústia da carne, que atormenta
o pensamento dos padres da Igreja. Também pela transcendência do sagrado, que passa
justamente pela recusa da carne, da sexualidade e das mulheres (1998, p. 139).

Construção social das diferenças entre homens e mulheres

Pode fazer-se remontar ao século XIX o debate sobre as diferenças entre os sexos, na medida
em que a sua origem é relacionada com as mudanças produzidas na sociedade ocidental pela
revolução industrial. Com efeito, e contrariamente à crença segundo a qual nos primeiros
grupos humanos os homens iam caçar enquanto as mulheres ficavam no acampamento para
cuidar das crianças, as tarefas eram mais partilhadas nessas sociedades do que em muitas
sociedades tecnologicamente mais avançadas (Nielsen, 1990). As mudanças provocadas pela
revolução industrial deviam, por um lado, acentuar a divisão dos papéis sociais entre homens
e mulheres e, por outro, incentivar a produção de teorias aptas a justificar as posições
desiguais dos sexos na estrutura social (cf. Poeschl, 2003b).

Vinte anos mais tarde, as diferenças entre homens e mulheres são explicitamente associadas
às esferas pública e privada, pela ligação que Parsons estabelece entre os temperamentos
masculino e feminino e os papéis masculino e feminino. Segundo Parsons (Parsons e Bales,
1956), o papel do homem é de natureza instrumental e o papel da mulher de natureza
expressiva. O desempenho destes papéis orienta as personalidades de modo que, tipicamente,
10

o homem se focalize na realização de objectivos, iniba as suas emoções, aja em função do seu
interesse pessoal e estabeleça relações úteis para alcançar as suas metas, enquanto,
tipicamente, a mulher é sensível, compreensiva, flexível, se preocupa com as necessidades
afectivas da família, mostra as suas emoções e valoriza os outros pelas suas qualidades
pessoais (Lorenzi-Cioldi, 1994). Baseando-se no seu conhecimento do funcionamento dos
pequenos grupos, Parsons e Bales (1956) afirmam que um único membro da família não pode
conciliar os comportamentos expressivos e instrumentais; apoiando-se na análise transcultural
de Zelditch (1956) , declaram que a divisão dos papéis familiares é universalmente efectuada
em função do sexo; invocando, finalmente, a necessidade assumida pela teoria psicanalítica
de as crianças se identificarem com o progenitor do mesmo sexo, concluem que é desejável
uma clara divisão dos papéis.

Porém, a investigação sobre as diferenças entre os sexos não consegue resolver as


divergências entre autores. Pelo contrário, ela parece marcada por enviesamentos opostos que
traduzem a preferência dos autores por exagerar ou minimizar as diferenças (Eagly, 1995).
Assim, os autores que defendem a ausência de diferenças entre os sexos sublinham que todas
as diferenças observadas são pequenas, inconsistentes ou dependentes do contexto, enquanto
os autores que defendem a existência de tais diferenças questionam o que são «pequenas»
diferenças ou resultados «inconsistentes» (Eagly, 1995). Para além dos debates sobre a
amplitude das diferenças ou a consistência dos resultados obtidos nas comparações entre os
sexos, uma outra controvérsia incide, de forma mais geral, sobre as finalidades desta
investigação. Assim, os autores que defendem a ausência de diferenças sublinham que, ao
focalizar-se sobre as diferenças «entre homens e mulheres», a investigação só contribui para
racionalizar e perpetuar essas diferenças (Lott, 1996). Eles observam que o sexo não tem
valor preditivo face a outros factores. Por exemplo, independentemente do sexo de pertença,
um candidato a um emprego sorri mais do que o entrevistador (Deutsch, 1990) e os
empregados são mais submissos do que os seus supervisores (Moskowitz, Suh e Desaulniers,
1994). Concluem que os indivíduos agem de uma forma mais agêntica e menos comunal
quando são colocados num papel dominante do que quando são colocados num papel
dominado e que os indivíduos passam de um tipo de comportamento ao outro em função da
sua posição na situação de interacção (Moskowitz, Suh e Desaulniers, 1994).
11

CONCLUSÃO

Ao dar destaque às mudanças ocorridas na divisão do trabalho entre homens e mulheres (elas
que até então tinham participação igualitária no processo de produção para o consumo e com
o advento da monogamia e da propriedade privada foram especializadas no necessário
trabalho doméstico), o marxismo permitiu estabelecer relações entre a família, o trabalho e a
política. Mesmo sendo criticado por seus conceitos terem pouca capacidade de explicar, ou
melhor, analisar amplamente as relações no interior de outras instituições, foi o marxismo que
traçou o caminho pelo qual foram rompidas as barreiras de análise da vida feminina no núcleo
familiar. Ainda, desvenda as análises da esfera pública, ajudando na reconceituação das
definições convencionais da política, da economia, das relações de poder e processos de
mudança.

Por fim, após visualizarmos através do tempo a construção do entendimento sobre os gêneros,
conclui-se, parafraseando Guimarães (2005), que a mulher e o homem são construídos
socialmente, a partir de uma cultura historicamente situada no tempo e dentro de
circunstâncias possíveis, determinadas por essa temporalidade. Cada um, mulher e homem,
estão imersos em um mar de símbolos que se corporificam através dos comportamentos
impostos pela ética hegemônica. A identidade de gênero neste sentido influencia não somente
a visão que temos de nós mesmos, mas também, a visão e a expectativa que ou outros têm de
nós, influenciando as escolhas e oportunidades que nos são apresentadas a cada dia.
12

Referências Bibliográficas

BRUSCHINI, Cristina; ARDAILLON, Danielle (1998), Tesauro para estudos de gênero e


sobre mulheres. São Paulo: Fundação Carlos Chagas.

ENGELS, Friedrich (1978), A origem da família, da propriedade privada e do estado. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira.

GUEDES, Nair Barbosa (1997), Gênero, relação desafiadora para movimentos sociais e
ongs. Dissertação de Mestrado. UFRJ.

GUIMARÃES, Maria de Fátima (2005), Trajetória dos feminismos: introdução à abordagem


de gênero. In: Marcadas a ferro. Violência contra a mulher, uma visão multidisciplinar.
Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila (1999), Estudos de Gênero no Brasil. In: O que ler na
Ciência Social Brasileira (1970-1995). Sociologia (Volume II). São Paulo:
Sumaré/ANPOCS.

SAFFIOTI, Heleieth (2005), Gênero e Patriarcado. In:Marcadas a ferro. Violência contra a


mulher, uma visão multidisciplinar. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres.

-----. (1992), Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, Albertina de Oliveira;
BRUSCHINI, Cristina (org.) Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos.

-----. (1976), A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Vozes.

SANTOS, José Alcides Figueiredo (2005), Classe social e desigualdade de gênero no Brasil.
Trabalho apresentado no XXIX Encontro Anual da ANPOCS, GT “Gênero na
Contemporaneidade".

SEN, Amartya (2001), Desigualdade reexaminada. Rio de Janeiro: Editora Record.


13

SCOTT, Joan (1996), Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Recife: SOS
Corpo.

Você também pode gostar