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A CONSTITUIÇÃO DE 1990 E O MULTIPARTIDARISMO EM MOÇAMBIQUE.

HELFAS SAMUEL-Licenciando em ensino basico com habilitacoes em


supervisao e inpecao escolar-Universidade Pedagogica-Gaza (Contactos:
842849771/863498270) email: helfas16cumbane@gmail.com, facebbock: Helfas
Samuel.

/Freelancer de Conteúdos/

1.Introdução

A CONSTITUIÇÃO DE 1990 E O MULTIPARTIDARISMO EM MOÇAMBIQUE.

O multipartidarismo em Moçambique, foi introduzido no início dos anos 1990, com a adopção de
uma nova constituição pluralista que consagrava a liberdade de associação, o que veio a ser
fundamentado com aprovação da lei 7/91, a assinatura dos Acordos Gerais de Paz (AGP)
estabeleceram as condições para o estabelecimento da democracia multipartidária, no país.

Nesta visão, o nosso trabalho objectiva-se de forma geral a analisar a constituição de 1990 e o
multipartidarismo em Moçambique, de forma específica iremos definir o conceito
multipartidarismo, não só, iremos contextualiza o termo multipartidarismo no contexto
moçambicano, e descrever a implementação do processo multipartidário em Moçambique.

Em termos estruturais o nosso trabalho apresenta, introdução, referencial teórico, conclusão e


bibliografia.

Para a materialização do presente trabalho cingiu-se em método de consulta bibliográfica que


consistiu na leitura e interpretação de diferentes obras que abordam sobre a temática ligada a
matéria em cláusula.”.
1.1.Objectivos

1.1.1.Objectivos específicos

 Analisar a constituição de 1990 e o multipartidarismo em Moçambique

1.1.2.Objectivos específicos
 Definir alguns conceitos chaves;
 Contextualizar o multipartidarismo na realida moçambicana;
 Descrever o processo de implementação do multipartidarismo em Moçambique;

1.2.Metodologia

Para a elaboração do presente trabalho para além dos conhecimentos práticos que possuímos,
iremos usar a pesquisa bibliográfica, onde vamos trazer interpretações sólidas e
fundamentadas por diferentes autores de destaque que debruçaram-se sobre o tema em alusão
e também recorremos a pesquisa documental, para recolher informações em diversos
relatórios, monografias e teses de doutoramento.
2.Referêncial Teórico

2.1.Conceitos
 Multipartidário

Na visão de Duverger citado por Oliveira e Duailibe (2010) o multipartidário é aquele em que
se caracteriza pela presença de três ou mais partidos políticos num contexto de disputa da pelo
poder num determinado sistema eleitoral.

Neste caso o multipartidarismo é o cenário onde as diversas percepções dos vários grupos
sociais são canalizadas, defendidas pelos partidos políticos e existem garantias constitucionais
para que a luta, manutenção do poder e exercício do poder.

2.2.A CONSTITUIÇÃO DE 1990 E A DEMOCRACIA MULTIPARTIDÁRIO

A constituição de 1990 veio a introduzir o Estado de direito democrático, que se funda na


separação de poderes, pluralismo político, liberdade de expressão e respeito pelos direitos
fundamentais. Ou seja, com esta constituição de 1990, Moçambique pela primeira vez
introduz o sistema multipartdário, onde nas vésperas das primeiras eleições gerais
multipartidários haviam sido legalizados 18 partidos políticos. (Mazula, 2000).

Nesta constituição, a administração é composto por um presidente, primeiro-ministro e do


conselho de ministro, (como actual). E o sistema judiciário é composto por um Tribunal
Supremo e provinciais, distritos e de tribunais municipais.

2.2.1.Constituição de 1990

A primeira Constituição de Moçambique entrou em vigor em simultâneo com a proclamação


da independência nacional em 25 de Junho de 1975. Nesta altura, a competência para
proceder a revisão constitucional fora atribuída ao Comité Central da Frelimo até a criação da
Assembleia com poderes constituintes, que ocorreu em 1978. Considerando a importância da
constituição como a “lei-mãe” do Estado moçambicano, e daí a necessidade do seu
conhecimento pelos cidadãos, de seguida é feita uma breve menção sobre a evolução
constitucional de Moçambique (BRITO, 2010).

Na visão de Mazula (2010) A revisão constitucional ocorrida em 1990 trouxe alterações


muito profundas em praticamente todos os campos da vida do País. Estas mudanças que já
começavam a manifestar-se na sociedade, principalmente na área económica, a partir de 1984,
encontram a sua concretização formal com a nova Constituição aprovada. Alguns aspectos
referentes as alterações pode-se citar:
 Introdução de um sistema multipartidário na arena política, deixando o partido
Frelimo de ter um papel dirigente e passando a assumir um papel histórico na
conquista da independência;
 Inserção de regras básicas da democracia representativa e da democracia participativa
e o reconhecimento do papel dos partidos políticos;
 Na área económica, o Estado abandona a sua anterior função basicamente
intervencionista e gestora, para dar lugar a uma função mais reguladora e controladora
(previsão de mecanismos da economia de mercado e pluralismo de sectores de
propriedade);
 Os direitos e garantias individuais são reforçados, aumentando o seu âmbito e
mecanismos de responsabilização;
 Várias mudanças ocorreram nos órgãos do Estado, passam a estar melhor definidas as
funções e competências de cada órgão, a forma como são eleitos ou nomeados;
 Preocupação com a garantia da constitucionalidade e da legalidade e consequente
criação do Conselho Constitucional; entre outras.

A CRM de 1990 sofreu três alterações pontuais, designadamente: duas em 199211 e uma em
199612. Destas merece especial realce a alteração de 1996 que surge da necessidade de se
introduzir princípios e disposições sobre o Poder Local no texto da Constituição, verificandos
e desse modo a descentralização do poder através da criação de órgãos locais com
competências e poderes de decisão próprios, entre outras (superação do princípio da unidade
do poder).

2.2.2.Contextualização do multipartidarismo em Moçambique

Com a independência de Moçambique em 1975 proclamada pela FRELIMO, movimento que


esteve na luta contra o colonialismo português, tendo esta adoptado uma constituição na qual
definia o seu papel como força da liderança do Estado, bem como assegurava a legitimação
do regime de partido único, eliminando deste modo qualquer forma de pluralismo social, Lala
& Ostheimer (2003). Ainda a este respeito Brito (2009), ressalva que “ beneficiando de um
prestígio e apoio quase unânime no seio da população moçambicana por altura da
independência, a FRELIMO, levou ate as últimas consequências a lógica do partido único,
preocupando – se em eliminar todas as formas de organização politica ou social autónomas”.
Portanto, o facto de a FRELIMO ter sido a única força representante do povo moçambicano
na luta pela independência nacional e nas negociações com o governo português, após o golpe
de Estado ocorrido em Portugal no dia 25 de Abril de 1974, conferiu credibilidade e
legitimidade no acesso ao poder no país independente.

Tendo esta posteriormente desencadeada uma série de reformas políticas, sociais e económicas,
que transformaram o status quo nacional, e conduziram o país a várias crises que fertilizaram o
terreno para a eclosão de uma guerra civil, envolvendo o governo da FRELIMO e a RENAMO.

Segundo, Lundin (1995), com a independência, a FRELIMO escolhe para Moçambique uma via
de desenvolvimento rumo ao socialismo, seguindo a política do bloco que maioritariamente a
apoiou durante a luta de libertação a escolha do modelo e as práticas inerentes ao mesmo
alienaram moçambicanos. Retirou – se do processo indivíduos e grupos que defendiam outras
ideias, um estilo de vida diferente, de tudo que se propunha. Isto criou bases para que o processo
de desenvolvimento se tornasse vulneráveis as penetrações, que o inviabilizaram levando o País à
pobreza, ao conflito entre grupos e sectores sociais, e finalmente, à guerra, Ibid.

Para Brito (2009), foi nesse contexto de tentativa de construção de um poder político
monopartidario, de crise económica interna e confrontação política regional que surge a
RENAMO logo depois da independência serviu de expressão interna de clivagens e conflitos
sociais, acrescentando ao conflito uma dimensão de guerra civil, particularmente nas zonas centro
e norte do país.

É neste cenário mudanças de cariz institucionais e politicas foram implementadas reformas,


com vista a acomodar o país à nova realidade em que se encontrava, tendo se com isso se
rompido com os fundamentos do monopartidarismo. Para Tolenare (2006), a constituição da
república de Moçambique de 1990 criou a base legal para as eleições multipartidárias,
liberdade de associação e a formação de partidos políticos.

A aprovação da lei 7/91, dos partidos políticos, que estabelece o quadro jurídico para a
formação e actividade dos partidos políticos, veio adequar a nova realidade em que o país se
encontrava, uma vez que a constituição de 1990 consagrava o pluralismo político, o estado de
direito democrático. Na visão de Brito (2010), este processo estava também relacionado com
os esforços de negociação com a Renamo, mas só iriam produzir frutos com o acordo geral de
paz assinado em Roma em 1992. O AGP ao estabelecer a paz e as regras de incorporação da
Renamo na sociedade moçambicana, significou a possibilidade prática de aplicar os novos
princípios constitucionais nomeadamente a realização de eleições multipartidárias e nesse
sentido foi um avanço sem precedentes para a possibilidade de construção de uma sociedade
democrática pluralista, Ibid.

2.2.3.Multipartidarismo em Moçambique a luz da constituicao de 1990

O multipartidarismo é um fenómeno bastante recente em Moçambique. De 1975 até a


adopção da Constituição de 1990, a Frelimo, o movimento que liderou a luta pela
independência, dirigiu o país num sistema de partido único. São dois os elementos principais
que explicam o fim do regime monopartidário, que vigorava em Moçambique desde a
independência (1975). Em primeiro lugar, o contexto internacional, marcado pelo
desmoronamento do bloco soviético a partir de 1989 e um clima desfavorável aos regimes
monopartidários de inspiração comunista e, em segundo lugar, o contexto interno do país,
marcado por uma guerra civil sem solução militar à vista e por uma situação económica de
profunda crise.

Com a Constituição de 1990, ficou aberto o espaço político, mas este processo só adquiriu
verdadeiro conteúdo após a celebração do Acordo Geral de Paz em 1992, altura em que a
Renamo foi reconhecida como movimento legítimo e se iniciaram os preparativos para as
primeiras eleições multipartidárias. Ao fim de quatro eleições gerais, ficou claro que o sistema
político Moçambicano se caracteriza por uma bipolarização, ou seja, o Bipartidarismo em
torno dos dois partidos - Frelimo e Renamo - apesar de ser cada vez maior o domínio da cena
política por parte da Frelimo (Mazula, 2000).

A abertura do sistema político moçambicano ao multipartidarismo provocou a formação de


um grande número de partidos políticos. No entanto, como as eleições de 1994 o
confirmaram, apenas a Frelimo e a Renamo seriam capazes de se afirmar como forças
políticas importantes, dispondo de um eleitorado significativo. É assim que, apesar dum
sistema eleitoral baseado na representação

O Multipartidarismo, na sua essência, significa uma maior representação de partidos políticos


na Assembleia da República. Não sendo o caso em Moçambique, prefirimos designar de
Bipartidarismo, na medida em que sao apenas dois (2) grandes partidos (Frelimo e Renamo)
que, para além de terem maior representatividade no parlamento, dominam a arena politica do
país, pondo em causa, deste modo, o Multipardarismo preconizado na Constituição de 1990.
O cenário político que se faz sentir em Moçambique, de acordo com os factos
político-ideológicos decorrentes do dia-a-dia, permitem-nos afirmar com significatica
segurança que na verdade estamos perante o Bipartidarismo. Em nossa análise, não basta so
existir muitos partidos políticos que, no entanto, não têm assentos no parlamento, pois há
minorias que possuindo simpatias manifestas através de votos, por esses partidos
considerados pequenos, gostariam de estar representados no parlamento, apesar de muito
recentemente o MDM conseguir, em número insignificante, assentos na Assembleia da
República.

2.2.4.Os desafios que se colocam ao multipartidarismo em Moçambique

Na visão de brito (2010) a ideia de path dependent trazida pelo institucionalismo histórico de Hall
e Taylor (1996), explica a crise do multipartidarismo, na medida em que ela olha para a trajectória
que o país percorreu e as implicações da mesma nas escolhas futuras. Partindo deste pressuposto
podemos afirmar que o país e o regime da Frelimo herdaram as práticas e as estruturas do regime
colonial que era caracterizado por um centralismo politico e governativo, facto que foi
transportado para a época pós – colonial.

Na mesma ordem de ideias o processo de transição democrática e a construção das instituições


democráticas conduzido pela Frelimo e a Renamo, ditou a configuração actual do campo político
moçambicano, tal como Brito (2010), demonstra o facto de as negociações e o processo de
transição política até às eleições terem sido conduzidos apenas pelas duas partes beligerantes,
cada uma delas preocupada em garantir o máximo de vantagens para si própria, significou
também uma polarização do espaço político nascente à sua volta. Num certo sentido, pode-se
dizer que a democracia foi confiscada por estes dois partidos, não tendo havido um ambiente
favorável à expressão de outras forças e interesses provenientes da sociedade civil, Ibid.

A construção do processo democrático foi moldado com vista a acomodação da Renamo no novo
contexto politico, dai que a exclusão dos partidos “não armados” de origem não armada e não
com vista a promoção de uma sociedade democrática pluralista. Ora vejamos o facto da realização
do quadro institucional que orientou a realização das primeiras eleições, foi marcado pela
exclusão de outros partidos políticos, como revelam Lalá e Ostheimer (2003), “Os denominados
partidos não armados, criados a partir de 1990, tiveram poucas oportunidades para influenciar e
moldar o processo de transição, conforme demonstrou a conferência multipartidária para a
preparação do projecto de lei eleitoral. A oposição, sentindo-se excluída, assumiu que qualquer
acção política desencadeada pela Frelimo visava somente o seu próprio, Ibid.

Este facto acentua – se pelo facto dos partidos “não armados” enfrentarem dificuldades inerentes
ao seu próprio funcionamento, o que leva ao seu desaparecimento em períodos não eleitorais,
acentuando deste modo a bipolarização da cena política no que diz respeito á produção e defesa de
ideologias. O que se verifica é que o facto de a Frelimo ter sido o condutor da Máquina do Estatal
desde a independência o posicionou – se de uma forma privilegiada na preparação do processo
transitório para a democracia, tendo este preparado as suas formas de acomodação no novo
contexto politico, que se aproximava não abrindo espaço e nem deixando condições para que
pudesse enfrentar forte concorrência e nem para perda do poder.

Uma observação trazida por Weimer apud Sitoe et al (2005), respectiva a democracia
moçambicana, é que “o cenário em que os fundamentos de uma democracia real e cultura
democrática tem sido negligenciadas permitindo assim espaço para o cenário de cooptação, que
caracteriza – se pela centralização e concentração do poder. Esta característica da democracia
moçambicana à luz do path dependent é explicado pelo facto de o Estado após a independência ter
sido orientado seguindo se a lógica do partido único constituiu um alicerce que foi transportado
para o período pós – transição, o facto de a Frelimo controlar os recursos do Estado implicou o
transporte das formas de funcionamento das instituições democráticas. O facto de este ter se
afirmado como um partido dominante, mediante a utilização das práticas do clientelismo,
nepotismos e a aproximação aos seguimentos sociais a nível local, tem reduzido o espaço de
actuação dos outros partidos e a Renamo, cada vez mais tem revelado a falta de capacidade de
adaptação face aos desafios colocados face ao novo contexto.
3.CONCLUSÃO

A abertura do sistema político moçambicano ao multipartidarismo provocou a formação de


um grande número de partidos políticos. No entanto, como as eleições de 1994 o
confirmaram, apenas a Frelimo e a Renamo seriam capazes de se afirmar como forças
políticas importantes, dispondo de um eleitorado significativo. É assim que, apesar dum
sistema eleitoral baseado na representação proporcional, Moçambique conhece desde essa
altura um sistema bipartidário de facto.

O processo de inclusão política que tinha sido iniciado com o Acordo Geral de Paz foi
interrompido após as primeiras eleições. Com efeito, ao obter uma maioria absoluta no
parlamento, a Frelimo optou por governar só e rejeitou as pressões que na altura se faziam
sentir no sentido de formar um governo de unidade nacional, à semelhança do que tinha feito
o ANC na vizinha África do Sul. Deste modo, o sistema multipartidário implantado no país
manifesta-se apenas em circunstâncias formal e teórica, no sentido de que, na prática, reina o
bipartidarismo onde a Frelimo e a Renamo são os protagonistas, estando na periferia política
os chamados pequenos partidos ou partidos emergentes (PDD, PIMO, MDM,).

O Multipartidarismo, na sua essência, significa uma maior representação de partidos políticos


na Assembleia da República. Não sendo o caso em Moçambique, prefirimos designar de
Bipartidarismo, na medida em que sao apenas dois (2) grandes partidos (Frelimo e Renamo)
que, para além de terem maior representatividade no parlamento, dominam a arena politica do
país, pondo em causa, deste modo, o Multipardarismo preconizado na Constituição de 1990.

O cenário político que se faz sentir em Moçambique, de acordo com os factos


político-ideológicos decorrentes do dia-a-dia, permitem-nos afirmar com significatica
segurança que na verdade estamos perante o Bipartidarismo. Em nossa análise, não basta so
existir muitos partidos políticos que, no entanto, não têm assentos no parlamento, pois há
minorias que possuindo simpatias manifestas através de votos, por esses partidos
considerados pequenos, gostariam de estar representados no parlamento, apesar de muito
recentemente o MDM conseguir, em número insignificante, assentos na Assembleia da
República.
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 BRITO, Luís de. Sistema eleitoral uma dimensão critica da representação politica em
Moçambique, in in Carlos N. C. Branco, S. Chichava, l. Brito, a. Francisco (org), Desafios
para Moçambique, 2010, Maputo, IESE, 2010
 MAZULA, B. A construcao da democracia em África: o caso de Moçambique.
Maputo, 2000.
 NUVUNGA, Adriano. Multiparty Democracy in Mozambique: strengths, weaknesses and
challenges . EISA, Research Report No. 04, 2005
"Por vezes nao vemos grandes oportunidades porque elas estao ao nosso lado" Helfas
(2017)

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