Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Finanças Públicas I
Dra. Matilde Lavouras – 2018/2019
1. NOTAS PRELIMINARES
NOÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DAS FINANÇAS PÚBLICAS
Bárbara Morim 1
Suponhamos que é criado um novo imposto sobre as rendas. Importa, desde logo,
saber quem vai suportar esse imposto: se são os senhorios, se são os arrendatários.
É importante também saber quais os efeitos sobre a receita fiscal, e indiretamente
os efeitos sobre os setores de construção civil e do imobiliário (análise positiva).
Podemos, também, questionar se é ou não desejável a criação deste novo imposto –
questionar se é ou não desejável implica uma análise normativa. Para responder a
esta questão, temos que usar critérios. É precisamente nesta análise normativa que
importa ter em consideração outros princípios para além dos princípios económicos,
como seja o princípio da igualdade e o princípio da liberdade, entrando ainda em
conta questões relacionadas com a equidade.
1
Situação em que a generalidade das pessoas é beneficiada, ninguém é prejudicado (raro)
2
Esta posição opõe-se à de Teixeira Ribeiro e de Almeida Garret.
3
O que está em causa é saber quem paga, e não quem produz.
Bárbara Morim 2
2) As funções do Estado
A escolha dos bens de provisão pública tem sido muito debatida entre os
economistas – a opção por um e não por outro bem dependerá do peso a dar, em
cada situação concreta, aos fatores de equidade, eficiência e liberdade.
Bárbara Morim 3
Estas duas dimensões podem colidir com uma outra: a da liberdade negativa.
Isto é, os cidadãos devem manter uma esfera de liberdade e auto nomia inviolável.
Estes três critérios normativos podem ter, então, uma prevalência diversa
consoante o tipo de análise que está em causa. Para os juristas, o critério
preponderante deve ser o da equidade.
1) Generalidades
Bárbara Morim 4
restrição inaceitável das despesas dos particulares, impedindo -os de usar os seus
rendimentos de forma livre e produtiva.
Por admitirem que a única fonte de financiamento pública eram os impostos e
por entenderem que o Estado é puro consumidor, acabam por ver o imposto um
triplo mal: o imposto é um valor fornecido pela sociedade, que não retorna a esta
através de consumo ou investimento e custa, à mesma, o dinheiro que entra nos
bolsos do Estado - custando também os custos de arrecadação e, ainda, o valor dos
produtos que não são criados pelos particulares por terem pago o imposto. Por isso,
o Estado é um imposto.
Com uma intervenção tão mínima na economia, não faria sentido sustentar que a
despesa estadual pudesse representar uma parcela significativa do PIB – a despesa
pública total deveria situar-se por volta dos 10% do PIB, destinando-se
exclusivamente à referida agenda estadual limitada.
Bárbara Morim 5
1) Generalidades
Nota:
Provisão é diferente de produção. Bens públicos não são bens produzidos pelo
Estado.
Bárbara Morim 6
No entanto, basta que um bem seja irrival ou inexcluível para que, em regra, o
mercado não consiga obter a máxima eficiência – dupla falha do mercado.
Tratando-se de bens inexcluíveis, os produtores privados não conseguem
financiar a produção através da cobrança do preço aos utilizador es, porque estes
podem usar o bem sem pagar. Apesar de atribuírem utilidade ao bem, não têm
qualquer incentivo para financiar igualmente esta produção – não revelam a sua
preferência.
O que existe nestes casos é antes um incentivo para que cada um dos utilizadores
se coloque numa posição de free rider.
Nestas situações, haverá uma ineficiência do mercado, porque apesar de haver
consumidores do bem e de estes atribuírem ao bem uma utilidade superior ao custo
de produção, não estão dispostos a suportar esse custo de utilização – pois podem
usar o bem sem pagar qualquer preço. É por isso que em alguns casos o Estado
chama a si a produção destes bens. No caso dos bens do irrival, mas excluíveis, há
situações em que do ponto de vista social esta exclusão pode se r preocupante, mas
o que nos interessa são os efeitos económicos da exclusão em bens irrivais. Excluir
Bárbara Morim 7
utilizadores, no caso dos bens irrivais, implica, do ponto e vista económico, uma
diminuição da utilidade total do bem.
Assim, a cobrança de um preço pela utilização de um bem irrival leva a uma
ineficiência do mercado, porque com o mesmo dispêndio de meios, se gera uma
menor utilidade. Pode questionar-se porque é que este tipo de bens não é
influenciado por receitas publicas.
“Bens cuja produção pelo Estado a política considera desejável (…) por imposição
da elite dominante ou por adesão a interesses ou valores da comunidade” RICHARD
MUSGRAVE
Os bens de clube são bens cujo leque de potenciais consumidores pode ser
determinado antecipadamente, mas são bens de consumo não rival, que apresentam
a partir de um determinado ponto, custos de congestão (bens de consumo irriva l até
determinado ponto, que quando ultrapassado passam a ser bens de consumo rival).
Por serem bens com destinatários determinados, e desde que haja vontade de
produção do bem parece existirem condições para que o mercado produza. Mas, se
o consumo é irrival, os utilizadores têm interesse em colocar-se numa posição de
free rider, usufruindo do bem de forma lícita, sem terem necessidade de contribuir
para o seu financiamento. Por essa razão, alguns destes bens são produzidos por
Bárbara Morim 8
Um exemplo dos bens de clube são os faróis: mas este bem é um bem de provisão
privada – o custo da sua produção mais o custo de transação são comparativamente
baixos e muito inferiores ao beneficio gerado para cada utilizador, mas também aqui
vamos encontrar utilizadores free rider, porque a produção do bem é financiada
pelos armadores registados, mas desse bem beneficiam também as embarcações de
recreio que utilizem aquele porto o que se desloquem ao longo da costa.
Bens semipúblicos são bens que apenas possuem uma das características dos
bens públicos (não são rivais e não são excluíveis) – ou são bens rivais, ou são bens
excluíveis, e, em alguns casos, são bens rivais e bens excluíveis – por isso, muitas
vezes os bens semipúblicos são também chamados bens privados que, por uma
decisão política, se transformaram em bens de provisão pública.
Dentro dos bens semipúblicos distinguimos entre bens tecnicamente semipúblicos
e bens técnica e financeiramente semipúblicos.
Bárbara Morim 9
→ Assimetria de informação
A assimetria de informação justifica a intervenção publica quer por meios
financeiros quer por meios não financeiros. Estamos perante uma situação em que
existe assimetria de informação quando as duas partes intervenientes num negóc io
tem uma informação diferente sobre o produto – que uma está a vender e que outra
está a comprar, o que faz com que o preço pelo qual uma vende e pelo qual a outra
está disposta a comprar se formem com base em pressupostos diferentes.
Trata-se de situações em que a intervenção publica se justifica para que a
proteção daquela parte que tem o menor conhecimento das características do bem,
e que em regra apenas leva à imposição e obrigações não financeiras, como por
exemplo a obrigação de rotulagem. A assimetria de informação pode também levar
em casos concretos à inexistência de mercado que só por si não justifica a
intervenção estadual, mas dependendo do bem em causa, pode originar a
necessidade de intervenção publica.
Monopólios naturais
Situações de mercado em que existem elevados custos iniciais e em que o retorno
de investimento é a muito longo prazo, constituindo ao mesmo tempo a forma mais
eficiente de produção do bem.
Bárbara Morim 10
4. A DESPESA PÚBLICA
1. Introdução
Bárbara Morim 11
Trata-se de uma situação reclamada pelos cidadãos, que pedem agora uma maior
intervenção social do estado, mas também, o incremento de atividades de proteção
e de defesa.
Temos que considerar que, nesta altura, a despesa pública representava uma
percentagem de PIB muito baixa, e as áreas de intervenção eram também elas muito
limitadas. Wagner constatou então, que a industrialização seria o fundamento não
só para o aumento intensivo da despesa, isto é, para o aumento da despesa naquelas
áreas tradicionais da intervenção pública, mas também, um aumento extensivo, ou
seja, com a criação de novas áreas para a intervenção pública.
Conclui, também, que se trata de um crescimento que acompanha o crescimento
do produto interno bruto. Wagner reconhece, contudo, que não é possível um
crescimento da despesa até ao ponto em que a despesa pública represente 100% do
PIB. Ele próprio acaba por referir que é necessário estabelecer limites para o
crescimento da despesa, através da regulação, referindo também que a taxa de
crescimento da despesa não deve ser superior à taxa de crescimento do produto.
Wagner esquece-se, porém, de formular uma equação matemática que permitisse
validar a sua teoria, e por isso é que encontramos referências à “lei de Wagner” como
uma mera lei empírica ou como uma lei que carece de validação, mas esse facto não
lhe retira importância.
E foi precisamente para tentar validar, ou refutar, a lei de Wagner que dois
economistas britânicos (Peacock e Wiseman) analisaram os dados do Reino Unido
por volta da década de 60 do século XX.
Acabam por concluir que a despesa pública aumentou mais do que
proporcionalmente em relação ao PIB e constatam ainda que, contrariamente ao que
o Wagner dizia, o aumento da despesa não se faz nem de forma crescente, nem de
forma constante, seguindo-se a fortes períodos de crescimento seguem-se períodos
de decrescimento e seguem-se períodos de crescimento lento.
Bárbara Morim 12
tempo, está também disponível para aceitar apenas uma redução parcial dos
impostos (efeito apreciação). Estes autores afirmam ainda que aliada ao aumento
da despesa pública, se dá uma concentração da despesa pública no estado central
(efeito concentração).
Contrariamente ao que aconteceu com Wagner, esta teoria está sustentada por
uma formulação matemática que permite a sua verificação e validação.
Bárbara Morim 13
Bárbara Morim 14
À euforia dos anos 80, seguir-se-ia algum ceticismo sobre o papel do estado na
economia, sendo as políticas de redistribuição e de estabilização criticadas por
alguns economistas. As falhas ao nível da implementação das políticas públicas, e o
período de estagflação dos anos 70, fundamentariam muitas dessas críticas. Aliada
a essas críticas, surge também a constatação de efeitos nefastos decorridos dos
défices orçamentais, chegando mesmo a questionar-se a benevolência pública na
escolha do tipo de políticas a implementar, e por isso, começam a aparecer grupo
que atacam aquilo que designam por políticas públicas excessivamente onerosas, e
que colocam em causa a bondade de gastos públicos tão elevados, nesta época, a
generalidade dos países apresenta valores de despesa pública muito próximos ou
acima dos 50% do PIB, crescimento este que podia ser explicado por muitos fatores,
mas que sobretudo tem origem na mudança de paradigma do pensamento
económico sobre as funções do estado.
Bárbara Morim 15
5. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Nota:
Pergunta frequente nas orais: qual a forma que reveste o orçamento? Reveste a
forma de proposta de lei que, depois de ser aprovada, revestirá a forma de lei de
valor reforçado – prevalece sobre as demais leis ordinárias. Ela tem um prazo de
apresentação e um procedimento muito próprio.
1. Antecedentes históricos
No período medieval, não existe uma diferenciação entre instituições públicas e
instituições privadas. A principal fonte de financiamento do Estado são as receitas
patrimoniais, ocupando também lugar de destaque as receitas consuetudinárias. A
cobrança de impostos era apenas excecional e estava reservada para o
financiamento de despesas que não pudessem ser financiadas com recurso a outro
tipo de receitas. Porém, a cobrança de impostos, já nesta época, tinha que ser
autorizada pelas Cortes. Também excecional era a receita proveniente da cerceação
da moeda (retirar o metal, mantendo o valor da moeda).
Com a transição para o absolutismo, as Cortes perdem importância um pouco
por toda a Europa. Em Portugal, a partir da segunda dinastia, assiste -se à
centralização do poder real. Do ponto de vista orçamental, há que considerar a
importância das receitas ultramarinas e, em 1641, a introdução de um imposto
universal designado por “décima militar”. Constitui uma inovação que ainda hoje é
apontado como o primeiro imposto com características de imposto moderno.
À exceção da nobreza, todos estavam sujeitos ao pagamento deste imposto, sendo
um imposto de capitação (per capita). Este imposto representa, também, uma
transição para o liberalismo.
Com as revoluções liberais, assistimos a uma rotura com a situação pré-existente:
os impostos começam a representar uma maior parcela da receita estadual, mas a
sua criação é mais regular. Encontramos referência à necessidade do cumprimento
de procedimentos legais para a sua aprovação na “Bill of rights” de 1689 ou ao
princípio no “no taxation without representation”, proclamados na revolução
americana de 1776 ou também na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789. Para este facto, muito contribuiu também, a doutrina contratualista de
Locke e Rosseau que viam o imposto como uma contribuição para o bem comum,
Bárbara Morim 16
mas que não deixavam de defender também que a aprovação dos tributos tinha que
ser feita pela Assembleia Representativa do povo.
A história constitucional portuguesa consagra, desde a primeira constituição, um
regime muito semelhante ao atual, e de que se destaca a necessidade de ser a
Assembleia Representativa a autorizar quer a cobrança de receita, quer a realização
de despesa.
Bárbara Morim 17
Bárbara Morim 18
Releva notar que o Orçamento não se deve confundir com outros conceitos.
A Conta Geral do Estado é um registo da execução orçamental, e, por isso, contém
as receitas e as despesas efetivamente cobradas e realizadas pelo Estado ao longo
do período financeiro. Enquanto que o Orçamento é uma previsão à priori, a Conta
é “ex post”, e em vez de nos permitir saber o que vai acontecer, permite-nos
determinar o que efetivamente aconteceu em termos de execução orçamental.
Da comparação entre Orçamento e a Conta resultam desvios à política
inicialmente proposta. O Balanço é um mapa contabilístico que contém uma
avaliação do ativo e do passivo do Estado num determinado período. No ativo ,
vamos encontrar aquilo que o Estado possuí, o que tem direito a receber, e, no
passivo, os montantes que o Estado tem de pagar. Não é uma previsão, mas antes
uma constatação do deve/haver no determinado momento. Para além disso, as
rúbricas do ativo e do passivo não podem ser reconduzidas a receitas e despesas.
Como exemplo, temos o património imobiliário do Estado que integra uma conta do
ativo, mas que não é uma receita Estadual.
Bárbara Morim 19
Bárbara Morim 20
Bárbara Morim 21
Esta regra da unidade tem em vista não só esta agregação num único documento
da receita e da despesa estadual, como também, que para cada período exista apenas
um Orçamento. Esta exigência de unidade orçamental, com este duplo sentido,
porque se pretende evitar que a existência de múltiplos Orçamentos (um por cada
serviço).
O n.º 2 do art.º 9.º, em conjugação com a al. b) do art.º 1.º, todos da nova LEO
parece excecionar a existência de unidade orçamental dentro do Estado, isto é, nem
todos os serviços que compõem o setor administrações públicas veem as suas
receitas e despesas inscritas no Orçamento Geral do Estado.
Esta pluralidade orçamental foi justificada com base na necessidade de facilitar o
apuramento do saldo orçamental ou verificação do equilíbrio orçamental,
elaborando orçamentos distintos consoante a classificação de despesas e de receitas.
A pluralidade orçamental pode ainda ser justificada pela existência de serviços
dotados de autonomia administrativa e financeira, à luz das disposições da Lei de
Bases da Contabilidade Pública – que, embora excecionais, têm orçamentos próprios.
Atualmente, a violação desta regra parece decorrer logo do art. 9º da nova LEO,
enquanto no art. 1º ss. da Nova LEO se refere expressamente à vinculação de todas
as entidades do setor administrações públicas, o art. 9º menciona apenas as
entidades do subsetor administração central e segurança social, excluindo
expressamente no seu nº2 os orçamentos das Regiões Autónomas e das Autarquias
(decorre do art. 6º CRP).
Bárbara Morim 22
Bárbara Morim 23
Hipótese 1 Hipótese 2
Valor da receita efetivamente cobrada: Valor da receita efetivamente cobrada:
15.000.000 8.000.000
Bárbara Morim 24
Nota: Nas Lições do Dr. Teixeira Ribeiro, diz-se que o período complementar
vai até 14 fevereiro.
Bárbara Morim 25
7. O EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL
Bárbara Morim 26
Estando equilibrado o montante das receitas efetivas e das despesas efetivas será
também igual o montante das receitas não efetivas e das despesas não efetivas:
o Receitas não efetivas: são aquelas que não aumentam o património financeiro
do Estado (v.g. empréstimos contraídos pelo Estado – estão no ativo do estado,
mas também estão no passivo);
o Despesas não efetivas: aquelas que não diminuem o património financeiro do
Estado (v.g. reembolso do empréstimo).
Se o montante das receitas e das despesas efetivas for igual, o Estado chegará ao
fim da execução orçamental com o mesmo património financeiro que tinha no início.
Se a generalidade das despesas estaduais são despesas que diminuem o
património financeiro do Estado, então para que o orçamento esteja equilibrado,
elas têm que ser cobertas (pagas) com receitas que aumentam o património
financeiro do Estado. De entre essas receitas, as que realmente contam (porque
representam a parcela mais significativa das receitas públicas) são os impostos e,
por isso, costuma dizer-se que o equilíbrio efetivo corresponderá ao equilíbrio entre
despesa pública exceto os reembolsos dos empréstimos e o montante dos impostos.
Bárbara Morim 27
Bárbara Morim 28
Bárbara Morim 29
Assim sendo, quem deve suportar o pagamento das despesas ordinárias deve ser
a geração presente, porque é aquela que delas retira benefício, e, então, essas
despesas devem ser pagas com recurso a impostos, onerando a geração presente.
Já as despesas extraordinárias, que trazem vantagens à geração presente e às
gerações futuras podem ser pagas com recurso a receitas que onerem as várias
gerações que beneficiam dessa despesa, ou seja, através de empréstimos. Não se
consegue provar que as despesas ordinárias esgotem a sua utilidade no período em
que são feitas, e também não se consegue provar que as despesas extraordinárias
tenham uma utilidade duradoura.
É importante, ainda, falar no tipo de despesas: despesas extraordinárias
recorrentes, que são aquele tipo de despesas que não retornam em espécie, mas sim
em género, ou seja, são despesas extraordinárias cujo montante se repete nos
Orçamentos seguintes, constituindo também elas, uma espécie de encargo
permanente.
Em muitos casos, não há dúvidas na classificação de uma receita e despesa como
ordinária ou como extraordinária, mas há um conjunto muito vasto de receitas e
despesas que não é possível classificar em abstrato, sendo necessário verificar em
concreto se elas se repetem ou não, o que permite muita flexibilidade na
classificação das receitas e das despesas como ordinárias ou como extraordinárias.
A classificação de uma despesa como extraordinária permite que esta seja
financiada com recurso a empréstimos sem colocar em causa o equilíbrio
orçamental.
Em jeito conclusivo, podemos dizer que este critério de equilíbrio é de difícil
sustentação teórica, mas é de fácil formulação, não tendo ainda sido possível
comprovar a validade do argumento do equilíbrio na distribuição intergeracional
dos encargos e dos benefícios resultantes da atividade estadual.
Releva, aqui, falar no princípio da equidade intergeracional (art. 13º da Nova
LEO).
Bárbara Morim 30
Bárbara Morim 31
Saldo estrutural
O saldo estrutural, também designado por “saldo orçamental de pleno emprego”,
parte do equilíbrio efetivo do orçamento para, depois, retirar os valores
correspondentes à componente cíclica e à componente estrutural, permitindo -nos
saber qual é que seria o valor do saldo orçamental se a economia estivesse em p leno
emprego (de fatores).
Aqui encontramos diferentes algoritmos de cálculo: metodologia OCDE,
metodologia FMI e metodologia EU.
Ver: art. 12º/c Velha LEO e art. 3º do Tratado Orçamental (nomenclatura diferente).
Bárbara Morim 32
Como dissemos, temos de utilizar as normas dos art. 23º, 25º e 28º da velha LEO
para as quais nos remete o art. 9º. Assim, cada tipo de serviço fica obrigado a
apresentar um orçamento equilibrado de acordo com um determinado critério e
globalmente, o orçamento geral do Estado tem de se apresentar equilibrado de
acordo com o critério do equilíbrio efetivo do orçamento (que a lei designa por “saldo
global”).
Os serviços integrados são aqueles serviços que não têm receita e orçamento
próprios, mas cujos dirigentes possuem competência para praticar os atos
necessários à autorização de despesas e ao seu pagamento, art. 2º e ss do RAFE
(Regime de administração financeira do Estado) e art. 2º da Lei de Bases da
Contabilidade Publica.
Estes serviços têm que apresentar um plano de atividades que será aprovado pelo
executivo e devem elaborar um orçamento com um saldo primário superavitário
(art. 23º da velha LEO).
Quanto aos serviços e fundos autónomos, diz-nos o art. 25º que devem
apresentar um orçamento efetivo (saldo global) equilibrado ou superavitário. Trata-
se de serviços que por disposição legal ou constitucional, têm personalidade jurídica,
autonomia administrativa e autonomia patrimonial, encontr ando-se regulados no
art. 6º ss. da LBCP e art. 43º ss. do RAFE. Embora seja um regime excecional, é
possível encontrarmos atualmente um leque vasto de serviços passíveis de serem
Bárbara Morim 33
integrados nesta categoria: apesar de a LBCP determinar que este regime apenas
pode ser concedido por lei ou decreto-lei, as entidades e organismos que disponham,
no mínimo, de receitas próprias que cubram 2/3 da sua despesa e esse regime de
gestão seja considerado o mais adequado ao governo da entidade, podem ser
classificadas enquanto tais (exigências estas que não são aplicáveis quando haja
imperativo constitucional, cfr. art. 6º/3 LBCP).
Por último, a segurança social deve, de acordo com o art. 28º apresentar um
orçamento efetivo equilibrado.
Bárbara Morim 34
Bárbara Morim 36
Até 2005, a aplicação das regras constantes do art. 126º e do PEC foi sendo feita
de uma forma muito flexível, com a passagem desta terceira fase dos quatro critérios
de convergência manteve-se apenas em vigor o último critério – o critério de
finanças públicas, que se divide me dois (défice e divida pública).
Em 2005, com a revisão do PEC 7, assiste-se ao reforço das regras de supervisão e
de coordenação, bem como à adoção de medidas com vista a reforçar as regras de
supervisão e coordenação dos Estados-membros, mas sobretudo para tornar mais
célere e mais claro o procedimento relativo aos défices excessivos.
Em 2011 executa-se uma reforma profunda da regulamentação do PEC, é
aprovado um pacote legislativo designado por Pacote Seis (Six Pack) Este pacote é
constituído pelos Regulamentos (CE) nºs. 1174/2011, 1175/2011, 1176/2011,
1177/2011, 1178/2011 e pela Diretiva nº 2011/85/UE.
O que se pretendeu com esta revisão foi, sobretudo, clarificar o procedimento que
está previsto no art. 126º, mas, na prática, o efeito destas alterações foi a
flexibilização das regras constantes do PEC original, numa tentativa de que todos os
Estados-membros pudessem cumprir o artigo 126º do tratado.
Em 2012, um grupo de países liderado pela Alemanha tentou aprovar mais uma
alteração ao PEC, mas não conseguiu a unanimidade requerida – tendo-se avançado,
então, para a adoção por parte de alguns Estados-membros de um documento de
Direito Internacional Público (um tratado de Direito Internacional), conhecido por
TECG (Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na UEM, muitas vezes
erradamente designado por Tratado Orçamental), que apenas vincula os Estados
signatários.
São estes atos normativos em conjunto que contêm o quadro a que devem
obedecer a elaboração, aprovação e execução dos orçamentos dos Esta dos-
membros. De entre estas obrigações, há que considerar aquelas que são genéricas,
7 Operada pelos Regulamentos (CE) nº 1055/2005 que alterou o Regulamento (CE) nº 1466/97; e (CE) nº
1056/2005, que alterou o Regulamento (CE) nº 1467/97.
8 Diferente de pacto
Bárbara Morim 37
Considerando que Portugal faz parte de um conjunto de países que têm como
moeda o euro (ou seja, dos “estados participantes”), o Governo fica obrigado a
cumprir, em matéria orçamental, as obrigações decorrentes de um conjunto
alargado de normas, não só de direito originário como também de direito derivado.
Algumas dessas obrigações constam já da LEO, resultantes da transposição de
normas de direito da EU. Assumem especial importância as normas dos arts. 121º e
126º TFUE e as normas do PEC revisto, para determinar o critério de equilíbrio
vigente na UE.
O que está em causa (no défice) é o endividamento líquido, expressão esta que
nos remete para o Regulamento (CE) nº 3605/93, art. 1º, nº3, que nos diz que
endividamento líquido corresponde à capacidade ou à necessidade líquida de
financiamento. Ou seja, nos casos em que exista um défice teremos uma necessidade
líquida de financiamento e, no caso em que exista um superávit, teremos uma
capacidade líquida de financiamento, ou seja, a capacidade líquida de financiamento
9Ou seja, o critério das finanças públicas mantém-se em vigor mesmo depois de o estado-membro se
encontrar na terceira fase da UEM
Bárbara Morim 38
Bárbara Morim 39
Bárbara Morim 40
Bárbara Morim 41
O TECG contém nos arts. 3º e ss. disposições que apenas são aplicáveis aos
Estados-Membros que façam parte da zona euro, podendo os Estados-Membros que
não pertençam a este grupo declarar a intenção de querer ser abrangido por estas
disposições (art. 3º/1/al. a; art. 3º/2).
A importância destes artigos é tanta que por vezes o TECG é designado por Pacto
Orçamental (designação que corresponde à epígrafe do título III).
No capítulo dedicado ao Tratado Orçamental, podemos encontrar normas
relativas à delimitação dos défices orçamentais e às metas a tingir por cada um dos
Estados-membros a que estas disposições são aplicáveis e normas relativas ao
mecanismo de correção a instituir a nível nacional, que será supervisionado por um
corpo independente, devendo os Estados-membros, para este efeito, ser
consistentes com os OMP previstos na vertente preventiva do PEC.
Os objetivos orçamentais traçados pelo TECG são ainda mais austeros do que os
que constam do PEC – estabelecido como limite máximo para o saldo estrutural
negativo (défice) o valor de 0,5% do PIB a preços de mercado (art.3º/1/al. b),
podendo este valor ser ultrapassado temporariamente quando se verifiquem
circunstancias excecionais e, nos casos da divida pública e o PIB a pr eços de mercado
seja significativamente inferior a 60% e os riscos para a sustentabilidade a longo
prazo das finanças públicas forem reduzidos, o valor limite para o saldo estrutural
passa para 1%.
O Tratado Orçamental estabelece ainda que, nos casos em que os limites
estabelecidos forem ultrapassados, sejam implementados mecanismos nacionais
Bárbara Morim 42
Cumpre assinalar que Portugal não deu cumprimento a esta obrigação e não fez
por dois motivos. Primeiro, não cumpriu a obrigação de transposição por disposição
constitucional ou por norma de valor reforçado, sendo esta normação transposta
por lei 41/2014 (alteração à LEO), mas que não é em si mesma uma lei de valor
reforçado e não cumpriu em concreto as exigências constitucionais para que do
ponto de vista material se pudesse considerar que tinha sido cumprida a exigência
do número 2 do art. 3º do TECG.
Importa também referir que o art. 12º-C da Velha LEO contém uma transposição
imperfeita da norma do art. 3º/1, pois ao invés de consagrar o saldo estrutural,
consagra o saldo estrutural primário corrigido 10.
Esboço Conclusivo
Como referimos, a resposta à questão que abordámos depende sempre da
perspetiva de análise que adotemos. Ainda assim, apesar das divergências entre o
conceito de equilíbrio orçamental presente em algumas das normas de direito
interno, o que é verdadeiramente relevante é o conceito presente no art. 126º TFUE
e no Protocolo 12. Contudo, como o objetivo principal é evitar que o limite para o
défice aí previsto seja ultrapassado, estabeleceu-se na vertente corretiva do PEC um
conjunto de outros critérios que acabariam por ser introduzidos na legislação
interna por força do art. 12 da Diretiva 2011/85/UE. A resposta à questão da noção
de equilíbrio em vigor atualmente em Portugal reveste-se das especificidades da
finalidade do apuramento do saldo orçamental.
Bárbara Morim 43
8. O PROCESSO ORÇAMENTAL
O Governo deve apresentar, por obrigações perante a UE, à AR, até 15 de outubro,
a PLOE para o ano seguinte. Esta proposta tem também que ser enviada para o
Conselho, que se pronuncia no quadro da sua supervisão multilateral. Após a
entrega do orçamento na AR, este segue um procedimento específico de discussão,
Bárbara Morim 44
Bárbara Morim 45
9. A EXECUÇÃO ORÇAMENTAL
O princípio da tipicidade qualitativa diz-nos que para que uma receita seja
liquidada e cobrada não basta que a mesma seja legal, ou seja, não basta na sua
criação que tenham sido observadas as regras que se encontram devidamente
regulamentadas. É também necessário que esteja prevista no orçamento e que esteja
adequadamente especificada e classificada.
Bárbara Morim 47
da dotação orçamental, o que impede é que seja gasta uma quantia superior à dos
duodécimos vencidos e ainda não utilizados. Este princípio pretende evitar a
concentração da despesa logo nos meses iniciais do ano, altura esta em que ainda
não há nos cofres do estado muita receita, contudo também se compreende que em
alguns casos pode fazer sentido o acumular da despesa logo nos primeiros meses, e
por isso, em cada ano, o decreto-lei de execução orçamental vai fixar as situações em
que é possível a antecipação dos duodécimos não vencidos
1) Controlo administrativo
O controlo administrativo da execução orçamental, é da competência
simultânea de várias entidades: a própria entidade (serviço ou organismo) que
executa o orçamento, a entidade responsável pela coordenação e acompanhamento
da execução do orçamento (em Portugal, a Direção Geral do Orçamento do
Ministério das Finanças) e as demais entidades de controlo existentes em cada
ministério.
Este tipo de controlo está regulamentado na LEO, na Lei de Bases da
Contabilidade Pública (LBCP) e no Regime da Administração Financeira do Estado
(RAFE), existindo regimes diferenciados consoante estejamos perante serviços
dotados de autonomia administrativa ou serviços dotados de autonomia
administrativa e financeira.
Bárbara Morim 49
2) Controlo jurisdicional
O modelo de controlo português jurisdicional da execução orçamental baseia-se
no modelo continental de fiscalização da execução do orçamento, e, por isso, para
além do controlo administrativo e do controlo político a que é submetida a execução
orçamental, é ainda feito o controlo pelos tribunais. Trata-se de um controlo feito
pelos tribunais jurisdicionais que podem, em todas as situações em que esteja em
causa a legalidade da despesa ou da receita, verificar o cumprimento das normas de
direito financeiro (art. 58º/6 e 7 da Velha LEO).
Para além dos tribunais comuns, existe em Portugal, um órgão com funções
específicas do controlo das contas públicas, designado por Tribunal de Contas. É
um tribunal, que é um verdadeiro tribunal, embora na sua composição não obedeça
às mesmas regras dos demais tribunais – composto por juízes que não são
necessariamente magistrados judiciais ou sequer juristas.
A atividade do Tribunal de Contas é regulada pela Lei nº 98/1997 de 26 de agosto.
No âmbito das suas competências, o Tribunal de Contas fiscaliza a legalidade e a
regularidade da receita e da despesa pública, mas aprecia também a boa gestão
financeira e efetiva a responsabilidade por infrações financeiras.
De todas as entidades previstas no artigo 2º da LOPTC, podemos dizer que estão
sujeitos à jurisdição e ao controlo do Tribunal de Contas todas as entidades públicas
e todas as entidades de qualquer natureza que tenham participação de capitais
públicos, ou que sejam beneficiárias a qualquer título de dinheiro ou outros valores
públicos na estrita medida da fiscalização da regularidade, legalidade e correção
económica e financeira da utilização desses dinheiros públicos.
A fiscalização prévia, está prevista nos artigos 44º e ss da LOPTC, e tem como
finalidade a verificação do cumprimento das normas de direito financeiro,
nomeadamente do cabimento orçamental. Incide assim sobre a verificação da
legalidade da despesa, embora nem todas as ilegalidades possam gerar recusa do
visto.
Bárbara Morim 50
Atualmente, o âmbito do visto é muito menor do que aquele que já existiu – não
estando sujeitos a esta todos os atos de realização de despesa, mas apenas os
previstos no art. 46º LOPTC e não excetuados pelo art. 48º - , uma vez que a lei
estabelece a isenção de visto prévio, contratos e atos cujo valor seja inferior a 350
mil euros, desde que se trate de atos e contratos referidos no artigo 48º da LOPTC
(este valor vai variando de ano para ano). O Tribunal de Contas fiscaliza também
previamente os instrumentos geradores de dívida pública, para verificar
observância dos limites e sublimites do endividamento, bem como as suas
finalidades.
A fiscalização prévia culmina com a emissão ou com a recusa do visto, e o visto
pode ser recusado em caso de nulidade, falta de cabimento ou violação de outras
regras orçamentais ou ilegalidade que possa alterar o r esultado financeiro. Convém
referir, que o visto é, em regra, condição de eficácia do ato, isto é, o ato não produz
quaisquer efeitos até à emissão de visto (artigo 45º/1), podendo apenas produzir
efeitos que não sejam financeiros, mas nos casos previstos no artigo 45º/4, e que
nos termos do nº5 não tenham sido motivados por urgência, ficam inclusivamente
suspensos todos os seus efeitos. Assim, quando um ato ou contrato comece a ser
executado antes de emitido o visto do Tribunal de Contas, os seus efeitos financeiros
ficam suspensos, sendo ineficazes todos os atos praticados em momento posterior
ao da recusa do visto. E se houver atos de execução do contrato, como seja a
realização de trabalhos, fornecimento de bens ou serviços após a celebração do
contrato, mas antes da concessão do visto, pode ser feito o seu pagamento desde que
o valor a pagar não seja superior ao que estava programado para esse período
(artigo 45º/3).
Quanto à fiscalização concomitante, esta está regulada nos artigos 49º e ss. da
LOPTC, e é semelhante em muitos dos seus aspetos à fiscalização prévia. Tem como
finalidade principal também acautelar o cumprimento das normas de legalidade
financeira, mas pode ser realizada em qualquer estado da realização da despesa,
sendo materializado através de atos de auditoria financeira, na execução dos quais
pode a entidade lesada ser notificada para a prática de determinados atos.
Bárbara Morim 51
regulada nos artigos 57º e ss da LOPTC. Estes processos podem ter origem nas várias
ações de controlo por parte deste.
Cabe ainda ao Tribunal de Contas, dentro desta função, o apuramento de
responsabilidade financeira meramente sancionatória, ou responsabilidade
financeira reintegratória, nunca se sobrepondo a sua competência à compe tência
dos demais tribunais. O Tribunal de Contas tem também como função emitir
pareceres sobre a Conta Geral do Estado, sobre a conta da assembleia da república,
contas das regiões autónomas, e das respetivas assembleias legislativas.
3) Fiscalização política
A Assembleia da república é o órgão máximo e é aquele que, em Portugal, tem a
competência para apreciar politicamente a execução do orçamento. Esta
competência encontra-se prevista nos artigos 73º e ss. da velha LEO, e encontramos
nesta situação mais uma densificação da relação do suprainfra ordenação existente
entre a Assembleia da República e o Governo.
Nos termos da lei, até 30 de junho do ano seguinte ao da execução orçamental, o
governo remete a Assembleia da república, a Conta Geral do Estado (incluindo a da
Segurança Social) para que esta a possa apreciar. A análise da Assembleia da
República tem também em consideração o parecer emitido pelo Tribunal de Contas,
seguindo-se a sua aprovação (e consequente publicação em Diário da República) ou
rejeição.
Bárbara Morim 52