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11/06/2021 O essencial para entender o conflito israelo-palestiniano – Observador

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O essencial para entender o


conflito israelo-palestiniano

José Manuel Fernandes


Texto

Em 26 perguntas e respostas procuramos


explicar as origens do conflito do Médio
Oriente, a sua evolução nas últimas décadas e
o porquê da escalada de violência das últimas
semanas.

13 jul 2014, 17:02




1 Como é que tudo começou?


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Quase se pode dizer: no princípio era o verbo.

Os territórios reivindicados por israelitas e


palestinianos encontram-se entre os que,
historicamente, mais disputados foram. A isso
não é indiferente o facto de no seu centro se
encontrar Jerusalém, cidade-santa para três
grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo.

É em Jerusalém que está aquele que é


actualmente o lugar mais sagrado para os
judeus, o muro das lamentações, um troço do
antigo Templo de Herodes. O muro delimita
uma das faces da elevação a que os judeus
chamam Monte do Templo, por aí se ter erguido
o templo original, construído por Salomão e
destruído por Nabucodonosor, e depois o
Segundo Templo, erguido por Herodes e
destruído durante a ocupação romana, no ano
70. O pequeno planalto no topo de Monte do
Templo é, para os muçulmanos, a Esplanada
das Mesquitas, onde se situa A Cúpula da Rocha,
ou Mesquita de Omar, o santuário que foi
erguido no local onde se acredita ter existido o
altar de sacrifícios utilizado por Abraão, o
profeta que o cristianismo e o islão partilham
com o judaismo. Ao lado fica a mesquita de al-
Aqsa, do século VIII, mandada construir pelo
segundo califa, Omar. Este é o terceiro lugar
sagrado do Islão, depois de Meca e Medina.

A proximidade destes dois lugares de culto é tão


grande que houve alturas em que, do alto do
Monte do Templo, palestinianos atiravam
pedras ao judeus que rezavam junto à base do
Muro das Lamentações. E foi quando Ariel
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Sharon, então líder da oposição, resolveu visitar


a Esplanada das Mesquitas que, em reacção a
um gesto que foi visto como uma provocação, se
iniciou a revolta que viria a ser conhecida como
“segunda Intifada”. A impossibilidade de se
entenderem sobre este pedaço de Jerusalém,
que não é maior do que um campo de futebol,
foi um dos problemas que levou Ehud Barak,
então primeiro-ministro de Israel, e Yasser
Arafat, o histórico líder palestiniano, a falharem
em 2000 um acordo de paz que Bill Clinton
tinha laboriosamente promovido.

A poucas centenas de metros destes locais fica,


por sua vez, um dos lugares mais sagrados para
os cristãos, a Basílica do Santo Sepulcro,
construída no local onde se pensa que Jesus
Cristo foi crucificado e, depois, sepultado, para
ressuscitar ao terceiro dia.

Esta concentração de lugares sagrados para


várias religiões ajuda a explicar tensões que
não nasceram apenas com o actual conflito,
antes atravessaram os séculos e, a par com as
ambições dos mais diferentes impérios, fizeram
com que Jerusalém fosse inúmeras vezes
cercada, ocupada, saqueada e incendiada, uma
história trágica que está no centro dos dramas
da Terra Prometida – uma terra que, afinal, foi
demasiado prometida.

Mas se este é o pano de fundo de uma história


agitada, o actual conflito tem as suas raízes no
século XIX, altura em que surgiu o movimento
sionista a reivindicar o direito do povo judeu a
uma pátria, e no início do século XX, quando o
desmoronar do Império Otomano criou um
vazio EM
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poder que levaria ao redesenhar das ×
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fronteiras de todo o Médio Oriente. Quando, no


final desse processo, emergiu o Estado de Israel,
nunca a sua simples existência foi aceite pelos
estados árabes da região. Passou a viver-se num
clima de guerra permanente.

2 O que são hoje Israel e a Palestina?


As fronteiras reconhecidas internacionalmente
de Israel resultam da guerra de 1948, quando o
nascente estado judaico derrotou vários
exércitos árabes – egípcio, jordano e sírio –
numa guerra que se seguiu à decisão das
Nações Unidas de dividir o território da
Palestina em dois estados, um para os judeus,
outro para os árabes.

UN_Partition_Plan_Palestine

O mapa proposto pelas Nações Unidas

Os líderes israelitas, encabeçados por David Ben


Gurion, decidiram aceitar a partição e
proclamaram de imediato o novo Estado de
Israel. O mesmo não sucedeu com os árabes da
Palestina que, apoiados pelos estados vizinhos,
acreditaram poder esmagar os judeus e
reclamar para si todo o território. Não foi isso
que sucedeu. Apesar de uma flagrante
inferioridade numérica, o exército israelita
conseguiu derrotar os diferentes exércitos
árabes, alargando de forma substantiva o
território que resultara da partição decidida
pelas Nações Unidas. As fronteiras reconhecidas
de Israel resultam dessa guerra e foram as
existentes até à Guerra dos Seis Dias, em 1967.
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Nesse ano, o governo trabalhista, ciente de que


nas fronteiras do estado judaico se estavam a
acumular os exércitos da Síria, da Jordânia e do
Egipto, decidiu atacar primeiro e, numa
operação militar que entrou para a história,
derrotou em menos de uma semana todos os
seus opositores, ocupou o resto dos territórios
da Palestina – a sul a Faixa de Gaza, que estava
sob administração egípcia, a leste a Cisjordânia,
administrada por Amã -, a que acrescentou a
Península do Sinai, conquistada ao Egipto, e os
Montes Golã, antes parte da Síria.

map-israel

As fronteiras de Israel de 1948 a 1967

Os acordos de paz de 1979, entre Israel e o


Egipto permitiram a devolução do Sinai. Quanto
à Faixa de Gaza, Israel retirou-se
completamente desse território em 2005, por
decisão unilateral promovida pelo então
primeiro-ministro Ariel Sharon.

Os acordo de Oslo, 1993, permitiram a


autonomização de uma Autoridade
Palestiniana, com jurisdição sobre a Faixa de
Gaza e a Cisjordânia (à excepção dos colonatos),
entidade essa para a qual Israel iria
gradualmente transferindo soberania segundo
um regime faseado até que as partes
alcançassem um acordo final.

Nos dias de hoje a Autoridade Palestiniana está,


na prática, dividida em duas, pois na Faixa de
Gaza o poder é do Hamas enquanto na
Cisjordânia ele continua a ser controlado pela
Fatah,EM
RÁDIO OBSERVADOR o DIRETO
maior grupo da Organização de ×
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Libertação da Palestina, OLP. A soberania da


Autoridade Palestiniana é limitada, pois não
pode ter um exército, apenas forças policiais,
não controla totalmente as suas fronteiras e
depende de Israel para coisas tão elementares
como o acesso a um aeroporto internacional.

Em 2012 as Nações Unidas concederam o


estatuto de “estado observador não-membro”
ao autodesignado Estado da Palestina. Trata-se
de um estatuto semelhante ao do Vaticano que
muitos interpretaram como um
reconhecimento de facto do estado soberano da
Palestina, de resto proclamado desde
Novembro de 1988.

Tanto Israel como a Autoridade Palestiniana


reclamam soberania sobre Jerusalém. Israel
declarou a cidade santa das três religiões como
sendo a sua capital, um gesto que não é
reconhecido pela maior parte dos países com
quem mantém relações diplomáticas, que
mantiveram as suas representações
diplomáticas em Telavive.

3 O que foi o movimento sionista?

O sionismo nasceu no final do século XIX e pode


inserir-se num quadro mais geral de
desenvolvimento dos nacionalismos na Europa.
O seu fundador foi Theodor Herzl cujo livro Der
Judenstaat (O Estado Judeu), publicado em
1896, se tornou num sucesso instantâneo. Os
primeiros sionistas eram sobretudo judeus
seculares Ashkenazi que reagiam também à
ascensão do anti-semitismo na Europa (França
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conhecera o caso Dreyfus e na Rússia voltava a ×
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generalizar-se a prática de pogroms, isto é,


massacres e perseguições patrocinadas pelas
autoridades contra comunidades judaicas).

A proposta de Herzl, um judeu austríaco,


baseava-se na criação de um Estado,
preferencialmente na Palestina, a terra
prometida dos judeus, se bem que considerasse
hipóteses alternativas como a Argentina (mais
tarde também se discutiriam outras
alternativas, como Madagáscar ou o Uganda).

O movimento estimulou desde o início a


imigração para a Palestina, onde os judeus
começaram a comprar terras para se
instalarem. Família a família. Casa a casa. David
Ben Gurion, que mais tarde lideraria a
fundação do Estado de Israel e seria o seu
primeiro primeiro-ministro, foi um dos jovens
que emigrou da Europa (nasceu na Polónia)
para a Palestina logo no início do século e aí se
instalou para organizar a vinda de mais jovens.

Existem hoje várias variantes do sionismo,


umas mais marcadas por ideologias políticas – o
trabalhismo, o liberalismo -, outras por um
nacionalismo radical, outras ainda pela religião.

4 Que importância teve a declaração


de Balfour?

Em 1917, o ministro dos Negócios Estrangeiros


do Reino Unido, Arthur James Balfour, enviou
ao Barão Rothschild, para que ele entregasse ao
movimento sionista, uma carta onde se
escrevia:

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“O governo de Sua Majestade encara


favoravelmente o estabelecimento, na
Palestina, de um Lar Nacional para o Povo
Judeu, e empregará todos os seus esforços no
sentido de facilitar a realização desse objetivo,
entendendo-se claramente que nada será feito
que possa atentar contra os direitos civis e
religiosos das coletividades não-judaicas
existentes na Palestina, nem contra os direitos e
o estatuto político de que gozam os judeus em
qualquer outro país”.

Ainda hoje se discutem as motivações do


governo britânico na época. Vivia-se a I Guerra
Mundial e os dois campos adversários tanto
procuravam atrair um máximo de simpatias
dos judeus seus nacionais, como dividir os
potentados árabes e virá-los contra o outro
lado. Assim, por um lado, a declaração Balfour
visava conseguir a simpatia dos judeus, muitos
dos quais não suportavam a aliança com a
Rússia Czarista, e, por outro lado, garantir que a
emigração de judeus para a Palestina ajudaria a
mitigar as consequências da tomada de poder
sobre Constantinopla concedida aos mesmos
russos por britânicos e franceses.

A declaração não foi recebida com entusiasmo


pelo movimento sionista, pois nela não se
falava em “Estado judeu”, apenas em “Lar
Nacional”, mas revelar-se-ia decisiva para
legitimar a emigração para a Palestina e, mais
tarde, para dar uma base legal à reivindicação
sionista, ao ser anexada ao Tratado de Sèvres
(1920), que regulou o pós-primeira guerra no
Médio Oriente. Foi esse tratado que traçou as
novas fronteiras do Médio Oriente e entregou
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aos britânicos a tutela da Palestina. Iam iniciar-


se as décadas em que, com mandato dado pela
Liga das Nações, o Reino Unido iria administrar
a estreita faixa de terra encravada entre o mar
Mediterrâneo e o rio Jordão.

5 Como é que Israel se tornou num


estado independente?

No final do século XIX não eram muitos os


judeus que viviam na Palestina. Havia algumas
colónias – como a fundada pelo financeiro e
filantropo Moses Montefiori em meados do
século nos arredores de Jerusalém -, mas a
presença judaica era ainda pequena: quase
metade dos 35 mil emigrantes que tinham
chegado a partir de 1882 vindos da Rússia não
se conseguiram fixar.

A estratégia sionista nas primeiras décadas so


século XX foi a de promover a imigração para a
Palestina, onde os novos habitantes começaram
a chegar a pouco e pouco, comprando casas e
terrenos, construindo novas aldeias e depois
cidades – como Telavive, fundada em 1909 nuns
terrenos desolados um pouco a norte do
velhíssimo porto de Jaffa -, criando as
cooperativas que mais tarde dariam origem aos
kibbutz, onde se vivia num regime parecido
com o comunismo primitivo numa base
voluntária.

A migração para a Palestina, que inicialmente


foi tolerada pelas autoridades otomanas,
começou a gerar tensões no tempo do mandato
britânico. Nessas décadas que vão de 1920 ao
fim dos
RÁDIO OBSERVADOR EM anos
DIRETO 40, sucederam-se revoltas árabes e ×
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judaicas, reivindicando ambas as comunidades


o direito a constituírem um Estado
independente. Os ingleses foram tendo cada vez
mais dificuldade em controlarem a situação.

Como noutros locais, a História acelerou-se com


a II Guerra Mundial. Do lado árabe, as
principais autoridades, com destaque para o
mufti de Jerusalém, optaram por uma
aproximação à Alemanha nazi, daí esperando
tirar vantagens para barrarem o caminho aos
judeus. Do lado judeu a luta mais institucional
conduzida pelo homens de Ben-Gurion foi
desafiada pelo activismo radical do Irgun, o
movimento nacionalista que não hesitava em
recorrer a actos de terror no seu combate à
presença britânica.

Quando a II Guerra terminou as autoridades


britânicas tiveram de enfrentar um novo
problema: uma enorme vaga migratória que
partia dos portos do sul da Europa e que
conduzia á Palestina milhares de judeus
sobreviventes do Holocausto. A encarniçada
oposição britânica ao desembarque de alguns
barcos sobrelotados colocou terríveis dilemas
morais às autoridades, que rapidamente se
sentiram incapazes de continuar a gerir um
território mergulhado numa guerra civil larvar
que os soldados de Sua Majestade já não
conseguiam conter.

A solução do conflito passou então para as mãos


das recém-criadas Nações Unidas, de onde
sairia, no final de 1947, o plano de partição da
Palestina, dividindo-a entre um estado árabe e

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um estado judeu. A Agência Judaica aceitou esse


plano, a Liga Árabe rejeitou-o.

A 14 de Maio de 1948, um dia antes de terminar


o mandato britânico, David Ben-Gurion
proclamou “o estabelecimento de um estado
judaico em Eretz-Israel, que será conhecido
como o Estado de Israel”.

6 O que foi “a catástrofe”?


“A catástrofe”, ou “nakba” em árabe, é a forma
como os palestinianos geralmente designam o
grande êxodo de 1947-48, quando o ambiente
de guerrilha que estalou no território e a
posterior guerra da independência terminou
com a vitória de Israel.

A guerra intestina entre as comunidades árabes


e judaicas começou ainda durante o mandato
britânico e prolongou-se até ao final de 1948,
quando também acabou a primeira guerra
israelo-árabe que se iniciou mal Israel declarou
a independência, a 14 de Maio de 1948.

Estima-se que cerca de 700 mil palestinianos


tenham deixado as suas casas durante este
período, refugiando-se nos países vizinhos ou
nos territórios que não foram ocupados pelo
exército judeu durante a guerra da
independência.

Quase 70 anos depois a historiografia ainda se


divide sobre as razões fundamentais do êxodo.
Do lado palestiniano fala-se de limpeza étnica
deliberada. Do lado israelita de uma fuga que
teve muitos motivos mas que foi incentivada
pelos EM
RÁDIO OBSERVADOR líderes
DIRETOpalestinianos da época. ×
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De uma forma geral sabe-se que a maioria dos


árabes que vivam nas zonas que viriam a
integrar o Estado de Israel fugiram de suas
casas. Uns fizeram-no em pânico. Outros por
não quererem viver sob as novas autoridades.
Alguns foram forçados a partir pelo exército
judaico. Tal como alguns também partiram
respondendo apelos dos líderes árabes,
nomeadamente na véspera da sua intervenção
armada contra o Estado recém-proclamado.

Na mitologia da Nabka há um lugar central:


Deir Yassin. Esta povoação, que tinha sido
ocupada por soldados de uma brigada
iraquiana, situada nos arredores de Jerusalém,
foi atacada por unidades dos nacionalistas
radicais do Irgun durante os combates pelo
acesso à Cidade Santa. Dos combates resultaram
mais de 100 mortos, incluindo mulheres e
crianças que habitavam essa aldeia, mas este
resultado – que foi apresentado de imediato
como um massacre e que ocorreu na sequência
de outros massacres, estes realizados por
milícias palestinianas, sublinhe-se – foi
noticiado com tal destaque que acentuou as
reacções de pânico em algumas aldeias e vilas
árabes, levando à fuga dos seus habitantes.

“A catástrofe” está assim na origem do


problema dos refugiados, que mais de 60 anos
passados ainda não encontrou solução.

7 Quando e como é que Israel ocupou


os territórios?

Depois da guerra da independência, em 1948, os


territórios
RÁDIO OBSERVADOR da
EM DIRETO Palestina que não ficaram no ×
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Estado de Israel foram anexados pelo Egipto


(Faixa de Gaza) e pela Jordânia (Margem
Ocidental ou Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a
Cidade Velha).

Com a guerra dos Seis Dias tudo se alterou. Um


exército israelita triunfante ocupou esses
territórios, assim como a Península do Sinai
(Egipto) e os Montes Golã (Síria). O acordo de
paz de 1979 com o Egipto foi acompanhado pela
devolução do Sinai (e pelo desmantelamento
dos colonatos que, entretanto, aí tinham sido
construídos). A desocupação dos Montes Golã
nunca esteve verdadeiramente em cima da
mesa: das suas alturas domina-se a Galileia,
pelo que Israel considera que têm um valor
estratégico fundamental para garantir a
segurança dessa região.

Os territórios ocupados que restam podem


dividir-se em três grupos: Faixa de Gaza,
Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A sua situação
é diversa. Em 2005 Israel retirou-se
unilateralmente da Faixa de Gaza, entregando a
sua gestão à Autoridade Palestiniana e
desmantelando os colonatos que aí tinham sido
construídos.

Grande parte da Cisjordânia também já está sob


controle da Autoridade Palestiniana, mas aí
Israel não só não desocupou os colonatos como
tem vindo a expandi-los. Para se proteger da
vaga de ataques suicidas nas suas cidades e da
infiltração de terroristas, construiu também o
“muro”, contestado sobretudo por consagrar a
interpretação israelita das “linhas de fronteira”
com territórios palestinianos.
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Quanto a Jerusalém Oriental o seu estatuto é


um dos temas mais complexos das negociações
de paz. Por um lado, tanto Israel como a
Autoridade Palestiniana pretendem fazer de
Jerusalém a capital dos seus estados. Por outro
lado nunca Israel abdicou de continuar a
construir bairros novos nas áreas que, antes da
guerra de 1967, estavam do lado árabe.

8 O que foram os acordos de Camp


David?

Depois de ter combatido e vencido a Guerra da


Independência, em 1948, e a Guerra dos Seis
Dias, em 1967, nas quais conseguiu derrotar
vários exércitos árabes ao mesmo tempo –
sobretudo Egipto, Jordânia e Síria, mas também
Líbano e Iraque -, Israel enfrentou em 1973
uma terceira guerra convencional em que
chegou a temer pela sua sobrevivência. Foi a
guerra do Yom Kippur, assim conhecida por os
exércitos árabes terem atacado durante a festa
mais importante do calendário judaico.

Na frente do Sinai o exército egípcio logrou


atravessar o canal do Suez em diversos pontos e
avançar rapidamente, só sendo obrigado a
recuar depois de um conjunto de audaciosas
manobras chefiadas por Ariel Sharon. Esses
avanços puderam ser apresentados aos
egípcios, muito traumatizadas pela humilhação
da derrota de 1967, como uma grande vitória, o
que facilitou o caminho ao Presidente egípcio,
Anwar El Sadat, e à sua aproximação a Israel.

Com mediação de Jimmy Carter, então


Presidente
RÁDIO OBSERVADOR dos
EM DIRETO Estados Unidos, Anwar El Sadat ×
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reuniu-se com o primeiro-ministro israelita


Menachem Begin (que era o primeiro não-
trabalhista a chegar à chefia do governo desde
a independência) na residência de férias do
presidente americano, em Camp David. Foi aí
que em Setembro de 1978 os dois estadistas
chegariam a acordo, firmando uma paz que
lhes garantiria, semanas depois, o Prémio
Nobel. Formalmente esses acordos foram
assinados um pouco mais tarde, em Março de
1979.

Os acordos traduziram-se em dois documentos.


Um regulava a relação entre o Egipto e Israel,
consagrava a devolução da Península do Sinai e
tem funcionado até hoje. Desde Sadat que o
Egipto passou para a órbita dos Estados Unidos
e mantém uma relação de paz fria com Israel.
Suspenso da Liga Árabe, que retirou a sua sede
do Cairo, ficou isolado entre os países da
região durante grande parte da década de 1980
por causa deste acordo, o Egipto recuperou
entretanto a sua posição e viu a Jordânia juntar-
se, em 1994, ao grupo dos países que assinaram
acordos com o Estado judaico.

O segundo documento pretendia regular a


questão palestiniana e previa a retirada de
Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nunca
foi aplicado.

A audácia de Sadat acabaria contudo por lhe


custar a vida: foi assassinado em 1981, durante
uma parada militar, por extremistas que se
opunham à paz com Israel.

O que é e o que significa Jerusalém?


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Jerusalém é a Cidade Santa de três religiões
monoteístas. Só esta constatação permite
perceber os dilemas que o futuro da cidade
coloca. Situada numa planalto a cerca de 700
metros de altitude, habitada por quase 900 mil
almas, esta é uma das mais antigas cidades do
mundo e uma das mais disputadas. É a cidade
de Salomão que Nabucodonosor arrasou; a
cidade de Herodes que os romanos
conquistaram; a cidade pela qual os cruzados
lutaram e que Saladino reconquistou; a cidade
que os ingleses tomaram em 1917, que Adbullah
el-Tell defendeu em 1948 e que Rabin
conquistou em 1967.

Quando as Nações Unidas delinearam o seu


plano de partilha da Palestina do mandato
britânico, em 1947, Jerusalém deveria
permanecer como uma entidade independente,
sob jurisdição da comunidade internacional.
Não foi isso que sucedeu: a parte ocidental da
cidade ficou sob controle israelita e a metade
oriental, mais toda a cidade velha e os seus
inúmeros locais de culto, sob jurisdição
jordana. De 1948 a 1967 esse controlo traduziu-
se em enormes limitações de acesso aos seus
locais sagrados de cristãos e, sobretudo, de
judeus.

Desde a guerra dos Seis Dias que Jerusalém e a


cidade velha estão sob controle de Israel, que
entretanto transferiu para Jerusalém Ocidental
todo o aparato de um Estado central, desde o
Parlamento (Knesset) às instalações do
diferentes ministérios. Em Jerusalém Ocidental
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situam-se também alguns dos mais importantes


museus nacionais israelitas, como o Museu do
Holocausto, Yad Vashem, assim como o
cemitério onde estão sepultadas as principais
figuras do jovem Estado.

A cidade continua muito dividida, existindo


uma metade árabe e uma metade israelita que
não se misturam, apenas se cruzam em locais
como a Porta de Damasco.

Em Jerusalém os judeus mais ortodoxos tem


uma expressão importante, alargando a sua
influência a um complexo de bairros inteiros
onde vivem de acordo com costumes que
entram em contradição de difícil harmonização
com a tradição mais laica dos pais fundadores
do Estado judaico. Este elemento, juntamente
com o peso histórico e toda a querela política,
fazem de Jerusalém Ocidental, a metade
judaica, uma cidade muito diferente, cultural e
sociologicamente, de Telavive, por exemplo. Ao
que não será estranho o facto de Jerusalém
estar numa serra, a 800 m de altitude, e
Telavive espraiar o seu hedonismo numa baía,
junto ao mar.

10 OOcidental?
que é a Cisjordânia ou Margem

É a área compreendida entre a linha do


armistício de 1948 e o vale do Jordão.
Historicamente corresponde a parte das terras
bíblicas da Judeia e Samaria, razão pela qual é
essa a denominação adoptada pelo governo
israelita para designar a Cisjordânia ou
Margem Ocidental.
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É na Cisjordânia que se situam alguns dos


lugares urbanos há mais anos habitados pelo
homem, como Jericó, considerada a cidade
ainda habitada mais antiga do mundo, com 10
mil anos. Entre as suas cidades mais
importantes contam-se Hebrom, Belém, Jenin,
Nablus, Al-Bireh e Ramallah, onde hoje se situa
a sede da Autoridade Palestiniana.

A população árabe da Cisjordânia é de cerca de


2,2 milhões de habitantes.

A seguir à guerra da Independência de Israel,


1948, a Cisjordânia foi integrada no Reino da
Jordânia, situação que se alterou em 1967
depois da guerra dos Seis Dias e da ocupação
israelita. É na Cisjordânia que se encontram a
maior parte dos colonatos israelitas.

11 O que é a Faixa de Gaza?


A Faixa de Gaza é uma estreita fatia de
território encaixada entre o Egipto, a sul, Israel,
a leste a norte, e o Mediterrâneo. Tem uma
superfície de apenas 360 quilómetros
quadrados, o que significa que ocupa uma área
pouco maior do que o concelho de Sintra mas
mais pequena do que a do concelho da Figueira
da Foz. É um pequeno rectângulo de uns 40
quilómetros de comprido por nove de largura.
Nela vivem 1,8 milhões de palestinianos, o que
faz desse enclave uma das regiões do mundo
mais densamente povoadas: cinco mil
habitantes por quilómetro quadrado.
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450px-Gaza_Strip_map2.svg

A Faixa de Gaza vai buscar o seu nome à cidade


de Gaza, há vários milénios uma das cidades
mais importantes da região e que foi
conquistada e reconquistada inúmeras vezes.

No plano de partição das Nações Unidas (1947)


a Faixa de Gaza era entregue ao novo estado
árabe a criar na Palestina, mas depois da guerra
de 1948 acabou por ficar sob jurisdição egípcia
até à Guerra dos Seis Dias (1967), quando foi
ocupada por Israel. Em 1993, depois dos
acordos de Oslo, a administração civil de Gaza
passou para a Autoridade Palestiniana, e foi lá
que Yasser Arafat, regressado do exílio em
Tunes, começou por se instalar.

Em 2005 Israel decidiu retirar-se por completo


deste pedaço de território, um gesto unilateral
decidido por Ariel Sharon. Todos os colonatos
israelitas foram então evacuados e entregues à
Autoridade Palestiniana. Pouco depois, em
2006, o Hamas, maioritário entre a população
de Gaza, ganha as eleições legislativas e, ao não
conseguir chegar a acordo com a OLP, toma o
poder neste território e dele expulsa
violentamente as outras facções palestinianas.

Tem sido a partir deste território que, nos


últimos anos, têm sido disparados contra Israel
e os seus centros urbanos milhares de misséis
Qassam. Apesar do controle exercido na
fronteira com o Egipto, nunca Israel e os seus
aliados conseguiram impedir o contrabando de
armas para Gaza, armas que depois são
utilizadas
RÁDIO OBSERVADOR nestas
EM DIRETO acções. Esta actividade esteve ×
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na origem da curta guerra de 2008/2009,


quando Israel desencadeou uma operação
militar que incluiu uma invasão por terra
através da qual tentou acabar com o disparo
permanente de rockets. Neste momento
podemos estar a assistir à preparação de uma
operação semelhante.

12 OPalestiniana?
que é a Autoridade

A Autoridade Nacional Palestiniana resulta dos


acordos de paz de Oslo, negociados e assinados
em 1993. A base desses acordos foi a troca de
terra por paz: Israel transferia para os
palestenianos a soberania sobre a Faixa de
Gaza e a Cisjordânia e estes reconheciam o
direito a Israel existir e viver em paz e
segurança. A transferência de poderes far-se-ia
gradualmente até emergir um Estado
palestiniano de corpo inteiro.

A entidade interina que resultou desses acordos


foi a Autoridade Palestiniana, que
gradualmente foi construindo os pilares do
futuro estado. Nos primeiros anos a Autoridade
Palestiniana ficou entregue à Organização de
Libertação da Palestina, organização
reconhecida por dezenas de Estados e pelas
Nações Unidas como legítima representante do
povo palestiniano. Em 1996 realizaram-se as
primeiras eleições, de que resultou uma
maioria da OLP na câmara legislativa e a
eleição de Yasser Arafat para a presidência da
Autoridade.

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Dez anos depois, em 2006, a vitória do Hamas


nas eleições para o parlamento palestiniano
precipitaria um conflito que levaria à separação
entre a Faixa de Gaza, onde o Hamas tomou o
poder, e a Cisjordânia, onde a Autoridade
Palestiniana, dominada pela Fatah (a principal
força política dentro da OLP) continua a ser
governo.

Desde o princípio de 2013 que a Autoridade


Palestiniana se passou a auto-designar como
Estado da Palestina. Esta decisão surgiu na
sequência de as Nações Unidas terem aceite a
Palestina como um país observador não-
membro, um estatuto idêntico ao do Vaticano.

A sede da Autoridade Palestiniana é em


Ramallah, uma cidade um pouco a norte de
Jerusalém, e o seu presidente em exercício é
Mahmoud Abbas.

13 O que é a OLP?
A Organização de Libertação da Palestina foi
criada em 1964 por decisão da Liga Árabe. O
seu objectivo era representar os palestinianos e
lutar pelo criação de um Estado árabe que
ocupasse as fronteiras da Palestina do mandato
britânico. A possibilidade de existência de um
Estado judaico era explicitamente negada na
sua carta de princípios.

A clamorosa derrota dos estados árabes na


guerra dos Seis Dias, em 1967, abalou o
prestígio das suas lideranças, que na época
controlavam a OLP, e abriu caminho às
organizações
RÁDIO OBSERVADOR EM DIRETO militantes, de fedayeen, como a ×
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Fatah de Yasser Arafat, que se tornaria


presidente da organização em 1969 e ocuparia
esse lugar até morrer, em 2004.

O protagonismo da OLP cresceu com a nova


liderança e num quadro de ocupação dos
territórios por Israel. Esse protagonismo
desenvolveu-se ainda mais depois da chamada
batalha de Karameh, durante a qual os
combatentes da Fatah conseguiram oferecer
forte resistência a uma incursão militar
israelita que visava desarticular os grupos
guerrilheiros que actuavam a partir da aldeia
com aquele nome, na Jordânia. O crescente
poder e influência da OLP na Jordânia acabaria
por levar o rei Hussein a ordenar às suas tropas
beduínas que restabelecessem o controle sobre
todo o território, o que levou a combates
sangrentos e à morte de milhares de
palestinianos num episódio que ficou conhecido
como “Setembro Negro” (1970).

Nos seus primeiros anos várias das


organizações filiadas na OLP recorreram ao
terrorismo como método de luta. Foi o tempo
em que o desvio e sequestro de aviões e mesmo
de navios se tornou frequente, assim como
atentados e raptos, como o famoso sequestro da
equipa israelita durante os Jogos Olímpicos de
Munique, em 1972.

Expulsa da Jordânia, a OLP transferiria o centro


das suas operações para o Líbano, onde se
envolveu na guerra civil que duraria quinze
longos anos. A intervenção de Israel no Líbano,
em 1982, acabaria por obrigar o estado maior

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da OLP a voltar a mudar-se, seguindo para


Tunes, na Tunísia.

Seria nesta fase que ocorreria a mais


importante evolução política e doutrinária: em
1988, ao mesmo tempo que a OLP proclamava a
independência do Estado da Palestina, assumia
pela primeira vez que essa era a terra de três
religiões monoteístas e, ao referir-se às
resoluções das Nações unidas, implicitamente
reconhecia o direito à existência de Israel. Foi
esta evolução que tornou possíveis as
negociações directas com Israel, que
decorreram secretamente em Oslo, na Noruega,
e que em 1993 acabariam por conduzir à
assinatura de um acordo de paz que permitira
iniciar o processo de transferência de poderes
de Israel para uma nova Autoridade
Palestiniana com jurisdição sobre a Faixa de
Gaza e a Cisjordânia, os territórios que Israel
ocupara na sequência da guerra dos Seis Dias.

Os acordos de Oslo foram assinados, por Arafat


e pelo primeiro-ministro israelita Yitzhak
Rabin. numa cerimónia na Casa Branca, sob os
auspícios de Bill Clinton, a 20 de Agosto de 1993.
Alguns dias depois, a 9 de Setembro, o líder
palestiniano faria uma declaração pública a
reconhecer formalmente não só o direito à
existência de Israel, mas também a viver em
paz e segurança.

A soberania da Autoridade na Cisjordânia está


muito condicionada pela existência de uma
rede de colonatos, por existirem vastas zonas
que ainda são geridas por Israel e por todas as

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dificuldades que as medidas de segurança


colocam a qualquer deslocação.

Depois de constituída a Autoridade Palestiniana


a OLP, e dentro desta a sua principal facção, a
Fatah, continuaram a desempenhar um papel
central na vida política, um papel que o Hamas
começou a contestar, sobretudo na Faixa de
Gaza, processo que levou à separação desse
território.

14 O que é o Hamas?

O Hamas foi fundado em 1987 numa altura em


que o fundamentalismo islâmico ganhava
rapidamente terreno em todo o Médio Oriente.
A sua criação esteve ligada à Irmandade
Muçulmana do Egipto, um dos grupos
fundamentalistas mais fortes e mais antigo do
mundo. A fundação do Hamas explorou
igualmente o ambiente de extrema tensão e
violência que caracterizou a primeira Intifada.

O programa inicial do Hamas era o


estabelecimento de um estado islâmico nos
territórios hoje ocupados por Israel, pela Faixa
de Gaza e pela Cisjordânia. Mais recentemente
dirigentes do Hamas fizeram referência a um
estado circunscrito às fronteiras anteriores a
1967, mas sem o reconhecimento do Estado de
Israel. A carta de princípios do Hamas
apresenta a luta contra Israel como parte da
luta irreconciliável entre judeus e muçulmanos,
contendo muitas expressão que não são apenas
anti-sionistas, são anti-semitas. A organização
também nega os factos históricos do
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Holocausto, que declara ser apenas uma criação


da propaganda sionista.

O Hamas possui um braço armado, as brigadas


Izz ad-Din al-Qassam, que continuam a recorrer
ao terrorismo como forma de combaterem
Israel. O recurso a atentados suicidas e o
disparo indiscriminado de rockets
direccionados zonas habitadas apenas por civis
têm sido os seus métodos de combate
preferidos.

A principal base do Hamas é na Faixa de Gaza,


onde goza de apoio maioritário. Em 2006 o
Hamas conseguiu mesmo vencer as eleições
parlamentares palestinianas, mas depois não
conseguiu chegar a um entendimento com a
Fatah para a partilha do poder, o que levou a
uma breve guerra civil – a Batalha de Gaza –
que terminou com o Hamas a tomar conta
daquela parcela de território e a expulsar de lá
a Fatah.

15 O que foram as Intifadas?


As Intifadas foram revoltas que começaram de
forma semi-espontânea e corresponderam a
uma fase nova do conflito.

De 1948 a 1973, isto é, da Guerra da


Independência à Guerra do Yom Kippur, Israel
teve sobretudo que travar guerras
convencionais, em que exércitos bem armados
se enfrentaram nos campos de batalha, sendo
que a vida quotidiana era constantemente
pontuada pelos ataques dos fedayeen,
nomedamente a partir de Gaza, do Egipto e da
RÁDIO OBSERVADOR EM DIRETO
Jordânia, e pelas contra-respostas israelitas. ×
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A partir de 1967 e da ocupação dos territórios, o


terrorismo tornou-se a maior ameaça. Mas
ninguém verdadeiramente foi capaz de prever
o que se passou a partir de 1987, quando
começou a primeira Intifada, a “revolta das
pedras”. Entre Dezembro desse ano e Setembro
de 1993, quando foram assinados os acordos de
Oslo, a população palestiniana fustigou de
forma permanente as forças de segurança e os
militares de Israel. Tudo servia: pedras, coktails
molotov, greves, manifestações, protestos,
grafitti, boicotes, desobediência civil e por aí
adiante.

A primeira Intifada foi desencadeada por um


incidente banal: a colisão entre um camião do
exército israelita e uma viatura palestiniana de
que resultaram vários mortos. A informação de
que o acidente fora deliberadamente provocado
incendiou os ânimos e foi o rastilho da revolta.
Esta espalhou-se rapidamente, mobilizou
grande parte da sociedade palestiniana e, esmo
sem ter uma liderança formal, foi muito
influenciada por líderes civis que defendiam
uma abordagem sem a violência que
caracterizara os combates dos fedayeen e sem
recurso ao terror.

Esta revolta, que Israel encarou num primeiro


momento como devendo ser quebrada, acabou
por provocar uma inflexão de políticas,
mostrando que era mesmo necessário
encontrar uma solução de auto-governo para a
Faixa de Gaza e para a Cisjordânia, assim
abrindo caminho aos acordos de Oslo.

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A segunda Intifada, também conhecida como a


Intifada de Al-Aqsa, iniciou-se em Setembro de
2000, depois de Ariel Sharon, então líder da
oposição, ter realizado uma visita ao Monte do
Templo, visita que foi interpretada como sendo
uma provocação. Esta revolta palestiniana
surgiu dois meses depois do falhanço da
negociação de um acordo de paz definitivo
numa nova cimeira em Camp David, um
falhanço cuja responsabilidade foi
genericamente atribuída à parte palestiniana.

Os primeiros dias da Segunda Intifada


caracterizaram-se por numerosos confrontos
entre manifestantes palestinianos e a polícia
israelita, mas a violência escalou de nível
depois de a população de Ramallah ter linchado
dois reservistas israelitas que estavam detidos
numa esquadra de polícia.

A segunda Intifada foi muito mais violenta do


que a primeira, tendo sido marcada por alguns
atentados suicidas muito mortíferos e por
ataques israelitas em larga escala, De uma
forma geral considera-se que terminou com a
trégua negociada entre Ariel Sharon e um
recém-eleito Mahmoud Abbas na cimeira de
Sharm el-Sheikh, no Egipto, em 2005. Nessa
altura já Yasser Arafat tinha morrido de doença.

16 Como evoluiu o processo de paz


desde os Acordos de Oslo?

Os Acordos de Oslo previam uma retirada


gradual de Israel da Faixa de Gaza e da
Cisjordânia e a transferência gradual da
soberania
RÁDIO OBSERVADOR para
EM DIRETO a Autoridade Palestiniana. Num ×
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prazo de cinco anos esperava-se que as duas


partes chegassem a um acordo de paz
definitivo. Mas quase nada correu como estava
previsto, sendo que ambas as partes culpam a
outra pelo que correu mal.

Neste processo os palestinianos esperavam


receber os seus territórios de volta e os
israelitas viverem em paz e segurança. Ora nos
cinco anos que se seguiram aos acordos o
número de vítimas da violência não diminuiu:
morreram 405 palestinianos e 256 israelitas,
sendo que no caso dos israelitas esse valor
ultrapassou largamente o número de mortes
registado nos 15 anos anteriores, que incluíram
os seis anos de primeira Intifada.

Politicamente, do lado de Israel, a evolução


também não foi positiva, pois Rabin, que havia
negociado Oslo, foi assassinado por um
extremista judeu em 1995.

No final da década, sob mediação de Bill


Clinton, houve um novo esforço para se chegar
a acordo. Ehud Barak, o primeiro-ministro
israelita de então, disponibilizou a Yasser
Arafat, durante uma cimeira realizada em
Camp David, um acordo que muitos viram
como irrecusável. Mas Arafat recusou e,
passados apenas dois meses, a região estava de
novo mergulhada na violência da segunda
Intifada. A bloquear o acordo esteve o estatuto
de Jerusalém, a delicada questão da gestão do
Monte do Templo/Esplanada das Mesquitas e o
tema terrivelmente difícil do “direito de
retorno”.

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De então para cá pouco se tem avançado no


processo de paz. Os últimos anos de vida de
Arafat (morreu em 2004) foram de profunda
desconfiança entre as duas partes. Como Ariel
Sharon e Abbas houve avanços – Israel saiu
unilateralmente de Gaza, houve acordo entre
ambos para terminar a segunda Intifada – mas
depois veio o conflito entre o Hamas e a Fatah,
com a divisão da zona controlada pela
Autoridade Palestiniana em duas metades
rivais. Entretanto Israel construiu uma extensa
barreira de protecção que os palestinianos
designam por “muro”. Na prática foi uma
medida que quase acabou com ataques suicidas
no interior de Israel.

17 Quem é que vive em Israel?


Israel é um país de pouco mais de oito milhões
de habitantes, sendo que três quartos da
população (75%) é constituída por judeus. A
população árabe corresponde a cerca de 20% do
total.

Entre os judeus, sensivelmente metade são


sefarditas (judeus oriundos da peninsula
ibérica “histórica” e do Norte de África) e a
outra metade ashkenazi (judeus da Europa
Central e Oriental). Um sexto da população
judaica tem as suas raízes na antiga URSS.

A esmagadora maioria dos árabes são


muçulmanos, mas há uma pequena minoria de
cristãos. Os árabes israelitas vivem sobretudo
na Galileia, no norte do país, uma região onde
se situa, por exemplo, a cidade de Nazareth,
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uma cidade que é habitualmente descrita como


a capital árabe de Israel.

Entre os judeus tem vindo a aumentar a


proporção dos judeus ortodoxos, pois as
famílias que seguem as suas diferentes
obediências têm tendência a terem mais filhos.
Pela mesma razão tem vindo a aumentar a
proporção da população árabe-israelita.

18 Israel é uma democracia?


Sim. É mesmo a única democracia consolidada
do Médio Oriente. Em Israel há liberdade de
expressão, uma grande variedade de órgãos de
informação, uma miríade de partidos políticos,
um parlamento representativo e um governo
que os cidadãos podem facilmente destituir
caso estejam descontentes, o que já aconteceu
inúmeras vezes. As minorias, incluindo a
minoria árabe, tem direitos políticos e também
está representada no parlamento, o Knesset.

Nas primeiras décadas após a independência a


política israelita foi dominada pelos
trabalhistas, mais ligados aos ashkenazi, que
dispuseram de confortáveis maiorias de
governo. A partir da década de 1970 a direita do
Likud, partido mais ligado aos
sefarditas, passou a ganhar regularmente as
eleições, tendo desde então havido alternância
entre primeiros-ministros trabalhistas e do
Likud, tendo mais recentemente surgido um
terceiro partido centrista, o Kadima que chegou
a fazer eleger primeiros-ministros.

RÁDIO OBSERVADOR EM DIRETO ×


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O sistema político está contudo muito


pulverizado, pois a lei eleitoral não favorece a
concentração de votos e têm-se multiplicado os
pequenos partidos com uma base religiosa ou
étnica (ligados, por exemplo, às comunidades
de origem russa) ou ainda representando
interesses particulares (pensionistas, habitantes
dos colonatos). Isso torna não só muito difícil
formar maiorias no Knesset, onde há 12
partidos representados, como obriga a
compromissos que tendem a paralisar a acção
política.

19 A Autoridade Palestiniana é uma


democracia?

Dificilmente, apesar de já terem ocorrido


eleições. Na Faixa de Gaza domina o Hamas
que, em 2007, assumiu o controlo daquela
região sobrepovoada e dela expulsou os seus
rivais da Fatah. Na Cisjordânia o poder é
controlado pela Fatah, a facção que era
originalmente de Yasser Arafat e é a dominante
na OLP. Esta divisão ocorreu depois de o Hamas
ter ganho as eleições legislativas de 2006 mas
não se ter conseguido entender com a Fatah
para uma partilha do poder – a Presidência da
República está nas mãos da Fatah, que em 2005
elegera para o cargo Mahmoud Abbas, o
sucessor de Arafat.

Depois da guerra civil que levou à separação


entre Gaza e a Cisjordânia nunca mais se
realizaram eleições. O mandato de Mahmoud
Abbas, por exemplo, terminou em Janeiro de
2009, mas tem vindo a ser sucessivamente
prorrogado.
RÁDIO OBSERVADOR EM DIRETOQuanto ao Parlamento, as ×
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primeiras eleições tiveram lugar em 1996 e


foram boicotadas pelo Hamas. Só voltou a
haver eleições em 2006, e nessa altura ganhou o
Hamas, o conduziu à guerra civil Hamas-Fatah.
Desde então não houve mais eleições.

Para além disso, nos territórios sob jurisdição


da Autoridade Palestiniana não existe
verdadeira liberdade de imprensa; os direitos
das mulheres não são respeitados; e ocorrem
com frequência execuções sumárias.

20 De que falamos quando falamos


de dois estados? E de só um
estado?

O princípio das negociações de Oslo que


levaram ao histórico acordo israelo-
palestiniano de 1993 foi o da troca de terra por
paz: Israel devolvia à Autoridade Palestiniana,
de forma progressiva, a soberania sobre Gaza e
a Cisjordânia em troca do reconhecimento da
sua existência. A prazo deveria nascer nos
territórios entregues à Autoridade
Palaestiniana um novo Estado que pudesse
viver em paz com Israel.

Este plano sempre contou com ferozes


opositores dos dois lados do conflito. Em Israel
opuseram-se-lhe quer os que defendem um
Grande Israel, e por isso não abdicam de uma
fronteira que passe pelo vale do Jordão, quer os
que receiam, por questões de segurança, a
vizinhança de um Estado palestiniano com
soberania plena.

Do lado palestiniano opõem-se-lhe todos os que


continuam
RÁDIO OBSERVADOR a não
EM DIRETO reconhecer o direito à ×
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existência do Estado de Israel. É essa a posição


tradicional do Hamas, por exemplo.

De acordo com sondagens realizadas tanto em


Israel como nos territórios é esta a solução
desejada pela maioria tanto de israelitas como
de palestinianos.

A solução de um único Estado parece inviável.


Uma fusão pacífica que juntasse todos os que
vivem no antigo espaço da Palestina do
mandato britânico criaria um Estado de
maioria árabe e representaria o fim da ideia de
um Estado judeu, e é duvidoso, para não dizer
altamente improvável, que pudesse funcionar
em paz e democracia. A alternativa – um Estado
judeu do Mediterrâneo ao Jordão – implicaria,
para ter viabilidade, a expulsão de centenas de
milhar de palestinianos ou a sua manutenção
como cidadãos de segunda, sem direitos
políticos, o que ninguém na comunidade
internacional aceitaria.

21 Existe um problema de
refugiados?

Existe, apesar de ser um problema com


contornos sobretudo políticos.

Na sequência da guerra da independência de


Israel, em 1948, cerca de 700 mil palestinianos
fugiram de suas casas, ou foram forçados a
abandoná-las. Esses palestinianos espalharam-
se pelos países da região, tendo sido construídos
campos de refugiados no sul do Líbano, na
Cisjordânia, na Jordânia e na Faixa de Gaza.
Muitos desses campos ainda hoje existem,
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mesmo quando à vista desarmada pouco ou


nada os diferencia de um bairro pobre.

Porque é que, passados quase 70 anos, esta


situação se mantém?

Primeiro, porque os países árabes da região,


com a excepção parcial da Jordânia, nunca
aceitaram integrar esses refugiados, da mesma
forma que não aceitaram aceitar a própria
existência de Israel. Depois porque desde a
primeira hora que os palestinianos reivindicam
o chamado “direito de retorno”, isto é, o direito
a reocuparem as casas e as terras que
abandonaram precipitadamente em 1947 e
1948. O “direito de retorno” tornou-se mesmo
num dos mais delicados temas, e num dos mais
difíceis, do processo de paz israelo-palestiniano,
e as chaves das antigas casas abandonadas são
hoje um símbolo muitas vezes agitado para
efeitos mediáticos pelos descendentes dos
refugiados originais.

Israel argumenta que o problema dos


refugiados só existe porque os países árabes
não quiseram integrar os palestinianos
deslocados, ao contrário do que fez Israel, que
acolheu e integrou centenas de milhar de
judeus que, depois da independência, saíram ou
foram obrigados a sair dos países árabes onde
viviam há muitos séculos, nalguns casos há dois
milénios. Israel também sabe que o retorno dos
descendentes dos refugiados alteraria de forma
dramática a composição demográfica do país,
ameaçando a sua natureza de Estado judaico.

No século XX, na Europa e no Médio Oriente,


houve inúmeros casos de guerras que
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terminaram com a deslocação forçada de


populações – foi o que sucedeu, por exemplo, na
sequência da guerra entre a Turquia e a Grécia;
foi o que sucedeu aos alemães dos Sudetas e da
Polónia Ocidental; foi o que se passou com o
sérvios da Krajina. Houve também gigantescas
transferências de populações no Punjab,
quando a Índia se separou do Paquistão. A
permanência de um estatuto de refugiado para
uma massa tão grande de deslocados de há
mais de seis décadas, quase três gerações, é por
isso um caso único nas relações internacionais.

22 O que são os colonatos? Que


problemas levantam?

A maioria dos colonatos começaram a ser


instalados depois da guerra dos Seis Dias, em
1967, quando Israel ocupou a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia. Os primeiros foram logo instalados
nesse ano pelo governo trabalhista como parte
de uma política de colonização. A maioria dos
colonatos foi construída na Cisjordânia e em
Jerusalém Oriental. Os colonatos construídos no
Sinai foram desmantelados em 1997, após o
acordo de paz com o Egipto, e os da Faixa de
Gaza foram abandonados em 2005, depois de
Israel ter decidido unilateralmente retirar por
completo desse pedaço do território.

Os colonatos são de diferente tipo. Alguns,


sobretudo na área de Jerusalém, são colonatos
urbanos, zonas de subúrbio habitacional. Os
outros são sobretudo colonatos agrícolas ou
aquilo que se designa por aldeias de fronteira,
estando nesta categoria alguns dos que foram
construídos
RÁDIO OBSERVADOR no
EM DIRETO vale do Jordão. ×
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Apesar de, logo em 1967, uma parte da


migração ter sido justificada com o regresso dos
judeus a locais que tinham ocupado antes da
guerra da independência, a maior parte dos
colonatos são novas instalações.

A expansão dos colonatos na Cisjordânia


retalhou este território, tornando difíceis as
deslocações sobretudo desde que os israelitas
construíram vedações e muros de separação.

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Qualquer perspectiva de resolução para aquela


região implica que se encontre que se encontre
uma solução para os colonatos. Talvez seja
possível, relativamente aos que se situam mais
próximo da chamada “linha verde” – a linha do
armistício no final da guerra da independência,
em 1948 – redesenhar a fronteira, trocando
terras, isto é, entregando Israel aos
palestinianos terras situadas do lado judeu
dessa “linha verde”. Esse cenário já foi
trabalhado e negociado entre as parte, mas
nunca se chegou a propostas viáveis. Mesmo
assim Israel terá sempre de abandonar a
maioria dos colonatos, e alguns são muito
populosos, ao contrário do que sucedia no Sinai
e na Faixa de Gaza.

Há também dificuldades políticas. Alguns dos


partidos israelitas sem os quais não se consegue
formar uma maioria de governo defendem a
ideia de que a Cisjordânia – as terras bíblicas da
Judeia e Samaria – são parte inalienável de
Eretz-Israel, e por isso nunca deverão ser
cedidas
RÁDIO OBSERVADOR EM aos palestinianos.
DIRETO Os colonos também ×
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têm um partido político com representação


parlamentar e são politicamente muito activos.

Em contrapartida Israel está totalmente isolado


na sua política face aos colonatos. Já foi
condenado duas vezes nas Nações Unidas e
nem os seus aliados ocidentais apoiam a
expansão desta forma de ocupação apesar de o
lançamento de novas construções nunca ter
verdadeiramente parado.

Actualmente vivem mais de 300 mil judeus nos


colonatos da Cisjordânia e mais 200 mil nos que
foram construídos nos subúrbios Jerusalém
Oriental.

23 Quem são os aliados de Israel?


O principal aliado de Israel continuam a ser os
Estados Unidos, mas nem sempre foi assim.

Quando Israel se tornou independente a


posição americana foi ambígua. Por um lado, o
presidente Harry Truman apressou-se a
reconhecer o no Estado, assim permitindo que
os Estados Unidos fossem os primeiros a fazê-lo.
Mas, ao mesmo tempo, os Estados Unidos
recusaram-se a vender as armas de que o jovem
Estado necessitava para se defender dos
exércitos árabes que tinham atacado
imediatamente a seguir à proclamação da
independência.

Nessa altura, depois de não ter conseguido


apoios na Europa Ocidental, David Ben-Gurion
virou para a União Soviética e acabaria por
conseguir
RÁDIO OBSERVADOR as armas
EM DIRETO de que necessitada junto da ×
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Checoslováquia. Estaline via com bons olhos


um Estado que nascia sob a direcção de
políticos fortemente ancorados à esquerda,
todos de tradição trabalhista e marxista, regime
esse que enfrentava países árabes ainda
governados por monarcas que Moscovo via
como reaccionários.

No período que vai da independência até à


Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tem como
outro grande aliado a França, que lhe
forneceria os aviões Mirage que se revelariam
decisivos nessa campanha militar.

A Guerra dos Seis Dias provocaria uma


alteração radical do sistema de alianças. A
União Soviética, que entretanto começara a
apoiar os regimes árabes resultantes dos golpes
militares que haviam derrubado as monarquias
tradicionais, retirou todo o apoio a Israel e
obrigou os países satélites, incluindo a
Checoslováquia, a interromperem todo o
qualquer fornecimento de armas. A França do
general De Gaule também se voltou contra
Israel e cortou-lhe todo o apoio.

Ao mesmo tempo, uns Estados Unidos


preocupados com o expansionismo soviético na
região, e com a sua crescente influência junto
de regimes como o de Nasser (Egipto) e Assad
(Síria), abriu-se a Israel. Seis anos depois, em
1973, aquando da guerra do Yom Kippur, já
seriam os EUA os principais fornecedores de
armas a Israel, com a nossa base das Lages a
servir de vital ponto de reabastecimento
durante o período em que durou mais essa
guerra. Esse alinhamento não se alterou até
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hoje, se bem que a administração Obama tenha


marcado maiores distâncias do que era prática
das anteriores administrações.

A nível regional Israel conseguiu normalizar a


sua relação com o Egipto, graças ao acordo de
paz de 1979, e mantém com a Jordânia uma
coexistência relativamente pacífica. A relação
com a Turquia, país membro da NATO, já
conheceu melhores dias, tendo-se degradado
desde que este país é governado por um partido
islamista.

24 Como é a relação de Israel com os


seus vizinhos?

A maioria dos países árabes continua a não


reconhecer a existência de Israel, mas desde a
vitória israelita na guerra do Yom Kippur (1973)
que o cenário de uma guerra convencional não
se coloca.

Israel assinou, em 1979, um acordo de paz com


o mais poderoso dos seus vizinhos, o Egipto.
Esse acordo, negociado em Camp David sob os
auspícios do presidente norte-americano, foi
firmado por Anwar Sadat, pelo lado do Egipto
(seria assassinado pouco tempo depois), e por
Menachem Begin, pelo lado de Israel (Begin
vinha da direita e fora líder dos sionistas
radicais do Irgun). Por via desse acordo Israel
devolveu ao Egipto a península do Sinai, que
tinha ocupado durante a Guerra dos Seis Dias.

O segundo vizinho mais poderoso de Israel tem


sido, tradicionalmente, a Síria, que continua
bastante hostil mas que se encontra paralisada
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por uma guerra civil. O regime de Damasco está


estrategicamente alinhado com o Irão, o
inimigo de Israel mais vocal da região. Os
montes Golã, no sul da Síria, continuam
ocupados pelo exército judaico.

As relações com o Líbano são mais complexas,


pois este país encontra-se profundamente
dividido entre várias facções. O sul está nas
mãos das milícias do Hezbollah, aliadas do Irão
e armadas pelo Irão, que utilizam as suas bases
junto à fronteira para realizar ataques,
nomeadamente lançando rockets que contra as
cidades e aldeias do norte de Israel.

A Jordânia, o único país da região que dá


cidadania plena aos palestinianos que lá vivem,
também já assinou um acordo de paz com
Israel. Foi em 1994, sob os auspícios de Bill
Clinton, que Yitzhak Rabin apertou a mão a
Hussein I da Jordânia. Entretanto os dois países
também restabeleceram relações económicas.

25 Opode
acordo entre a Fatah e o Hamas
ajudar a chegar à paz?

A 23 de Abril o Fatah (dominante na


Cisjordânia) e o Hamas (maioritário na Faixa de
Gaza) assinaram um acordo destinado a
ultrapassar as divisões que têm impedido a
formação de um governo único nas zonas sob
controle da Autoridade Palestiniana. Não é a
primeira vez que isso sucede: em 2011 e 2011 a
Fatah e o Hamas também tinham assinado
acordos que, depois, não conduziram a lado
nenhum
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Nos termos deste acordo os dois movimentos


palestinianos comprometiam-se a formas um
governo de unidade nacional num prazo de
cinco semanas e a organizar eleições para a
Presidência e para o Parlamento num prazo de
seis meses (as últimas eleições foram em 2006).

Para este acordo funcionar e, depois, permitir a


criação de uma nova base para as negociações
com Israel, é necessário que o Hamas se
comprometa a reconhecer a existência do
Estado judaico dentro das fronteiras anteriores
a 1967, que aceite o princípio dos dois estados e
que se comprometa com todos os acordos
entretanto assinados pela Autoridade
Palestiniana. Apesar de ter havido algumas
garantias de que são esses os compromissos do
Hamas, a verdade é que isso ainda não foi
assumido publicamente de forma formal.

Israel desconfia profundamente desta evolução


do Hamas e, quando foi anunciado o acordo,
suspendeu de imediato as negociações que
vinha a fazer com a Autoridade Palestiniana.

Seja lá como for, os primeiros prazos


estabelecidos no acordo de 23 de Abril já foram
ultrapassados sem que os seus objectivos
tenham sido cumpridos.

26 Como é que começou a actual


escalada de violência?

Nos últimos anos o exército israelita tem


intervindo com alguma regularidade na Faixa
de Gaza para conter o contínuo rearmamento
do Hamas e da Jihad islâmica e outros grupos
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radicais. O contrabando de armas através da


fronteira de Gaza, em especial através de túneis
que os egípcios não conseguem controlar,
nunca cessou verdadeiramente. É aliás voz
corrente que, nos dias de governo da
Irmandade Muçulmana no Cairo, a situação foi
muito favorável ao Hamas e seu rearmamento.

A última dessas operações decorreu entre 14 e


21 de Novembro de 2012 e terminou com um
acordo de cessar-fogo mediado pelo governo do
Cairo.

No último mês o número de mísseis sobre Israel


vinha em crescendo. Porém, a actual crise
começou com o rapto de três jovens israelitas
na Cisjordânia a 12 de Junho. Os seus corpos
mutilados seriam descobertos a 1 de Julho,
existindo a convicção de que o rapto e
assassinato foi perpetrado por uma facção
ligada ao Hamas. Os responsáveis ainda não
foram descobertos.

No dia seguinte, 2 de Julho, é a vez de um jovem


palestiniano ser raptado e morto em
circunstâncias horríveis (foi queimado vivo).
Rapidamente se descobriu que o crime fora
obra de um grupo de seis jovens extremistas
israelitas (entre os 16 e os 22 anos), que foram
detidos pelas autoridades.

De imediato o Hamas disparou mais de 100


mísseis contra território de Israel. Alguns
desses mísseis são já bastante sofisticados,
tendo caído a 160 quilómetros a norte da
fronteira, já perto de Haifa.

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Como resposta a este ataque vindo da Faixa de


Gaza, Israel lança nova operação contra aquele
território visando as infraestruturas que
suportam o disparo de rockets e mísseis – desde
o início do mês e até ao dia 13 de Julho já foram
disparadas contra o território de Israel mais
de 800 desses projécteis, que caem
indiscriminadamente em zona habitacionais,
em terrenos agrícolas ou em instalações
industriais.

A operação israelita, designada “Escudo


protector”, mobilizou já 40 mil reservistas e,
segundo o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu, durará o tempo que for necessário.

27 Quais são os objectivos de Israel


com a ofensiva terrestre em
Gaza?

A ofensiva terrestre que Israel desencadeou


contra a Faixa de Gaza na noite de 17 para 18 de
Julho tem como objectivo principal destruir
uma infraestrutura de túneis com a qual o
Hamas e outras organizações estavam a tentar
infiltrar o território de Israel.

A Faixa de Gaza está limitada por uma vedação


que é permanentemente vigiada pelo exército
israelita, existindo apenas alguns, poucos,
pontos de passagem e fronteira. Desde que se
retirou completamente de Gaza em 2005, e
abandonou os colonatos aí existentes,
entregando a administração integral do
território à Autoridade Palestiniana, que Israel
enfrenta ataques vindos de Gaza. Os mais
frequentes
RÁDIO OBSERVADOR são
EM DIRETO os lançamentos de rockets, cujo ×
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alcance tem vindo a aumentar, e as tentativas


de infiltração de militantes radicais capazes de
desencadear acções no interior de Israel.

A forma escolhida pelo Hamas e pelas outras


organizações radicais que operam em Gaza
para realizar essas operações de infiltração tem
sido a construção de túneis que passam por
baixo da barreira de separação e terminam já
bem dentro do território de Israel. A ameaça é
real e, na passada terça-feira, o exército
localizou e neutralizou um comando
constituído por 13 militares do Hamas que já
estava dentro de Israel, a apenas 10 minutos de
marcha de uma comunidade agrícola localizada
no sul do país, o Kibbutz Sufa. Esse comando
tinha saído de um dos túneis construídos sob a
barreira.

O exército israelita, IDF, divulgou entretanto


imagens dessa operação:

A construção de túneis é habitual na Faixa de


Gaza: no sul do território existem mais de 1200
dessas infraestruturas ligando Gaza ao Egipto,
infraestruturas essas que têm sido usadas para
todo o tipo de contrabando e também para
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levar para Gaza as armas que, depois, são


disparadas contra Israel.

Neutralizar a estrutura de túneis, que a maior


parte das vezes têm as suas entradas no interior
de habitações, não pode ser feito a partir do ar,
com ataques da aviação. E se Israel já
desenvolveu a tecnologia que lhe torna possível
defender-se das barragens de rockets – a
“Cúpula de Ferro”, que localiza e abate no ar a
maioria dos rockets disparados a partir da
Faixa de Gaza –, o país não tem forma de
localizar e neutralizar a infraestrutura de
túneis.

De acordo com fontes militares citadas pelo


Times de Israel, a missão das unidades que
estão a ser enviadas para o interior da Faixa de
Gaza é localizar as entradas desses túneis e
neutralizá-los. Ao mesmo tempo os soldados
que estão no terreno têm ainda como objectivo
arrasar as rampas de lançamento de mísseis e
rockets que, por estarem muito protegidas, não
podem ser destruídas do ar. Trata-se de
operações de alto risco, em que muitas vezes é
necessário enfrentar militares do Hamas em
combates casa a casa.

Ainda de acordo com as mesmas fontes, Israel


não pretende reocupar Gaza ou estabelecer aí
qualquer testa de ponte militar, antes pretende
desarticular as infraestruturas que o Hamas e
outros grupos radicais que operam naquele
território têm construído nos últimos anos.
Refira-se que, durante o período em que os seus
aliados da Irmandade Muçulmana estiveram no
poder no Cairo, o Hamas logrou reforçar o seu
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poderio militar, situação que se inverteu desde


que o general Sissi tomou o poder: neste
momento o exército egípcio voltou a fechar a
rede de túneis entre Gaza e o Sinai, por onde
passava muito do armamento destinado ao
Hamas. O Cairo anunciou mesmo o fecho do
impressionante número de 1370 túneis.

Israel anunciou que não tem data prevista para


o fim desta operação militar.

28 Que perguntas ficaram por


responder?

Os Explicadores estão em permanente


actualização. Sempre que surge nova
informação ou novas questões, a equipa do
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