Você está na página 1de 4

Entrevista com Hitler e Mussolini

Por Leandro Konder, no Jornal do Brasil de 25/1 e 1/2 (2003)

Entrevista com Mussolini


Benito Mussolini morreu em 1945. Não poderia, portanto, ser entrevistado agora, mais de
meio século depois de seu falecimento. Esta entrevista, então, é obviamente falsa. No
entanto, ela também é verdadeira, no sentido de que todas as frases atribuídas a Mussolini
foram efetivamente escritas por ele, em seus numerosos discursos e artigos de jornal. E,
numa época em que a direita anda tão enrustida, vale a pena relembrarmos a linguagem do
Duce, ainda que na forma de uma brincadeira. Para que a brincadeira seja mais divertida,
sugiro que ao ler as perguntas e respostas formuladas a seguir, os leitores imaginem a figura
ultraconhecida do ditador revirando os olhos, estufando o peito e gesticulando muito, com os
punhos fechados, a cada ocasião, expressando suas opiniões, rudes e francas. De repente,
neste Brasil que nós vemos atualmente, todas as vozes se dizendo de centro-esquerda, vale a
pena a gente ouvir uma voz inequivocamente de direita.

- O que é exatamente o fascismo que o senhor fundou?

- O fascismo é antes de tudo uma fé. O fascismo é uma grande mobilização de forças morais e
materiais.

- Qual é a concepção fascista do Estado?

- O Estado é o absoluto. Não pode existir nenhum indivíduo, nenhum grupo, fora do Estado. O
Estado fascista é vontade de potência e de domínio. Nesse sentido, o Estado fascista é
totalitário.

- Qual é o ideal de vida dos fascistas?

- A vida, tal como o fascismo a concebe, é grave, austera, religiosa. O fascismo despreza a
vida cômoda, acredita na santidade e no heroísmo. Mais vale viver um dia como leão do que
cem anos como carneiro.

- O que é mais importante, o arado ou a espada?

- O arado abre o sulco na terra, mas é a espada que o protege.

- Como o fascismo encara a guerra?

- A guerra é para o homem o que a maternidade é para a mulher. Prefiro que o mundo se
surpreenda com a agressividade dos italianos em vez de se divertir com as nossas canções.

- O que o senhor pensa do imperialismo?

- É uma manifestação de vitalidade, uma tendência inerente à natureza humana.

- Os homens não podem mudar e se tornar mais pacíficos?

- Enquanto vive, o homem é imperialista. O impulso na direção do imperialismo só cessa com


a morte.
- Quando as massas pensam, elas não se opõem às políticas imperialistas?

- O raciocínio jamais será o motor das multidões. A multidão ama os homens fortes. A
multidão é mulher.

- O que o senhor acha do feminismo?

- A mulher é, e não pode deixar de ser, uma criatura passiva. É analítica e não sintética.
Minha concepção a respeito do papel da mulher no Estado é oposta à de todo e qualquer
feminismo.

- O que os fascistas pensam sobre a violência?

- A violência é imoral quando é fria e calculada, mas não quando é instintiva e impulsiva.

- Então a violência fascista não deve ser planejada?

- A violência fascista deve ser pensante, racional, cirúrgica.

- Não me parece muito coerente, mas vamos adiante. O capitalismo na Itália não precisa
da democracia?

- É possível que no século 19 o capitalismo tenha precisado da democracia. Hoje, pode muito
bem passar sem ela.

- A oposição ao governo fascista não pode contribuir de maneira importante para o


conhecimento dos problemas da realidade política?

- A oposição realmente importante é aquela que eu crio dentro de mim mesmo.

- Com liberdade, a imprensa não ajuda a apontar as contradições?

- Atualmente, os jornais não servem a idéias e sim a interesses. Os jornais só publicam o que
a grande indústria ou os bancos que os financiam querem que seja publicado.

- O Poder Judiciário deve ser independente?

- Os fascistas controlam a maioria dos juízes no país. Os juízes sabem que são vigiados. Assim,
o que não fizerem por lealdade a minha pessoa, farão por medo.

- O Estado fascista é um Estado policial?

- A polícia deve ser respeitada e receber todas as honras. Antes de precisar da cultura, o ser
humano precisa de ordem. Em certo sentido, pode-se dizer que o policial precedeu o
professor.

- E a liberdade, Duce?

- O fascismo já passou - e se for necessário passará tranqüilamente ainda outras vezes - por
cima do cadáver mais ou menos decomposto da deusa Liberdade. [original]
Entrevista com Hitler
Depois da entrevista com Mussolini, sábado passado, vem hoje a entrevista com Adolf Hitler.
O esquema é o mesmo: a entrevista é fictícia, mas as frases são verdadeiras. No caso do
inventor do fascismo, as opiniões foram extraídas de artigos e discursos. As posições
assumidas por Hitler, entretanto, estão, todas, expostas no livro Minha luta. Tal como sugeri
na entrevista com o ditador italiano, proponho aos leitores que, para fins de diversão,
imaginem o inventor do nazismo bufando por baixo do seu bigodinho, com a fisionomia
sempre tensa, e falando num tom sempre agressivo. Seguem-se as perguntas e as —
assustadoras — respostas.

- Como o senhor vê o futuro da Alemanha?

- A única possibilidade de a Alemanha realizar uma política territorial sadia está em


conquistar novas terras na própria Europa. Isso teria de acontecer, de modo geral, às custas
da Rússia.

- Quais são os fundamentos do movimento nacional-socialista, que o senhor fundou?

- Tanto nas pequenas como nas grandes coisas, o movimento se baseia na autoridade
indiscutível do chefe.

- Qual pode vir a ser o seu futuro?

- O futuro do movimento depende do fanatismo e até mesmo da intolerância com que seus
adeptos o defendam, considerando-o como a única causa justa.

- O que o senhor acha da livre organização sindical?

- É o mais terrível instrumento de terror contra a solidez da economia nacional e contra a


segurança do Estado.

- Qual é o seu maior inimigo?

- O grande inimigo do movimento é o marxismo, cujo objetivo final é e será sempre a


destruição de todas as nacionalidades não judaicas. O marxismo é a tentativa feita pelos
judeus no sentido de enfraquecerem o princípio da personalidade, substituindo-o pelo
prestígio das massas.

- Por que o senhor é contra as massas?

- Tudo aquilo que existe de verdadeiramente grande neste mundo resultou da vitória de um
vencedor único e não das lutas de coligações.

- Mas os setores populares, lutando contra a desigualdade, não precisam se unir, se


coligar?

- Os judeus falam cada vez mais na igualdade de todos os homens, sem distinção de raça ou
de cor; os tolos já estão começando a acreditar nisso. Mas o papel do mais forte é sempre o
de dominar. A maioria tende sempre a ser favorável à estupidez.

- Existem pessoas predestinadas à liderança?

- Genialidade verdadeira é sempre inata.

- Por que o senhor odeia os judeus?


- O judeu é o mestre da mentira e a fraude é a arma com que ele luta. Se o mundo fosse
habitado exclusivamente pelos judeus, eles afundariam na sujeira. Além disso, como viveriam
tentando explorar uns aos outros, acabariam por se exterminar mutuamente.

- A seu ver, existe alguma raça superior às outras?

- Claro! Os arianos constituem uma raça que tem sido e continua a ser o ponto mais alto do
desenvolvimento cultural da humanidade.

- Como o senhor espera que o povo acolha suas idéias?

- As massas populares são como as mulheres, cuja receptividade mental é determinada menos
por motivos de ordem abstrata do que por uma indefinível necessidade sentimental de uma
força que as complete. As mulheres e as massas populares gostam mais dos que mandam do
que dos que pedem. Preferem se curvar diante dos fortes do que enfrentar os fracos.

- O senhor despreza os negros. No Brasil, apesar de serem vítimas de poderosos


mecanismos de exclusão sóciocultural, existem negros que vêm se destacando em todas
as áreas. O que o senhor tem a dizer a respeito, por exemplo, dos artistas, dos escritores,
dos cientistas e dos juristas negros que venceram todos os enormes obstáculos e se
impuseram à admiração geral?

- Um negro que se torna advogado... Isso é um ultraje, uma ofensa à nossa razão! É uma
idiotice criminosa a de quem adestrou durante tantos anos um meio-macaco até chegar ao
ponto de fazer acreditarem que ele é um advogado. Enquanto isso acontecia, enquanto esse
investimento era feito, milhões de indivíduos pertencentes às raças mais elevadas ficaram
subaproveitados!

Você também pode gostar