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A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO CONCEITO “Conjunto de ações do Estado para a

obtenção da receita e a realização dos gastos para o


O ESTADO E A REALIZAÇÃO DOS DIREITOS atendimento das necessidades públicas” (Ricardo
FUNDAMENTAIS Lobo Torres).

Função primordial do Estado: realizar o bem comum, “[...] obter, criar, gerir e despender o dinheiro
garantindo que a população possa desenvolver-se de indispensável às necessidades , cuja satisfação o
forma digna. Estado assumiu ou cometeu aquelas outras pessoas de
De acordo com Kiyoshi Harada, bem comum “é um direito público.” (Aliomar Baleeiro)
ideal que promove o bem-estar e conduz a um
modelo de sociedade, que permite o pleno “É um instrumento para realização do próprio fim
desenvolvimento das potencialidades humanas, ao estatal, pois ele fornece os meios para a obtenção de
mesmo tempo em que estimula a compreensão e a recursos financeiros, a forma de geri-los e aplicá-los,
prática de valores espirituais.” munindo o Estado com os instrumentos necessários à
O Estado desenvolve diversas atividades para sua atuação na sociedade.” (Harisson Leite)
atendimento das necessidades públicas.
“Está vinculada à satisfação de três necessidades
O papel do Estado é a realização dos direitos públicas básicas, inseridas na ordem
fundamentais da população, fazendo isso de forma jurídico-constitucional: a prestação de serviços
direta ou indireta, através da sua atuação perante os públicos, o exercício regular do poder de polícia e a
cidadãos. intervenção no domínio econômico” (Kiyoshi
Harada).
Os Direitos Fundamentais têm custos para sua
realização; Grande desafio do gestor público é CONCEITO: Conjunto de ações e processos
equacionar o custo da realização máxima de direitos e realizados pelo Estado para gerenciar os recursos
a disponibilidade orçamentária do Estado; Maiores financeiros necessários para o funcionamento da
dificuldades em Estados de feição social; Realização administração pública, para a promoção do bem-estar
de escolhas trágicas; da sociedade e a realização dos direitos fundamentais.
Quanto maior o Estado e maior a garantia de direitos
(mais despesas públicas) maior será a necessidade de ETAPAS DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO
recursos (mais receita pública). ESTADO
A função do Estado é satisfazer as necessidades
públicas, garantindo a realização dos direitos OBTENÇÃO DA RECEITA PÚBLICA - Etapa
fundamentais e é para isso que se desenvolve toda a fundamental para financiar a realização das políticas
sua atividade financeira. públicas. É aqui que o Estado busca arrecadar
As necessidades públicas que o Estado se vê obrigado recursos financeiros por meio da tributação
a satisfazer decorrem da existência de uma obrigação (derivada) ou da exploração do próprio patrimônio ou
constitucional ou legal, sendo, portanto, um dever ainda se valendo de empréstimos (crédito público).
legal a ser cumprido pelo Poder Público.
PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO – O
Reduzida margem de discricionariedade Toda a instrumento para o Estado realizar o seu orçamento
atividade financeira do Estado desenvolve-se para financeiro é o orçamento público (Lei Orçamentária
que possam ser atendidos demandas da população Anual – LOA). Nesta peça deve vir estabelecido a
através de políticas públicas adequadas às previsão de arrecadação e fixação do gasto, com a
necessidades públicas. alocação dos recursos financeiros para as diversas
áreas e programas governamentais.
EXECUÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS – Após O QUE É RESPONSABILIDADE FISCAL
o planejamento estampado no orçamento público o INTERGERACIONAL?
Estado realizará a execução das despesas, ou seja, o Uso responsável e sustentável dos recursos públicos,
gasto público efetivamente. Obs. É obrigatória a sempre atento não apenas o interesse da geração
previsão no orçamento. Isso envolve a alocação dos atual, mas também os das futuras gerações.
recursos financeiros para os diversos setores O objetivo da responsabilidade fiscal intergeracional
existentes, por exemplo; saúde, segurança, educação é assegurar que as finanças públicas sejam
e infraestrutura. administradas de forma responsável e
sustentável,protegendo os direitos sociais e
GESTÃO E CONTROLE DOS RECURSOS garantindo um futuro próspero para
FINANCEIROS – Durante a realização da despesa todos.Necessidade de olhar de longo prazo em
pública e após a sua efetivação, cabe ao Estado gerir relação a todos os aspectos das finanças públicas.
e controlar os recursos financeiros, garantindo sua
aplicação adequada e eficiente. TRIPÉ DA RESPONSABILIDADE FISCAL
Trata-se da etapa que envolve todo o ciclo do gasto INTERGERACIONAL
público, indo desde oacompanhamento das receitas e
despesas, a fiscalização dos gastos públicos, a 1. Limitação do endividamento - o crédito público é
prestação de contas à sociedade, e a adoção de uma ferramenta útil e importante para financiar
medidas para prevenir e combater a corrupção e o investimentos e suprir necessidades de curto prazo,
mau uso dos recursos públicos. mas seu uso deve ser responsável;
2. Sustentabilidade financeira – o Estado deve evitar
PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE FINANCEIRA déficits excessivo e endividamento descontrolado,
DO ESTADO buscando garantir que as despesas sejam financiadas
de forma equilibrada e que a dívida pública seja
RESPONSABILIDADE FISCAL gerenciada de maneira sustentável;
INTERGERACIONAL – O termo “responsabilidade 3. Investimento em capital humano – relevância para
fiscal” se popularizou com a Lei Complementar odesenvolvimento humano e, consequentemente, do
nº101/2000. O que é responsabilidade fiscal? A Estado, odirecionamento dos investimentos públicos
execução por parte da Administração Pública de para as políticas como educação, saúde e bem-estar
políticas públicas que busquem cumprir a meta de da população.
manter o equilíbrio das contas públicas, reduzir o
déficit primário (despesas maior do que as receitas)ou MÍNIMO EXISTENCIAL E RESERVA DO
aumentar o superávit primário (receitas maior do que POSSÍVEL –Conceitos relacionados à distribuição
as despesas),em conformidade com o que estabelece dos recursos públicos e a limitação dos direitos em
a LC nº 101/2000. face das restrições orçamentárias.

MÍNIMO EXISTENCIAL RESERVA DO POSSÍVEL

Núcleo dos direitos fundamentais individuais e Reconhece que o Estado tem recursos financeiros
coletivos assegurados na CF, considerados essenciais limitados e deve fazer escolhas para alocar os
para a existência humana, como alimentação, recursos disponíveis de forma eficiente e equilibrada.
moradia, saúde, educação, acesso à justiça etc. Não É necessário estabelecer critérios rígidos e objetivos
pode ser negligência em razão de restrições para determinar quais interesses têm maior proteção
orçamentárias, pois é garantido constitucionalmente constitucional e prioridade na alocação de recursos.
Logo, não é possível atender a todos os direitos e
demandas existentes
MÍNIMO EXISTENCIAL E RESERVA DO CODIFICAÇÃO E AUTONOMIA DO DIREITO
POSSÍVEL – Jurisprudência do STF. A reserva do FINANCEIRO
possível não pode ser utilizada para a sistemática ● Ramo jurídico considerado autônomo, uma
negação dos direitos sociais. Deve ter uma aplicação vez que é dotado de unicidade, elemento e
equilibrada e proporcional. STF: “a reserva do princípios próprios, ou seja, possui um
possível é vista como uma questão que envolve a conjunto de normas que permitam um sistema
insuficiência de disponibilidade financeira e normativo e ordenado;
orçamentária e que não pode ser invocada com o ● Ausência de codificação do Direito
propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a Financeiro;
implementação de políticas públicas definidas na ● Possui expressa previsão em capítulo próprio
própria Constituição.” ARE 745745 AgR (Ministro na CF(artigos 163 a 169) e complexo
Celso de Mello). normativo próprio;
Peremptoriamente, o STF não afasta a aplicação do ● Não é sub-ramo do Direito Tributário;
princípio da reserva do possível, porém ele afasta nos
casos seguintes: Frustrar direitos ou obrigações FONTES DO DIREITO FINANCEIRO
constitucionalmente previstas; Não garantir o ● FONTES FORMAIS
mínimo existencial destes direitos garantidos na CF;
Reserva do possível teórica, ou seja, quando o Estado CONSTITUIÇÃO FEDERAL – Trata o Direito
(lato sensu) alega que não tem recursos para Financeiro e subsistemas:
implementar/executar um direito sem, a) Repartição de receitas tributárias (arts. 157 a
todavia,apresentar elementos fáticos que comprovem 162):Divisão das receitas provenientes dos tributos
de forma inequívoca a ausência de prestação do entre os entes federativos (União, Estados, DF e
serviço. Municípios).
É medida fundamental para a manutenção da forma
O Direito financeiro e a Ciência das tem um elo de federativa de Estado, garantindo a autonomia
ligação que é a ATIVIDADE FINANCEIRA DO financeira dos entes e assegurando o financiamento
ESTADO. adequado das suas atividades e competências.

Ciência das Finanças é a disciplina que, pela b) Empréstimos públicos (art. 163): Estabelece
investigação dos fatos procura explicar os fenômenos condições e limites para que o Estado possa contrair
ligados à obtenção e dispêndio do dinheiro necessário empréstimos, internos ou externos. São normas que
ao funcionamento dos serviços a cargo do Estado, ou visam controlar o endividamento público,garantindo
de outras pessoas de direito público, assim como os que a tomada de empréstimos seja feita de forma
efeitos outros resultantes dessa atividade responsável e sustentável.
governamental.
c) Monetário (art. 164): São estabelecidos os
Logo, Ciências das Finanças não é jurídico. É uma princípios e regras para a emissão, controle e
atividade pré-normativa, pertencendo à economia. circulação da moeda no país. O objetivo é garantir a
Incluem-se os instrumentos políticos, econômicos e estabilidade e a eficiência do sistema
jurídicos referentes à captação de recursos financeiros monetário,fatores cruciais para a economia do país.
(receitas públicas)para o Estado, a sua administração
(gestão e controle) e,finalmente, a respectiva d) Orçamento Público (arts. 165 a 169):
aplicação (despesas públicas) nas necessidades determinando as regras para sua elaboração,
públicas. (Marcus Abraham) aprovação, execução e controle.
O orçamento é uma peça fundamental do
planejamento financeiro estatal,trazendo a fixação da
despesa e a ́ previsão da receita, além de diversas despesas, e fixação de limites e condições para
outras regras atinentes ao Estado e à responsabilidade renúncias de receitas e geração de despesas.
da gestão fiscal.
A motivação da norma é coibir o desequilíbrio fiscal
e) Fiscalização contábil, financeira e orçamentária com gastos sistematicamente superiores às receitas, o
(arts. 70 a 75):regras referentes a obrigação de órgãos que limita a atenção às necessidades fundamentais da
e entidades públicas prestarem contas de sua gestão população. Pautada em cinco pilares: planejamento;
financeira, orçamentária e patrimonial e estrutura o transparência;equilíbrio; controle e responsabilização.
sistema de controle interno e externo, prevendo a
figura do Tribunal de Contas da União (instituição LEI COMPLEMENTAR nº 101/2000 (Lei de
auxiliar ao Poder Legislativo nesta segunda forma de Responsabilidade Fiscal) – Estabelece limites claros
controle). de gastos com pessoal, de endividamento público,
estabelece metas e mecanismos de compensação para
● FONTES PRINCIPAIS despesas, a fim de permitir um ajuste fiscal
permanente.
LEIS COMPLEMENTARES – A CF estabelece que
a matéria do direito financeiro deve ser tratada A LRF alcança o Poder Legislativo, incluindo
através de lei complementar. Tribunal de Contas;Poder Judiciário; o Ministério
Público e parte do Poder Executivo(Administração
As leis complementares em matéria financeira têm a Direta, as Fundações, as Autarquias e Empresas
missão de veicular as normas gerais de direito Estatais Dependentes.
financeiro, no sentido de completar a CF onde e
quando seja possível. Lei nº 4320/1964 – Estatui normas gerais de direito
financeiro, seja lei ordinária, quanto a forma, ela tem
Neste sentido, compete à União a elaboração de status de lei complementar, já que a sua matéria
normas, acima dos desígnios de cada ente federativo possui reserva dada pela CF.
isolado, a fim de estabelecer a harmonia do sistema
criado pela Constituição. Leis ordinárias – utilizadas em direito financeiro,
destacando-se entre as principais: Lei do Plano
LEIS COMPLEMENTARES – Não é que toda norma Plurianual (PPA); Lei de Diretrizes Orçamentárias
geral deve ser veiculada por lei complementar, apenas (LDO; e Lei Orçamentária Anual (LOA).
quando a CF demanda determinado tema ser
introduzido através de lei complementar. Leis Delegadas – Delegadas pelo Poder Legislativo
ao Presidente da República. Em regra, não são fonte
Vale lembrar que a lei complementar exige uma de direito financeiro, pois não podem versar sobre
manifestação de vontade mais qualificada do que se tema alusivo à lei complementar, bem como PPA,
exige para aprovação de lei ordinária. LDO e LOA.
Medida Provisória – é vedada a edição de MP sobre
Dentre as leis complementares em matéria financeira, matéria reservada à lei complementar. Assim, como
destacam-se:LC nº 101/2000 (LRF) e a Lei nº matéria de direito financeiro é destinada à lei
4320/1964 complementar (arts. 163 e 165 da CF),não pode ser
veiculada por medida provisória.
LEI COMPLEMENTAR nº 101/2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal) – voltada ao planejamento, ● FONTES SECUNDÁRIAS
a transparência, o equilíbrio das contas públicas, o
cumprimento de metas de resultados entre receitas e
Decretos – São atos baixados pelo Executivo para dar determinados casos, pode haver extrapolação
fiel execução às leis, quando estas não são auto da função judicial;
executáveis. Todavia, não pode odecreto inovar ou ● A crescente judicialização das políticas
criar aquilo que a lei não estabeleceu. públicas e com a elevada vocação de poder
pelo judiciário, as sentenças judiciais
Resoluções – São deliberações que uma das Casas do passaram a ser verdadeiras fontes do direito
Congresso ou o próprio Congresso Nacional toma, financeiro.
fora do processo de elaboração de leis, porém não é ● Reserva do possível x mínimo existencial
lei. Não estão sujeitas à sanção presidencial, sendo
sua promulgação feita pela Mesa da Casa Legislativa COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
que as expedirá.
Ex.: Resoluções nº 42 e 43 do Senado Federal, ambas Aptidão dada pela CF para que os entes políticos
de 2000, que regulam o limite de endividamento dos possam editar normas primárias de acordo com o
Estados e Municípios. procedimento legislativo previsto.

Atos Normativos – atos escritos das autoridades A CF, em seu artigo 24, I, define que compete
administrativas que complementam a lei ou o decreto concorrentemente União, Estados, DF, legislar sobre
com o objetivo de torná-los aplicáveis. Se incluem as direito financeiro:
portarias, os pareceres normativos, instruções Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
normativas, dentre outros. Distrito Federal Legislar concorrentemente
sobre: I - direito tributário, financeiro,
Decisões Administrativas – São as decisões da penitenciário, econômico e urbanístico;
Administração Frente a casos concretos levados a
julgamento, que orientam os demais em situações Competência dos Municípios em matéria de direito
dúbias ou divergentes. Trata-se de uma verdadeira financeiro – Vejamos o que dispõe o art. 30, I e II da
jurisprudência administrativa, sendo o Tribunal de CF:
Contas a sua maior fonte. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar
sobre assuntos de interesse local; II -
Decisões judiciais - A jurisprudência é fonte suplementar a legislação federal e a estadual
importante para todo o direito. O Judiciário passou a no que couber;
ser acionado por supostas violações de direito,
especialmente os direitos sociais, em que se exigia a Esse dispositivo autoriza os municípios a legislarem
tomada de postura frente à negação de determinados de modo suplementar à legislação federal e estadual,
pedidos. no que couber.
O judiciário estaria impedido de decidir quando a sua
decisão envolve pesados custos ao Poder Público, Contudo, pela redação do art. 24, §3º da CF, não cabe
com a necessidade de alteração no orçamento legislação suplementar municipal com conteúdo de
público? normas gerais no âmbito da competência concorrente.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas
● Controle de norma substancial – declaração gerais, os Estados exercerão a competência
de inconstitucionalidade de tributo ou legislativa plena, para atender a suas
obrigação de cumprir índice constitucional de peculiaridades
despesa;
● Alteração do orçamento para satisfazer Nota-se que o citado dispositivo não conferiu aos
decisão protetiva de supostos direitos – em municípios a competência para legislar sobre direito
financeiro.

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