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Direito Financeiro

Introdução ao Direito Financeiro e Direito Financeiro na CF/1988


Manuel Piñon

INTRODUÇÃO AO DIREITO FINANCEIRO E DIREITO


FINANCEIRO NA CF/1988

1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE AFO, FINANÇAS PÚBLICAS,


DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTO PÚBLICO

1.1. DIREITO FINANCEIRO


O doutrinador Ricardo Lobo Torres nos diz que Direito Financeiro é

o conjunto de normas e princípios que regulam a atividade financeira, incumbindo-lhe disciplinar


a constituição e a gestão da fazenda pública, estabelecendo as regras e os procedimentos para a
obtenção da receita pública e a realização dos gastos necessários à consecução dos objetivos do Estado.

DIREITO FINANCEIRO:
“ ... A disciplina jurídica da atividade financeira do Estado denomina-se direito
financeiro ...O direito financeiro é, por fim, o estudo da atividade financeira
do Estado quando encampada pela norma jurídica ...” (HORVATH e OLIVEIRA)

Já o para o doutrinador Kiyoshi Harada é:

o ramo do Direito Público que estuda a atividade financeira do Estado sob o ponto de vista jurídico.

1.2. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO


Antes de adentrarmos em seu embasamento constitucional, precisamos conhecer o
conceito de Atividade Financeira do Estado (AFE), que, por sua vez, ENGLOBA quatro
elementos que estão intimamente ligados:

Direito Financeiro

Atividade Financeira do Estado

Receita Orçamento Despesas Crédito


Pública Público Públicas Público

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• obter Receita Pública (orçamentária);


• criar o Crédito Público (empréstimo público);
• gerenciar ou gerir o Orçamento Público (LOA – Lei Orçamentária Anual);
• despender recursos (gastar) – executar a despesa pública (orçamentária).

Cuidado para não fazer confusão. Note que uma coisa é a atividade financeira do Estado
(obtenção de receita, realização da despesa e gestão do orçamento e da dívida pública), que
é responsabilidade do DIREITO FINANCEIRO. Outra coisa é atividade econômica do Estado
(controle e regulação da atividade econômica, atuação como produtor de bens e serviços,
realização de concessões etc.), que é responsabilidade do DIREITO ECONÔMICO.

Para melhor visualização da Atividade Financeira do Estado, veja:

ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

GERIR Orçamento/planejamento

OBTER Receita

GASTAR Despesa

CRIAR
Crédito

001. (CESPE/TCE-PE/AUDITOR/2017) Com referência ao direito financeiro, julgue o


item seguinte.
Além de disciplinar o Sistema Financeiro Nacional, o direito financeiro regulamenta a atividade
financeira do Estado no que diz respeito a orçamento público, receita pública, despesa
pública, crédito público, responsabilidade fiscal e controle da execução orçamentária.

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Tenha em mente que o Direito Financeiro é o ramo do Direito Público que disciplina a
atividade financeira do Estado, que abrange a receita pública (obtenção de recursos), o
crédito público (criação de recursos), o orçamento público (gestão de recursos) e a despesa
pública (dispêndio de recursos).
Por seu turno, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é regulado pelo Direito Econômico,
que disciplina o sistema econômico e as atividades econômicas exercidas tanto por
particulares quanto pelo próprio Estado.
Note, portanto, que o SFN não está relacionado à receita pública (obtenção de recursos),
ao crédito público (criação de recursos), ao orçamento público (gestão de recursos) e à
despesa pública (dispêndio de recursos).
Errado.

Vale agora relembrar o saudoso mestre Aliomar Baleeiro, que nos disse que a atividade
financeira do Estado consiste em obter, criar, gerir e despender o dinheiro indispensável
às necessidades, cuja satisfação o Estado assumiu ou cometeu a outras pessoas de
direito público.

ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

de meios para satisfazer as necessidades públicas


(Alberto Deodato)

Para Aliomar Baleeiro:

Obter recursos: as chamadas RECEITAS PUBLICAS

Criar o crédito público: endividamento público

Gerir e planejar: aplicação dos recursos

Despender recursos: despensas públicas

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ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

SAÚDE
JUSTIÇA SEGURANÇA EDUCAÇÃO
ETC.

SOCIEDADE ESTADO

TRIBUTOS

ORÇAMENTO

Atividade
Financeira do
Estado

Obtenção de
Obtenção de Gerência dos Dispêndio dos
recursos
recursos recursos recursos
emprestados

Orçamento Despesas Crédito


Receita Pública
Público Públicas público

Assim, podemos “destrinchar” essa ideia em três partes:


• o Estado, na realização da atividade financeira, tem como objetivo obter recursos
(RECEITA PÚBLICA) para poder despendê-los (DESPESA PÚBLICA) na aplicação de
seus fins;
• além disso, nem sempre os recursos obtidos são suficientes, por isso o Estado precisa
criá-los (CRÉDITO PÚBLICO) para que sejam capazes de atender todos os dispêndios;
• por fim, toda essa atividade deve ser gerenciada (ORÇAMENTO PÚBLICO).

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Atividade Financeira do Estado

Arrecadar receitas Realizar despesas Criar o crédito público

Orçamento Público

É importante destacar que, no que diz respeito à extensão da atividade financeira do Estado,
o STF já manifestou posição no sentido de que os Tribunais de Contas têm competência
para fiscalizar empresas públicas e sociedades de economia mista, independentemente da
exigência de dano ao Erário (MS 25.092 e MS 25.181).

002. (CESPE/MPU/ANALISTA/2015) Julgue:


A atividade financeira do Estado, caracterizada pela presença constante de uma pessoa
jurídica de direito público, tem como principal finalidade a arrecadação de recursos.

Amigo(a), na verdade, a atividade financeira do Estado engloba obter receita, criar crédito
público, gerir recursos e gastá-los para promover desenvolvimento econômico e social e o
bem comum de sua sociedade.
Logo, é errado dizer que a atividade financeira do Estado tem como principal finalidade a
arrecadação de recursos. Volto a lembrar que a principal finalidade do Estado é promover
desenvolvimento econômico e social e o bem comum de sua sociedade.
Errado.

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1.3. DISTINÇÃO ENTRE DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO


Muita gente também confunde os ramos do Direito Financeiro e Direito Tributário, e
os examinadores gostam de colocar pegadinhas nesse sentido.
No passado, realmente, existia uma ausência de separação clara didática clara entre os
Direitos Tributário e Financeiro, que eram abrangidos na “ciência das finanças”.
Com o advento da Lei n. 4.320/1964, que surgiu para estabelecer normas gerais sobre
Direito Financeiro e que passou a funcionar como elemento central de delimitação do
objeto do Direito Financeiro, essa distinção ganhou corpo, mas foi com a Lei n. 5.172/1966
(CTN – Código Tributário Nacional) que tal distinção ficou mais clara e, após a promulgação
da CF/1988, o campo de atuação de cada um desses ramos ficou ainda mais definido.
Mesmo assim, podemos dizer que existe uma linha tênue entre o Direito Financeiro
e o Direito Tributário, uma vez que ambos pertencem ao Direito Público e atuam na
obtenção de receitas pelo Estado.
Existe autonomia para cada um deles, conforme previsão constitucional, mas, na prática,
o Direito é um só e essa classificação em ramos é apenas didática. Na realidade, existe
forte ligação entre os ramos e os seus dispositivos legais, como veremos ao longo do curso.
No caso das receitas derivadas, como é o caso dos tributos, se, de um lado, o Direito
Tributário regulamenta as suas respectivas alíquotas, bases de cálculo e hipóteses de
incidência, de outro, o Direito Financeiro, por seu turno, cuida da aplicação desses tributos
como instrumento de financiamento de despesas públicas. Pode-se notar, portanto, o viés
da grande diferença entre esses dois ramos do Direito.
Pode-se afirmar, ainda, que cabe ao Direito Financeiro disciplinar e regular a atividade
financeira do Estado, exceto no que se refere à tributação, que é da alçada do Direito Tributário.

003. (CESPE/IPEA/TÉCNICO/2008) No que concerne ao orçamento público, julgue os itens


que se seguem.
A natureza jurídica da lei orçamentária anual no Brasil não interfere nas relações entre os
sujeitos passivos e ativos das diversas obrigações tributárias.

É verdade, já que a Lei Orçamentária Anual (LOA) não interfere nas relações entre os sujeitos
passivos e ativos das diversas obrigações tributárias, pois cabe ao Direito Financeiro
disciplinar e regular a atividade financeira do Estado, exceto no que se refere à tributação,
que é da alçada do Direito Tributário.
Certo.

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Podemos dizer que, de certo modo, o estudo do Direito Financeiro é mais abrangente
que o do Direito Tributário, já que, enquanto o Direito Financeiro estabelece normas
relativas à arrecadação da receita, à gestão orçamentária e do crédito público e ao dispêndio
público (despesa), o Direito Tributário regulamenta apenas a receita derivada, coercitiva,
imposta por lei, que é o tributo.

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Além disso, não é da competência do Direito Tributário regular a forma como a receita
tributária será aplicada no financiamento das políticas públicas em prol da coletividade,
assunto afeto ao Direito Financeiro. Na verdade, quem abarca a decisão do Estado sobre a
aplicação dos recursos arrecadados com os tributos é o Direito Financeiro, e não o Direito
Tributário.

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O Direito Financeiro tem por objeto a disciplina jurídica de toda a atividade financeira
do Estado e abrange receitas, despesas e créditos públicos. O Direito Tributário tem por
objeto específico a disciplina jurídica de uma das origens da receita pública: o tributo.

004. (CESPE/MUNICÍPIO FORTALEZA/PROCURADOR/2017) Com fundamento na disciplina


que regula o direito financeiro e nas normas sobre orçamento constantes na CF, julgue o
item a seguir.
Constitui ofensa à competência reservada ao chefe do Poder Executivo a iniciativa parlamentar
que prevê, na LDO, a inclusão de desconto no imposto sobre a propriedade de veículos
automotores, em caso de pagamento antecipado.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) já pacificou o entendimento de que a iniciativa parlamentar


em assunto de Direito Tributário NÃO invade a competência do Poder Executivo sobre
matéria orçamentária (ADI 724).
Nessa toada, o STF manifestou entendimento de que até mesmo a concessão de benefícios
fiscais não é legislar sobre orçamento (ADI 2464).
Errado.

1.4. FONTES DO DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO


O Direito Financeiro e o Orçamento Público encontram sua “gênese normativa” na
Constituição Federal de 1988 (CF/1988), especialmente entre os artigos 163 e 169.

DICA
Para a matéria AFO/Orçamento Público, o foco maior deve
ser os artigos 165 a 169. Em sua prova, com certeza, teremos
questões retiradas deles e nesta aula vamos explorá-los
ao máximo.

Mas, além da letra da CF/1988, as Finanças Públicas e o Orçamento Público têm


sustentação na Lei de Normas Gerais de Direito Financeiro, a Lei n. 4.320/1964, também
conhecida como Lei do Orçamento Público, que é uma lei originalmente ordinária, federal,
porém de abrangência nacional, vinculando todos os entes políticos, quais sejam União,
Estados, DF e Municípios.

A CF/1988, além de destinar um capítulo para tratar das finanças públicas, recepcionou a
Lei n. 4.320/1964, atribuindo-lhe status de Lei Complementar.

RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR


O artigo 165, § 9º, da CF/1988 estabelece a competência de Lei Complementar para:

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


§ 9º Cabe à lei complementar:
I – dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano
plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual;

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Raciocine comigo: se a CF é de 1988 e antes dela já vigorava Lei n. 4.320/1964, aprovada


pelo Congresso Nacional por maioria simples, em processo legislativo de lei ordinária, então
estamos diante de uma inconsistência constitucional.
Em verdade, essa incongruência deve-se ao fato de que a CF/1988 exige lei complementar
para tratar de exercício financeiro e dos instrumentos do Plano Plurianual (PPA), da Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA).
Assim, contrariando a previsão da CF/1988, a lei que regulamentou o exercício financeiro,
período durante o qual o Estado realiza a sua atividade financeira, arrecadando receitas e
executando despesas, é a Lei n. 4.320/1964, editada e publicada originalmente como lei
ordinária.
ENTRETANTO, NÃO se pode afirmar que ela, pelo fato de ser uma lei pretérita à CF/1988,
que inaugurou um novo ordenamento jurídico no Brasil a partir daquele ano, e que vai
contra o que diz a norma do artigo 165, § 9º, I, da CF/1988, foi automaticamente revogada
com a publicação da Lei Maior. Na verdade, a Lei n. 4.320/1964 não foi revogada, mas sim
recepcionada como se Lei Complementar fosse. Assim, de acordo com a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (ADI 1726), a Lei n. 4.320/1964 foi recepcionada com o status
de lei complementar perante o texto constitucional de 1988, apesar da sua forma
originária de lei ordinária.
Em suma, a Lei n. 4.320/1964 é uma lei formalmente ordinária, aprovada por meio
de processo legislativo ordinário, quórum de deliberação parlamentar maioria simples, e
materialmente complementar, pois a matéria que ela trata é de Lei Complementar, com
fulcro no artigo 165, § 9º, I, CF/1988.
Desse modo, pelo fato de a Lei n. 4.320/1964 ter sido recepcionada pelo atual ordenamento
jurídico brasileiro, ditado pela Carta Magna de 1988, com status de lei complementar, somente
poderá ser alterada por uma lei federal de mesma matéria, e por Lei Complementar.

Mesmo sendo uma lei formalmente ordinária e materialmente complementar, a Lei n.


4.320/1964 somente poderá ser alterada, desde a vigência da atual Constituição, por uma
lei complementar tanto em relação à forma quanto à matéria.

É importante deixar claro que o Direito Financeiro e o Orçamentário não são normatizados
apenas pela CF/1988 e pela Lei n. 4.320/1964, pois a Lei Complementar n. 101/2000 (Lei
de Responsabilidade Fiscal – LRF) também tem relevante importância.
Além dessas duas leis complementares, temos as Leis do PPA, da LDO e da LOA e de
créditos adicionais, que serão apresentadas ao longo do curso.

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Veja a pirâmide das fontes do Direito Financeiro e Orçamentário:

Fontes

Constituição
Federal Art. 165, § 9º da CF/88

Lei Lei de Responsabilidade


Complementares
Leis Ordinárias PPA – LDO – LOA
Medidas Crédito Adicionais
Provisória
Somente Créditos Extraordinários
Jurisprudência

Demais normas Decretos


secundárias Portarias

A doutrina classifica as fontes em formais (primárias e secundárias) e materiais.


Enquanto as fontes formais são as regras escritas, ou seja, o direito positivado, as fontes
materiais são atos que exprimem fatos. As fontes formais, por sua vez, são classificadas em
fontes primárias, que são as principais, e em fontes secundárias. Como exposto, as fontes
primárias principais do Direito Financeiro são:
• a Constituição Federal de 1988;
• as leis ordinárias e complementares;
• os tratados e convenções internacionais;
• as medidas provisórias;
• as leis delegadas (campo restrito);
• os decretos legislativos; e
• as resoluções do Senado Federal.

Registre-se que os demais decretos, regulamentos e atos normativos (como as portarias)


são fontes secundárias.

1.5. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO


Além dos Princípios Orçamentários, que estudaremos adiante, temos também os
Princípios do Direito Financeiro: Legalidade, Economicidade, Transparência, Publicidade
e Responsabilidade Fiscal.

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Vale a pena conhecê-los.

DICA
É importante deixar claro que os Princípios Gerais do
Direito Financeiro são princípios aplicáveis à Atividade
Financeira do Estado (AFE) de forma mais ampla, enquanto
os princípios orçamentários devem ser aplicados apenas à
elaboração do Orçamento Público.

1.5.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


No que tange ao Direito Financeiro, o Princípio da Legalidade pode ser visto tanto do
lado das despesas públicas quanto do lado das receitas.
Em relação à despesa pública, é importante deixar claro que o princípio da legalidade
é aplicado de modo diferenciado quando consideradas as despesas ordinárias e as
extraordinárias.
Guarde que, para as despesas chamadas ordinárias, elas devem obrigatoriamente ser
autorizadas em lei, ou seja, com anuência do Poder Legislativo, obedecendo estritamente
ao Princípio da Legalidade.
Já para as despesas extraordinárias, a situação é diferente. Por derivarem de fatos
imprevisíveis e visarem a satisfação de necessidades públicas urgentes, podem ser
autorizadas por Medidas Provisórias do Poder Executivo, ficando a autoridade pública que
as executar pessoalmente responsável pela existência dos requisitos da imprevisibilidade
e da urgência. Dessa forma, pode-se afirmar que as despesas extraordinárias são uma
exceção ao princípio da legalidade estrito.
É interessante saber que o Princípio da Legalidade, antes de ser um preceito administrativo
fundamental, constitui-se, na verdade, em uma regra consagrada pela doutrina e em textos
constitucionais mundo afora.
Conhecemos aquele velho dispositivo constitucional que nos diz que “ninguém é obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa a não ser em virtude de lei”. Esse princípio visa
combater o poder arbitrário. Só a lei pode criar obrigação para o indivíduo.
Assim, o princípio da legalidade serve para garantir que o Estado apenas exija ações dos
particulares diante da aprovação uma de lei.
Entretanto, no âmbito da administração pública, a situação é inversa, ou seja, a
autoridade só poderá desempenhar as suas funções dentro do que determina a lei.
Nessa pegada, um servidor público, no exercício de suas atribuições, somente poderá exigir
das pessoas fazer ou deixar de fazer alguma coisa na hipótese da ocorrência de lei que as
obrigue. Assim, precisa de lei que determine ou autorize a despesa pública.

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Enquanto para nós, povo, é lícito fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, a aplicação de
recursos públicos somente poderá ser realizada se a LOA ou um crédito adicional (suplementar
ou especial) autorizar o respectivo gasto, ou seja, o princípio da legalidade, no que diz respeito
à despesa pública, depende de prévia autorização legislativa, com exceção da abertura de
créditos adicionais extraordinários, via medida provisória, em caso de despesas urgentes
e imprevisíveis, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública,
nos termos do artigo 167, § 3º, da CF/1988.
No que diz respeito à aprovação da LOA, o princípio da legalidade pressupõe que o
orçamento público será objeto de aprovação pelo Poder Legislativo.
Resumindo, em respeito ao Princípio da Legalidade, a Despesa Pública é enquadrada
e determinada por lei, ou seja, a discricionariedade na execução do gasto púbico pela
Administração Pública é limitada, e seus parâmetros estão previstos e limitadas por lei.
Enfim, existe uma vinculação da despesa pública à lei.
Em suma, a lei, em regra, controla quem, onde, como e até quanto pode gastar.

1.5.2. PRINCÍPIO DA ECONOMICIDADE


Previsto no caput do artigo 70 da CF/1988, o Princípio da Economicidade nos traz a
exigência relativa à eficiência, do ponto de vista econômico, do gasto público.

É o obter a máxima satisfação das necessidades da população com o mínimo gasto possível.

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1.5.3. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE FISCAL


Ligado à grande importância assumida pela LRF nas Finanças Públicas no país, sendo
inclusive um dos seus pilares.

A ideia básica é que o gasto público seja realizado dentro de limites previamente definidos
e de acordo com regras claras, que, se não cumpridas, geram punição ao ente público
irresponsável fiscalmente, pelo não cumprimento de metas de resultado e obediência a
limites e condições relativas a receita, despesa e endividamento.

1.5.4. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA


Amparado também pela LRF, especialmente pelos artigos 48 e 49, que traz os instrumentos
pelos quais os cidadãos comuns poderão exercer o controle social das contas públicas.

Guarde a ideia de que a transparência das contas é assegurada de dois modos diversos:
• disponibilização em meios eletrônicos, das versões completa e simplificada das leis
orçamentárias; e
• disponibilização das prestações de contas e relatórios de execução orçamentária e
gestão fiscal.

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A ideia é dar acesso aos cidadãos, em geral, aos documentos que embasam a realização
de despesas públicas para que fiscalizem os gastos.

Além disso, deve haver incentivo à participação popular na elaboração do orçamento por
meio da realização de audiências públicas durante a elaboração dos orçamentos (Orçamento
Participativo), dando real possibilidade de acompanhamento da execução orçamentária e financeira.

1.6. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTO PÚBLICO


É importante registrar que a competência para legislar sobre Direito Financeiro e
Orçamento Público é concorrente da União, Estados e Distrito Federal, como define o
artigo 24, I e II e § 1º a 4º, da CF/1988. Veja:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II – orçamento;
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa
plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no
que lhe for contrário.

Veja essa linha de raciocínio na sequência dos parágrafos do inciso II do artigo 24 da


CF/1988, especialmente o que revela o 4º:

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer


normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa
plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.

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Note que o dispositivo normativo anterior não faz menção aos municípios, mas existe a
possibilidade de dispor sobre temas próprios e específicos de direito financeiro, conforme
disposição expressa do art. 30, II, CF/1988. Confira:

Art. 30. Compete aos Municípios:


II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Nessa pegada, a doutrina, EMBORA NÃO DE MODO PACÍFICO, tem aceitado que existe
competência também para os Municípios, com base no art. 30, I, da CF/1988.
Sempre é bom lembrar que, no âmbito da competência concorrente, cabe à União
estabelecer normas gerais, e aos Estados, DF e Municípios suplementar o que foi estabelecido
pela União. Em verdade, a norma geral já foi editada pela União desde 1964. Trata-se da Lei
n. 4.320/1964, lei federal de normas gerais de direito financeiro, de abrangência nacional,
vinculando, portanto, todos os entes políticos.

É importante deixar claro novamente que, no âmbito da legislação concorrente, cabe à


União legislar sobre normas gerais de direito financeiro (art. 24, § 1º, CF/1988), e o Estado/
DF mantém competência suplementar (art. 24, § 2º, CF/1988), tendo os municípios a
prerrogativa constitucional de suplementar a legislação federal e estadual, no que couber,
conforme já explanado (art. 30, II, CF/1988), com apoio da Doutrina, embora não pacífica.

E se não houvesse legislação federal, o que não é o caso, o Estado teria competência
legislativa plena (artigo 24, § 3º, CF/1988)? O que significaria a possibilidade jurídica de
editar lei de normas gerais de direito financeiro para atender a suas peculiaridades?

Sim! Se ligue! Mas como dito antes, não é o caso, pois a União já estabeleceu as Normas
Gerais (Lei n. 4.320/1964).
Entretanto, é importante deixar claro que, mesmo diante dessa possibilidade, se depois
sobrevier a lei federal, posterior à edição da lei estadual de normas gerais de direito financeiro,
as normas contrárias da lei estadual de normas gerais terão a sua eficácia suspensa, sendo
válidas apenas as disposições normativas que não contrariarem as federais editadas, pois
a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual no
que lhe for contrária (art. 24, § 4º, CF/1988).

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Direito Financeiro
Introdução ao Direito Financeiro e Direito Financeiro na CF/1988
Manuel Piñon

005. (CESPE/TCE-PE/AUDITOR/2017) Com referência ao direito financeiro, julgue o


item seguinte.
Os estados-membros e o Distrito Federal estão impedidos de editar normas gerais acerca
da elaboração dos seus orçamentos, porque a CF atribui tal competência legislativa à União.

Na verdade, essa competência é concorrente. Confira, no artigo 24 da CF/1988, com grifos


nossos:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II – orçamento;

Errado.

2. FINANÇAS PÚBLICAS E ORÇAMENTO PÚBLICO NA


CF/1988
Antes de começarmos, quero destacar que a aula de hoje é a mais importante e a
mais difícil do nosso curso.
A fonte primária da nossa matéria é a nossa Constituição Federal de 1988. Assim,
vamos começar nosso curso bebendo dessa fonte, especialmente dos seus artigos 165
a 169. Por essa razão, entendo que o(a) colega que ainda não teve oportunidade de
estudá-los tenha certa dificuldade com a quantidade de informações e com o nível de
detalhamento desta aula.
Não vou enganar você, nossa Carta Magna é muito detalhista e, no que diz respeito a
essas disciplinas, não poderia ser diferente, já que estamos tratando da parte mais sensível
do Estado: o bolso.
A ideia é que hoje, ao estudar os artigos 163 a 169, você crie uma base de conhecimento
que vai te ajudar no resto do curso. Vamos intercalar os artigos com explicações e questões
de concursos anteriores em que são diretamente aplicados.
Se você tiver um bom desempenho na aula de hoje, você certamente vai ter um bom
desempenho na matéria.
Se tiver dificuldade, o que é normal, você terá oportunidade de voltar nestes
dispositivos ao longo do curso e melhorar a sua compreensão e a sua fixação. Acredite
nisso. No final do curso você vai me dar razão.

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