Você está na página 1de 11

Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém

v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

Orçamento Público Brasileiro à luz da LRF: Um Instrumento na


busca da Eficiência da Gestão Pública e no Controle do Emprego dos
Recursos Públicos

Marcus Vinicius Batella Medeiros [1]


Glaucia Rodrigues Nascimento Medeiros [2]

RESUMO
O Orçamento Público no Brasil tem grande importância na alocação dos recursos públicos
como instrumento de planejamento que apresenta as decisões do Estado, estabelecendo as ações
prioritárias para atender as demandas da sociedade, de acordo com as legislações pertinentes e o poder
discricionário do administrador. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é o código de conduta para
os administradores públicos de todo o país. Ela é aplicada para todos os poderes, nas três esferas de
governo, e tem por objetivo melhorar a administração das contas públicas no Brasil. Este trabalho tem
como objetivo mostrar a influência da Lei de Responsabilidade Fiscal sobre o orçamento público
brasileiro, sendo utilizado como instrumento na busca da eficiência da gestão pública e no controle do
emprego dos recursos públicos.

Palavras-chave: Orçamento Público, Lei de Responsabilidade Fiscal, Eficiência na gestão


pública, controle do emprego dos recursos públicos.

ABSTRACT
The Public Budget in Brazil has great importance in the allocation of public resources as a planning
tool that presents the decisions of the State, establishing priority actions to meet the demands of
society, according to the relevant legislation and the discretion of the administrator. The Fiscal
Responsibility Law (LRF) is the code of conduct for public administrators throughout the country. It is
applied to all powers, in the three spheres of government, and aims to improve the administration of
public accounts in Brazil. This paper aims to show the influence of the Fiscal Responsibility Law on
the Brazilian public budget, being used as an instrument in the search for efficiency of public
management and control of the use of public resources.

Keywords: Public Budget, Fiscal Responsibility Law, Efficiency in public administration,


control the use of public resources.

1 INTRODUÇÃO
O Estado, por meio de seus órgãos administrativos, é a entidade responsável pela gestão
da máquina pública e pela consecução do bem-estar social da população, sobretudo no que diz
respeito à execução da política de atendimento de suas necessidades básicas.

___________________________________
1. Administrador e Engenheiro de Computação – MSc; Professor da FAP – Estácio
2. Pedagoga – MSc; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo) – UFPA

51
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

O Orçamento Público Brasileiro, regulado pela Constituição, foi criado para traçar os
objetivos a serem alcançados pelo Estado brasileiro. Com ele é possível estabelecer um plano
para a evolução do Estado, planejando-se não apenas a situação presente, mas apresentando
um ideal futuro, visto que condiciona a atividade estatal à sua concreta realização.

Tais objetivos constituem as razões fundamentais para a existência do planejamento e


do orçamento no âmbito do setor público. Estes mecanismos são as principais ferramentas
para a consecução de políticas condizentes com as exigências de uma sociedade democrática e
participativa, cujos membros devem ser partes integrantes do processo de gestão dos recursos
públicos.

Neste contexto, surgem as leis orçamentárias, em particular a Lei de Responsabilidade


Fiscal, com o objetivo de regular os limites do processo da gestão dos recursos públicos. A
LRF proporciona, ainda, uma transparência nas finanças públicas, buscando a eficiência da
aplicação dos recursos através da participação do povo não apenas no controle da aplicação
do recurso público, mas como parte integrante do processo decisório.

2 ORÇAMENTO PÚBLICO

2.1 Fundamentos
Orçamento é um plano de trabalho governamental expresso em termos monetários que
evidencia a política econômico-financeira do Governo e em cuja elaboração foram observados
os princípios da unidade, universalidade, anualidade, especificação e outros conceitos
complementares (SILVA, 1996).
Segundo Lino Martins da Silva, o orçamento pode ser estudado sob os seguintes
aspectos:
- Aspecto Político: que diz respeito à sua característica de Plano de Governo ou
Programa de Ação do grupo.
- Aspecto Jurídico: é o que define a Lei Orçamentária no conjunto de leis do país.
- Aspecto Econômico: é o resultado da evolução das características políticas do
orçamento. Se o orçamento público é peça fundamental ao cumprimento das finalidades do
Estado, não há dúvida de que deverá observar que o melhor plano é aquele que resulta numa
produção com um menor gasto.
- Aspecto Financeiro: caracterizado pelo fluxo monetário das entradas da receita e das
saídas das despesas, meio efetivo e normal da execução orçamentária.
O Orçamento Público é um plano de governo expresso em forma de lei que faz a
estimativa de receita a arrecadar e fixa a despesa de igual valor para um período determinado
de um ano, chamado exercício financeiro. Deve seguir as leis orçamentárias vigentes.
A lei orçamentária não é de caráter mandatário, ou seja, o governante não está
obrigado a realizar todas as despesas ali previstas. Entretanto não poderá contrair despesas
não previstas sem a prévia aprovação do poder legislativo.
Classicamente, o orçamento é uma peça que
contém a previsão das receitas e a autorização das despesas, sem preocupação com
planos governamentais e com interesses efetivos da população. Era mera peça
contábil, de conteúdo financeiro. (HORVATH, 1999)

Orçamento Público – Previsão dos fatos


patrimoniais de uma entidade pública. Previsão de despesas e receitas de uma
entidade pública. Previsão do exercício de uma entidade de fins públicos.
(SÁ & SÁ, 1995)
52
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

2.2 Evolução Histórica do Processo Orçamentário do Brasil


Em 1830, o Congresso aprovou o primeiro orçamento brasileiro e a Emenda
Constitucional de 1934 concedeu às Assembleias Legislativas a competência para fixar
despesas municipais e das províncias. No Estado Novo, em 1938, é criado o Departamento de
Administração do Serviço Público (DASP), que iniciou formalmente o planejamento
orçamentário no Brasil, tendo como grande objetivo organizar anualmente, de acordo com as
instruções do presidente da república, a proposta orçamentária.
A grande conquista para o orçamento brasileiro foi a publicação da Lei nº 4.320 de 17
de março de 1964, que estabelece normas gerais de direito financeiro para a elaboração e
controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal. Essa lei instituiu a metodologia do orçamento-programa para todas as esferas
públicas. Em 1966 foi criado o Código Tributário Nacional. A Constituição de 1967 eliminou
qualquer tipo de emenda à peça orçamentária por parte do Poder Legislativo.
O governo federal criou a Comissão do Reordenamento das Finanças Públicas em
1974, que implementou significativas alterações na política orçamentária. A constituição de
1988, hoje em vigor, estabelece importantes mudanças na legislação orçamentária e a
hierarquia dos instrumentos de planejamento de longo e médio prazos.
Em 2000 surgiu a Lei Responsabilidade Fiscal (LRF), que introduziu mudanças na
administração das finanças públicas, instituindo mecanismos de transparência fiscal e controle
social dos gastos públicos.

2.3 Princípios Básicos Orçamentários


Os Princípios Orçamentários visam a estabelecer regras norteadoras básicas, a fim de
conferir racionalidade, eficiência e transparência para os processos de elaboração, execução e
controle do Orçamento Público. Validos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
de todos os entes federativos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – são
estabelecidos e disciplinados tanto por normas constitucionais e infraconstitucionais, quanto
pela doutrina.
A elaboração do Orçamento Público requer a atuação de técnicos especialistas em
finanças públicas, que tenham o domínio dos conhecimentos contidos na Constituição e em
legislações pertinentes e que saibam interpretá-los. As receitas são estimadas pelo governo,
por isso podem ser maiores ou menores do que foi inicialmente previsto. As despesas são
fixadas no orçamento que são cobertas, principalmente com o produto da arrecadação dos
impostos.
Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração e controle do
orçamento, que estão definidos na Constituição, na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, no
Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A Lei nº 4.320/64 estabelece os fundamentos da transparência orçamentária:

Art. 2o. "A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma
a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo,
obedecidos os princípios da unidade, universalidade e anualidade".

O princípio da Unidade ressalta que cada entidade de direito público deve possuir
apenas um orçamento, fundamentado em uma única política orçamentária e estruturado
uniformemente. Assim, existe o orçamento da União, o de cada Estado e o de cada Município,
que irá reger o Orçamento Público. O princípio da Universalidade coloca que a lei
orçamentária deve incorporar todas as receitas e as despesas, ou seja, nenhuma instituição
pública deve ficar fora do orçamento.

53
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

O princípio da Anualidade estabelece um período para as estimativas de receita e


fixação da despesa, ou seja, o orçamento deve compreender o período de um exercício, que
corresponde ao ano fiscal. Como os recursos são limitados, é necessário priorizar as ações que
serão realizadas. Inicialmente, há uma discussão no poder executivo para definir as ações
consideradas prioritárias, na segunda etapa está a negociação do governo com a sociedade,
representada por associações comunitárias, partidos políticos, sindicatos de classe, entre
outros, que apresentam suas reivindicações e buscam definição para o atendimento de suas
solicitações e após essa etapa o Orçamento Público é encaminhado ao Poder Legislativo para
aprovação.

2.4 As Leis Orçamentárias


A competência para a elaboração dos planos de ação governamental e do orçamento é
sempre do Poder Executivo. De acordo com a Constituição Federal, nos incisos I, II e III, art.
165:

Art. 165. “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.
§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma
regionalizada, as diretrizes, os objetivos e metas da administração pública federal
para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos
programas de duração continuada;
§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e
prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o
exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual,
disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de
aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.”

O Plano Plurianual (PPA) é um plano feito para a duração de quatro anos, tendo
vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato da futura administração.
Nele devem constar, obrigatoriamente, os orçamentos de investimentos que nortearão as
diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras dela
decorrentes. Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá
ser iniciado sem prévia inclusão neste plano, ou em lei que autorize a inclusão, sob pena de
crime de responsabilidade.
A Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) é um plano de curto prazo capaz de
traduzir as diretrizes e os objetivos do PPA em metas e prioridades para o ano seguinte,
servindo como orientação para elaboração do orçamento anual. No Legislativo o projeto da
LDO poderá receber emendas, desde que compatíveis com o Plano Plurianual.
A LDO compreenderá as metas e prioridades da administração, segundo a CF, art165,
§2º, orientará a Lei Orçamentária Anual (LOA) e disporá sobre alterações tributárias, com a
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) em vigor. A LDO também deve dispor sobre:
- O equilíbrio da receita e despesa;
- Os programas financeiros com receitas do orçamento;
- As normas relativas de controle dos custos;
- As condições e exigências para transferência de recursos a entidades
pública e privada;
- As metas fiscais e os riscos fiscais.

54
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

A Lei Orçamentária Anual (LOA) discriminará os recursos orçamentários e


financeiros para que sejam atingidas das metas e prioridades estabelecidas pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e compreenderá:
- O orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos
e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e
mantidas pelo poder público (art. 165, § 5º, inciso I, da CF/88);
- O orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto (art. 165, §
5º, inciso II, da CF/88); e
- O orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e
órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os
fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público (art. 165, § 5º,
inciso III, da CF/88).

É importante destacar que a LOA deve ser compatível com o PPA e com a LDO. A
Lei Orçamentária Anual não poderá conter dispositivo estranho à previsão da receita e à
fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita,
nos termos da lei.
A figura 01 mostra de forma resumida os prazos legais para elaboração e cumprimento
do orçamento.

Figura 01: Fonte: Gomes, 2004

2.5 A Lei de Responsabilidade Fiscal


A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) (Lei Complementar nº 101, de 4/5/2000) visa
a regulamentar a Constituição Federal, na parte da Tributação e do Orçamento, que estabelece
as normas gerais de finanças públicas a serem observadas pelos três níveis de governo:
Federal, Estadual e Municipal. Em particular, a LRF vem atender à prescrição do artigo 163
da CF de 1988.
A LRF é uma norma orçamentária para conter os déficits públicos e o endividamento e
que se espelha em normas de países como os Estados Unidos e a Nova Zelândia, com o
intuito de atingir um equilíbrio fiscal. A LRF impõe limites para o endividamento público e
todos os aspectos de finanças públicas. Como consequência ao cumprimento das normas, há
um ajuste fiscal que poderá levar a uma maior disponibilidade de recursos a serem aplicados
para a melhoria dos serviços públicos. A LRF delimita, ainda, os gastos públicos com o
endividamento e com pessoal, além de controlar os aspectos orçamentários desde sua
elaboração até a sua execução, através de uma ação planejada e transparente. Diferente das

55
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

tentativas anteriores para limitação dos gastos públicos, a LRF trouxe como inovação o
planejamento governamental via orçamento e a punição para os maus gestores públicos.
A LRF não substitui nem revoga a Lei nº 4.320/64, que normatiza as finanças públicas
no País. Embora a Constituição Federal tenha determinado a edição de uma nova lei
complementar em substituição à Lei 4.320, até o presente momento o Congresso Nacional não
concluiu seus trabalhos em relação ao projeto já existente.
A LRF atende também ao artigo 169 da CF que determina o estabelecimento de
limites para as despesas com pessoal ativo e inativo da União a partir de Lei Complementar.
Neste sentido, ela revoga a Lei Complementar n º 96, de 31 de maio de 1999, a chamada Lei
Camata II (artigo 75 da LRF).
A LRF atende ainda à prescrição do artigo 165 da Constituição, mais precisamente, o
inciso II do parágrafo 9º. Diz o dispositivo:

Art. 165. “...Cabe à Lei Complementar estabelecer normas de gestão financeira e


patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a
instituição e funcionamento de Fundos”.

Finalmente, a partir do seu artigo 68, a LRF vem atender à prescrição do artigo 250 da
Constituição de 1988 que assim determina:

Art. 250 “Com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento dos benefícios
concedidos pelo regime geral de previdência social, em adição aos recursos de sua
arrecadação, a União poderá constituir fundo integrado por bens, direitos e ativos de
qualquer natureza, mediante lei, que disporá sobre a natureza e administração desse
fundo.”

A Lei de Responsabilidade Fiscal se apoia sobre quatro pilares, dos quais depende o
alcance de seus objetivos. São eles: o planejamento, a transparência, o controle e a
responsabilidade.
A rigor, esses pontos são recorrentes na doutrina sobre requisitos da boa administração
pública. Na atualidade, parecem tomar revigorado impulso, dado o alto grau de
endividamento dos entes da federação e devido à democratização e desejo de maior
participação e controle da sociedade, extenuada por suportar elevada carga tributária, sem a
correspondente contrapartida em termos de prestação de serviços, como saúde, segurança,
educação, saneamento, transporte público, e similares (SILVA & REIS, 2009)
A ideia de planejamento na Administração Pública não é nova, mas vem carregada de
uma nova dimensão na LRF. O objetivo é fazer com que a administração se desenvolva
através de políticas e ações previamente formuladas para atender às necessidades coletivas e
públicas, visando assim, o cumprimento da missão do Estado de executar metas físicas
concretas, conjugadas com aquelas de caráter financeiro.
O processo de planejamento foi aprimorado pela inclusão da participação popular
através de audiências públicas, pela criação de novas informações, relatórios, metas, limites e
condições para a renúncia de receita, para geração de despesas, inclusive pessoal e
seguridade, para assunção de dívidas, para realização de operações de crédito e para a
concessão de garantias.
A preocupação com o planejamento está propalada por toda a lei. Sem um
planejamento econômico e financeiro bem estruturado, nenhum administrador público
conseguirá atender e cumprir com os objetivos da lei.
O processo de planejamento encontra-se enunciado abaixo através de três instrumentos
distintos que se compatibilizam no tempo adequado, integrando estratégia, tática e execução,

56
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

garantindo a estrutura e os recursos necessários para a realização de ações consideradas


relevantes e de interesse público.

2.6 Transparência
A transparência prevista pela Lei de Responsabilidade Fiscal afina-se com as
modificações estruturais introduzidas pela Emenda Constitucional no 19/98, que versou sobre
a reforma administrativa, pela qual se criou o direito do usuário, visando, por exemplo, a
prevenção dos riscos orçamentários (STAHNKE, 2000).
Diz a Lei de Responsabilidade Fiscal em seu art. 48 que:

"Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo
parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de
Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.
Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante
incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e
orçamentos."

A redação do artigo representa um dos objetivos inspiradores da lei, naquilo


que ela possui de mais inovador. Para o alcance e manutenção do equilíbrio fiscal é
institucionalizada a ideia de que a transparência auxilia no controle e fiscalização da
distribuição de recursos pelas dotações orçamentárias. A transparência é o mecanismo que
possibilita a coesão entre o equilíbrio fiscal e o planejamento.
Nesse sentido é importante destacar a previsão de ampla divulgação dos
documentos formais e legais de planejamento. Desta forma, não apenas a publicação dos
dados de maneira acessível e viável a toda a população constitui uma forma de transparência,
mas também objetos de interesse do povo de maneira direta.
Planta-se, assim, uma semente de maior eficiência, a germinar com a
publicidade e transparência dos dados lançados nos instrumentos orçamentários. Decorre daí
uma maior qualidade informativa, resultante da confiabilidade e certeza da correção dos dados
divulgados, em função da publicação dos dados, da indicação do regime contábil adotado e da
participação popular como meio efetivo de controle das aplicações orçamentárias. (MILESKI,
2002)
Podemos ver que a transparência para onde aponta o art. 48 da LRF diz
respeito à preparação, à execução e à prestação de contas (MILESKI, 2002).
A participação popular promove a transparência na preparação e na execução das
contas, em razão do controle e do direcionamento dos recursos disponibilizados. O debate e o
enfrentamento direto de propostas por parte dos cidadãos tendem a esclarecer e legitimar a
aplicação de recursos.
Por outro lado, a transparência se dá pela prestação de contas, mais eficaz com a
ampla divulgação dos planos e instrumentos orçamentários.
O princípio da transparência é pressuposto básico e mesmo intrínseco à noção de gestão
fiscal responsável. Assim sendo, procuraremos demonstrar a razão pelo qual este princípio é
instrumento fundamental na manutenção e na disciplina dos gastos públicos. Inicialmente,
citaremos a definição de José Maurício Conti ao que se deve ter por princípio da transparência
fiscal:
O princípio da transparência fiscal é, por conseguinte, diretriz que assegura
o acesso público à informação sobre as atividades fiscais, que deve ser observada na
gestão dos recursos públicos, estando em consonância com as mais modernas
técnicas da Administração Pública (CONTI, 2001).
57
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

A transparência na gestão fiscal, no sentido que lhe vem sendo dado pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, aponta como sendo uma variante mais moderna do princípio da
publicidade ou, como preferem alguns, um conceito que busca dar maior efetividade e maior
elasticidade à publicidade, garantia constitucional (CONTI, 2001).
É a transparência princípio essencial à eficácia dos atos oriundos da administração
pública, sendo necessário, para que possa haver o controle por parte da sociedade, tornar tais
atos de conhecimento de todos.
A noção de transparência deve ser pautada na clareza, na confiança, na abrangência,
na relevância, na tempestividade, na compreensibilidade, na abertura e na simplicidade, além
da ética pública. Tal transparência encontra sua nascente já na Constituição Federal, ainda que
de maneira implícita (TORRES, 2000), sendo também considerada como princípio que busca
concretizar o princípio constitucional da cidadania (FIGUEIREDO, 1999).
A cidadania aqui explicitada não se restringe apenas à fiscalização e à compreensão da
gestão do dinheiro público. Ela se estende além desse âmbito, alcançando novas dimensões,
aprimorando o conceito de democracia. Estamos falando da cidadania em forma de
participação da sociedade nas decisões do processo administrativo.

2.7 Eficiência na Gestão Pública e no Controle do Emprego dos Recursos Públicos


Eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com
presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função
administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo
resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da
comunidade e de seus membros (MEIRELLES, 1996).
O princípio da eficiência apareceu no ordenamento jurídico desde o Decreto-lei
200/67, quando submeteu toda atividade pública ao controle de resultado, fortaleceu o sistema
de mérito, sujeitou a Administração indireta a supervisão ministerial quanto à eficiência
administrativa e recomendou a demissão ou dispensa do servidor comprovadamente
ineficiente ou desidioso.
A Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/98, inseriu o princípio da eficiência entre os
princípios constitucionais da Administração Pública, previstos no artigo 37, caput.
Temos a partir de Emenda 19/98, alguns artigos incluídos na Constituição Federal tais
como:

art. 39, § 2º- a União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de


governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-
se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira,
facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados;

art. 41, §1º, III- O servidor público estável só perderá o cargo: III mediante
procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa;

art. 41, § 4º- como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a


avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade.

A eficiência apresenta como princípio dois aspectos: o primeiro diz respeito ao modo
de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas
atribuições, para lograr os melhores resultados; o segundo ao modo de organizar, estruturar,
disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores
resultados na prestação do serviço público.

58
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

Em atendimento ao princípio da eficiência é que estão sendo idealizados institutos,


como os contratos de gestão, as agências autônomas, as organizações sociais, as organizações
civis de interesse coletivo, e demais inovações com que se depara o administrador público a
todo momento.
O princípio da eficiência apesar de se encontrar entre os princípios elencados na
Constituição Federal não deve ser aplicado de forma absoluta. Ao lado da eficiência deve ser
sempre obedecida o princípio da legalidade, pois, não se justificaria medidas ilegais com o
objetivo de alcançar eficácia do ato administrativo, significa dizer que a eficiência é princípio
que deve respeitar aos demais impostos à Administração, não podendo sobrepor-se a nenhum
deles, sobretudo ao da legalidade, sob pena de riscos indeléveis à segurança jurídica e ao
próprio Estado de Direito.
Neste sentido que a eficiência deve ser exigida pelo controle social, parlamentar e
jurisdicional. A atividade administrativa deve ser controlada em seus atos pelo aspecto de
eficiência, principalmente no tocante aos atos discricionários, que são aqueles onde o
administrador possui liberdade de atuação de acordo com sua conveniência e oportunidade.
Então o administrador público em confronto com várias soluções possíveis, deve escolher
aquela a solução ótima, que satisfaça, minimize ou atenue a demanda pública de forma mais
eficiente possível.
Nesta óptica, surge a transparência como ferramenta para a cobrança da eficiência do
setor público. Transparência proporcionada pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
O capítulo IX da Lei de Responsabilidade Fiscal refere-se à transparência, controle e
fiscalização e estabelece regras e procedimentos para a confecção e divulgação de relatórios e
demonstrativos de finanças públicas, a fiscalização e o controle, visando permitir ao cidadão
avaliar através da informação disponibilizada em relatórios, o grau de sucesso obtido pela
administração das finanças públicas. Em outras palavras, é a ferramenta de acesso às
informações necessárias para a medição da eficiência da aplicação do dinheiro público.

3 CONCLUSÕES
O Brasil avançou muito nos últimos anos quando observado sob o aspecto da
transparência orçamentária. A adoção de leis orçamentárias que utilizam ferramentas
modernas de controle, em especial a Lei de Responsabilidade Fiscal, permite de forma rápida
e precisa a coleta dos dados necessários para uma análise completa e precisa da utilização dos
recursos públicos no país.
Neste período o Poder Legislativo ganhou espaço, a legislação garante a produção de
documentos completos e tempestivos, e existem órgãos independentes de auditoria,
características que fortalecem a democracia no país.
Entretanto, falta muito para chegarmos ao estado da arte. A transparência e a clareza
dos dados orçamentários seriam favorecidas se todos os links que apontam para essas
informações se concentrassem numa mesma página eletrônica. Nossos sites, apesar de
conterem todas as informações ainda estão longe da compreensão do brasileiro de nível
médio.
É importante, ainda, uma maior conscientização da população economicamente ativa
da necessidade da participação do processo não apenas como contribuinte ou, eventualmente
fiscal. Os instrumentos legais hoje existentes permitem uma participação ativa da população
na escolha das áreas onde devem ser destinados recursos no orçamento.
Fica registrado o fato de que não falta muito para o Brasil se juntar ao grupo de países
tidos como exemplo de transparência. Neste apagar das luzes, é justo confirmar as palavras de
Nunes & Nunes (2003):

59
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

“O arcabouço legal está consolidado. Trata-se, agora, de aperfeiçoar os


mecanismos de transparência e controle existentes”.

REFERÊNCIAS

CONTI, José Maurício. Em: MARTINS, Ives Gandra da Silva. NASCIMENTO, Carlos
Valder do. Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo/SP: Saraiva,
2001, v. 1.

DORNBUSCH, R & FISCHER, S. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,


1982.

FIGUEIREDO, Marcelo. O controle da moralidade na Constituição. 1999, p. 104.

GOMES, Rinaldo Jefferson da Silva. Orçamento Público: A Experiência do Orçamento


Participativo No Município de Cabedelo. Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal da Paraíba, 2004. Disponível em:< http://www.biblioteca.sebrae.com.br>.
Acesso em: 20Ago15.

HORVATH, Regis Fernandes de Oliveira Estevão. Manual de Direito Financeiro. 3 ed. São
Paulo: Editora RT, 1999.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1996.

MILESKI, Helio Saul. Transparência do Poder Público e sua Fiscalização, 2002. Disponível
em:< http://www.amdjus.com.br/doutrina/administrativo/331.htm>. Acesso em:
20Ago18.

NUNES, S. P. P. e NUNES, R. C. Dois anos da Lei de Responsabilidade Fiscal do Brasil:


Uma avaliação dos resultados à luz do modelo do fundo comum, Texto para discussão
nº 276, Universidade de Brasília, 2003.

SÁ, Antônio Lopes de & SÁ, Ana Maria Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9 ed. São
Paulo: Atlas, 1995.

SANTOS, Angelucci Rodrigues dos e REIS, Jorge Augusto Gonçalves. A Importância da


Contabilidade Pública. Disponível em: < http://biblioteca.univap.br >. Acesso em:
20Ago18.

SILVA, Lino Martins da. Contabilidade Governamental: Um Enfoque Administrativo. 3 ed.


São Paulo: Atlas, 1996.

SILVA, Solange Aparecida & REIS, Jorge Augusto Gonçalves. A eficiência e eficácia da lei
de responsabilidade fiscal: promovendo a mudança na cultura fiscal do país, V
Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba,
2009. Disponível em: < http://biblioteca.univap.br>. Acesso em: 20Ago18.

60
Revista de Administração e Contabilidade da Faculdade Estácio do Pará – Belém
v. 5, n. 10, p. 51 – 61, dez 2018, ISSN 2358-1948

TORRES, Ricardo Lobo Torres. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000.

Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em:


< http://www.tesouro.fazenda.gov.br>. Acesso em: 10Ago18.

Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964. Disponível em: <


https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10Ago18.

Site: Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: <http://www.lrf.com.br> Acesso em:


10Ago18.

Site: Ministério do Planejamento. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br> Acesso


em: 05Ago18.

61

Você também pode gostar