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RESUMO
O Orçamento Público no Brasil tem grande importância na alocação dos recursos públicos
como instrumento de planejamento que apresenta as decisões do Estado, estabelecendo as ações
prioritárias para atender as demandas da sociedade, de acordo com as legislações pertinentes e o poder
discricionário do administrador. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é o código de conduta para
os administradores públicos de todo o país. Ela é aplicada para todos os poderes, nas três esferas de
governo, e tem por objetivo melhorar a administração das contas públicas no Brasil. Este trabalho tem
como objetivo mostrar a influência da Lei de Responsabilidade Fiscal sobre o orçamento público
brasileiro, sendo utilizado como instrumento na busca da eficiência da gestão pública e no controle do
emprego dos recursos públicos.
ABSTRACT
The Public Budget in Brazil has great importance in the allocation of public resources as a planning
tool that presents the decisions of the State, establishing priority actions to meet the demands of
society, according to the relevant legislation and the discretion of the administrator. The Fiscal
Responsibility Law (LRF) is the code of conduct for public administrators throughout the country. It is
applied to all powers, in the three spheres of government, and aims to improve the administration of
public accounts in Brazil. This paper aims to show the influence of the Fiscal Responsibility Law on
the Brazilian public budget, being used as an instrument in the search for efficiency of public
management and control of the use of public resources.
1 INTRODUÇÃO
O Estado, por meio de seus órgãos administrativos, é a entidade responsável pela gestão
da máquina pública e pela consecução do bem-estar social da população, sobretudo no que diz
respeito à execução da política de atendimento de suas necessidades básicas.
___________________________________
1. Administrador e Engenheiro de Computação – MSc; Professor da FAP – Estácio
2. Pedagoga – MSc; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo) – UFPA
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O Orçamento Público Brasileiro, regulado pela Constituição, foi criado para traçar os
objetivos a serem alcançados pelo Estado brasileiro. Com ele é possível estabelecer um plano
para a evolução do Estado, planejando-se não apenas a situação presente, mas apresentando
um ideal futuro, visto que condiciona a atividade estatal à sua concreta realização.
2 ORÇAMENTO PÚBLICO
2.1 Fundamentos
Orçamento é um plano de trabalho governamental expresso em termos monetários que
evidencia a política econômico-financeira do Governo e em cuja elaboração foram observados
os princípios da unidade, universalidade, anualidade, especificação e outros conceitos
complementares (SILVA, 1996).
Segundo Lino Martins da Silva, o orçamento pode ser estudado sob os seguintes
aspectos:
- Aspecto Político: que diz respeito à sua característica de Plano de Governo ou
Programa de Ação do grupo.
- Aspecto Jurídico: é o que define a Lei Orçamentária no conjunto de leis do país.
- Aspecto Econômico: é o resultado da evolução das características políticas do
orçamento. Se o orçamento público é peça fundamental ao cumprimento das finalidades do
Estado, não há dúvida de que deverá observar que o melhor plano é aquele que resulta numa
produção com um menor gasto.
- Aspecto Financeiro: caracterizado pelo fluxo monetário das entradas da receita e das
saídas das despesas, meio efetivo e normal da execução orçamentária.
O Orçamento Público é um plano de governo expresso em forma de lei que faz a
estimativa de receita a arrecadar e fixa a despesa de igual valor para um período determinado
de um ano, chamado exercício financeiro. Deve seguir as leis orçamentárias vigentes.
A lei orçamentária não é de caráter mandatário, ou seja, o governante não está
obrigado a realizar todas as despesas ali previstas. Entretanto não poderá contrair despesas
não previstas sem a prévia aprovação do poder legislativo.
Classicamente, o orçamento é uma peça que
contém a previsão das receitas e a autorização das despesas, sem preocupação com
planos governamentais e com interesses efetivos da população. Era mera peça
contábil, de conteúdo financeiro. (HORVATH, 1999)
Art. 2o. "A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma
a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo,
obedecidos os princípios da unidade, universalidade e anualidade".
O princípio da Unidade ressalta que cada entidade de direito público deve possuir
apenas um orçamento, fundamentado em uma única política orçamentária e estruturado
uniformemente. Assim, existe o orçamento da União, o de cada Estado e o de cada Município,
que irá reger o Orçamento Público. O princípio da Universalidade coloca que a lei
orçamentária deve incorporar todas as receitas e as despesas, ou seja, nenhuma instituição
pública deve ficar fora do orçamento.
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O Plano Plurianual (PPA) é um plano feito para a duração de quatro anos, tendo
vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato da futura administração.
Nele devem constar, obrigatoriamente, os orçamentos de investimentos que nortearão as
diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras dela
decorrentes. Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá
ser iniciado sem prévia inclusão neste plano, ou em lei que autorize a inclusão, sob pena de
crime de responsabilidade.
A Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) é um plano de curto prazo capaz de
traduzir as diretrizes e os objetivos do PPA em metas e prioridades para o ano seguinte,
servindo como orientação para elaboração do orçamento anual. No Legislativo o projeto da
LDO poderá receber emendas, desde que compatíveis com o Plano Plurianual.
A LDO compreenderá as metas e prioridades da administração, segundo a CF, art165,
§2º, orientará a Lei Orçamentária Anual (LOA) e disporá sobre alterações tributárias, com a
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) em vigor. A LDO também deve dispor sobre:
- O equilíbrio da receita e despesa;
- Os programas financeiros com receitas do orçamento;
- As normas relativas de controle dos custos;
- As condições e exigências para transferência de recursos a entidades
pública e privada;
- As metas fiscais e os riscos fiscais.
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É importante destacar que a LOA deve ser compatível com o PPA e com a LDO. A
Lei Orçamentária Anual não poderá conter dispositivo estranho à previsão da receita e à
fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita,
nos termos da lei.
A figura 01 mostra de forma resumida os prazos legais para elaboração e cumprimento
do orçamento.
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tentativas anteriores para limitação dos gastos públicos, a LRF trouxe como inovação o
planejamento governamental via orçamento e a punição para os maus gestores públicos.
A LRF não substitui nem revoga a Lei nº 4.320/64, que normatiza as finanças públicas
no País. Embora a Constituição Federal tenha determinado a edição de uma nova lei
complementar em substituição à Lei 4.320, até o presente momento o Congresso Nacional não
concluiu seus trabalhos em relação ao projeto já existente.
A LRF atende também ao artigo 169 da CF que determina o estabelecimento de
limites para as despesas com pessoal ativo e inativo da União a partir de Lei Complementar.
Neste sentido, ela revoga a Lei Complementar n º 96, de 31 de maio de 1999, a chamada Lei
Camata II (artigo 75 da LRF).
A LRF atende ainda à prescrição do artigo 165 da Constituição, mais precisamente, o
inciso II do parágrafo 9º. Diz o dispositivo:
Finalmente, a partir do seu artigo 68, a LRF vem atender à prescrição do artigo 250 da
Constituição de 1988 que assim determina:
Art. 250 “Com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento dos benefícios
concedidos pelo regime geral de previdência social, em adição aos recursos de sua
arrecadação, a União poderá constituir fundo integrado por bens, direitos e ativos de
qualquer natureza, mediante lei, que disporá sobre a natureza e administração desse
fundo.”
A Lei de Responsabilidade Fiscal se apoia sobre quatro pilares, dos quais depende o
alcance de seus objetivos. São eles: o planejamento, a transparência, o controle e a
responsabilidade.
A rigor, esses pontos são recorrentes na doutrina sobre requisitos da boa administração
pública. Na atualidade, parecem tomar revigorado impulso, dado o alto grau de
endividamento dos entes da federação e devido à democratização e desejo de maior
participação e controle da sociedade, extenuada por suportar elevada carga tributária, sem a
correspondente contrapartida em termos de prestação de serviços, como saúde, segurança,
educação, saneamento, transporte público, e similares (SILVA & REIS, 2009)
A ideia de planejamento na Administração Pública não é nova, mas vem carregada de
uma nova dimensão na LRF. O objetivo é fazer com que a administração se desenvolva
através de políticas e ações previamente formuladas para atender às necessidades coletivas e
públicas, visando assim, o cumprimento da missão do Estado de executar metas físicas
concretas, conjugadas com aquelas de caráter financeiro.
O processo de planejamento foi aprimorado pela inclusão da participação popular
através de audiências públicas, pela criação de novas informações, relatórios, metas, limites e
condições para a renúncia de receita, para geração de despesas, inclusive pessoal e
seguridade, para assunção de dívidas, para realização de operações de crédito e para a
concessão de garantias.
A preocupação com o planejamento está propalada por toda a lei. Sem um
planejamento econômico e financeiro bem estruturado, nenhum administrador público
conseguirá atender e cumprir com os objetivos da lei.
O processo de planejamento encontra-se enunciado abaixo através de três instrumentos
distintos que se compatibilizam no tempo adequado, integrando estratégia, tática e execução,
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2.6 Transparência
A transparência prevista pela Lei de Responsabilidade Fiscal afina-se com as
modificações estruturais introduzidas pela Emenda Constitucional no 19/98, que versou sobre
a reforma administrativa, pela qual se criou o direito do usuário, visando, por exemplo, a
prevenção dos riscos orçamentários (STAHNKE, 2000).
Diz a Lei de Responsabilidade Fiscal em seu art. 48 que:
"Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo
parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de
Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.
Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante
incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e
orçamentos."
A transparência na gestão fiscal, no sentido que lhe vem sendo dado pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, aponta como sendo uma variante mais moderna do princípio da
publicidade ou, como preferem alguns, um conceito que busca dar maior efetividade e maior
elasticidade à publicidade, garantia constitucional (CONTI, 2001).
É a transparência princípio essencial à eficácia dos atos oriundos da administração
pública, sendo necessário, para que possa haver o controle por parte da sociedade, tornar tais
atos de conhecimento de todos.
A noção de transparência deve ser pautada na clareza, na confiança, na abrangência,
na relevância, na tempestividade, na compreensibilidade, na abertura e na simplicidade, além
da ética pública. Tal transparência encontra sua nascente já na Constituição Federal, ainda que
de maneira implícita (TORRES, 2000), sendo também considerada como princípio que busca
concretizar o princípio constitucional da cidadania (FIGUEIREDO, 1999).
A cidadania aqui explicitada não se restringe apenas à fiscalização e à compreensão da
gestão do dinheiro público. Ela se estende além desse âmbito, alcançando novas dimensões,
aprimorando o conceito de democracia. Estamos falando da cidadania em forma de
participação da sociedade nas decisões do processo administrativo.
art. 41, §1º, III- O servidor público estável só perderá o cargo: III mediante
procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa;
A eficiência apresenta como princípio dois aspectos: o primeiro diz respeito ao modo
de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas
atribuições, para lograr os melhores resultados; o segundo ao modo de organizar, estruturar,
disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores
resultados na prestação do serviço público.
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3 CONCLUSÕES
O Brasil avançou muito nos últimos anos quando observado sob o aspecto da
transparência orçamentária. A adoção de leis orçamentárias que utilizam ferramentas
modernas de controle, em especial a Lei de Responsabilidade Fiscal, permite de forma rápida
e precisa a coleta dos dados necessários para uma análise completa e precisa da utilização dos
recursos públicos no país.
Neste período o Poder Legislativo ganhou espaço, a legislação garante a produção de
documentos completos e tempestivos, e existem órgãos independentes de auditoria,
características que fortalecem a democracia no país.
Entretanto, falta muito para chegarmos ao estado da arte. A transparência e a clareza
dos dados orçamentários seriam favorecidas se todos os links que apontam para essas
informações se concentrassem numa mesma página eletrônica. Nossos sites, apesar de
conterem todas as informações ainda estão longe da compreensão do brasileiro de nível
médio.
É importante, ainda, uma maior conscientização da população economicamente ativa
da necessidade da participação do processo não apenas como contribuinte ou, eventualmente
fiscal. Os instrumentos legais hoje existentes permitem uma participação ativa da população
na escolha das áreas onde devem ser destinados recursos no orçamento.
Fica registrado o fato de que não falta muito para o Brasil se juntar ao grupo de países
tidos como exemplo de transparência. Neste apagar das luzes, é justo confirmar as palavras de
Nunes & Nunes (2003):
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REFERÊNCIAS
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HORVATH, Regis Fernandes de Oliveira Estevão. Manual de Direito Financeiro. 3 ed. São
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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1996.
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SÁ, Antônio Lopes de & SÁ, Ana Maria Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9 ed. São
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TORRES, Ricardo Lobo Torres. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2000.
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