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Módulo
2 Instrumentos do Processo
Orçamentário Brasileiro
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Conteudista/s
Fernanda Costa Bernardes (Conteudista revisora, 2018).
Enap, 2019
4. Revisão do Módulo...................................................................... 39
5. Referências ................................................................................. 40
Esperamos que o conteúdo abordado proporcione a você um sólido conhecimento sobre esses
instrumentos que são de suma importância para o entendimento do orçamento no Brasil.
Bons estudos!
Para uma melhor compreensão do Orçamento Público, tão importante quanto as questões
conceituais, são os aspectos relacionados à estrutura e ao processo. Assim, é necessário
compreender como o orçamento se estrutura e organiza, bem como os processos, etapas e
atividades necessárias para que ele seja implementado, buscando o alcance de seus objetivos.
Portanto, o objetivo aqui é apresentar o modelo orçamentário brasileiro, que compreende um
sistema orçamentário e um processo orçamentário que se complementam.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos destinados a tratar da matéria orçamentária, criou as
bases para a instituição do atual modelo orçamentário brasileiro, que busca integrar o orçamento
ao planejamento das ações de governo. Assim, o orçamento deve ser visto hoje como parte de
um sistema maior, integrado por planos e programas de onde saem as definições e os elementos
que vão possibilitar a própria elaboração orçamentária.
Com isso, o país começou a trabalhar formalmente com o conceito de ciclo orçamentário
ampliado, que não se restringe à elaboração da peça orçamentária que fixa as receitas e autoriza
Importante
Além dos instrumentos citados, a Constituição também faz menção a planos
e programas nacionais, regionais e setoriais, os quais devem ser elaborados
em consonância com o Plano Plurianual e a leis de créditos adicionais, que
nada mais são que alterações dos orçamentos anuais vigentes, seja por meio
da inclusão de novas despesas ou da suplementação/redução de valores para
despesas já previstas.
Essas três leis (PPA, LDO e LOA) são estritamente ligadas entre si, compatíveis e harmônicas,
formando um sistema integrado de planejamento e orçamento, o qual busca concretizar as
políticas públicas e os programas de governo1.
1_ Políticas públicas são programas de ação governamental com vistas a coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades
privadas, para o alcance de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados (Bucci, 1996).
Você talvez esteja se perguntando: Qual a relação entre o PPA, a LDO e a LOA?
Para responder tal pergunta, devemos recordar que, atualmente, o orçamento não é mais visto
apenas como um instrumento de controle do Poder Legislativo sobre o Executivo, ele desempenha
também função de destaque no planejamento e gestão da ação pública estatal.
É nesse contexto que esses três instrumentos se relacionam, viabilizando a integração entre
orçamento e planejamento no Brasil.
À LDO, por sua vez, cabe o papel de estabelecer a ligação entre esses dois instrumentos,
destacando do PPA as metas e prioridades que deverão compor a LOA, além de definir as regras
e normas que orientam a elaboração da lei orçamentária que irá vigorar no exercício seguinte ao
da edição da LDO.
Assim, apesar de não haver uma hierarquia entre os atos normativos orçamentários do ponto
de vista jurídico, há uma hierarquização ente os instrumentos do ponto de vista da matéria
orçamentária, em função da necessidade de vinculação entre planejamento e execução. Dessa
forma, depreende-se que a concepção do processo de planejamento e orçamento no Brasil
confere ao PPA, à LDO e à LOA uma atuação integrada.
De acordo com o site da Economia, o planejamento pode ser entendido como o exercício de
escolha consciente de ações que aumentem as chances de obter um resultado específico. É
uma atividade dinâmica que se opõe ao improviso total, buscando orientar as decisões a partir
das informações disponíveis. Ainda segundo o referido site, o planejamento governamental
acrescenta ao conceito as características da esfera pública, tornando a atividade ainda mais
complexa. Para realizá-la, é preciso conhecimento aprofundado sobre as razões do estágio de
desenvolvimento nacional, as formas de operação do Estado e as circunstâncias e possibilidades
políticas de atuação.
Ao realizar a leitura do PPA, em qualquer esfera federativa, é possível identificar os objetivos que
o governo pretende alcançar em diversas áreas, como a área de saúde: construção de postos de
saúde, ampliação de leitos, redução da ocorrência de determinadas doenças, etc.
Segundo os autores, o referido instrumento explicita o modo como o governo enxerga e procura
construir o desenvolvimento do Estado. Nesse sentido, traduz, de um lado, o compromisso com
estratégias e a visão de futuro, e, de outro, a previsão de alocação dos recursos orçamentários
nas funções de Estado, nos programas de governo e junto aos órgãos públicos. O Plano Plurianual
é uma lei de iniciativa do Poder Executivo, sendo um instrumento previsto no artigo 165 da
Constituição Federal, conforme descrito a seguir:
Para uma melhor compreensão acerca do PPA, cabem alguns comentários sobre pontos
específicos do dispositivo em questão:
• Regionalização
Orienta a atuação do governo para a consideração das diversidades regionais e
redução das desigualdades existentes e promove maior transparência à sociedade.
A regionalização está em harmonia com o objetivo fundamental da República
Federativa do Brasil, previsto no inciso III do art. 3º da Carta Magna, qual seja,
“erradicar a pobreza e marginalidade e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
• Objetivos
Descreve e discrimina os resultados pretendidos pela ação governamental, a partir
de situações a serem alteradas, sendo o objetivo a resolução ou a minimização dos
seus efeitos de um problema.
• Metas
Mensura quantitativa e/ou qualitativamente os objetivos, demonstrando as
mudanças alcançadas na resolução ou minimizações dos efeitos dos problemas.
• Despesas de capital
De forma geral, representam os investimentos do governo nos diversos setores da
economia, implicando a ampliação da atuação do Estado e acréscimos ao patrimônio
público, isto é, são despesas que contribuem diretamente para aquisição de um
bem de capital.
Exemplo
A construção de um hospital, para a criação de 500 novos leitos para a população
de determinada localidade, implica em despesas com a realização de obras e com a
compra de equipamentos médicos.
Exemplo
Após construído um novo hospital, ele precisará de funcionários e de manutenção,
que serão despesas correntes “decorrentes da despesa de capital” que foi a
construção do hospital. Despesas correntes são aquelas que não contribuem
diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital.
1. Dimensão Estratégica
Importante
A Visão de Futuro é como a declaração de um desejo coletivo factível, que
oriente, no geral, o planejamento do destino da Nação e da ação governamental
em particular.
2. Dimensão Tática
3. Dimensão Operacional
Importante
As informações contidas no PPA podem, de forma alternativa, serem organizadas
de acordo com as Agendas Transversais e Temáticas, permitindo uma visão
sistematizada das ações do governo para públicos ou temas específicos, ou
com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), refletindo a relação
das políticas públicas federais consolidadas no PPA com a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável.
• Objetivos
Os Objetivos expressam as escolhas de políticas públicas para a transformação de
determinada realidade, orientando taticamente a atuação do governo para o que
deve ser feito frente aos desafios, demandas e oportunidades impostos para o
desenvolvimento do país e para a melhoria da qualidade de vida da população.
• Metas
As Metas expressam a medida de alcance do Objetivo, podendo ser de natureza
qualitativa ou quantitativa. São o elemento do Programa que permite verificar a
evolução do Objetivo durante os quatro anos de implementação do PPA, motivo
pelo qual deve representar o que há de mais estruturante.
• Iniciativas
As Iniciativas declaram os meios que viabilizam os Objetivos e suas metas, explicitando
o "como fazer" ou as entregas de bens e serviços resultantes da atuação do Estado.
• Financiamentos Extraorçamentários
As fontes de financiamento dos Objetivos não se restringem ao Orçamento da
União, por meio das ações orçamentárias, podendo também serem financiados
parcialmente ou exclusivamente por uma ou mais fontes extraorçamentárias, as
quais são definidas no PPA 2016-2019 como:
1. recursos financeiros não constantes do Orçamento Geral da União;
2. necessários para a atuação governamental na prestação de serviços e entrega
de bens públicos; e
3. originados de bancos públicos, agências oficiais de fomento, fundos
constitucionais, plano de dispêndio das estatais, cooperações financeiras
internacionais e recursos privados.
Vale ainda destacar que, no PPA, os programas são compostos por diversos atributos:
2_De acordo com Rua (2004), os indicadores são medidas que expressam ou quantificam um insumo, um resultado, uma
característica ou o desempenho de um processo, serviço, produto ou organização. Na Gestão Pública, os indicadores são
instrumentos que contribuem para identificar e medir aspectos relacionados a um determinado fenômeno decorrente da ação
ou da omissão do Estado. A principal finalidade de um indicador é traduzir, de forma mensurável, um aspecto da realidade dada
(situação social) ou construída (ação), de maneira a tornar operacional a sua observação e avaliação.
• Título
Expressa o tema tratado.
• Contextualização
Descreve sucintamente a política e expõe o porquê de os objetivos terem sido
escolhidos, como eles se relacionam entre si e como se pretende alterar a realidade
a partir da atuação do governo federal em torno deles.
• Indicadores
Conjunto de parâmetros que permite acompanhar a evolução de um programa.
• Valor Global
Indica uma estimativa dos recursos disponíveis durante o período do PPA para a
consecução dos Objetivos relacionados ao Programa.
• Objetivo
Expressa as escolhas de políticas públicas para a transformação de determinada
realidade, orientando taticamente a atuação do governo para o que deve ser feito
frente aos desafios, demandas e oportunidades impostas para o desenvolvimento
do país e para a melhoria da qualidade de vida da população. É composto por um
código compartilhado com o Orçamento Anual, enunciado, órgão responsável,
caracterização, meta, iniciativa e empreendimento individualizado como iniciativa.
Por fim, conforme enfatizam Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008), o PPA estruturado em
programas e orientado a resultados constitui poderoso instrumento de gestão que pode ser
utilizado na otimização da aplicação dos recursos públicos disponíveis.
Você costuma gastar mais do que o seu salário permite? No seu orçamento familiar, priorizar
as despesas é importante? Você estabelece metas de poupança para o pagamento de dívidas
pendentes? Você já buscou saber quais são as despesas prioritárias do seu município, estado ou
país? O que a LDO tem a ver com tudo isso?
Essas perguntas nos levam a considerar a importância da LDO, pois, guardadas as devidas
proporções, um governo deve, de forma semelhante ao orçamento familiar, priorizar os seus
gastos com vistas a atender as principais necessidades da população e cumprir com o pagamento
de suas dívidas, uma vez que os recursos disponíveis são escassos e que a garantia do equilíbrio
fiscal é fundamental.
Importante
A Lei de Diretrizes Orçamentárias é um instrumento legal que estabelece os
critérios para a elaboração e execução dos orçamentos públicos. Essa lei é
elaborada anualmente e deve ser compatível com o PPA. De forma sintética,
podemos afirmar que a LDO é o elo entre o PPA e a LOA.
Segundo a Constituição Federal, em seu artigo 165, parágrafo 2º, a Lei de Diretrizes Orçamentárias
compreenderá as metas e prioridades da Administração Pública Federal, incluindo as despesas
de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da Lei Orçamentária
Anual, disporá sobre alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das
agências financeiras oficiais de fomento.
A partir do prescrito no dispositivo constitucional, observamos que a LDO tem como principais
funções o estabelecimento de metas e prioridades da Administração Pública para o exercício
financeiro subsequente ao de sua elaboração. Assim, ela define tanto as ações que terão
precedência ou preferência na alocação de recursos no orçamento anual, em razão de não
haver recursos suficientes para fazer frente às demandas, garantindo a realização das diretrizes,
objetivos e metas estabelecidos no PPA, quanto os resultados a serem atingidos no período de
sua competência.
Nesse sentido, Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008) comentam o papel intermediário da LDO
entre Plano (PPA) e Orçamento (LOA), exercido por meio da adequação entre a estratégia traçada
no início de um governo e as reais possibilidades que vão se apresentando ao longo dos anos de
implementação do PPA.
A Constituição ainda incumbe à LDO disciplinar outros importantes assuntos que auxiliam na
preparação do projeto de lei orçamentária, como os limites para elaboração das propostas
orçamentárias dos Poderes Legislativo e Judiciário, Ministério Público da União e Defensoria
Pública da União, que possuem autonomia administrativa, orçamentária e financeira, autorização
para concessão de vantagem ou aumento de remuneração, bem como criação de cargos,
empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras e admissão ou contratação de pessoal
pelos órgãos da administração direta e indireta.
Nesse sentido, Giacomoni (2010) ressalta que uma lei de diretrizes, aprovada previamente,
composta de definições sobre prioridades e metas, investimentos, metas fiscais, mudanças
na legislação sobre tributos e políticas de fomento a cargo de bancos oficiais, possibilita a
compreensão partilhada entre os Poderes Executivo e Legislativo, sobre os vários aspectos da
economia e da administração do setor público. Ele afirma, ainda, que tal fato facilita sobremaneira
a elaboração da proposta orçamentária anual e sua discussão e aprovação no âmbito legislativo.
• Metas fiscais.
• Riscos fiscais.
Além disso, a LRF previu a inclusão dos Anexos de Metas Fiscais e de Riscos Fiscais ao projeto de Lei
de Diretrizes Orçamentárias, além de um anexo específico à mensagem de encaminhamento do
projeto, com os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, bem como os parâmetros
e as projeções para seus principais agregados e variáveis, além das metas de inflação para o
exercício subsequente.
O artigo 165 da Constituição Federal determina que a LDO deve conter as Prioridades e Metas,
na qual são definidas as despesas que terão precedência na alocação dos recursos quando da
elaboração e execução do orçamento do exercício subsequente.
No âmbito da União, as despesas definidas como prioridades e metas podem ser organizadas
na forma de anexo, o que pode ser observado nas leis de diretrizes orçamentárias aprovadas ao
longo dos últimos anos. Entretanto, a publicação de um anexo específico para tais despesas não
é obrigatória, ou seja, tais despesas podem estar destacadas no corpo da própria lei.
Apesar de algumas despesas serem definidas como prioridades, elas não estão totalmente
imunes a eventuais limitações em seu gasto, caso sejam necessárias, por exemplo, a adoção de
medidas para garantir o cumprimento da meta de superávit primário. Sobre esse aspecto, cabe
informar que gozam de maior privilégio as despesas que constituem obrigação constitucional ou
legal.
Sobre o assunto, Albuquerque, Medeiros e Feijó (2008) informam que o Poder Executivo,
vislumbrando a necessidade do atendimento de outras despesas discricionárias3 em detrimento
das prioridades e metas, e somente em razão da impossibilidade de ordem técnica ou legal
de execução das programações destacadas como tal, deverá justificar seu entendimento na
mensagem que encaminhar o projeto de lei orçamentária ao Poder Legislativo, que apreciará a
pertinência da inversão de prioridade.
Define metas anuais, para o exercício a que se refere e para os dois subsequentes, relativas às
receitas, despesas, resultados nominal e primário (superávit ou déficit); estabelece o montante
da dívida pública; demonstra o cumprimento das metas relativas ao ano anterior, a evolução
do patrimônio líquido nos últimos três exercícios e a estimativa e compensação de renúncia de
receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado; e apresenta a
avaliação da situação financeira e atuarial dos regimes da previdência social, fundos e programas
de natureza atuarial4.
3_ Aquelas despesas em que o Governo tem, efetivamente, uma maior margem de manobra para a decisão alocativa, conforme
as suas prioridades, como, por exemplo, a construção de um novo centro de pesquisas científicas
4_ Área relacionada à variação de riscos, cálculos no setor de seguros, Pecúlios, Planos de Aposentadoria e Pensões.
• Resultado Nominal
Deve-se acrescentar, ao resultado primário, os valores pagos e recebidos de juros
nominais junto ao sistema financeiro, o setor privado não-financeiro e o resto do
mundo. Deste modo, esse resultado indica, efetivamente, o montante de recursos
que o setor público necessitou captar junto ao sistema financeiro, o setor privado e
o resto do mundo para a realização de suas despesas orçamentárias.
• Superávit Primário
De acordo com Andréa Wolffenbüttel, no site do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA, para entender o significado dessa expressão, é útil, antes de mais
nada, lembrar que superávit quer dizer resultado positivo. Surge quando, ao final de
um período, se verifica que os gastos, ou seja, as despesas foram menores do que a
receita. Caso contrário, registra-se déficit. Isso pode ocorrer no orçamento familiar,
em empresas e no governo. O superávit primário se refere às contas do governo.
Toda vez que ele acontece significa que a arrecadação do governo foi superior a
seus gastos. Mas há um detalhe: no cálculo não são levados em consideração os
juros e a correção monetária da dívida pública, deixados de lado porque não fazem
parte da natureza operacional do governo - são consequências financeiras de ações
anteriores.
Contém a avaliação dos passivos contingentes5 e outros riscos capazes de afetar as contas públicas,
bem como as providências a serem tomadas no caso de sua ocorrência. Exemplo: possibilidade
de um determinado governo sofrer decisão desfavorável em processo judicial que o obrigue a
indenizar servidor público que tenha sofrido acidente de trabalho. No caso específico da União,
a LRF ainda obriga a publicação de anexo que contenha os objetivos das políticas monetária,
creditícia e cambial; metas de inflação; além dos parâmetros e as projeções para seus principais
agregados e variáveis (PIB, taxas de juros, câmbio e inflação).
Para complementar seu estudo, sugerimos que você veja a última LDO, bem como seus anexos,
disponível no site do Ministério da Economia: Acesse: http://www.planejamento.gov.br/
assuntos/orcamento-1/orcamentos-anuais
5_ São despesas potenciais ou eventuais para as quais não há grau de certeza quanto a sua efetiva concretização.
É por meio da Lei Orçamentária Anual que o orçamento é materializado, sendo o instrumento
por meio do qual o governo estima as receitas que espera arrecadar ao longo do ano seguinte
e fixa as despesas (os gastos) a serem realizados com tais recursos. Essa lei deve ser elaborada
em consonância com: os objetivos do PPA, as diretrizes da LDO, os princípios orçamentários e os
dispositivos constitucionais e legais que regem o sistema orçamentário brasileiro.
Conforme dispõe o parágrafo 5º do artigo 165 da Constituição Federal, a Lei Orçamentária Anual
compreenderá:
"I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades
da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público e as empresas estatais dependentes;"
Para uma melhor compreensão das três esferas do orçamento, faz-se necessário esclarecer
alguns termos mencionados no nesse mesmo parágrafo da Constituição Federal:
• Fundo
Conjunto de recursos com a finalidade de desenvolver ou consolidar, através de
financiamento ou negociação, uma atividade pública específica. A criação de fundos
depende de autorização legal. Exemplo: Fundo Nacional de Saúde.
• Administração Direta
Estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. Exemplo:
Ministério da Saúde.
6_ Também denominadas de créditos orçamentários, são valores autorizados na lei de orçamento ou em crédito adicional para
atender a determinada despesa.
• Seguridade Social
A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social (artigo 194 da Constituição Federal).
Uma leitura rápida do dispositivo constitucional pode nos levar à falsa compreensão de que
há três orçamentos, em oposição ao princípio da unidade. Tal entendimento não está correto,
pois o princípio se refere à existência de uma única LOA para cada ente federativo, sendo os
orçamentos fiscal, de investimentos e da seguridade social apenas uma divisão que permite uma
organização do orçamento dentro da mesma lei.
Estrutura da LOA
"I - sumário geral da receita por fontes e da despesa por funções do governo;"
• Anexos, que consolidam informações relevantes, como as receitas dos orçamentos fiscal
e da seguridade social por categoria econômica e fonte, despesas dos orçamentos fiscal
e da seguridade social por órgão, e fontes de financiamento do orçamento de
investimento.
Como podemos notar, a instituição desses três instrumentos viabilizou a integração entre o
orçamento ao planejamento, fazendo com que o processo orçamentário seja entendido de forma
mais ampla, abrangendo um período maior que o exercício financeiro e não se restringindo à
LOA.
Pergunta
Você acredita que conhecer o processo orçamentário é um dos passos
importantes para uma melhor participação7 social? Por quê?
Resposta
Certamente que sim. Compreender as etapas que compõem o processo
orçamentário, bem como os seus respectivos prazos e responsáveis, permite
uma atuação mais efetiva da população quanto à gestão dos recursos públicos.
Por exemplo: os cidadãos, cientes dessas informações, podem atuar junto aos
seus representantes no Poder Legislativo quando a proposta orçamentária
estiver sendo apreciada, com vistas a influenciar nas decisões da alocação
orçamentária para o atendimento de seus interesses e melhoria da qualidade
de vida.
Primeiramente, cabe esclarecer o que vem a ser um processo. De acordo com Davenport (1994),
um processo é uma sequência específica de atividades orientadas à ação através do tempo e
espaço, com começo e fim e entradas e saídas claramente definidas.
7_ Segundo dicionário de direitos humanos, a participação popular é a soberania do povo em ação, sua expressão concreta; é o
efetivo exercício do poder político pelo seu titular. Como tal, é inerente e indispensável à democracia contemporânea.
Cope (1963 apud Sanches, 2007) define o ciclo orçamentário como uma série de passos, que se
repetem em períodos prefixados, segundo os quais os orçamentos sucessivos são preparados,
votados, executados, os resultados avaliados e as contas aprovadas.
• Planejamento plurianual
Caracteriza-se pela formulação da proposta do plano plurianual, compreendendo
os procedimentos metodológicos definidos para o exercício do planejamento, tais
como o diagnóstico da realidade presente, o delineamento de cenários de futuro
desejado, a articulação de estratégias para sua realização e das respectivas políticas
de apoio, a definição de prioridades e a formulação de programas de intervenção
sobre a realidade e de acompanhamento da execução e avaliação de resultados.
Isso significa que, apesar de o período de vigência do PPA estar atrelado ao tempo de mandato
presidencial, eles não são coincidentes, como pode ser observar abaixo:
Você deve ter percebido que o planejamento elaborado terá vigência até o final do primeiro ano
do mandato do governo seguinte. E há um motivo para isso: essa passagem de um governo a
outro serve tanto para possibilitar que o Presidente tenha o seu primeiro ano livre para elaborar
o seu planejamento, inclusive o PPA, quanto para promover a continuidade da atuação do
Estado, reduzindo o risco de interrupção de programas importantes para a população em razão
de conveniências políticas.
A elaboração do PPA se inicia com uma proposta para discussão envolvendo governo e sociedade,
sobre a Dimensão Estratégica, que o PPA 2016-2019 é composto pelos Eixos e pelas Diretrizes
Estratégicas. É essa dimensão que dá o alinhamento estratégico necessário para a elaboração
dos Programas do PPA, que devem identificar o que será feito, considerando os compromissos
assumidos pelo governo, que indicam as principais agendas para os próximos quatro anos.
O diálogo com a sociedade é viabilizado por meio do Fórum Interconselhos, que conta com
a participação de mais diversos conselhos e comissões setoriais, no qual são levantados os
desafios para o período do PPA e propostas respectivas soluções, bem como contribuições para
a Dimensão Estratégica do PPA. Além disso, por meio da plataforma Participa.br, é viabilizada a
participação virtual de toda a sociedade que contribui para a formulação e implementação de
políticas públicas, as quais são refletidas nos Programas do PPA.
Inicia-se, então, o processo de elaboração dos programas temáticos que integraram o PPA,
sistematizado no esquema a seguir, cujo resultado será posteriormente apresentado à sociedade,
bem como o encaminhamento das propostas aportadas nas etapas iniciais de contribuição.
• Primeira etapa
O processo se inicia em uma oficina na qual o Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão (MP) apresentará a metodologia de elaboração dos
Programas e uma aplicação que será relativa ao Tema do Programa objeto da
oficina. Portanto, as oficinas se organizam por Programas Temáticos propostos pelo
MP. Delas participarão todos os ministérios responsáveis por um Objetivo.
• Segunda etapa
A proposta de Programa Temático será elaborada pelos ministérios no período
entre a 1ª e a 2ª oficina, com assessoramento do MP. A proposta elaborada pelos
ministérios deverá ser encaminhada ao MP com antecedência à 2ª oficina.
• Terceira etapa
Etapa - Na 2ª oficina, os ministérios responsáveis apresentarão as suas propostas,
as quais serão discutidas com o MP e adequadas à metodologia do PPA 2016-2019,
quando necessário. Para tanto, os Programas, os Objetivos, as iniciativas e as Ações
Orçamentárias deverão estar concluídos ao final da 2ª oficina, com a finalidade de
iniciar a fase quantitativa.
• Quarta etapa
Os ministérios responsáveis realizarão a inserção das propostas acordadas dos
Programas Temáticos no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP).
• Quinta etapa
Os Programas Temáticos e seus atributos serão consolidados pelo MP com as
demais partes integrantes do PPA 2016-2019, inclusive os Programas de Gestão,
Manutenção e Serviços ao Estado.
Por fim, a proposta do PPA é validada e encaminhada ao Congresso Nacional, por meio de
mensagem presidencial, até quatro meses antes do final do primeiro exercício financeiro do
mandato presidencial (31 de agosto), dando início à segunda fase do ciclo de planejamento e
orçamento.
Nessa etapa também é designado o relator do PPA, de acordo com a indicação das
lideranças e designação da respectiva assessoria, bem como a disponibilização dos
dados do PPA em meio que permita a manipulação de seus dados.
• Proposição de emendas
Nessa etapa, há revisão, adequação e distribuição dos formulários e instruções para
a elaboração de emendas e a formalização, análise e registro em banco de dados das
emendas propostas.
Entretanto, tendo em vista sua função de orientar a elaboração da proposta de LOA do próximo
exercício, a LDO, apesar de ter periodicidade da sua produção e aprovação anual, tem validade
superior ao período a que se refere, tendo seus efeitos já no segundo semestre do exercício
Em geral, o texto da LDO sofre poucas alterações em relação ao texto do exercício anterior.
Por esse motivo, a partir do texto da LDO vigente, os vários órgãos orçamentários e técnicos
que compõem o Sistema de Planejamento e Orçamento Federal propõem alterações ao
texto do PLDO, por meio do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento, que as analisa
e se posiciona sobre seu acatamento. Ao mesmo tempo, os Anexos da proposta da LDO são
elaborados e formalizados pela Secretaria de Orçamento Federal, em parceria com a Secretaria
de Planejamento e Assuntos Econômicos e a Secretaria do Tesouro Nacional.
Por fim, a mensagem presidencial que encaminha o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias –
PLDO é elaborada e, até o dia 15 de abril, enviada ao Poder Legislativo.
Cabe destacar que o autógrafo da LDO deve ser devolvido para sanção presidencial até 17
de julho, data de encerramento do primeiro período da sessão legislativa, quando o PLDO se
transforma em lei (LDO).
8_ São indicadores econômicos, expressos em valor numérico, utilizados para orientar os estudos e decisões de cunho
orçamentário, tais como as relacionadas à realização de estimativas de receitas orçamentárias. Exemplo: taxa de inflação,
Produto Interno Bruto (PIB) e taxa de câmbio.
9_ O valor das dotações orçamentárias que cada órgão dispõe para viabilizar a sua atuação e alcançar os seus respectivos
objetivos no período de um ano.
No caso da União, observa-se, ao longo dos últimos anos, que o volume de despesas
obrigatórias tem crescido de forma considerável em função do aumento das
vinculações criadas por lei, comprometendo parte significativa das receitas.
10_ Apura o montante de recursos que o Governo Central não-financeiro necessita captar junto ao setor financeiro interno
e/ou externo para fazer face aos seus dispêndios, além de suas receitas fiscais. Para isso, leva em consideração o resultado
primário definido pela LDO, as projeções de parâmetros macroeconômicos (PIB, inflação, taxa de juros, salário mínimo, etc.), as
estimativas das receitas orçamentárias e das despesas obrigatórias e o cálculo das despesas discricionárias.
11_ É aquela que, além de constar da lei orçamentária, está prevista em diploma legal específico e, portanto, representa
obrigação legal do Estado. Exemplos: pagamento de remunerações aos servidores públicos; de sentenças judiciais; e de benefícios
previdenciários.
Em relação aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, bem como do Ministério
Público da União e da Defensoria Pública da União, foi prevista a possibilidade de,
nos primeiros três exercícios financeiros de vigência do NRF (2017 a 2019), ter o
excesso de suas despesas primárias compensado pelo Poder Executivo mediante
equivalente redução em suas despesas, até 0,25% de seu limite.
Assim, após a divulgação dos referenciais no SIOP, cada órgão setorial, refletindo as
prioridades das políticas públicas de seus setores, distribui os limites para as suas
respectivas unidades orçamentárias, as quais definirão a alocação das dotações
disponíveis em seus programas de trabalho e as lançarão no sistema.
Finalizada a inclusão dos dados no sistema, cada unidade orçamentária encaminha
a sua programação para o órgão setorial ao qual estiver vinculada, onde são feitas
as análises e conferências. Podemos, dentre os critérios adotados pelos órgãos
setoriais para conferência, citar:
12_ Para a União, é a soma das receitas correntes, deduzidos os valores transferidos aos estados e municípios por determinação
constitucional ou legal, as contribuições previdenciárias e para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Assistência
à Seguridade do Servidor Público (Pasep) (Fonte: Senado Federal, 2016).
Importante
O orçamento, em regra, apenas autoriza a realização das despesas nele
previstas, cabendo ao gestor avaliar a oportunidade e conveniência de sua
execução. Entretanto, as despesas incluídas no orçamento, por meio de
emendas individuais impositivas, são exceção a essa regra, tendo em vista que
são consideradas de execução obrigatória.
A execução da despesa pode ocorrer por meio de aplicação direta (a própria unidade realiza o
gasto), de transferências (quando outra unidade realizará os gastos) e de movimentação por
órgãos centrais de administração geral, através de destaques, provisões ou da centralização de
parte das dotações.
Durante o exercício financeiro e ao seu término, são realizadas duas fases de acompanhamento
orçamentário pela Secretaria de Orçamento Federal, por meio das quais são analisadas a
eficiência e eficácia das despesas previstas para aquele ano.
Entretanto, a principal etapa dessa fase é a apreciação das contas prestadas anualmente pelo
Presidente da República, que envolve a elaboração de parecer prévio pelo TCU, sua apreciação
pela Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização e a decisão pelo plenário do
Congresso Nacional.
Além do orçamento anual, os programas e objetivos do PPA também são monitorados e avaliados.
O monitoramento do PPA é uma atividade estruturada a partir da implementação de cada
programa e orientada para produzir informações e conhecimentos que aperfeiçoem a execução
das políticas públicas, de forma a ampliar a quantidade e a qualidade dos bens e serviços prestados
ao cidadão. Já a avaliação caracteriza-se como a análise das políticas públicas e dos programas
com seus respectivos atributos, fornecendo subsídios para eventuais ajustes em sua formulação
e implementação. A avaliação utiliza informações geradas na atividade de monitoramento.
Como consequência, ocorre a revisão do PPA, com a atualização de seus programas com vistas
a proporcionar sua aderência à especificidade e à gestão das políticas públicas, à efetivação de
direitos, e subsidiar o processo de elaboração das diretrizes governamentais e das prioridades
orçamentárias anuais.
O Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual
(LOA) são os instrumentos que concretizam o processo orçamentário. Cada uma dessas leis tem
ritos próprios de elaboração.
O Plano Plurianual (PPA) é elaborado a cada quatro anos pelos chefes do poder executivo e é
por meio dele que são estabelecidos os objetivos e metas do governo. O Plano Plurianual tem
como premissa a continuidade da execução de políticas públicas importantes, ou seja, o novo
governo executa o último ano do PPA do governo anterior, garantindo a continuidade da ação
governamental.
Por determinação da Constituição Federal de 1988, o Poder Executivo deve definir, a cada ano,
suas metas e prioridades para o exercício financeiro subsequente, por meio da Lei de Diretrizes
Orçamentária (LDO).
A Lei Orçamentária Anual (LOA) é um instrumento legal que estima as receitas e fixa as despesas
para o período de um ano (devendo ser compatível com as diretrizes estabelecidas na LDO e
com os objetivos e metas definidas no PPA) e que possui diversas etapas para a sua elaboração.
Quanto à relação entre esses três instrumentos, é importante você relembrar que o PPA
estabelece o planejamento de médio prazo, por meio dos programas do governo, enquanto a
LOA fixa o planejamento de curto prazo. A LDO, por sua vez, cabe o papel de estabelecer a ligação
entre esses dois instrumentos.
BRASIL. Lei no 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para
a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal.
BRASIL. Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.
BRASIL. Lei nº 13.587, de 2 de janeiro de 2018. Estima a receita e fixa a despesa da União para
o exercício financeiro de 2018.
BRASIL. Lei nº 13.473, de 8 de agosto de 2017. Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e
execução da Lei Orçamentária de 2018 e dá outras providências