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e Financeira
Aula 1
Planejamento e Orçamento
Público
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a fonte e sem fins comerciais.
CONTEUDISTA
Antonio José Saraiva de Oliveira Junior
TRATAMENTO PEDAGÓGICO
Flavio Sposto Pompeo
Silvia Helena de Campos Martins
1. Integração Planejamento-Orçamento.................................................................................... 4
2. Orçamento Público.......................................................................................................................... 11
Síntese......................................................................................................................................................... 23
Referências Bibliográficas............................................................................................................. 24
1. Integração Planejamento-Orçamento
Tribunal de Contas da União
A Constituição Federal de 1988 estipulou que cada ente da Federação deve editar, pe-
riodicamente, três instrumentos básicos de planejamento e orçamento: Planos Plurianuais,
Diretrizes Orçamentárias e Orçamentos Anuais, todos formalizados mediante leis de inicia-
tiva exclusiva do Poder Executivo.
Cabe à Lei do Plano Plurianual - PPA estabelecer, de forma regionalizada, diretrizes, obje-
tivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e
para as relativas aos programas de duração continuada (CF, art. 165, § 1º).
Considerado um plano de médio prazo, o PPA é projetado para ter aplicação por
um período de quatro anos, contados desde o início do segundo ano de cada man-
dato do Chefe do Poder Executivo (Presidente, Governador ou Prefeito). Tem vigên-
cia, portanto, até o final do primeiro exercício financeiro do mandato subsequente, como
ilustra a figura a seguir.
Mandato 1 Mandato 2
PPA
Embora o PPA seja o plano de maior projeção no processo orçamentário, há ainda outros
planos de estatura constitucional que merecem ser destacados. Conforme estatui o art. 165, §
4º, da Constituição, os planos e programas nacionais, regionais e setoriais nela previstos
devem ser elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso
Nacional, ou seja, aprovados em lei, conclusão esta corroborada pelo disposto no art. 48, IV,
da Lei Magna.
Os planos nacionais, regionais e setoriais podem ter qualquer duração, conforme as es-
pecificidades de seu tema. Como exemplo, a Lei nº 13.005/2014 aprovou o Plano Nacional
de Educação - PNE para 2014-2024. A duração decenal foi estipulada por meio da Emenda
Constitucional nº 59/2009. Dessa forma, um novo plano para viger de 2025 a 2035 deve ser
estabelecido, também por lei.
Conforme estudamos, o PPA, nos moldes atuais, pode ser considerado como um plano
de médio prazo. Esse plano foi projetado para ter vigência por um período de quatro anos,
contados desde o início do segundo ano de mandato do Presidente, Governador ou Prefeito
até o final do primeiro exercício financeiro subsequente ao final do mandato do chefe do Poder
Executivo. Isso está estipulado no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, que
integra a Constituição.
• inclusão social para além da renda, com melhor distribuição das oportunidades de
acesso a bens e serviços públicos com foco na qualidade; e
Os Eixos Estratégicos são traduzidos pelo conjunto das Diretrizes Estratégicas que norteiam
as principais agendas para os próximos quatro anos. São as Diretrizes que ditam o alinhamento
estratégico necessário à elaboração dos Programas Temáticos para a construção da dimensão
tática do Plano.
Da mesma forma que o PPA, a LDO também representa uma inovação da Constituição de
1988. Com a redemocratização do país, esse instrumento foi concebido para conferir ao Poder
Legislativo acentuada participação no processo orçamentário desde a elaboração da proposta de
orçamento anual, e não apenas a partir do momento em que o correspondente projeto de lei é
encaminhado para a apreciação.
Com esse objetivo, a LDO foi logicamente encadeada como lei interposta entre o PPA e a
LOA exercendo um papel tático (intermediário entre o estratégico e o operacional) no que tange
à integração das leis orçamentárias.
Em adição, o art. 169, § 1º, II, da Lei Magna, estabelece que os atos que impliquem acrés-
cimo das despesas com pessoal, tais como o aumento de remuneração ou a criação de cargos,
empregos e funções, dependem de autorização específica em lei de diretrizes orçamentárias,
ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
Por fim, os arts. 99, 127 e 134, da Constituição, ainda conferem à LDO a elevada atribui-
ção de disciplinar a autonomia financeira dos Poderes e órgãos autônomos. De acordo com a
LDO da União para 2017 (Lei nº 13.408/2016):
Art. 26. Os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público da União e da
Defensoria Pública da União encaminharão à Secretaria de Orçamento Federal do Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, por meio do Sistema Integrado de Planejamento
e Orçamento - SIOP, até 15 de agosto de 2016, suas respectivas propostas orçamentárias,
para fins de consolidação do Projeto de Lei Orçamentária de 2017, observadas as disposições
desta Lei.
Em síntese, a LRF agregou novas atribuições à Lei de Diretrizes Orçamentárias para que
coubesse a esta lei dispor sobre (Lei Complementar 101/2000, art. 4º, inc. I):
Considerando essa ênfase dedicada ao equilíbrio das contas públicas, a LRF determinou,
ainda, que as LDOs de todos os entes da Federação devem conter um anexo de metas fiscais
e outro de riscos fiscais.
No anexo de metas fiscais devem ser estabelecidas as metas anuais relativas a receitas,
despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para um horizonte de
três anos.
O anexo de riscos fiscais deve conter a avaliação dos passivos contingentes e outros riscos
capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas na hipótese
de se concretizarem (Lei Complementar 101/2000, art. 4º, §§ 1º e 3º).
Art. 35 [...] § 2º Até a entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º,
I e II, serão obedecidas as seguintes normas:
I - o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro
do mandato presidencial subsequente, será encaminhado até quatro meses antes do encer-
II - o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes
do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do
primeiro período da sessão legislativa;
III - o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do
encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão
legislativa.
Essa disciplina, aplicável à União, não é de reprodução obrigatória para os entes subnacio-
nais. A Lei Orgânica do DF, por ilustração, dispõe que:
Art. 150. [...] § 1º Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias,
ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão encaminhados à Câmara Legislativa, que
os apreciará na forma de seu regimento interno..
§1º O projeto de lei do plano plurianual será encaminhado pelo Governador à Câmara
Legislativa até 15 de setembro do primeiro ano de mandato e devolvido para sanção até o
encerramento da primeira sessão legislativa.
§2º O projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até sete meses e meio
antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido pelo Legislativo para sanção até o
encerramento do primeiro período da sessão legislativa.
§3º O projeto de lei orçamentária para o exercício seguinte será encaminhado até três meses
e meio antes do encerramento do exercício financeiro em curso e devolvido pelo Legislativo
para sanção até o encerramento do segundo período da sessão legislativa.
2. Orçamento Público
Como vimos no tópico anterior, a Lei Orçamentária Anual – LOA foi concebida para esti-
mar receitas e fixar despesas, autorizando a realização de gastos públicos.
Iniciando a análise pelo lado da receita, é útil resgatarmos que a Constituição de 1988 não
requer prévia autorização orçamentária para que receitas tributárias sejam arrecadadas. Assim
sendo, ou seja, não vigorando no ordenamento jurídico nacional o chamado “princípio da anu-
alidade tributária”, entende-se que é desnecessária a prévia autorização orçamentária para que
ocorra a arrecadação de receitas tributárias.
Já do lado da despesa os contornos são bem distintos, pois a autorização na LOA é con-
dição necessária para a realização de despesa pública. Vale sublinhar que a própria Constituição
Federal, nos incisos I e II do artigo 167, veda o início de programas ou projetos não incluídos na
lei orçamentária anual e a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que exce-
dam os créditos orçamentários ou adicionais.
O fato de ser necessária a autorização legal para a realização de gasto público não signifi-
ca, todavia, que a previsão de determinada despesa em LOA, por si só, gere direito subjetivo para
os destinatários das dotações orçamentárias.
Embora só possa ser gasto aquilo que for autorizado pela LOA, nem toda a
despesa nela fixada deve necessariamente ser executada.
Pelo fato de a lei orçamentária não criar direitos subjetivos a terceiros, sendo apenas ato-
-condição para a realização de despesa pública, afirma-se, por consequência, que o orçamento
público brasileiro não é impositivo, mas sim autorizativo, como regra geral.
O caráter autorizativo da lei orçamentária, bem fundamentado no plano teórico, não deve
ocultar, no entanto, o quadro brasileiro de rigidez orçamentária decorrente da coexistência de
um elevado volume de despesas obrigatórias e vinculações de receitas a finalidades específicas.
Nesse contexto, cabe repisar que as despesas obrigatórias decorrem não da lei orçamen-
tária, mas de outras normas e princípios que estipulam a obrigatoriedade, a exemplo do que
ocorre em relação a despesas com pessoal e às transferências constitucionais ou legais por
repartição de receita.
Por fim, convém esclarecer que as despesas não obrigatórias, usualmente denominadas
de discricionárias, compõem a margem de manobra da gestão do orçamento público. Podem e
devem, a depender do caso, por força da LRF, ser “contingenciadas” com vistas ao cumprimento
de metas fiscais. Dentre as despesas discricionárias se enquadraria, por ilustração, a relacionada
à construção de uma ponte em vias públicas automotivas.
Em sua origem, o orçamento público foi concebido como instrumento de controle po-
lítico utilizado pelo Poder Legislativo para a fiscalização das finanças públicas. Tratava-se do
orçamento tradicional, concebido de forma unidimensional: orientado a insumos, informava
apenas o que as unidades governamentais estavam autorizadas a adquirir e os tetos financei-
ros para esse efeito.
Esse orçamento tradicional, todavia, foi apenas ponto de partida de um longo processo de
desenvolvimento do orçamento público, o qual ainda passaria pelo orçamento de desempenho
até alcançar o orçamento-programa.
Orçamento de Desempenho
Por esse novo enfoque, o orçamento público passou a representar a expressão financeira
da ação de um Estado que se compromete com a entrega de produtos à sociedade. Em sua
acepção moderna, portanto, o orçamento público deixou de ser um documento que se limita a
estimar receitas e fixar despesas para se tornar um instrumento financeiro de programação da
ação governamental.
Orçamento-Programa
dutos resultantes das despesas orçamentárias, mas também os objetivos dos gastos públicos,
estruturados em programas.
[...] aquele que apresenta os propósitos, objetivos e metas para as quais a Administração
solicita as dotações necessárias, identifica os custos dos programas propostos para alcançar
tais objetivos e os dados quantitativos que medem as realizações e o esforço despendido em
cada programa.
Orçamento Tradicional
(Unidimensional) Insumos
Orçamento de Desempenho
(Bidimensional) Insumos + Produtos
Orçamento-Programa
(Tridimensional) Insumos + Produtos + Planejamento
[...]
Parágrafo único. Consideram-se metas os resultados que se pretendem obter com a realiza-
ção de cada programa.
O Decreto-Lei nº 200/1967, por seu turno, foi mais enfático ao fazer referência expres-
sa ao orçamento-programa, promovendo a integração planejamento-orçamento nos seguintes
termos:
c) orçamento-programa anual;
Verifica-se, então, que o Brasil foi consideravelmente contemporâneo aos principais movi-
mentos internacionais de modernização do orçamento público.
Com base na análise atinente à evolução conceitual do orçamento público, podemos de-
fini-lo como um documento legal que estima receitas e fixa despesas, para um determinado
período de tempo, de forma a evidenciar as realizações do setor público.
Vejamos.
Recolhimento
Arrecadação
Lançamento
Essa conta, conhecida como Conta Única do Tesouro Nacional, mantida no Banco Central,
é administrada pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN, com apoio no Sistema Integrado de
Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI, e operacionalizada pelo Banco do Brasil –
BB, na qualidade de agente financeiro.
Encerrada a análise atinente às receitas orçamentárias, podemos passar ao exame dos es-
tágios da execução da despesa orçamentária - que deve ser precedida, como já estudamos,
da autorização na LOA:
Pagamento
Liquidação
Empenho
A partir do estudo da Constituição e das leis que regem o orçamento, bem como da ju-
risprudência e da evolução das concepções teóricas sobre o tema, a doutrina tem relacionado
um elenco de valores e diretrizes que norteiam a elaboração e a compreensão dos orçamentos
públicos. Embora os estudiosos não sejam unânimes em relação a essa coleção de princípios
orçamentários, abordaremos aqui os mais basilares na forma de breves enunciados:
A lista acima não é exaustiva, já que há vários outros princípios apontados pelos estudio-
sos do orçamento público, como o da Transparência – por vezes desdobrado nos princípios da
Publicidade e da Clareza, os quais informam que o orçamento deve ser divulgado amplamente
e de forma inteligível.
A LOA é a peça que autoriza a realização de gastos públicos para o período de um ano.
No entanto, ao longo de determinado exercício financeiro, é comum que surja a necessidade de
alteração do orçamento originalmente aprovado, tanto para incluir despesas inicialmente não
previstas como para reforçar dotações de despesas já autorizadas.
Art. 40. São créditos adicionais as autorizações de despesas não computadas ou insuficien-
temente dotadas na Lei de Orçamento.
II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica;
Além disso, com fundamento no art. 166, § 8º, da Constituição, os recursos que, em
decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem
despesas correspondentes, também podem ser utilizados para a abertura de créditos especiais
ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa.
Como vimos, esses dispositivos se aplicam aos créditos suplementares e especiais. No en-
tanto, não se referem à terceira espécie de créditos adicionais: o extraordinário, disciplinado
pelo art. 167, §3º da Constituição.
Verifica-se, de acordo com o que dispõe a Constituição de 1988, que não há a necessidade
de prévia autorização legislativa e indicação dos recursos correspondentes para a abertura de
créditos extraordinários.
Outra questão relevante diz respeito ao instrumento adequado para a abertura de crédito
extraordinário, tendo em vista que, embora a Constituição Federal requeira a edição de medida
provisória para essa finalidade, nem todos os entes da Federação preveem o instituto da medida
provisória em Constituição Estadual ou Lei Orgânica.
Nesse cenário, considerando que o art. 44 da Lei nº 4.320/1964 preceitua que os créditos
extraordinários serão abertos por decreto do Poder Executivo, a solução jurídica se constrói me-
diante interpretação sistemática que considere a particularidade de cada ente da Federação. No
caso da União, os créditos extraordinários serão abertos por medida provisória. Já em relação
aos Estados, DF e Municípios, a não ser que Constituição Estadual ou Lei Orgânica preveja
o instituto da medida provisória, esses entes da Federação abrirão créditos extraordinários por
intermédio de decreto do Poder Executivo.
Aprendemos que a LDO se ampara no PPA para definir as metas e prioridades da adminis-
tração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente,
orientar a elaboração da lei orçamentária anual, dispor sobre as alterações na legislação tributá-
ria e estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Além disso,
a LRF fixou uma série de papeis adicionais à LDO.
Brasil. Secretaria de Orçamento Federal e Secretaria do Tesouro Nacional. Portaria Interministerial nº 163,
de 4 de maio de 2001.
___.___.Secretaria de Orçamento Federal. Manual Técnico de Orçamento - MTO. Versão 2017. Brasília,
2016.
MACHADO JR, José Teixeira. A Técnica do Orçamento-Programa no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro
de Administração Municipal, 1979.